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O medo da Morte

Se resumirmos tudo, o medo é o medo da morte. É o maior medo de nossa vida, e você pode até colocar outras
coisas na frente, mas na verdade é o medo da morte. Então, quando dominamos o medo da morte, estamos livres.
É nessa compreensão sobre o medo que não temos mais a temer, nós conseguiremos seguir em frente, e quando
nossa hora chegar, estaremos prontos, porque essa hora não há como voltar atrás, você segue adiante, e você vai
deixando para trás todo o medo e confiando no que você fez por toda sua vida. Então, é nessa oportunidade de
sermos livres.
Penso que é por isso que estamos aqui, para aprender isso mesmo. Então é irônico, nascemos para aprender a
morrer.
No fim, iremos todos embora desse planeta ou desse corpo como o conhecemos, mas é nesses últimos suspiros de
nossas vidas que, se estivermos conscientes, poderemos levar essa consciência conosco e avançarmos para a nossa
próxima jornada.
Veja bem, a morte é assustadora. É tão assustadora para mim quanto é para você, para tudo e para todos. É apenas a
experiência de estar com você mesmo, de estar com sua respiração. Quer dizer, não é isso que vai tirar o medo da
morte, mas apenas vai dar um sentido à morte, porque é um momento de transição.
“O medo de deixar as pessoas que amamos para trás, e o que a nossa morte ode causar de dor nos que amamos e
nos amam, não será mais importante para nós, porque superamos esta fase; temos que ter em mente que isso é um
Karma deles, até porque a morte de quem amamos nos dá lenha para aumentar o fogo do medo da nossa própria
morte. Devemos nos libertar deste excesso de amor e medo pelos outros.”
O que irá conosco são nossas experiências.

Eu acho que muito disso é sobre pegar aquele curto período de tempo do dia dedicado àquelas nossas partes que
não podemos ver.
Passamos muito tempo cuidando de nossos corpos e alimentando esses corpos, e lidando com e-mails, e o mundo
em volta e tudo o que não podemos ver e dimensionar. Então precisamos de um tempo para cuidar dessas coisas,
ou para estar com essas coisas que não podemos ver, como nossa respiração, ou a sensação de tranquilidade da
mente, ou o sentimento de talvez meditar sobre a compaixão, ou em contemplação, a consciência, contemplação ao
amor, tudo o que não podemos ver ou dimensionar.
Então, na prática do Yoga e na meditação, há muito do mundo que vivemos, estamos em um mundo de coisas que
não podem ser medidas. Estar nesse espaço sem dimensionar as coisas por um tempo, porque não existe a
‘compreensão de tudo’, todos podemos compreender até um certo ponto, e então, aquilo que aprendemos pode
mudar. Ou haverá outra coisa para tentarmos entender e é ou que a ideia de nos render aparece. Saber os limites de
até onde conseguimos ir com nossa própria força e qual é o ponto em que temos que desistir e ter fé e confiança de
que alguma outra coisa irá nos ajudar.
Muita gente está meditando, muita gente indo para a igreja, então deve haver alguma motivação em nós, em todos
os seres humanos, que nos guia em direção à contemplação, ou à oração, ou à adoração, ou ficando em silêncio, de
uma maneira ou de outra.
Aristóteles e Platão, os monges de Jain e os Yogis, todos eles questionam, todos eles contemplam isso. Alguns
abandonam a sociedade para que possam contemplar essa noção. Isso tem acontecido há milhares de anos, não é
novidade para nós que já estamos fazendo isso, já é parte de nós fazer isso.
Não acho que haverá necessariamente algo melhor, um mundo melhor, um mundo mais pacífico, e não é que eu
seja um tipo de fatalista ou algo assim, mas me parece que sempre existiu muita violência no mundo, sempre
houveram políticos, sempre houveram problemas e crises financeiras, em qualquer lugar sempre ocorre alguma
coisa, seja fome, flagelo, uma praga, um rei ou governante terrível, invadido por uma praga ou países estrangeiros
que chegam e destroem tudo.

Pessoa mais gentil, compreensiva, que pensa melhor no mundo em que vive, que pensa nas suas ações no mundo, e
que tenta ser mais amável. “Eu não quero mais mais fazer parte de um mundo que causa sofrimento às pessoas.
Quero fazer parte do mundo de um modo que crie mais felicidade, mais compreensão, mais cuidado.” O tempo em
silêncio serve para ajudar a deixar nossa vida um pouco mais estável, e deixar nossa percepção um pouco mais
clara e nos dar um maior reconhecimento de que todos em nossa volta estão atravessando a mesma dificuldade.
No Tibete, senta e medita, enquanto os flocos de neve voavam pelo vale e caiam nas minhas roupas e nos meus
olhos; fiquei por mais de uma hora. E aquela meditação e qualquer que seja o espírito que estava lá, qualquer
energia que estivava lá, e qualquer que seja a aura que estava lá, isso vai comigo quando eu partir. Ninguém nem
nada pode tirar isso de mim. Ninguém pode tirar isso de você: suas experiências.

