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Presidente da República Federativa do Brasil

José Sarney
Ministro da Educação
Marco Maciel
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

UMA NOVA POLÍTICA


PARA A
EDUCAÇÃO SUPERIOR

Comissão Nacional para


Reformulação da Educação Superior

RELATÓRIO FINAL

novembro de 1985
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Este e o Relatório Final da Comissão Nacional,


insti-tuida pelo Presidente José Sarney para oferecer
subsídios à for_ mulação de uma nova politica para a educação
superior. Uma polí-tica que atenda as exigencias do
desenvolvimento do País e aos anseios democráticos de seu
povo.
Com a divulgação deste documento, inicia-se a segun
da etapa, igualmente importante, de todo o trabalho - a da re_
flexão coletiva sobre as suas proposições.
Convido, pois, a toda a comunidade para uma ampla dis_
cussão sobre as analises e propostas contidas neste Relatório.
Estou confiante de que, com determinação e discernimento, e pos_
sivel operar promissoras mudanças no campo da educação superior.
Espero, agora, receber as contribuições de todos pa
ra que, desse trabalho participativo, possamos construir uma No
va Universidade.

Ministro da Educação
B r a s í l i a , 21 de novembro de 1985

Exm9 Sr.
Senador Marco Antonio Maciel
M.D. Ministro de Estado da Educação

Senhor Ministro,

Temos a h o n r a de passar as mãos de Vossa Exce_


l i n c i a o relatório f i n a l dos trabalhos da Comissão Nacional in
c u m b i d a de oferecer su bs í di os ã formulação de uma nova polítí-
ea para a e d u c a ç ã o s u p e r i o r b r a s i l e i r a .
Composta, em sua m a i o r parte, de professores
universitários, a Comissão valorizou-se com a presença de edu_
cadores do 1º e 2º graus, bem como de p e r s o n a l i d a d e s do setor
produtivo, do meio s i n d i c a l e do corpo estudantil. O ensino pú-
blico — tanto federal como estadual — c o n v i v e u com o ensino
p a r t i c u l a r no seio da Comissão e d i v e r s a s correntes de pensarne-to
nela e s t i v e r a m representadas. A m u l t i p l i c i d a d e de origem,
inclusive quanto as regiões de procedência, imprimiu-lhe um sen-tido
ecumênico como síntese de m ú l t i p l a s visões da educação bra_
s i l e i r a que se encontraram na sintese das conclusões.

Durante os seis meses que lhe foram assinados a


Comissão realizou dez reuniões p l e n á r i a s e numerosas outras de
sub-comissões e de grupos de trabalho, tanto formal como infor-
malmente. Foram o u v i d a s instituições e pessoas v i n c u l a d a s ao
problema educacional e recebidas várias contribuições i n di vi du _
ais e de associações, que mereceram a d e v i d a consideração.

0 documento ora en ca mi nh ad o ao Governo traduz o


consenso alcançado, exprimindo, a par de um juizo crítico, a
formulação objetiva de propostas e recomendações conducentes ao
aperfeiçoamento do sistema de e n s i n o superior.
A primeira parte sumariza os fundamentos e dire_
trizes básicas da política que, a juizo da Comissão, deverá pre_
valecer na educação superior nacional.
A seguir, cada tema especifico mereceu tratamen-
to destacado, Com o oferecimento de recomendações concretas vi-
sando a obtenção dos resultados preconizados.
Entende a Comissão que as sugestões de uma nova
política educacional devem ser levadas ao conhecimento da comu-
n i d a d e aca dê mi ca e dos setores interessados da s o c i e d a d e para
uma ampla consult a que i m p r i m a o aval de autenticidade às medi_
das que v e n h a m a ser adot adas em benef íci o da e d u c a ç ã o em to_ dos
os seus níveis.
Esperam os membros da Comissão h a v e r correspon-
dido, com o fruto de seus trabalhos, ã a l t i t u d e do desafio que lhes
foi prop osto e ao q u a l , tanto c o l e t i v a como indiv i d u a l men-te,
c u i d a r a m de d e d i c a r o m á x i m o de sua c a p a c i d a d e , experiên-ci a
e c r i a t i vidade.
Na oport unida de, cabe acentuar a relevân cia do
apoio recebido pela Comissão tanto de Vossa Excel ên cia quanto dos
vários órgãos do Ministério, notadamente da Secretaria da Educação
Superior. Para a eficienci a dos trabalhos contribuiu,
expressivamente, a cooperação de Geraldo Martins, i n c u m b i d o de
atender aos servi ços de s ecret ari a da Comissão.

Agradecendo a Vossa E x c e l ê n c i a e ao Excelentîs-


simo Senhor Presidente da R e p ú b l i c a a distinção da escolha, cum
pre-nos exprimir , a título p r ó p r i o e em nome de todos os mem-bros
da Comissão, os protestos de e l e v a d o apreç o e d i s t i n t a
consideração.
COMISSÃO N A C I O N A L DE REFORMULAÇÃO DA EDUCAÇÃO S U P E R I O R

(Decreto nº 91.177, de 29 de março de 1985)

CAIO TACITO - Presidente


SIMON SCHWARTZMAN - Rel ator

AMILCAR TUPIASSU B O L I V A R
L A M O U N I E R CARLOS NELSON
COUTINHO CLEMENTINO FRAGA FILHO
DOM LOURENÇO DE ALMEIDA PRADO
EDMAR LISBOA BACHA EDUARDO DE
LAMÔNICA FREIRE FERNANDO J O R G E
LESSA SARMENTO FRANCISCO J A V I E R
ALFAYA GUIOMAR NAMO DE M E L L O
H A R O L D O TAVARES JAIR P E R E I R A
DOS SANTOS JORGE GERDAU
J O H A N P E T E R JOSÉ LEITE LOPES
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI LUIZ EDUARDO
W A N D E R L E Y MARLY MOYSES S I L V A
ARAÚJO PAULO DA S I L V E I R A ROSAS
ROBERTO CARDOSO DE OLIVEIRA ROMEU
RITTER DOS REIS U B I R A T A N
BORGES DE MACEDO

JOSE EDUARDO F A R I A - Secretário Executivo


S U M A R I O UMA NOVA P O L I T I C A P A R A A

EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

I POR UMA NOVA P O L Ì T I C A PARA A

EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

I. A c r i s e do e n s i n o s u p e r i o r ...................... 1

II. Os p r i n c í p i o s da n o v a p o l í t i c a .................. 3

III. P r o p o s t a s para a n o v a u n i v e r s i d a d e ............... 9

II

RECOMENDAÇÕES

1. AUTONOMIA U N I V E R S I T A R I A ......................... 24
2. GESTÃO D E M O C R A T I C A E C O N T R O L E SOCIAL DA U N I V E R S I _
DADE ........................................... 27

3. U N I V E R S I D A D E S E I N S T I T U I Ç Õ E S I S O L A D A S DE E N S I N O
S U P E R I O R ....................................... 35

4. E N S I N O P Ú B L I C O E E N S I N O P A R T I C U L A R ............. 41

5. REFORMULAÇÃO DO C O N S E L H O F E D E R A L DE E D U C A Ç Ã O ______ 48

6. A A V A L I A Ç Ã O DO D E S E M P E N H O NA EDUCAÇÃO S U P E R I O R . . 52

7. FINANCIAMENTO DO E N S I N O S U P E R I O R ............... 60

8. ARTICULAÇÃO DO E N S I N O S U P E R I O R C O M OS GRAUS ANTE

RIORES .......................................... 67

9. EN SINO DE GRADUAÇÃO........................................................................... 73

10. O E N S I N O DE POS-GRADUAÇÃO E A PESQUISA CIENTÍFICA. 78

11. CORPO DOCENTE .......................................................................................... 86

12. CORPO DISCENTE ........................................................................................ 89

13. PESSOAL T É C N I C O - A D M I N I S T R A T I V O ................................................ 94


III

A N E X O

MEDIDAS DE EMERGÊNCIA .................................... 96

IV

DECLARAÇÕES DE VOTO

1. DOM L O U R E N Ç O DE A L M E I D A PRADO ........................ 100

2. EDUARDO DE L A M Ô N I C A F R E I R E , FERNANDO JO RGE LESSA SARMEN-TO,


JAIR P E R E I R A DOS SANTOS, A M I L C A R ALVES TUPIASSU, FRANCISCO
J A V I E R ALFAYA, CARLOS NELSON COUTINHO, MARLY MOYSES E
C L E M E N T I N O FRAGA F I L H O .............................. 103

3. PAULO ROSAS ........................................... 107

4. ROMEU RITTER DOS REIS ....... ........................ 114


I

POR UMA NOVA P O L Ì T I C A PARA A EDUCAÇÃO S U P E R I O R B R A S I L E I R A


POR UMA NOVA P O L Í T I C A PARA A EDUCAÇÃO S U P E R I O R B R A S I L E I R A

I. A C r i s e do e n s i n o s u p e r i o r

A crise do e n s ino s u p e r i o r e um dos grandes p r o b l e m a s


e n f r e n t a d o s pela N o v a R e p ú b l i c a . T a n c r e d o N e v e s , no d i s c u r s o de
p o s s e lido pelo e n t ã o V i c e - P r e s i d e n t e J o s e Sarney, já anun-cia a
i n t e n ç ã o de c r i a r uma c o m i s s ã o de a l t o nível , " i n c u m b i d a de
estudar a s i t u a ç ã o e formular propostas que p o s s a m ser imedi_ a t a m e n t e
c o n s i d e r a d a s " . A C o m i s s ã o foi i n s t a l a d a pelo P r e s i d e n - te da
R e p ú b l i c a no d i a 2 de m a i o de 1985, com um p r a z o de seis m e s e s para
a a p r e s e n t a ç ã o de s u a s c o n c l u s õ e s .
Na E x p o s i ç ã o de M o t i v o s c o m q u e e n c a m i n h a a p r o p o s t a
de c r i a ç ã o da Comissão, o M i n i s t r o M a r c o M a c i e l a p r e s e n t a um pa
norama do q u a d r o c r í t i c o do e n s i n o s u p e r i o r b r a s i l e i r o , que, co-mo
a s s i n a l a , e x p e r i m e n t a p r o b l e m a s "cuja m a g n i t u d e e g r a v i d a d e
estão a e x i g i r s o l u ç õ e s u r g e n t e s , c o n s t r u í d a s a p a r t i r de con-
s u l t a s ã s o c i e d a d e e, em e s p e c i a l , i c o m u n i d a d e u n i v e r s i t á r i a . "
A lista de p r o b l e m a s é i m e n s a :

- professores mal r e m u n e r a d o s ;

- c a r ê n c i a de e q u i p a m e n t o s , l a b o r a t o r i o s e bi-
bli o t e c a s ;
- defic i ê n c i a s na formação p r o f i s s i o n a l dos alu_ nos
;
- d e s c o n t i n u i d a d e das p e s q u i s a s ;

- d i s c r i m i n a ç ã o s o c i a l no acesso as u n i v e r s i d a -
des ;
- s i s t e m a s a n t i d e m o c r á t i c o s de a d m i n i s t r a ç ã o e
e s c o l h a de q u a d r o s d i r i g e n t e s ;
- crise f i n a n c e i r a e p e d a g ó g i c a do e n s i n o priva_
do;
- excesso de c o n t r o l e s b u r o c r á t i c o s nas u n i v e r s i _
dades públicas;
- p o u c a c l a r e z a na p r e v a l ê n c i a do s i s t e m a de mé-
r i t o na s e l e ç ã o e promoção de p r o f e s s o r e s .

Estas dificuldades se t o r n a m ainda rnais c r í t i c a s —


p r o s s e g u e a E x p o s i ç ã o de M o t i v o s — q u a n d o se v e r i f i c a que a
U n i v e r s i d a d e não está se p r e p a r a n d o a p r o p r i a d a m e n t e para os de-
safios das p r ó x i m a s dicadas: o f o r t a l e c i m e n t o da p e s q u i s a cien-
t í f i c a ; a formação p o l i v a l e n t e e de a l t o n í v e l ; a s u p e r a ç ã o do
f o r m a l i s m o v a z i o dos c u r r í c u l o s e d i p l o m a s ; a a d o ç ã o de n o v o s
c o n c e i t o s e concepções de e n s i n o ; o e s t a b e l e c i m e n t o do p l u r a l i s _
mo de e s t r u t u r a s o r g a n i z a c i o n a i s , conteúdos c u r r i c u l a r e s e re-
q u i s i t o s de cursos. Sem p e r d e r s u a f u n ç ã o d e m o c r a t i z a d o r a , a
U n i v e r s i d a d e não d e v e d e s c u r a r da formação d a s e l i t e s i n t e l e c -
t u a i s do País; sem p e r d e r s u a e s p e c i f i c i d a d e e a u t o n o m i a , não pode
i s o l a r - s e como corporação f e c h a d a e a l h e i a as s o l i c i t a ç õ e s
s o c i a i s . " P r e c i s a m o s " — c o n c l u i a E x p o s i ç ã o de M o t i v o s , citan-do
o P r e s i d e n t e Tancredo N e v e s — "de uma U n i v e r s i d a d e que atue j u n t o
com as f o r ç a s v i v a s da N a ç ã o e q u e seja r e c o n h e c i d a como polo de
e l a b o r a ç ã o c r í t i c a e d i f u s ã o do saber".

A Comissão constituída p e l o P r e s i d e n t e da R e p ú b l i c a
contou, e n t r e seus 24 m e m b r o s , c o m p e s s o a s o r i u n d a s das rnais
v a r i a d a s á r e a s do e n s i n o e da p e s q u i s a , p r o f e s s o r e s , e s t u d a n tes,
i n d u s t r i a i s e s i n d i c a l i s t a s . Em s e i s m e s e s de t r a b a l h o , seus
membros m a n t i v e r a m c o n t a t o s f o r m a i s e i n f o r m a i s com numero sos
s e t o r e s i n t e r e s s a d o s n a s q u e s t õ e s do e n s i n o s u p e r i o r , rece_ b e n d o
g r a n d e v o l u m e de s u b s í d i o s , todos l e v a d o s na d e v i d a consi_ d e r a ç ã o .
As c o n c l u s õ e s a q u i a p r e s e n t a d a s não p r e t e n d e m ser, no entanto, uma
m e d i a dos s u b s í d i o s r e c o l h i d o s , nem r e p r e s e n t a r a g r a n d e
v a r i e d a d e de o p i n i ã o d a s p e s s o a s , g r u p o s e a s s o c i a ç õ e s que hoje
se p r e o c u p a m com os d e s t i n o s do e n s i n o s u p e r i o r no Bra-sil. Elas são
a p e n a s as c o n c l u s õ e s a q u e a C o m i s s ã o c h e g a , a-pós e s t e s m e s e s de
t r a b a l h o , c o n c l u s õ e s q u e são a g o r a a p r e s e n t a das ao Governo, ã
c o m u n i d a d e u n i v e r s i t á r i a e a s o c i e d a d e b r a s i leira como p r o p o s t a s
v i s a n d o a u m a n o v a p o l í t i c a para a e d u c a ção s u p e r i o r . É este o
m a n d a t o q u e a C o m i s s ã o e n t e n d e ter rece
bido, e que ora dá por cumprido.

O presente relatório final sintetiza, nesta primeira


parte, os princípios e propostas centrais que resultaram do tra-
balho da Comissão, e que estão d et alhados nos textos subseqüen-tes.
Ficou claro, desde o início, que não existem fórmulas sal_
vadoras; por isto, não faria sentido propor uma nova lei da reforma,
que simplesmente substituísse a de 1968. O im po r ta nt e e que se
desencadeie um processo de a m p l a discussão e m o b i l i z a ção em
torno dos grandes problemas do ensino superior, do qual resulte
uma nova p o l i t i c a que possa ser conduzida com amplo a-poio da
c o m u n i d a d e u n i v e r s i t á r i a e do resto do País. É necessá-rio
e x p l i c i t a r os grandes temas da discussão, a v a l i a r seus pres_
supostos e mostrar que e x i s t e m a l t e r n a t i v a s v i á v e i s ao atual
q u a d r o crítico do e n s i n o superior. Este documento procura ser,
antes de tudo, um c a t a l i s a d o r desse processo.

II. Os princípios da nova p o l í t i c a

Uma nova política para o ensino superior brasileiro re_


quer o e m p e n h o das autoridades, com recursos e apoio, a s s i m como o
envolvimento a t i v o da sociedade, a começar pelos diversos setores
que formam a c o m u n i d a d e a c a d ê m i c a do País — professores, alunos,
ex-alunos, funcionários, administradores da educação,
mantenedoras. Tudo isto não basta, no entanto, se não hou_ ver
p r i n c í p i o s norteadores e um d i a g n ó s t i c o a d eq u a do dos proble_ mas a
serem resolvidos, e da melhor forma de encaminhá-los. No entender da
Comissão, uma nova p o l í t i c a para a ed u c a çã o superior deve partir
dos s e g u i n t e s princípios:

1) Responsabilidade do poder p ú b l i c o

Cabe ao governo assegurar a manutenção e a expansão do


ensino p ú b l i c o em todos os níveis, i n c l u s i v e o superior. A for-
mação profissional, a pesquisa científica e tecnológica, a educação
geral, a formação de professores para o p r i m e i r o e segundo graus,
os t ra ba lh os de extensão, são a t i v i d a d e s essenciais
em q u a l q u e r sociedade moderna, e o poder p ú b l i c o tem a responsa-
bilidade de zelar e prover para que elas sejam desempenhadas a
contento.

No Brasil, hoje, a maior parte dos estudantes de nivel


superior está matriculada em estabelecimentos privados, que
constituem a maioria das instituições deste nivel existentes no
Pais. Como se sabe, a q u a l i d a d e do ensino p r i v a d o e extremamen-te
variável, assim como e muito variável a qualidade do ensino
público, federal, estadual e m u n i c i p a l . A responsabilidade do
poder p ú b l i c o não s i g n i f i c a que o setor p r i v a d o deva ser estati-
zado, mas a) que o Estado não pode contar com a i n i c i a t i v a pri_
vada para financiar os setores rnais significativos da pesquisa
univ ers itár ia e do ensino superior, devendo ao contrário, aumen-
tar progressivamente sua contribuição; b) que cabe ao Estado
garantir a liberdade do ensino em todos seus aspectos, e apoiar
financeiramente as i n i c i a t i v a s educacionais de origem p rivada
ou comunitária de inegável interesse p ú b l i c o e relevância so-
cial; c) que cabe aind a ao Estado contribuir para o aprimoramento
da q u a l i d a d e do e n s i n o s u p e r i o r em todos os seus aspectos e
modalidades institucionais.

2) Adequação ã r e a l i d a d e do País

Existe uma convicção generalizada de que o ensino supe_


rior não está ajustado ã realidade brasileira. 0 desajuste se
manifestaria, primeiro,na formação de profissionais inadequa-
dos, em quan tid ade e q u a l i d a d e , ás demandas do mercado de traba_
lho; segundo, em que a pesquisa acadêmica seria abstrata e des_
v i n c u l a d a das necessidades das regiões em que as insti t uiçõ e s
de ensino estão localizadas; terceiro, na quase inexistência de
t r a b a l h o s de extensão e outros serviços prestados as comunida-
des locais.

Esta convicção corresponde a problemas bastante reais,


mas cuja c o m p l e x i d a d e nem sempre e v i s t a com clareza. E x i s t e um
e v i d e n t e desajuste entre v a g a s oferecidas, pessoas formadas e
p o s s i b i l i d a d e s de emprego em determinadas profissões. A solu_ ção
deste p r o b l e m a não está, no entanto, em a d e q u a r o ensino
superior a um mercado de trabalho em constante mutação, mas em
formar pessoas com c apacitação b a s i c a nas grandes áreas de co-
nhecimento e capazes de se adaptar as s o l i c i t a ç õ e s do mercado de
trabalho. A pesquisa universitária dificilmente tem efeitos
diretos sobre a economia e a população das, regiões em que as u-
niversidades estão localizadas. Contudo, a e x i g ê n c i a e x c l u s i v a
de "relevância" pode redundar em limitações inaceitáveis ao tra
balho de pesquisa de longo prazo ou de cunho teórico, especulativo,
intelect ual e crítico. De fato, a maior parte da pesquisa
universitária já se g u i a por preocupações de r e l e v â n c i a eco-
nômica e social; o que inexiste são, principalmente, mecanismos
efetivos de transferencia de conhecimentos para fora da univer-
sidade. Similarmente, a concentração e x c l u s i v a em temas de "in-
teresse local" pode levar a uma d i v i sã o desnecessária entre
un i v er s i da d e s "nacionais" e "regionais", condenando estas últimas
a uma posição de inferioridade,? A experiência mostra que,
quanto rnais universais são as instituições de ensino e pesquisa,
tanto rnais elas se r e v e la m capazes de atender ás demandas rnais
i m e d i a t a s de seu meio.

3) Diversidade e pluralidade

A lei da Reforma U n i v e r s i t á r i a de 1968 s u p u n h a que to-do


o ensino do País deveria se organizar na forma de universida_ des, que
teriam, todas, estruturas semelhantes, com seus departamentos,
sistemas de credito e colegiados de curso, e combinariam de forma
i n d i s s o l ú v e l o ensino, a p e s q u i s a e a extensão. Quase v i n t e
anos depois, constata-se que a maior parte dos estu-dantes se
encontra em instituições i s o l a d a s e privadas, que as antigas
faculdades a i n d a subsistem; que os novos formatos organ i z a c i o n a i s
nem sempre f u n c i o n a m como esperado; que a pesqui_ sa se d i s t r i b u i
de ma n e i ra extremamente d e s i g u a l pelo País; e que a extensão i
m u i t a s vezes inexistente.
Reconhecer a di v e rs i d ad e e p l u r a l i d a d e do ensino supe_
Mor não significa aceitar o ensino de mã qualidade, a pesquisa
inidonea e a desorganização institucional. Significa, ao con-
trário, aceitar e entender que as i n s t i t u i ç õ e s de ensino supe-
rior podem ter o b j e t i v o s , v o c a ç õ e s e e s p e c i a l i z a ç õ e s d i s t i n t a s , e
cada qual p r i m a r n a q u i l o q u e faz; a f i r m a r que os mesmos objet i v o s
m a i o r e s — a formação a c a d ê m i c a , a c a p a c i t a ç ã o para o tra b a i n o , o
d e s e n v o l v i m e n t o da p e s q u i s a , o t r a b a l h o de e x t e n são — podem ser
r e a l i z a d o s em m u i t a s formas d i s t i n t a s ; e asse-g u r a r a cada
i n s t i t u i ç ã o de e n s i n o a p l e n a l i b e r d a d e para adotar os f o r m a t o s
o r g a n i z a c i o n a i s e i n s t i t u c i o n a i s que lhe pare_ çam mais a d e q u a d o s .

4) A u t o n o m i a e d e m o c r a c i a i n t e r n a

As a t i v i d a d e s c i e n t i f i c a s , c u l t u r a i s e e d u c a c i o n a i s
são, em g r a n d e m e d i d a , a u t o - r e g u l á v e i s , p o i s d e p e n d e m essencial_
mente do t r a b a l h o especializado, i n o v a d o r e c r i a t i v o dos que as
d e s e m p e n h a m . A u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a s i g n i f i c a l i b e r d a d e para
que as u n i v e r s i d a d e s d e c i d a m i n t e r n a m e n t e s o b r e as p e s q u i s a s
que r e a l i z a m , os c u r r í c u l o s de seus cursos, seus sistemas admi-
n i s t r a t i v o s e o r g a n i z a c i o n a i s e a g e s t ã o de seus r e c u r s o s . É uma
a u t o n o m i a que n ã o se detém no c u m e d a s u n i v e r s i d a d e s , em suas
reitorias, mas deve alcançar os departamentos, institutos,
f a c u l d a d e s , e e n v o l v e r a p a r t i c i p a ç ã o a t i v a de todos os s e g m e n tos
que compõem a c o m u n i d a d e u n i v e r s i t á r i a na i n d i c a ç ã o de seus
d i r i g e n t e s e nos ó r g ã o s c o l e g i a d o s .
A a u t o n o m i a não pode s e r e n t e n d i d a , n a t u r a l m e n t e , como um
c h e q u e em b r a n c o que a s o c i e d a d e p a s s a a seu s i s t e m a u n i v e r s i t á r i o
e a seus d i v e r s o s s e g m e n t o s ; ao c o n t r a r i o , ela s u p õ e u-ma
c o n t r a p a r t i d a b e m d e f i n i d a em t e r m o s de d e s e m p e n h o . Não pode
h a v e r a u t o n o m i a sem essa c o n t r a p a r t i d a de r e s p o n s a b i l i d a d e .

5) D e m o c r a t i z a ç ã o do a c e s s o

No Brasil de hoje, o ensino superior so e


acessível a estudantes que superam os filtros extremamente
s e l e t i v o s do pri_ m e i r o e s e g u n d o graus.} Os exames v e s t i b u l a r e s
para as universi_ dades públicas e gr atuitas aprovam
preferencialmente estudantes o r i u n d o s de e s c o l a s de s e g u n d o g r a u
p r i v a d a s e caras; aos
demais, restam os estabelecimentos p r i v a d o s , pagos e freqüente
mente de menor q u a l i d a d e . Como é o setor p r i v a d o que forma grande
parte dos professores das escolas p ú b l i c a s de p r i m e i r o e segundo
graus, isto resulta em problemas de q u a l i d a d e para o ensino
p ú b l i c o nestes níveis, o que reforça a d i s c r i m i n a ç ã o no acesso as
universidades.

0 p ú b l i c o qu e busca o e ns in o superior é também muito


variado. Há e v i d ê n c i a s de que os que t e r m i n a m o 2º grau e se
d i r i g e m imediatamente às univ er sid ade s e escolas superiores já
são hoje m i n o r i a . Grande parte dos atuais estudantes de nível
s u p e r i o r são pessoas de rnais de 25 anos de idade, já empregadas, e
que buscammos estudos uma p o s s i b i l i d a d e de a p r i m o r a m e n t o e
m e l h o r i a p r o f i s s i o n a l . No entanto, o e n s i n o superior público
está organizado somente em função da p r i m e ira c l i e n t e l a , dei_
xando a maioria entregue às v i c i s s i t u d e s do e n s i n o privado.

A democratização do acesso ao ensino superior depende,


basicamente, da m e l h o r i a e do estabelecimento de condições mais
e q u i t a t i v a s de acesso ao ensino de primeiro e segundo graus. Se-
ria um grave equívoco buscar a d e m o c r a t i z a ç ã o do e n s i n o superior
pela via do aumento i n d i s c r i m i n a d o de vagas, da redução a i n d a
m a i o r dos r equ is ito s acadêmicos e da criação de sucedâ-neos de
pior q u a l i d a d e aos currículos rnais exigentes. Medidas adequadas
incluem,basicamente, a criação de m o d a l i d a d e s alterna-tivas de
estudo para diferentes p ú b l i c o s , o amparo efetivo ao estudante
carente e o investimento sistemático na melhor qualificação dos
professores de p r i m e i r o e segundo graus.

6) Valorização do desempenho

As i n s t i t u i ç õ e s de ensino superior reclamam do poder


p ú b l i c o vantagens e recursos específicos: salários, e qu i pa me n-
tos, l i b e r d a d e , autonomia. O que recebem a i n d a é pouco, d i a n t e
do que seria necessário. Este a p o i o — o que hoje existe e o que se
p l e i t e i a para o futuro — só pode se justificar se a ele
corresponderem altos padrões de desempenho. 0 ensino deve ser
de q u a l i d a d e ; os p r o f i s s i o n a i s q u e forma, c o m p e t e n t e s ; a pesqui_
sa, s o c i a l e i n t e l e c t u a l m e n t e relevant e. Os professores, estu-
d a n t e s e f u n c i o n a r i o s devem se d e d i c a r p l e n a m e n t e as suas tare_
fas e os c u s t o s f i n a n c e i r o s devem ser c o m p a t í v e i s com os resultados
obtidos. Pelos p r i v i l é g i o s que reclama e a que tem direi_ to, a
u n i v e r s i d a d e d e v e t e r d e s e m p e n h o e x c e l e n t e , não p o d e n d o se
c o n t e n t a r com o m e d í o c r e ou mesmo com o r a z o á v e l . A v a l o r i z a ç ã o do
d e s e m p e n h o r e q u e r q u e os c o n t r o l e s f o r m a i s que hoje se exercem
sobre as i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o s u p e r i o r sejam substituídos por
m e c a n i s m o s a l t e r n a t i v o s , q u e possam, e f e t i v a m e n t e i n c i d i r s o b r e
o c o n t e ú d o e o m é r i t o do t r a b a l h o r e a l i z a d o .

7 ) E l i m i n a ç ã o dos a s p e c t o s c o r p o r a t i v o s e c a r t o r i a i s

0 c o r p o r a t i v i s m o consiste na i d é i a , que se p r o c u rou im_


p l a n t a r no B r a s i l d e s d e o E s t a d o Novo, de q u e a s o c i e d a d e deve
e s t a r o r g a n i z a d a em c o r p o r a ç õ e s p r o f i s s i o n a i s f e c h a d a s , todas
sob a t u t e l a do E s t a d o , com r e g r a s e s t r i t a s de a c e s s o e c o n t r o -
ladas por org ãos n o r m a t i v o s superiores. Embora nao t enh a sido
i m p l a n t a d o , o sistema c o r p o r a t i v o resultou, para a e d u c a ç ã o su-
perior, na expansão apar e ntemente i n f i n i t a de profissões regula-
m e n t a d a s e r e s p e c t i v o s c o n s e l h o s p r o f i s s i o n a i s , c u j o s membros
se o r i g i n a r i a m de f a c u l d a d e s i d ê n t i c a s , m o l d a d a s s e g u n d o curri
culos m í n i m o s l e g a l m e n t e e s t a b e l e c i d o s .

Este sistema, cuja i n t e n ç ã o é g a r a n t i r os d i r e i t o s dos


p r o f i s s i o n a i s formados e z e l a r p e l o s e u bom d e s e m p e n h o , m o s t r a -
se hoje e x t r e m a m e n t e p r o b l e m á t i c o . Pr ime iro: ele r e s u l t a na Va
l o r i z a ç ã o e x c e s s i v a dos a s p e c t o s f o r m a i s da e d u c a ç ã o — o cum-
p r i m e n t o dos c u r r í c u l o s m í n i m o s , a o u t o r g a do d i p l o m a —, em
d e t r i m e n t o de seus a s p e c t o s s u b s t a n t i v o s . A a t i v i d a d e e d u c a c i o -
nal, por isto, redu z-se f r e q ü e n t e m e n t e ao c u m p r i m e n t o de uma sé rie
de r i t u a i s e f o r m a l i d a d e s de c o n t e ú d o e s v a z i a d o — daí seu lado
" C a r t o r i a l " e b u r o c r a t i c o na mã a c e p ç ã o do termo. Segun-do: ele
impõe restrições a l i b e r d a d e de t r a b a l h o , que podem a-t e n d e r a
i n t e r e s s e s de d e t e r m i n a d o s g r u p o s p r o f i s s i o n a i s , mas são
i n j u s t a s e p r e j u d i c i a i s em uma p e r s p e c t i v a s o c i a l mais am-
pla. Terceiro: ele l i m i t a severamente a l i b e r d a d e de os estabe
l e c i m e n t o s de e n s i n o s u p e r i o r e x p e r i m e n t a r e m novos c u r r í c u l o s e
formatos e d u c a c i o n a i s , na m e d i d a em q u e t a i s e s t a b e l e c i m e n t o s
estão o b r i g a d o s a currícu los l e g a l m e n t e f i x a d o s que, m u i t a s vezes,
de m í n i m o s p a s s a m a plenos, p e l a s pressões das corporações
p r o f i s s i o n a i s ; e também na m e d i d a em q u e os a l u n o s t e n d e m a des_
v a l o r i z a r os cursos q u e não c o n d u z a m a profissões reconhecidas .
Quarto: ele não garante a q u a l i d a d e t é c n i c a e c i e n t í f i c a d a q u e las
p o u c a s p r o f i s s õ e s em q u e a r e g u l a m e n t a ç ã o legal p o s s a ser de fato
n e c e s s á r i a . Q u i n t o : e l e c r i a uma a s p i r a ç ã o crescente_ mente
i r r e a l i s t a aos p r i v i l é g i o s q u e s e r i a m p r o p o r c i o n a d o s pela p o s s e de
d i p l o m a s u n i v e r s i t á r i o s , o q u e r e s u l t a em forte pressão por
l u g a r e s no e n s i n o s u p e r i o r e se t r a d u z , f i n a l m e n t e , em í n d i c e s
a l a r m a n t e s de d e s i s t e n c i a s , m u d a n ç a s de c a r r e i r a e aban-dono de
títulos profissionais adquiridos.

III. P r o postas para a nova u n i v e r s i d a d e

1 ) R e f o r m u l a r o C o n s e l h o F e d e r a l de E d u c a ç ã o

0 exercício p l e n o da r e s p o n s a b i l i d a d e p u b l i c a pelo ensino


começa por i n s t i t u i ç õ e s p o l í t i c a e a d m i n i s t r a t i v a m e n t e a-j u s t a d a s
a esse fim. 0 C o n s e l h o F e d e r a l de E d u c a ç ã o , orgão máximo de
a s s e s s o r a m e n t o do g o v e r n o em q u e s t õ e s e d u c a c i o n a i s — e que s e r i a
o r e s p o n s á v e l m a i o r p e l a q u a l i d a d e e d i r e ç ã o do ensino s u p e r i o r —
, não vem c u m p r i n d o e s t a s f u n ç õ e s da forma desejá vel, por duas razões
p r i n c i p a i s A Suas a t u a i s a t r i b u i ç õ e s , exer-c i d a s m e d i a n t e
pareceres g e r a l m e n t e c a s u í s t i c o s s o b r e ampla gama de a s p e c t o s do
e n s i n o superior, fazem d e l e uma i n s t i t u i ç ã o s o b r e c a r r e g a d a , com
p o d e r e s l i m i t a d o s de f i s c a l i z a ç ã o e n e n h u m de a c o m p a n h a m e n t o
do real d e s e m p e n h o d a s i n s t i t u i ç õ e s de ensino do País. Sua
c o m p o s i ç ã o , de l i v r e nomeação do P r e s i d e n t e da R e p ú b l i c a e n t r e
pessoas de notorio saber e competência, não tem sido
s u f i c i e n t e m e n t e r e p r e s e n t a t i v a do e n s i n o s u p e r i o r brasilei-ro,
p a r t i c u l a r m e n t e das u n i v e r s i d a d e s p ú b l i c a s .
A reformulação do Conselho Federal de Educação requer,
conseqüentemente, que sejam alteradas tanto suas atribuições
q u a n t o sua composição. No que se refere a competência, e neces_
sario que o Conselho e l i m i n e , ou transfira ao M i n i s t é r i o , por
um lado, e as Universida des, por outro, a maior parte das atri-
buições casuísticas que hoje exerce. 0 C o n s e l h o deve se trans_
formar na i n s t i t u i ç ã o responsável pelo acompanhamento contínuo do
desempenho do ensino superior, pela criação de mecanismos e-
fetivos e permanentes de a v a l i a ç ã o inter-pares. Não é um traba-
lho que deva ser feito somente por seus membros. Dotado de le-
gitimidade, o Conselho deve convocar para esta tarefa a própria
comunidade científica, acadêmica e profissional, e estimular o
Ministério da Educação, as Secretarias Estaduais e as a d m i n i s -
trações u n i v e r s i t a r i a s a instaurarem seus próprios mecanismos
de acompanhamento e a v a l i a ç ã o . A p a r t i r desta a t i v i d a d e , o Con-
selho deve ter voz a t i v a na política de f i n a n c i a m e n t o p ú b l i c o
ao ensino superior, e funcionar como p r i n c i p a l forum para o debate
das grandes questões da p o l í t i c a e d u c a c i o n a l do País. Para
realizar estas tarefas, a Comissão sugere que o Conselho, am-
p l i a d o para 30 membros, passe a ser nomeado pelo Presidente da
R e p ú b l i c a a partir de listas tríplices indicadas pelas universi_
dades, associações científicas de âmbito nacional e estabeleci-
mentos isolados, e com a p a r t i c i p a ç ã o de pessoas representativas
do e n s i n o de p r i m e i r o e segundo graus. Além disso, deverão ter
assento no Conselho representantes de i n s t i t u i ç õ e s nacio-nais de
docentes do e n s i n o superior, de professores do p r i m e i r o e
segundo graus, de estudantes de nível s u p e r i o r e de servidores
técnico-administrativos.

