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Jornais, poemas e óperas

Imprensa Nacional, c.1880, onde Machado de Assis iniciou seus serviços como tipógrafo e revisor.

Tudo indica que Machado evitou o subúrbio carioca e procurou a subsistência no centro da
cidade.[43] Com muitos planos e espírito aventureiro, fez algumas amizades e
relacionamentos. Em 1854, publicou seu primeiro soneto, dedicado à "Ilustríssima Senhora
D.P.J.A", assinando como "J. M. M. Assis", no Periódico dos Pobres.[44] No ano seguinte,
passou a frequentar a livraria do jornalista e tipógrafo Francisco de Paula Brito. Paula Brito
era um humanista e sua livraria, além de vender remédios, chás, fumo de rolo, porcas e
parafusos,[45] também servia como ponto de encontro da sua Sociedade
Petalógica (peta=(ê), s. f. 1. Mentira, patranha).[46] Um tempo mais tarde, Machado se
referiria à Sociedade da seguinte forma: "Lá se discutia de tudo, desde a retirada de um
ministro até a pirueta da dançarina da moda, desde o dó do peito de Tamberlick até os
discursos do Marquês do Paraná".[47]
No dia 12 de janeiro de 1855, Brito publicou os poemas "Ela" e "A Palmeira" na Marmota
Fluminense, revista bimensal do livreiro.[44] Estes dois versos, reunidos junto àquele soneto
para a Dona Patronilha, fazem parte da primeira produção literária de Machado de Assis.
Aos dezessete anos, foi contratado como aprendiz de tipógrafo e revisor de imprensa
na Imprensa Nacional, onde foi protegido e ajudado por Manuel Antônio de Almeida (que
anos antes havia publicado sua magnum opus Memórias de um Sargento de Milícias), que
o incentivou a seguir a carreira literária. [48] Machado trabalhou na Imprensa Oficial de 1856
a 1858. No fim deste período, a convite do poeta Francisco Otaviano, passou a colaborar
para o Correio Mercantil, importante jornal da época, escrevendo crônicas e revisando
textos.[44][49] Durante esta época o jovem já frequentava teatros e outros meios artísticos. Em
novembro de 1859, estreava Pipelet, ópera com libreto de sua autoria baseada em Os
Mistérios de Paris de Eugène Sue[50] e com música de Ferrari. Escreveu ele sobre a
apresentação:
"Abre-se segunda-feira, a Ópera Nacional com o Pipelet, ópera em actos, música
de Ferrari, e poesia do Sr. Machado de Assis, meu íntimo amigo,
meu alter ego, a quem tenho muito affecto, mas sobre quem não posso dar
opinião nenhuma."[51]
Pipelet não agrada consideravelmente o público e os folhetinistas ignoram-na.
[52]
 Gioacchino Giannini, que dirigiu a orquestra da ópera, sentiu-se contrariado com a
orquestra e escreveu num artigo: "Não falaremos do desempenho de Pipelet. Isso
seria enfadonho, horrível e espantoso para quem o viu tão regularmente no Teatro de
São Pedro."[53] O final da ópera era melancólico, com o enterro agonizante do
personagem Pipelet. Machado de Assis, em 1859, escreveu que "o desempenho da
mesma maneira que o primeiro, fez nutrir esperança de uma boa companhia de
canto."[54] De fato, o jovem nutria interesse na campanha de construção da Ópera
Nacional. No ano seguinte a de Pipelet, produziu um libreto chamado As Bodas de
Joaninha, entretanto sua repercussão foi nula.[52] Anos mais tarde, registraria a
nostalgia do folhetinismo de sua juventude.[55]

Crisálidas, teatros e política


Aos 21 anos de idade Machado já era uma personalidade considerada entre as rodas
intelectuais cariocas. A esta altura já era conhecido por Quintino Bocaiúva, que o
convidou para o Diário do Rio de Janeiro, onde Machado trabalhou intensamente
como repórter e jornalista de 1860 a 1867, com Saldanha Marinho supervisionando-o.
[44]
 Colaborou para o Jornal das Famílias sob pseudônimos: Job, Vitor de Paula, Lara,
Max, e para a Semana Ilustrada, assinando seu nome ou pseudos, até 1857.
[56]
 Bocaiúva admirava o gosto de Machado pelo teatro, mas considerava suas obras
destinadas à leitura e não à encenação.[57] Com a morte do pai, Machado lhe dedica a
coletânea de poesias “Crisálidas”: “À Memória de Francisco José de Assis e Maria
Leopoldina Machado de Assis, meus Pais.”[58]

O jovem Machado aos 25 anos, 1864, gostava de teatro e lutava para subir socialmente.
Foto: Insley Pacheco.[59]

Em 1865, Machado havia fundado uma sociedade artístico-literária chamada Arcádia


Fluminense, onde tivera a oportunidade de promover saraus com leitura de suas
poesias e estreitar contato com poetas e intelectuais da região. Com José Zapata y
Amat, produziu o hino "Cantada da Arcádia", especialmente para a sociedade. [60] Em
1866, escreveu no Diário do Rio de Janeiro: "A fundação da Arcádia Fluminense foi
excelente num sentido: não cremos que ela se propusesse a dirigir o gosto, mas o seu
fim decerto que foi estabelecer a convivência literária, como trabalho preliminar para
obra de maior extensão."[61] Neste ano, Machado escrevia crítica teatral e, segundo
Almir Guilhermino, aprendeu a língua grega para se familiarizar cedo
com Platão, Sócrates e o teatro grego.[62] De acordo com Valdemar de Oliveira,
Machado era "rato de coxia" e frequentador de rodas teatrais junto com José de
Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, e outros.[63]

Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, c. 1890, onde Machado começou a


trabalhar em cargo público.

No ano seguinte, 1867, subiu a escala funcional como burocrata, e no mesmo ano foi
nomeado diretor-assistente do Diário Oficial por D. Pedro II.[56][58] Com a ascensão
do Partido Liberal pelo país, Machado acreditava que seria lembrado por seus amigos
e que receberia um cargo público que melhoraria sua qualidade de vida, contudo foi
em vão. À época de seu serviço no Diário do Rio de Janeiro, teve seus ideais
combativos com ideias progressivas; por conta disso seu nome foi anunciado como
candidato a deputado pelo Partido Liberal do Império — candidatura que logo retirou
por querer comprometer sua vida somente às letras.[64] Para sua surpresa, a ajuda veio
novamente de um ato de Pedro II, com a nomeação para o cargo de assistente do
diretor, e que, mais tarde, em 1888, lhe condecoraria como oficial da Ordem Da Rosa.
[58][65]

A esta altura já era amigo de José de Alencar, que lhe ensinou um pouco de língua
inglesa. Ambos os autores, no mesmo ano, recepcionaram o ambicioso e famoso
poeta Castro Alves, vindo da Bahia, na imprensa da Corte do Rio de Janeiro.
[64]
 Machado diria sobre o poeta baiano: "Achei uma vocação literária cheia de vida e
robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do
futuro."[66] Os direitos autorais por suas publicações e crônicas em jornais e revistas,
acrescido da promoção que recebera da Princesa Isabel em 7 de dezembro de 1876
como chefe de seção, rendeu-lhe 5.400$000 anuais. [67] O menino nascido no morro
havia subido de vida. Graças à sua nova posição, mudou do centro da cidade para o
Bairro do Catete, na Rua do Catete nº 206, onde morou durante 6 anos, dos 37 até
seus 43.[67]

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