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Laboratório de Eletromagnetismo Rodolfo Lauro Weinert

ROTEIRO DAS ATIVIDADES DE


LABORATÓRIO DA DISCIPLINA
DE ELETROMAGNETISMO
BÁSICO.

Joinville, 17 de Fevereiro de 2020


Laboratório de Eletromagnetismo Rodolfo Lauro Weinert

Sumário
1) Medição de impedância elétrica .................................................... 3
2) Obtenção e análise do espectro de impedância............................. 8
3) Obtenção de soluções computacionais para o cálculo de campo e
potencial I – integração numérica; ....................................................... 13
4) Medição de campo magnético ...................................................... 19
5) Medição do espectro de um sinal ................................................ 23
6) Medição de campo elétrico .......................................................... 29
7) Cálculo de campo com o método das diferenças finitas ............. 31
8) Métodos dos elementos finitos .................................................... 35
9) Estudo prático da indução eletromagnética................................ 38
10) Geração e recepção de ondas eletromagnéticas .......................... 40
Laboratório de Eletromagnetismo Rodolfo Lauro Weinert

1) Medição de impedância elétrica

Este roteiro de atividade prática no Laboratório de Eletromagnetismo


apresenta os procedimentos de medição de corrente e diferença de potencial
elétrica usando osciloscópio e sondas de tensão e corrente com a finalidade
de obtenção da impedância elétrica de componentes de circuito elétrico
como resistor, capacitor e indutor.
Realizar medidas elétricas confiáveis é pré-requisito para a avaliação
experimental de fenômenos eletromagnéticos. Com o uso de osciloscópio é
possível realizar medidas de tensão e corrente elétrica variáveis no tempo.
Quando essas medidas são realizadas sobre um componente de um sistema
eletromagnético, é possível avaliar a sua impedância a partir dos resultados
obtidos. A impedância está diretamente ligada às propriedades
eletromagnéticas dos materiais com os quais o dispositivo é feito e depende
também de sua forma geométrica e dimensões. Um esquema de medição da
impedância de um componente é mostrado na Figura 1. Um gerador de
tensão senoidal é ligado ao dispositivo através de um cabo. Uma sonda de
tensão é conectada em paralelo e uma sonda de corrente é conectada em
série com os terminais do dispositivo. Para obter a impedância é necessário
realizar três medidas: a amplitude da tensão (Vp), a amplitude da corrente
(Ip) e a defasagem entre corrente e tensão (). A Figura 2, mostra estes valores
em um gráfico de sinais senoidais no tempo. A impedância é calculada na
seguinte forma:
Vp (1)
Z= e j = R + jX
Ip

Onde R e X são a resistência e a reatância, respectivamente, do dispositivo.


Usando a fórmula de Euler obtemos facilmente as seguintes relações:

R = Z cos()
(2)
X = Z sen()
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Figura 1 – Montagem para medição da impedância de um dispositivo.

Figura 2 – Formas de onda de tensão e corrente senoidais.

Os equipamentos a serem utilizados nesta atividade prática são:

Gerador de sinais TTi modelo TG2000;


Osciloscópio Tektronics modelo TDS 2024B;
Ponteira de Corrente Tektronix Modelo P6022;
Ponteira de Corrente Tektronix Modelo A622;
Ponteira de tensão Tektronics modelo P2022.

Os equipamentos devem ser conectados conforme Figura 1. Os


dispositivos em teste são:

• Um resistor de resistência nominal 100 ;


• Um indutor de indutância nominal 470 H;
• Um capacitor de capacitância nominal 470 nF.
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As medições para o resistor devem ser realizadas de acordo com a


Tabela 1. Os valores medidos serão lidos diretamente no menu lateral de
medição do osciloscópio. Utilizar a leitura de valor rms, pois são mais
estáveis que os valores instantâneos. O gerador deve ser ajustado para
impedância de saída de 50 , impedância de carga de 50  e amplitude 10
Vpp.

Tabela 1 - Medição de resistor de 100 


f Vm Im  Vm/Im
(Hz) (V) (mA) (rad) ()
Sonda 622
100
1k
10 k
100
k
Sonda 6022
100
k
1M
10 M
20 M

Analise os dados da Tabela 1 e responda:

• Explique a origem das defasagens.


• O valor de Vc/Ic é compatível com o valor nominal do resistor?
• Quais as possíveis causas das diferenças entre os valores
medidos e o valor nominal?
As medições para o capacitor e indutor devem ser realizadas de acordo
com as Tabelas 2 e 3.
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Tabela 2 - Medição de capacitor de 470 nF


f (Hz) Vm (V) Im (mA)  (rad) (Im/Vm)/2f
Sonda 622
100
1k
10 k
100 k
Sonda 6022
100 k
1M
10 M
20 M
Analise os dados da Tabela 2 e responda:
• Os valores de capacitância obtidos na quarta coluna são
compatíveis com o valor nominal?
• Os valores de defasagens são compatíveis para um capacitor?
Por quê?
• Porque ocorre mudança de sinal na defasagem?

Tabela 3 – Medição de indutor de 470 H


f (Hz) Vm (V) Im (mA)  (rad) (Vm/Im)/2f
Sonda 622
100
1k
10 k
100 k
Sonda 6022
100 k
1M
10 M
20 M
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Analise os dados da Tabela 3 e responda:


• Os valores de indutância obtidos na quarta coluna são
compatíveis com o valor nominal?
• Os valores de defasagens são compatíveis para um indutor?
Por quê?
• Porque ocorre mudança de sinal na defasagem?

Questões para avaliação:


1) Baseado nos resultados obtidos proponha uma faixa de frequência
para medir resistência, capacitância e indutância com erro mínimo
com o sistema de medição usado neste experimento.
2) Porque é necessário usar sondas de corrente diferentes para baixa
e alta frequência?
3) Proponha circuitos equivalentes, ou seja, associação de resistor,
capacitor e indutor que tenha comportamento similar ao observado
no experimento.
4) Considere que a precisão das medições no osciloscópio é de 3%
do valor lido e que a sonda de corrente apresenta precisão de 5%
do valor lido. Estime a precisão da leitura de resistência pelo
método usado neste experimento.
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2) Obtenção e análise do espectro de impedância

Este roteiro de atividade prática no Laboratório de Eletromagnetismo


apresenta os conceitos e métodos para obtenção e análise do espectro de
impedância de elementos discretos e circuitos elétricos.
O analisador de impedância é um instrumento de medição que fornece
a impedância de um elemento ou dispositivo através da medição simultânea
de corrente e tensão aplicada nos seus terminais em uma ampla faixa de
frequências. O esquema mostrado na Figura 3 ilustra o método de medição
e a Figura 4 mostra o espectro de impedância do circuito da Figura 5. O
analisador de impedância gera internamente e disponibiliza em dois
terminais uma corrente precisamente controlada na faixa de frequências de
operação do equipamento (de 40 Hz a 110 MHz para o analisador 4294A da
Agilent). Um medidor de tensão disponível entre dois outros terminais é
usado para medir a diferença de potencial elétrico na amostra. A impedância
é calculada para cada uma das frequências selecionadas a partir dos valores
de tensão e corrente medidos. Gráficos de módulo e ângulo polar da
impedância são traçados na tela do analisador. Um programa de
computador é usado para fazer a aquisição dos resultados.