Na Índia, o mito ilustra como Deus se manifesta em tudo o que é humano, animal e mineral. Lá a mitologia é
representada pelos mortais no dia a dia. Deuses e deusas são venerados nas ruas, aldeias e cidades. São venerados
em táxis, motos e riquixás. São encontrados em todos os lados por uma razão surpreendente: porque representam
estados de consciência. Representam os estados do que os indianos almejam ser. Eu mesmo sou um deus
fantasiado.
Na tradição Hindu, a procura espiritual começa indo para dentro e termina ao obter a verdadeira ilustração. Há uma
oração para a ilustração que diz: “Guia-nos desde a escuridão até a luz, da ignorância até a verdade, da morte
até a eternidade.” A oração termina com Om Shanti, a tradicional invocação da paz.
O que é lealdade e a compaixão? É Hanuman, o deus macaco desafiando uma montanha e trazendo-a até um
moribundo para que uma erva o cure.
A devoção de Rama e Sita, que é mais forte que a morte.
Ambos os mundos estão dentro de nós. Podemos voar através do ar. Podemos presenciar milagres e curas.
Podemos vivenciar coincidências, transformações e magia. Esta evidência da mitologia indiana nos cerca.
Podemos nos conectar aos macacos nas árvores através do deus macaco Hanuman. O fornecedor da coragem,
esperança, conhecimento e intelecto.
Também lá está Shiva, que representa a destruição, mas ao mesmo tempo, o potencial para renovação e
ressurreição. Shiva não é uma deusa da morte, mas parte de um ciclo eterno responsável por afastar-se do que é
velho para dar ugar a algo novo.
A Índia deu o passo que o Egito nunca deu, tornou a morte criativa
O filho de Shiva é Ganesha. Ganesha é quem retira os obstáculos. Tem o nariz e um elefante, o que é muito
característico. Possui orelhas enormes para nos lembrar de sermos ouvintes ativos. E tem uma barriga enorme para
digerir os problemas do mundo. Com um pé no chão e outro no ar, ele está neste mundo mas não pertence a ele.
Em toda tradição há uma deusa mãe. Por exemplo, Isis, no Egito é a deusa mãe. Na Índia, o Ganges é conhecido
como Mãe Ganga. Ela traz a vida e descarta os mortos, levando seus cadáveres.
Este ciclo da vida é parte da matéria de nossa imaginação. Os mitos se incorporam a nosso espírito, psiques e alma,
permitindo-nos fazer coisas que nunca sonhamos.
Enquanto as divindades de muitas civilizações adotam a forma de animais e outras criaturas, gregos e romanos
veneravam deuses criados da beleza e a tração da forma humana. Através dos mitos, tentaram dar sentido a seus
sentimentos, seus impulsos e seu mundo. Tinham deuses e deusas que agiam em centenas de histórias de heroísmo,
traição e luxúria.
Entre elas estava a deusa do amor e o desejo sexual, Afrodite. Seu papel é fazer amor e inspirar a outros a fazer o
mesmo.
Mercúrio, mensageiro dos deuses, também conhecido como Hermes, era o deus dos jogos e dos negócios.
Marte era o deus romano da guerra, rápido para a ira e a procura de vingança, com um desejo de violência.
E Zeus, o deus supremo dos gregos. O defensor da moralidade que recompensava o bem e castigava o mal,
enquanto consentia com ambos.
Eles viviam histórias de amor, esperança e medo. Durante séculos , o mito tornou o real sagrado, uma fonte de
poder supremo. Mas hoje, o que vemos em troca? Uma sociedade que derruba velhos mitos para construir...
Estamos aprendendo que a ciência e a religião não são opostos, senão formas distintas de decodificar o universo.
Apenas uma bactéria descoberta no espaço profundo pode redefinir como se criou a vida. Porém, a aventura ao
espaço também fala de nossa necessidade de saber que ainda somos sagrados. Nossa mão se estende para tocar a de
Deus.
A mente não está confinada pelo tempo e o espaço. Cada partícula do vazio contém o todo. A menor brecha entre
dois terminais nervosos do cérebro contém o potencial para toda a existência. “Deus está na brecha.” Sem a mente
humana, apenas haveria uma sopa quântica, bilhões de impressões sensoriais randômicas. O gênio criativo produz
maravilhas de arte abrindo a mente a regiões de consciência desconhecidos na vida diária. Penso em Mozart
compondo uma sinfonia aos nove anos, a sua primeira ópera aos 12.

