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Noivado, cartas e relacionamento

A jovem simpática e culta Carolina Augusta, c. 1890, conquistou o coração de Machado. [68]

No mesmo ano ao da reunião com o poeta, Machado teria um outro encontro que mudou
de vez a sua vida. Um de seus amigos, Faustino Xavier de Novaes (1820-1869), poeta
residente em Petrópolis, e jornalista da revista O Futuro,[38] estava mantendo sua irmã, a
portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, desde 1866 em sua casa, quando ela
chegou ao Rio de Janeiro do Porto.[56] Segundo os biógrafos, veio a fim de cuidar de seu
irmão que estava enfermo,[69] enquanto outros dizem que foi para esquecer uma frustração
amorosa. Carolina despertara a atenção de muitos cariocas; muitos homens que a
conheciam achavam-na atraente, e extremamente simpática. Com o poeta, jornalista e
dramaturgo Machado de Assis não fora diferente. Tão logo conhecera a irmã do amigo,
logo apaixonou-se. Até essa data o único livro publicado de Machado era o
poético Crisálidas (1864) e também havia escrito a peça Hoje Avental, Amanhã
Luva (1860), ambos sem muita repercussão. Carolina era cinco anos mais velha que ele;
deveria ter uns trinta e dois anos na época do noivado. [68] Os irmãos de Carolina, Miguel e
Adelaíde (Faustino já havia morrido devido a uma doença que o levou à insanidade), não
concordaram que ela se envolvesse com um mulato.[27] Contudo, Machado de Assis e
Carolina Augusta se casaram no dia 12 de Novembro de 1869. [58]
Machado aos 57 anos, 1896.[70]

Diz-se que Machado não era um homem bonito, mas era culto e elegante. [58] Estava
apaixonado por sua "Carola", apelido dado pelo marido. Entusiasmava a esposa com
cartas românticas e que previam o destino dos dois; durante o noivado, em 2 de março de
1869, Machado havia escrito uma carta íntima que dizia: "...depois, querida, ganharemos o
mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias
fofas e das suas ambições estéreis." [71] Suas cartas endereçadas a Carolina são todas
assinadas como "Machadinho".[71] Outra carta justifica uma certa complexidade no começo
de seu relacionamento: "Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império;
estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida", o que é um mistério para os
recentes estudiosos das correspondências do autor. [71] A carta do primeiro trecho aqui
transposto traz uma alusão às flores que a esposa lhe teria mandado e ele, agradecido,
teria as beijado duas vezes como se beijasse a própria Carolina. [72]
Noutro parágrafo, diz: "Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem
amar, sentir e pensar."[72] De fato, Carolina era extremamente culta.[73] Apresentou a
Machado os grandes clássicos portugueses e diversos autores da língua inglesa. [74] A
sobrinha-bisneta de Carolina, Ruth Leitão de Carvalho Lima, sua única herdeira, revelou
numa entrevista de 2008 que, frequentemente, a esposa retificava os textos do marido
durante sua ausência.[75] Conta-se que muito provavelmente tenha influenciado no modo de
Machado escrever e, consecutivamente, tenha contribuído para a transição de sua
narrativa convencional à realista (ver Trilogia Realista).[73] Não tiveram filhos.[76] Tinham, no
entanto, uma cadela tenerife (também conhecidos como bichon frisé) chamada Graziela e
que certa vez se perdeu entre as ruas do bairro e, atônitos, foram achá-la dias depois na
rua Bento Lisboa, no Catete. [75]

Casamento, histórias e lendas

Na placa no Cosme Velho, lê-se: "Neste local viveu Machado de Assis de 1883 até sua morte em
1908".

Depois do Catete, foram morar na casa nº 18 da Rua Cosme Velho (a residência mais
famosa do casal), onde ficariam até a morte. Do nome da rua surgira o apelido Bruxo do
Cosme Velho, dado por conta de um episódio onde Machado queimava suas cartas em
um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança certa vez o viu e gritou: "Olha o
Bruxo do Cosme Velho!"[77] Essa história acrescida à da cachorra, para alguns biógrafos,
não passa de lenda.[77] Machado de Assis e Carolina Augusta teriam vivido uma "vida
conjugal perfeita" por 35 anos.[28][78][79] Quando os amigos certa vez desconfiaram de uma
traição por parte de Machado, seguiram-no e acabaram por descobrir que ele ia todas as
tardes avistar a moça do quadro de A Dama do Livro (1882), de Roberto Fontana.[77] Ao
saberem que Machado não podia comprá-lo, deram-lhe de presente, o que o deixou
particularmente feliz e grato.[77]

Casa do Cosme Velho, número 18. Nesta residência, Machado de Assis e Carolina viveram grande
parte da vida.

No entanto, talvez a "única nuvem negra a toldar a sua paz doméstica" tenha sido um
possível caso extraconjugal que tivera durante a circulação de Memórias Póstumas de
Brás Cubas.[80] Em 18 de novembro de 1902, reverte a atividade na Secretaria da Indústria
do Ministério da Viação, Indústria e Obras Públicas, como diretor-geral de Contabilidade,
por decisão do ministro da Viação, Lauro Severiano Müller.[81] Em 20 de outubro de 1904,
Carolina morre aos 70 anos de idade.[82] Foi um baque na vida de Machado, que passou
uma temporada em Nova Friburgo.[83] Segundo o biógrafo Daniel Piza, Carolina comentava
com amigas que Machado deveria morrer antes para não sofrer caso ela partisse cedo.
[84]
 Seu casamento com Carolina fez com que ela estimulasse seu lado intelectual deficiente
pelos poucos estudos a que tinha realizado na juventude e trouxe-lhe a serenidade
emocional que ele tanto precisava por ter saúde frágil. [69] As três heroínas de Memorial de
Ayres chamam-se Carmo, Rita e Fidélia, o que estudiosos creem representar três
aspectos da Carolina, a "mãe", "irmã" e "esposa".[85] Machado também lhe dedicou seu
último soneto, "A Carolina", em que Manuel Bandeira afirmaria, anos mais tarde, que é
uma das peças mais comoventes da literatura brasileira.[86] De acordo com alguns biógrafos
o túmulo de Carolina era visitado todos os domingos por Machado. [84]

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