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Opinião pessoal – Envelhecimento

Envelhecer é um processo natural, contínuo e universal, que envolve aspectos bio-


psico-sociais e compromete a relação do indivíduo com a sociedade e com o meio ambiente.
Cada indivíduo envelhece à sua maneira e envelhecer em Portugal é diferente de envelhecer
na China e envelhecer no litoral de Portugal é diferente de envelhecer no interior de Portugal,
da mesma forma que se encontram diferenças no processo de envelhecimento de uma mulher
e de um homem. Numa perspectiva biológica, podemos concluir que o indivíduo envelhece
devido às alterações moleculares e celulares, consoante os seus estilos de vida, nos quais
operam variáveis como a alimentação e a prática de exercício físico. A certeza do ser humano
é que nasce, cresce e morre, como tal, é certo que certas capacidades funcionais declinem ao
longo do tempo, pois o organismo é como uma máquina preparada para falir. No entanto,
existem algumas capacidades cognitivas que se mantêm com o passar do tempo, como se
comprovou através do estudo longitudinal de Seattle, de Schaie e Willis. Nesta perspectiva
psicológica, procura-se diferenciar a variabilidade inter e intra-individual do envelhecimento,
que se desenrola a partir de estádios/etapas desenvolvimentais mediadas por crises e virtudes,
e envolve mudanças no auto-conceito, bem como, depende da adaptação do indivíduo ao
ambiente.

A sociedade actual anda a velocidade cruzeiro e apenas quem consegue acompanhar,


desempenha um papel activo. Vive-se na era da tecnologia, em que tudo é feito através de
máquinas e programado pelo computador, assiste-se cada vez mais à especialização individual
e ao crescente ingresso no ensino superior, o que aumenta o fosso entre os chamados activos
e os chamados inúteis, visto que grande parte destes não tem formação ou possui formação
rudimentar. O que esta sociedade, concentrada na beleza e vigor da juventude, se esquece é
que envelhecer é um processo com o qual todos temos de lidar. Se os jovens de hoje
soubessem que são os velhos de amanha, talvez dessem maior importância aos problemas e
às virtudes da velhice ou, quem sabe, perdiam ainda mais tempo a gerar fórmulas e ilusões de
rejuvenescimento. Na velhice vive-se driblando diagnósticos médicos, sendo este o ponto que
se deve erradicar totalmente, não só nos velhos de hoje, mas, também, nos velhos de amanha.
A velhice é um período desenvolvimental diversificado e rico em oportunidades, que deverá
contar com metas e expectativas igualmente fortes às dos restantes períodos de vida. Ser
velho é muito mais do que ser observador da própria vida, é ser pessoa activa, senhor do seu
destino e responsável pelas suas acções. Acções estas que ditam uma velhice mais ou menos
saudável.

O problema social e económico da velhice surge na sequência da modificação etária e


sua contínua tendência de aumento da porção de população considerada inactiva e diminuição
da população activa, o que leva ao aumento da representação social dos idosos como um fardo

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cada vez mais pesado e põe em causa problemas como a sustentabilidade da segurança
social. A sociedade e a família não só têm de prestar cuidados ao idoso, como suportar
financeiramente esses cuidados e de contribuir com quantias mais elevadas para o Estado.

As preocupações diárias com o trabalho, os filhos, encargos domésticos, entre outras,


diminuem a sensibilidade e a disponibilidade que as famílias têm para dar atenção e prestar
cuidados aos idosos. Normalmente, são as pessoas de meia-idade que se encontram entre
estas tarefas de cuidar dos filhos e dos pais, a chamada geração sanduíche que precisa
igualmente de tempo para si e nem sempre consegue conciliar tudo. As dificuldades na gestão
da velhice levantam um conjunto de necessidades por parte da sociedade e do próprio
indivíduo, que se prendem essencialmente a serviços de apoio e retaguarda à velhice e aos
esforços que cada um faz para envelhecer da melhor forma.

Apesar de tudo, assiste-se a uma tendência de mudança na visão sobre a velhice,


sendo vista numa perspectiva mais positiva, em grande parte, dada a sua visibilidade política e
social. Esta visão levou ao aparecimento de novos conceitos e ideias, assim como a uma
crescente preocupação bio-psico-social sobre o envelhecimento.

