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Cuidado com a síndrome do “não compensa”

Escrito por: Renato Grinberg Terça-feira, 3 dezembro, 2013

Jonathan nunca parava em nenhum trabalho, apesar de ter excelente formação cultural, por sempre ter
estudado em bons colégios. A faculdade que cursou não era a melhor, mas para um curso de administração
também não era das piores. Ele vinha de uma família de classe média alta e, mesmo com 30 anos, ainda
morava com os pais. Na cultura brasileira isso é até aceitável; nos Estados Unidos, se você ainda mora com
os pais aos 25 anos, já é considerado um grande looser. Contudo, o fato de ainda morar com os pais não era
o verdadeiro problema. O mais preocupante é que, aos 30 anos, ele nunca tinha parado mais do que seis
meses em emprego nenhum. Já tinha trabalhado em quatro ou cinco empresas, mas, reunindo toda sua
experiência nessas empresas, não somava mais que dois anos.

Também tinha tentado alguns negócios em sociedade com amigos, mas nada deu muito certo. Quando
conversava sobre sua situação profissional com amigos ou parentes, ele sempre falava que estava
complicada. Que o mercado estava difícil, que, mesmo tendo feito algumas entrevistas, não estava
encontrando “nada decente”. Sempre que lhe perguntavam o que acontecia em seus empregos, o padrão de
respostas era o mesmo:

— Eu ficava me matando de trabalhar e não era valorizado. Não compensava. Ou então ele alegava que
enfrentava um trânsito infernal para chegar à empresa X, pois era muito longe de sua casa. Portanto, não
compensava. Na empresa Y, teria de se sacrificar por muitos anos até ter um cargo razoável. Portanto, não
compensava. Em outras, as funções que lhe passavam, em suas próprias palavras, “eram ridículas; eu tinha
capacidade para muito mais”. Portanto, não compensava.  Quando lhe indagavam sobre a possibilidade de
fazer qualquer trabalho, mesmo que fosse trabalhar temporariamente em uma loja ou algo do tipo, até
aparecer uma oportunidade melhor, sua resposta era... (bem, você já sabe, certo?). Por sua família ter uma
condição financeira favorável, ele acabava “empurrando com a barriga” essa situação, pois não precisava
necessariamente trabalhar para sobreviver.

Certo dia tudo mudou na vida dele. Foi convidado para ser o diretor de uma grande multinacional com um
salário astronômico em um trabalho que tinha pouca pressão e com um detalhe: a empresa ficava a apenas
dois quarteirões da sua casa. Então... Ops, parem as máquinas!

Será que foi esse mesmo o fim da história? Claro que não. Se você não estranhou a sequência, muito
cuidado, pois a síndrome do “não compensa” pode tê-lo contaminado. Esse é apenas o final imaginado por
quem sofre desse mal. O final verdadeiro é bem diferente e totalmente esperado. Jonathan está com mais de
40 anos, continua esperando que aquela grande oportunidade apareça e, claro, continua morando com os
pais. E vai continuar lá, até que seus pais olhem para aquele quarentão no sofá e digam: — Isso sim é que
não compensa!

O grande erro cometido por Jonathan e por muitas pessoas em busca de “seus sonhos” foi encarar as chances
que teve como se já devessem ser seu objetivo final. Essa comparação é fatal, pois inevitavelmente causará
frustração. Potenciais oportunidades devem ser encaradas como fases de um processo que deve levar a um
objetivo. É ótimo quando descobrimos atalhos, mas Jonathan queria pular todas as fases e sair diretamente
do sofá de sua casa para o emprego dos seus sonhos.  Isso simplesmente não vai acontecer. Não importa o
tamanho da oportunidade — o que importa é se ela está na direção dos seus objetivos ou não. Uma
oportunidade, que aparentemente pode ser insignificante, na direção de seus objetivos vale muito mais do
que uma “grande” oportunidade em outra direção.

(adaptado do livro A estratégia do Olho de Tigre)

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