2) C o n so li d a r a autonomia e a democracia interna das universidades

Uma vez estabelecidos mecanismos legítimos e adequados


de acompanhamento do desempenho acadêmico e financeiro, a auto-
nomia e a democracia interna das u n i v e r s i d a d e devem ser progres-
sivamente-ampliadas nos planos acadêmico, administrativo e fi-
nanceiro.
O p r ó p r i o c o n c e i t o de " u n i v e r s i d a d e " n e c e s s i t a ser al
terado. A c o n c e s s ã o de s t a t u s u n i v e r s i t á r i o a i n s t i t u i ç õ e s de
e n s i n o superior, hoje c o n d i c i o n a d a a um conceito t r a d i c i o n a l de
" u n i v e r s a l i d a d e " das a r e a s q u e cobre, d e v e ser s u b s t i t u í d o por uma
a v a l i a ç ã o a p r o f u n d a d a ,}a ser f e i t a p e l o C o n s e l h o Federal de
Educação, de sua c a p a c i d a d e de autogestão a c a d ê m i c a e a d m i n i s -
t r a t i v a , da e x i s t ê n c i a de p e s q u i s a e e n s i n o de alto nível e de
recursos t é c n i c o s , h u m a n o s e a d m i n i s t r a t i v o s c o r r e s p o n d e n t e s . Isto
p e r m i t i r a a concessão de a u t o n o m i a a i n s t i t u i ç õ e s de alto nível e
c o m p l e x i d a d e — como, p o r e x e m p l o , na area tecnológica e m e d i c a —,
sem que e l a s sejam f o r ç a d a s a c r i a ç ã o a r t i f i c i a l de recursos em
o u t r a s á r e a s do c o n h e c i m e n t o .

0 p r i n c í p i o da a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a deve ser compa-


t i b i l i z a d o com o fato de q u e , no B r a s i l de hoje, a m a i o r i a dos
e s t u d a n t e s está em e s t a b e l e c i m e n t o s de e n s i n o i s o l a d o s , públicos ou
p r i v a d o s . Aos e s t a b e l e c i m e n t o s i s o l a d o s de m e n o r p o r t e e
t r a d i ç ã o não pode ser e s t e n d i d a a mesma a u t o n o m i a a t r i b u í d a Hs
u n i v e r s i d a d e s . Por o u t r o l a d o s o c o n t r o l e que o C o n s e l h o Fe_ deral
de E d u c a ç ã o e o p r ó p r i o M i n i s t é r i o vêm e x e r c e n d o s o b r e os cursos
i s o l a d o s tem se l i m i t a d o a a u t o r i z a ç õ e s , r e c o n h e c i m e n t o s e
i n t e r v e n ç ã o em s i t u a ç õ e s de extrema g r a v i d a d e . Com a reformu-lação do
C o n s e l h o F e d e r a l de E d u c a ç ã o , r e c o m e n d a - s e que a super-v i s ã o
a c a d ê m i c a dos e s t a b e l e c i m e n t o s i s o l a d o s seja t r a n s f e r i d a para
universidades próximas, que p o s s a m de fato a c o m p a n h a r o
d e s e m p e n h o d a q u e l e s e s t a b e l e c i m e n t o s e o u t o r g a r v a l i d a d e real (
e não meramente f o r m a l ) aos d i p l o m a s q u e e x p e d e m . R e c o m e n d a - se
também que se e s t u d e a p o s s i b i l i d a d e de c r i a ç ã o de r e d e s nac i o n a i s
ou r e g i o n a i s de i n s t i t u i ç õ e s i s o l a d a s da mesma área de conhecimento,
que se s u b m e t a m a regimes comuns de a v a l i a ç ã o e a c o m p a n h a m e n t o
acadêmico, com a p a r t i c i p a ç ã o da c o m u n i d a d e e de a s s o c i a ç õ e s
profissionais.

No plano acadêmico, a a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a deve ser


reforçada pela l i b e r d a d e e f e t i v a de as u n i v e r s i d a d e s d e c i d i r e m o
c o n t e ú d o de seus cursos, p e s q u i s a s e a t i v i d a d e s de e x t e n s ã o , com
29 o m í n i m o de c o n s t r a n g i m e n t o s e x t e r n o s . Os c u r r í c u l o s
mínimos, nas c a r r e i r a s em q u e s e j a m i n d i s p e n s á v e i s , devem ser real-
mente m í n i m o s , d e i x a n d o - s e as u n i v e r s i d a d e s ampla margem de cri
ação e i n o v a ç ã o . E v e n t u a i s p r o b l e m a s de t r a n s f e r e n c i a de alu_ nos
devem ser r e s o l v i d o s p e l a a v a l i a ç ã o s u b s t a n t i v a de c o n h e c i _ mentos,
que e v e n t u a l m e n t e i n c l u a m exames, e não por s u p o s t a s e q u i v a l ê n c i a s
f o r m a i s de c u r r í c u l o s . A p e s q u i s a deve ser deci_ dida com l i b e r d a d e ,
t o m a n d o em c o n s i d e r a ç ã o n e c e s s i d a d e s n a c i o nais e r e g i o n a i s
p e r c e b i d a s p e l o s p e s q u i s a d o r e s e o i n t e r e s s e ci_ e n t î f i c o e
a c a d ê m i c ã o d o s temas. Os c o l e g i a d o s d e p a r t a m e n t a i s e de c u r s o
d e v e m t e r p a r t i c i p a ç ã o a t i v a no e s t a b e l e c i m e n t o das l i n h a s de
t r a b a l h o de s u a s i n s t i t u i ç õ e s , s e m r e s t r i n g i r a liber-dade
i n d i v i d u a l de p e s q u i s a e de e x p r e s s ã o do p e n s a m e n t o .

{as u n i v e r s i d a d e s d e v e m ter a i n d a l i b e r d a d e para ado_


tar ou não a e s t r u t u r a d e p a r t a m e n t a l , o s i s t e m a de c r é d i t o s e o
ciclo b á s i c o , conforme as e x p e r i ê n c i a s de cada uma. A autono_ mia
d i d á t i c a e p e d a g o g i c a i n c l u i t a m b é m , p a r a as u n i v e r s i d a d e s , a
l i b e r d a d e de a l t e r a r o número de v a g a s d i s p o n í v e i s nos d i v e r - sos
c u r s o s , em f u n ç ã o d a s d e m a n d a s e p r i o r i d a d e s e x i s t e n t e s , e de
e s t a b e l e c e r seus p r ó p r i o s m e c a n i s m o s de s e l e ç ã o de a l u n o s .}

No plano a d m i n i s t r a t i v o , a e l e i ç ã o das a u t o r i d a d e s má_


x i m a s — r e i t o r e v i c e - r e i t o r nas u n i v e r s i d a d e s , e diretores nos
e s t a b e l e c i m e n t o s i s o l a d o s — d e v e ser f e i t a com a p a r t i c i p a ç ã o
a t i v a e a p r o p r i a d a dos d i v e r s o s setores da c o m u n i d a d e a c a d ê m i c a ,
como e s t a b e l e c i d o a u t o n o m a m e n t e nos e s t a t u t o s de cada insti-tuição.
Não h o u v e c o n s e n s o na C o m i s s ã o q u a n t o aos l i m i t e s da au_ t o n o m i a que
as i n s t i t u i ç õ e s s u p e r i o r e s p ú b l i c a s d e v e m ter na e s c o l h a de seus
d i r i g e n t e s m á x i m o s . Na o p i n i ã o da m a i o r i a , ca_ be ao g o v e r n o
p a r t i c i p a r d e s s e p r o c e s s o , pela e s c o l h a dos di_ r i g e n t e s a p a r t i r
de l i s t a s t r í p l i c e s e n c a m i n h a d a s pelas ins_ t i t u i ç õ e s . S e g u n d o esse
p o n t o de v i s t a , o p o d e r p ú b l i c o legi-t i m a m e n t e c o n s t i t u i d o deve ter
um p a p e l a t i v o na c o n d u ç ã o de u n i v e r s i d a d e s f i n a n c i a d a s com
r e c u r s o s p ú b l i c o s , cuja a u t o n o m i a não pode ser e n t e n d i d a como
s o b e r a n i a . As l i s t a s t r í p l i c e s surgem, a s s i m , como uma forma
a d e q u a d a de c o m b i n a r o e x e r c í c i o da a u t o r i d a d e p ú b l i c a com a
a u t o n o m i a q u e a u n i v e r s i d a d e requer. Se_ g u n d o os d e m a i s , no
e n t a n t o , a a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a não de_ ve sofrer, nesse
p a r t i c u l a r , r e s t r i ç õ e s de nenhuma e s p é c i e , ca_ bendo ao g o v e r n o t ã o -
s o m e n t e r a t i f i c a r as i n d i c a ç õ e s f e i t a s in-ternamente pelas
u n i v e r s i d a d e s . H o u v e c o n s e n s o , no e n t a n t o ,
q u a n t o a p r o p o s t a de q u e os d e m a i s cargos a c a d ê m i c o s , i n c l u i n d o
os de d i r e t o r e s de f a c u l d a d e s e d e p a r t a m e n t o s , devem ser p r e e n -
c h i d o s por d e s i g n a ç ã o i n t e r n a , de acordo com os r e s p e c t i v o s re-
gimentos .
No plano f i n a n c e i r o , as d o t a ç õ e s o r ç a m e n t a r i a s devem ser
g l o b a i s , s e n d o os v a l o r e s a t r i b u í d o s a cada U n i v e r s i d a d e fi_ x a d o s
em f u n ç ã o de a v a l i a ç õ e s p r o m o v i d a s p e l o C o n s e l h o F e d e r a l de
E d u c a ç ã o . Cabe a c a d a u n i v e r s i d a d e d e c i d i r i n t e r n a m e n t e so_ bre a
u t i l i z a ç ã o de s e u s r e c u r s o s , s e g u n d o s e u s p r ó p r i o s p l a n o s e
p r i o r i d a d e s . A a u t o n o m i a f i n a n c e i r a não d e v e s i g n i f i c a r , no
entanto, p o d e r a b s o l u t o as r e i t o r i a s , e l i m i n a n d o a c a p a c i d a d e
d e c i s ó r i a de d e p a r t a m e n t o s , i n s t i t u t o s , f a c u l d a d e s e d e m a i s or_
gãos u n i v e r s i t á r i o s capazes de o b t e r recursos próprios, particu-
l a r m e n t e j u n t o a a g ê n c i a s de f o m e n t o ã p e s q u i s a c i e n t í f i c a e
t e c n o l ó g i c a , i n c l u s i v e as do p r o p r i o M i n i s t é r i o da Educação.

Um dos a s p e c t o s mais i m p o r t a n t e s da a u t o n o m i a u n i v e r s i -
t á r i a é a p o s s i b i l i d a d e de c r i a r i n s t i t u i ç õ e s e f e t i v a m e n t e ino-
v a d o r a s e r e v o l u c i o n á r i a s do p o n t o de v i s t a a c a d ê m i c o , científi_
co e a d m i n i s t r a t i v o . Grandes inovações r equerem espaço para a
c r i a t i v i d a d e , l i d e r a n ç a e i m a g i n a ç ã o , q u e só p o d e m f r u t i f i c a r
q u a n d o l i v r e s de c o n t r o l e s b u r o c r á t i c o s e r o t i n e i r o s . A experi_
ê n c i a b r a s i l e i r a mostra o p a p e l i m p o r t a n t e e p i o n e i r o que sempre
c o u b e a a l g u m a s i n s t i t u i ç õ e s d o t a d a s de c o n d i ç õ e s e s p e c i a i s de
a u t o n o m i a e l i d e r a n ç a . É n e c e s s á r i o z e l a r para que inova_ ções
d e s t e tipo p o s s a m se m u l t i p l i c a r .

A a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a d e v e i n c l u i r a l i b e r d a d e de
cada u n i v e r s i d a d e e s t a b e l e c e r sua p r ó p r i a p o l i t i c a de p e s s o a l ,
d e n t r o dos p r i n c í p i o s de v a l o r i z a ç ã o do m é r i t o , da d e d i c a ç ã o e da
r e m u n e r a ç ã o a d e q u a d a . É n e c e s s á r i o q u e as i n s t i t u i ç õ e s de
e n s i n o a b r a m e s p a ç o t a n t o para os p r o f e s s o r e s e p e s q u i s a d o r e s
que a elas se d e d i q u e m em tempo i n t e g r a l , q u a n t o para p r o f i s s i o - nais
e n v o l v i d o s com a a t i v i d a d e p r á t i c a na i n d ú s t r i a , no comércio e nas
p r o f i s s õ e s l i b e r a i s , e q u e p o s s a m trazer para o ambi_ ente
u n i v e r s i t a r i o sua e x p e r i ê n c i a de t r a b a l h o . É também neces-s á r i o
que as i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o d i s p o n h a m de f l e x i b i l i d a d e Para a
c o n t r a t a ç ã o de p r o f e s s o r e s v i s i t a n t e s e e x t r a - c a r r e i ra.
{A q u e s t ã o do e s t a b e l e c i m e n t o de uma c a r r e i r a ú n i c a pa_
ra o m a g i s t é r i o s u p e r i o r foi o b j e t o de c o n t r o v é r s i a i n c l u s i v e
no i n t e r i o r da Comissão.} A p l u r a l i d a d e de p a d r õ e s de remuneração,
i m p l a n t a d a com a c r i a ç ã o das f u n d a ç õ e s u n i v e r s i t á r i a s , per-m i t i u
que fossem i n s t i t u í d a s d i f e r e n ç a s de s a l á r i o i n j u s t i f i c á veis, e
dependen tes, p r i n c i p a l m e n t e , das i n f l u ê n c i a s p o l í t i c a s que cada
u n i v e r s i d a d e pudesse m o b i l i z a r junto ao M i n i s t é r i o da E d u c a ç ã o . A
i n t r o d u ç ã o da i s o n o m i a s a l a r i a l e da c a r r e i r a única a p a r e c e ,
a s s i m , como um p r i n c í p i o e l e m e n t a r de j u s t i ç a e cor-reção de
d i s t o r ç õ e s . No e n t a n t o , p r e v a l e c e u na C o m i s s ã o a opinião dos que
c o n s i d e r a m a c a r r e i r a ú n i c a uma l i m i t a ç ã o ao princ í p i o da
a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a . S e g u n d o este p o n t o de v i s t a , a
U n i v e r s i d a d e deve ter preservad o o d i r e i t o de, por exemplo ,
d e s e n v o l v e r uma p o l í t i c a rnais a g r e s s i v a para c o m p e t i r no m e r c a do
de t r a b a l h o por certo t i p o de p r o f i s s i o n a i s , ou compensar suas
vantagens — ou d e s v a n t a g e n s — locacionais com s a l á r i o s
d i f e r e n c i a d o s . C a b e ao g o v e r n o , t ã o - s o m e n t e , e s t a b e l e c e r os
v a l o r e s m í n i m o s de remuneração d o s p r o f e s s o r e s , e se r e s e r v a r o
d i r e i t o de l i m i t a r os recursos das i n s t i t u i ç õ e s que u t i l i z e m de
m a n e i r a i n a d e q u a d a as v e r b a s q u e recebem .

Uma p o l í t i c a de c a r r e i r a s como a a q u i s u g e r i d a r e q u e r
que os professores u n i v e r s i t á r i o s dos e s t a b e l e c i m e n t o s f e d e r a i s
não s e j a m c o n s i d e r a d o s como f u n c i o n á r i o s p ú b l i c o s , mas r e c e b a m
um t r a t a m e n t o d i f e r e n c i a d o e p r o p r i o .

F i n a l m e n t e , a au tonomia d e v e ser a t r i b u t o tanto de uni-


v e r s i d a d e s p ú b l i c a s q u a n t o p r i v a d a s , e e x e r c i d a através de meca-
n i s m o s próprios de autogestão acadêmica, a d m i n i s t r a t i v a e finan-
ceira, e s t a b e l e c i d o s em c o n s o n a n c i a com as r e s p e c t i v a s ins titui-_
ções m a n t e n e d o r a s . A e x i s t ê n c i a d e s t e s m e c a n i s m o s de autoges-tão
deve ser c o n d i ç ã o i n d i s p e n s á v e l p a r a o r e c o n h e c i m e n t o de status
u n i v e r s i t á r i o a q u a l q u e r i n s t i t u i ç ã o de e n s i n o e p e s q u i sa do país.

3) A l t e r a r os m e c a n i s m o s de f i n a n c i a m e n t o

Na a u s ê n c i a de s i s t e m a s e f e t i v o s de a v a l i a ç ã o , o fi-
nanciamento do ensino superior tem sido feito por critérios his
tóricos ou políticos, sem ad eq ua da consideração de p r i o r i d a d e s
e eventual mã utilização dos recursos públicos. A a m p l i a ç ã o de
verbas para o ensino proporcionada p e l a Emenda C a l m o n requer que
o f i n a n c i a m e n t o passe a ser feito de m a n e i r a rnais e f i c i e n te, sem
perder de vista a manutenção da autonomia universitá ria, mas
também sem contemporizar com a b a i x a e f i c i ê n c i a no uso de
recursos p ú b l i c o s .

Ao examinar os problemas de financiamento, observa-se


que não existem hoje mecanismos que i n c e n t i v e m a c r i a t i v i d a d e ,
a ação i n o v a d o r a e o bom desempenho ope racional. Os custos por
aluno e a relação professor/aluno variam extraordinariamente en_
tre instituições de ensino p ú b l i c o e entre estas e as i n s t i t u i ções
privadas, sem que estas diferenças possam ser sempre imputadas a
melhores padrões educacionais ou ã existencia de pesqui-sa de
qu al id ad e. Não existem, nos atuais procedimentos orçamen-tários
das instituições federais, mecanismos adequados para o
planejamento e a n á l i s e s de custo-benefício.

Recomenda-se, por isto, a a t i v a ç ã o de uma s is te m át ic a


de orçamento por centros de custo, com a id en ti fi ca çã o de funções e
programas, para que todos possam visualizar as ações
d e s e n v o l v i d a s pelas u n i v e r s i d a d e s e suas s u b - u n i dades. A
ampliação da autonomia na gestão financeira das Instituições de
En si no Superior deve ser c o n d i c i o n a d a a um m a i o r comprometimen-
to com padrões de q u a l i d a d e e p r o d u t i v i d a d e ; e padrões de custo
modulares poderiam ser estabelecidos a partir da avaliação do
desempenho das instituições de m e l h o r q u a l i d a d e . O atual siste-ma
de suplementações deve ser el im in ad o, com os duodécimos rea-
justados periodicamente em função da i n f l a ç ã o e de excessos de
arrecadação. Os h o s p i t a i s de e n s i n o , por sua i m p o r t â n c i a e peso
r e l a t i v o nos orçamentos universitários, devem ser orçados Se-
paradamente, com p a r t i c i p a ç ã o do INAMPS.

(0 uso eficiente de recursos p ú b l i c o s supõe a u t i l i z a ção


ap ro pr ia da de equipamentos e instalações, redução das exage-radas
relações professor/aluno e remanejamento das vagas, o que p oderia
resultar em razoável expansão do sistema pú bl ic o, desde que
aportes a d i c i o n a i s de recursos de custeio e itens específi-
cos de capital possam também existir.

Inovações devem ser introduzidas na legislação, condi-


cionando os benefícios fiscais hoje atribuídos is empresas pri-
vadas para gastos em educação à participação efetiva em sua u-
tilização de universidades credenciadas,bem como permitindo do-
ações dedutíveis de impostos ã instituições selecionadas. 0
patrimônio das universidades públicas pode ser reforçado com
a transferência de ações de empresas estatais, com clausulas
estritas de inalienabilidade, e a livre utilização de seus di-
videndos. Uma alíquota de 5% no pagamento de royal ties e
assistência técnica ao exterior deve ser estabelecida para o
financiamento da pesquisa científica e tecnológica em institui-
ções de excelência. O crédito educativo deve ser expandido de
forma a ampliar efetivamente as possibilidades de acesso as
instituições que formam as elites dirigentes do país.

Os professores de nível superior necessitam ser adequa_


damente remunerados pelos trabalhos que efetivamente exercem.
Um piso comum deve ser estabelecido e o regime de hora-aula ex-
tinto, tanto no ensino público quanto no privado. Professores
que se dediquem de fato à pesquisa ou a atividades administrati-
vas ou de prestação de serviços que requeiram dedicação exclusi_
va devem ser remunerados de acordo com isto; aos demais, deve
caber somente uma remuneração básica, que supõe o envolvimento
dos professores com outras atividades extra-universitárias. O
atual regime de 40 horas sem dedicação exclusiva deve ser revis-
to.

A utilização de recursos públicos para o financiamento


de estabelecimentos particulares deve privilegiar somente insti_
tuições de reconhecida qualidade, e desde que suas atividades
tenham indiscutível interesse social. O controle de preços do
sistema privado deve se basear em cálculos realistas dos custos
do ensino feitos pelo CIP e aprovados pelo novo C.F.E., com a
participação de um conselho consultivo formado por representan-
tes das partes interessadas. O sistema de bolsas de estudo para
o ensino privado deve ser expandido, destinando-se as bolsas a
estudantes de instituições de reconhecida qualidade.
4) D e m o c r a t i z a r o a c e s s o ao e n s i n o s u p e r i o r

A d e m o c r a t i z a ç ã o do aces so ao e n s i n o s u p e r i o r d e p e n d e
da e f e t i v a u n i v e r s a l i z a ç ã o do e n s i n o de p r i m e i r o grau, com recursos
e s p e c i f i c o s a e l e v i n c u l a d o s , bem como da e l i m i n a ç ã o dos
o b s t á c u l o s e x i s t e n t e s p a r a o ace sso ao e n s i n o de s e g u n d o grau de
q u a l i d a d e . N e s t e s e n t i d o , é um p r o b l e m a que t r a n s c e n d e em m u i t o
os l i m i t e s do s i s t e m a de e n s i n o s u p e r i o r . No e n t a n t o , e-x i s t e m
m e d i d a s b a s t a n t e e f e t i v a s q u e podem ser tomadas n e s t e ní-vei para
que a d e m o c r a t i z a ç ã o da u n i v e r s i d a d e se a m p l i e .

A p r i m e i r a m e d i d a c o n s i s t e em m e l h o r a r de forma subs-
tancial a formação do professor. As l i c e n c i a t u r a s p l e n a s d e v e m
p r e v a l e c e r , na t r a n s m i s s ã o de c o n t e ú d o s rnais e x t e n s o s e r i g o r o sos;
a formação p e d a g ó g i c a deve c o r r e s p o n d e r as c a r a c t e r í s t i c a s g e r a i s
das c l i e n t e l a s e ã c o m p r e e n s ã o do p a p e l da e d u c a ç ã o de p r i m e i r o e
s e g u n d o g r a u s ; os programas devem ser a d a p t a d o s às n e c e s s i d a d e s e
carências r e g i o n a i s , e cursos de capacitaç ão e a p e r f e i ç o a m e n t o devem
ser oferecidos p e l a s u n i v e r s i d a d e s aos p r o f e s s o r e s de p r i m e i r o
g r a u formados ou l e i g o s . A atual estru_ tura dos c u r s o s de p e d a g o g i a
d e v e ser r e v i s t a , no s e n t i d o de me_ lhor a d e q u á - l a a o r g a n i z a ç ã o do
t r a b a l h o p e d a g o g i c o no p r i m e i r o e s e g u n d o g r a u s , e d a n d o
a t e n ç ã o a p r o p r i a d a a f o r m a ç ã o de docen-tes para a " h a b i l i t a ç ã o
m a g i s t é r i o " p r o p o r c i o n a d a em nível de s e g u n d o grau ( a n t i g o c u r s o
normal).

0 p r o b l e m a da formação do p r o f e s s o r de p r i m e i r o e seg u n d o
g r a u s é da m a i o r s e r i e d a d e , p a r t i c u l a r m e n t e em c o n s e q ü ê n cia da
c r i s e que h o j e a f e t a o a n t i g o e n s i n o n o r m a l . A formação de
p r o f e s s o r e s p a r a o p r i m e i r o s e g m e n t o do p r i m e i r o grau ( a n t i g o
p r i m á r i o ) nos cursos de p e d a g o g i a tem sido t r a t a d a como mero
s u b p r o d u t o das h a b i l i t a ç õ e s específicas de orientadores e-
d u c a c i o n a i s e de o u t r o s e s p e c i a l i s t a s . Com isto, o a s p e c t o rnais
n o b r e da e d u c a ç ã o b á s i c a , q u e é o c o n t a t o d i r e t o com a c r i a n ç a ,
p a s s o u a ser o rnais d e s v a l o r i z a d o . Por o u t r o lado, Sa-be-se hoje que
um g r a n d e numero de p r o f e s s o r e s do a n t i g o c u r s o p r i m á r i o nos
g r a n d e s centros u r b a n o s do B r a s i l p o s s u i cursos s u p e r i o r e s ,
a i n d a q u e freqüentemente i n a d e q u a d o s ao t r a b a l h o que desempenham.
S e r i a d e s c a b i d o requerer , no q u a d r o b r a s i l e i -
ro atual, nível u n i v e r s i t á r i o para t o d o s os p r o f e s s o r e s do pré-
e s c o l a r e do a n t i g o p r i m á r i o ; n ã o há d ú v i d a , no e n t a n t o , de que o
envolvimento da universidade com o ensino básico deve ser
profundamente r e p e n s a d o .
Em s e g u n d o l u g a r , u n i v e r s i d a d e s e centros de p e s q u i s a
devem e x p a n d i r seus t r a b a l h o s de p e s q u i s a e d u c a c i o n a l , a s s e g u rando
a r e l e v â n c i a dos temas e a a p l i c a b i l i d a d e dos resultados.
E x p e r i e n c i a s p e d a g ó g i c a s bem s u c e d i d a s devem ser a v a l i a d a s e
d i v u l g a d a s , e mecanismos á g e i s de a v a l i a ç ã o e correção de desvios
devem ser e s t a b e l e c i d o s , em a r t i c u l a ç ã o com os g o v e r n o s es_ t a d u a i s ,
m u n i c i p a i s e as u n i v e r s i d a d e s .

Uma t e r c e i r a m e d i d a c o n s i s t e na e x p a n s ã o dos c a n a i s de
acesso ao e n s i n o superio r. Deve-se a m p l i a r p r o g r e s s i v a m e n t e o
número de b o l s a s i n t e g r a i s p a r a e s t u d o s em i n s t i t u i ç õ e s públicas e
p r i v a d a s , o b e d e c e n d o - s e ao d u p l o c r i t é r i o da c o m p e t e n c i a (do
aluno e da i n s t i t u i ç ã o ) e da c a r ê n c i a de recursos. A ofer_ ta de
vagas nas i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s d e v e ser e x p a n d i d a na medida das
p o s s i b i l i d a d e s e nas áreas de m a i o r d e m a n d a ; e cursos n o t u r n o s
devem ser i n t r o d u z i d o s onde couber, para a t e n d e r estud a n t e s que têm de
t r a b a l h a r d u r a n t e o d i a , mas c u i d a n d o para que se p r e s e r v e m padrões
de q u a l i d a d e e c o m p e t ê n c i a . D i v e r s a s for mas de a s s i s t ê n c i a ao
estudante — m é d i c a , den tá r ia , a l i m e n t a r , h a b i t a c i o n a l — devem s e r
também c r i a d a s e a m p l i a d a s , na m e d i d a das necessidades. Deve
h a v e r lugar, ig u a l m e n t e ,para o apoio a a t i v i d a d e s c u l t u r a i s ,
e s p o r t i v a s e a r t í s t i c a s de c u n h o extracur-ricular.
F i n a l m e n t e , formas n ã o - c o n v e n c i o n a i s de e n s i n o de nível
s u p e r i o r d e v e m ser adotadas, p e l a u t i l i z a ç ã o de meios eletrônicos ,
ensino ã distância, intensivo, tutorial, etc., tanto em
atividades de extensão e a p e r f e i ç o a m e n t o quanto em cursos re_
g u i a r e s , d e s d e que a s s e g u r a d o s os padrões de q u a l i d a d e .

5) F o r t a l e c e r a p e s q u i s a c i e n t í f i c a e a p o s - g r a d u a ç ã o

É nas u n i v e r s i d a d e s b r a s i l e i r a s que está concentrado o


m a i o r e rnais q u a l i f i c a d o c o n t i n g e n t e de p e s q u i s a d o r e s em ciência
e t e c n o l o g i a do País, e é d e l a s que provém grande parte da m e l h o r
p e s q u i s a que o B r a s i l produz. A Coordenação de A p e r f e i ç o a m e n t o de
Pessoal de N í v e l S u p e r i o r do M i n i s t é r i o da E d u c a ç ã o (CAPES)
d e s e n v o l v e u e mantém um s i s t e m a p e r m a n e n t e de a v a l i a ç ã o dos
programas de p e s q u i s a e p o s - g r a d u a ç ã o q u e goza de m e r e c i d a
r e p u t a ç ã o na c o m u n i d a d e a c a d ê m i c a e c i e n t í f i c a do País, tendo
d e m o n s t r a d o ser um i n s t r u m e n t o de g r a n d e i m p o r t â n c i a para seu
contínuo aperfeiçoamento.

No entanto, a pesquisa u n i v e r s i t á r i a b r a s i l e i r a padece


a i n d a de s é r i o s p r o b l e m a s . Os n ú c l e o s de p e s q u i s a e pós-gradua_
ção são frequentemente f i n a n c i a d o s p r o j e t o a projeto, com recur-sos
externos ao M i n i s t é r i o da Educação, e, p o r isto, são m u i t o
i n s t á v e i s . Os professores p e s q u i s a d o r e s não recebem estímulos fi-
n a n c e i r o s e r e c o n h e c i m e n t o d i f e r e n c i a d o s e adequados a seu de-
sempenho . A d i s t r i b u i ç ã o da p e s q u i s a c i e n t í f i c a no país é alta_
m e n t e c o n c e n t r a d a , t a n t o do p o n t o de v i s t a da p r o d u ç ã o q u a n t o
dos r e c u r s o s . E x i s t e m g r a n d e s d i f i c u l d a d e s para a t r a n s m i s s ã o
do c o n h e c i m e n t o c i e n t í f i c o e t e c n o l o g i c o g e r a d o nas u n i v e r s i d a _
des i s o c i e d a d e e ao s i s t e m a p r o d u t i v o . O r e l a c i o n a m e n t o e n t r e
a p e s q u i s a , a p o s - g r a d u a ç ã o e os c u r s o s de g r a d u a ç ã o é f reqüen-
temente p r o b l e m á t i c o .

A p r i n c i p a l r e c o m e n d a ç ã o é o f o r t a l e c i m e n t o e a expan são
da CAPES como i n s t i t u i ç ã o c e n t r a l do M i n i s t é r i o da E d u c a ç ã o para a
p e s q u i s a e a p o s - g r a d u a ç ã o . 0 a t u a l s i s t e m a de a v a l i a ção por
p a r e s de p r o g r a m a s e s o l i c i t a ç õ e s de a p o i o deve ser con-s o l i d a d o
m e d i a n t e a c o n s t i t u i ç ã o de um c o n s e l h o de alto nível, formado por
pesquisadores u n i v e r s i t á r i o s q u e possam dar l e g i t i m i d a d e e
c o n t i n u i d a d e a e s s a e x p e r i ê n c i a . A C A P E S deve d i s p o r de
r e c u r s o s rnais a m p l o s p a r a p r o p o r c i o n a r a p o i o i n s t i t u c i o n a l ã
p e s q u i s a u n i v e r s i t á r i a , p e l o exame de s o l i c i t a ç õ e s i n d i v i d u a -
l i z a d a s e i n d e p e n d e n t e m e n t e dos o r ç a m e n t o s de cada u n i v e r s i d a d e e
de e v e n t u a i s s u b v e n ç õ e s a projetos, o r i u n d a s de fontes e xter nas
ao M i n i s t é r i o da E d u c a ç ã o . E s t e a p o i o d e v e c o b r i r cu stos de
laboratório, b i b l i o t e c a , contratação de pessoal técnico-espe_
c i a l i z a d o etc.
Um s i s t e m a de b o l s a s de p e s q u i s a s e m e l h a n t e ao hoje
mantido pelo CNPq deve também s e r instituído pela C A P E S , com o
objetivo de dar aos pesq u isado res u n i v e r s i t á r i o s incentivo dife-
rencial. Este sistema deve obedecer a criterios estritos de
qualidade e d e s e m p e n h o , e ser c o n t r o l a d o p e l o s p e s q u i s a d o r e s
rnais q u a l i f i c a d o s das universidades brasileiras. Um s i s t e m a de
semestres s a b á t i c o s p a r a p e s q u i s a d o r e s d e v e também ser i n t r o d u zido,
visando i circulação de pesquisadores entre instituições e
abrindo possibilidades de a t u a l i z a ç ã o e aperfeiçoamento no ex_
terior. Os direitos de propriedade intelectual dos professores
p e s q u i s a d o r e s devem s e r a s s e g u r a d o s .

Os p r o b l e m a s de e q ü i d a d e , c o n c e n t r a ç ã o e r e g i o n a l i z a ção
da p e s q u i s a devem s e r e q u a c i o n a d o s m e d i a n t e a t e n ç ã o especi_ al ao
surgimento de grupos emergentes; identificação de vocações
e s p e c i a l i z a d a s e r e g i o n a i s ; e i n c e n t i v o a p r o g r a m a s de cooperação
entre grupos de d i s t i n t o nivel de amadurecimento. A formação de c o m i t ê s
assessores de a v a l i a ç ã o deve levar em conta, sempre que p o s s í v e l ,
a s p e c t o s r e g i o n a i s e de d i f e r e n ç a s de o r i e n t a ç ã o a c a d ê m i c a . N a d a
disto deve significar, no entanto, o abandono de padrões
nacionais de e x c e l ê n c i a , bem como sua ele_ v a ç ã o progressiva a
níveis internacionais.

A bu sca de pontes entre a pesquisa universitária e as


n e c e s s i d a d e s e c o n ô m i c a s e s o c i a i s do p a í s n ã o pode ser transfor mada
em c e r c e a m e n t o à p e s q u i s a b á s i c a q u e as u n i v e r s i d a d e s realizam, que
requer apoio crescente do setor p ú b l i c o . Isto posto, mecanismos
jurídicos devem ser estabelecidos para permitir acor-dos de
c o l a b o r a ç ã o e n t r e i n s t i t u i ç õ e s u n i v e r s i t á r i a s e outros s e t o r e s do
E s t a d o , da e c o n o m i a e da s o c i e d a d e , e p a r t i c u l a r m e n - te com os
institutos do CNPq; e a flexibilidade administrativa e
f i n a n c e i r a dos i n s t i t u t o s u n i v e r s i t á r i o s de p e s q u i s a deve ser m a n t i
da.

0 e n v o l v i m e n t o de p r o f e s s o r e s p e s q u i s a d o r e s com os cur-
sos de graduação deve ser sempre e s t i m u l a d o . Além do e n s i n o re_ g u i a r ,
os pesquisadores devem participar de programas especiais de
a p e r f e i ç o a m e n t o e r e c i c l a g e m dos p r o f e s s o r e s de g r a d u a ç ã o , e da
i n t r o d u ç ã o a p e s q u i s a c i e n t í f i c a de a l u n o s que se i n i c i a m nas
u n i v e r s i d a d e s . A l e m d i s t o , c u r s o s de p o s - g r a d u a ç ã o voltados para a
formação p r o f i s s i o n a l e para o m a g i s t é r i o devem ser
estimulados, como alternativas de v a l o r equivalente aos mestrados
e doutorados de pesquisa hoje predominantes.