É imperativo alargar e diversificar as respostas sociais de retaguarda a velhice e


apostar na formação de técnicos adequados. Os lares deixam de ser vistos como abrigos em
que as pessoas se sentam à espera da morte e surgem novas respostas e equipamentos que
oferecem a possibilidade do idoso continuar na sua casa e manter uma vida social activa, tal
como centro de convívio, centro de dia, serviço de apoio domiciliário e, centros de noite. Estas
novas respostas sociais não só apoiam a vida aos idosos e dos seus cuidadores como
reduzem as despesas por parte da sociedade, uma vez que objectivam a promoção de um
envelhecimento com saúde e bem-estar, no sentido de manter as pessoas socialmente activas
e autónomas. Este apoio diminui o sentimento de inutilidade dos idosos, assim como promove
a qualidade de vida destes.

O indivíduo deve esforçar-se para acrescentar vida aos anos, acabar com a ideia de
que é na juventude que tudo acontece e que a velhice é apenas para descansar, pois todo o
ser humano pode e deve manter um espírito activo. Um idoso pode ter tantas actividades e
ocupações quantas desejar, o segredo é não deixar que as limitações superem as
potencialidades e ultrapassa-las da melhor forma. Limitações todas as pessoas têm, em
qualquer período desenvolvimental, e, mais importante do que saber viver com elas, é esforçar-
se para diminui-las ou retarda-las. Ainda que não sejas tarefa fácil, tudo depende da vontade
que cada um tem de lutar e enfrentar os obstáculos. Segundo o modelo SOC ter um
envelhecimento bem-sucedido implica que o indivíduo faça escolhas, hierarquize objectivos,
segundo critérios escolhidos pelo próprio e procure agregar todos os meios e recursos que
precisa para os atingir. Se esses meios e/ou recursos não forem suficientes, o individuo deve
procurar novos. Afirmar que se envelhece de forma satisfatória é um luxo que está ao alcance

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de quem tem uma visão optimista e entusiasta sobre a vida, mantém estilos de vida saudáveis,
estimula as capacidades cognitivas, tem um projecto de vida e o realiza. Uma das estratégias
para alcançar este bem-estar é o investir na participação social. Assim, atingir a tão desejada
velhice activa ou bem-sucedida é algo que depende dos hábitos do presente, do futuro mas,
sobretudo, do passado.

Em termos de investigação, a gerontologia tem-se centrado em pesquisas acerca das


perdas e das alterações dos processos biológicos e psicológicos como consequências do
processo de envelhecimento, no entanto, actualmente já se percebe a importância de não
isolar a historicidade do indivíduo. A gerontologia social procura compreender qual a influência
que as condições socioculturais têm no indivíduo e o significado dessas condições no
fenómeno do envelhecimento, para tal, interpreta o significado dos acontecimentos e descreve
realidades, através de ocorrências específicas e particulares. Apesar disso, também utiliza o
método experimental pois procura relações causais, tenta predizer e controlar fenómenos e
estabelecer leis, através do teste de teorias e da descoberta de factos em ocorrências gerais.
Como recurso à investigação nesta área, surgem instrumentos de avaliação e investigação, na
medida em que sempre que se pretende alterar um comportamento ou qualquer aspecto do
ambiente é necessário realizar uma avaliação ou diagnóstico da situação/problema. Este
diagnóstico não pode substituir uma análise profunda do problema e, é realizado através de
instrumentos ou escalas de medida que, na sua maioria, não surgem na gerontologia, mas sim,
em áreas mais remotas como a medicina.