Figura 3 – Esquema de medição em um analisador de impedância.

O circuito mostrado na Figura 5 é constituído de dispositivos discretos


(R, L e C) e reatâncias distribuídas do suporte de amostra (Lp e Cp). A
influência desses elementos parasitas na medição da impedância pode ser
compensada por meio dos testes de curto-circuito e de circuito aberto.
No espectro é possível fazer avaliações rápidas a respeito dos valores
dos componentes do circuito. Em baixa frequência a impedância é real.
Então podemos verificar que a resistência R do circuito é aproximadamente
110 . Abaixo de 20 kHz, a impedância é determinada principalmente pela
resistência e indutância. Os valores que podem ser lidos no espectro em 20
kHz são |Z| 163  e   0,57 rad. Ignorando os demais elementos no
circuito, a impedância é dada pela seguinte expressão:
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Z = R + j L (3)

Figura 4 – Espetro de impedância do circuito mostrado na Figura 5 no


intervalo de frequências de 40 Hz a 40 MHz obtido com analisador 4294A
da Agilent.

Figura 5 – Circuito de teste para obtenção do espectro de impedância


mostrado na Figura 4.

E a indutância pode ser estimada a partir do resultado obtido em 20


kHz:

Z sen 
L=  700 H (4)
2 f
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Considerando apenas os elementos discretos R, L e C, a impedância é


obtida na seguinte forma:
R + jL
Z= (5)
1 − 2 LC + jRC
Na frequência 54 kHz o ângulo polar da impedância se anula, o que
indica ressonância do circuito. Segundo a equação (5), a ressonância ocorre
na frequência dada por:

1 − R 2C / L
= (6)
LC

Com isso podemos estimar a capacitância:

L
C=  10nF (7)
R + 2 L2
2

Observe no espectro que ocorre outra ressonância em torno de 6,5


MHz. Isso é devido ao acoplamento da capacitância C, que domina a
impedância acima de primeira ressonância, com a indutância série parasita
Lp. A capacitância parasita Cp não tem muita influência na impedância
medida até 40 MHz. Os valores obtidos nesta análise são aproximações
baseadas em informações pontuais do espectro e modelos matemáticos
simples de elementos ideais de circuito. Uma análise mais precisa pode ser
feita usando métodos computacionais para ajuste de parâmetros com
modelos mais elaborados que levem em conta os elementos não ideais dos
componentes discretos e distribuídos do circuito.

Métodos: O equipamento de medição é um analisador de impedância


4294A da Agilent. Os dispositivos sob teste são:

• Resistor de filme de carbono de 10 ;


• Resistor de filme de carbono de 1 K;
• Resistor de filme de carbono de 1 M;
• Resistor de fio de 100 ;
• Capacitor de poliéster de 470 nF;
• Capacitor cerâmico de 10 nF;
• Capacitor de tântalo de 10 F;
• Capacitor de alumínio de 10 F;
• Indutor de 470 H;
• Indutor com núcleo de ferro laminado;
• Indutor com núcleo toroidal de ferrite.
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Os espectros de impedância fornecidos pelo analisador Agilent


4294A serão salvos em planilhas Excel. Devem ser transformados em
arquivos de texto e analisados no Programa MatLab. Construir os
gráficos de módulo e ângulo das impedâncias dos componentes
medidos.
Para realizar a análise dos espectros recomenda-se antes
estudar os conteúdos das seções 5.1, 5.2, 5.3 e 6.2 do Livro
Eletromagnetismo de Airton Ramos. Considere os circuitos
equivalentes mostrados a seguir:

1) Resistor de baixa resistência e indutor com núcleo de ar ou núcleo


magnético aberto:

2) Resistor de alta resistência:

3) Capacitor em geral:

4) Capacitor com alta capacitância e resistência série elevada


(eletrolítico):

5) Indutor com núcleo magnético fechado:


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Questões para avaliação:


1) Analise os espectros e obtenha os parâmetros do circuito
equivalente de cada componente medido nesta atividade.
2) Explique a origem dos efeitos parasitas nos componentes
eletrônicos passivos: resistor, capacitor e indutor.
3) Explique quais são os fenômenos físicos que tornam o espectro de
impedância de um capacitor eletrolítico tão diferente de um
capacitor com dielétrico sólido (poliéster, cerâmico).
4) Explique quais são os fenômenos físicos que tornam o espectro de
impedância de um indutor com núcleo magnético fechado (ferro ou
ferrite) tão diferente de um indutor com núcleo aberto.
5) Estabeleça critérios para a escolha da faixa de frequência de
operação de cada um dos componentes eletrônicos medidos nesta
atividade.
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3) Obtenção de soluções computacionais para o cálculo


de campo e potencial I – integração numérica;

A utilização de abordagens computacionais para resolver problemas


eletromagnéticos com geometrias complexas e diferentes materiais tornou-
se uma prática comum nas últimas décadas. A integração numérica é
necessária quando não é possível obter uma primitiva de uma determinada
função, entretanto, o método pode ser aplicado para qualquer função.

Exemplo: Considere um fio mostrado na Figura 6 com comprimento L, com


uma densidade linear de carga ρL e corrente i. Obtenha a distribuição dos
campos elétricos e magnéticos ao redor do fio.

+ +L/2
+
+ i
+
ρL +
+ y
+
+
x +
+ -L/2
Figura 6 - Fio reto com distribuição de carga linear percorrido por uma
corrente elétrica i.

O campo elétrico e a indução elétrica são obtidas pelas equações (1) e


(2) respectivamente para uma distribuição filamentar de densidade de carga
e para uma corrente filamentar como é mostrado na Figura 6.