6 ) Ajustar o e n s i n o de graduação às necessidades presentes e fu


turas do País

0 crescimento da educação superior tem respondido a lima


d e m a n d a por educação que, em princípio, cumpre à sociedade a-
tender. No entanto, parte desta demanda se e x p l i c a pela aspira
ção cada vez rnais irrealista aos privilégios das profissões li-
berais; por outra parte, e l a corresponde ã busca genuína de mai-_
ores conhecimentos, competência e oportunidades profissionais.
Como o mercado de trabalho resulta de uma interação complexa en-tre
grupos profissionais, empregadores e consumidores de seus
serviços, não é possível planificar o crescimento do ensino su-
perior em função de supostas "necessidades" do mercado de traba-
Ino. No entanto, é possível acompanhar caso a caso a situação
profissional das diversas carreiras de nível superior, buscando
reorientar a d i s p o n i b i l i d a d e de vagas em cada uma delas. Tarn
bem é possível, com maiores informações ã disposição do público e
a redução dos aspectos corporativos da educação superior,
reduzir a demanda excessiva que hoje resulta em níveis inaceitá-
veis de desistências e reprovações.

Cabe as u niversidades buscar os conteúdos de d i s c i p l i _


nas e a abertura de carreiras que sejam rnais adequadas às neces-
sidades do País, e que atendam aos interesses de seus alunos-Não
parece h a v e r d ú v i d a de que os cursos que dão mais ênfase aos
conteúdos de formação Básica — nas ciencias físicas, bioló-gicas,
s o c i a i s e nas humanidades — são os que resultam em pessoas rnais
bem formadas e polivalentes, e, por isto, mais capaci_ tadas para
se loca lizarem em um mercado de trabalho em constante
transformação. Em contraste, devem ser evitados cursos dema-
siadamente vinculados a profissões muito particulares e de de-
manda ocasional. A formação b a s i c a pode ser proporcionada tanto
em cursos que resultam em d i p l o m a s de profissões regulamenta
das quanto em cursos genéricos ou de capacitação para a pós-gra-
duação. Seria importante que estes cursos genéricos se expan-
dissem mais, e que uma parte significativa da capacitação pro-
fissional hoje dada no nível de grad uaç ão fosse proporcionada
ao nível de pos-graduação.

Cabe também ao governo, independentemente das iniciati-


vas das u n i v e r s i d a d e s , d e s e n v o l v e r a q u e l a s áreas de formação
que forem consideradas especialmente importantes e necessárias
para o País. É o caso da formação de técnicos de nível supe_ rior
em Institutos Superiores de Tecnologia, cuja criação deve_ ria ser
e s t i m u l a d a pelo governo federal após consulta a especia-listas
dos diversos setores interessados. De nível pós-secundá-rio, com
duração típica de três anos, dispostos adequadamente ao longo do
território nacional, estes institutos, se bem conce_ bidos,
poderiam supr i r necessidades prementes da industria e das
instituições de pesquisa científica e tecnológica, bem como criar
novas oportunidades de trabalho para importante contingen-te de
formados pelas escolas do 2º grau, como a l t e r n a t i v a prefe rida
aos cursos u n i v e r s i t á r i o s c o n v e n c i o n a i s .

Como já foi visto, o s i s t e m a de e n s in o hoje do min ante


nas universidades públicas discrimina contra o estudante que
trabalha. Atender ao p ú b l i c o diferenciado que busca o ensino
superior supõe desenvolver instituições especializadas e diver-
sificadas. 0 ensino noturno, a universidade aberta, a u t i l i z a ção
de tecnologias educ aci onai s sofisticadas (como a tel e visã o e
os computadores), cursos de reciclagem e atualização profissi_ onal
são m o d a l i d a d e s que requerem grandes investimentos de tempo e
competência na preparação e testagem de m a t e r i a i s pedagógi-cos e
no acompanhamento individualizado de a lunos, sob pena de se
transformarem em á l i b i s para o ensi no de segunda classe. Ins-
tituições de ensino orientadas para este p ú b l i c o investirão pro_
vavelmente muito rnais em pesquisa pedagógica do que em outros
tipos de pesquisa rnais características de universidades tradici_
onais.

O treinamento profissional e a extensão universitária


estão entre os aspectos rnais neg ligenciados no ensino superior
brasileiro. No entanto, eles podem se consti tui r em mecanismos
de grande i m p o r t a n c i a para o estabelecime nto de vínculos efetivos
entre o ensino superior e a sociedade. A a t i v i d a d e de ex tensão
pode ser u t i l i z a d a como instrumento para a l i m e n t a r os cursos,
currículos e programas com conhec imentos oriundos do dia-a-dia
da população com a qual o estudante deverá trabalhar, tendo portanto
grande v a l o r pedagógico, alem de propo rcionar serviços
efetivos. Os estágios curriculares, se devidamente su_
pervisionados, são formas v á l i d a s de colocar os estudantes em
contato com a r e a l i d a d e p r o f i s s i o n a l e de relacionar a teoria
com a prática.

Finalmen te, os e q u i p a m e n t o s u n i v e rs i t á r i o s podem ser


rnais bem u t i l i z a d o s do que ate agora, em benefício do me_ lhor
relacionamento das u n i v e r s i d a d e s com suas comunidades. Is_ to se
a p l i c a is b i b l i o t e c a s e aos chamados "organismos complementares"
das u n i v e r s i d a d e s — museus, editora, gráfica, teatro — que
permitem programas de interesse c o m u n i tá r i o; aos laboratórios e
institutos de pesquisa, que podem estabelecer con-vênios de
a s s i s t ê n c i a e cooperação com empresas e i n d ú s t r i a s privadas e
estatais, no desenvolvimento de pesquisas e no treinamento formal e
informal de pessoal e s p e c i a l i z a d o , e no pró-prio campus
un i v er s i tá r i o, que deve d e i x a r de ser um ente fecha-do em si
mesmo, mediante canais que estimulem sua intercomunica-ção
constante com a sociedade que o circunda.
1. AUTONOMIA U N I V E R S I T A R I A

A a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a foi p r o c l a m a d a na lei do en-


sino s u p e r i o r de 1931 e r e a f i r m a d a na s reformas e m p r e e n d i d a s em
1961 e 1968. 0 p r i n c i p i o a s c e n d e u mesmo, em a l g u n s E s t a d o s , ao
plano c o n s t i t u c i o n a l , como e e x e m p l o a C o n s t i t u i ç ã o do E s t a d o do
Rio de J a n e i r o e a do E s t a d o de São P a u l o .

T o d a v i a , a competencia l e g a l m e n t e a t r i b u í d a a órgãos da
A d m i n i s t r a ç ã o F e d e r a l em m a t é r i a de educação e, rnais a i n d a , a
prática regulamentar, contribuiram p a r a uma d i s c i p l i n a exces_ siva e
uma i n d e v i d a padronização dos serviços acadêmicos e admi_
n i s t r a t i v o s das u n i v e r s i d a d e s , p r iv an d o- a s da l i b e r d a d e decisória
em materia didático-pedagógica, financeira, disciplinar e
operacional .

A r e c o n q u i s t a da a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a em termos re
ais — e não meramente n o m i n a i s — é um desejo g e n e r a l i z a d o da
c o m u n i d a d e a c a d ê m i c a . Sem e l a , a u n i v e r s i d a d e não pode ser, co-mo
deve, o 1ocus c r i a t i v o de e n s i n o , p e s q u i s a , extensão, refle-xao e
crítica.

A u n i v e r s i d a d e b r a s i l e i r a necessita d i s p o r de l i b e r d a de
para f o r m u l a r seu projeto d i d á t i c o , seu p l a n o Científico,sua
programação orçamentária e f i n a n c e i r a e seus procedimentos de
adminis t r a ç ã o .

D i a n t e da c o m p l e x i d a d e e c o n ô m i c a , c u l t u r a l e p o l í t i c a
do País, i m p o r um m o d e l o ú n i c o de u n i v e r s i d a d e e, mais do que
comprometer sua l i b e r d a d e , perverter sua função e sua r e s p o n s a -
b i l i d a d e perante a sociedade.
Daí o i m p e r a t i v o de q u e c a d a u n i v e r s i d a d e p o s s a fazer
sua p r ó p r i a e x p e r i ê n c i a .
A r e i v i n d i c a ç ã o da a u t o n o m i a n ã o i s e n t a o E s t a d o de
seu dever de e d u c a r e de prover m e i o s s a t i s f a t ó r i o s a p r e s t a ç ã o do
e n s i n o em todos os n i v e i s , r e s g u a r d a d a a d e s t i n a ç ã o dos recursos
p ú b l i c o s m e d i a n t e a d e q u a d o c o n t r o l e democrático.

A a u t o n o m i a tampouco deve s e r e n t e n d i d a como uma dádiva


que a s o c i e d a d e outorga ao s i s t e m a u n i v e r s i t á r i o e a seus
d i v e r s o s segmentos.

A l i b e r d a d e de p l a n e j a r e g e r i r serviços conduz à res-


p o n s a b i l i d a d e pelos resultados alcançados, exigindo-se uma con-
t r a p a r t i d a d e f i n i d a em termos de d e s e m p e n h o e f i c i e n t e .
Em face do exposto, a Comissão recomenda:

(i) As u n i v e r s i d a d e s d e v e r ã o ter a l i b e r d a d e de de-


t e r m i n a r seus cursos de g r a d u a ç ã o e p o s - g r a d u a ç ã o e os corres-
p o n d e n t e s currículos, seus p l a n o s de p e s q u i s a e a t i v i d a d e s de
extensão . As i n s t i t u i ç õ e s i s o l a d a s , ou i n t e g r a d a s , deverão
e s t r u t u r a r seus c u r s o s com a i n t e r m e d i a ç ã o de u n i v e r s i d a d e s para
esse fim s e l e c i o n a d a s .

(ii) C a b e r á ao P o d e r P ú b l i c o r e s p o n d e r pela m a n u t e n - ção


e d e s e n v o l v i m e n t o das IES p ú b l i c a s , i n c l u i n d o , em seus orça-
m e n t o s , sob a forma de d o t a ç õ e s g l o b a i s , r e c u r s o s d e s t i n a d o s a
cada uma delas e a s s e g u r a n d o - l h e s a o p o r t u n a t r a n s f e r e n c i a . A
f i x a ç ã o dos recur sos d e v e l e v a r em c o n s i d e r a ç ã o as n e c e s s i d a d e s
da i n s t i t u i ç ã o e o r e s u l t a d o da a v a l i a ç ã o do d e s e m p e n h o de suas
ativid a d e s .

(iii) Cada IES devera ter o d i r e i t o de d i s t r i b u i r in-


t e r n a m e n t e os recursos r e c e b i d o s , s e g u n d o p l a n o s e p r i o r i d a d e s
que estabelecer, sem a l i m i t a ç ã o de percentuais o b r i g a t ó r i o s de
despesa. A concessão de outros recursos para a t i v i d a d e s de pes_ q u i s a ,
p o s - g r a d u a ç ã o e e x t e n s ã o se s u b m e t e r a a m e c a n i s m o s exter-nos de
avaliação.

(iv) As IES p ú b l i c a s f e d e r a i s d e v e m ser e x c l u í d a s do


p r o c e s s o de s u p e r v i s ã o p r e v i s t o no a r t i g o 26 e seu p a r a g r a f o ú-
nico e do s i s t e m a de a t i v i d a d e s a u x i l i a r e s , e s t a b e l e c i d o nos ar-
t i g o s 30 e 31 do D e c r e t o - l e i nº 200, de 26 de f e v e r e i r o de 1967, que
importam l i m i t a ç ã o ã sua autonomia.

(v) A p r á t i c a da a u t o n o m i a d e v e e n v o l v e r a p a r t i c i p a ,
ção e f e t i v a de t o d o s os s e g m e n t o s da c o m u n i d a d e a c a d ê m i c a na
gestão u n i v e r s i t á r i a , s e g u n d o os p r o c e d i m e n t o s f i x a d o s em seus
estatutos e regimentos gerais.

(vi) As IES devem estabelecer, em seus Estatutos, a forma


de provimento dos cargos superiores de direção (Reitor e Vice-
Reitor nas universidades; Diretor e Vice-Diretor nas isola-das).
Entende a m a i o r i a da Comissão que, nas i n s t i t u i ç õ e s púb l i c a s ,
deve ser a p l i c a d o o sistema de listas tríplices, de modo a
p e r m i t i r a p a r t i c i p a ç ã o do Governo na escolha de dirigen-tes de
entidades que i n t e g r a m o serviço p ú bl ic o .
II

RECOMENDAÇÕES
2. GESTÃO DEMOCRATICA E CONTROLE SOCIAL DA UNIVERSIDADE

A p r o p o s t a de d e m o c r a t i z a ç ã o das i n s t i t u i ç õ e s de ensino
s u p e r i o r a r t i c u l a - s e e s t r e i t a m e n t e com a b u s c a de um contínuo
a p e r f e i ç o a m e n t o na r e a l i z a ç ã o das f i n a l i d a d e s u n i v e r s i t a rias
e s p e c í f i c a s , q u e se e x p r e s s a m na e l e v a ç ã o dos n i v e i s de
qualidade, eficiência e responsabilidade.

A democratização será plenamente a l c a n ç a d a na m e d i d a em que a


c o m u n i d a d e a c a d ê m i c a , por m e i o dos seus três segmentos (professores,
estudantes e servi dores técnico-administrativos), tiver
o p o r t u n i d a d e de e s c o l h e r seus d i r i g e n t e s e r e p r e s e n t a n t e s nos
órgãos d e c i s ó r i o s ; de p a r t i c i p a r a t i v a m e n t e nos c o l e g i a d o s e
nas a t i v i d a d e s u n i v e r s i t a r i a s ; de o b t e r i n f o r m a ç õ e s f i d e d i g nas; e
de e x e r c e r a a v a l i a ç ã o e o p l a n e j a m e n t o de suas a t i v i d a des .

a) D e m o c r a t i z a ç ã o i n t e r n a das IES

O poder u n i v e r s i t á r i o esta tradicionalme nte concentra-


do nos Órgãos decisórios superiores. Ja que as relações verti_
cais p r e do m i na n t es na s o c i e d a d e b r a s i l e i r a penetraram também nas
estruturas universitárias, tanto o reitor como os próprios
dirigentes das diferentes universidades polarizam uma grande So-
ma de poder. Alem disso, as escolhas do Reitor, dos Pró-Reitores ou
e q u i v a l e n t e s e dos chefes de departamento e diretores de
faculdades e centros são muitas vezes orientadas por critérios não
acadêmic os ou p e r s o n al i s ta s .

Embora sejam antigas nos meios acadêmicos do País, as


reivindicações de democratização da Universidade ganharam inten-
s i d a d e nos últimos tempos, em decorrência sobretudo da tomada de
consciência e da m o b i l i z a ç ã o das associações de professores,
estudantes e funcionários.
Nesse p a r t i c u l a r , a Comissão apresenta as seguintes re
comendações :
(i) As u n i v e r s i d a d e s d et erm ina rã o em seus Estatutos, os
procedimentos para a i nd ica ção dos dir ig ent es na área acadêmica e
dos representantes nos c o l e g i a d o s . Tais procedimentos devem
g a r a n t i r a p a r t i c i p a ç ã o das v a r i a s categorias que compõem a
c o m u n i d a d e ac adê mic a (professores, alunos, servidores técni_ co-
administrativos). nas proporções definidas por cada universidade.
Sugere-se a i n d a o exame da p o s s i b i l i d a d e de a m p l i a r es_ sa
p a r t i c i p a ç ã o aos ex-alunos, conforme p r á t i c a aceita e de ampla
t r a d i ç ã o em vários países da América Latina.

(ii) Com exceção dos cargos de R e i t o r e Vice-Reitor,


Diretor e Vice-Diretor de IES isoladas, todos os demais cargos
acadêmicos deverão ser d e s i g n a d o s por me io de atos internos da
instituição, segundo seus estatutos e regimentos. Os cargos de
Pró-Reitor, Sub-Reitor ou e q u i v a l e n t e s deve ser de i n d i c a ç ã o
p r i v a t i v a do R e i t o r .

(III) A escolha dos representantes de cada segmento nos


colegiados será feita em e l e i ç ã o direta por seus respectivos pa-
res, de acordo com os procedimentos que cada IES determinar.

(iv) Devem ser e s t i m u l a d a s , nas IES, a descentralização


das competências decisorias e a subordinação das atividades
ad mi ni st ra ti va s a serviço efetivo da v i d a acadêmica.

(v) Deve ser democratizado o acesso as informações , a


fim de p e r m i t i r uma constante i n t e r l i g a ç ã o das direções com os
diversos setores e a tomada de decisões com pleno conhecimen-to de
causa.

b) Competência no ensino e na pe s qui sa

A política educacional em v i g o r acirrou alguns proble-


mas estruturais da Uni ver sid ad e brasileira. O despreparo de
professores, a falta de integração entre os vários níveis de ensino
e a i n a d e q u a ç ã o dos conteúdos do 1º e do 2º graus l e v a r a m a uma
acentuada queda do nível do e n s i n o em geral. Alem dis
so, a inexis ten cia de políticas adequadas nas áreas educacio-
nal, cultural e científica favoreceu a dependência externa nes-
ses campos, com a conseqüente inadequação das teorias, leis e
m o d e l o s a r e a l i d a d e concreta do País.

Na qualificação dos docentes, as condições negativas e_


xistentes propiciaram um desnível entre as distin tas regiões do
País e entre as IES das capitais e as do interior, geraram con-
tratações sem concurso e promoveram a obtenção de títulos mediante
crit éri os c o r p o r a t i v i s t a s .

São poucas as un iver sid ade que têm conseguido unir o


ensino e a p e s q u i s a e, em escala a i n d a menor, a sua integração
com a extensão. Na pesquisa, predominaram os projetos de unid£ des
rnais preparadas e capazes de sens ibi liza r as agências finan-
ciadoras, concentrando-se em determinadas regiões mais aparelha-
das e, em certos casos, em institutos de p e s q u i s a situados fora
das univ e r s i dades.

Em face disso, os três segmentos universitários vem


p l e i t e a n d o a m e l h o r i a dos padrões de q u a l i d a d e nas IES, enquan-
to garantia da realização dos objetivos acadêmicos; a necessida_
de de avaliação do desempenho funcional e acadêmico; a valoriza-
ção da titulação; pesquisas rnais inst itu cion ali zada s; e uma jus-
ta distribuição dos recursos pelas distintas regiões e pelas di_
versas IES.

Sobre a matéria, a Comissão apresenta as s egui nte s su


gestões :

(i) 0 M i n i s t é r i o da Educação, através de suas instân-


cias competentes, deve garantir os meios necessários ã melhoria
da q u a l i d a d e do ensino e da pesquisa nas instituições de ensino
s u p e r i or.

(ii) Ê necessário estabelecer critérios objetivos e


mecanismos apropriados para a avalia ção e planejamento de todas
as atividades universitárias, de modo a reforçar nelas a convi-
v ê n c i a e o m é r i t o acadêmicos. Essa a v a l i a ç ã o deve ser feita
com a participação de personalidades do mundo acadêmico es-
tranhas à i n s t i t u i ç ã o a v a l i a d a .

( i i i ) R e s p e i t a d a a l i b e r d a d e de p e s q u i s a , devem-se es-
t a b e l e c e r p r i o r i d a d e s de i n t e r e s s e s o c i a l , c i e n t í f i c o e acadêmi-
co. R e c o m e n d a - s e a i n d a q u e , nos p r o g r a m a s de p e s q u i s a de ór-gãos
do M i n i s t é r i o da E d u c a ç ã o e de a g e n c i a s de p e s q u i s a de ou_ tros
Ministérios, S e c r e t a r ia s e Fundações, os recursos sejam
d i s t r i b u i d o s de modo a e s t i m u l a r g r u p o s emergentes, bem como o
p o t e n c i a l de cada r e g i ã o e de c a d a i n s t i t u i ç ã o em sua r e g i ã o
específica. É m i s t e r p r o p i c i a r condições p a r a que cada IES e a
s o c i e d a d e em geral t e n h a m c o n d i ç õ e s de p a r t i c i p a r na d e f i n i ç ã o
d e s s a s l i n h a s de p e s q u i s a e na s e l e ç ã o d a s p r i o r i d a d e s .

c) Extensão u n i v e r s i t á r i a

A extensão u n i v e r s i t á r i a no País a s s u m i u formas d i v e r -


s i f i c a d a s , t o r n a n d o - s e a s s i m n e c e s s á r i a uma m e l h o r d e f i n i ç ã o de
sua natureza. Em termos g e r a i s , a e x t e n s ã o tem e n g l o b a d o a t i v i dades
que e n v o l v e m e s t á g i o s c u r r i c u l a r e s , t r a b a l h o s de consulto-ria e
a s s e s s o r i a , ações de a s s i s t ê n c i a e a t e n d i m e n t o s o c i a l a setores
carentes, i n i c i a t i v a s de c u n h o c u l t u r a l , cursos de dife-r e n t e teor,
treinamentos de capacitação, participação em projetos
g o v e r n a m e n t a i s e p r i v a d o s , v i s i t a s de estu dantes a r e g i õ e s carentes
e a c a m p i a v a n ç a d o s , etc.

No plano do e nsino, têm s i d o d e s e n v o l v i d o s cursos e a-


t i v i d a d e s s i m i l a r e s para d i s t i n t o s segmentos soc iais, dentro ou
fora dos campi, cujos c o n t e ú d o s são a d a p t a d o s às v a r i a d a s reali-
d a d e s e nos q u a i s se b u s c a a i n o v a ç ã o d a s m e t o d o l o g i a s e t é c n i cas
de a p r e n d i z a g e m e c o m u n i c a ç ã o .

Na p e s q u i s a , vêm sendo propostas i n v e s t i g a ç õ e s que ampliem


o c o n h e c i m e n t o d a s q u e s t õ e s s o c i a i s e forneçam sugestões c o n c r e t a s
de i n t e r v e n ç ã o s o c i a l . Tem s i d o e n f a t i z a d a a necessi_ dade de uma
s o c i a l i z a ç ã o c r e s c e n t e dos r e s u l t a d o s .
D i a n t e d i s s o , a C o m i s s ã o recomenda:
(i) C o n s i d e r a r a e x t e n s ã o como uma d i m e n s ã o e s s e n cial as
f i n a l i d a d e s das IES, i n t e g r a d a ao e n s i n o e à p e s q u i s a . E f e t u a r
e s t u d o s s i s t e m á t i c o s para e s p e c i f i c a r sua n a t u r e z a e seu
s i g n i f i c a d o para o c o n h e c i m e n t o da r e a l i d a d e . E s t i m u l a r a a t u a ç ã o
das IES nas d i f e r e n t e s c o m u n i d a d e s e na s o c i e d a d e em ge_ ral, sem
p e r d a da s u a e s p e c i f i c i d a d e .

(ii) E n c o r a j a r a p a r t i c i p a ç ã o d a s IES nos p l a n o s e


programas de d e s e n v o l v i m e n t o n a c i o n a l , r e g i o n a l e local. Sugerir ao
MEC e is S e c r e t a r i a s da E d u c a ç ã o e n t e n d i m e n t o s com outros órgãos
g o v e r n a m e n t a i s , v i s a n d o ã p a r t i c i p a ç ã o das IES em c o n s e l h o s e
colegiados de o r g a n i s m o s de d e s e n v o l v i m e n t o r e g i o nal e
e s t a d u a l , tais como S U D E N E , S U D E C O , S U D A M , SUFRAMA e SUDE-SUL.

( i i i ) U t i l i z a r b i b l i o t e c a s , laboratórios, museus, edi-


toras, g r á f i c a s , t e a t r o s e o u t r o s s e r v i ç o s c o m p l e m e n t a r e s das IES
de modo a f a z ê - l o s f u n c i o n a r também como m e i o s de i n t e r l i g a - ção com
a comunidade.

(iv) I n c e n t i v a r o c a r á t e r m u l t i d i s c i p l i n a r dos progra-mas


e p r o j e t o s de p r e s t a ç ã o de s e r v i ç o s as c o m u n i d a d e s .

(v) E s t i m u l a r c o n v ê n i o s e p r o j e t o s com e m p r e s a s esta-


tais e p r i v a d a s , a f i m de m e l h o r conhecer o mercado de t r a b a l h o
p r o f i s s i o n a l , de e l a b o r a r s u b s í d i o s p a r a uma p o l í t i c a i n d u s t r i al
v o l t a d a para os i n t e r e s s e s n a c i o n a i s e d a s m a i o r i a s e de pro-d u z i r
i n o v a ç õ e s t e c n o l ó g i c a s , s e m prejuízo da a u t o n o m i a u n i v e r sitár i a .

(vi) R e v e r as c o n c e p ç õ e s de c i d a d e u n i v e r s i t á r i a como
c a m p u s f e c h a d o , a b r i n d o c a n a i s q u e f a c i l i t e m sua c o m u n i c a ç ã o
com a s o c i e d a d e c i r c u n d a n t e .

( v i i ) Assegurar, nas atividades de e x t e n s ã o u n i v e r s i t á r i a ,


os s e g u i n t e s o b j e t i v o s : a d i f u s ã o dos c o n h e c i m e n t o s o b t i d o s : a
c o n t i n u i d a d e dos s e r v i ç o s o f e r e c i d o s ã p o p u l a ç ã o ; a c o n t í n u a ação
r e c í p r o c a e n t r e a e x t e n s ã o , por um l a d o , e, por outro, o
ensino e a pesquisa.

c) Função s o c i a l do e n s i n o s u p e r i o r

As i n s t i t u i ç õ e s u n i v e r s i t á r i a s , na m a i o r i a dos casos,
estão rnais v o l t a d a s para a sua d i n i m i c a i n t e r n a do que para a
mudança social. A responsabilidade social do ensino superior tem
m ú l t i p l a s dimensões. A sociedade, na medida em que sustenta a
U n i v e r s i d a d e , tem o dever de l h e e x i g i r prestação de contas do
ensino e da pesquisa que desenvolve, assim como dos recursos que
a p l i c a . Embora nos últimos anos tenha crescido o número de assa_
lariados que freqüenta cursos noturnos, a tendência predominante
ainda não se alterou: são poucos os que dispõem das condições s ó c i o -
e c o n ô m i c a s necessárias para o i n g r e s s o no e n s i n o superior. A
s o c i e d a d e , de a l g u m modo, deve ser r e t r i b u í d a pela concessão
desse p r i v i l é g i o . De resto, as IES co nce ntr am uma massa crític a
de recursos humanos e mate ria is que deve ser socializada e difun-
dida. Num país com tantas d e s i g u a l d a d e s s o c i a i s e regionais, ca_ be
ã U n i v e r s i d a d e um p a p e l i m p o r t a n t e no esforço para s u p e r a r es_ sa
si tu aç ão .

Por isso, a Comissão c on s ide ra necessário:

(i) I n t e g r a r a formação profissional com uma formação


geral, capaz de a m p l i a r os conhecimentos dos alunos e neles in-
fundir um e f e t i v o com pr o mis so s o c i a l .

(ii) Estruturar os cursos, currículos e p r o g r a m a s de modo


a torna-los permeáveis as questões postas pela r e a l i d a d e so cial;
promover pesquisa e atividades de extensão que produzam e d i f u n d a m
os c o n h e c i m e n t o s em função das ne ces s ida des da m a i o r i a da
po pu la çã o.

(iii) E x p a n d i r e adequar os estágios curriculares como


forma de pôr os estudantes em contato com as realidades social e
p r o f i s s i o n a l e de r e l a c i o n a r a teoria com a prática.
e) Controle social

A sociedade deve exercer um controle efetivo sobre o


tipo de educação v e i c u l a d o nas IES e sobre o modo pelo qual são
a p l i c a d o s os recursos alocados nessas instituições.

Contudo, o controle social apresenta dificuldades. A


p r i m e i r a delas refere-se ao risco de que tal controle possa ferir
a autonomia universitária. Porém, na m e d i d a em que a auton o m i a não
s i g n i f i c a descompromisso do Estado e da sociedade para com a
educação, e a c o n s e l h á v e l uma p a r t i c i p a ç ã o exógena — sob formas
adequadas — no controle das a t i v i d a d e s de e n s i n o su-peri or.
Uma segunda dificuldade consiste em estabelecer qual
representação da sociedade dispõe de maior l e g i t i m i d a d e para e-
xercer o c o n t r o l e social.

Tradicionalmente, esse controle tem sido realizado pe_


lo Estado, através da aprovação dos orçamentos, dos projetos e do
exame posterior do emprego das verbas. Coloca-se, de modo rnais
concreto, a questão de estabelecer qual é a i n s t â n c i a esta-tal
rnais ad e qu ad a para atuar diretamente no i n t e r i o r das IES.

E importante que organismos da sociedade civil partici-_


pem também do processo de controle social. Verifica-se atual-
mente, nos conselhos u n i ve rs it ár io s de todas as instituições, a
presença de representantes das classes e mpresariais. Assim, é
perfeitamente legítimo e democrático a m p l i a r essa participa-
ção da sociedade c i v i l nos conselhos das IES a outros segmentos
representativos.

Decerto, o controle social e exercido, de forma ampla,


pelas a v a l i a ç õ e s que a c o m u n i d a d e científica e a c a d ê m i c a faz
das a t i v i d a d e s de cada IES, bem como p e l a im ag em e reconhecimen-
to que elas obtem junto ã opinião p ú b l i ca . Contudo, parece-nos
importante examinar a p o s s i b i l i d a d e de formas rnais diretas de
acompanhamento.
Por isso, a Comissão sugere:

- Estabelecer mecanismos apropriados para que os dife-


rentes setores da sociedade c i v i l possam exercer um efetivo con-
trole social das finalidades das IES, sem com isso afetar a sua
autonomia universitária.

f) Revisão dos estatutos e regimentos gerais

Algumas IES já vim desenvolvendo experiências de ela-


boraçao e aprovação de estatutos e regimentos gerais com a par_
ticipação dos organismos estatutarios ou por meio da constitui-
ção de colégios especiais. Trata-se de encontrar os meios que
assegurem, quando da implementação das presentes recomendações, o
e q u i l í br i o entre os diversos processos de democratização e a
conservação do vínculo entre mérito acadêmico e compromisso so-
cial.
Por isso, a Comissão sugere:

- Que a reformulação dos estatutos e regimentos das


IES seja aprovada por colégio especial, integrado pelo conselho
universitário e demais conselhos superiores e por representan-tes,
eleitos para esse fim, de professores, alunos e servidores
técnico-administrativos.
3. U N I V E R S I D A D E S E INSTITUIÇÕES ISOLADAS DE E N S I N O S U P E R I O R

O sistema de ensino superior b r a s i l e i r o tende a ser pensa


do, normalmente, em termos universitários: e nas u n i v e r s i d a d e s
que se supõe a existência conjunta do ensino, da pesquisa e da
extensão: são as u n i v e r s i d a d e s que recebem autonomia; e os títu-
los superiores dados pelas instituições de ensino do País são,
normalmente, considerados como " universitários" No entanto, a
r e a l i d a d e e que cerca de 70% dos estudantes superiores do país
estudam em estabelecimentos isolados, sejam eles p ú b l i cos ou
privados; e as próprias univer sidades tiveram, em sua origem,
faculdades superiores isoladas, que se mantiveram com relativa
i n d e p e n d ê n c i a até a Reforma U n i v e r s i t á r i a de 1968.

Esta discrepância entre o ideal universitário e a rea-


lidade do ensino em estabelecimentos isolados permite dois en-
caminhamentos. Por um lado, um esforço para levar os es t ab el e-
cimentos isolados a se un ir em em universidades; por outro, um
reconhecimento da situação diferenciada que existe, e medidas
apropriadas para l i d a r com ela. Este documento se e n c a m i n h a no
segundo sentido.

a) Os elementos c o n s t i t u t i v o s das uni ve rs ida des

Uma u n i v e r s i d a d e , tal como entendida no Brasil, reuni_


ria pelo menos os seguintes elementos: (i) ela d e v e r i a i n c l u i r
uma ampla gama de c o n h e c i m e n t o s das áreas téc nic as e de saúde is
humanidades. Este conceito exclui, portanto, universidades
dedicadas a áreas específicas de conhecimento, como engenharia,
saúde ou c i ê n c i a s sociais; (ii) ela d e v e r i a pos sui r recursos
humanos, m a t e r i a i s e técnicos adequados para o e n s i n o e a pes-
q u i s a de alto nível ; (iii) estes d o i s elementos servem de base
para o terceiro, que é o da autonomia didática, pedagogica, fi-
nanceira e administrativa.

Na prática, o "status" universitário tem permitido as


i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o s u p e r i o r a u t o n o m i a na criação de cursos
de graduação e pós-graduação, no registro de d i p l o m a s e no cre-
denciamento de seus professores. As u n i v e r s i d a d e s federais tam-bem
recebem do governo recursos para uma série de encargos e ativ i d ad e s que
normalmente não estão d i s p o n ív e i s para estabeleci-mentos isolados.

b) Os e s t a b e l e c i m e n t o s isolados

Os e s t a b e l e c i m e n t o s i s o l a d o s c o n st i t ue m uma categoria
a br a n ge n t e que, na r e a l i d a d e , e n g l o b a i n s t i t u i ç õ e s de tipo com-
p l e t a m e n t e d i s t i n to . Entre eles, devem ser destacados:

(i) estabelecimentos federais especializados, como


faculdades de m e d i c i n a e e n g e n h a r i a q u e não pertencem a u n i v e r -
sidades ;

(ii) estabelecimentos isolados particulares;

( i i i ) e s t a b e l e c i m e n t o s p a r t i c u l a r e s agrupados em fede-
rações e associações de d i v e r s o s tipos, ou v i n c u l a d o s à i n s t i -
tuições mantenedoras comuns.

Os estabelecimentos isolados incluem, portanto tanto institui_


ções de alto nível q u a n t o de q u a l i d a d e d u v i d o s a ; tanto m a n t i d a s pelo
governo federal quanto por mantenedoras privadas. Seu tra tamento legal, no
entanto, tem s i d o s i m i l a r . Elas não gozam de autonomia didática, e
funcionam, supostamente, sob a tutela direta do governo. É p r o v á v e l
que, para as instituições de melhor nível, esta tutela seja
desnecessária e prejudicial; para outras, ela pode ser i n s u f i c i e n t e .

c) Propostas

As propostas aqui indicadas partem do reconhecimento da


situação atualmente existente. Parte, i g u a l m e n t e , da i d é i a de que não
tem sentido, na realidade, pretender o enquadramento de educação
superior do país no m o d e l o u n i v e r s i t á r i o clássico.
por um lado, existem em todo o mundo — e o Brasil não seria ex ceção
— instituições de ensino superior voltadas a formação profissional
especializada, e sem pretensão ou intenção de desenvolver
atividades de pesquisa. Por outro lado, existem insti tuições de
alto nível que têm todas as condições para a autonomia didática,
científica e administrativa, mas que, por sua vocação, não se
interessam por atuar em d e t e r m i n a d a s áreas de conhecimento, e por
isto não recebem o título de universidade. Não há d ú v i d a , no
entanto, que o r e q u i s i t o da " u n i v e r s a l i d a d e de conhecimento",
que fazia parte da definição clássica das uni_ versidades
t r a d i c i o n a i s , já não se a p l i c a da mesma forma nos dias de hoje,
quando, por um lado, as diversas áreas de conheci-mento quase não se
comunicam de fato nas modernas "multiversida_ des"; e quando, por
outro, especializações são inevitáveis, e as divisões clássicas
entre humanidades, ciências exatas e ciên-cias biológicas já são
precárias.

Diante desta situação, a Comissão apresenta as seguin-


tes propostas:

(i) Caberá ao C o n s e l h o Federal de Educação renovado o


reconhecimento do "status un iv e rs it ár io " de ins tituições de
en si no s up er io r no B ra si l, para efeitos de obtenção da autonomia
d i d á t i c a , a d m i n i s t r a t i v a e fi na nc ei ra .