Uma vez que a gerontologia é uma ciência bio-psico-social, existem instrumentos para
avaliar questões relacionadas com estes três aspectos. Em termos biológicos, objectiva-se
medir a funcionalidade dos indivíduos, como é o caso dos instrumentos de medida das
actividades básicas de vida diária (índice de Barthel, índice de Katz, …), actividades
instrumentais (índice de Lawton, índice de Brody, …) e actividades avançadas de vida diária
(escala hierárquica de Siu y Reuben). Em termos psicológicos, existem instrumentos para
avaliar capacidades cognitivas, como o mini exame cognitivo de Lobo, teste mental de Pfeiffer,
scala de incapacidade mental de Cruz Roja, escala geriátrica de depressão de Brink, entre
outros. Para avaliar aspectos sociais existe o questionário social e a escala de Zarit. No
entanto, surgem ainda instrumentos mistos, como o caso da anamnse e do easy-care, que
avaliam recursos e bem-estar individuais, físicos e sociais. O indivíduo desenvolve-se em
determinado ambiente por isso é necessário avalia-lo também. Neste sentido, o Sistema de
Avaliação de Residências para Idosos visa avaliar o ambiente e sua interacção com os idosos.

O desafio da gerontologia social é rever a imagem negativa do envelhecimento e


melhorar as condições de vida dos idosos, em contexto públicos ou privados, o que será
operacionalizado pelo gerontólogo. O gerontólogo pode intervir a nível individual e familiar,
organizacional e na comunidade. Por outras palavras, é capaz de promover cuidados e

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promover o envelhecimento bem-sucedido, através de programas de educação para a saúde e
bem-estar e a desenvolver programas de apoio aos idosos, uma vez que tem conhecimento
acerca dos processos de envelhecimento, da avaliação os problemas derivados deste
fenómeno, das politicas de apoio à população idosa, dos diferentes tipos de respostas, da
intervenção na comunidade e, da resolução problemas, entre outros. O gerontólogo deve
trabalhar a nível físico, psicológico e social, com gosto pelo seu trabalho. Os profissionais desta
área devem ser empáticos, respeitosos, gentis, ter sentido de humor, saber ouvir e serem
flexíveis. Em suma, o gerontólogo não pode ter um papel passivo mas sim, mobilizar recursos e
adaptar-se aos vários contextos em que opera, dinamizando grupos de idosos, através de
actividades que produzam benefícios a curto, médio ou longo prazo, e encaminhem as pessoas
ao envelhecimento bem-sucedido.

O facto da gerontologia social ser uma disciplina recente e os profissionais desta área
ainda não terem um estatuto claramente definido coloca alguns desafios no exercício da
profissão. A gerontologia social precisa de demonstrar a sua importância e conquistar o
respeito de todos, de modo a que as acções propostas pelos profissionais ou futuros
profissionais desta área não sejam questionadas. Estimular o desenvolvimento pessoal dos
idosos não significa trabalhar apenas e directamente com os estes, nem remediar e tratar as
suas enfermidades biológicas pois deve-se, sobretudo, potencializar os ganhos e forças de
cada indivíduo. A prevenção e a promoção são a melhor forma de evitar os problemas, o bom
profissional não deve esperar que as necessidades apareçam mas sim aproveitar todas as
oportunidades para melhorar as condições dos idosos e, naturalmente, justificar a pertinência
social desta nova profissão, sempre de forma criativa, principalmente, marcando a diferença no
modo como actuam e para que actuam. Apesar de na gerontologia social se trabalhar para
grupos, o gerontologo deve atingir todos os indivíduos nas suas especificidades. Outra tarefa
que os profissionais da gerontologia social não devem parar em momento algum é a pesquisa
e a busca por mais e melhor conhecimento, uma vez que o estudo sistemático do
envelhecimento, da velhice e do idoso permite saber o modo como este fenómeno influência o
próprio individuo e a sociedade.

Concluindo, o envelhecimento é um processo natural com perdas e ganhos que, ainda,


não se pode explicar com recurso apenas a uma teoria ou grupo de teorias, já que nenhuma
delas está completamente correcta nem completamente errada. Da mesma forma que, se deve
ter em atenção mais do que um marcador de velhice, pois envelhecer tem carácter muito
individual e não há uma idade precisa para entrar na velhice. Quando se trabalha em
gerontologia social deve-se ter bem clarificados e definidos conceitos como envelhecimento,
velhice e pessoas idosas, no sentido de fazer mais e melhor por este processo e por este grupo
etário. O forte carácter interventivo da gerontologia supõe que prevenção e promoção sejam
palavras de ordem na mente de quem trabalha com os idosos, sendo que a intervenção precisa
de instrumentos que auxiliem na tomada de decisões e pré-avaliação de diversas situações.

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