1 L ( r' ) dL' ( r − r' ) (1)


4  o L'
E= 3
r − r'

 i dL x ( r − r )
' '
(2)
B= o 
4  L' r − r'
3

Obtendo a resolução da equação (1) para uma posição qualquer no


espaço P(x,y,z) obtemos:
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r = xu x + yu y + zu z (3)

r' = z' u z (4)

dL' = dz'u z (5)

Substituindo as equações (3), (4) e (5) em (1) obtemos as seguintes equações


de campos elétricos:

L
 2
xdz' (6)
Ex = L
4o  3
−L
2
x2 + y2 + ( z − z )  ' 2 2

L
 
'
 2
ydz
Ey = L
4o  3
(7)
−L
2
x2 + y2 + ( z − z )  ' 2 2

 

L
2
( z − z ) dz
' '

Ez = L
4o  3
(8)
−L
2
x2 + y2 + ( z − z )  ' 2 2

 
Como a definição de integral é um somatório, vamos discretizar o
comprimento L do condutor em N elementos, assim obtemos o elemento
diferencial Δz’=L/N. Assim podemos escrever as equações (6), (7) e (8) no
seguinte formato:

 x N
z'
Ex = L
4o
 3 (9)
(
 x 2 + y 2 + z − iz' + L 
)
i =1 2 2

 2 

 y N
z' (10)
Ey = L
4o
 3

(
 x 2 + y 2 + z − iz' + L 2 
)
i =1 2

 2 

 N ( z − iz + L 2 ) z ' '

Ez = L
4o
 3
(11)

(
 x + y + z − iz + L
2 ) 

i =1 2 2
2 2 '

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Como resultado, pode-se obter a distribuição do campo elétrico ao


longo de um eixo como apresentado na Figura 7, ou obter um gráfico de
superfície onde é apresentado o modulo do campo elétrico no plano z=0 na
Figura 8. Além disso, é possível apresentar as equipotenciais, ou seja, as
linhas de campo que possuem o mesmo valor e o sentido do campo na Figura
9.

Figura 7 - Variação da componente Ex do campo elétrico ao longo do eixo x.

Figura 8 - Módulo do campo elétrico no plano z=0


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Figura 9 - Linhas equipotenciais e direção do campo elétrico no plano z=0.

De forma análoga, podemos obter a distribuição da indução


magnética. Neste caso utilizando como ponto de partida a equação (2)
juntamente com as equações (3-5) obtemos as seguintes relações: Observe
não há componente na direção Z.
L
 o iy 2 dz'
4 −L  2
Bx = − 3 (11)
2 x + y + (z − z )
2 ' 2 2
 
L
 ix 2 dz' (12)
By = o 
4 −L  2 3
2 x + y + (z − z )
2 ' 2 2
 

Utilizando o conceito de discretização, obtemos as equações (13) e


(14).
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 o iy N z'
Bx = − 
4 i =1  2 3 (13)
( 
)
2 2
x + y + z − iz +
2 ' L
 2 
 ix N z'
By = o  (14)
4 i =1  2 3

( )

2 2
x + y + z − iz +
2 ' L
 2 
Assim, obtemos as seguintes distribuições de indução magnética no
espaço. A Figura 10 apresenta a distribuição do modulo da indução
magnética no espaço e a Figura 11 apresenta as equipotenciais e o sentido
da indução magnética.

Figura 10 - Módulo da indução magnética no plano z=0.


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Figura 11 - Linhas equipotenciais e direção da indução magnética no plano


z=0.
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4) Medição de campo magnético

Existem diversos tipos de sensores que podem ser usados na medição


de campo magnético. Podem ser classificados de acordo com o princípio de
funcionamento, sensibilidade e faixa de frequência de operação. Os sensores
indutivos baseiam-se na lei de Faraday; a variação de fluxo magnético no
tempo através de um conjunto de espiras produz uma tensão elétrica nos
terminais do sensor. Este tipo de sensor é utilizado principalmente em
campos variáveis no tempo e, dependendo do projeto, pode ser usado com
campos tão fracos quanto 10 pT e frequências de dezenas de Hertz a
centenas de Megahertz. Os sensores magneto-galvânicos se baseiam na
ação do campo magnético em correntes elétricas que circulam em
dispositivos de estado sólido. No sensor de efeito Hall esta ação produz uma
diferença de potencial elétrico entre as faces de um cristal semicondutor
proporcional ao campo magnético. No sensor magnetoresistivo a ação do
campo magnético produz uma variação na resistência elétrica do cristal. Os
sensores magneto-galvânicos geralmente apresentam boa sensibilidade até
cerca de 1 MHz e são adequados para campos de 1 T ou maiores. O sensor
SQUID é baseado no efeito Josephson em supercondutores e para funcionar
deve ser resfriado a temperaturas muito baixas. É o sensor de maior
sensibilidade, podendo detectar campos da ordem de 10-14 T.
A Figura 17 mostra o esquema de um magnetômetro constituído de
um sensor indutivo ligado a um amplificador de instrumentação. A tensão
nos terminais do sensor é obtida a partir da Lei de Faraday na seguinte
forma:

dφ m dB(t)
Vs (t) = − = − Ns A
dt dt (17)

Figura 17 – Esquema de medição de campo magnético usando sensor


indutivo.

Onde m é o fluxo magnético no sensor, N é o número de espiras do


sensor e A é a área da seção transversal do sensor. Se o campo magnético
varia senoidalmente no tempo segundo a equação (18):

B(t) = Bmax cos(ω t) (18)


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A tensão induzida no sensor também será senoidal com mesma


frequência:

Vs (t) = ωNs A Bmax sen(ω t) (19)

Assim, medindo-se a amplitude da tensão e a frequência e


conhecendo-se as características construtivas do sensor, podemos calcular
a amplitude da indução magnética. A sensibilidade de um sensor indutivo é
definida pela seguinte relação:

Vsmax
S= = ωNs A
Bmax (20)

Tendo a unidade em Volts/Testa e depende de características


construtivas e da frequência.
Um sensor indutivo de alta sensibilidade pode ser construído usando-
se um núcleo magnético para concentrar a indução magnética no interior
da bobina. Nesse caso, a relação entre a indução aplicada (Ba) e a indução
total no sensor (Bs) é:

Bs
= μc
Ba (21)

Onde c é a permeabilidade magnética efetiva do núcleo.


Devido ao efeito de desmagnetização dos polos magnéticos abertos, a
permeabilidade efetiva é menor que a permeabilidade do material do núcleo.
A Figura 18 ilustra o processo de desmagnetização em um núcleo cilíndrico.
A relação aproximada se r >> 1 é a seguinte:

μr
μc = (22)
1+ μ r N d

Onde Nd é o fator de desmagnetização do núcleo ( Hd=-Nd M). Com isso, a


sensibilidade do sensor é obtida na seguinte forma:

S = ωN s Aμ c (23)
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Figura 18 – A magnetização M do núcleo cria os polos N e S. Os polos


magnéticos estabelecem o campo desmagnetizante Hd que é proporcional à
magnetização M.