(ii) A autonomia universitária tem sido, ate aqui, li_


m i t a d a de fato pelo controle a d m i n i s t r a t i v o e f i n a n c e i r o , por
um lado, e pelo reconhecimento de seus cursos pelo Conselho Federal
de Educação por outro. Esta autonomia deve, portanto,ser ampliada,
dando às instituições universitárias plena capacidade de gestão
a d m i n i s t r a t i v a e f i n a n c e i r a e de c r i a r e reconhecer seus
próprios cursos. A l é m disto, as u n i v e r s i d a d e s deverão tarn bem
assumir um papel importante na supervisão e acompanhamento
acadêmico dos estabelecimentos de ensino isolados.

(iii) A prerrogativa de as universidades supervisiona-


rem o funcionamento de estabelecimentos isolados também deveria
ser a s s u m i d a gradualmente, por autorização do C.F.E., mediante
a c r i a ç ã o de m e c a n i s m o s e s p e c í f i c o s p a r a este fim.

(iv) As Universidades particulares também deveriam


c o n t a r com a u t o n o m i a d i d á t i c a e a d m i n i s t r a t i v a em r e l a ç ã o às
i n s t i t u i ç õ e s mantenedoras, s e m e l h a n t e i a u t o n o m i a das u n i v e r s i -
d a d e s f e d e r a i s e e s t a d u a i s em r e l a ç ã o aos r e s p e c t i v o s g o v e r n o s .

(v) 0 r e c o n h e c i m e n t o do "status" u n i v e r s i t á r i o deve


b a s e a r - s e , e s s e n c i a l m e n t e , na c a p a c i d a d e de a u t o - g e s t ã o acadêmi-
ea e a d m i n i s t r a t i v a dos e s t a b e l e c i m e n t o s de e n s i n o , o que impli_ ca
a e x i s t ê n c i a de p e s q u i s a de a l t o n i v e l e c o r r e s p o n d e n t e s recursos
t é c n i c o s , h u m a n o s e a d m i n i s t r a t i v o s . O r e q u i s i t o f o r m a l da
a b r a n g ê n c i a deve ser a b a n d o n a d o , t e r m i n a n d o a s s i m a e q u i v a l ê n c i a
e q u i v o c a d a entre " u n i v e r s i d a d e " e " u n i v e r s a l i d a d e " ; o "status"
u n i v e r s i t á r i o pode ser concedido tanto a u n i v e r s i d a d e s c l á s s i c a s
como, por exemplo, a I n s t i t u t o s de T e c n o l o g i a ou de C i ê n c i a s
M é d i c a s de a l t o n í v e l e g r a n d e c o m p l e x i d a d e .

(vi) I n s t i t u i ç õ e s i s o l a d a s q u e n ã o t e n h a m c o n d i ç õ e s
ou v o c a ç ã o para se c o n s t i t u i r em u n i v e r s i d a d e s d e v e r i a m o b t e r um
"mandato u n i v e r s i t á r i o " de u n i v e r s i d a d e s geog raficamente pro
x i m a s , s e j a m elas p ú b l i c a s ou p r i v a d a s . I sto s i g n i f i c a que estas
instituições seriam "acreditadas" (reconhecidas) por estas
u n i v e r s i d a d e s , e f u n c i o n a r i a m sob sua s u p e r v i s ã o acadêmica.Es-
ta s u p e r v i s ã o d e v e r i a se e x e r c e r de d i v e r s a s formas:

- por c o n v ê n i o s de c o o p e r a ç ã o t é c n i c a e d i d á t i c a e n t r e as
u n i v e r s i d a d e s e os e s t a b e l e c i m e n t o s i s o l a d o s ;
- pela a p r o v a ç ã o dos c u r r í c u l o s , i n s t a l a ç õ e s e profes_
sores das f a c u l d a d e s i s o l a d a s p e l a u n i v e r s i d a d e ;
- pelo r e g i s t r o dos d i p l o m a s dos e s t a b e l e c i m e n t o s isolados
pelas universidades.

A i d é i a básica e que os d i p l o m a s expedidos pelos esta-


b e l e c i m e n t o s isolados sejam v a l i d a d o s p e l a s u n i v e r s i d a d e s , não
somente do ponto de v i s t a formal (como já ocorre hoje com o reg i s t r o de
d i p l o m a s nas u n i v e r s i d a d e s federais), mas q u a n t o a
sua q u a l i d a d e , de m a n e i r a t a l que a E s c o l a X, por e x e m p l o , pos sa
a n u n c i a r que f u n c i o n a sob a s u p e r v i s ã o e com o e n d o s s o da
U n i v e r s i d a d e Z. Esta s u p e r v i s ã o d e v e r i a ser f e i t a pelos respec-
t i v o s d e p a r t a m e n t o s ou f a c u l d a d e s , e s e r o b j e t o de c o n v ê n i o s que
d e s p e r t a s s e m , nas u n i v e r s i d a d e s , i n t e r e s s e pela tarefa.

( v i i ) outra a l t e r n a t i v a , não e x c l u d e n t e em r e l a ç ã o a
a n t e r i o r , s e r i a a c r i a ç ã o de redes n a c i o n a i s ou r e g i o n a i s de
i n s t i t u i ç õ e s i s o l a d a s , q u e f u n c i o n a s s e m s o b r e g i m e de supervi-são
comum. A i d é i a p r i n c i p a l , a q u i , seria q u e a i n t e g r a ç ã o dos
d i v e r s o s e s t a b e l e c i m e n t o s de e n s i n o se d esse pela area de conhe-
cimento, e não pela p r o x i m i d a d e geográfica de estabelecimentos
d i s t i n t o s . E s t a s redes n a c i o n a i s ou r e g i o n a i s d e v e r i a m ter seus
órgãos normativos próprios, formados com participação das
u n i v e r s i d a d e s e dos M i n i s t é r i o s e S e c r e t a r i a s da E d u c a ç ã o , alem de
a s s o c i a ç õ e s , C o n s e l h o s p r o f i s s i o n a i s e outros setores inte-
r e s s a d o s n a q u e l a àrea e s p e c i f i c a de c o n h e c i m e n t o . A e s t e s órgão
n o r m a t i v o s c a b e r i a a s u p e r v i s ã o e o a c r e d i tamento dos esta-
belecimentos isolados a eles subordinados.

( v i i i ) L ugar e s p e c i a l deve ser ocupado por Institutos


S u p e r i o r e s de T e c n o l o g i a , cuja c r i a ç ã o a C o m i s s ã o s u g e r e que Se-ja
e x a m i n a d a pelas a u t o r i d a d e s g o v e r n a m e n t a i s a p a r t i r de uma
a v a l i a ç ã o a d e q u a d a com a e x p e r i ê n c i a l i m i t a d a que o País já pos-
sui n e s t e c a m p o . É i l u s t r a t i v a , no caso, a e x p e r i ê n c i a da Fran-ça,
que d e s d e q u a s e v i n t e a n o s tem uma r i c a p r á t i c a n e s t e senti-do. Lã,
os c u r s o s são c o n c e n t r a d o s em d o i s anos ou q u a t r o sem e s t r e s ,
a b e r t o s aos t i t u l a r e s de c e r t i f i c a d o s de c o n c l u s ã o de nível m é d i o
e c o r r e s p o n d e m a cerca de 2.000 h o r a s de c u r s o s e t r a b a l h o s , com
e s t á g i o s o b r i g a t ó r i o s no ú l t i m o semestre. A su-g e s t ã o para o
B r a s i l é q u e e s t e s i n s t i t u t o s t e n h a m a d u r a ç ã o de três anos, e se
d e d i q u e m a formação de e s p e c i a l i s t a s em tecn o l o g i a c l á s s i c a e
a v a n ç a d a em todas as áreas de c o n h e c i m e n t o ( t e c n o l o g i a s físicas, de
b i o l o g i a a p l i c a d a , de energia, de inf o r m á t i c a , de c o m u n i c a ç ã o e
d o c u m e n t a ç ã o , q u í m i c a s , e e l é t r i c a e e l e t r ô n i c a ) , bem como as
rnais a j u s t a d a s as r e g i õ e s em que os i n s t i t u t o s se l o c a l i z e m . Estes
i n s t i t u t o s podem ser c r i a d o s j u n t o a u n i v e r s i d a d e s , mas também de
forma i s o l a d a , e sob coor-
denação e supervisão de organismo federal especificamente capa_
citado para isto, constituido com a participação dos Ministérios da
Educação, Ciência e Tecnologia e Indústria e Comércio.

(ix) As duas formas de acreditação e supervisão acadê-


mica sugeridas acima não implicam ingerência nos aspectos admi-
nistrativos e financeiros das instituições isoladas que delas
participem. No entanto, é claro que a retirada desta acredita_
ção devera trazer conseqüências, que irão desde a perda de vali-
dade dos títulos até a inabilitação para o recebimento de even-
tuais subsídios públicos, incluindo eventualmente a interdição
governamental.

Com estas medidas, a autonomia universitária seria re-


vigorada, o controle de qualidade dos estabelecimentos isolados
passaria a se dar de forma efetiva e descentralizada, e todo o
sistema de ensino superior do País se beneficiaria.
4. ENSINO PÚBLICO E ENSINO PARTICULAR

A questão do ensino p ú b l i c o versus e n s i n o p r i v a d o , que


no passado se confundia com a polemica entre l i b e r a l i s m o e esta-
tismo, necessita hoje ser colocada em outro patamar de reflexão. Nossa
h i s t o r i a mostra, desde seus primórdios, a presença ativa do
ensino particular, com destaque para o ensino religio so. Ai nd a que
tenham existido e persistam a valiações di ve r ge n tes sobre seu
papel, o fato é que as Constituições anteriores sempre
garantiram, de uma forma ou outra, a c o n v i v ê n c i a da educação
p ú b l i c a com a p r iv ad a.

Na atual Constituição, o ensino p r i v a d o está mais uma vez


assegurado, sendo garantida a liberdade de ensino, condicio-nada
a sua fiscalização pela autoridade pública. Ela também a-tribui a
competência legislativa federal a prerrogativa de esta belecer as
"diretrizes e bases da educação na ci on al ". Dados levantados pelo
Ministério da Educação para 1983 registram a e-x i stência de 615
instituições de ensino su pe ri or privadas, com 60% do total de
matrículas, contra 253 instituições p ú b l i c a s a-tendendo os 40%
restantes.

0 crescimento do setor p r i v a d o nos últimos anos suscita


interrogações sobre o e qu il ib ri o do conjunto. Há setores que
criticam a tendência privatizante, que teria sido estimulada pela
p o l i t i c a educacional do governo federal; há os que defendem o
ensino p ú b l i c o e g r a t u i t o em todos os n i v e i s ; e há, ainda, os
que defendem o ensino p r i v a d o como legitimo, exercendo função
essencial no sistema e d u c a c i o n a l b r a s i l e i r o . Esta questão
necessita ser examinada ã luz da enorme variedade de si-tuações e
regiões geográficas em que s u r g i r a m e se desenvolve_ ram as
instituições de ensino privadas, o que impede que ela se_ ja
tratada a partir da i d é i a de um modelo único para o ensino
superior em todo o Pais.

a) Semelhanças e diferenças entre os dois sistemas de ensino

Existe uma série de características que afetam de ma-


n e i r a s i m i l a r tanto o e n s i n o p ú b l i c o q u a n t o o p r i v a d o . Entre elas
p o d e m o s c i t a r (i) a p o u c a i n t e g r a ç ã o e n t r e o e n s i n o , p e s q u i s a e
extensão; (ii) o v e r t i c a l i s m o nas r e l a çõ e s do poder; ( i i i ) o
d i s t a n c i a m e n t o das u n i v e r s i d a d e s em r e l a ç ã o ã r e a l i d a d e nacional,
r e g i o n a l e local; (iv) o c i o s i d a d e no uso de recursos; (v) b a i x a
p r o d u t i v i d a d e no d e s e m p e n h o de a t i v i d a d e s a c a d ê m i c a s de uma for-
ma geral. E x i s te m , é claro, exceções l o c a l i z a d a s em a l g u m a s ins-
t i t u i ç õ e s , ou u n i d a d e s d e n t r o d e l a s , em a m b o s os s e t o r e s , e di_
ve r s as r e g i õ e s do País. Em a l g u n s casos, i n s t i t u i ç õ e s p r i v a d a s
d e s e n v o l v e m p r o g r a m a s de p e s q u i s a , p r o d u ç ã o a c a d ê m i c a e formação
p r o f i s s i o n a l de a l t o n í v e l , a p r o x i m a n d o - s e a s s i m das m e l h o r e s
i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s ; ao mesmo tempo, a d e t e r i o r a ç ã o real dos
s a l a r i o s dos professores d a s u n i v e r s i d a d e s p ú b l i c a s e a falta de
recursos m a t e r i a i s e físicos têm a p r o x i m a d o m u i t a s i n s t i t u i ç õ e s
f e d e r a i s das d i f i c u l d a d e s e x p e r i m e n t a d a s p e l a s i n s t i t u i ç õ e s pri_
vadas.

Por o u t r a p a r t e , e x i s t e m i m p o r t a n t e s d i f e r e n ç a s de de_
s e m p e n h o e n t r e os d o i s s e t o r e s , r e v e l a d a s p o r i n d i c a d o r e s esta_
t í s t i c o s de v a r i o s t i p o s . O e n s i n o p ú b l i c o se d e s t a c a pela pro-
d u ç ã o de p e s q u i s a s e p e l a m e l h o r i n f r a - e s t r u t u r a de a p o i o para os
p r o f e s s o r e s , a l u n o s e f u n c i o n a r i o s , e p o r e x i b i r n ú m e r o s mui_ to
m a i o r e s de a l u n o s p o r p r o f e s s o r e s e f u n c i o n a r i o s . 0 e n s i n o
p r i v a d o e x i b e custos i n f e r i o r e s na r e l a ç ã o p r o f e s s o r / a l u n o e fun
c i o n á r io / a l u n o e nos custos por a l u n o .

A l g u m a s das p r i n c i p a i s d i f e r e n ç a s e n t r e o e n s i n o Públi_ co
e p r i v a d o podem ser o b s e r v a d a s no q u a d r o a s e g u i r :
Ensino P ú b l i c o Ensino P r i v a d o

Total de a l u n o s 39,2% 60,8%

Total de p r o f e s s o r e s 57,9% 42,1%

A r e a s de c o n h e c i m e n t o
( n ú m e r o de a l u n o s ) :

C. B i o l ó g i c a s e S a ú d e 56,7% 43,3%

C. E x a t a s e T e c n o l ó g i c a s 42,7% 57,3%

C. A g r a r i a s 86,3% 13,7%

C. H u m a n a s e S o c i a i s 25,4% 74,6%

Letras 34,1% 68,2%

Artes 49,4% 50,6%

A l u n o s em c u r s o s de 1 i
cenci atura 30,7% 69,3%

Fonte: Raul T r a m o n t i n e R o n a l d B raga, "0 E n s i n o S u p e r i o r Parti_


cular no B r a s i l ; Traços de um P e r f i l " . Em C a n d i d o M e n d e s e
C l a u d i o Moura Castro, (org.), Q u a l i d a d e , E x p a n - são e
F i n a n c i a m e n t o do E n s i n o S u p e r i o r P r i v a d o . ABM/ E d u c a m ,
1984 ( d a d o s de 1980).

Os da dos m o s t r a m q u e o e n s i n o p a r t i c u l a r e o g r a n d e
r e s p o n s á v e l pela formação de p r o f e s s o r e s p a r a o e n s i n o de pri_
m e i r o e s e g u n d o g r a u s (cursos de l i c e n c i a t u r a ) p a r t i c u l a r m e n t e
nas áreas de c i ê n c i a s s o c i a i s e humanas e em letras. É de se s u p o r
também que um número s i g n i f i c a t i v o dos cursos em c i e n c i a s b i o l ó g i c a s
e exatas no setor p r i v a d o seja de formação de profes-sores de nível de 2º
grau e não de m é d i c o s ou e n g e n h e i r o s . As l i c e n c i a t u r a s em
c i ê n c i a s h u m a n a s e l e t r a s n a o e x i g e m , em geral, e q u i p a m e n t o s e
m a t e r i a i s p e d a g ó g i c o s d i s p e n d i o s o s , e permi_ tem um g r a n d e número de
a l u n o s p o r pr ofe ssor. No e n t a n t o , exis-
tem instituições particulares com programas de q u a l i d a d e em
pesquisa, produção acadêmica e formação profissional de alto ní_
vel.

b) Recursos públicos para escolas particulares

A deterioração progressiva da situação economi co-finan-


ceira do setor p r i v a d o , a g r a v a d a p e l a m i g r a ç ã o de seus a l un o s a
i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s , p e l o controle governamental de seus
preços, pela ausencia de incentivos fiscais à educação paga (ex-ceto
as deduções do i m p o s t o de renda) e p e l a e l i m i n a ç ã o de bolsas de
estudo do s a l á r i o - e d u c a ç ã o , tem colocado na ordem do dia a questão
do subsídio p ú b l i c o ao ensino superior privado.Al_ gumas
universidades privadas, entre as quais o subconjunto das
u n i v e r s i d a d e s p articulares confessionais, tendo em conta seu
porte e as atividades que desenvolvem nas areas de pesquisa, en-
sino e pós-graduação e serviços na área social, procuram definir-
se como "comunitárias" e r e i v i n d i c a r para si um tratamento
especial por parte do governo. Estas u n i v e r s i d a d e s enfrentam u-ma
situação sem saída e n qu a nt o permanecerem as atuais condições de
c o n f l i t o entre, por um lado, as r e i v i n d i c a ç õ e s de professo-res e
funcionários por melhores salários e condições de trabalho e,
por outro, demandas dos a l u n o s por menores custos ou con-gelament o
de taxas e mensalidades. Para tentar contornar essa situação,
u n i v e r s i d a d e s católicas propuseram a cri a ç ão de um sistema
e s p e c i a l que lhes p e r m i t i s s e receber verbas orçamentá rias
federais, evitando assim a imprevisibilidade gerada pelas
oscilações e atrasos nos poucos su bs íd io s que lhe são propiciados
.

E n q u a n t o o setor p r i v a d o enfrenta estes problemas, no


setor p ú b l i c o critica-se duramente a tendencia p ri va ti za nt e da
p o l i t i c a educacional dos últimos anos, o descaso do governo para
com a rede p ú b l i c a de ensino, a queda acentuada dos recursos
recebidos, favorecendo a saída de professores para as empresas e
para a rede p r i v a d a , gerando o desestímulo e l e v a n d o a perda de
qualidade do ensino. Nesta perspectiva, o subsídio ao ensi-
no p r i v a d o é visto como prejudicando a i n d a rnais um ensino publi-co já
depauperado.

Diante desse quadro e da necessidade de serem estabeleci-


das diretrizes que possam ser rapidamente implementadas, a Co-
missão faz as seguintes recomendações gerais:

(i) Que a no v a Constituição assegure a responsabili_


dade do Estado pela educação em todos os seus n i v e i s ;

(ii) Que a nova Constituição mantenha a l i b e r d a d e de


ensino e o p l u r a l i s m o de pensamento, p o s s i b i l i t a n d o a i n i c i a -
tiva p a r t i c u l a r nos diferentes ramos de ensino;

(iii) Que a nova Constituição assegure a manutenção e a


expansão quantitativa e q u a l i t a t i v a do ensino p ú b l i c o em todos
os níveis do ensino, v i s a n d o a sua democratização;

(iv) Que sejam g a r a n t i d o s e tornem-se d i s p o n í v e i s re-


cursos adequados ã educação nos montantes at ri bu íd os pela Emenda
Calmon ã União, Estados e Municipios, considerando-se esta
g a r a n t i a como preceito c o n s t i t u c i o n a l ;

(v) Que os recursos p ú b l i c o s d e s t i n a d o s as institui_


ções de e n s i n o s u p e r i o r sejam geridos de forma democrática, com
participação da comunidade u n iversitária e garantindo-se sua
u t i l i z a ç ã o no interesse p ú blico.

Tendo em vista a existência de instituições particula-


res de porte e padrões de q u a l i d a d e reconhecidos, e que vêm sen-
do s u b s i d i a d a s pelo Estado de forma a l e a t o r i a , a Comissão faz as
seguintes recomendações específicas:

(i) Que seja criada, por lei, a p o s s i b i l i d a d e de que


instituições particulares de ensino superior reconhecidas pelo
seu padrão de q u a l i d a d e , sejam consideradas como en ti d ad es de
u t i l i d a d e p ú b l i c a educacional, para efeito de obtenção de recur-
sos públicos: A l e g i s l a ç ã o deverá estabelecer:
- os requisitos m í n i m o s exigidos para seu reconheci
mento como e n t i d a d e desta natureza;

- a forma p e l a q u al este reconhecimento será feito. Em


principio, esta função deverá estar sob a r e s p o n s a b i l i d a d e do
Conselho Federal de Educação, reformulado no sentido proposto
pela Comissão;

- os mecanismos de acompanhamento que assegurem a per_


manência dos requisitos de q u a l i d a d e s exigidos.

(ii) Que as instituições privadas que recebam apoio


p ú b l i c o na forma i n d i c a d a acima tenham suas a t i v i d a d e s sujeitas
a controle so ci a l efetivo;

( i i i ) Que o crédito educativo seja a m p l i a d o e o siste_


ma de bolsas de estudo expandido, segundo criterios a serem es-
tabelecidos pelos Conselhos Federal e Estaduais de Educação.

c) Instituições mantenedoras

0 papel desempenhado pelas i n s t i t u i ç õ e s mantenedoras de


estabelecimentos de ensino privado tem sido questionado, quanto
ã sua interferência acadêmica e administrativa nas instituições,
a s s i m como quanto a seu r e l a c i o n a m e n t o com as a u t o r i d a d e s e
setores do Mi ni s té ri o da Educação, Secretarias e agências fi-
nanciadoras. As críticas rnais i n c i s i v a s se d i r i g e m ao cercea-
mento que exercem sobre a autonomia acadêmica, a s s i m como aos
eventuais usos de artifícios l e g a i s na gestão de recursos, com
orçamentos que permanecem n o r m a l m e n t e desconhecidos pela comuni_
dade acadêmica interessada. No caso de i n s t i t u i ç õ e s confessi£
nais, coloca-se a questão de eventual limitação da liberdade a-
cadêmica, com o objetivo de preservar a orientação d o u t r i n a r i a
ou filosófica da mantenedora. Esta questão tem levado m u i t a s
destas mantenedoras a não aceitarem a criação de associações de
professores e funcionários, frustando desta forma o processo de
democratização interna de suas instituições. Sem prejuízo
da n e c e s s i d a d e de um exame rnais p r o f u n d o d e s t a q u e s t ã o , a C o m i s -
são a p r e s e n t a as s e g u i n t e s s u g e s t õ e s :

(i) as m a n t e n e d o r a s devem r e s p e i t a r a a u t o n o m i a uni-


v e r s i t á r i a e a c e i t a r e e s t i m u l a r a d e m o c r a t i z a ç ã o das IES sob sua
responsabilidade:

(ii) as m a n t e n e d o r a s em que p r e v a l e c e a d i r e ç ã o cen


t r a l i z a d a em p e s s o a s f í s i c a s devem rever s e u s e s t a t u t o s de for
ma a a s s e g u r a r a p a r t i c i p a ç ã o de r e p r e s e n t a n t e s dos v a r i o s seto
res da i n s t i t u i ç ã o m a n t i d a ;

( i i i ) o c u s t e i o do e n s i n o p r i v a d o deve ser a t e n d i d o
com c o n t r i b u i ç õ e s dos a l u n o s e das c o m u n i d a d e s e n v o l v i d a s , e
com recursos próprios das entidades mantenedoras.
5. REFORMULAÇÃO DO C.F.E.

0 Conselho Federal de Educação, tal como os c o l e g i a d o s


que o antecederam desde 1 9 1 1 , é um órgão de assessoramento do
governo, de caráter técnico, i n t e g r a d o na estrut ura do M i n i s t é -
rio da Educação. Sua a t u a l c o m p e t e n c i a é m ú l t i p l a . P a r t i c i p a do
controle da expansão do sistema federal de ensino superior,
m e d i a n t e pareceres sobre auto riz ação e reconhecimento de cursos
de i n s t i t u i ç õ e s p r i v a d a s , reconhecimento de cursos p ú b l i c o s e
de u n i v e r s i d a d e s , e credenciamento de cursos de mestrado e dou_
torado. Exerce, i g u a l m e n t e , o controle de l e g a l i d a d e no siste_ ma
federal, por i n t e r m é d i o de recursos de decisões f i n a i s das IES e
propostas de intervenção em casos de grave irregularidade, após
inquérito administrativo, cabendo ao Ministro da Educação designar
o interventor. Goza, ainda, de poder normativo em ma_ térias
e s p e c i f i c a s i n d i c a d a s em l e i .
0 p r o v i m e n t o dos cargos de c o n s e l h e i r o - que hoje é de
livre e s c o l h a do Presidente da R e p ú b l i c a — deve r e c a i r em pes-soas
de "notável saber e exper ien cia" em mat éri a de educação,
atend end o a c rit ério de d i s t r i b u i ç ã o representativa das diver-
sas regiões do País, os diversos graus de ensin o e o magistér io
oficial e particular.

No entanto, a e x p e r i ê n c i a a c u m u l a d a na prát ica da atu-


al c o m p e t ê n c i a e comp osi ção do CFE, no juízo de e x p r e s s i v a maio_
ria dos que p a r t i c i p a m da a t i v i d a d e educativa, tem revelado que
ele deixou de ser representativo dos movimentos e dos i d e a i s re
c l a m a d o s pela c o m u n i d a d e acadêmica.

A dis c r i c i o n a r i e d a d e na escolha de seus membros, apesar


do pressuposto de notável saber e experi ência em educação, e da
o b s e r v â n v i a de critér ios de d i s t r i b u i ç ã o regional ou por niveis
de ensino, retirou-lhe a plena l e g i t i m i d a d e como expressão dos
d i v e r s o s componentes do u n i v e r s o do e nsino superior. Além do
rnais, expos o CFE a nomeações decorrentes d a s rnais variadas pres-
sões p o l í t i c a s e de crité rios as vezes d u v i d o s o s .
Assim, o CFE vê hoje a b a l a d a sua c r e d i b i l i d a d e perante
a comunidade acadêmica, enquanto órgão responsável pelo desempe_ nho
q u a l i t a t i v o do sistema de ensin o em todos os graus. Embora
sua competencia legal tenha sido a m p l i a d a progressivamente nos
ú l t i m o s dezessete anos, disso não decorre que o CFE tenha con
tribuído decisivamente para a me lh or ia do sistema brasileiro de
educação. Tanto a l e g i s l a ç ã o o r d i n a r i a e c o n s t i t u c i o n a l , como
sua pratica, foram incapazes de torna-lo imune a interesses cor_
porativistas, l e v a n d o - o a configurar os saberes de forma a que
viessem a servir ã reg ul ame nta çã o das profissões e a c l i v a g e n s
do mercado de t r a b a l h o . Nisso, convém salientar, também as uni-
v e r s i d a d e s detêm p a r c e l a de r e s p o n s a b i l i d a d e .

São essas as razões pela s q u a i s se impõe criar mecanis-


mos novos e eficazes que possam acender um sopro autentico de
renovação. UM CFE ref o rm u la do e d i n â m i c o poderá converter-se em
viga mestra no processo de r e v i t a l i z a ç ã o , reorganização e res-gate
da l e g i t i m i d a d e do sistema nacional de educação, abrindo
c a m i n h o , por um lado, para uma efetiva autonomia do ensino supe_
rior e, por outro, z e l a n d o p e l a m e l h o r i a de seus padrões de qua_
li d a d e .

No entanto, uma reforma dessa amplitude somente será


p r o d u t i v a q ua nd o obtiver apoio e colaboração no cumprimento de
seus n o v o s objetivos. E estes, por sua vez, somente poderão ser
a l c a n ç a d o s de modo p l e n o se estiverem r e l a c i o n a d o s a d e m a n d a s
e anseios v i g e n t e s no Pais. T a i s anseios e demandas são basica_
mente i n s p i r a d o s por três fontes:

- os mo vi m ent os dos docentes, estudantes e funcionarios,


os q u a i s u l t r a p a s s a m seus interesses especificos para trazerem
i d é i a s ao d e b a t e sobre o ens ino superior;

- a rede u n i v e r s i t á r i a de ensino, conservando a tradi_


ção e p r o d u z i n d o novos conhecimentos;
- a administração governamental, procurando equacionar
os p r o b l e m a s da educação como um todo e como parte do processo de
desenvolvimento nacional; tal administração se r ela cio na com os
gru pos pensantes tanto para recrutar seus membros q u a n t o pa-ra
au ri r, neles, sua l e g i t i m i d a d e .

Face a essas considerações, a Comissão apresenta a se_


g u i n t e proposta de reestruturação do CFE:
(I) No tocante a competência, deve o CFE ser l i b e r a d o
de a t r i b u i ç õ e s rotineiras, c a b e n d o - l h e fixar diretrizes a serem
executadas, em casos concretos, por órgão a d e q u a d a m e n t e h a b i l i _
tado na a d m i n i s t r a ç ã o s u p e r i o r do MEC.
0 CFE devera exercer, b a si c amente, a t i v i d a d e s de asses-
soramento ao Governo Federal no p l a n e j a m e n t o n a c i o n a l e na polí_
tica de d e s e n v o l v i m e n t o da educação, i n c l u s i v e em materia orça_
m e n t i r i a e de f i n a n c i a m e n t o . Sua presença deve ser a de um fo_ rum
p r i v i l e g i a d o de estudo e d i a g n ó s t i c o da r e a l i d a d e educacio-nai e
de orientação dos p r o g r a m a s s e t o r i a i s de governo que de_ vem
atender, em sua plenitude, as demandas da sociedade.
Para que possa d e s e m p e n h a r esses p a p é i s , o CFE terá de
e s t a b e l e c e r m e c a n i s m o s de a v a l i a ç ã o permanente do sistema brasi_
leiro de educação, com a p o i o de comissões ad hoc de e s p e c i a l i s - tas
por ele d e s i g n a d o s — m e c a n i s m o s esses q u e somente terão le_
g i t i m i d a d e se forem inter-pares. A p e n a s a s s i m e que o CFE, isen-to
de i n f l u e n c i a s i n d é b i t a s , poderá s e r v i r de canal de comunica_ ção e
de i nf or ma çã o entre o g o v e r n o e a c o m u n i d a d e a c a d ê m i c a pa_ ra a
p r o p o s i ç ã o de p o l í t i c a s e d u c a c i o n a i s de m é d i o e longo pra_ zo.

(II) No t oc a n te ã c o m p o s i ç ã o , os i m p e r a t i v o s de repre_
sentati vi dade de todo o sistema de e n s i n o b r a s i l e i r o e x i g e m mai_
or p a r t i c i p a ç ã o da c o m u n i d a d e na e s c o l h a dos membros do CFE. Com
esse proposito, sugere-se que o c o l e g i a d o seja e l e v a d o a t r i n t a
membros, de n o to r io saber na área da educação, e s c o l h i _ dos de tal
forma que se e s t a b e l e ç a um e q u i l í b r i o de representan-tes das
d i v e r s a s regiões do País, por um lado, e dos e n s i n o s de 1º, 2º e 3º
graus, por outro.

A e sc o lh a desses membros, a serem n om e ad os pelo Presi_


dente da R e p u b l i c a , obedecerá aos s eg ui n te s critérios:

a) 10 professores, representantes das universidades,


escolhidos a partir de l ista tríplice elaborada por um colégio
e l e i t o r a l composto por elas;

b) 8 p e r s o n a l i d a d e s de r e c o n h e c i d o valor a c a d ê m i c o e científico, i n d i c
c) 4 representantes das escolas superiores isoladas,
escolhidos a partir de listas tríplices formuladas por um siste_
ma de consultas;

d) 4 representantes do 1º e 2º graus, indicados pelo


M i n i s t r o da Educação;

e) 4 representantes indicados, respectivamente, pelas


entidades n a c i o n a i s de docentes do ensino superior, de docentes
de 1º e 2º graus, dos estudantes u n i v e r s i t á r i o s e dos servid()
res t é c ni c o - a d mi n i s t r at i v o s .
0 mandato dos conselheiros será de quatro anos, permi_
tida uma recondução, salvo o dos representantes especificados na
alínea "e", que sera de dois anos.
(III) Respeitadas as diferenças regionais e as especi_
ficidades dos ensinos de 1º e 2º graus, os Conselhos Estaduais
de Educação terão de se adaptar aos principios que i n s p i r a m a
proposta de reforma do CFE.
6 - A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO NA EDUCAÇÃO S U P E R I O R

a) A necessidade da a v a l i a ç ã o : a a u s ê n c i a de padrões

Um dos problemas mais graves do ensino s u p e r i o r brasi-


leiro nos dias de hoje é que l h e f a lt a m parâmetros. 0 ensino é bom?
Tem m el h or ad o ou piorado? É m e l h o r nas i n s t i t u i ç õ e s púb l i c a s ou
nas p r i v a d a s ? Em São Paulo, Pernambuco, M i n a s Gerais ou Rio
Grande do Sul? Nas áreas técnicas, h u m a n a s ou b i o l ó g i cas? Mais
ainda, é m e l h o r ou p i o r de que ponto de v ista? Da preparação dos
a l u n o s para o mercado de t r a b a l h o ? Da formação de profissionais
p o l i v a l e n t e s ? Da formação h u ma n ís ti ca e críti_ ca? E qual as
relações que existem entre estas dimensões? Sera que um ensino
mais profissionalizante é necessariamente menos p o l i v a l e n t e ou
crítico do que o de t i p o ge ra l? E finalmen-te: de que d e p e n d e a
q u a l i d a d e , seja qual for a sua definição: da formação p e d a g ó g i c a
dos professores? Da pe s qu is a que a inst i t u i ç ã o realiza? Da
formação p r é v i a e o r i g e m s o c i a l dos alunos? Da e x i s t ê n c i a de
e q u i p a m e n t o s , s a l a de aulas, b i b l i o t e cas, computadores? Dos
currículos mínimos? Da b i b l i o g r a f i a u-t i l i z a d a ?

Quase todos os que se interessam p e l o e n s i n o superior


têm op in iõ es sobre estes assuntos: estas o pi ni õ es , no entanto,
variam, e não há como d i s t i n g u i r o que é v e r d a d e i r o do que é
s i m p l e s resultado de preconceitos ou generalizações apressadas.

A a u s ê n c i a de parâmetros afeta o e n s i n o s u p e r i o r sob


m u i t o s pontos de vista. Para o governo, e l a não permite que se
tenha uma p o l í t i c a r ac i on a l de alocação de recursos p ú b l i c o s ,
que fortaleça as melhores instituições e induza as demais ao a-
perfeiçoamento. Para professores e a d m i n i s t r a d o r e s educacionais,
ela i m p e d e que s a i b a m exatamente como melhorar suas insti_ tuições,
quais os falsos caminhos, quais as soluções mais promissoras. Para
o c an di d at o ã u n i v e r s i d a d e e sua família, a escolha de uma e s c o l a
s u p e r i o r e de uma profissão é como uma lote ria: os a l u n o s d e c i d e m
suas carreiras baseados em fragmentos de informação, o que
e x p l i c a , em parte, a grande frustação e um
certo ceticismo que acabam permeando o sistema u n i v e r s i t á r i o do
País.

Existe hoje, no B r a s i l , uma crescente c o n s c i ê n c i a so


bre a necessidade de desenvolver sistemas de a v a l i a ç ã o do ensino
superior. Esta necessidade é sentida pela administração federal,
para a d i s t r i b u i ç ã o racional de seus recursos; pelas uni_ versidades
públicas, que necessitam conhecer a si próprias, e confrontar com
dados objetivos as críticas que freqüentemente recebem; pelas IES
privadas, que necessitam evidenciar a qualidade de seu desempenho e
a sua e f i c i ê n c i a no uso de recursos; pelos estudantes e suas
famílias, que não podem mais contar com resultados p o s i t i v o s de
seus i nv es ti me nt os em educação superior, se mal direcionados.

b ) Avaliar o que?