YOGA: ARCHITETURE OF PEACE

Ludwing Wittgenstein disse: “Nossa vida é um sonho, nós estamos dormindo, mas de vez em quando acordamos o
suficiente para saber que estamos sonhando.”
A mente do corpo é um sonho e tudo o que você está vivenciando através da mente do corpo é também um sonho.
O que não é um sonho é o “eu” e as experiências místicas acontecendo. Seu “eu” interior não tem forma, pois se
tivesse uma forma poderíamos vê-lo. Não tendo uma forma, ele não está no espaço-tempo, e não estando no
espaço-tempo é também eterno, como diz o Bhagavad Gita, “Água não pode molhá-lo, vento não pode secá-lo,
armas não podem quebra-lo, fogo não pode queimá-lo, é eterno, não está sujeito ao nascimento e à morte.” Aquele
“eu” não está no corpo, o corpo é uma experiência do “eu”, a mente é uma experiência do “eu”, o universo é uma
experiência do “eu”. A mente do corpo não tem nenhuma realidade substancial, você não tem a mesma mente que
você tinha nem há dois meses, ou há cinco minutos, ou há cinco segundos. Na verdade não há corpo, não há mente,
e não há universo. Estes são apenas conceitos que o “eu” cria, o “eu” humano cria para interpretar fluxos
intermitentes de sensações, imagens, sentimentos e pensamentos, que são as únicas experiências subjetivas que nós
temos.
O Buda disse: “Essa nossa existência é transitória como s nuvens do outono, observar o nascimento e a morte dos
seres é como observar os movimentos de uma dança. A duração da vida é como o brilho de um relâmpago no céu,
tal como uma torrente que se precipita montanha abaixo”.
Então todos estão se segurando, apegando em algo que você não pode... Como você pega o espaço? Esqueça o ar,
como pega o espaço? Como você segura isso? Ilusão é dar permanência a algo que oscila para dentro e para fora da
existência, e a mente do corpo está meio que tirando uma foto daquilo.
Se eu fosse ao oceano e tirasse uma foto dele, daquela onda, daquela gaivota, daquele arco-iris e eu dissesse “Este é
o oceano”, você me diria: “Não, é uma foto do oceano, vamos lá ver o oceano”, aquele momento da foto não existe
mais. Então, todo o resto além desse segundo não existe. Na hora que eu acabar de falar a minha frase, já é um
sonho. Essa manhã é um sonho, uma hora atrás é um sonho, cinco segundos atrás é um sonho, um segundo atrás é
um sonho, já se foi. Eu acho que, no final, o sentido da vida é descobrir quem você é, porque ninguém sabe quem
eles são, e eles confundem seus “eus” com uma foto deles mesmos, e o objetivo definitivo da vida é descobrir
quem você é e consequentemente, ir além da razão do sofrimento humano; não sabendo quem eles são, o apego, o
medo da impermanência, a identificação com o falso “eu” e o medo da morte, são todos uma coisa só: não saber
quem é você. Então, o sentido e o objetivo da vida é descobrir quem você é.
Eu também tinha grandes sonhos, mas os meus sonhos estavam dentro de mim. Eu queria ser rico, mas aqui dentro.
‘Eu’ queria ser rico lá fora. Você nasce com seus karmas e, então, quando pensamos no passado, é como se a
infância e o crescimento fosse o ‘pagamento’ dos karmas. O que aconteceu comigo na minha vida não tem nada a
ver comigo, eu nunca poderia sequer ter sonhado, ou fantasiado, ou planejado que minha vida iria se transformar
nisso.
Vivemos num mundo de dualidades, então há o certo e o errado. O certo não existe sem o errado, mas mesmo
assim você deve escolher honestamente. Honestidade é a coisa mais importante. A verdade é que tem que haver
uma grande mudança. De todos os pontos de vista, do ponto de vista educacional, ponto de vista médico ponto de
vista político, tem que voltar a ser humano. O que estamos fazendo como humanos? Trapaceando uns aos outros.
Sinistro né? O que estamos fazendo uns com os outros? Se tentarmos mudar isso, conseguimos mudar, mas pode
ser melhor ou pior, e na verdade descobriremos que a única coisa que podemos mudar somos nós mesmos. (é o que
falamos). Então as palavras são necessárias. As palavras atingem apenas os cinco sentidos, há um limite para o
quanto se consegue falar e pensar sobre as coisas. Você deve ir além dos cinco sentidos, é onde a realidade se
posiciona, é onde a verdade está, e você não consegue falar sobre, mas pode sentí-la, pode vê-la. Então,
frequentemente, apenas sento e tento olhar cada vez mais profundamente, e os pensamentos vêm, e toda vez que
esses pensamentos vêm, pare-os.
Existem tantos tipos diferentes de meditação, mas eu acho que para mim isso tem sido bem útil, impedir esses
pensamentos. Não todos os pensamentos, mas aquele meio que interno, a dualidade da conversa que se tem consigo
mesmo, aquele pensamento... Você está tão acostumado a conversar consigo mesmo, e então decide “sim”, “não”,
“não gosto disso”, “eu deveria fazer isso?”, “fazer desse jeito?”; é como se fossem duas pessoas, esse pensamento.
Mas o pensamento de contemplação e de auto expansão. Isso então gera mais espaço para aquilo, se você consegue
impedir aquele tipo de planejamento mental. Temos que fazer planos, mas aquela fantasia e idealização extras e
tudo aquilo, esse é o pensamento a ser impedido, não aquele que te leva mais longe. E isso leva a percepção, a
percepção que o ser humano comum não tem, pois não tenta encontra-la. Ela está lá, mas você deve ir além dos
cinco sentidos e além do mundo material afim de ver a verdade. Uma vez que você está lá você percebe que
“Nossa, somos todos apenas seres humanos”, mas até passar desse ponto em que você é importante, e que aquele é
mau, e aquele outro é ótimo, aquele é bobo, aquele é rico, aquele é pobre... Finalmente, quando você vai além dos
cinco sentidos, esse tipo de pensamento, pensamento intelectual então você vê que isso é uma coisa só, tudo. Nada
além. O “sistema do olho”, pelo menos para mim, tem sido o guia. Não de linguagem, não de palavras, não de
intelecto. Olhos. Então apenas use seus olhos, até mesmo para chegar lá, use os olhos para chegar lá.
O verdadeiro sentido da Yoga é união. Esta união não é externa a nós, está dentro de nós também. Precisamos desta
união através da Yoga, não apenas ficar se curvando. Porque Yoga não é apenas uma aula de 45 minutos, Yoga não
é apenas no tapete, Yoga é fora do tapete, todo minuto, todo momento, todo karma, todo pensamento, toda ação,
todo suspiro é Yoga. Yoga é o que você é. A vida é onde quer que você esteja, a todo momento. Não é aquele
“amanhã serei feliz”, talvez no futuro, depois de dez anos, estarei bem estarei ótimo, serei feliz’. Essa é a hora,
agora. Se você não se sentir feliz agora, você nunca será feliz. Agora é a hora. Você é o mantra. O templo, entre
aspas, o “corpo” queima e libera a alma individual de volta à alma universal. A frase de sabedoria clássica de Buda
é “ Eu lhe darei um barco para atravessar o rio, mas você deve deixa-lo do outro lado da margem e continuar”.
Quanto mais me envolvo nessa jornada, mais percebo que meu Yoga se desenvolveu em um método de desapego e
aceitação de mudanças, passagens, morte, se se afastar do medo, do medo que nos limita. Por que as pessoas
temem a morte? É uma questão profunda.
Um Santo, que vivia perto de Gangotri, queria deixar seu corpo para Deus. Sempre dizia: “eu quero sacrificar eu
corpo”. Uma noite, era bem tarde, e começou a nevar. Às três da manhã ele começou a sentir muito frio. Em minha
experiência, nessa hora, o calor do fogo não é o suficiente para nos manter aquecidos. Cerca de três da manhã ele
estava com muito frio e disse: “Deus, salve-me esta noite”. Agora, essa é a resposta para a questão: “O que é o
medo da morte?”. Eu estava bravo e entretido ao mesmo tempo. Por um lado você está esperando para sacrificar
seu corpo, mas agora você está pedindo a Deus para salvar a sua vida? Pessoas tem medo da morte: “Eu não quero
deixar meu corpo”. Esse medo da morte não pode ser explicado em palavras. Só pode ser percebido por aquele que
está encarando a morte. Nunca aceita-se o fato de que um dia todos vamos morrer. Essa é a ilusão que temos sobre
a morte. A maior ilusão que o ser humano pode ter, de que um dia sua vida não chegará ao fim Ele tenta tudo que
pode. Mas nunca percebe que um dia seu fim também chegará. Esse é o maior equívoco nesta vida, na nossa vida, é
achar que nunca iremos morrer. Quando as pessoas são idosas no Templo Dourado, e você as vê pela Índia
murmurando: “Wahe Guru, wahe guru, wahe guru...”. Por que? Porque eles querem que seu último suspiro seja
“Wahe Guru”, como indo das trevas para a luz. Wahe Guru é “Eu vou das trevas para a luz”, “estou indo para a
libertação” ... E dizem que tantas pessoas dão seu último suspiro em lugares como um hospital, e elas dizem um
xingamento, porque elas não tem nenhum preparo. Nós sabemos que isto é temporário, sabemos que vivemos para
partir, por isso fazemos meditações fora do décimo portal, nos preparando para ir para casa, para ir com
tranquilidade, para ir para casa com graciosidade. Mas você não tem essa ferramenta, você se apega à vida, você
não quer partir, fica em coma por anos, tem todas aquelas coisas a mais: “Me mantenham vivo, coloquem todos os
tubos que puderem em mim, eu tenho que ficar vivo”, pois muitos pensam que tudo acaba ali. Há um certo estágio
em que toda experiência começa a se infiltrar lentamente, o que não é agradável. Isso leva a questões mais
profundas, porque começamos a sentir nossa mortalidade, ou a sensação de que talvez um dia não estaremos mais
aqui. Mas conforme você avança mais internamente, parecem estar entrando desse lado dos olhos, do lado de fora,
mas progressivamente, conforme começamos a perceber mais o nosso interior, descobrimos mais... Vai se tornando
um campo de paz, e satisfação, e uma perspectiva de vida mais ampla. O conceito de escolher a sua vida torna-se
menos importante, a sensação de viver torna-se menos importante conforme você descobre que você é a própria
vida. E culmina no fim do sentimento de separação entre o eu e o todo, eu e Deus, eu e a verdade, como se o “eu”
se fundisse com uma consciência muito maior. Então você pode observar desse lugar, porque já está lá, é o que
você fundamentalmente é, e essa é a única área que existe em você que não pertence ao tempo. Todo o resto
pertence ao tempo. Tudo o que você percebe pertence ao tempo, pois esse é o único lugar em você que não está se
tornando incerto, é sua natureza interna.