O sistema de medição é composto de um sensor indutivo com núcleo


de ferrite com as características a seguir:

• r = 2000
• Ls = 47 mm
• Ds = 8 mm
• Ns = 85
• Nd  0,0311)

O sinal gerado no sensor será medido em um osciloscópio.


Para produzir um campo magnético de valor conhecido será usado um
solenoide com núcleo de ar com as seguintes características:

• Comprimento L = 485 mm
• Número de espiras N = 200
• Diâmetro D = 2R = 75 mm

O campo no eixo do solenoide é dado por:

 
B=
μ oi N  ( z + L / 2)

( z − L / 2)  (24)
2L  R 2 + ( z + L / 2 )2 2 
R + (z − L / 2) 
2

Os equipamentos a serem utilizados nesta atividade prática são:

• Gerador de sinais TTi modelo TG2000 para alimentar o


solenoide;
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• Osciloscópio Tektronics modelo TDS 2024B para medir a tensão


induzida no sensor.

Deve-se ajustar o gerador de sinais para fornecer tensão senoidal com


10 Vpp na frequência de 1 kHz. Uma resistência de 100  em série com o
solenoide limitará a corrente no valor adequado e servirá para determinar a
corrente através da queda de potencial medida no osciloscópio. Com o
auxílio de uma régua, posicionar o sensor dentro do solenoide e registrar o
valor do sinal gerado em cada uma das posições indicadas na Tabela 5.

Tabela 5 – Posições e valores de tensão no sensor indutivo

z ( 10-2 m) Vs ( mV )
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24

Questões para avaliação:

1) Verifique na literatura em quais situações práticas os sensores


magnéticos são necessários.
2) Avalie como se deve projetar um sensor indutivo: o que é necessário
saber sobre o campo a ser medido? Quais os materiais que devem ser
usados? Quais devem ser as dimensões do sensor?
3) Usando o MatLab faça gráficos da indução magnética teórica e da
indução magnética medida.
4) Calcule o erro máximo entre valores experimentais e teóricos.
5) Avalie como deve ser feita a calibração de um medidor de campo
magnético.
6) Avalie se as condições de validade da equação (24) são atendidas neste
experimento.
7) Avalie os fatores que afetam a exatidão da medição com o sensor
indutivo: comprimento da bobina, área do núcleo, capacitância
parasita, permeabilidade magnética e fator de desmagnetização.
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5) Medição do espectro de um sinal

Um sinal elétrico pode ser medido no domínio do tempo com um


osciloscópio ou medido no domínio da frequência com um analisador de
espectro. O esquema simplificado para realizar a medição do espectro de um
sinal é mostrado na Figura 12. O sistema é composto de um oscilador local,
que é um oscilador controlado por tensão (VCO), cuja tensão de controle tem
a forma de uma rampa, sendo produzida por um gerador de varredura. O
sinal a ser medido é aplicado no misturador junto com a saída do oscilador
local. Esse dispositivo multiplica esses sinais gerando um deslocamento no
espectro do sinal de entrada para a posição da frequência do oscilador. Isso
é mostrado na Figura 13. O filtro de FI é um filtro sintonizado que permite
que apenas uma pequena parte do espectro do sinal de entrada apareça na
sua saída. A parte do sinal que se localiza fora da banda passante do filtro
de FI é eliminada e o sinal resultante tem uma distribuição espectral bem
concentrada em torno da frequência de FI. A amplitude desse sinal filtrado
é medida por um detector sensível ao valor quase pico, valor médio ou valor
eficaz desse sinal. O sinal produzido pelo gerador de varredura também é
usado para fazer a varredura horizontal da imagem na tela do analisador de
espectro. A varredura vertical é realizada pelo sinal obtido na saída do
detector e assim forma-se o espectro do sinal pelo deslocamento simultâneo
do ponto de imagem no eixo horizontal (da frequência) e no eixo vertical (da
intensidade de sinal). A largura de banda do filtro de FI (Figura 12) é
chamada de banda de resolução e determina a parte do espectro do sinal
que é medida. Quanto menor for a banda de resolução com mais detalhes o
espectro do sinal pode ser analisado.

Figura 12 – Esquema simplificado para obtenção do espectro de um sinal.


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O espectro de um sinal é representado pela distribuição de amplitudes


e ângulos de fase das componentes harmônicas desse sinal. A análise de
Fourier é a ferramenta matemática que permite obter as componentes
espectrais de uma função. Para funções periódicas, pode-se usar a
decomposição em série de Fourier, descrita pelas equações a seguir onde o
é a frequência fundamental do sinal.


f(t) = a o +  a n cos(nωo t) + b n sen(nωo t) 
n=1
T
1
T 0
ao = f(t) dt

2
T (14)
T 0
an = f(t) cos(nωo t) dt

T
2
b n =  f(t) sen(nωo t) dt
T0

Figura 13 – Representação do processo de deslocamento e filtragem do sinal


para obter a sua componente em torno da frequência de FI.

É possível obter também uma série exponencial de Fourier na seguinte


forma:

f(t) =  c n e jnωo t
n=0
T
(15)
2
c n =  f(t) e -jnωo t dt
T0
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Os coeficientes cn nesta série fornecem diretamente a amplitude e


ângulo de fase de cada componente espectral de frequência  = no do sinal.
A Figura 14 mostra alguns termos da série de Fourier de uma onda
quadrada e a soma dos 10 primeiros termos ímpares. Os termos pares da
onda quadrada são todos nulos. A Figura 15 mostra o espectro de módulo
da onda quadrada até a harmônica 30.

0.8
(1) soma de 10 harmonicas impares
0.6

sinal
0.4
Amplitude normalizada

0.2 (3)
(5)
(7)
0

-0.2

-0.4

-0.6

-0.8
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
Tempo (s) -6
x 10

Figura 14 – Sinal onda quadrada de 1 MHz e suas componentes até sétima


harmônica.

A soma até a harmônica 20 está representada na cor vermelha.

A unidade geralmente utilizada na apresentação do espectro de um


sinal é o decibel (dB). O decibel é usado para relacionar dois valores, sendo
um tomado como referência. Assim temos as seguintes unidades:

dB referente a uma potência de 1 W


dBm referente a uma potência de 1 mW
dB referente a uma potência de 1 W

Para valores de tensão ou corrente elétrica, basta acrescentar o


símbolo correspondente:

dBV referente a uma tensão de 1 V


dBmV referente a uma tensão de 1 mV
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dBV referente a uma tensão de 1 V


dBA referente a uma corrente de 1 A
dBmA referente a uma corrente de 1 mA
dBA referente a uma corrente de 1 A

O valor em dB é calculado usando as seguintes expressões:

 P 
P(dB) = 10log  
1 W 
 V  (16)
V(dBV) = 20 log  
1 V 
 I 
I(dBA) = 20 log  
1 A 

Para outros valores de referência basta acrescentar os símbolos “m”


ou “” conforme o caso.