Não é por acaso que os parâmetros de a v a l i a ç ã o sejam tão


problemáticos. As instituições de ensino superior são plu-
rifuncionais , ou seja, buscam objetivos freqüentemente confliti_
vos ou pelo menos não totalmente coincidentes, e convivem nor-
m a l m e n t e com a a m b i g ü i d a d e . E n s i n o geral, ensino especializa-
do, formação de elites, m o b i l i d a d e social, pesquisa cientifica,
transmissão de valores culturais, ambiente de convivência entre
gerações, trabalhos de extensão comunitária, compensação das
d e f i c i ê n c i a s do e n s i n o s e cundário — esta é somente uma lista
p a r c i a l das funções que as IES, em seu conjunto, tratam de de-
s e m p e n h a r ao mesmo tempo. Isto s i g n i f i c a que elas não podem ser
s u b m e t i d a s aos mesmos padrões de a v a l i a ç ã o típicos de insti_
tuições unid i m e n s i onais — como as empresas, v o l t a d a s para o lucro,
ou projetos de engenharia, voltados para a realização de uma obra
específica com o máximo de q u a l i d a d e e o mínimo de tem_ po e
custos.

No entanto, a experiência internacional mostra que, a-


inda que a a v a l i a ç ã o não seja si mp le s, os diversos países têm
noções bastante claras sobre o desempenho de suas i n s t i t u i ç õ e s de
ensino sob diversos aspectos, e não funcionam tão is cegas q u a n t o
o Brasil. Uma l i s t a parcial de formas de a v a l i a ç ã o inclui as
seguintes m o d a l i d a d e s :

b.l) A v a l i a ç ã o dos cursos

(i) Avaliação por especialistas segundo áreas de


conhecimento. Por este mecanismo, os diversos cursos em deter-
m i n a d a s áreas são a v a l i a d o s por uma comissão de es pe ci a li st as ,
que se u t i l i z a m de informações de vários tipos para chegar a lima
o p i n i ã o . Na m a i o r i a dos casos, esta a v a l i a ç ã o é feita de forma
reputacional, ou seja, os especialistas e x p l i c i t a m a repu-tação
que os diferentes cursos gozam em seu meio. 0 B ra si l tem tido
algumas experiências interessantes de a v a l i a ç ã o desse tipo, por
exemplo, na area de engenharia, e a Secretaria de Educa-ção
S u p e r i o r i n i c i o u , recentemente, uma e x p e r i ê n c i a em escala
nacional.

(ii) A v a l i a ç ã o dos recursos físicos, financeiros e pe-


dagõgicos das IES. Esta ab or da ge m permite aferições q ua n tita-
tivas bastante complexas, cujo impacto sobre a q u a l i d a d e do en-
sino, no entanto, nem sempre é muito claro, i n c l u s i v e porque os
dados normalmente se referem às i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o como um
todo, que podem conter em seu i n t e r i o r cursos de q u a l i d a d e m u i t o
distinta.

(iii) Indicadores de e f i c i ê n c i a de diversos tipos: alu_


nos por professor, taxas de desistência e repetência, custos fi
na nc ei ro s por aluno e professor, etc. Os p r o b l e m a s com estes dados
são semelhantes aos do i t e m anterior.

b.2) A v a l i a ç ã o dos a l u n o s

(i) A v a l i a ç ã o da demanda. Consiste, basicamente, em


a v a l i a r os cursos pela demanda de alunos, assim como pela quali_
dade ou formação anterior que estes a lu n os possuem. A suposição e
que os cursos com mais candidatos, e c an d id at o s mais qua-
l i f i c a d o s , são superiores aos menos d e m a n d a d o s , ou demandados
por pessoal menos q u a l i f i c a d o . Esta suposição so è realmente
váli da se o "mercado" dispuser de melhores informações sobre o
"produto" que as IES oferecem, e se h o u v e r m o b i l i d a d e para que
os estudantes possam buscar, nas várias regiões do País, as ins
tituições que preferem. Este tipo de ind icad or é bastante uti-
lizado nos Estados Unidos, onde a q u a l i f i c a ç ã o dos cand i dato s
é m e d i d a por testes padronizados nacionalmente (o S c h o l a s t i c
Aptitude Test). Ele permite, i n c l u s i v e , verificar as tendências
da demanda no tempo, e a própria variação da q u a l i f i c a ç ã o global
dos candidatos. No B r a s i l , o que existe de semelhante são os
estudos feitos esporadicamente com dados dos concursos
v e s t i b u l a r e s integrados das grandes c a p i t a i s .

(ii) Av alia ção comparativa dos formados. Por este


procedimento, todos os alunos formados em determinada área de
conhecimento (ou uma amostra deles) são submetidos a testes pa-
dronizados, que permitem aferir o quanto sabem. Este e, possi-
velmente, o melhor indicador de desempenho dos cursos. Sua
dificuldade principal consiste em institucionalizar a aplicação
dos testes, que em a l g u n s países assume a forma de "exames de
Estado" ou de exames realizados por conselhos e outros tipos de
associação p r o f i s s i o n a l .

(iii) Avaliação das oportunidades de trabalho. Nesta


a n á l i s e , amostras de formados são p e s q u i s a d a s em um esforço para
determinar em que m e d i d a sua formação superior influencia ou não
suas oportunidades de carreira. Quando combinados com dados
curriculares e de origem sócio-econômica, este tipo de pesq u i s a
permite avaliações bastante finas sobre o peso relativo do
desempenho educacional na determinação das carreiras. 0 INEP tem
apoiado, já há alguns anos, a realização de estudos deste ti po.

b.3) A v a l i a ç ã o dos professores

(i) A v a l i a ç ã o da p e s q u i s a e da pos-graduação. Este


ê, sem dú vida , o tipo de a v a l i a ç ã o mais d e s e n v o l v i d o em todo o
mundo, e onde o B rasi l já possui exce len te experiência, l e v a d a
a cabo pela CAPES. 0 pro blem a, no entanto, é que a q u a l i d a d e
dos professores dos programas de pos-graduação não é necessari-
amente um bom preditor da q u a l i d a d e do ensino de graduação, dada
a separação que freqüentemente e x i s t e no B r a s i l entre estes dois
níveis.

(ii) A v a l i a ç ã o reputacional dos professores. Consiste


em v e r i f i c a r a reputação dos professores entre seus colegas,por
uma parte, e entre os a l u n o s por outra. A v a l i a ç õ e s de professo-
res por alunos são m u i t o comuns, mas seu s e n t i d o real é bastante
problemático, já que estão sujeitas a fatores que não expre-sam,
necessariamente, resultados pedagógicos a longo prazo. A-lém
disto, estas avaliações dificilmente permitem comparações
interinstitucionais, a não ser como indicadores bastante impre-
cisos de s i m p a t i a e satisfação.

b.4) Av al iaçã o didático-pedagógica do ensino

Esse tipo de avaliação en volv e a difícil correlação en_


tre o domínio do conteúdo das matérias ministradas e as h a b i l i -
dades didático-pedagógicas do professor. Compreende vários as-
pectos, como a relação do professor com o a l u n o em sala de aula,
a preparação de aulas e provas, etc. A avaliação didático-
pedagógica é essencialmente qualitativa, dando pouca margem a
comparações e generalizações.

b.5) A v a l i a ç ã o de servidores técnicos e administrativos

Consiste em verificar o desempenho funcional, tendo em


vista a subordinação das atividades administrativas às ativida-
des acadêmicas. E necessário distinguir, aqui, entre os servi-
dores técnicos especializados, que trabalham no apoio as a t i v i -
dades de pesquisa, laboratórios, bibliotecas, etc., e o pessoal
administrativo propriamente dito. A a va liaç ão dos técnicos es-
pecializados tem implicações diretas para a q u a l i d a d e da pesqui_
sa e da capacidade das instituições proporcionarem ensino expe-
rimental e laboratorial; a avaliação dos técnicos
administrati-vos tem implicações para o funcionamento
organizacional das ins-tituições.

b.6) A v a l i a ç ã o das carreiras

0 enfoque, aqui, passa da comparação entre cursos na


mesma área de c o n h e c i m e n t o para a comparação entre carreiras —
sua reputação, demanda, custos e, sobretudo, os resultados que
proporciona a seus formados. Os dados, em p r i n c í p i o , não são
d i s t i n t o s dos anter ior ment e referidos.

c) A política da avaliação: quem aval ia ?

Pelas suas implicações, pelo púb lico e interesses que


envolve, o processo de a valiação tem um importante componente
político. Para que tal processo tenha efeito, é necessário não
so que o trabalho seja tecnicamente bem feito, mas que seja con-
siderado legítimo por parte significativa do sistema de ensino
superior e da opinião pública relevante. Algumas respostas al-
ternativas ã questão de "quem a v a l i a ? " são as seguintes:

el) Auto-avaliação. Por este processo, são as p r ó p r i a s ins_


tituições de ensino superior que se a val iam. As vantagens deste
procedimento são os níveis de participação e aprendizagem ge-rados
no processo, e a grande l e g i t i m i d a d e dos resultados entre os
participantes. Por outro lado, esta abordage m tende a perder de
vista um aspecto central de q u a l q u e r avaliação, ou seja, o
estabelecimento de padrões externos de comparação.

C.2) A avaliação governamental. As vantagens são a disponi-


b i l i d a d e de recursos e a autoridade de que os resultados são re
vestidos, que ê função da própria autoridade, formal e infor-
mal, de que goza a administração. A experiência demonstra, no
entanto, que as informações de que disp õem as administrações di
ficilmente permitem conclusões satisfatórias sobre a q u a l i d a d e
dos c u r s o s . Isto se d e v e , em p a r t e , ã q u a l i d a d e nem sempre ade q u a d a
dos d a d o s ; mais f u n d a m e n t a l m e n t e , no e n t a n t o , i n f o r m a ç õ e s de tipo
"objetivo" n o r m a l m e n t e o b t i d a s p o r r e p a r t i ç õ e s g o v e r n a m e n t a i s são
i n a d e q u a d a s p a r a o t i p o de r e s u l t a d o s que se deseja. Por isto, os
m e l h o r e s s i s t e m a s g o v e r n a m e n t a i s de a v a l i a ção são os que c o m b i n a m
e s t e s d a d o s c o m a q u e l e s p r o p o r c i o n a d o s pela p r o p r i a c o m u n i d a d e .

C.3) A v a l i a ç ã o p e l a c o m u n i d a d e . A q u i , a a v a l i a ç ã o e f e i t a
por p e s s o a s ligadas a profissão ou d i s c i p l i n a acadêmica dos
cursos. Em muitos países, este t i p o de a v a l i a ç ã o é f e i t o regul a r m e n t e
pelas associações profissionais e científicas, ou por órgãos
governamentais e instituições de pesquisa que se valem de
c o m i s s õ e s e s p e c i a l i z a d a s . É um d o s t i p o s mais s a t i s f a t ó r i o s de
avaliação, ainda que sujeito a conhecidos "efeitos de halo"
( q u a n d o a q u a l i d a d e de a l g u n s c u r s o s , ou da U n i v e r s i d a d e como um
todo, é generalizada para os demais cursos) e de prestígio
(quando reputações, boas ou m a s , p e r m a n e c e m no tempo a p e s a r das
t r a n s f o r m a ç õ e s da r e a l i d a d e ) .

c.4) Avaliações independentes. São avaliações feitas por


instituições que não d e p e n d e m nem do g o v e r n o , nem da c o m u n i d a d e
profissional, nem das u n i v e r s i d a d e s . A vantagem potencial e a
i s e n ç ã o , d e c o r r e n t e do p r e s t í g i o c i e n t í f i c o e t é c n i c o da i n s t i -
tuição que r e a l i z a o trabalho. A desvantagem é a dificuldade
e v e n t u a l de s s a s i n s t i t u i ç õ e s o b t e r e m as i n f o r m a ç õ e s e o e n v o l v i - _
mento da c o m u n i d a d e p r o f i s s i o n a l e c i e n t í f i c a no p r o c e s s o avali_
ativo.

d) C o n c l u s ã o : o i n í c i o de um p r o c e s s o

Esta a n á l i s e b u s c o u m o s t r a r a n e c e s s i d a d e e a c o m p l e x i -
dade t é c n i c a e p o l í t i c a dos processos a v a l i a t i v o s do e n s i n o su-
p e r i o r . N e n h u m a das m e t o d o l o g i a s a c i m a i n d i c a d a é a u t o - s u f i cien-
te, e n e n h u m dos agentes mencionados pode, sozinho, se encarre-
gar de todo o processo. É necessário, para que o e n s i n o superior
b r a s i l e i r o se de se nv ol va e melhore seu desempenho, que a i d é i a
de a v a l i a ç ã o ganhe corpo entre todas as partes e n v o l v i das e que
comece a ser posta em p r át ic a sob as mais v a r i a d a s formas. Será
normal, neste processo, que surjam r es ul ta do s dis tintos, que em
muitos casos refletirão, simplesmente, a p l u r a l i dade de valores
e p e r s p e c t i v a s que coexistem na educação supe-rior do País.

Por isto, a Comissão entende que deve caber ao Conse-lho


Federal de Educação, uma vez renovado nos termos por ela propostos, a
missão de tomar a iniciativa e dar legitimidade e
respeitabilidade aos processos de avaliação que venham a ser
d e s e n v o l v i d o s . Isto não s i g n i f i c a que o C o n s e l h o deva fazer, ele
mesmo, as a v a l i a ç õ e s , nem q ue d ev a desencadear ao mesmo tem po
todas as alternativas aqui i n d i c a d a s . Experiências ora em
andamento no M i n i s t é r i o da Educação devem ser e s t i m u l a d a s e ava-
liadas; programas de estímulo a auto-avaliação pelas universida_ des
d e v e m ser e s timulados; e outras i n i c i a t i v a s p o d e m surgir. 0
essencial é fazer com que estes trabalhos sejam desenvolvidos de
diversas formas — pelo proprio Conselho, pelo M i n i s t é r i o da
Educação, pelas universidades, por instituições e equipes inde-
pendentes —, e que os resultados obtidos sejam u t i l i z a d o s em
benefício da educação s u p e r i o r b r a s i l e i r a .
7. F I N A N C I A M E N T O DO E N S I N O S U P E R I O R

O e n s i n o superior b r a s i l e i r o , p u b l i c o e privado, carac-


teriza-se por uma g r a n d e h e t e r o g e n e i d a d e , q u e a c r i s e e c o n ô m i c a
só fez a c e n t u a r . São m ú l t i p l o s os p a p é i s e f e t i v a m e n t e d e s e m p e -
n h a d o s pelas i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o s u p e r i o r f e d e r a i s , e s t a d u ais,
m u n i c i p a i s e p a r t i c u l a r e s . p r e c i s o a p r e n d e r a c o n v i v e r com esta
d i v e r s i d a d e de formas e f u n ç õ e s , e x t r a i n d o - s e dela o m e l h o r
p r o v e i t o , sem q u e r e r f or ç a r u n i f o r m i d a d e s institucionais.

Embora a a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a seja i m p r e s c i n d í v e l ,e_


la não deve s e r v i r de m o t i v o p a r a a o m i s s ã o do g o v e r n o f e d e r a l na
a n a l i s e da e f i c i ê n c i a dos recursos a p l i c a d o s , nem para a a d o ç ã o de
uma p o l i t i c a p a s s i v a de p r o v i m e n t o dos recursos neces-sários à
manutenção das IES em seus b a i x o s n i v e i s a t u a i s de pro_ dutiv i d a d e .

Na e x p e c t a t i v a da p l e n a a p l i c a ç ã o da Emenda C a l m o n , a
C o m i s s ã o p r o c u r o u d e f i n i r os p r o b l e m a s de f i n a n c i a m e n t o do ensi-
no que merecem atenção p r i o r i t á r i a , d i s c u t i u as a l t e r n a t i v a s a-
p r e s e n t a d a s e f o r m u l o u recomendações, sem p e r d e r de v i s t a os ob-
jetivos maiores de d e m o c r a t i z a ç ã o do acesso às i n s t i t u i ç õ e s que
p r e p a r a m as e l i t e s d i r i g e n t e s do País.

a) Falta de a u t o n o m i a e f l e x i b i l i d a d e a d m i n i s t r a t i v a do e n s i n o
superior público

Nossas i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s de e n s i n o superior, inclu-sive


os h o s p i t a i s de e n s i n o , têm p a d e c i d o do mesmo mal s o f r i d o pelas
d e m a i s organizações de serviço público: seu corpo adminis_ t r a t i v o
tem sido e s t i m u l a d o a p a u t a r s u a c o n d u t a por normas e r o t i n a s
i m p o s t a s de fora p a r a dentro. T u d o o que lhes tem sido c o b r a d o diz
r e s p e i t o ao c u m p r i m e n t o de f o r m a l i d a d e s , e nada ou q u a s e nada ê
cobrado q u a n t o ã o b t e n ç ã o de r e s u l t a d o s , dentro de p o l í t i c a s ou
o b j e t i v o s mais a m p l o s . Como c o n s e q ü ê n c i a , não há i n c e n t i v o nem ã
c r i a t i v i d a d e e à ação i n o v a d o r a , nem ao bom des e m p e n h o o p e r a c i o n a l .
Se, p o r e x e m p l o , uma u n i v e r s i d a d e a u m e n -
ta sua captação de recursos próprios, parcela correspondente de
recursos do Tesouro l h e é subtraída a t i t u l o de economia, inuti-
l i z a n d o seus esforços por recursos a d i c i o n a i s .

As instituições particulares e municipa is dedicadas ã


educação superior exibem niveis de custos por aluno e relações
professor em exercício/alunos matricula dos bem inferiores aos
das instituições públic as federais e estaduais. Decerto não é
possível a v a l i a r a qualidade do ensino por tais parâmetros. Vá-
rios outros fatores devem ser considerados. Entre eles, a infra-
estrutura de serviços para professores, alunos e funcionarios, que
existe nas i ns ti t u iç õ e s p ú b l i c a s federais e estaduais, mas
freqüentemente inexiste nas escolas particulares isola-das.

A Comissão observou, ainda, uma grande d i s p a r i d a d e de


custo por aluno entre as instituições federais de ensino superior,
bem como a necessidade da adoção de critérios mais objetj_ vos para
as dotações orçamentárias. As atuais formas de alocação de
recursos, por meio de criterios incrementalistas e de u-ma p o l ì t i c a
de fato consumado, fomentam as distorções a c u m u l a das ao longo dos
anos, premiando as administrações menos efici_ entes.
Por causa da visão l i m i t a d a das antigas Inspetorias Ge_
rais de Finanças e das atuais CISETS, os orçamentos das insti_
tuições de ensino federais deixaram de ser um instrumento útil
para o planejamento e a a n á l i s e de custos-benefícios, tornando-se
meros m e c a n i s m o s de controle c o n t á b i l .
Por tudo isso, a C omissão apresenta as s e g u i n t e s pro-
postas :

(i) A t i v a ç ã o de uma sistemática de orçamento por cen-


tros de custos, com identificação de funções e programas, para
permitir, em nível decisório central, a visualização das ações
desenvolvidas nas unidades e escolas superiores, e para possibi_
litar as próprias administrações das instituições uma percepção
adequada das a t i v i d a d e s que desen volvem.

(ii) Concessão de autonomia financeira, condicionada


a um m a i o r comprometimento com padrões de q u a l i d a d e e produtivi_
dade. Um dos caminhos para o redimensionamento das verbas do
governo para o e n si n o seria o e stabelecimento de m ó d u l o s padrões
de custo. A p a r t ir das praticas de i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s ou
privadas de excelência, seriam estabelecidos custos máximos
admissíveis nas diversas funções e programas. Unidades e insti_
tuições que superassem esses custos d e v e r i a m adequar-se aos mes_
mos num prazo não inferior a dois exercícios financeiros, a fim
de poderem c o n t i n ua r a u t i l i z a r o d i n h e i r o do contribuinte em
suas atividades. A t i n g i d o s os padrões de custo, as un i d a d es e
instituições teriam toda a l i b e r da d e de utilizar como bem enten
dessem o d i n h e i r o economizado. A excelência, portanto, deve ser
um p r e - r e q u i s i t o para a autonomia.

(iii) Grande parte das instituições federais de ensino


superior dispõe de uma infra-estrutura docente e administ rativa
capaz de absorver e sustentar uma m a i o r oferta de vagas, com re_
dução das exageradas relações professor/aluno hoje existentes.
A partir de uma decisão política, uma razoável expansão poderia
ser i m p l a n t a d a em certas áreas, desde que ocorra um aporte mai_
or de recursos para outros Custeios e itens específicos de capi_
tal, com m e l h o r aproveitamento do pessoal docente existente.

(iv) Expansão do c r e d i t o ed u c a t i v o, de forma a demo-


cratizar o acesso as i n s t i t u i ç õ e s r e s p o n sá v e is pela formação das
e l i t e s d i r i g e n t e s do País.

(v) Transferência de ações das empresas estatais ren-


táveis para universidades públicas selecionadas, a fim de dar
m a i o r l i b e r d a d e orçamen tária aos centros de excelência. Devem-
se criar regras l i m i t a n d o severamente a venda dessas, ações pelas
Universidades, permitindo-se, entretanto, a livre utilização dos
d i v i d e n d o s recebidos.

(vi) Re v is ã o da l e g i s l a ç ã o que permite as empresas


privadas deduzir, do lucro t r i b u tá v e l, o dobro dos seus gastos
com programas de treinamento de seus empregados. Este benefício
fiscal, condicio nado à participação de u n i v e rs i d ad e creden-
ciada como executora e fiscalizadora de veria ser estendido a
convênios universidade/empresa para a realização de pesquisas.
Dever-se-ia, também,permitir às empresas doar um percentual do
imposto a pagar a instituições de ensino superior selecionadas.

b) In exi stên cia de in cen tivo s a pesquisa e a prestação de ser


viço s

Durante a década de 70, houve um vigoroso aumento na


proporção de professores em tempo integral nas universidades fe-
derais, com o objetivo de concretizar o modelo da universidade de
pesquisa, inviável com professores de tempo parci a l. No
entanto, devido a um desvirtuamento da proposta, passou-se a re
munerar um tempo que o professor passaria na universidade, além
do necessário para preparar e mi nist rar aulas, sem que assumis-
se a t i v i d a d e s de p e s q u i s a .

Estima-se que somente um quarto da carga horária con-


tratada dos professores de tempo integral e dedicação exclusiva e destinado
às ativ i dade s de ensine. O restante do tempo seria para pre
paração de aulas, orientação dos alunos, a t i v i d a d e s de pesqui_
sa, extensão e prestação de serviço.

Muitas vezes, porem, dada a quase inexistência de ati-


vidades docentes em extensão e em face da escassa produção de
p e s q u i s a , constata-se um excesso de horas docentes contratadas
mas não utilizadas na prestação de serviços na instituição (com
exceção de al gum a s áreas, como as de saúde, t e c n o l o g i a e agrono-
mia, nas quais é freqüente a prestação de serviços sem qualquer
remuneração a d i c i o n a l ) .

Esta situação parece resultar da projeção errônea para o


universo do ensino pub lico brasileiro da associação ensino-
pesquisa necessariamente existente em universidades de excelên-
cia. Mais de 60% dos professores das u n i v e r s i d a d e s federais não
têm mestrado, enquanto metade dos mestres e doutores jamais
p u b l i c a a l g u m a coisa. Pesquisadores não se i m p r o v i s a m nem se
criam por decreto. Portanto, não faz sentido remunerar como
p e s q u i s a d o r e s p r o f e s s o r e s q u e s e q u e r receberam formação tal para
.
Por isso, a C o m i s s ã o a p r e s e n t a as s e g u i n t e s p r o p o s t a s :

(i) As i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o s u p e r i o r devem remune_ rar


adequadamente como p r o f e s s o r e s - p e s q u i s a d o r e s e professores-
p r e s t a d o r e s - d e - s e r v i ços os d o c e n t e s q u e comprovadamente exer-çam
essas a t i v i d a d e s . Esta r e m u n e r a ç ã o c o n s i s t i r a num salario-base,
a d i c i o n a d o de complemen tações correspondentes às ativ i d a d e s de
p e s q u i s a e de p r e s t a ç ã o de s e r v i ç o s . Aos professores que não
e x e r ç a m a t i v i d a d e s de p e s q u i s a e de p r e s t a ç ã o de s erv iços, será
atribuído exclusivamente o salario-base.

(ii) G a r a n t i a da e x i s t ê n c i a de v e r b a para a m a n u t e n ção


das c o m p l e m e n t a ç õ e s s a l a r i a i s dos p e s q u i s a d o r e s de fato,dos
professores-prestadores-de-serviço e do pessoal técnico-adminis-
t r a t i v o de a p o i o a l t a m e n t e q u a l i f i c a d o . A d e m a i s , os r ecurso s
que p o s s i b i l i t e m a p e s q u i s a e a p r e s t a ç ã o de s e r v i ç o s devem ser
também g a r a n t i d o s .

( i i i ) C r i a ç ã o , p o r emenda c o n s t i t u c i o n a l , de um i m p o s -
to s o b r e a r e m e s s a de royalties e a s s i s t ê n c i a t é c n i c a , com uma
a l í q u o t a de 5% com a r r e c a d a ç ã o v i n c u l a d a ao f i n a n c i a m e n t o de
p e s q u i s a c i e n t i f i c a e t e c n o l ó g i c a em i n s t i t u i ç õ e s de e x c e l ê n -
cia.

c) I n a d e q u a ç ã o das s u p l e m e n t a ç õ e s aos o r ç a m e n t o s

As s u p l e m e n t a ç õ e s a n u a i s aos o r ç amentos das u n i v e r s i d a _


des v i s a n d o a c o m p e n s a r os ef eit o s da i n f l a ç ã o c o s t u m a m ser ale_
a t ó r i a s e, m u i t a s vezes, a t é mesmo m a i o r e s do que o o r ç a m e n t o
inicial.

Ja o f i n a n c i a m e n t o dos h o s p i t a i s p ú b l i c o s de e n s i n o
provém, e s s e n c i a l m e n t e , de d u a s o r i g e n s : os M i n i s t é r i o s da Educação
e da P r e v i d e n c i a e A s s i s t ê n c i a S o c i a l . O f i n a n c i a m e n t o
do MPAS para os h o s p i t a i s de e n s i n o é f e i t o m e d i a n t e c o n v ê n i o para
a prestação de s e r v i ç o s a p r e v i d e n c i á r i o s . A c o m p o s i ç ã o do
o r ç a m e n t o do INAMPS, contudo, t e m r e v e l a d o a p r i o r i d a d e conc e d i d a
ã a s s i s t ê n c i a m é d i c a p r i v a d a . Como os r e c u r s o s do MEC e MPAS são
i n s u f i c i e n t e s , os h o s p i t a i s de e n s i n o , na sua totali_ dade, têm
v i v i d o em c r i s e c r ô n i c a , com surt os a g u d o s . As v e r b a s não c r e s c e m
nem mesmo em p r o p o r ç ã o as t a x a s de i n f l a ç ã o , inferi_ ores à e l e v a ç ã o
dos c u s t o s h o s p i t a l a r e s . Essa s i t u a ç ã o tem levado a q u e d a dos
padrões de q u a l i d a d e , com serios reflexos nas a t i v i d a d e s
a s s i s t e n c i a i s e e d u c a c i o n a i s e, ate mesmo, ã d e s a t i v a ç ã o total ou
p a r c i a l de m u i t o s h o s p i t a i s por p r o l o n g a d o s períodos .
D i a n t e d i s s o , a C o m i s s ã o sugere:

(i) Manutenção de orçamentos a t u a l i z a d o s , sem depen d ê n c i a de


suplem entações. Os d u o d é c i m o s para c u s t e i o e c a p i t a l d e v e r i a m ser
corrigidos periodicamente, levando em conta a inf l a ç ã o
c o r r e s p o n d e n t e e os e v e n t u a i s e x c e s s o s de a r r e c a d a ç ã o .

(ii) P r i o r i d a d e p a r a os h o s p i t a i s de e n s i n o pertencen-tes
ã rede p ú b l i c a na c o m p o s i ç ã o do orçamemto do I N A M P S . 0
r e a j u s t a m e n t o das t a r i f a s de r e t r i b u i ç ã o de s e r v i ç o s dos h o s p i tais
de e n s i n o , a r b i t r a d o p e l o MPAS, já está sendo, em 1985, e-q u i p a r a d o
ao da rede h o s p i t a l a r p r i v a d a (ao c o n t r a r i o do que v i n h a
s u c e d e n d o nos ú l t i m o s anos). Mas é p r e c i s o ir além e,mes_ mo que
p a r c i a l m e n t e , r e p o r as p e r d a s dos h o s p i t a i s da rede pública.

d) R e c o m e n d a ç õ e s p a r a o a p o i o ao e n s i n o p r i v a d o de q u a l i d a d e

A u t i l i z a ç ã o dos recursos p ú b l i c o s em escolas p artic u lares,


a título de a u x í l i o s e s u b s í d i o s , d e v e r a p r i v i l e g i a r ape_ nas as
i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o de r e c o n h e c i d a q u a l i d a d e e que se submetem
a um c o n t r o l e s o c i a l e f e t i v o de suas a t i v i d a d e s .
No atual momento n a c i o n a l , de c o n t r o l e g e n e r a l i z a d o de
preços, a d e t e r m i n a ç ã o das a n u i d a d e s c o b r a d a s pelas institui-
ções de e n s i n o s u p e r i o r p r i v a d a s d e v e r á ser de c o m p e t ê n c i a do
CFE com o a p o i o t é c n i c o do CIP, a p a r t i r de um c a l c u l o r e a l i s t a
dos custos do en s in o. 0 d e p a r t a m e n t o do C I P e n c a r r e g a d o d e st e s
c á l c u l o s terá de c o n s t i t u i r conselho c o n s u l t i v o composto de re-
p r e s e n t a n t e s das d i v e r s a s partes i n t e r e s s a d a s .

R e c o m e n d a - s e a e x p a n s ã o do s i s t e m a de b o l s a s d e s t i n a -
das a estudantes de e s co la s p a r t i c u l a r e s de reconhecida q u a l i d a - de,
segundo critérios estabelecidos pelos Conselhos Federal e
E s t a d u a i s de E d u c a ç ã o .
8. ARTICULAÇÃO DO E N S I N O S U P E R I O R COM OS GRAUS A N T E R I O R E S

A reforma do e ns in o superior não pode ser tratada iso-


ladamente, pois depende da a m p l i a ç ã o das o p o r t u n i d a d e s de aces-so
e da m e l h o r i a de q u a l i d a d e dos graus que o antecedem. Manter a
fragmentação entre os três graus é reforçar e repetir equívo_ cos do
passado.

A democratização das IES requer, entre outras condi-çoes,


que a base do sistema educacional — sobretudo no que diz respeito a
escolaridade obrigatória — seja efetivamente acessí_ vel a
todos.

Apesar do crescimento q u a n t i t a t i v o do ensino fundamen


tal nos anos recentes, são c o n h ec i d os os d a d o s implacáveis do nú-
mero de analfabetos e semi-analfabetos a i n d a existentes no Pais.
Além disso, os fenômenos da repetência e da evasão no 1º grau
c o n t i n u a m desalentadores.

A propria m e l h o r i a q u a l i t a t i v a do 3º grau, embora de_


penda de medidas restritas ao seu âmbito, so poderá ser plena-mente
a t i n g i d a quando os egressos do 1º e 2º graus tiverem garan-tida a
aquisição dos conhecimentos e h a b il i d ad e s que são pré-re_ q u i s i t o s
para o bom desempenho acadêmico no ensino superior. To-d a v i a , a
escola básica b r a s i l e i r a , a lé m de s e l et i v a e excluden-te, não
está co n se g u in d o as s e gu ra r ainda, nem mesmo aos que ne_ la
permanecem, o minimo i n d i s p e n s á v e l ao exercício da cidadania.
0 ensino fundamental, crescendo quantitativamente, per_
deu m u i t o da sua especificidade, ja que a incorporação de amplas
camadas até então excluídas, concomitante à d i s t r i b u i ç ã o desi-
gual de renda, forçou a escola a a s s u m i r funções de a l i m e n t a ç ã o
e assistência social, em detrimento de seu papel de instituição
transmissora de conhecimentos.
A perda de q u a l i d a d e da formação dos professores, a
fragmentação do currículo, o aumento de v a g a s ã custa dos desdo_
bramentos de períodos, a deterioração da rede fìsica e o a v i l t a _
mento tanto do salário quanto das condições de trabalho do ma_
gistério estão entre os v á r i o s fatores a destacar como responsa_
veis pela desastrosa situação do e n s i n o de 19 e 29 graus no País.

Mesmo a m i n o r i a capaz de u l t r a p a s s a r a barreira do en_


sino fundamental não se assegura o prosseguimento de estudos no
29 grau. Este cresceu em proporções a i n d a menores do que o núme_ ro
de egressos da escola basica, a l e m de haver perdido sua ca_
racterística de formação geral e propedêutica, sem que se tenha
conseguido implementar com sucesso a proposta profissionalizan-
te.

Torna-se urgente, portanto, a d e f i n i ç ã o de uma polítí_


ca e d u c a c i o n a l em condições de considerar o conjunto dos proble_
mas do ensino no País e de a p l i c a r medidas efetivas para univer-
salizar o ensino obrigatório, seja s u p e r án do o s deficits quanti_
tativos ainda existentes, seja promovendo uma melhoria da quali_
dade, que assegure a permanência por 8 anos na escola. Ao mesmo
tempo, é preciso a m p l i a r o acesso ao 29 grau e rever seu papel na
estrutura do sistema de en si no do País.
Sobretudo no que d i z respeito à e s c o l a r i d a d e obrigato
ria, são necessárias dire trizes n a c i o n a i s d e s t i n a d a s a preser-
var as p e c u l i a r i d a d e s c u l t u r a i s regionais e, ao mesmo tempo, ga_
rantir a todos um mínimo comum de conhecimentos e h a b i l i d a d e s
necessários a formação da c i d a d a n i a brasileira.
A a m p l i a ç ã o da rede física de m o l d e a assegurar uma jor_
nada escolar de duração satisfatória; a r e g u l a r i z a ç ã o da traje-
tõria e s c o l a r no 1º grau; a revisão dos conteúdos c u r r i c u l a r e s e
programáticos; a m e l h o r i a do m at e ri al didático; a valorização do
m a g i s t e r i o de 1º e 2º graus; essas m e d i d a s se i n c l u e m , com
destaque, entre as m u i t a s ações i n a d i á v e i s para o c u m p r i m e n t o
das metas de quantidade e q u a l i d a d e nos graus de ensino que an_
tecedem o superior.

Cabe a i n d a lembrar que a e f i c á c i a de todas essas medi_


das está na estreita d e p e n d ê n c i a de sua adequação às necessida_
des e características das camadas de mais b a i x a renda, na medi_ da
em que a elas pertencem os alunos a t i n g i d o s pelo fracasso es colar,
i n d i c a d o r da mã q u a l i d a d e do e n s i n o tanto de 19 q uanto de 29
graus.
A i n d a que não seja r e s p o n s a b i l i d a d e da Comissão de Re
forma do E n s i n o Superior expressar recomendações especificas con
cementes aos pr o b le ma s a p o n t a d o s no 1º e 2º graus e às necessi
rias m e d i d a s para soluciona-los, a Comissão d e c i d i u não se orni
tir em relação a esses problemas.

Tanto mais que parte da r esponsabilidade na busca e en


contro das soluções cabe ao e ns in o superior, encar regado da for_
mação do m a g i s t e r i o de 1º e 2º graus e/ou dos professores dos
futuros professores das series i n i c i a i s da e sc ol ar id ad e obriga_
tori a .

Dois fatores respondem em boa parte pela ma q u a l i d a d e


do e n s i n o de 1º e 2º graus.

