Comecemos pela tabela de correspondências (a), referente ao Caribe norte-oriental:
Em primeiro lugar, para apontar ocorrências regulares e mais gerais, observamos
que as línguas Waiwai e Hixkaryana apresentam ocorrências de lenição da consoante bilabial /p/ presente nos termos cognatos de outras línguas da família. No entanto, enquanto Waiwai preserva o ponto de articulação bilabial, o que gera uma fricativa /ɸ/, a língua Hixkaryana apresenta uma mudança também de ponto de articulação, substituindo /p/ pela glotal /h/.
Além disso, a língua Waiwai é a única a apresentar vogais longas em contextos
em que as outras línguas apresentam vogais curtas. De acordo com os dados, a única vogal que aparentemente não se alonga, mesmo quando aparece no mesmo contexto das vogais alongadas (antes da fricativa bilabial /ɸ/ e antes das nasais /m/ e /n/), é /e/, como podemos observar no vocábulo /eɸrɨ/, linha 9.
Portanto, apesar de afirmar um processo de lenição das consoantes /p/ nas
línguas Waiwai e Hixkaryana, se pudéssemos arriscar algo de uma reconstrução para essa família linguística, sugeriríamos as vogais longas da Waiwai como presentes na proto-língua.
Entrando nas especificidades das correspondências, vemos claramente que as
linhas 1, 2, 3, 6, 7, 8, 9 e 11 são cognatos completos, ainda que com pequenas variações: aférese da vogal inicial do cognato 2 em Tiriyó; palatalização dos cognatos 6 nas línguas Tiriyó, Waiwai e Hixkaryana, além de aférese do [i] em Wayana; assimilação regressiva das consoantes /ʃ/ dos cognatos Tiriyó e Wayana em 8, que assumem uma posição mais anterior pela presença de /i/ e transformam-se em /s/; presença da vogal /ə/ nas línguas Tiriyó e Wayana em contextos onde encontramos a vogal /o/ em todas as outras línguas, nos termos cognatos; dentre outras.
Por fim, importante apontar as linhas onde há quebra na regularidade das
correspondências: enquanto que as línguas Waiwai e Hixkaryana usam o mesmo termo para ‘chuva’ e ‘água’, as línguas Tiriyó, Wayana e Apalai apresentam dois termos diferentes (os cognatos /konopo/, /kopə/ e /konopo/, e os cognatos /tuna/, /tuna/ e /tuna/, respectivamente); na linha 3 encontramos quatro (ou talvez três, se for possível demonstrar que /kaamu/ e /kamɨmɨ/ são cognatos) possibilidades diferentes para ‘sol’; e na linha 10, o termo /kɨtmo/, da língua Waiwai, não pode ser identificado como cognato dos termos das outras línguas.
Sobre a tabela (b), referente ao dialetos Tiriyó ocidental e oriental:
Observamos que o dialeto ocidental apresenta alguns processos de lenição em
ambientes onde se esperaria vogais longas e consoantes oclusivas. Assim, nas linhas 1, 10 e 12, por exemplo, encontramos /h/ no lugar das vogais longas /a:/, /u:/ e novamente /a:/, respectivamente. Da mesma forma, e de forma ainda mais avançada, as linhas, 3, 4, 8 e 11 apresentam a consoante /h/ como encurtamento de uma vogal anteriormente longa e da lenição das consoantes /p/ e /k/. No entanto, interessante notar que em ambientes em que a consoante é precedida pelas vogais /i/, /e/ e /ə/, ou pela nasal n, a lenição não ocorre. Além disso, na linha 2 observamos a lenição não ocorrendo em um ambiente em que a vogal /ə/ ocorre após a consoante normalmente enfraquecida.
Sobre a tabela (c), referente aos dialetos Bakairi oriental e ocidental:
Observamos um processo completamente regular de lenição de consoantes
fricativas do dialeto oriental para o ocidental. Todas as consoantes /h/ em posição intervocálica do dialeto oriental são substituídas pelo golpe glotal /ʔ/. Da mesma forma, a consoante /z/ no dialeto ocidental transforma-se em /h/ quando precedida por vogais abertas e é completamente elidida quando precedida por vogais fechadas ou semifechadas, assim como a consoante /ʒ/ do dialento oriental, que também some completamente no dialeto ocidental.
As linhas 10 e 20 são particularmente curiosos, pois parecem apontar para um
processo de diferenciação entre homófonos no dialeto ocidental, ainda que seja necessário analisar especificamente como o termo /iʔe/ é organizado na sintaxe da língua. No entanto, a lenição da consoante /s/, resultando em um golpe glotal, também pode ser observada na linha 3. Resta explicar apenas a irregularidade dos processos de transformação da consoante /ʃ/, que é enfraquecida nos termos da linha 11, mas permanece presente nos termos das linhas 1 e 2.