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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANTONELA SOLEDAD BARONETTI


EYMMY GABRIELLY RODRIGUES DA SILVA

TEORIA DOS DIREITOS HUMANOS


SESSÃO 4

BELÉM-PA
2016
1) Analise elementos da história brasileira que dificultam a proteção dos direitos
humanos

Analisando os elementos da história brasileira que dificultam a proteção dos direitos


humanos, identificamos após a leitura dos capítulos 2 e 3 de Carvalho (2014) e capítulos 3 e 4
de Chalhoub (2012) o primeiro deles, no texto de Carvalho e verificamos que é possível
relacionar com os textos vistos nos seminários anteriores.
Tal como foi estudado nos textos de Todorov (2012) e Bartolomé Clavero (2014), o
autor, também começa ressaltando que a dominação foi um elemento determinante na
colonização e isso também é verificado no Brasil.
Nos três séculos de colonização, os portugueses tinham construído um enorme pais
dotado de unidade territorial, linguística, cultural e religiosa. No entanto, também deixaram
uma população analfabeta, uma sociedade escravocrata, uma economia monocultora e
latifundiária, um Estado absolutista. Em suma, a colonização e todas essas suas
características são os elementos da história que dificultaram a proteção dos direitos humanos
no Brasil.
Assim, podemos salientar junto com o autor, as seguintes particularidades que
definiram a colonização; o Brasil herdou uma grande propriedade rural fechada à ação da lei e
um estado comprometido com o poder privado. O poder privado exercia o domínio inconteste,
era a característica no colonialismo.
O efeito imediato da conquista foi a dominação e o extermínio, pela guerra, pela
escravização e pela doença de milhões de indígenas. Esta, teve conotação comercial; foi um
empreendimento do governo colonial aliado a particulares. Foi caracterizada por exigir muitos
capitais, com muita mão de obra, onde aqueles foram responsáveis pela grande desigualdade
que logo se estabeleceu pelos senhores de engenho e os outros habitantes. Já a mão de obra,
pela escravização dos africanos.
No texto de Chalhoub aprofundamos outro elemento que dificulta a proteção dos
direitos humanos: a escravidão. Segundo o autor, este fator foi o mais negativo para a
cidadania. Os escravos começaram a ser importados na segunda metade do século XVI e a
importação continuou ininterrupta até 1850, 28 anos após a independência. Calcula-se que até
1822 tenham sido introduzidos na colônia cerca de 3 milhões de escravos. Na época da
independência, numa população de cerca de 5 milhões, incluindo 800 mil índios, havia mais
de 1 milhão de escravos.

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Era tão grande a força da escravidão que os próprios libertos, uma vez livres,
adquiriram escravos. A escravidão penetrava em todas as classes, em todos os lugares, em
todos os desvãos da sociedade: a sociedade colonial era escravista de alto a baixo. Os
escravos não eram cidadãos, não tinham direitos civis básicos a integridade física, a liberdade,
e a própria vida, já que a lei os considerava propriedade do senhor, equiparando-os a animais.
Neste período, faltava o próprio sentido da cidadania, a noção da igualdade de todos
perante a lei. Os homens bons tinham em suas mãos a justiça, principal garantia dos direitos
civis, convertendo-se assim em um simples instrumento do poder pessoal. O poder do
governo terminava na porteira das grandes fazendas; aos escravos só restava o recurso da fuga
e da formação de quilombos. Recurso precário, pois os quilombos eram sistematicamente
combatidos e exterminados por tropas do governo ou de particulares contratados pelo
governo. Além disso, no Brasil não havia como fugir da escravidão, e no próprio quilombo
dos Palmares havia escravos.
“Todos os escravos, que entraram no território, ou portos no Brasil, vindos de fora,
ficam livres”. Esse é o art. 1 da Lei de 7 de novembro de 1831, que determinava a proibição
do tráfico escravo, ressaltado por Chalhoub no início do capítulo 3. No entanto, ao invés de
acabar, intensificou-se o tráfico de escravos no Brasil. Mais de 750 mil africanos entraram no
Brasil ilegalmente nas duas décadas posteriores a aprovação da lei.
Segundo este autor, o direito costumeiro dos senhores ao trabalho escravo, no
contexto das oportunidades expandidas de riquezas proporcionadas pela cafeeicultura naquele
momento, tornava a lei de proibição ao tráfico de 1831 contraria a própria natureza daquela
sociedade e impossível de se sustentar. O tráfico estava validado pelos “pactos sociais” das
nações que os praticavam.
Com a abolição da escravidão, esta não se finaliza. No Brasil, aos libertos não foram
dadas nem escolas, nem terras, nem empregos. Tanto que os ex-escravos retornavam às
fazendas ou a fazendas vizinhas para retomar o trabalho por baixo salário, outros foram
engrossar nas grandes cidades a parcela da população sem emprego fixo.
Até hoje essa população ocupa posição inferior em todos os indicadores de vida. É a
parcela menos educada da população, com os empregos menos qualificados, menores salários
e os piores índices de ascensão social.
A libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva, pois essa igualdade
era afirmada nas leis, mas negada na prática. A escravidão era tão enraizada na sociedade
brasileira que não foi colocada seriamente em questão até o final da guerra contra o Paraguai.