Fé bahá'í

Fé bahá'í (em árabe: ‫ بهائية‬Baha'iyyah) /bəˈhaɪ/) é uma religião monoteísta que enfatiza a união espiritual de toda a
humanidade.
Três princípios básicos estabelecem a base para os ensinamentos e a doutrina bahá'i:
- a unidade de Deus, que há apenas um Deus que é a fonte de toda a criação;
- a unidade da religião, que todas as maiores religiões têm a mesma fonte espiritual e partem do mesmo
Deus;
- a unidade da humanidade, que todos os seres humanos foram criados igualmente e que a diversidade
racial e cultural deve ser apreciada e aceita.
Segundo os ensinamentos da fé bahá'i, o propósito humano é aprender a conhecer e a amar a Deus através de
métodos como orações, reflexões e ajuda aos outros.

A fé bahá'i foi fundada por Bahá'u'lláh na Pérsia.


Bahá'u'lláh foi exilado da Pérsia para o Império Otomano devido a seus ensinamentos, falecendo enquanto ainda
era oficialmente um prisioneiro. Após a morte de Bahá'u'lláh, sob a liderança de seu filho, `Abdu'l-Bahá, a religião
se expandiu de suas origens persa e otomana e ganhou espaço na Europa e nas Américas, além de ter se
consolidado no Irã, onde sofre intensa perseguição. Após a morte de `Abdu'l-Bahá, a liderança da comunidade
bahá'i entrou numa nova fase, passando de um único líder para uma ordem administrativa com órgãos eleitos e
indivíduos indicados. Há mais de cinco milhões de bahá'ís espalhados por mais de 200 países e territórios.
Na fé bahá'i, a história religiosa da humanidade é vista como tendo sido manifestada através de uma série de
mensageiros divinos, cada um dos quais estabeleceu uma religião adequada às necessidades de seu tempo e à
capacidade das pessoas de então. Esses mensageiros vão de figuras abraâmicas como Moisés, Jesus e Maomé, às
dármicas como Krishna e Buda.
Para os bahá'is, os mensageiros mais recentes são o Báb e Bahá'u'lláh. Segundo os ensinamentos bahá'ís, cada
mensageiro profetizou sobre os próximos, e a vida e os ensinamentos de Bahá'u'lláh completou as promessas
escatológicas das escrituras anteriores. A humanidade é entendida como fazendo parte de um processo de evolução
coletiva e a necessidade do tempo atual é o estabelecimento de paz, justiça e unidade a uma escala global.
Etimologia: A palavra Bahá'í é usada tanto quanto um adjetivo para se referir à fé bahá'í quanto um termo para se
referir aos seguidores de Bahá'u'lláh. A palavra não é um substantivo que significa a religião como um todo. É
derivada do árabe Bahá' (‫)بهاء‬, que significa "glória" ou "esplendor". O termo "bahaísmo" (ou "baha'ísmo") também
é usado, embora de maneira pejorativa.