Por um l a d o , o precario d om in io do conteúdo, tanto no


que diz respeito ã extensão quanto ao rigor, e o descompasso en
tre a formação específica e p e d a g ó g i c a dos p r o f i s s i o n a i s que as
IES h a b i l i t a r a m para dar a u l a s no 1º e 2º graus; por outro, a
desvalorização e o desinteresse pela profissão de professor, r£
sultantes das mas condições de t r a b a l h o e salário, mas quase sem
pre reforçados pelo desprestígio e má q u a l i d a d e dos cursos de
formação do m a g i s t é r i o nas IES.

Nos ú l t i m o s anos, estudos e debates sobre os cursos de


pedagogia e demais licenciaturas vem sendo realizados no País.
A l g u m a s conclusões apontam, por exemplo, para a necessidade de
rever a estrutura e a duração desses cursos, v i s a n d o a assegu-rar
m a i o r domínio dos conteúdos. Outras c o n v e r g e m para a divi_ são de
t r a b a l h o na escola de 1º e 2º graus, que ha algum tempo vem sendo
revista, e outras ainda se dirigem para a questão da H a b i l i t a ç ã o
Magistério de 2º grau, antigo Curso Normal, como instância
imprescindível para a preparação de docentes para as séries
i n i c i a i s da escolaridade obrigatória (e, portanto, de ca_ p i t a i
importância na reformulação do ensino superior).
A c o m u n i d a d e acadêmica, não so a da area da Educação,
mas também a que compõe o currículo do 1º e 2º graus (Historia,
Geografia, Ciências Física e Biológica, Português e Matemática), já
vem m a n i f e s t a n d o há tempos, e de d i v e r s a s mane-iras, preocupa_ ção
com a formação do ma gi st ér io . Tal preocupação diz respeito
i n e c e s s i d a d e de a s s e g u r a r d o m i n i o m a i s e x t e n s o e r i g o r o s o do
conteúdo, bem como c a p a c i d a d e de d a r a esse conteúdo t r a t a m e n t o
a d e q u a d o is c l i e n t e l a s d i f e r e n c i a d a s do 1º e 2º g r a u s e compro_
m i s s o com a t a r e f a de t r a n s m i s s ã o do c o n h e c i m e n t o o r g a n i z a d o ã
m a i o r i a da p o p u l a ç ã o .
F i n a l m e n t e , n ã o se pode d e i x a r de m e n c i o n a r a i m p o r t a n
cia da tomada de m e d i d a s de c u r t o p r a z o no s e n t i d o de d e m o c r a t i _ zar
o a c e s s o ao e n s i n o s u p e r i o r , i n d e p e n d e n t e m e n t e dos resul_ t a d o s
de mais longo p r a z o , q u e d e c o r r e r ã o da a d o ç ã o de uma polí tica
e d u c a c i o n a l p a r a o c o n j u n t o do s i s t e m a de e n s i n o .
D i a n t e d i s s o , a C o m i s s ã o a p r e s e n t a as s e g u i n t e s suges-
toes:
a ) E n s i n o de 1º e 2º g r a u s

(i) U n i v e r s a l i z a r o e n s i n o básico p e l a g a r a n t i a de aces-


so — q u a n t i d a d e — e permanencia — qualidade — de t o d o s os
b r a s i l e i r o s , a s s e g u r a n d o e f e t i v a m e n t e a c o n c r e t i z a ç ã o do p r i n c i
pio c o n s t i t u c i o n a l de o b r i g a t o r i e d a d e e g r a t u i d a d e e s c o l a r e s de 8
anos.
(ii) G a r a n t i r r e c u r s o s n e c e s s á r i o s ã e x p a n s ã o e melho_
ria do e n s i n o de 1º e 2º g r a u s :
- c u m p r i n d o os d i s p o s i t i v o s da Constituição q u a n t o aos
p e r c e n t u a i s de r e c e i t a de i m p o s t o s a serem a p l i c a d o s no e n s i n o ;
- p r o m o v e n d o uma d i s t r i b u i ç ã o m a i s e q u â n i m e dos tribu-
tos, para que os E s t a d o s e M u n i c i p i o s p o s s a m a r c a r com as despe_ sas
desse s e r v i ç o p ú b l i c o f u n d a m e n t a l ;
- revendo os cri tirios de c o n t r o l e de a r r e c a d a ç ã o , dis-
t r i b u i ç ã o e a p l i c a ç ã o do S a l á r i o E d u c a ç ã o , de modo a dar priori_
dade ao e n s i n o p ú b l i c o ;

- c o m p a t i b i l i z a n d o d e s p e s a s de i n v e s t i m e n t o com as de
c u s t e i o , pois e s t a s ú l t i m a s são f u n d a m e n t a i s para a m a n u t e n ç ã o da
boa q u a l i d a d e .

( i i i ) Promover, e f e t i v a m e n t e , a v a l o r i z a ç ã o profissio_
nal do m a g i s t e r i o de 1º e 2º g r a u s , a d o t a n d o m e d i d a s que se en_
c a m i n h e m — em p r a z o s c o m p a t í v e i s c o m as d i v e r s i d a d e s r e g i o n a i s
— para o e s t a b e l e c i m e n t o de:
- p l a n o s de c a r r e i r a n o s q u a i s s e j a m p r e v i s t o s c r i t é
rios para i n g r e s s o e promoção i s e n t o s de c l i e n t e l i s m o e de in
flu ê n c i a s p o l i t i c o - p a r t i d á r i a s ;

- e s t a t u t o c a p a z de a s s e g u r a r j o r n a d a e r e g i m e de tra_
b a i n o c o m p a t í v e i s c o m a n e c e s s i d a d e de p r e p a r a ç ã o da a t i v i d a d e
de r e g ê n c i a de c l a s s e e de a p e r f e i ç o a m e n t o p r o f i s s i o n a l ;

- pisos s a l a r i a i s dignos.

(iv) A m p l i a r e e s t i m u l a r e s p a ç o s e c a n a i s de p a r t i c i p a
ção dos s e t o r e s i n t e r e s s a d o s da s o c i e d a d e c i v i l nas d e c i s õ e s re_
l a t i v a s ao f u n c i o n a m e n t o e o r g a n i z a ç ã o do sistema de ensino e
das u n i d a d e s e s c o l a r e s de 1º e 2º g r a u s .

(v) T r a ç a r d i r e t r i z e s n a c i o n a i s p ara o e n s i n o basico,


c a p a z e s de g a r a n t i r a f o r m a ç ã o comum sem p r e j u í z o das d i v e r s i d a _
des r e g i o n a i s , e de e s t a b e l e c e r com c l a r e z a as tarefas específi_ cas da
e s c o l a r i d a d e o b r i g a t ó r i a , de m o d o a a r t i c u l a r as a ç õ e s r e l a t i v a s
ao ensino propriamente dito com as ações a s s i s t e n c i ais,
g a r a n t i n d o - s e r e c u r s o s e t e m p o n e c e s s á r i o s a que e s t a s úl_ t i m a s
se r e a l i z e m sem d a n o s p a r a o t r a b a l h o p e d a g ó g i c o e docen-te.

(vi) A m p l i a r as o p o r t u n i d a d e s de a c e s s o ao 2º grau e
r e d e f i n i r sua i d e n t i d a d e , de m o d o a a s s e g u r a r a f o r m a ç ã o geral. As
opções pelos cursos de formação profissional devem sempre cor_
r e s p o n d e r às n e c e s s i d a d e s r e a i s do mercado de t r a b a l h o .

b) Formação do p r o f e s s o r

(i) V a l o r i z a r a formação do p r o f e s s o r nas IES, as q u a i s — a


d e p e n d e r de sua e s t r u t u r a p r ó p r i a — d e v e r a g a r a n t i r :

- no que d i z respeito ao c o n t e ú d o , uma a q u i s i ç ã o mais


e x t e n s a e r i g o r o s a , em n í v e l de l i c e n c i a t u r a plena;

- no que d i z r e s p e i t o a f o r m a ç ã o p e d a g ó g i c a , a aquisi_ ção


de conhecimentos que permitam um tratamento metodológico do
conteúdo adequado às c a r a c t e r í s t i c a s da c l i e n t e l a do 1º e 2º
g r a u s , bem como a compreensão do p a p e l da e d u c a ç ã o de 1º e 2º g r a u s ;
- a a d e q u a ç ã o de s e u s p r o g r a m a s as c a r e n c i a s r e g i o n a i s
de p r o f e s s o r e s para o 1º g r a u , o f e r e c e n d o c u r s o s de c a p a c i t a ç ã o e
a p e r f e i ç o a m e n t o p o s 2º g r a u e p a r a p r o f e s s o r e s l e i g o s ;
- oferta s i s t e m a t i c a de c u r s o s de r e c i c l a g e m e aperfei_
ç o a m e n t o aos p r o f e s s o r e s de 1º e 2º g r a u s em e x e r c í c i o .
( ii) R e v e r a a t u a l e s t r u t u r a d o s c u r s o s de P e d a g o g i a ,
v i s a n d o a d e q u á - l o s a o r g a n i z a ç ã o do t r a b a l h o p e d a g o g i c o no sis-
tema de e n s i n o e na e s c o l a de 1º e 2º g r a u s , bem como à n e c e s s i _ dade
de f o r m a ç ã o de d o c e n t e s p a r a a H a b i l i t a ç ã o M a g i s t é r i o em nível de
2º grau ( a n t i g o C u r s o N o r m a l ) .

(iii) Investir em p r o g r a m a s s i s t e m á t i c o s de a v a l i a ç ã o
n a c i o n a l do e n s i n o de 1º e 2º g r a u s , l e v a n t a n d o as e x p e r i e n c i a s
bem s u c e d i d a s que p o s s a m ser d i v u l g a d a s e i m p l a n t a n d o m e c a n i s
mos á g e i s de c o r r e ç ã o de d e s v i o s , em a r t i c u l a ç ã o com os Gover nos
E s t a d u a i s , M u n i c i p a i s e as U n i v e r s i d a d e s .

(iv) E x p a n d i r os i n v e s t i m e n t o s na s p e s q u i s a s e d u c a c i o
nais, nas u n i v e r s i d a d e s e centros de p e s q u i s a , a s s e g u r a n d o a re_
l e v a n c i a dos t e m a s e a e x c e l e n c i a e a p l i c a b i l i d a d e dos r e s u l t a
dos.

(v) I n v e s t i r na p r o d u ç ã o de m a t e r i a l d i d á t i c o de boa
q u a l i d a d e e e s t i m u l a r a u t i l i z a ç ã o de t e c n o l o g i a s a d e q u a d a s à
m e l h o r i a q u a l i t a t i v a do e n s i n o de 1º e 2º g r a u s .

c) A c e s s o ao e n s i n o s u p e r i o r

(i) E x p a n d i r a o f e r t a de v a g a s n a s IES p ú b l i c a s e im
p l a n t a r , q u a n d o e o n d e c o u b e r , c u r s o s n o t u r n o s , l e v a n d o - s e em
c o n t a a n e c e s s i d a d e de c o m b i n a r a e x p a n s ã o q u a n t i t a t i v a com a
c r i a ç ã o das c o n d i ç õ e s p a r a p r o d u z i r q u a l i d a d e e c o m p e t ê n c i a .

(ii) M e l h o r a r a q u a l i d a d e da formação geral do 2º grau


p ú b l i c o , a fim de d a r a seus e g r e s s o s m e l h o r e s c o n d i ç õ e s de com
p e t i t i v i d a d e no v e s t i b u l a r .
9. E N S I N O DE GRADUAÇãO

A Comissão reconheceu a i m p o r t a n c i a do ensino de gra


duação, quer em seu caráter terminal, como processo de formação de
recursos humanos, quer em termos acadêmicos, como etapa pré via
ao nivel de pos-graduação estrita ou plena.

Reputou necessário destacar, quanto à estrutura e fun-


cionamento, a r e l e v â n c i a dos seguintes temas:

a) Administração dos cursos

A administração dos cursos universitários, organizados


no regime de Faculdade ou Escola, era matéria r e l a t i v a me n t e sim
ples.
A reforma de 1º68, prevendo a Universidade com base no
sistema departamental, adotou a coordenação d i d á t i c a c o l e g i a d a
como único modelo de integração do trabalho de diferentes depar
tamentos e n v o l v i d o s na ministração de um curso.

As universidades têm procurado atender à exigência le_


gal, sem prejuízo da indi spensável funcionalidade. Não há notí-
cia, porém, de que o modelo tenha alcançado êxito significativo.
0 desafio tem sido o de encontrar a fórmula apta de ação
das coordenações didáticas, segundo o modelo legal de órgãos de
deliberação coletiva (em virtual, mas permanente conflito de com
petência com os departamentos), nos q u a i s as u n i d a d e s respon-
sáveis pela ministração do curso possam manter representativida_
de idônea.

Em termos formais, o problema da administração dos cur-sos


somente encontrará solução com a p l e n a retomada da autono mia
universitária, cabendo a cada instituição a liberdade de es-
truturação de seus cursos.
com essa f i n a l i d a d e a Comissão recomenda:

(i)Que as IES, na execução de seus cursos, fortaleçam


permanentemente os mecanismos integradores da ação plurideparta_
mental, com base na tradição de trabalho, na experiência, nas
peculiaridades e no proprio estilo da instituição.

(ii) Que as u n i v e r s i d a d e s promovam a auto-avaliação e


auto-revisão de seus programas, quanto ao sistema de administra-
ção de seus cursos.

(iii ) Que as IES tenham a liberdade de adotar, em seus


cursos, o sistema seriado ou o sistema de crédito.

b) Ciclo básico

Paradoxalmente, em nome da integração, a universidade


e m a n a d a da reforma de 1º68, ter min ou bastante segmentada.

Pretendeu-se prestigiar os estudos fundamentais, seja


pela reunião do ensino e da pesquisa básicos em um sistema de uni_
dades comuns a toda a un iver sid ade, seja pela instituição do cha_
mado P r i m e i r o Ciclo de Estudos, precedendo à etapa de formação
profis s i o n a l .

Na pratica, porem, a a r t i f i c i a l i d a d e na separação dos


ciclos i n v i a b i l i z o u a pretendida adequação do conteúdo de conhe_
cimentos básicos às reais expectativas e conveniências de apren-
d i z a g e m da parte p r o f i s s i o n a l .

È altamente discutível o modelo de ciclo centralizado


de estudos fundamentais, que não se harmoniza com a continuida-
de da execução c u r r i c u l a r e a formação profissional dos alunos.

Conseqüentemente, recomenda-se :

(i) Reavaliar o ciclo basico, buscando corrigir suas


disfunções, de modo a permitir as IES, dentro de sua capacidade
i n v e n t i v a e de sua especificidade, a definição do proprio mode_
lo organizacional, de acordo com o principio da autonomia uni-
versitária.

(ii) V a l o r i z a r a formação b á s i c a dos a l u n o s por meio


das segu inte s ações:

a) melhorar a preparação científica e pedagógica da equi_


pe docente de d i s c i p l i n a s bási cas;

b) adoção mais a m p l a da experimentação e da demonstra_


ção nas d i s c i p l i n a s que as exigirem, com a instalação e manuten-
ção de laboratórios para tais objetivos;
c) redução de número de a l u n o s por turmas;

d) ampliação e adequação do sistema de monitorias para


as d i s c i p l i n a s praticas, entendendo-se este programa como supor te
ao esforço de a p r e n d i z a g e m do estudante ;
e) tratamento pedagogico da repetência escolar, admi
tindo-se, i n c l u s i v e , a adoção de regime d i d á t i c o e sp e c ia l para
o aluno repetente.

c) Estrutura departamental

A criação de departamentos como forma estru tural das uni-


versidades foi uma co n se qü ê n ci a da expansão dos conhecimentos e
do advento da especialização. Sob a inspiração dos modelos ori_
g i n a i s germânico e norte-americano, os departamentos por toda a
parte se m u l t i p l i c a r a m .

Na universidade brasileira, a estrutura departamental,


embora preexistente em a l g u n s estatutos e regimentos, foi efeti_
vãmente adotada com o Decreto-lei n9 252, de 28 de fevere iro de
1º67, que declara: "0 departamento será a menor fração da es-trutura
u n i v e r s i t a r i a para todos os efeitos de organização admi_
nistrati va, didático-ci entífica e de a d m i n i s tr a ç ão de pessoal"
(§ 1º do art. 2º). A Lei n9 5.540, de 28 de novembro de 1º68, repete o
texto, acrescentando: "e compreenderá disciplinas afins" (§ 39 do
art. 12). A mesma l e i determina: "Fica e x t i n t a a cáte_ dra ou
cadeira na organização do e n s i n o superior do país" (art. 33, §
39).

Atualmente, há departamentos l i g a d o s a escolas, ou a


centros, e departamentos interescolares, servindo a v a r i a s car
reiras profissionais. Essa estrutura, na verdade, e mais ou me_ nos
inoperante, na maioria dos casos: muitos departamentos sim
plesmente não funcionam, quase não se reúnem, ou não decidem se_
não sobre assuntos meramente a d m i n i s t r a t i v o s ; não têm orçamento
proprio, nem d i s põ e m de infra-estrutura de apoio.

São inegáveis algumas vantagen s da estrutura departa-


mental, que s u b s ti t u iu o regime de cátedras, m o d i f ic a n do o siste_
ma de poder dentro da un iv er si da de e procurando torná-la mais
democratica. Entre outras, citam-se: a a p r o x i m a ç ã o de áreas afins
de conhecimento, organizadas em d i s c i p l i n a s ; a flexibili_ dade que
se afirma no direito de criar, transformar ou substitu_ ir
disciplinas; a reunião de recursos humanos e mat e ri ai s, po
tencializando as p o s s i b i l i d a d e s para o ensino e a pesquisa.
Entretanto, com o tempo, acentuaram-se muitos inconve_
n i e n t e s dessa estrutura: a t e n d e n c i a dos depar tam en tos a se
tornarem au to- su fic ien te s e fechados em si mesmos; a transforma-
ção de a l g u n s em ve r da de ir as supercátedras ; a falta de coordena_
ção entre os vários departamentos, prejudicando a integração do
ensino; a m u l t i p l i c a ç ã o excessiva de d i s c i p l i n a s , fragmentando
o conhecimento e concorrendo para c r i a r uma ve rd ade ira "patolo_
gia do saber".

A multiplicação excessiva do número de departamentos


dentro de uma faculdade, ou universidade, concorre para aumentar
tais inconvenientes. Cresce o risco da perda da interdiscipli
naridade, porque os novos departamentos surgem de d i s c i p l i n a s ,
ou divisões, que se tornam independentes. A conversão de espe_
c i a l i d a d e s e subespecialidades em departamentos faz perder a ba_
se comum, conduz a fragmentação no ensino e no treinamento, a
menor colaboração na pesquisa.
Recomenda-se assim:

(i) Fortalecer a estrutura d e p a r t a m e n t a l , sem prejuízo


de outras ex pe ri ênc ias a l t e r n a t i v a s de organização estrutural
das IES, de acordo com o p r i n c í p i o da a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a .

(ii) A t r i b u i r aos departamentos maior poder de decisão


na área de sua atuação, definida em regimento, sem prejuízo da
subordinação aos Órgãos c o l e g i a d o s superiores, nos assuntos de
interesse geral da i n s t i t u i ç ã o e nos casos de interposição de
recursos.
(iii) Assegurar infra-estrutura administrativa aos de_
partamentos e a p o i o f i n a n c e i r o aos seus programas.
(iv) O r g a n i z a r os departamentos de grande porte em câ
maras para assuntos de graduação, pos-graduação, p e s q u i s a e ex.
tensão, a fim de c riar condições para o d e s e n v o l v i m e n t o de seus
programa s.

(v) Conferir aos departamentos, alem das atribuições de


a d m i n i st r a ç ã o do ensino, o papel de um forum de debates so bre
temas de interesse acadêmico.
10. 0 E N S I N O DE P O S - G R A D U A Ç ã O E A P E S Q U I S A C I E N T I F I C A

O ensino de p o s - g r a d u a ç ã o e a pesquisa científica e


t e c n o l ó g i c a hoje d e s e n v o l v i d o s nas u n i v e r s i d a d e s b rasi lei ras são de
g r a n d e i m p o r t â n c i a p a r a o País como um todo, e para seu sistema de
e d u c a ç ã o s u p e r i o r em p a r t i c u l a r . E na u n i v e r s i d a d e que está
concentrado o m a i o r e mais q u a l i f i c a d o contingente de pesq u i s a d o r e s
c i e n t í f i c o s do País, e é d e l a q u e r e s u l t a g r a n d e par_ te da m e l h o r
p e s q u i s a q u e o B r a s i l p r o d u z . Os programas de p o s - g r a d u a ç ã o formam
professores, pesquisadores e profissionais altamente
q u a l i f i c a d o s , em condições de c o n t r i b u i r s i g n i f i c a t i v a m e n t e para a
q u a l i d a d e do ensino, da p e s q u i s a e do t r a b a l h o e s p e c i a l i z a d o em
todos os ramos de a t i v i d a d e .

A C o m i s s ã o reconhece a i m p o r t â n c i a do t r a b a l h o desen-
v o l v i d o pela CAPES no s e n t i d o de c r i a r e m a n t e r um s i s t e m a per-
m a n e n t e de a v a l i a ç ã o c o n t í n u a dos p r o g r a m a s de po s - g r a d ua ç ã o , a-
t r a v e s da u t i l i z a ç ã o i n t e n s i v a do s i s t e m a de r e v i s ã o por p a r e s , o
qual ja c o n q u i s t o u g r a n d e l e g i t i m i d a d e na c o m u n i d a d e científi-_ ca
e u n i v e r s i t á r i a . Entre as a t i v i d a d e s da C A P E S , merecem part i c u l a r
r e l e v o a c o n d u ç ã o do p r o g r a m a de b o l s a s de e s t u d o no País e no
e x t e r i o r ; o P r o g r a m a I n t e g r a d o de C a p a c i t a ç ã o de Docentes (PICD);
o programa de a p o i o i n s t i t u c i o n a l aos cursos de p o s - g r a d u a ç ã o ; e o
Programa E s p e c i a l de T r e i n a m e n t o - PET, que visa a p r o p o r c i o n a r
b o l s a s de e s t u d o p a r a a l u n o s de g r a d u a ç ã o , sob a s u p e r v i s ã o de
p e s q u i s a d o r e s q u a l i f i c a d o s . A p e s q u i s a u n i v e r s i t á r i a tem contado
com s i g n i f i c a t i v o a p o i o do CNPq e da F i n a n c i a d o r a de E s t u d o s e
Projetos - F I N E P , que a C o m i s s ã o cons i d e r a a p r o p r i a d o e
indispensável.

E x i s t e , no e n t a n t o , uma s e r i e de q u e s t õ e s problemáti-cas
que n e c e s s i t a m a t e n d i m e n t o u r g e n t e . A C o m i s s ã o i d e n t i f i c a como
p r i o r i t á r i o s os s e g u i n t e s p o n t o s , s o b r e os q u a i s f o r m u l a as
recomendações que se seguem:

a) P o u c a i n s t i t u c i o n a l i z a ç ã o da p e s q u i s a u n i v e r s i t á r i a e da pos-
graduação

Grande p a r t e das p e s q u i s a s r e a l i z a d a s nas universida


des b r a s i l e i r a s é m a n t i d a com r e c u r s o s externos ao M i n i s t é r i o da
E d u c a ç ã o . 0 a p o i o externo n ã o se l i m i t a ao f i n a n c i a m e n t o de
projetos de duração l i m i t a d a , como s e r i a n a t u r a l , mas i n c l u i
f r e q ü e n t e m e n t e a p r o p r i a m a n u t e n ç ã o de parte s i g n i f i c a t i v a dos
p e s q u i s a d o r e s e p r o f e s s o r e s dos c u r s o s de p o s - g r a d u a ç ã o , pessoal
a d m i n i s t r a t i v o , i n s t a l a ç õ e s , e q u i p a m e n t o , m a t e r i a i s de pes_ q u i s a ,
etc. Como estes r e c u r s o s e x t e r n o s s ã o p r o v i s ó r i o s e sujeitos a
renegociações periódicas, sua predominância cria grande
i n s t a b i l i d a d e para os programas de p e s q u i s a e p o s - g r a d u a ç ã o . A
i n s t a b i l i d a d e se refl et e a i n d a nas b o l s a s de e s t u d o o f e r e c i das
aos a l u n o s de p o s - g r a d u a ç ã o , s u j e i t a s a a t r a s o s , d e p r e c i a - ção de
valor, e i n c a p a z e s , na r e a l i d a d e , de p r o p o r c i o n a r aos es t u d a n t e s
c o n d i ç õ e s p a r a d e d i c a ç ã o i n t e g r a l a seus estudos.
Por isto a C o m i s s ã o faz as s e g u i n t e s r e c o m e n d a ç õ e s :

(i) F o r t a l e c i m e n t o e e x p a n s ã o d a s a t i v i d a d e s da CAPES.
É n e c e s s á r i o a s s e g u r a r q u e n ã o se perca a rica e x p e r i ê n cia da CAPES
e que s e u papel de a p o i o à pos-graduação e p e s q u i sa
u n i v e r s i t á r i a se e x p a n d a . A C o m i s s ã o c o n s i d e r a que um inst r u m e n t o
i m p o r t a n t e p a r a i s t o s e r i a a transfor mação do atual C o n s e l h o
D i r e t o r em um órgão q u e , p e l a q u a l i d a d e de seus mem bros, seja
fortemente r e p r e s e n t a t i v o da c o m u n i d a d e c i e n t i f i c a u n i v e r s i t á r i a
b r a s i l e i r a , e conte a i n d a com a p a r t i c i p a ç ã o de r e p r e s e n t a n t e s dos
M i n i s t é r i o s da E d u c a ç ã o e da C i ê n c i a e Tecn o l o g i a . Um C o n s e l h o
D e l i b e r a t i v o a s s i m r e f o r m u l a d o a u m e n t a r i a a l e g i t i m i d a d e da
CAPES e do p r ó p r i o M i n i s t é r i o da E d u c a ç ã o jun-to à c o m u n i d a d e
c i e n t í f i c a do país, e p e r m i t i r i a que suas fun-ções f o s s e m
a m p l i a d a s . A l e m do m a i s , este C o n s e l h o t e r i a condi_ ções de dar
forma e c o n t i n u i d a d e a a t i v i d a d e s como as a b a i x o re l a c i o n a d a s ,
i n d i s p e n s á v e i s ao reforço do p a p e l do M i n i s t é r i o da Educação no
d e s e n v o l v i m e n t o científico e t e c n o l ó g i c o do País. Alternativamente,
poder-se-ia dar maior i n s t i t u c i o n a l i z a ç ã o e v i s i b i l i d a d e i
comissão formada p e l o s pre sidentes dos c o m i t ê s a s s e s s o r e s da C A P E S ,
q u e já vem de fato a t u a n d o na linha sugeri da a c i m a .

(ii) A s s i m f o r t a l e c i d a , a CAPES d e v e r i a r e c e b e r recur_


sos s u b s t a n c i a i s para o a p o i o i n s t i t u c i o n a l a programas de pos-
g r a d u a ç ã o e a t i v i d a d e s de p e s q u i s a nas u n i v e r s i d a d e s b r a s i l e i ras,
i n c l u i n d o a i n s t a l a ç ã o e m a n u t e n ç ã o de l a b oratório s, biblico tecas
especializadas, infra-estrutura técnica e administrativa e
p r o g r a m a s de i n t e r c a m b i o n a c i o n a l e i n t e r n a c i o n a l . Estes re-
c u r s o s d e v e r i a m ser p r o p o r c i o n a d o s a t r a v é s do exame de s o l i c i t a
ções e n c a m i n h a d a s p e l o s d e p a r t a m e n t o s e i n s t i t u t o s
universitá
r i o s p ú b l i c o s ou p r i v a d o s , e m a n t i d o s de forma e s t á v e l . Deve riam
também c o b r i r as a t i v i d a d e s de p e s q u i s a de longo prazo,que não p o d e m
d e p e n d e r de d o t a ç õ e s e x t e r n a s e v e n t u a i s . Projetos específicos de
pesquisa continuariam a ser financiados pelas a-g ê n c i a s
esp ec ia liz ad as e setoriais.

( i i i ) R e v i s ã o do s i s t e m a de b o l s a s de estudos de pos-
g r a d u a ç ã o no País, t r a t a n d o de d a r aos e s t u d a n t e s r e m u n e r a ç ã o
a d e q u a d a para a d e d i c a ç ã o e f e t i v a ao tempo i n t e g r a l , a p o i o no
período de r e a l i z a ç ã o dos t r a b a l h o s de tese e c o b e r t u r a s o c i a l
c o r r e s p o n d e n t e a d e d i c a ç ã o p r o f i s s i o n a l aos estudos, i n c l u i n d o
pelo m e n o s os b e n e f í c i o s da p r e v i d ê n c i a s o c i a l . Para os estud a n t e s
que t e n h a m q u e se d e s l o c a r com s u a f a m í l i a para o u t r a r e g i ã o , as
b o l s a s d e v e r i a m p r e v e r os c u s t o s de m u d a n ç a e i n s t a - 1 ação.

b) I n e x i s t ê n c i a de s i s t e m a de m é r i t o q u e i n c e n t i v e a p e s q u i s a

0 M i n i s t é r i o da E d u c a ç ã o não p o s s u i n e n h u m s i s t e m a sa
larial de i n c e n t i v o ao professor q u e se d e d i c a à p e s q u i s a cient í f i c a
e t e c n o l ó g i c a . Os s i s t e m a s de tempo i n t e g r a l e d e d i c a ção
e x c l u s i v a , que t i n h a m este o b j e t i v o , t e r m i n a r a m s e n d o absor
v i d o s como p a r t e do s a l a r i o de um g r a n d e número de p r o f e s s o r e s para
os q u a i s a a t i v i d a d e de p e s q u i s a e i n e x i s t e n t e , s e c u n d á r i a ou
i n c i d e n t a l . 0 s i s t e m a de promoções de p r o f e s s o r e s nos quadros
f u n c i o n a i s das u n i v e r s i d a d e s se rege p o r c r i t é r i o s que não se
b a s e i a m n e c e s s a r i a m e n t e no d e s e m p e n h o a c a d ê m i c o e c i e n t í f i c o dos
professores.
Por isto, a C o m i s s ã o a p r e s e n t a as s e g u i n t e s sugestõ es:
(i) Criação, no â m b i t o do M i n i s t é r i o da Educação, e
em estreita colaboração com o CNPq, de um programa de bolsas de
pesquisa para professores que demonstrem efetiva e continuada
produção científica de q u a l i d a d e . Tal como o atual programa do
CNPq, este programa de bolsas deveria se constituir em uma com
plementação salarial proporcional à qualificação dos professo
res pesquisadores, que fosse renovável enquanto sua a t i v i d a d e
de pesquisa permanecer. uma condição essencial para que um pro
grama como este não seja desvirtuado e que se constitua, por i-
n i c i a t i v a da CAPES, um corpo de Diretores de Pesquisa, selecio-
nado entre os pesquisadores mais qualificados das universidades
brasileiras, que tenha sob sua respo nsa bili dad e o acompanhamen
to i n d i v i d u a l i z a d o dos trabalhos de pesquisa de cada bolsista
do sistema. Este programa poderia, em princípio, incluir pro-
fessores e p e s q u i s a d o r e s não so do s i s t e m a federal, mas também
de instituições estaduais, municipais e privadas.

(ii) C r i a ç ã o de um sistema de semestres s a b á t i c o s a


cada tris anos para professores pesquisadores, visando à realiza
ção de estágios, visitas e trabalhos de cooperação em outras
i n s t i t u i ç õ e s a c a d ê m i c a s no País e no exterior.

c) Q u a l i d a d e , equidade e dimensões regionais na a v a l i a ç ã o da


p e s q u i s a e da pos-graduação

0 caráter inter-subjetivo dos processos de a v a l i a ç ã o


da pesqu isa científica e da q u a l i d a d e do ensin o de pós-gradua
ção traz à tona problemas de adequação e e q ü i d a d e na distribui
ção de recursos. Em a l g u n s casos, há q u e i x a s sobre d i f i c u l d a -
des de acesso de programas emergentes, ou de â m b i t o regional,
aos recursos a que fariam jus; em outros, medidas corretivas de
tipo d i s t r i b u c i o n i sta nem sempre são acompanhadas por critérios
adequados, levando ao desperdício de recursos e apoio a ativida-
des e programas de q u a l i d a d e duvidosa. A existência de mecanis-
mos competentes e legítimos de a v a l i a ç ã o e seu aperfeiçoamento
contínuo e o a l i c e r c e de q u a l q u e r polí ti ca mais conseqüente de
apoio a pesquisa.

Por isto, a C o m i s s ã o a p r e s e n t a as s e g u i n t e s s u g e s t õ e s :

(i) M a n t e r e a p e r f e i ç o a r o s i s t e m a de a v a l i a ç ã o por
p a r e s , t r a t a n d o de a s s e g u r a r :

- a seleção dos membros de c o m i t ê s assessores e


outros g r u p o s c o n s u l t i v o s , m e d i a n t e p r i n c í p i o s
e s t r i t o s de c o m p e t ê n c i a e p r o b i d a d e p r o c u r a n d o
a l e m d i s t o a t e n d e r a c r i t é r i o s de representati_
v i d a d e das d i v e r s a s e s p e c i a l i d a d e s , r e g i õ e s e
t i p o s de i n s t i t u i ç ã o q u e p a r t i c i p a m de cada
á r e a de c o n h e c i m e n t o .

- a d i v u l g a ç ã o do m á x i m o de i n f o r m a ç õ e s q u a n t o aos
m e c a n i s m o s de i n d i c a ç ã o e aos nomes que compõem
e s t a s c o m i s s õ e s . C a d a p r o g r a m a , proje-to ou
p e s q u i s a d o r a v a l i a d o d e v e ter o d i r e i t o de
c o n h e c e r a c o m i s s ã o r e s p o n s á v e l , e qual o
r e s u l t a d o d e s t a a v a l i a ç ã o . T a n t o q u a n t o possí
v e l , os c r i t é r i o s e as r a z õ e s u t i l i z a d a s d e v e m
ser e x p l icit a d o s .

- o a p e r f e i ç o a m e n t o contínuo dos s i s t e m a s de in
d i c a d o r e s , de m a n e i r a a p r o p o r c i o n a r o m á x im o
de f u n d a m e n t a ç ã o o b j e t i v a aos p r o c e s s o s avalia_
tiv o s .

- o d i r e i t o de recurso q u a n t o a a v a l i a ç õ e s consi-
deradas inadequadas.

- a u n i f i c a ç ã o n a c i o n a l dos p a d r õ e s deavaliação da p o s - g r a d u a

(ii) Dar e s p e c i a l a t e n ç ã o às a t i v i d a d e s de p e s q u i s a
r e a l i z a d a s por g r u p o s e m e r g e n t e s e fora d o s g r a n d e s c e n t r o s uni
v e r s i ta r io s , mediante mecanismos tais como:

seleção cri t e r i o s a dos grupos emergentes, por m e c a n i s m o s


de a v a l i a ç ã o p o r pares;

i d e n t i f i c a ç ã o de v o c a ç õ e s e e s p e c i a l i z a ç õ e s re g
i o n a i s ;

criação de formas (incluindo os semestres sa-


báticos) que permitam a professores p e s q u i s a d o res de
centros estabelecidos passar períodos
s i g n i f i c a t i v o s em centros emergentes, e viceversa ;

estímulo e recursos para projeto s de p e s q u i s a


c o l a b o r a t i v o s entre professores e p e s q u i s a d o r e s
de nível d i s t i n t o de a m a d u r e c i m e n t o .

d) L i g a ç õ e s e n t r e a p e s q u i s a e a r e a l i d a d e e c o n o m i c a e s o c i a l do
País

A p e s a r do g r a n d e i n t e r e s s e e m o t i v a ç ã o r e i t e r a d a m e n t e
m a n i f e s t a d o s pelos p e s q u i s a d o r e s u n i v e r s i t á r i o s em c o l o c a r os
p r o d u t o s de seu t r a b a l h o a s e r v i ç o da s o c i e d a d e e da e c o n o m i a do País,
existem poucos mecanismos adequados para fazer com que os c o n h e c i m e n t o s
d e s e n v o l v i d o s nas u n i v e r s i d a d e s t e n h a m e f e t i v a - mente u t i l i z a ç ã o mais
a m p l a . Na r e a l i d a d e , o s i s t e m a de dedica_ ção e x c l u s i v a d i f i c u l t a a
p a r t i c i p a ç ã o de p rofessore s
pesquisa
d o r e s em trabalhos l i g a d o s a a t i v i d a d e p r o d u t i v a ou ao s e r v i ç o
p ú b l i c o . A c o n s e q ü ê n c i a é que estas a t i v i d a d e s t e r m i n a m por ser
executadas através de subterfugios s e m i l e g a i s , e sem a part i c i p a ç ã o dos que
d e v e r i a m s e r o e s t e i o do s i s t e m a , ou seja, os mais competentes e os mais
éticos.
Por isto, a C o m i s s ã o a p r e s e n t a as s e g u i n t e s sugestões:

(i) C r i a ç ã o de m e c a n i s m o s j u r í d i c o s que p e r m i t a m o
e s t a b e l e c i m e n t o de i n s t i t u i ç õ e s i n t e r m e d i á r i a s e acordos de co
l a b o r a ç ã o permanentes entre i n s t i t u i ç õ e s u n i v e r s i t á r i a s e o Es-
tado, o setor p r o d u t i v o e outras i n s t i t u i ç õ e s s o c i a l m e n t e rele-
v a n t e s t e n d o em v i s t a a e f e t i v a t r a n s f e r ê n c i a de c o n h e c i m e n t o s .

