Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PARECER 068/2010
INTERESSADA: Mantenedora: Fundação Municipal de Ensino Superior de Nova
Mutum Mantida: União de Ensino Superior de Nova Mutum
ASSUNTO: Consulta sobre abono de faltas a estudantes que se ausentem
regularmente dos horários de aulas devido a convicções religiosas – Lei estadual nº 1
9.274/2009
RELATOR: Cons. Adonias Gomes de Almeida
PROC. nº.225435 /2010- PARECER – CEPS nº. APROVADO EM: 22.06.2010
CEE/MT. 068/2010-CEE/MT.
I - RELATÓRIO
II - ANÁLISE
Veja-se.
1. Inconstitucionalidade reconhecida pelo STF – ADI nº 2806
Em 2002, no Rio Grande do Sul, foi promulgada uma lei semelhante, que
2
pretendia, igualmente, regulamentar o funcionamento do poder público federal, estadual e
municipal, nos limites territoriais daquele Estado-membro, cuja inconstitucionalidade foi
DECLARADA pelo órgão máximo do Poder Judiciário Nacional, o Supremo Tribunal
Federal – STF.
Veja-se.
funcionamento dos órgãos públicos e o regime jurídico dos servidores de sua esfera de
governo.
Parágrafo único Serão regulados por lei complementar, entre outros casos
previstos nesta Constituição:
(...)
Essa é uma regra lógica que confere legitimidade ao poder constituído por aquele
poder maior, que o criou. A criatura não pode afrontar seu criador.
Ainda, pois, que, por hipótese, não houvesse ofensa material à Constituição da
República, é inconstitucional a Lei estadual nº 9.274/2009, tendo em vista que não
observou a espécie normativa exigida para tanto.
3. Vício material – invasão de competência da União
6
Daí extraem-se:
A divisão política não significa que cada ente federado reúne em si o atributo da
soberania.
Nesse sentido, portanto, estabelece-se a divisão em 3 níveis de poder: o federal,
o estadual e o municipal (com a peculiaridade de que o distrital é misto, reunindo
características estaduais e municipais).
A fim de que haja uma harmonia e homogeneidade nos entes federativos, a União
edita normas gerais que terão vigência em todo o território nacional, de observância
obrigatória por todos os Estados, municípios e Distrito Federal.
Nesse sentido, um Estado que pretenda estabelecer como a União deverá agir
dentro dos limites territoriais que lhe são próprios, está claramente violando a
Constituição da República, ofendendo os princípios do Estado de Direito, Federativo e
Republicano.
Outrossim, ainda que seja editada uma Lei Complementar, deve ela obedecer aos
ditames da Constituição da República e das normas NACIONAIS em matéria de 8
legislação educacional.
Ora, se a LDB fixa 200 dias letivos para a educação básica e para o ensino
superior e setenta e cinco por cento de frequência para aprovação, não pode um Estado-
membro disciplinar de modo contrário, sob pena de ilegalidade e, por consequência,
inconstitucionalidade reflexa.
(…)
Como regime geral, nenhum Estado ou município poderá, ao dispor sobre seu
sistema de ensino, determinar contrariamente ao disposto na LDB.
Tal princípio traz em si duas idéias básicas: 1) em regra, todos são iguais perante
a lei, não se admitindo distinção de qualquer natureza; 2) os iguais devem ser tratados
igualmente e os desiguais, desigualmente, na medida das suas desigualdades.
Art. 5º (...)
De outro modo não haveria como realizar nenhum tipo de atividade sem ofender a
crença de alguém.
Assim, para que não se beneficie nem se prejudique nenhum segmento, as regras
são gerais, abstratas e, portanto, aplicam-se indistintamente a todos os sujeitos. Cabe a
cada um verificar a compatibilidade das regras coletivas à sua realidade pessoal.
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
Assim, é inadmissível que haja um tratamento geral, a ser observado pela maioria
das pessoas e outro regime, destinado a beneficiar unicamente um segmento religioso.
Não se admite tratamento detrimentoso nem preferencial a nenhum credo, seja
ele qual for.
Veja-se, outrossim, que o sistema educacional, tema objeto da lei que afeta
diretamente a competência deste Conselho Estadual de Educação, não obriga ninguém a
estudar sexta-feira à noite ou sábado de manhã; no entanto, toda pessoa que optar por
um curso, cujo desenvolvimento das atividades esteja previsto para o referido período,
deverá, igualmente, observar frequência mínima, seja fixada em lei (educação básica),
seja fixado no regulamento das Instituições dotadas de autonomia (ensino superior).
Todos eles conferem a garantia de que qualquer regra, para que seja válida,
deverá ser razoável, materialmente constitucional, ou seja, deverá estar em conformidade
com os princípios e valores consagrados na Constituição. Não basta a presença de lei
formal, é preciso um conteúdo axiológico razoável na norma.
Daquela terrível experiência extraiu-se que não basta que uma determinada regra
seja aprovada pelo Poder Legislativo; ela precisa ser ideologicamente compatível com os
valores supremos da sociedade.
Não basta, portanto, ter forma de lei; para que qualquer regra seja válida é
indispensável que ela seja materialmente constitucional, ou seja, que esteja preenchida
de razoabilidade.
A Lei estadual nº 9.274/2009, ainda que não fosse eivada dos vícios formais de
inconstitucionalidade por ofensa ao devido processo legislativo, materialmente também é
incompatível com a ordem constitucional, por ofensa ao princípio da isonomia, da
liberdade de consciência e de crença e da laicidade estatal, pois pretende submeter toda
a sociedade aos interesses de um comportamento religioso específico.
III – VOTO
É o voto.