CRENÇAS
Três princípios básicos estabelecem a base da doutrina e dos ensinamentos bahá'í:
- a unidade de Deus;
- a unidade da religião;
- a unidade da humanidade.
Desses postulados se forma a crença de que Deus revela periodicamente sua vontade através de mensageiros
divinos, cujo propósito é transformar o caráter da humanidade e desenvolver, entre aqueles que respondem ao
chamado, qualidades morais e espirituais. A religião é, então, vista como ordeira, unificada e gradual de época em
época.

Deus
Os textos da fé bahá'í descrevem um Deus único, pessoal, inacessível, onisciente, inextinguível e todo poderoso
que é o criador de todas as coisas no universo.[13] A existência de Deus e do universo é considerada eterna, não
tendo começo ou fim.[14] Apesar de ser diretamente inacessível, Deus é visto como consciente da criação e possui
uma vontade e um propósito, manifestados através de mensageiros intitulados Manifestações de Deus.[15][16]

Os ensinamentos bahá'ís defendem que Deus é grandioso demais para os humanos compreenderem ou criarem uma
imagem completa e precisa Dele por si próprios.[17] Assim sendo, o entendimento humano de Deus só é atingido
através de Suas revelações a Suas Manifestações.[18][19] Na fé bahá'í, Deus é chamado por títulos e atributos (o
Todo-Poderoso ou o Todo-Amoroso, por exemplo), e há uma ênfase substancial no monoteísmo; doutrinas tais
quais a da Trindade são vistas como comprometedoras se não contraditórias à visão de que Deus é único e não
possui equivalentes.[20] Os ensinamentos bahá'ís afirmam que os atributos que são imputados a Deus são usados
para traduzir Sua palavra em termos humanos e também para ajudar as pessoas a se concentrar em seus próprios
atributos na adoração a Deus para desenvolver suas potencialidades em seu caminho espiritual.[18][19] Segundo os
ensinamentos bahá'ís, o propósito humano é aprender a saber e amar a Deus através de métodos tais como oração,
reflexão e ajuda aos outros.[18]

Religião
As noções bahá'ís da revelação religiosa gradual resulta na aceitação da validade das religiões mais bem conhecidas
do mundo, cujos fundadores e figuras centrais são vistas como Manifestações de Deus.[6] A história religiosa é
interpretada como uma série de dispensações, onde cada manifestação traz uma revelação mais ampla e avançada,
adequada ao tempo e ao local no qual é expressada.[14] Ensinamentos religiosos específicos, tais como a direção
das orações ou restrições dietárias, podem ser revogados por uma manifestação subsequente para que uma
exigência mais apropriada para o tempo e local seja estabelecida.[21] Por outro lado, certos princípios gerais (por
exemplo, companheirismo ou caridade) são vistos como universais e consistentes.[21] Na crença Bahá'í, este
processo de revelação gradual não vai acabar; acredita-se que seja cíclico.[6] Os bahá'ís não esperam a aparição de
uma nova manifestação de Deus nos próximos mil anos a partir da revelação de Bahá'u'lláh.[6][22]

As crenças bahá'ís são ocasionalmente descritas como combinações sincréticas das primeiras crenças religiosas.
[23] Os bahá'ís, no entanto, asseguram que a sua religião é uma tradição distinta, com suas próprias escrituras,
ensinamentos, leis e história.[14][24] Inicialmente a religião foi vista como uma seita do Islã, mas atualmente a
maioria dos teólogos a vêem como uma religião independente que tem como pano de fundo o islamismo xiita e
cuja origem é análoga ao contexto judaico em que o cristianismo foi estabelecido.[25] As instituições e o clero
muçulmano, tanto sunita quanto xiita, consideram os bahá'ís como desertores ou apóstatas da fé islâmica, o que tem
levado à perseguição de bahá'ís.[26][27] Os próprios bahá'ís atestam que sua fé é uma religião independente, que se
difere das outras tradições no que diz respeito a sua idade e aos ensinamentos de Bahá'u'lláh num contexto
moderno.[28] Acredita-se que Bahá'u'lláh tenha completado as expectativas messiânicas das fés precursoras.[29]
Humanidade
Os bahá'ís acreditam que o ser humano possui uma "alma racional", que provê à espécie uma capacidade única de
reconhecer a Deus e a relação da humanidade com seu criador.[30][31] Todo ser humano é considerado possuidor
do dever de reconhecer a Deus através de seus Mensageiros e dos ensinamentos deles.[31][32] Através do
reconhecimento e da obediência, serviço à humanidade e práticas espirituais, os bahá'ís acreditam que a alma pode
se aproximar de Deus, o ideal da crença.[31] Quando um ser humano morre, a alma continua existindo no mundo
espiritual, onde seu desenvolvimento espiritual no mundo físico torna-se base para julgamento e progresso no
mundo espiritual.[6][31] O céu e o inferno são vistos como estados espirituais de proximidade ou distância de
Deus, sendo indicadores da relação nesse mundo e no próximo, e não lugares físicos de recompensa e punição
atingidos após a morte.[33]