(ii) E s t a b e l e c i m e n t o de formas p e r m a n e n t e s de c o l a b o -
ração entre as u n i v e r s i d a d e s b r a s i l e i r a s e os M i n i s t e r i o s da In
d ú s t r i a e C o m é r c i o e da C i ê n c i a e T e c n o l o g i a , e, mais p a r t i c u -
l a r m e n t e , com os i n s t i t u t o s do C N P q .

( i i i ) E s t a s formas de c o o p e r a ç ã o com a s o c i e d a d e não


d e v e m , de n e n h u m a forma, s e r e n t e n d i d a s como e x i m i n d o o g o v e r no, e
o M i n i s t é r i o da E d u c a ç ã o em p a r t i c u l a r , da r e s p o n s a b i l i d a - de
pela m a n u t e n ç ã o do e n s i n o de p ó s - g r a d u a ç ã o e da p e s q u i s a básica que
se r e a l i z a nas i n s t i t u i ç õ e s u n i v e r s i t á r i a s b r a s i l e i ras .

e) D i f i c u l d a d e s no r e l a c i o n a m e n t o entre p e s q u i s a , p o s - g r a d u a ç ã o
e graduação

0 r e l a c i o n a m e n t o da p e s q u i s a e da p o s - g r a d u a ç ã o com os
cursos de g r a d u a ç ã o das u n i v e r s i d a d e s é f r e q ü e n t e m e n t e p r o b l e m á
tico. Em m u i t o s casos, a c o m b i n a ç ã o entre as d i f i c u l d a d e s de
f u n c i o n a m e n t o dos c u r s o s de g r a d u a ç ã o e as f a c i l i d a d e s de obten_
ção de r e c u r s o s e x t e r n o s p a r a os p r o g r a m a s de p o s - g r a d u a ç ã o leva a
que estes ú l t i m o s se i s o l e m do r e s t a n t e da u n i v e r s i d a d e ,
c o n t r i b u i n d o d e s t a forma p a r a a u m e n t a r a i n d a mais seus p r o b l e mas .
A ê n f a s e d a d a nos ú l t i m o s a n o s à p e s q u i s a em todo o
s i s t e m a de e d u c a ç ã o s u p e r i o r , e o s i s t e m a de i n c e n t i v o s a ela
a s s o c i a d o , teve como c o n s e q ü ê n c i a não e s p e r a d a a p r o l i f e r a ç ã o de
p r o g r a m a s de p o s - g r a d u a ç ã o e p e s q u i s a de q u a l i d a d e d u v i d o s a , ao
mesmo tempo em q u e eram d e s v a l o r i z a d a s as a t i v i d a d e s mais
estritament-e p e d a g ó g i c a s e de f o r m a ç ã o p r o f i s s i o n a l . A ê n f a s e
q u a s e e x c l u s i v a p o s t a nos a s p e c t o s c i e n t í f i c o s dos p r o g r a m a s de
pos-graduação acarreta, em muitos casos, desvirtuamento das ta
refas de formação em disciplinas voltadas primordialmente para
atividades profissionais e aplicadas. Este problema afeta, por
exemplo, a área da medicina, com a perda de prestígio da resi-
dência medica, bem como a outras areas predominantemente pro
fissionais (engenharia, ciências sociais aplicadas, direito,
etc).
Por isto, a Comissão sugere que os vínculos entre os pro
gramas de pos-graduação e pesquisa e os cursos de graduação se-
jam reforçados. 0 envolvimento de professores de pos-gradua-
ção e pesquisadores no ensino de graduação é sempre positivo e
deve ser incentivado, ainda que não possa ser imposto de forma
burocratica. Mecanismos para aprofundar estes vínculos podem
ser sugeridos, entre os quais:

(i) Expansão gradativa do Programa Especial de Trei-


namento (PET), a partir de uma avaliação cuidadosa, pela CAPES,
da experiência acumulada nos últimos anos. Este programa, de
apoio a estudantes de graduação com potencial para a pesquisa,
não deve ser confundido com outros sistemas de estágios e bol-
sas de estudo de graduação que o Ministério da Educação possa
ter.

(ii) Implantação, pelas universidades, de mecanismos


de auto-avaliação de suas atividades de pesquisa e ensino, au-
mentando desta forma o envolvimento dos pesquisadores com suas
instituições .

(iii) Criação de programas intensivos de atualização


para professores de graduação, a cargo de professores
pesquisadores de todo o País.

(iv) Incentivo, fortalecimento e valorização dos pro-


gramas de pos-graduação de cunho profissional e de formação para
o magisterio, buscando-se desenvolver modelos igualmente
prestigiados, mas alternativos aos mestrados e doutorados de
p e s q u i s a hoje predominantes.
11 . C O R P O D O C E N T E

O p a d r ã o de e x c e l ê n c i a de uma i n s t i t u i ç ã o de e n s i n o su-
peri or r e p o u s a s u b s t a n c i a l m e n t e na q u a l i d a d e de seu c o r p o docen-te
e em sua c o n t i n u a d a d e d i c a ç ã o a o s m i s t e r e s do e n s i n o e da
p e s q u i s a , bem como às a t i v i d a d e s de e x t e n s ã o .

Para tanto, i m p õ e - s e g a r a n t i r aos p r o f e s s o r e s a s e g u -


rança de uma c a r r e i r a a c a d ê m i c a e s t á v e l e de uma remuneração con
d i g n a , a par de c o n d i ç õ e s de c o n s t a n t e a p e r f e i ç o a m e n t o profissio nal
e c u l t u r a l , que f o r t a l e ç a o p r i n c i p i o da c o m p e t ê n c i a e a
atualização científica.

Devem, a i n d a , as i n s t i t u i ç õ e s , em seu p l a n e j a m e n t o fi_


nanceiro, d e s t i n a r recursos específicos para o a p r i m o r a m e n t o ci_
e nt íf ic o e p e d a g ó g i c o dos seus professores.

Por ú l t i m o , cumpre e s t i m u l a r os processos de a v a l i a ç ã o


do t r a b a l h o docente, m e d i a n t e p a r â m e t r o s f u n d a d o s t a n t o nas ati_
v i d a d e s de m a g i s t é r i o q u a n t o na p r o d u ç ã o científica e cultural
dos p r o f e s s o r e s .

V i s a n d o à c o n s e c u ç ã o desses o b j e t i v o s , a C o m i s s ã o reco_
menda as s e g u i n t e s m e d i d a s de a p o i o ao c o r p o d o c e n t e :

a) S i t u a ç ã o f u n c i o n a l e r e g i m e de t r a b a l h o

(i) As i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o s u p e r i o r , t a n t o p ú b l i c a s
como p r i v a d a s , d e v e m e s t a b e l e c e r e m a n t e r p l a n o s de c a r r e i r a do
m a g i s t e r i o , e s c a l o n a d o s em c a t e g o r i a s , com a t r i b u i ç õ e s e respon-
s a b i l i d a d e s d e f i n i d a s , e s p e c i f i c a n d o - s e a q u a l i f i c a ç ã o necessá
ria t a n t o para o i n g r e s s o como p a r a a a s c e n s ã o aos n í v e i s supe_
riores, que não p o d e r á ter como r e q u i s i t o e x c l u s i v o ou predomi
n a n t e o tempo de s e r v i ç o . E x c e p c i o n a l m e n t e , p o d e r ã o ser a d m i t i - dos
professores que não i n t e g r e m a c a r r e i r a para a t e n d i m e n t o de
n e c e s s i d a d e s e s p e c i a i s ou t r a n s i t ó r i a s do e n s i n o ou da pesquisa.

(ii) 0 i n g r e s s o na c a r r e i r a — q u e pode se dar em qual


quer nivel — e o a c e s s o ao p o s t o m á x i m o devem ser o b r i g a t ó r i a mente
precedidos de h a b i l i t a ç ã o em concurso p u b l i c o de provas e t í t u l o s .
Nos c r i t e r i o s de a s c e n s ã o f u n c i o n a l , devem ser valori-zados, alem da
t i t u l a ç ã o pós-graduada, a produção científica, a p a r t i c i p a ç ã o nas
a t i v i d a d e s de ensino, p e s q u i s a e extensão, e a e x p e r i ê n c i a na
administração acadêmica.

( i i i ) 0 pessoal docente d a s i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o su-


p e r i o r f e d e r a i s d e v e se s u b m e t e r a um r e g i m e j u r í d i c o p r ó p r i o ,
que não se c o n f u n d a com o do f u n c i o n a l i s m o p ú b l i c o em geral.

(iv) Tendo-se em v i s t a a a s p i r a ç ã o m a n i f e s t a d a em seto-res


da c o m u n i d a d e acadêmica, é a c o n s e l h á v e l que o M i n i s t é r i o da
E d u c a ç ã o promova c o n s u l t a s e e s t u d o s q u e a v a l i e m a c o n v e n i ê n c i a
de uma p o l i t i c a de u n i f i c a ç ã o d o s p l a n o s de c a r r e i r a e dos ní
veis s a l a r i a i s nas i n s t i t u i ç õ e s de ensino s u p e r i o r federais,
r e s s a l v a d a a a u t o n o m i a u n i v e r s i t á r i a e a l i b e r d a d e de cada ins
t i t u i ç ã o para p r o v e r às s u a s p e c u l i a r i d a d e s .

(v) É i m p o r t a n t e , p o r é m , q u e a l e g i s l a ç ã o e s t a b e l e ç a
um piso s a l a r i a l a ser o b e d e c i d o , t a n t o p e l a s IES p ú b l i c a s como
pelas p a r t i c u l a r e s , em seus p l a n o s de c l a s s i f i c a ç ã o e s a l a r i o s
dos professores, nos q u a i s serão e s p e c i f i c a d a s as d i f e r e n c i a ções por
categorias e os ince nti v os f u n c i o n a i s que entendam con-v e n i e n t e
adotar.

(vi) 0 regime de d e d i c a ç ã o e x c l u s i v a deve ser preferen-


c i a l m e n t e a d o t a d o p a r a os i n t e g r a n t e s da carreira, se nd o também
a d m i s s í v e l o tempo p a r c i a l , i g u a l m e n t e a p l i c á v e l a outras for mas
de c o n t r a t o , conforme as p e c u l i a r i d a d e s de cada i n s t i t u i ção. 0
s i s t e m a de p a g a m e n t o por h o r a - a u l a deve ser v e d a d o .

b) T i t u l a ç ã o , a p e r f e i ç o a m e n t o e a v a l i a ç ã o do d e s e m p e n h o

(i) As IES devem c r i a r c o n d i ç õ e s p a r a o aperfeiçoamen-to


c o n s t a n t e de s eu s q u a d r o s d o c e n t e s , a t r a v é s da q u a l i f i c a ç ã o em
cursos de pos-graduação e da c a p a c i t a ç ã o em i n s t i t u i ç õ e s no País e no
e x t e r i o r . 0 M E C deve f o r t a l e c e r , p o r intermédio de
suas agencias, programas especificos de aprimoramento para do
centes, tais como o PICD e o PADES.

(ii) Deve ser i n s t i t u i d o o s i s t e m a de semestres sabáti_


cos, segundo programas estabelecidos pelos colegiados superiores
competentes e mediante aprovação, pelos departamentos, de pla_ nos de
trabalho que tenham como f i n a l i d a d e o aprimoramento indi-v i d u a l
ou o i n t e r c â m b i o científico e cultural.

( i i i ) Devem ser instituci onalizad os métodos de avalia-


çao do d es e m pe n h o dos membros do corpo d o c e n te em suas a t i v i d a -
des de e n s i n o , de p e s q u i s a e de extensão de forma a c o n t r i b u i r
para a elevação q u a l i t a t i v a do trabalho acadêmico, levando-se em
conta igualmente a produção c i e n t i f i c a , tecnológica, cultural ou
artístic a dos professores.
12. CORPO DISCENTE

Hi hoje no Brasil cerca de um m i l h ã o e meio de estudan-


tes de nível superior. Entre eles, registram-se acentuadas di
ferenças no que se refere à o r i g e m social e a c o n d i çã o economi ca .

A Comissão considera dever do Estado criar condições de


apoio aos estudantes, com o o b j e t i v o de a p r i m o r a r o aproveita_
mento nos estudos. Programas como o do crédito educativo, para
a l u n o s da rêde p r i v a d a e de ajuda de custo a e s t u d a nt e s do sis
tema p u b l i c o , v i s a m a esse objetivo. Nas IES p ú b l i c a s , a eles se
acrescem serviços de apoio, como as r e s i dê n c ia s estudant is e os
restaurantes a preços subsidiados.

Tais i n i c i a t i v a s não impedem, porém, que a assistência


aos estudantes ofereça l a c u n a s e i n s u f i c i ê n c i a s a serem supri_
das.

I. N e c e s s i d a d e de um Órgão de a p o io ao estudante de nível superior

Recomenda-se a ex i s t ê nc i a , na estrutura do M i n i s t e r i o
da Educação, de um Órgão e s p e c i a l de coordenação das a t i v i d a d e s
de a p o i o aos estudantes. A extinção do Departamento de Assun tos
E s t u d a n t i s (DAE) e a suspensão do Programa de B o l s as do MEC
d i f i c u l t a m uma p o l i t i c a coerente no setor.

A Fundação de A p o i o ao Estudante (FAE) atende, em par_


te, à f i n a l i d a d e exposta, mas suas atribuições abrangem apenas
as f ai x a s do pré-escolar, do 1º e do 2º graus.

Diante do exposto, a C om is s ã o sugere:

(i) A extensão dos serviços da FAE também aos estudan-tes


de nível s u p e ri o r — sem sacrifício da expansão dos servi_ ços aos
estudantes dos demais niveis — com a necessaria a m p l i a _ ção dos
recursos a e l a destinados.
(ii) F o r t a l e c i m e n t o do p r o g r a m a de v e n d a de m a t e r i a l e
livros d i d á t i c o s , a preços s u b s i d i a d o s , a m p l i a n d o - s e o número de
p r o d u t o s o f e r e c i d o s e c r i a n d o - s e p o s t o s de v e n d a no interior dos
campi universitários.

( i i i ) P a r t i c i p a ç ã o de r e p r e s e n t a n t e s e s t u d a n t i s , t a n t o
de e n s i n o s u p e r i o r como de 2º g r a u , no C o n s e l h o D e l i b e r a t i v o da
FAE.

11. C o n c e s s ã o de b o l s a s de e s t u d o s

As b o l s a s de e s t u d o d e v e m t e r como o b j e t i v o o t r e i n a _
m e n t o p r o f i s s i o n a l do a l u n o em a t i v i d a d e s p e r t i n e n t e s á área de
sua formação, não d e v e n d o i m p o r t a r s i m p l e s a j u d a f i n a n c e i r a .

A s s i m s endo, a C o m i s s ã o r e c o m e n d a :

(i) I n s t i t u i ç ã o , com e s s a f i n a l i d a d e , de um p r o g r a m a
n a c i o n a l de b o l s a s , de v a l o r a d e q u a d o às n e c e s s i d a d e s r e a i s do
estudante carente, m e d i a n t e a t r i b u i ç ã o de recursos e s p e c i a i s no
o r ç a m e n t o do MEC.

(ii) I m p l a n t a ç ã o de um programa e s p e c i a l de a u x í l i o fi_


n a n c e i r o a e s t u d a n t e s que desejarem d e d i c a r - s e a a t i v i d a d e s re_
l a c i o n a d a s com seus cursos. À s e m e l h a n ç a d a s b o l s a s de i n i c i a _
ção c i e n t í f i c a do C N P q , a c o n c e s s ã o d a s b o l s a s dependeria de apro_
v a ç ã o , por o r g a n i s m o p r o p r i o da r e s p e c t i v a IES, de p r o j e t o ou
plano de t r a b a l h o apresentado p e l o a l u n o ou grupo de a l u n o s . 0
d e s e n v o l v i m e n t o do t r a b a l h o e a a v a l i a ç ã o de seu r e s u l t a d o fica_
rão s u j e i t o s a v e r i f i c a ç ã o de d o c e n t e s .

( i i i ) C r i a ç ã o , nas IES, de " b a n c o de e s t á g i o s " que ha_


b i l i t e m os a l u n o s a obter v a g a s nas empresas ou i n s t i t u i ç õ e s pú-
b l i c a s e privadas. As u n i v e r s i d a d e s d e v e m u s a r sua i n f l u ê n c i a ,
j u n t o a tais e m p r e s a s ou i n s t i t u i ç õ e s , no s e n t i d o de a s s e g u r a r
uma cota m í n i m a de e s t a g i á r i o s .
III. R e s t a u r a n t e s e r e s i d e n c i a s u n i v e r s i t a r i a s

Os r e s t a u r a n t e s — u t i l i z a d o s por e s t u d a n t e s , f u n c i o n ^
rios e professores — p r e s t a m i m p o r t a n t e s e r v i ç o a c o m u n i d a d e
u n i v e r s i t á r i a . 0 mesmo p o d e ser d i t o das r e s i d e n c i a s e s t u d a n t i s
m a n t i d a s por IES p u b l i c a s , e s p e c i a l m e n t e ú t e i s em u n i v e r s i d a d e s
que a c o l h e m a l u n o s p r o v e n i e n t e s de fora. P a r a d e t e r m i n a d a f a i x a
de a l u n o s carentes, t a i s s e r v i ç o s a s s i t e n c i a i s c o n s t i t u e m condi-
çâo i m p r e s c i n d í v e l p a r a a f r e q u ê n c i a e o r e n d i m e n t o e s c o l a r .

São r e c o n h e c i d a s , p o r e m , a p r e c a r i e d a d e de a l g u n s des-
ses serviços, t a n t o p e l a a u s ê n c i a de s a t i s f a t ó r i a m a n u t e n ç ã o e
a m p l i a ç ã o q u a n t o p e l a i n s u f i c i ê n c i a de recursos f i n a n c e i r o s a
eles a t r i b u í d o s .

Em face d i s s o , a C o m i s s ã o r e c o m e n d a :

(i) A a l o c a ç ã o de r e c u r s o s s u f i c i e n t e s para o c u s t e i o de
um plano n a c i o n a l de recuperação e c o n s e r v a ç ã o de p r e d i o s de
refeitórios e residências e s t u d a n t i s e criação desses serviços
em IES p ú b l i c a s que a i n d a não os p o s s u a m .

(ii) M a n u t e n ç ã o de um s i s t e m a de preços s u b s i d i a d o s e
d i f e r e n c i a d o s em r e f e i t ó r i o s , de a c o r d o c o m o nível de c a r ê n c i a
dos u n i v e r s i t á r i o s .

IV. P r o m o ç ã o do e s p o r t e , da arte e da c u l t u r a

0 e s p o r t e u n i v e r s i t á r i o d e v e ter como meta o e s t í m u l o à


i n t e g r a ç ã o , ao l a z e r e ao a p r i m o r a m e n t o da c o n d i ç ã o f í s i c a , e não
a s i m p l e s c o m p e t i ç ã o ou a b u s c a de re c ordes. Embora a E d u c a - ção
F í s i c a c o n s t i t u a p a r t e o b r i g a t ó r i a dos c u r r í c u l o s , não são
freqüentes os p a r q u e s e i n s t a l a ç õ e s e s p o r t i v a s que s a t i s f a ç a m
p l e n a m e n t e as suas f i n a l i d a d e s .
C o n s e q ü e n t e m e n t e , a C o m i s s ã o s uge re:

(i) A e f e t i v a existência, n a s IES, de i n s t a l a ç õ e s —


p r ó p r i a s ou o b j e t o de c o n v ê n i o — q u e p e r m i t a m a p r á t i c a r e g u l a r
de v á r i a s m o d a l i d a d e s e s p o r t i v a s .

(ii) A r e c u p e r a ç ã o d o s a t u a i s p a r q u e s e s p o r t i v o s , que se
r e v e l a r e m d e f i c i e n t e s ou m a l c o n s e r v a d o s .

( i i i ) A d e s t i n a ç ã o de p a r c e l a dos r e c u r s o s a r r e c a d a d o s
pela L o t e r i a E s p o r t i v a p a r a o f o m e n t o do e s p o r t e u n i v e r s i t á r i o .

I n e x i s t e também uma p o l í t i c a de i n c e n t i v o às a t i v i d a d e s
a r t í s t i c a s e c u l t u r a i s d o s e s t u d a n t e s . Os e v e n t o s c u l t u r a i s , nas
IES, são e s p o r á d i c o s e as p o t e n c i a l i d a d e s a r t í s t i c a s da j u v e n t u -
de, que não p a r t i c i p a d o s c u r s o s de arte, não são e s t i m u l a d a s .

Daí a C o m i s s ã o r e c o m e n d a r :

(i) A c r i a ç ã o de um p r o g r a m a n a c i o n a l de i n c e n t i v o às
a t i v i d a d e s c u l t u r a i s e a r t í s t i c a s dos e s t u d a n t e s das d i v e r s a s
IES. 0 programa d e v e ser de r e s p o n s a b i l i d a d e dos M i n i s t é r i o s da
E d u c a ç ã o e da C u l t u r a , com a p a r t i c i p a ç ã o de r e p r e s e n t a n t e s es-
t u d a n t i s em sua c o o r d e n a ç ã o .

(ii) A r e a l i z a ç ã o a n u a l de um e v e n t o n a c i o n a l expressi-
vô da p r o d u ç ã o a r t í s t i c o - c u l t u r a l d o s e s t u d a n t e s de cada E s t a d o ,
que, e m b o r a a s s e m e l h a d o s aos J o g o s U n i v e r s i t á r i o s B r a s i l e i r o s ,
não t e n h a c a r á t e r c o m p e t i t i v o . Sua o r g a n i z a ç ã o d e v e r á ser p a t r o -
cinada pelos M i n i s t e r i o s da Educação e da C u l t u r a , com a respon-
s a b i l i d a d e da e n t i d a d e n a c i o n a l r e p r e s e n t a t i v a dos estudan tes.

V. E n t i d a d e s e s t u d a n t i s e p a r t i c i p a ç ã o d i s c e n t e nos colegiados
nas IES

com o r e c o n h e c i m e n t o , em l e i , da U n i ã o N a c i o n a l de Es-
t u d a n t e s , de U n i õ e s E s t u d a n t i s , dos D i r e t ó r i o s C e n t r a i s e dos Cen-
tros Acadêmicos, foi satisfeita uma a s p i r a ç ã o máxima dos estu
dantes u n i v e r s i t á r i o s .

É mister, no entanto, que as entidades estudantis pos


sam dispor de meios materiais, que lhes permitam o exercicio ade
q u a d o de suas obrigações.

Por esse m o t i v o , a Comissão:

(i) Recomenda a i n c l u s ã o , no orçamento da FAE ou do òr-


gão i n c u m b i d o , no MEC, de atender a assuntos e st u d a n t i s de ní_
vel superior, de um item destinado a apoiar financeiramente en-
contros nacionais de estudantes, tais como o ECEM (medicina), o
ENED (direito), o SNEE (engenharia) e o E N E A (arquitetura).

(ii) Sugere que as IES contribuam para a manutenção das


sedes das respectivas entidades estudantis e apoi em
materialmen-te suas realizações.

A atual legislação já prevê a participação estudantil em


d i v e r s o s Órgãos colegiados. Entendeu a Comissão que a forma e a
proporção a ser a t r i b u í d a a essa representação deve ser es-
t a b e l e c i d a pelas IES, no exercicio de sua a u t o n o m i a , sem especi-
ficações pré-estabelecidas.

Em co nse qüên cia , a Comissão propõe a revogação do § 2º


do artigo 59 da Portaria M i n i s t e r i a l nº 1.104, de 31 de outubro
de 1º79, que estabelece em 1/5 do total dos membros dos c olegia_
dos o número m á x i m o de representantes estudantis.
13. PE S SO AL T É C N I C O - a d m i n i s t r a t i v o

A C o m i s s ã o r e c o n h e c e a i m p o r t â n c i a de v a l o r i z a ç ã o do
pessoal técnico-administrativo como c o n d i ç ã o de e f i c i ê n c i a dos
s e r v i d o r e s das u n i v e r s i d a d e s .

0 f u n c i o n a m e n t o p r o d u t i v o dos l a b o r a t ó r i o s e b i b l i o t e _
cas, a s s i m como de a t i v i d a d e s c o m p l e m e n t a r e s a que a u n i v e r s i d a - de
se d e d i q u e ( m u s e u s , t e a t r o s , e d i t o r a s e o u t r a s ) , r e c l a m a pes_ soal
e s p e c i a l i z a d o e a p t o ao d e s e m p e n h o c o m p e t e n t e de suas fun-çÕes.

De o u t r a p a r t e , a a u t o n o m i a da u n i v e r s i d a d e p r e s s u p õ e
a d i s p o n i b i l i d a d e de r e c u r s o s h u m a n o s c a p a z e s de p r o p i c i a r uma
g e s t ã o e f i c i e n t e de s u a s a t i v i d a d e s - m e i o (orçamento, pessoal, ma_
t e r i a l , s e r v i ç o s g e r a i s ) , s e g u n d o os p r o g r a m a s e objetivos a que se
propõe.

A a d m i n i s t r a ç ã o u n i v e r s i t á r i a , por sua n a t u r e z a especi-


al, e x i g e a p t i d õ e s e c o n h e c i m e n t o s q u e não se c o n f u n d e m com os
r e q u i s i t o s comuns da b u r o c r a c i a , p e l o q u e o p e s s o a l tecnico-ad-
m i n i s t r a t i v o das u n i v e r s i d a d e s d e v e m e r e c e r t r a t a m e n t o legal que se
c o m p a t i b i l i z e com s u a s p e c u l i a r i d a d e s .

Por esse m o t i v o , a C o m i s s ã o c o n s i d e r a r e c o m e n d á v e i s as
s e g u i n t e s p r o v i d ê n c i a s com r e s p e i t o ao p e s s o a l a d m i n i s t r a t i v o no
s e t or p ú b l i c o das i n s t i t u i ç õ e s de e n s i n o s u p e r i o r :

(i) I n s t i t u i ç ã o de um E s t a t u t o p r o p r i o que e s t a b e l e ç a
p r i n c í p i o s e normas q u e , i n d e p e n d e n t e m e n t e da n a t u r e z a a u t á r q u i -
ea ou f u n d a c i o n a l da i n s t i t u i ç ã o , f a ç a c e s s a r a atual d i s c r i m i -
nação entre p e s s o a l es ta tut ári o e t r a b a l h i s t a .

(ii) C r i a ç ã o , nas u n i v e r s i d a d e s , como Ó r g ã o de assess£


r a m e n t o à R e i t o r i a , p a r a e s t u d o s e p l a n e j a m e n t o no setor, de co-
m i s s õ e s p e r manentes de pessoal t é c n i c o - a d m i n i s t r a t i v o , com a par
t i c i p a ç ã o de r e p r e s e n t a n t e s d e s s a c a t e g o r i a f u n c i o n a l .
(iii) Implantação de sistemas de desenvolvimento de re
cursos humanos que atendam às necessidades dos serviços técni-
co-administrativos, tanto no que se refere as condições de in-
gresso e de progressão na carreira quanto ao estímulo para o a-
primoramento pessoal e funcional desses servidores (bolsas, act
xílios ou licenças para aperfeiçoamento profissional, períodos
sabáticos, etc.).

(iv) Adoção de programa semelhante ao PICD, que possi_


bilite aos servidores técnicos realizar cursos de mestrado e dou-
torado, em particular na área de Administração Universitária.

(v) Oferecimento de cursos de especialização e de aper-


feiçoamento visando à reciclagem do pessoal técnico e adminis-
trativo de nível superior, m é d i o e a u x i l i a r .

(vi) Realização de cursos supletivos de 1º e 2º graus


que completem a escolaridade básica dos servidores.

(vii) Criação de sistemas de intercambio universitário


mediante programas de estágios ou a adoção do regime de técni_
cos-visitantes .

(viii) Estímulo à permanência e integração dos servido-


res administrativos, sugerindo-se, entre outras medidas, o au-
mento progressivo de duração dos períodos de férias, por década
de tempo de serviço.
III

A N E X O
MEDIDAS DE EMERGENCIA

A Comissão, no início de seus trabalhos, d e c i d i u enca_


m i n h a r ao senhor M i n i s t r o da Educação, conforme r e l a t ó r i o parci_
al de 12 de junho de 1º85, sugestões que, embora versando proble_ mas
de natureza conjuntural, assumiam caráter agudo, reclamando
m e d i d a s de urgincia para a r e v i t a l i z a ç ã o da u n i v e r s i d a d e públi-
ea federal .

A desvalorização do professor e do servidor técnico-


a d m i n i s t r a t i v o das IES no que se refere a s a l á r i o s ; a crescen-te
perda de recursos or ça me n tá ri os para os p ro gr am as de manuten-ção e
in ve st im en to s; a restrita parcela de recursos conferida às
a t i v i d a d e s de pesquisa, pos-graduação e extensão; a proibição,
nos ú l t i m o s quatro anos, da expansão do q u a d r o de pessoal das IES
federais confirmam o contexto n e g a t i v o dessa realidade.

Mais crítica se torna essa situação com a política cen-


t r a l i z a d o r a , exercida tanto p e l o MEC como por seus órgãos de a_
poio, constrangendo o l i v r e exercício da a u t o n o m i a , que é ine_
rente às instituições universitárias, e cerceando a saudável prá-
tica de c r i a t i v i d a d e a que se proponham.

As seguintes medidas de emergência foram então indica_ das


:

a) Qu an t o ao regime orçamentário e financeiro:

(i) Concessão e liberação imediatas de credito suple_


mentar pl eit ead o pelas IES, p e r m i t i n d o - l h e s manter condignamen-
te seus compromissos e c u m p r i r suas vocações. Efe tiv a a p l i c a ç ã o
da Emenda João Calmon, quanto aos compromissos do MEC com a ma-
nutenção e desenvolvimento do ensino, a i n d a no exercício de 1º85,
i n d e p e n d e n t e m e n t e de recursos provenientes de outras fontes. Pa_
ra efeito desta a pl ic aç ão , seria i n d i s p e n s á v e l c o n s i d e r a r o or-
ç a m e n t o em e x e c u ç ã o e o e x c e s s o de a r r e c a d a ç ã o que v e n h a a exis_
tir.

(ii) Na e x p e c t a t i v a da i m p l e m e n t a ç ã o das m e d i d a s aci-ma,


seria necessário:

- a t e n d i m e n t o is s o l i c i t a ç õ e s i n s e r i d a s no "estudo so-
bre a s i t u a ç ã o f i n a n c e i r a das I E S federais", e n t r e g u e pelo Con selho
de R e i t o r e s ao M i n i s t r o da Educação em 30 de abril de 1º85, o b j e t i v a n d o
r e c u p e r a r , em v a l o r e s de 1º81, as d o t a ç õ e s em 0u_ tros C u s t e i o s e
C a p i t a l (OCC);

- c o n s i d e r a ç ã o , p e l o MEC, do d o c u m e n t o " V e r b a s para OU-


tros C u s t e i o s e C a p i t a l para as u n i v e r s i d a d e s F e d e r a i s em 1º85",
p r o d u z i d o pela A N D E S , em m a r ç o de 1º85 (este d o c u m e n t o , exami_
n a n d o a d e p r e c i a ç ã o dos r e c u r s o s destinados a e d u c a ç ã o s u p e r i o r ,
em p a s s a d o r e c e n t e , s u g e r e f a t o r e s de c o r r e ç ã o c o m p a t í v e i s com a
d e s v a l o r i z a ç ã o da m o e d a ) .

( i i i ) A d o ç ã o do p r i n c í p i o de d o t a ç ã o global, a p l i c a n - do-o
de i m e d i a t o na e l a b o r a ç ã o da proposta orçamentária para 1º86. A
d e f i n i ç ã o dos r e c u r s o s g l o b a i s — a s s i m a l o c a d o s — d e v e r i a ser
p r e c e d i d a por a m p l a c o n s u l t a no â m b i t o d a s IES, c a n a l i z a d a por
meio da S e c r e t a r i a de E d u c a ç ã o S u p e r i o r .

(iv) E x c l u s ã o das IES f e d e r a i s do r e g i m e i n s t i t u í d o pe_


lo D e c r e t o nº 86.795, de 28 de d e z e m b r o de 1981, l i b e r a n d o - a s para
r e a p l i c a r l i v r e m e n t e o s a l d o de p e s s o a l a p u r a d o em exercí-cios
a n t e r i o r e s e p e r m i t i n d o - l h e s a c o n t r a t a ç ã o de p e s s o a l do-c e n t e e
t é c n i c o - a d m i n i s t r a t i v o n e c e s s a r i o ao seu d e s e n v o l vimen-to.

(v) R e s t a u r a ç ã o do s i s t e m a de d e l e g a ç ã o de c o m p e t ê n c i a
para que as IES f e d e r a i s p o s s a m r e c o n h e c e r suas d í v i d a s classi-
f i c a d a s como " e x e r c í c i o s a n t e r i o r e s " .

b) Q u a n t o ao p e s s o a l d o c e n t e e t é c n i c o - a d m i n i s t r a t i v o :

(i) E q u i p a r a ç ã o dos s a l á r i o s e n t r e d o c e n t e s e s e r v i d o -
res t é c n i c o - a d m i n i s t r a t i v o s das IES a u t á r q u i c a s e f u n d a c i o n a i s ,
c o n c e d e n d o - s e a u m e n t o s d i f e r e n c i a d o s , de modo a c o r r i g i r os des
níveis e n t re i n s t i t u i ç õ e s mantidas pelo Governo Federal que de_
s e n v o l v e m t a r e f a s i d ê n t i c a s . P a r a t a n t o , foram s u g e r i d a s , den-tre
as m e d i d a s p o s s í v e i s , as s e g u i n t e s :

- concessão, a p a r t i r de 1º de j u l h o , de a u m e n t o dife_
r e n c i a d o s i g n i f i c a t i v o p a r a os p r o f e s s o r e s e s e r v i d o r e s a u t á r -
quicos ;

- estabelecimento de d a t a s - b a s e unificadas, em 1º de
s e t e m b r o e 1º de m a r ç o , p a r a a c o n c e s s ã o de r e a j u s t e s ou aumen-tos
salariais, tanto nas IES autárquicas quanto nas fundacionais,
a p l i c a n d o - s e esse c r i t e r i o a p a r t i r de 1º de s e t e m b r o de 1985, com
a c o r r e ç ã o na b a s e de 100% do I N P C e c o n c e s s ã o de um dife_ r e n c i a l
para as IES f u n d a c i o n a i s .