60

50

40
dBmV

30

20

10

0
0 5 10 15 20 25 30
f (MHz)

Figura 15 – Espectro de módulo da onda quadrada de 1 Vpp com


fundamental de 1 MHz até harmônica 30.
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Neste experimento usaremos o analisador GSP-830 da GW-INSTEK


que permite obter o espectro de sinais na faixa de 0 a 3 GHz. As funções
básicas de ajuste do instrumento para realizar este experimento são
descritas no procedimento a seguir.

1) Inicialmente ajuste o gerador de sinais para tensão senoidal com


frequência de 1 MHz e amplitude pico a pico de 1 Vpp. Observe que a
máxima amplitude de tensão de entrada no analisador de espectro
corresponde a uma potência média de 30 dBm sobre uma impedância de 50
. Isto corresponde a uma tensão senoidal com amplitude de 10 V.
Portanto, não ligue o gerador no analisador de espectro até que a amplitude
de sinal tenha sido ajustada para um nível seguro.

2) Ajuste a banda de medição do analisador de espectro:


Pressione Frequency
Pressione start F2 e ajuste 100 KHz
Pressione stop F3 e ajuste 20 MHz
Pressione step F4 e ajuste 10 KHz.

3) Ajuste a banda de resolução do analisador de espectro:


Pressione BW
Pressione RBW F1 e ajuste nas teclas de direção o valor 30 KHz
Pressione AVG F4 e ajuste ‘off ’.

4) Ajuste de referência e escala vertical:


Pressione Amplitude
Pressione unit F3 e dBmV F2
Pressione scale dB/div para obter 10 dB/div
Pressione reference F1 e ajuste 60 dBmV

5) Meça o sinal:
Pressione Peak Search e F1 para ler a amplitude do sinal em 1
MHz;

6) Mude para onda quadrada. Para visualizar os demais picos


pressione sucessivamente Next Peak F2.

7) Devido ao ruído inerente ao gerador e analisador as amplitudes


variam muito. Podemos obter uma média de um certo número de leituras
sucessivas e com isso, eliminar a maior parte do ruído. Pressione BW e AVG
F4 para habilitar média de 20 leituras (para obter outro valor basta ajustar
no teclado).

9) Anote na Tabela 4 os valores obtidos para as componentes da onda


quadrada (na coluna Q).
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10) Mude para onda triangular e repita as leituras. Anote na Tabela 4


(na coluna T).

Tabela 4 – Amplitudes das 20 primeiras harmônicas da onda quadrada (Q)


e da onda triangular (T) com frequência fundamental 1 MHz e amplitude 1
Vpp.

f | V | (dBmV) Q | V | (dBmV) T
(MHz)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20

Questões para avaliação:


6) Crie um programa em MatLab para obter as componentes espectrais
usando a análise de Fourier para a onda quadrada e triangular.
7) Faça gráficos dos espectros teórico e experimental obtidos para as
duas formas de onda. Compare os resultados e justifique as
diferenças.
8) Faça um programa em MatLab para reconstruir as formas de onda no
tempo a partir das componentes espectrais obtidas neste experimento
para as ondas Q e T.
9) Verifique se a reconstrução ficou semelhante aos sinais originais e
justifique as diferenças.
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6) Medição de campo elétrico

Campo elétrico é um campo de força provocado pela ação de cargas


elétrica (elétrons, prótons ou íons). Alguns fenômenos são justificados pela
existência de campo, ou seja, pelo acúmulo de cargas em superfícies e
consequentemente os efeitos de atração ou repulsão. Campos elétricos
podem ser aplicados em diferentes áreas, na medicina, o estímulo elétrico
provoca a abertura de poros na membrana celular, aumentando a
citotoxidade das drogas em um tratamento de câncer.
Considere um sistema de placas paralelas retangulares com arestas
de (29 cm x 24 cm) espaçadas de 6,5 cm mostrada na Figura 16. É utilizado
um gerador de sinais para a aplicação de tensão variável entre as duas
placas, e com isso a criação de um campo elétrico variável no tempo. No
centro das placas é posicionado um sensor de campo elétrico com
comprimento de 6 cm.

Placas

V(ac) E d

Sensor
Figura 16 - Estrutura de ensaio.

A tensão induzida no sensor - Vind é dada pela equação (1), onde F é


uma constante que depende da área efetiva do sensor e do ganho diretivo
do monopolo (sensor) e E é o campo elétrico aplicado.

Vind = F * E (1)

O objetivo desse laboratório é determinar o valor da constante F. Para


isso, deve ser preenchida a Tabela 1. Ajuste a amplitude da onda no gerador
de sinais e varie a frequência de 10 kHz até 1 MHz.
Os equipamentos a serem utilizados nesta atividade prática:

Gerador de sinais TTi modelo TG2000;


Osciloscópio Tektronics modelo TDS 2024B;
Ponteira de tensão Tektronics modelo P2022.
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Os valores medidos serão lidos diretamente no menu lateral de


medição do osciloscópio. Utilizar a leitura de valor rms, pois são mais
estáveis que os valores instantâneos. O gerador deve ser ajustado para
impedância de saída de 50 ohms, impedância de carga de alta impedância.
Preencher a Tabela 1.

Vgerador Vgerador Vgerador Vgerador


(1Vpp) (3Vpp) (7Vpp) (10Vpp)
Frequência Vind (mV) Vind (mV) Vind (mV) Vind (mV)
(kHz)
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000

1) Crie um programa em MatLab para obter os gráficos da Vind em função


da frequência.
2) Obtenha o valor da constante F para cada ponto. Calcule o valor médio
e o desvio padrão das medidas realizadas.
3) Um aluno de engenharia elétrica utilizou o sistema e com o auxílio do
osciloscópio ele mediu uma tensão de 25 mVrms, com base nos
valores obtidos para a constante F obtenha o campo elétrico gerado
pela estrutura.
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7) Cálculo de campo com o método das diferenças


finitas

O método das diferenças finitas é baseado na transformação de


equações diferenciais em equações de diferenças e solução dessas equações
em uma malha discreta de pontos no espaço sob condições de contorno pré-
estabelecidas. A partir da definição de derivada de uma função, podemos
estabelecer uma forma aproximada para calcular a taxa de variação de uma
função com base em variações finitas de sua variável independente:

+
df ( x) f ( xo + x) − f ( xo )
( xo ) = lim
dx x → 0 x
− (25)
df ( x) f ( xo ) − f ( xo − x)
( xo ) = lim
dx x → 0 x
Para a derivada existir, é necessário que os dois termos acima sejam
finitos e iguais. Se desejamos obter uma aproximação por diferenças finitas
devemos ignorar o processo de passagem ao limite e apenas considerar um
incremento finito x arbitrariamente pequeno. Nesse caso, não se pode
garantir que os termos acima sejam iguais, portanto a melhor alternativa é
tomar a média aritmética deles. Assim, temos:

df ( x) 1  f ( xo + x) − f ( xo ) f ( xo ) − f ( xo − x) 
( xo )   + 
dx 2 x x 
(26)
f ( xo + x) − f ( xo − x)
=
2 x
Para a segunda derivada podemos usar um raciocínio semelhante. A
expressão exata é a seguinte:
d 2 f ( x) f ( xo + x) − f ( xo ) (27)
( xo ) = lim
dx 2 x →0 x
Onde usamos o símbolo f´(x) para representar a primeira derivada. Para
obter a segunda derivada em diferenças finitas ignoramos o limite e
representamos as derivadas no segundo termo pelas respectivas
aproximações.

d 2 f ( x) 1   f ( xo + x) − f ( xo )   f ( xo ) − f ( xo − x)  
( xo )   − 
dx 2
x   x   x 
(28)
f ( xo + x) + f ( xo − x) − 2 f ( xo )
=
( x )
2

Consideremos a seguir a equação de Laplace em coordenadas


retangulares:
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d 2V ( x, y, z ) d 2V ( x, y, z ) d 2V ( x, y, z )
+ + =0 (28)
dx 2 dy 2 dz 2
Substituímos as derivadas pelas aproximações em diferenças finitas
para obter no ponto (xo,yo,zo) do espaço:

V ( xo + x, yo , zo ) V ( xo , yo + y, zo ) V ( xo , yo , zo + z )
+ +
( x ) ( y ) ( z )
2 2 2

V ( xo − x, yo , zo ) V ( xo , yo − y, zo ) V ( xo , yo , zo − z ) (29)


+ +
( x ) ( y ) ( z )
2 2 2

 1 1 1 
= 2V ( xo , yo , zo )  + + 
 ( x )2 ( y )2 ( z )2 
 
O método das diferenças finitas consiste em discretizar o espaço com
pequenos volumes regulares como paralelepípedos em 3D ou retângulos em
2D. A Figura 19 ilustra esse processo para uma análise bidimensional.
Considerando apenas duas dimensões, a equação (29) pode ser reescrita da
seguinte forma no espaço discretizado:

( y ) V (i + 1, j ) + ( x ) V (i, j + 1) + ( y ) V (i − 1, j ) + ( x ) V (i, j − 1)
2 2 2 2

V (i, j ) = (30)
2 ( y ) + ( x ) 
2 2
 

Figura 19 – Esquema de discretização para um problema bidimensional.


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Por esta equação, podemos concluir que o potencial em uma posição


qualquer do espaço discreto é uma média ponderada dos potenciais
vizinhos. A fim de obter os potenciais em cada nó da malha de discretização
espacial do problema analisado devemos escrever e resolver o sistema de
equações algébricas semelhantes à equação (30), uma para cada nó da
malha. As condições de contorno são usadas para completar as equações
para os nós nas fronteiras da malha. Qualquer método de solução de
sistemas de equações lineares pode ser usado para obter a solução na forma
de um vetor de potencias.
Vamos avaliar o exemplo da Figura 19. Neste caso as condições de
contorno são de potencial prescrito nas superfícies externas do domínio.
Quando o potencial é especificado em uma superfície denominamos de
condição de contorno de Dirichlet. Outra opção geralmente utilizada é a
especificação do campo elétrico normal na superfície, o que é denominado
de condição de contorno de Neumann.
No caso apresentado, o domínio de análise é um retângulo de arestas
Lx e Ly e o Número de divisões é Nx e Ny, os incrementos nos dois eixos são
x=Lx/Nx e y=Ly/Ny. As coordenadas no espaço discreto são dadas xi=(i-
1) x e yj=(j-1) y com i=1,2,3,...,Nx e j=1,2,3,...Ny. As condições de contorno
indicadas na Figura são:

• V=0 para 0  x  Lx e y < 0


• V=0 para x < 0 e 0  y  Ly
• V=0 para x > Lx, 0  y  Ly
• V=Vo para 0  x  Lx e y > Ly

A equação (30) fornece o potencial no caso geral. Nas fronteiras,


devemos substituir os termos que estão fora do domínio de análise pelo valor
da condição de fronteira correspondente. Por exemplo, na posição (1,1)
temos o seguinte:

( y ) V (2,1) + ( x ) V (1, 2)
2 2

V (1,1) = (31)
2 ( y ) + ( x ) 
2 2
 

Na posição (1,Ny) temos o seguinte:

( y ) V (2, N y ) + ( x ) Vo + ( x ) V (1, N y − 1)
2 2 2

V (1, N y ) = (32)
2 ( y ) + ( x ) 
2 2
 

E na posição (Nx,1<j<Ny) temos o seguinte:

( x ) V ( N x , j + 1) + ( y ) V ( N x − 1, j ) + ( x ) V ( N x , j − 1)
2 2 2

V (Nx , j) = (33)
2 ( y ) + ( x ) 
2 2
 
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O potencial analítico é obtido conforme mostrado na expressão (34).

 n   n 
sen  x  senh  y 
4Vo  Lx   Lx 
V(x, y) = 
 n ímpar  nL y 
(34)
n senh  
 Lx 
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8) Métodos dos elementos finitos

A distribuição de campos elétricos e magnéticos, bem como vários


fenômenos de Física Mecânica, obedece a equações diferenciais parciais de
segunda ordem, cuja solução analítica é, em casos práticos, de difícil
obtenção. O Método de Elementos Finitos – MEF, surgiu durante os anos de
1950 para uma aplicação aeronáutica, é uma ferramenta de grande
flexibilidade e eficiência em problemas de difusão de campos. A teoria e
técnica do método foram estabelecidas e aprimoradas nos anos 60 fazendo
com que praticamente toda a bibliografia fosse, na época, baseada em
problemas de Mecânica. Somente a partir dos anos de 1970 o MEF passou
a ser empregado em Eletromagnetismo de forma ampla (Bastos, 2004),
Atualmente existe no mercado uma grande quantidade de softwares
que se utilizam do método dos elementos finitos para a resolução de
problemas eletromagnéticos, entre eles podemos citar: COMSOL
Multiphisics, Maxweel ANSYS, FEMM. Nesse roteiro será utilizado o
software FEMM, apesar de sua solução ser para 2D, ele é gratuito e pode
ser utilizado para a obtenção de estimativas e aproximações.