Os textos bahá'ís enfatizam a igualdade essencial dos seres humanos e a abolição de todos os tipos de preconceito.
[6] A humanidade é considerada essencialmente una, embora diversificada; esta diversidade de raça e cultura é
considerada merecedora de apreciação e tolerância.[34] Doutrinas de racismo, nacionalismo, castas, e classes
sociais são impedimentos artificiais da unidade.[2] Os ensinamentos bahá'ís declaram que a unificação da
humanidade deve ser assunto principal sobre as condições religiosas e políticas no tempo presente.[14]

ENSINAMENTOS
Shoghi Effendi, nomeado o chefe da religião de 1921 a 1957, escreveu a seguinte síntese do que ele considerava ser
os princípios distintivo dos ensinamentos de Bahá'u'lláh, a qual, segundo ele, constitui ao lado das leis e
regulamentos do Kitáb-i-Aqdas o alicerce da fé bahá'í:
A busca independente pela verdade, desalgemada de superstição ou tradição; a unicidade de toda a raça humana,
princípio essencial e doutrina fundamental da fé; a unidade basilar de todas as religiões; a condenação de todas as
formas de preconceito, seja ele religioso, racial, de classe ou nacionalidade; a harmonia que deve existir entre a
religião e a ciência; a igualdade de homens e mulheres, as duas asas com as quais o pássaro da espécie humana tem
a capacidade de voar; a implementação do ensino obrigatório; a adoção de uma língua auxiliar universal; a abolição
de extremos de riqueza e pobreza; a instituição de um tribunal mundial para a adjudicação de disputas entre nações;
a exaltação do trabalho, realizado em espírito de serviço, ao posto da adoração; a glorificação da justiça como
princípio governante na sociedade humana, e da religião como baluarte para a proteção de todos os povos e nações;
e o estabelecimento de uma paz permanente e universal como a meta suprema de toda a humanidade — estes
destacam-se como os elementos essenciais [que Bahá'u'lláh proclamou].

PRINCÍPIOS SOCIAIS
Os seguintes princípios são frequentemente listados como um breve resumo dos ensinamentos bahá'ís. São
derivados de palestras e discursos de `Abdu'l-Bahá durante sua viagem pela Europa e pela América do Norte em
1912.[31][36][37] Esta lista não é definitiva e uma variedade de outras listas podem ser encontradas em circulação.
[24][37][38]

A unidade de Deus
A unidade da religião
A unidade da humanidade
A unidade na diversidade
A igualdade entre homens e mulheres[6]
A eliminação de todas as formas de preconceito[6]
A Paz mundial e uma nova ordem mundial
A harmonia entre a religião e a ciência
A busca independente pela verdade
O princípio de que a civilização está sempre em progresso
A educação obrigatória universal
A língua auxiliar universal[39]
A obediência ao governo e o não-envolvimento em política partidária (a não ser que a submissão à lei seja
equivalente à negação da Fé)[40]
Eliminação dos extremos de riqueza e pobreza[6]
Especificamente em relação à busca pela paz mundial, Bahá'u'lláh prescreveu um acordo de segurança coletiva de
âmbito mundial como necessário para o estabelecimento de uma paz duradoura.[41]

Ensinamentos místicos
Embora os ensinamentos bahá'ís têm uma forte ênfase em questões sociais e éticas, existe uma série de textos
fundacionais que foram descritos como místicos.[14] Os Sete Vales é considerada "a maior composição mística" de
Bahá'u'lláh; foi escrito para um seguidor do sufismo, no estilo de `Attar, um poeta muçulmano,[42] e estabelece os
estágios da jornada da alma até chegar a Deus, que ele não confirma serem sete, apesar de ter dividido seu livro em
sete capítulos.[43] Foi inicialmente traduzido para o francês em 1905 e para o inglês em 1906,[44] tornando-se um
dos primeiros livros de Bahá'u'lláh disponíveis no Ocidente. As Palavras Ocultas é um outro livro escrito por
Bahá'u'lláh durante o mesmo período, com 153 passagens curtas em que Bahá'u'lláh afirma ter pegado a essência
básica de certas verdades espirituais e as escrito em forma breve.[45]

Convênio
Os ensinamentos bahá'ís falam tanto de um "Grande Convênio" (ou aliança),[46] universal e infinito, e de um
"Convênio Menor", único para cada dispensação religiosa. O Convênio Menor é visto como um acordo entre um
mensageiro de Deus e seus seguidores e inclui práticas sociais e a continuação da autoridade da religião.[47]
Atualmente os bahá'ís veem a revelação de Bahá'u'lláh como um convênio menor com seus seguidores; nos escritos
bahá'ís ser firme no convênio é considerada uma virtude a ser atingida.[47] O Grande Convênio é visto como um
acordo mais duradouro entre Deus e a humanidade, quando se espera que uma manifestação de Deus apareça de
tempos em tempos, e implica a obrigatoriedade de reconhecer o sucessor do mensageiro atual.[48]