(ii) A c r é s c i m o s de um e x p r e s s i v o p e r c e n t u a l sobre a "Gra_


t i f i c a ç ã o de A p o i o à A t i v i d a d e de E n s i n o " a r e m u n e r a ç ã o dos ser-
v i d o r e s t é c n i c o - a d m i n i s t r a t i v o s das IES.

(iii) Restabelecimento de um s i s t e m a de i n c e n t i v o s di_


ferenciadores.

(iv) S u g e s t ã o no s e n t i d o de q u e o MEC procure, em en-


t e n d i m e n t o com o M i n i s t é r i o da A d m i n i s t r a ç ã o , a v a l o r i z a ç ã o do
p e ss o a l técnico-administrativo d as IES federais, objetivando as
seguintes m e d i d a s : (a) r e v i s ã o da p o l í t i c a de c o n c e s s ã o das gra_
t i fi c a ç õ e s de A p o i o a A t i v i d a d e de E n s i n o e A t i v i d a d e Técnico--
Administrativa; (b) revisão do reposicionamento e dos níveis
s a l a r i a i s das f u n ç õ e s DAS e D A I ; (c) r e g u l a r i z a ç ã o da s i t u a ç ã o do
pessoal integrante das Tabelas Especiais; (d) elaboração de
T a b e l a E s p e c i a l p a r a o p e s s o a l e s p e c i a l i z a d o , 1o t a d o nos C e n t r o s
de P r o c e s s a m e n t o de D a d o s .

c) A u t o n o m i a , b o l s a s de e s t u d o e h o s p i t a l u n i v e r s i t á r i o :

(i) R e t i r a d a do C o n g r e s s o Nacional, para r e e x a m e , do


projeto de lei que d i s p õ e sobre a a u t o n o m i a a d m i n i s t r a t i v a e fi_
n a n c e i r a das u n i v e r s i d a d e s F e d e r a i s .
(ii) G a r a n t i a e f e t i v a de recursos à C A P E S para e v i t a r
a t r a s o s no r e c e b i m e n t o de b o l s a s ao p e s s o a l i n s c r i t o nos progra_
mas de p ó s - g r a d u ç ã o , como vem a c o n t e c e n d o com f r e q u ê n c i a .

( i i i ) Início imediato, p e l o M i n i s t e r i o da Educação, de


programa específico v i s a n d o a r e c u p e r a ç ã o e m a n u t e n ç ã o dos campi
u n i v e r s i tários.

(iv) E l a b o r a ç ã o e i m p l a n t a ç ã o , com a m a i o r b r e v i d a d e ,
de um programa de a p o i o f i n a n c e i r o e a d m i n i s t r a t i v o aos h o s p i _
tais u n i v e r s i t á r i o s , de modo a g a r a n t i r - l h e s f u n c i o n a m e n t o regu_
lar para os fins do e n s i n o e dos s e r v i ç o s p r e s t a d o s a comunida_ de.
IV

DECLARAÇÕES DE VOTO
1. DOM LOURENÇO DE ALMEIDA PRADO, OSB

Não posso subscrever o documento conclusivo de nossa


Comissão, sem declarar que o faço com algumas restrições, em
matéria de suma significação.
Antes, porém, de singularizar alguns pontos de diver-
gências, quero exprimir o meu aplauso à sintese realizada pelo
redator da exposição introdutória que, de maneira séria e ho-
nesta, conseguiu, compendiando tudo o que foi dito, debatido e
aprovado pelo grupo, dar unidade e corpo ao nosso trabalho.
Tratando-se de uma elaboração em grupo, cada um de nós gosta-
ria, certamente, de ter uma formulação mais afinada com o seu
pensamento próprio. De minha parte, como fiz sentir desde a
reunião inicial, gostaria que tivéssemos partido de uma visão
global do ensino superior, com a definição de suas tarefas e
objetivos, seguida de uma indicação dos diversos tipos de ins-
tituições, que o integram, para examinar, depois disso, os di-
versos problemas e aspectos particulares. O aplauso à Introdu-
ção fundamenta-se no reconhecimento de que ela conseguiu reco-
lher tudo que examinamos, dando-lhe ordem e corpo.
Passando às divergências, elas se tornam mais vivas
em relação a algumas recomendações especificas, cuja filosofia
subjacente, como exprimi em trabalho apresentado à Subcomissão
especifica - "Democratização do Ensino e Conexão do 1º e 2º
Graus com o 39" - não acompanho. Essas discordências se concre-
tizam:
1. No uso meio equivoco do verbo democratizar e seus
derivados, confundindo votar com participar, condicionando a
liberdade democrática a uma interferência igualitarista de to-
dos os segmentos na formação do governo e órgãos do governo, o
que redunda num grau de comunitarismo ou assembleísmo, cuja
conseqüência é, a meu ver, instabilizar a autoridade, sem lucro
para a vida livre da pessoa humana, objetivo fundamental de uma
sociedade democrática.
2. Essa tendência manifesta-se mais fortemente quando
se sugerem "procedimentos que deverão garantir a participação
das várias categorias que compõem a comunidade universitária"
para a escolha dos dirigentes tanto nas universidades públicas
quanto nas privadas. Ora a significação peculiar da livre ini-
ciativa em educação está em ser a oferta de uma proposta educa-
cional por parte de um grupo que não é, como o Estado, sujeito
da obrigação de dar escola. Essa oferta pode ser aceita ou re-
cusada pelos possíveis candidatos, mas não pode ser desviada do
objetivo fixado ao instituir-se.
3. A matéria retorna no capitulo sobre "Ensino Públi-
co e Ensino Privado" - quando se pretende uma "autonomia" da
escola em relação à mantenedora, fazendo-se menção explícita
das escolas confessionais, cuja "filosofia" (entre aspas no
texto) poderia criar dificuldades. A Comunidade acadêmica teria
o direito de inverter ou subverter essa filosofia: ter-se-ia
uma universidade católica, fundada e mantida pela comunidade
católica, conduzida a ensinar marxismo ou coisa semelhante. É a
própria negação da iniciativa livre.
4. Nesse contexto, no que concerne à aplicação do di-
nheiro público na iniciativa privada é, a nosso ver, estatizan-
te a idéia de que essa aplicação é apenas uma concessão tolerá-
vel e, ainda mais, geradora da dependência. A colocação identi-
fica Estado e Sociedade Civil. O Estado é uma parte desta, parte
encarregada do governo. 0 dinheiro não é do Estado, mas do
público. O emprego do dinheiro em educação - bolsa ou apoio à
escola privada é a entrega do dinheiro ao seu dono, é um ser-
viço devido pelo Estado administrador a quem lhe pertence. O
dinheiro público empregado numa escola que o público deseja,
pública ou particular, não é favorecimento paternalista. O Es-
tado deve a escola e a variedade escolar.
5. Discordo também da feição que se quer dar ao Con-
selho Federal de Educação, que nos termos propostos passa a ser
um órgão quase exclusivo do ensino superior. Discordo, também,
do caminho eleitoral fixado para a escolha de seus membros.
Além de não conseguir ser representativo, parece-me quase in-
viável. Meu voto é por um Conselho Federal como órgão universal
de Educação.
Concluindo, reconheço que minhas restrições ou, até,
oposições a sugestões do documento não puderam ser formuladas
em votos mais precisos, porque o tipo do documento (Relatório)
não facilita esse tipo de pronunciamento. Creio ter sido claro
quanto possível, sem exagerar demais o uso do espaço.
2. EDUARDO DE LAMÔNICA FREIRE
FERNANDO JORGE LESSA SARMENTO
JAIR PEREIRA DOS SANTOS
AMILCAR ALVES TUPIASSU
FRANCISCO JAVIER ALFAYA
CARLOS NELSON COUTINHO MARLY
MOISÉS SILVA ARAÚJO
CLEMENTINO FRAGA FILHO

Politica de Organização do corpo docente e técnico-administra-


tivo

É indiscutível que a questão de valorização do servi-


dor universitário - quer docente, quer técnico-administrativo -
é importante condição para assegurar a melhoria da qualidade
dos programas de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos pe-
las IES, tanto públicas como privadas.
A inexistência de um tratamento equitativo para todas
as IES federais, autárquicas e fundacionais, no que se refere
às carreiras docente e técnico-administrativa, além de injusta,
provoca instabilidade nas relações de trabalho, refletindo-se
na baixa produtividade desses servidores e em freqüentes crises
que sempre desaguam em reivindicações de equivalência. Esta si-
tuação agrava-se, sobretudo, no âmbito das IES fundacionais; há
pouca identidade entre elas no que se relaciona a esta questão
e as diferenças observadas ocorreram de maneira aleatória e sem
critério.
Na questão do Plano de Carreira, insere-se a delicada
situação dos salários desses servidores universitários. Além da
desigualdade existente entre os salários dos servidores autár-
quicos e fundacionais, há uma discriminatória diferenciação dos
salários pagos por estas últimas entre si.
O estabelecimento da isonomia salarial para os cargos
existentes nas IES federais, a partir de pisos a serem estabe-
lecidos em cada classe da carreira, longe de ferir o princípio
da autonomia universitária (que só será alcançado pelo exerci-
cio de responsabilidade social e da competência da instituição)
reforça um dos pilares do direito trabalhista definido na le-
gislação, o qual assegura que, por meio de uma mesma fonte pa-
gadora, deve atribuir-se salário equivalente para o mesmo tra-
balho.
O prestigiamento do mérito pode ser reforçado não só
pela sua contemplação no bojo do Plano de Cargos e Salários, no
que se refira a critérios de promoção, como pela concessão de
incentivos salariais diferenciadores para aqueles servidores
que contribuam, efetivamente, para o desenvolvimento científi-
co, tecnológico, artístico e cultural das IES.
No que se refere à dignidade profissional dos docen-
tes de IES estaduais, municipais e privadas, é inconcebível que
uma grande parte destes professores sejam tratados à margem do
quadro funcional permanente dessas instituições, percebendo re-
tribuições por hora-aula ministrada.
Recomendações :
a) No que se refere ao Quadro Docente
- Todas as IES deverão possuir um plano nacional de
carreira, compreendendo classes iniciais e terminais comuns às
IES públicas e particulares. Será facultado às IES estaduais,
municipais e particulares, respeitadas as classes comuns, in-
cluir subclasses ou outras classes intermediárias nos seus pla-
nos de carreira. Todas as IES federais deverão possuir um plano
único, válido para todo o país.
- 0 ingresso do docente, tanto na carreira inicial
quanto na terminal, nas IES públicas e nas particulares, será
feito apenas por concurso público de provas e títulos, cujo re-
gulamento será definido pelas instituições.
- As IES, tanto públicas quanto particulares, deverão
ter autonomia para estabelecer os critérios de ascensão de uma
para outra classe. Na determinação dos critérios de ascensão
funcional, as IES deverão considerar, além da titulação dos do-
centes, também a sua produção intelectual, suas atividades di-
dáticas, de pesquisa, de extensão e coordenação e administração
de ensino. O tempo de serviço não deverá ser incluido entre es-
ses critérios.
- O corpo docente das IES será constituido pelos pro-
fessores integrantes da carreira de magistério e, complementar-
mente e por tempo limitado, por professores não integrantes da
carreira de magistério, substitutos, conferencistas, consulto-
res ou visitantes. Nas IES federais, os professores integrantes
da carreira de magistério deverão ser contratados de acordo com
o regime de 20 horas semanais de trabalho ou o de dedicação ex-
clusiva. Quanto ao regime de 40 horas deverá ser revisto, con-
sideradas as peculiaridades de cada instituição e das diversas
áreas de conhecimento que as compõem. Os professores não inte-
grantes da carreira de magistério poderão ser contratados por
12 ou 20 horas semanais ou dedicação exclusiva.
- Serão considerados no estabelecimento dos salários
dos docentes: (a) a classe; (b) o tempo de serviço; e (c) o re-
gime de trabalho. Para a classe inicial, deverá ser fixado um
piso nacional, obrigatório para todas as IES, públicas ou par-
ticulares. As IES federais terão um patamar único nacional para
cada classe, por regime de trabalho, a que se acrescentará per-
centual único por tempo de serviço e incentivos de produção
científica, tecnológica, artística e cultural., cujos critérios
de concessão serão definidos através de parâmetros a serem es-
tabelecidos pelos Conselhos de Ensino e Pesquisa, ou assemelha-
dos, de cada IES.
b) No que se refere ao Quadro Técnico-administrativo.

- Instituir um plano único de cargos e salários para


todas as universidades federais, de modo a garantir um piso sa
larial digno, a isonomia salarial, e a oferecer maiores possi
bilidades de movimentação de pessoal;
- Recomendar às IES que busquem, através de seus es-
tatutos e regimentos, prestigiar o pessoal com formação espe-
cializada, particularmente nas áreas de Planejamento Universi-
tário, Administração Acadêmica, Relações com Estudantes, Admi-
nistração de Pesquisa e Administração de Atividades de Exten-
são, buscando o preenchimento de Cargos e Funções na área Admi-
nistrativa e de Planejamento da Administração Superior da
universidade, preferencialmente com servidores qualificados.

- Estimular as IES a criarem, no corpo dos regulamen-


tos da politica do pessoal técnico-administrativo, instrumentos
de avaliação que busquem premiar e incrementar a qualidade do
desempenho funcional e a responsabilidade do compromisso assu-
mido com a instituição.
- Desvincular do Ministério da Administração a polí-
tica de pessoal das universidades, vinculando-a ao MEC.
3. PAULO ROSAS

Subsídios para uma nova política de carreira do pessoal docente


das IES

A) Considerações sobre o Programa

1. As universidades devem ter autonomia para organi-


zar e dirigir seus cursos, decidir e dar cumprimento a seus pro
gramas de pesquisa e de extensão, decidir quanto à utilização
dos recursos orçamentários disponíveis e à captação de recursos
de outras fontes que a comunidade acadêmica considerar de inte-
resse para a instituição. Em suma, administrar-se a si mesmas,
sem a tutela dos que as não conhecem nem vivem seus problemas
no dia-a-dia.
No momento presente é igualmente necessário que se
instaure e se estabilize o processo de democratização interna
nas IES, de modo que os três segmentos da comunidade (professo-
res, estudantes e servidores técnico-administrativos) partici-
pem concretamente, não apenas da escolha de seus dirigentes mas,
por meio de colegiados próprios e legítimos, das dicisões cole-
tivas que devem servir de base para a prática dos executivos.
Que todos tenham acesso à informação. E que a democratização
interna seja acompanhada do exercício pelas IES de sua função
social; do reconhecimento de lhes caber parte da responsabilida-
de pela qualidade do ensino de 1º e 2º graus e, portanto, pelo
nível dos alunos que as alcançam; da aceitação de ser legítimo
que a sociedade possa avaliar e controlar seus resultados,a par
tir do conhecimento público de suas práticas.
Contudo, a autonomia e a democratização devem ser
exercidas em referência a um certo número de "normas mínimas or
denadoras", objeto de legislação específica, que assegure a uni
dade de estrutura do ensino superior, a nivel nacional. Não se
rã substituindo uma estrutura rígida e autoritária por uma nova
estrutura, "tão rìgida e autoritária quanto a precedente", ape
nas de modelo diferente, que se estará em bom caminho para pro
porcionar ao ensino superior brasileiro os meios de superação
de suas atuais insuficiências. Mas é preciso estar atento para
que a idéia de autonomia não oculte, no fundo, um novo estilo
de liberalismo. Um "laissez faire, laissez passer" enganador,
que somente favoreceria aos que já detêm força e poder,
estio-lando em seu nascedouro a criatividade dos que não contam
cora os mesmos recursos.
Longe de representar igualdade de oportunidade, um li
beralismo tal agravaria as diferenças, acentuaria as distan
cias, comprometeria o projeto de uma nova politica para o ensi-
no superior brasileiro, liberando o Governo de qualquer
respon-sabilidade ou mesmo co-responsabilidade pelo êxito ou
fracasso do processo.
Sem afetar a autonomia que legitimamente deve ser pra
ticada no interior das IES, nem o processo de democratização
interna, sem o qual a autonomia é uma ilusão, mas recusando a
falsa autonomia do liberalismo, defendemos que a definição de
uma política de carreira e valorização do pessoal docente terá
necessáriamente de se apoiar em um conjunto de normas nacio-
nais, mínimas para não comprometer a especificidade de cada
ex-periência, mas suficientes para reduzir a desigualdade de
opor-tunidade de crescimento pessoal de cada docente,
independente-mente da localização no mapa da instituição a que
se vincule.
Por conseguinte, que legislação específica estabeleça
normas ordenadoras de uma carreira única para o pessoal docente
das IES, em particular dos que integram as entidades federais.
Daí nossa divergência da maioria dos membros da Comissão
insti-tuída pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da
República, para propor subsídios para uma nova política do
ensino superior bra-sileiro. E a decisão de apresentarmos,
como o fazemos por meio desta proposta, ura voto era separado
sobre a matéria.
2. Em todos os países desenvolvidos, há centros de for
mação universitaria e de pesquisa científica que se salientam
e se impõem nacional ou internacionalmente, pela qualidade de
sua produção intelectual ou de sua ação pedagógica. São "cen-
tros de excelência" em áreas específicas do saber ou da criação
artística, em suas diversas modalidades.
3. No caso brasileiro e no momento atual, não há por
que inibir o florescimento desses centros, onde quer que se
constituam e seja qual for a área que focalizem, sem prejuízo
das prioridades nacionais. Muito ao contrário. É legítimo que
os grupos que já comprovaram seu potencial acadêmico, tanto no
que tange à qualidade do ensino, quanto da pesquisa, da
criati-vidade, da extensão, recebam apoio necessário a seu
crescimento constante.
Não obstante, seria um equívoco julgar que o deplora
vel estado em que se encontra o ensino superior brasileiro pode
ria ser superado com a concentração dos recursos disponíveis,
humanos, materiais e financeiros, em benefício exclusivamente
daqueles centros e o conseqüente sacrifício dos que se encon-
tram fora do círculo de exceção. Que o favorecimento dos que já
comprovaram ter mérito não represente obstáculo ao surgimento
e à afirmação dos que, por qualquer motivo, ainda não puderam
comprovar o mérito que possuem. Que se assegure a todos os
cen-tros, independentemente da região em que acaso estejam
localiza-dos, e da área do conhecimento que tratem, igualdade
de condi-ções quanto ao acesso aos meios que possibilitem sua
emergência e desenvolvimento.
Isto já foi de certo modo admitido pela Comissão. Mas en
tendemos que a igualdade de oportunidades deve ir mais longe do
que a concessão de auxílios suplementares a casos individuais
ou a grupos. Deve partir de ura plano de carreira com
referên-cias nacionais uniformes e, no caso das IES federais,
de um pla-no único de carreira e de uma política salarial
também única, isonômica para categorias docentes equivalentes em
todo o país.
4. É certamente um erro atribuir-se aos percalços da
carreira e do salário do pessoal docente - e também do pessoal
técnico-administrativo - a causa única das deficiências das IES.
Mas é pelo menos ingênuo subestimar os efeitos psico-
lógicos, a desestimulação decorrente da ausência de uma
políti-ea de pessoal que valorize efetivamente o trabalho
acadêmico.
A questão é complexa. Há nuanças que distinguem o con
trato que vincula o professor às IES públicas (federais,
estadu-ais, municipais) e às IES particulares. E ê preciso
estabelecer as devidas distinções e interrelações entre a
carreira e o salá-rio.
Sem descermos a pormenores que extrapolariam a finali-
dade desta Comissão, apresentaremos a seguir duas séries de re_
comendações. A primeira concerne à constituição do corpo
docen-te das IES, princípios normatizadores da carreira,
ingresso e ascensão funcional. A segunda, à política salarial.
Nos dois ca-sos, sempre distinguindo o que deve ser aplicado
em comum a to das as IES e o que deve caber especificamente às
instituições federais, estaduais, municipais e particulares.

B) Recomendações

B1) Quanto à política de carreira docente

a) O corpo docente das IES deve ser constituído pelos


professores integrantes da carreira de magistério e,
complemen-tarmente e por tempo limitado, por professores
visitantes, não integrantes da carreira de magistério. Nas IES
federais, os pro fessores integrantes da carreira de
magistério deverão ser con tratados de acordo com o regime de
20 horas semanais de traba lho ou de dedicação exclusiva. Os
professores não integrantes da carreira de magistério poderão
ser contratados por 12 ou 20 horas semanais de trabalho ou de
dedicação exclusiva. Os docen-tes vinculados às IES estaduais,
municipais ou particulares
poderão ser contratados de acordo cora diferentes regimes, vedan
do-se, contudo, a contratação por hora-aula.
b) Que todas as IES se submetam a ura plano nacional
de carreira, compreendendo classes inicial e terminal comuns às
IES públicas e particulares. As IES federais, tanto fundacio-
nais quanto autárquicas, deverão submeter-se a um plano único,
com classes e nomenclaturas uniformes, válido para todo o país.

c) No estabelecimento da carreira docente, tanto nas


IES federais, quanto nas estaduais, municipais e particulares,
respeitadas as peculiaridades de cada uma, serão claramente de_
finidas as atribuições comuns a todas as classes e as específi-
cas de cada uma em particular, em especial no que concerne à
pesquisa. Entretanto, nenhum docente integrante da carreira de
magistério, independentemente da classe que ocupe, deverá ter
cerceado seu direito de participar concretamente da administra
ção acadêmica, seja como representante de sua categoria, se pa
ra tanto for eleito por seus pares, seja no exercício de cargo
executivo, de acordo cora o que determinar o Estatuto da
entida-de que integre.

d) 0 ingresso na carreira docente, tanto nas IES pú-


blicas quanto nas particulares, será feito apenas por concurso
público. Admite-se que esse ingresso poderá se dar em qualquer
classe da carreira, de acordo com as exigências de titulação e
qualificação do candidato. As IES terão autonomia para decidi-
rem quanto à forma de realização dos concursos.

e) Tanto as IES públicas quanto as particulares deve


rão ter autonomia para estabelecerem os critérios de ascensão
de uma para outra classe. Na determinação dos critérios de as
censão funcional, que as IES considerem não apenas a titulação
dos docentes, mas primordialmente sua produção intelectual,
suas atividades didáticas, de pesquisa, de extensão e de admi-
nistração acadêmica, todas elas concretamente valorizadas. Em
nenhum caso, entretanto, o tempo de serviço poderá ser incluído
entre esses critérios.
B2) Quanto à política salarial

a) No estabelecimento dos salários dos docentes, que


sejam considerados: a) a classe; b) o tempo de serviço; c) o re
gime de trabalho. Para as classes inicial e terminal deverá ser
fixado um piso nacional, obrigatório como valor salarial mínimo
para todas as IES, públicas ou particulares.
b) No que se refere especificamente às IES federais:

* Devera ser instituída a isonomia salarial. Todas as


IES federais, tanto fundacionais quanto autárquicas, terão um
patamar salarial único nacional para cada classe, por regime de
trabalho, a que se acrescentará percentual também único por tem
po de serviço.

* Legislação própria deverá definir com clareza os


ca-sos em que os docentes contratados em regime de dedicação
exclu siva poderão perceber proventos de outras fontes, tais
como:
(a) direitos autorais; (b) direitos de reprodução industrial
por descobertas ou inventos; (c) gratificações, jetons ou ca-
chês pela realização de conferências, bem como pela participa
ção de atividades artísticas, desde que promovidas por organiza.
ções diferentes daquela a que se encontrem vinculados; (d) gra-
tificações pelo exercício de cargos de direção acadêmica;
(e) gratificações ou jetons pela participação de conselhos ou
colegiados externos à entidade que integrem; (f) ou ainda pela
participação de programas desenvolvidos em colaboração ou
convê-nio entre a entidade e outras organizações, conforme
recomenda ções d 1,2 , 3, já aprovadas pela Comissão quanto à
pesquisa e à pós-graduação.

* 0 MEC deverá estabelecer mecanismos próprios ou em


cooperação com a Receita Federal, cora a finalidade de garantir
o cumprimento das restrições impostas pela dedicação exclusiva.

* 0 MEC deverá estabelecer mecanismos que permitam


aos atuais ocupantes de cargos docentes contratados conforme os
regimes de 20 horas, tempo integral (40 horas) e dedicação
exclusiva, sem prejuízo dos direitos contratuais adquiridos, o£
tarem por um dos regimes aqui propostos: 20 horas semanais de
trabalho ou dedicação exclusiva. Serão igualmente estabelecidos
pelo MEC mecanismos que garantam compatibilização entre os di-
reitos adquiridos pelos docentes que acumulem cargos na própria
universidade ou fora dela e os regimes de trabalho que lhes se_
rão oferecidos.
* Isonomia salarial proposta para os docentes devera
igualmente beneficiar os servidores técnico-administrativos vin
culados às IES federais, tanto autárquicas quanto fundacionais.

* Na definição da política salarial dos docentes das


IES federais, tanto quanto dos servidores técnico-
administrati-vos, deverá ser assegurada sua aposentadoria
integral.
4. ROMEU RITTER DOS REIS

1) universidades e IES Isoladas

Infundada e leonina é a sugestão de submeter as IES


isoladas a um "mandato universitário", o que elidiria de todo a
autonomia tão insistentemente apregoada e defendida no seio da
Comissão.
É patente a inadequação das conclusões e propostas
subsumidas no item relativo a - "universidades e Instituições
Isoladas de Ensino".
0 documento, neste aspecto, desconhece as determinan-
tes que condicionaram, até mesmo no âmbito do ensino público, a
existência de estabelecimentos de ensino superior isolados, an-
tes mesmo do surgimento da universidade brasileira, que imerge-
apenas no século XX. Peculariedade brasileira, eis que a colo-
nização hispânica transplanta a universidade para as suas nas-
centes coloniais, a partir do século XVI, em Lima e Córdoba, no
século XVII.
0 problema das IES isoladas não se aparta, em seus
aspectos positivos e negativos, das agruras por que passam as
universidades brasileiras. É inegável que a tradição de ensino
no Brasil não vincula mais ao clássico beletrismo bacharelesco
o expressivo contingente de IES isoladas.
País continental, historicamente de débil tradição
universitária, avaro na destinação de recursos orçamentários em
relação à faina educacional, imerso em contradições regionais
que desaguam na agressiva concentração e disparidades econômi-
cas (apenas dois Estados da Federação detêm 84% do produto in-
terno bruto), dizemos, não se pode pensar na elisão do ensino
isolado, pois é ele o fruto dos entraves materiais que assolam
a educação brasileira, o que leva, como refere o documento, a
que aqueles represente 70% dos estabelecimentos/superiores no
Pais.
Tanto ao nivel público, quanto no privado, é mate-
rialmente impossível redirecionar o ensino superior no País
abstraindo as IES isoladas. São a resposta à debilidade da ini-
ciativa oficialista, como também a contratação de que por im-
possibilidades materiais a rede privada não pode erigir centros
universitários.
Por outro lado, há que se compreender que o fenômeno
indica uma resposta realista às exigências do expansionismo in-
dustrializante e o seu corolário, ou seja, a exigência de um
profissionalismo cientifico. É neste aspecto que vão se expan-
dindo as diferenças qualitativas no ensino superior e, particu-
larmente, em suas IES isoladas. Correspondem, de resto, ao
grande desenvolvimento e contrastes da sociedade com suas limi-
tações .
Certamente, hoje já não se detecta a realidade que em
1º58 o Prof. Roberto Moreira delineava em responsável estudo
sobre a educação superior brasileira. Dos 977 cursos superio-
res, suas matrículas destinavam, aos cursos de direito, filoso-
fia e letras, 47%, engenharia, 17%, economia e contabilidade,
7%. Ê inegável que tais aspectos, hoje, sofreram visível muta-
ção.
As IES isoladas são, de certa forma, resposta às exi-
gências de modernização e setorialização de potencialidades
econômicas emergentes. Resposta ocorrente na Europa e na Améri-
ca, onde os centros universitários são mais adequadamente es-
truturados.
No plano da educação superior, seu diagnóstico de de-
sempenho não difere, qualitativamente, dos centros universitá-
rios clássicos em nosso País.
Vincular medidas corretivas em relação às IES isola-
das, deslocando o pólo de controle do Poder Público para o âm-
bito das universidades, é, no mínimo, além de perspectiva buro-
cratizante esdrúxula, negar toda uma busca de autonomia cres-
cente para o ensino superior. Isto para não aludir às inevitá-
veis repercussões legais e institucionais.
Ora, sabido é que as instituições particulares do en-
sino superior isolado se vinculam a instituições mantenedoras
dos mais variados credos e confissões religiosas, com filoso-
fias educacionais e orientações extremamente diversificadas.
Como compatibilizar o controle destas IES, por universidades
desvinculadas das filosofias e visões educacionais peculiares e
especificas de tais organizações? Absurda tal pretensão.
Tratando-se de organizar as IES isoladas, como eludir
aspectos concorrentes que, como conseqüência inarredável opo-
riam fiscalizados e fiscalizadores?
com efeito, as eventuais correções e funções de con-
trole, nestes casos, não podem, à evidência, ser retiradas do
Estado, porque condição mesma de imparcialidade e laicismo pre-
visível, o que, enfim, merece acolhida constitucional.
Neste particular aspecto, o documento peca por con-
tundente irrealismo de sua proposta, para não se aludir, ainda,
à inafastável inconstitucionalidade subjacente.
Importa ser mantido o sistema em voga, aprimorando-o,
ou seja, deixando a supervisão das IES isoladas a cargos das
DEMECs.

2) Mecanismos de Financiamento

Preocupa-se todo governo sério e consciente com uma gestão


financeira produtiva e eficaz dos seus órgãos.
Muito mais se espera, nesse campo, dos estabelecimentos públicos
de ensino, pois as falhas e ineficiências se refletirão sobre as novas gerações, a
quem caberá assumir a direção dos negócios dó estado e das empresas
particulares.
O trabalho - "uma Contribuição da Escola Particular Mineira",
distribuído à Comissão, de competente e conhecido educador, contém uma
sugestão valiosíssima, que deve ser posta em evidência.
"Será que não haverá mesmo um excesso de ociosidade
principalmente nos quadros docentes dessas universidades, au-
tárquicas ou fundacionais? Não seria difícil listar uma relação
surpreendente de professores de "dedicação exclusiva" exercendo
outras atividades, não dando aulas, não fazendo pesquisa (ou
fazendo "pesquisas" sobre matérias mais que descobertas...),
gastando o tempo no exercicio de posições em discutíveis conse-
lhos, comissões ou grupos de trabalho, etc. etc. Hoje, em tais
situações, são surpreendidos até os numerosíssimos "auxiliares
de ensino", contratados para dar as aulas que os "adjuntos" ou
os "titulares" não dão e que eles também acabam conseguindo não
ministrar!
"0 quadro descrito, aparentemente fantasioso, merece-
ria uma averiguação muito séria. E de preferência empreendido
por auditorias externas. Do contrário, o sentido "corporativis-
ta" acabaria por esconder a realidade. E que não se viesse com
alegação da malsinada "autonomia universitária", em nome da
qual os cofres da união têm pago tão vultuosas e questionáveis
despesas. Afinal, quem paga tem o direito de saber em que está
sendo gasto o que sai do seu bolso pagador. E as surpresas, se-
guramente, não deixariam esses grupos auditores externos sem
ter o que apresentar. E, note-se, não se está falando aqui se-
não de problemas de má administração, que torna mais caros os
custos. Na empresa privada, seja ela escola ou outra qualquer,
há geralmente, bem melhor gerenciamentos, e maior racionalida-
de. Seria licito esperar-se que, pelo menos nas universidades,
a aplicação do dinheiro público fosse considerada com mais pró-
prios critérios, de modo a fazer com que cada cruzeiro aplicado
correspondesse a um serviço efetivamente prestado ou à remune-
ração de atividades rigorosamente produtivas, ainda que em ter-
mos intelectuais. com medidas bastante seguras, nessa questão,
até seria bem possível que o resultado da racionalização resul-
tasse em possibilidade de melhor remuneração, tantas vezes re-
clamada. "
Está aí uma forma eficaz de implementar a eficiência
das IES públicas, de sorte que o dinheiro dos contribuintes,
que é sagrado, não seja gasto perdulariamente e sem objetivida-
de.
uma comissão externa de auditores, eleitos pela comu-
nidade dos contribuintes, teria a seu cargo a verificação e a
análise dos gastos e da produtividade, se é que, de fato, pre-
tendemos um Brasil e uma universidade melhores.
Fica sugerida, portanto, a escolha de uma comissão de
auditores, eleita pela comunidade dos contribuintes, entre ele-
mentos estranhos ao quadro da universidade, para analisar a
gestão financeira, sobre ela se manifestando.

3) Professores e Alunos das IES Particulares subsidiados pelo


Ministério da Educação

Inquestionável é a larga e decisiva contribuição das


IES particulares ao ensino superior no Brasil.
Delas existem muito boas e, possivelmente, outras que
refletem a pobreza do meio. Todavia, vêm fazendo muito para
atender à insopitável demanda pelo terceiro grau, fenômeno, ho-
je, mundial, e notadamente das Américas.
Ninguém em boa e sã consciência pode negar que, com
isso, horizontes e perspectivas mais amplas se abrem às atuais
e às futuras gerações.
Como a escola privada enfrenta, à semelhança da
pública, situação difícil, necessário se faz que o governo
preste auxílio a professores e estudantes daquela.
Aos primeiros, complementando-lhes o salário até 2/3
do vencimento respectivo à referência correspondente ao mestre
da rede pública, mantida com os impostos da coletividade, aos
segundos, proporcionando-lhes bolsas, nos casos de comprovada
carência e nunca por favorecimento.
Essa concessão se fará uma vez que as DEMECs regio-
nais averigúem o bom e eficiente desempenho da IES postulante,
e, de igual, se cobra anuidade ou semestralidade rigorosamente
no quantitativo fixado pela CEnE do CFE.
A supervisão exercida pelas DEMECs se aperfeiçoa sem-
pre e pode colher as informações necessárias ao êxito dessa ur-
gente iniciativa.
Perceba-se bem claro que não é a IES que vai ser sub-
vencionada, mas sim o docente e o aluno.
Um grande passo se terá dado no aperfeiçoamento da
educação superior privada.
Desaparecerão as angustiantes diferenças entre a re-
muneração do magistério particular e a do estatal.
Isso o governo pode e deve fazer.
com a contenção das anuidades e as majorações sala-
riais acima dos Índices permitidos às IES, chegarão estas à in-
solvabilidade e, por fim, ao fechamento.
Estará criado, decorrentemente, um problema social de
efeitos imprevisíveis.
A quem deseje fazer um curso superior e tenha o de-
senvolvimento mental para tanto, não se deve cercear e nem im-
pedir. O que importa é que seja da melhor qualificação, consta-
tando-se isso através de mecanismos e critérios técnicos e ob-
jetivos, e, nunca, politicos.
A viabilização de um ensino superior particular de
boa qualidade acha-se, assim, delineada.
É só tomar as medidas propostas, com a inteligência e
a brevidade que a situação exige.
ERRATA DO TEXTO "uma POLITICA PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA"*

Página Linha Onde se lê: Leia-se:

5 9 de baixo para cima privadas, privadas;

8 item 7, linha 6 implantado plenamente implantado

11 11 recursos cursos

21 8 de baixo para cima Básica básica

36 última de educação de toda a educação

39 item viii, linha 4 adequada com a adequada da

40 5 acima acima (itens vi e vii)

59 6 de baixo para cima estimulados criados

63 1 fiscalizadora fiscalizadora-

63 item b, par. 3, linha 2 em extensão de extensão

69 par. 4, linha 4 habilitaram habilitam

93 item ¡i, linha 6 a ser atribuída, etc. atribuídas a essa repre-

sentação devem ser esta


belecidas

93 item ii, linha 8 preestabelecidas prévias

* Publicada a pedido da Comissão.


Ministério da Educação
Coordenadoria de Comunicação Social
Esplanada dos Ministérios - BI. L - 9º andar
Tels. 223-2209 - 223-92º7
70047 - Brasilia-DF
Texto reproduzido em fac-símile.
Impresso pela Editora Gráfica Ipiranga Ltda.

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