8.1) A discretização do domínio e o elemento triangular linear.

O MEF é baseado no fato de que o domínio de estudo seja discretizado,


ou seja, dividido em pequenas parcelas chamadas “elementos finitos”.
Considere o domínio de análise na Figura 20 proposto por (Bastos, 2004),
onde será analisado a distribuição de campo elétrico entre meios dielétricos.

Figura 20 –(a) Domínio de análise. (b) Domínio discretizado.

O elemento finito que dá o nome ao método, nessa análise são


triângulos definidos pelos seus vértices, chamados de “nós”. Considerando
que a variável incógnita a ser determinada seja o potencial “V” no domínio.
Determinado “V” o campo elétrico pode facilmente ser obtido. Considere um
elemento como apresentado na Figura 21, o potencial em seu interior varia
linearmente conforme a Equação (35).
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Figura 21-Elemento triangular.

V(x, y) = a + bx + cy (35)

Esta equação deve ser verificada nos três nós do triângulo, e temos
então:

V1 = a + bx 1 + cy 1 (36)
V2 = a + bx 2 + cy 2 (37)
V3 = a + bx 3 + cy 3 (38)

ou seja, nas coordenadas correspondentes aos vértices, o potencial deve ser


o potencial do próprio vértice. Ao resolver as equações 36, 37 e 38 pode-se
obter os coeficientes “a”, “b” e “c”. Substituindo esses coeficientes na
Equação (35) obtêm-se:
1 1 1
V(x, y) = ( p1 + q 1x + r1 y ) V1 + ( p2 + q 2 x + r2 y ) V2 + ( p3 + q 3x + r3 y ) V3 (39)
D D D
onde D é o dobro da superfície do triângulo e p1=x2y3-x3y2, q1=y2-y3 e r1 = x3-
x1. Os termos p2, q2, r2 e p3, q3, r3 são obtidos através de permutação cíclica
dos índices obedecendo a regra mostrada para os três primeiros termos.
Podemos escrever a expressão 39 na forma de somatório, como é
apresentado na Equação (40).

1 (40)
V(x, y) =  ( pl + ql x + rl y )Vl
D l =1,3

Para obter o campo elétrico basta aplicar a Equação (41).

 
E(x, y) = − V ( x, y ) i - V ( x, y ) j (41)
x y
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8.2) Software FEMM

O software FEMM é gratuito e pode ser encontrado no seguinte


endereço eletrônico: http://www.femm.info/wiki/HomePage, nesse portal é
encontrada toda a documentação sobre o método e o software.
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9) Estudo prático da indução eletromagnética

A indução eletromagnética produz uma força eletromotriz (f.e.m ou


tensão), em um meio com campos variáveis no tempo ou em um meio em
movimento em campos estáticos. Graças a esse fenômeno temos as
máquinas elétricas (motores, geradores e transformadores) que
revolucionaram a sociedade do século XX e hoje está tão presente no
cotidiano em diversos aparelhos e eletrodoméstico do dia-a-dia. Para o
cálculo da tensão induzida é utilizado a lei de Faraday apresentada na
Equação (42), a tensão induzida é obtida pela Equação (43).
B (42)
xE = -
t
dm dB(t) (43)
Vind (t ) = − = − NsA
dt dt
Para o nosso estudo sobre a indução eletromagnética, considere o
sistema apresentado na Figura 22. O sistema é composto por dois
solenoides. O solenoide 1 é alimentado por um gerador de sinais na
frequência de 10 kHz e amplitude de 5 Vpp. Suas dimensões são: R1=30
mm, L1 =21,8 cm e N1 =290 espiras. A tensão induzida será medida sobre
o solenoide 2, em diversas posições sobre o eixo de simetria. As dimensões
do solenoide 2 são: R2= 20mm, L2=21,5 cm e N2=303 espiras.

Figura 22 - Esquema de medição da tensão induzida.

A indução magnética no eixo do solenoide 1 é dado por:

 
B1( z ) =
 oiN1  ( z + L / 2) − ( z - L / 2)  (44)
2L1  R 2 + ( z + L / 2 )2 R 2 + (z - L / 2)
2 
 
O fluxo no solenoide 2 devido a influência do campo gerado pelo
solenoide 1 é dado por:

N2
zo + L 2 (45)
m =  R22  B1( z )dz
L2 zo
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Com as expressões (43), (44) e (45) é possível obter a expressão da


tensão induzida no solenoide 2.

Os equipamentos a serem utilizados nesta atividade prática são:


Gerador de sinais TTi modelo TG2000 para alimentar o solenoide;
Osciloscópio Tektronics modelo TDS 2024B para medir a tensão
induzida.

Posição z(10-2)m Vind (mV rms) Corrente no solenoide 1


(mA rms)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21

Questões para a avaliação

1) Utilizando o software Matlab faça gráficos da tensão induzida em


função da posição z. Compare com o valor obtido
experimentalmente.
2) Cálcule o erro máximo entre valores experimentais e teóricos;
3) Se a corrente elétrica no solenoide 1 é constante e o solenoide 2
está entrando com velocidade constante de ‘u’. Calcule a força
eletromotriz induzida no solenoide 2 durante o intervalo de tempo
0t(L1+L2)/u;
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10) Geração e recepção de ondas eletromagnéticas

Uma antena é um dispositivo de transição entre uma linha de


transmissão ou guia de ondas e o espaço livre. Tem por finalidade acoplar
esses dois meios de modo que a onda guiada possa se propagar para o
espaço sem reflexão e na direção e sentido desejado. Embora existam muitos
tipos diferentes de antenas, o princípio básico é o mesmo para todas: a
circulação de corrente elétrica variável no tempo em um condutor qualquer
gera campos elétrico e magnético variáveis no tempo e parte da energia
fornecida pela fonte no estabelecimento dessa corrente, é transportada na
onda eletromagnética que se forma como resultado do acoplamento entre os
campos segundo determina as leis de Faraday e Ampere.
A irradiação de uma antena pode ser modelada a partir do potencial
magnético gerado pela sua distribuição de corrente. O exemplo mais simples
é do dipolo hertziano (Figura 23), na qual um segmento de fio condutor de
comprimento muito pequeno posicionado na origem do sistema de
coordenadas irradia potencial magnético de acordo com a seguinte equação:

(46)
μIl e- jβ r
A= uz
4π r

Figura 23 – Irradiação de um dipolo hertziano.