Sendo a unidade da religião um ensinamento essencial da fé, os bahá'ís seguem uma administração que acreditam
ser ordenada divinamente e, portanto, veem tentativas de criar cismas e divisões como esforços contrários aos
ensinamentos de Bahá'u'lláh.[47] Já ocorreram cismas, mas as divisões tiveram relativamente pouco sucesso e não
conseguiram atrair um público considerável.[49] Os seguidores de tais divisões são considerados violadores do
Convênio pela Casa Universal de Justiça e evitados pela comunidade bahá'í; no entanto, trata-se de uma medida
extrema e rara,[50] aplicada somente àqueles que permanecem fiéis à causa bahá'í mas se opõem à administração
ou que tentam criar cismas na comunidade; não é uma punição aplicada àqueles que perderam sua crença na fé ou
que cometeram pequenas infrações da lei bahá'í.[47]

Textos canônicos
Os textos canônicos são os escritos do Báb, de Bahá'u'lláh, `Abdu'l-Bahá, Shoghi Effendi e da Casa Universal de
Justiça, assim como as conversas autenticadas de `Abdu'l-Bahá.[51] Os escritos do Báb e de Bahá'u'lláh são
considerados revelação divina,[51] os escritos e as palestras de `Abdu'l-Bahá e os escritos de Shoghi Effendi são
considerados interpretação oficial e os textos da Casa Universal de Justiça são considerados legislação oficial e
elucidação.[52] Supõe-se algum tipo de orientação divina para todos estes textos.[53] Dentre os principais escritos
de Bahá'u'lláh estão o Kitáb-i-Aqdas, literalmente "O Mais Sagrado Livro ", que é seu livro de leis,[54] o Kitáb-i-
Íqán, literalmente "O Livro da Certeza", que se tornou a base de grande parte da crença bahá'í,[55] As Joias dos
Mistérios Divinos, que inclui novas bases doutrinais, e Os Sete Vales e Os Quatro Vales, que são tratados místicos
a respeito da jornada da alma a caminho de Deus.[43][56]

História
1844 O Báb torna pública sua missão em Shiraz, Irã
1850 O Báb é executado em público em Tabriz, Irã
1852 Milhares de bábís são executados
Bahá'u'lláh é preso e forçado a se exilar
1863 Bahá'u'lláh anuncia ser "aquele que Deus tornará manifesto"
Ele é forçado a sair de Bagdá para Constantinopla e depois para Adrianópolis
1868 Bahá'u'lláh é submetido a um duro confinamento em `Akká, Palestina
1892 Bahá'u'lláh morre perto de `Akká
Seu testamento aponta `Abdu'l-Bahá como seu sucessor
1908 `Abdu'l-Bahá é libertado da prisão
1921 `Abdu'l-Bahá morre em Haifa
Seu testamento aponta Shoghi Effendi como Guardião
1957 Shoghi Effendi morre na Inglaterra
1963 A Casa Universal de Justiça é eleita pela primeira vez

História
Santuário do Báb em meio aos patamares e jardins do Centro Mundial Bahá'í, em Haifa, Israel
A história bahá'í segue a sequência de líderes da religião, começando com a declaração do Báb em Shiraz, no Irã
em 23 de maio de 1844 até a ordem administrativa estabelecida pelas principais figuras da fé bahá'í. A comunidade
bahá'í esteve confinada aos impérios persa e otomano até a morte de Bahá'u'lláh em 1892, possuindo então
seguidores em 13 países da Ásia e da África.[58] Sob a liderança de seu filho, `Abdu'l-Bahá, a religião ganhou
terreno na Europa e na América e se consolidou no Irã, onde ainda hoje sofre intensa perseguição.[3] Após a morte
de `Abdu'l-Bahá em 1921, a liderança da comunidade bahá'í entrou numa nova fase, passando de um único
indivíduo para uma ordem administrativa com órgãos eleitos e indivíduos indicados.[4]

O Báb
Na noite de 22 de maio de 1844, Siyyid `Alí-Muhammad de Shiraz, Irã proclamou ser "o Báb" (‫" الباب‬o Portão"),
anunciando mais tarde ser o Mádi, o 12° ímã do islamismo xiita.[3] Seus seguidores ficaram conhecidos como
bábís. Conforme os ensinamentos do Báb se espalharam, o que o clero islâmico via como uma ameaça, seus
seguidores passaram a sofrer perseguições, linchamentos e torturas.[6][14] Os conflitos se agravaram a tal ponto
que diversos locais foram cercados pelo Exército do xá.[59] O Báb foi preso em 1846 e mais tarde executado, em
1850.[6][60]

Os bahá'ís veem o Báb como precursor de sua fé, uma vez que os escritos do Báb introduziram o conceito de
"aquele que Deus tornará manifesto", uma figura messiânica cuja vinda, segundo os bahá'ís, foi anunciada pelas
escrituras de todas as grandes religiões do mundo, e quem Bahá'u'lláh, o fundador da fé bahá'í, afirmou ser em
1863.[14] O Santuário do Báb, localizado em Haifa, Israel, é um importante local de peregrinação para os bahá'ís.
[61] Os restos mortais do Báb foram trazidos secretamente do Irã para a Terra Sagrada e depois enterrados na
tumba construída para eles num local especificamente determinado por Bahá'u'lláh.[62] As principais obras escritas
pelo Báb estão compiladas na Seleção dos Escritos do Báb, a partir de um total estimado de 135 obras.[63]

Bahá'u'lláh
Mírzá Husayn `Alí Núri foi um dos primeiros seguidores do Báb e, mas tarde, adotou o título de Bahá'u'lláh,[64]
nome que significa "Glória de Deus".[65] Ele foi preso por seu envolvimento com o Báb em 1852.[64] Bahá'u'lláh
relata que enquanto estava encarcerado no calabouço de Síyáh-Chál em Teerã, recebeu os primeiros sinais de que
era "aquele que Deus tornará manifesto" previsto pelo Báb.[2][64]