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Não existiam linhas geográficas separando a escravidão da liberdade. A escravidão só foi
abolida em 1888, mas a grande propriedade e os grandes capitais de grupos econômicos ainda
exercem e influem no poder público.
Ao termino do período colonial, a grande maioria da população estava excluída dos
direitos civis e políticos e sem a existência de um sentido de nacionalidade. Além disso, a
independência não introduziu mudança radical no panorama descrito. Por um lado, a herança
colonial era por demais negativa; por outro, o processo de independência envolveu conflitos
muito limitados. Em comparação com os outros países da America latina, a independência do
Brasil foi relativamente pacífica.
Na época da independência não havia cidadãos brasileiros nem pátria brasileira.
No que diz respeito a grande propriedade rural, ela foi outro elemento que
dificultou a expansão da cidadania e a concretização dos direitos humanos. Ela ainda é uma
realidade em várias regiões do país. No Nordeste e nas áreas recém-colonizadas do Norte e
Centro-Oeste, o grande proprietário e coronel político ainda age como se estivesse acima de
lei e mantém controle rígido sobre os seus trabalhadores.
Na sociedade rural, dominavam os grandes proprietários, que antes de 1888 eram
também, na grande maioria, proprietários de escravos. Eram eles, frequentemente em aliança
com comerciantes urbanos, que sustentavam a política do coronelismo. Foi em São Paulo e
Minas que o coronelismo, como sistema político, atingiu a perfeição e contribuiu para o
domínio que os dois estados exerceram sobre a federação.
O coronelismo negava os direitos civis e impedia a participação política. Nas
fazendas, imperava a lei do Coronel, criada e executada por ele. Seus trabalhadores não eram
cidadãos do Estado brasileiro e sim súditos dele. Quando o Estado se aproximava, ele o fazia
dentro do acordo coronelista, pelo qual ele dava seu apoio político ao governador em troca da
indicação de autoridade, como o delegado de policia, o juiz, o coletor de impostos, a
professora primária.
Além disso, a lei que devia ser a garantia de igualdade de todos, acima do arbítrio do
governo e do poder privado, algo a ser valorizado, respeitado, mesmo venerado, tornava-se
apenas instrumento de castigo, arma contra os inimigos, algo a ser usado em beneficio
próprio. Não havia justiça, não havia poder verdadeiramente público, não havia cidadãos
civis. Nessas circunstâncias, não poderia haver cidadãos políticos. Mesmo que lhes fosse
permitido votar, eles não teriam as condições necessárias para o exercício independente do
direito político.

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Havia confusão e conivência entre o poder do Estado e o poder privado dos
proprietários. Os impostos eram também frequentemente arrecadados por meio de contratos
com particulares. A consequência de tudo isso era que não existia de verdade um poder que
pudesse ser chamado de público, isto é, que pudesse ser a garantia da igualdade de todos
perante a lei, que pudesse ser a garantia dos direitos civis.
A educação primária também não era do interesse da administração. Não havia
interesse em difundir essa arma cívica.
Não havia República no Brasil, isto é, não havia sociedade política, não havia
repúblicos, não havia cidadãos. Os direitos civis beneficiavam a poucos, os direitos políticos a
pouquíssimos e dos direitos sociais ainda não se falava.
A Constituição de 1824 ignorou a escravidão como se ela não existisse. Apesar de
constituir um avanço no que se refere aos direitos políticos, a independência foi feita com
manutenção da escravidão e trazia em si grandes limitações aos direitos civis. A Constituição
não permitia que mulheres votassem e os escravos sequer eram considerados cidadãos.
Assim, a Primeira República, conhecida como república dos coronéis, não significou
grande importância na representação política. Embora os presidentes das províncias tenham
passado a serem eleitos pela população, estes eram representadas pelas elites locais. A
descentralização facilitou a formação de sólidas oligarquias estaduais, apoiadas em partidos
únicos também estaduais. Elas conseguiam envolver todos os mandões locais, bloqueando
qualquer tentativa de oposição política. A aliança das oligarquias dos grandes estados,
sobretudo de São Paulo e Minas Gerais, permitiu que mantivessem o controle da política
nacional até 1930.
Assim, chegamos à década de 30 e verificamos que mesmo evoluindo os direitos
políticos e sociais, houve mudanças daqueles que estavam no poder, mas as suas ações
continuaram as mesmas. Mesmo com a revolta dos trabalhadores, os movimentos sociais, ao
lado do grande avanço que a legislação significava, havia também aspectos negativos. O
sistema excluía categorias importantes de trabalhadores; no meio urbano, ficavam de fora
todos os autônomos e todos os trabalhadores domésticos. Tratava-se de uma concepção da
política social como privilegio e não como direito.
Os direitos sociais quase não evoluíram durante o período democrático. Carvalho
destacava que desde o final do Estado Novo, os técnicos da previdência buscavam, com o
apoio de Vargas, unificar o sistema e expandi-lo para abranger toda a população, mas mesmo

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assim havia resistências, pois cada instituto tinham leis próprias e burocracias próprias. E os
setores não queriam perder sua influencia.
Colonização, escravidão, grande propriedade rural e o coronelismo são identificados
como elementos da história brasileira que dificultam a proteção dos direitos humanos no
Brasil. É importante a identificação de todos esses elementos para formar um pensamento
crítico frente aos fatos históricos e visualizar que eles são a origem de problemas que até os
dias de hoje continuam latentes e identificáveis em nossa realidade. Assim, essa é a lição que
nos deixa a história: analisar o passado para entender o presente e planejar o futuro sem
cometer os mesmos erros.

BIBLIOGRAFIA

CHALHOUB, Sidney. A força da escravidão. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, cap. 3 e 4.

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil. 18. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014,
cap. 1 e 2.

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