Onde I é o fasor de corrente no dipolo, l é seu comprimento e =/u é a


constante de fase para a propagação no espaço livre com frequência angular
 e velocidade de fase u.
A partir do potencial magnético, os campos irradiados podem ser
obtidos através das seguintes equações:
 A
H= (47)
o
H  A (48)
E= =
jo j o o
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Na região de campo distante do dipolo hertziano (r>>/2), os campos


são obtidos na seguinte forma:

Iolβ 2 senθ - jβ r (49)


Eθ = j e
4πωε r
E
H =  (50)
Zo
Onde Zo=(o/o)1/2  376,8  é a impedância característica do vácuo. Usando
o vetor de Poynting, podemos calcular a densidade de potência irradiada:
2
1 E 1 2 Z o Io2l 2 2 sen 2
P= u r == Zo H  u r = ur (51)
2 Zo 2 322 r2
Observamos que a irradiação ocorre preferencialmente no plano
azimutal do dipolo Hertziano (=/2) e diminui de intensidade com o inverso
do quadrado da distância radial.
A partir desse modelo simples é possível obter os campos irradiados
por antenas reais, desde que se conheça a distribuição de corrente nos
condutores. A antena mais comum é a dipolo, representada na Figura 24.
Quando alimentada pelo centro com corrente senoidal, esta antena
apresenta a seguinte distribuição espacial de corrente (z é a distância
medida a partir de seu centro):

 L 
I(z) = Io sen   − z    z  0
 2 
(52)
 L 
I(z) = Io sen   + z    z  0
 2 
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Figura 24 – Modelo para análise de uma antena dipolo.

Os campos irradiados são obtidos pela integração da equação (49) no


comprimento da antena, considerando cada segmento dz como um dipolo
hertziano e usando a distribuição de corrente I(z) dada pela equação (52).
Com diversas aproximações válidas quando a distância da antena até a
posição de observação é muito maior que a comprimento da antena, a
integração pode ser realizada analiticamente, resultando na seguinte
expressão para o campo elétrico irradiado:

Z o I o e − j r (53)
E = j F()
2 r
 L   L 
cos  cos   − cos  
      (54)
F() =
sen 

A antena cujo comprimento é metade do comprimento de onda,


denominada de dipolo de meia onda, é a mais popular de todas as antenas
lineares. Neste caso específico, temos:

 
cos  cos  
F() = 2  (55)
sen 
O diagrama de irradiação é uma representação em coordenadas
polares da distribuição espacial da intensidade de campo (|F()|) ou
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potência irradiada (F2()) pela antena segundo a função F() (para outras
antenas o ângulo azimutal pode ser necessário também). A Figura 25
apresenta os diagramas de irradiação de potência e de campo para o dipolo
de meia onda no plano vertical, ou seja, com variação do ângulo polar, e no
plano horizontal, com variação do ângulo azimutal.

Figura 25 – Diagramas de irradiação da antena dipolo de meia onda. O


diagrama de campo é a representação da função |F()| e o diagrama de
potência é a representação da função F2().

O ganho diretivo é um parâmetro usado para caracterizar as


propriedades direcionais de antenas. É definido a partir da relação entre a
intensidade da irradiação em uma direção específica e a intensidade média
irradiada pela antena. A intensidade da irradiação é definida pela seguinte
relação com a densidade de potência ou módulo do vetor de Poynting:

U(θ, ) = r 2 P(θ, ) (56)

Desse modo, a intensidade da irradiação não depende da distância à


antena. O ganho diretivo de uma antena é definido e calculado pela seguinte
relação:

U(θ, )
GD =
U med (57)

A intensidade média, por sua vez é calculada como segue:

2π π

  U(θ, ) senθ dθ d Pirr


U med = 0 0
2π π
= (58)

  senθ dθ d
0 0
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Onde Pirr é a potência total irradiada pela antena. Assim, o ganho diretivo é
obtido na seguinte forma:

U(θ, ) (59)
G D = 4π
Pirr

Uma vez que a densidade de potência irradiada é proporcional ao


quadrado da função F(), podemos reescrever a equação anterior na forma
dessa função que pode ser obtida através do diagrama de irradiação da
antena:

U(θ, ) F2 (θ, )
G D = 4π = 4π 2π π (60)
Pirr
  F (θ, ) senθ dθ d
2

0 0

No caso de uma antena omnidirecional (irradiação isotrópica no plano


azimutal), o cálculo do ganho diretivo é simplificado para:

2F 2 ()
GD =  (61)
 F ()sen d
2

A diretividade (D) de uma antena é o seu ganho diretivo máximo


(geralmente expresso em dB):
D = 10 Log(G Dmax ) (62)

A diretividade é então uma medida do quanto a antena concentra a


densidade de potência irradiada em uma determinada direção do espaço.
Para avaliar qualitativamente como um sistema de comunicação por
ondas de rádio funciona, faremos a seguinte montagem:
• Um sistema de transmissão usando o gerador de RF Agilent N9310A
e uma antena dipolo de meia onda sintonizada em 500 MHz;
• Um sistema de recepção usando uma antena dipolo de meia onda
sintonizada em 500 MHz e o analisador de espectros Instek GSP830;
• Separar os sistemas em pelo menos 3 metros e alinhar as antenas
para mesma polarização horizontal e mesma altura;
• Ajustar a potência gerada para 10 dBm e variar a frequência do sinal
transmitido de 100 MHz a 1 GHz (com passos de 100 MHz);
• Analisar a variação da intensidade do sinal recebido e discutir a
influência da frequência no resultado;
• Variar o ângulo de orientação da antena dipolo com passos de 10
graus ao longo de 360 graus e medir o sinal recebido em 500 MHz;
• Analisar porque a intensidade do sinal varia com o ângulo de
orientação das antenas;
Laboratório de Eletromagnetismo Rodolfo Lauro Weinert

• Mudar as antenas para monopolos de quarto de onda verticais.


• Ajustar o sinal transmitido para 100 MHz com modulação FM de um
sinal senoidal de 1 kHz.
• Captar o sinal transmitido em um receptor FM.
• Discutir o processo de comunicação por ondas de rádio.

Questões para avaliação:


1) Por que a intensidade do sinal transmitido/captado pelas antenas
depende da frequência?
2) Por que a intensidade do sinal recebido depende da orientação
(polarização) relativa das antenas?
3) Que fatores ambientais influem no diagrama de irradiação de uma
antena?
4) Explique qualitativamente como ocorre a comunicação por ondas de
rádio.

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