Em 1853, ele foi expulso de Teerã para Bagdá, então no Império Otomano;[2] e depois para Constantinopla (atual
Istambul) e depois para Adrianópolis (atual Edirne).[65] Em 1863, na época de seu banimento de Bagdá,
Bahá'u'lláh declarou, num jardim de Bagdá, ser o missionário divino previsto pelo Báb.[6] Cresceram-se as tensões
entre ele e Mírzá Yahyá, seu meio-irmão mais novo que, incitado por Siyyid Muhammad, tornou-se líder nomeado
dos bábís que não reconheciam como verdadeira a declaração de Bahá'u'lláh.[64][66] Durante o resto de sua vida,
porém, Bahá'u'lláh ganhou a lealdade da maioria dos bábís, que passaram a ser denominados bahá'ís.[66] A partir
de 1886, ele começou a declarar sua missão enquanto mensageiro de Deus em cartas para os líderes religiosos e
seculares do mundo, incluindo Papa Pio IX, Napoleão III e Rainha Vitória.[67]

Em 1868, Bahá'u'lláh foi banido de Constantinopla pelo sultão Abdülâziz para a colônia penal otomana de `Akká,
localizada no atual estado de Israel.[66][68] Perto do fim de sua vida, o severo e duro confinamento foi
gradualmente relaxado, e lhe foi permitido morar numa casa perto de `Akká enquanto ele ainda era oficialmente um
prisioneiro daquela cidade.[68] Ele morreu lá em 1892.[6] Os bahá'ís se viram para seu local de descanso na
mansão de Bahjí, conforme determina o Qiblih, quando vão realizar suas orações diárias.[56]

Bahá'u'lláh escreveu muitas obras que são consideradas escrituras da fé bahá'í, das quais apenas uma fração foram
traduzidas para o português.[69] Há cerca de 15.000 obras, tanto grandes quanto pequenas,[63] das quais as mais
significativas são o Livro Mais Sagrado, o Livro da Certeza, as Palavras Ocultas[65] e Os Sete Vales. Há também
uma série de compilações de obras menores, das quais a mais significativa é a Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh.

`Abdu'l-Bahá
`Abbás Effendi era o filho mais velho de Bahá'u'lláh, conhecido pelo título de `Abdu'l-Bahá ("Servo de Bahá").[70]
Seu pai deixou um testamento que nomeava `Abdu'l-Bahá como líder da comunidade bahá'í e o descrevia como
"centro do Convênio", "líder da fé" e único intérprete autorizado de seus escritos.[6][62][71] `Abdu'l-Bahá esteve
exilado e preso com seu pai, fato que continuou até a Revolução dos Jovens Turcos em 1908.[70] Após sua
libertação pelos revolucionários, ele viveu uma vida de viagens e conferências e manteve contato, via
correspondência, com comunidades de fiéis e indivíduos, expondo os princípios da fé bahá'í.[2] Ele morreu em
1921.[6]

Estima-se que `Abdu'l-Bahá escreveu mais de 27.000 obras, a maioria das quais no formato de cartas, sendo que
apenas uma fração delas foi traduzida para o português.[63] Dentre suas obras mais conhecidas estão O Segredo da
Civilização Divina, a Carta a Auguste-Henri Forel e o Esplendor da Verdade. Além disso, transcrições de muitas de
suas conferências durante sua jornada pelo Ocidente foram publicadas em vários volumes, tais como as Palestras de
Paris que, embora não reconhecidas no cânone de suas obras, ganharam ampla aceitação entre os bahá'ís.[71]

Administração Bahá'í
As obras Kitáb-i-Aqdas de Bahá'u'lláh e A Última Vontade e Testamento de `Abdu'l-Bahá são documentos
fundacionais da ordem administrativa bahá'í.[72] Bahá'u'lláh estabeleceu a Casa Universal de Justiça, cujos
membros são eleitos, e `Abdu'l-Bahá estabeleceu a Guardiania hereditária, cujos membros são nomeados, e
esclareceu a relação entre as duas instituições.[62][73] Em seu testamento, `Abdu'l-Bahá nomeou seu neto mais
velho, Shoghi Effendi, como primeiro guardião da fé bahá'í;[6] ele serviu como líder da religião por 36 anos até sua
morte.[73]

Durante sua vida, Shoghi Effendi traduziu textos bahá'ís, desenvolveu planos para a expansão da comunidade
bahá'í, desenvolveu o Centro Mundial Bahá'í, manteve uma volumosa troca de correspondências com comunidades
e indivíduos ao redor do mundo e construiu a estrutura administrativa da religião, preparando a comunidade para a
eleição da Casa Universal de Justiça.[2] Ele morreu em 1957 sob condições que não lhe permitiram nomear um
sucessor.[74][75]

Em níveis local, regional e nacional, os bahá'ís elegem os 9 membros da Assembleia Espiritual, que governa os
assuntos da religião.[76] Há também indivíduos nomeados que trabalham em vários níveis, incluindo localmente e
internacionalmente, que desempenham a função de propagar os ensinamentos e proteger a comunidade.[76] Eles
não atuam como clero, o que a fé bahá'í não possui.[14][77] A Casa Universal de Justiça, eleita pela primeira vez
em 1963, continua sendo o sucessor e governante supremo da fé bahá'í, e seus 9 membros são eleitos a cada cinco
anos pelos membros de todas as Assembleias Espirituais Nacionais.[78] Qualquer bahá'í do sexo masculino, com
21 anos de idade ou mais, é elegível para a Casa Universal de Justiça; todos os demais postos estão abertos para
bahá'ís de ambos os sexos.[79] Nenhum indivíduo possui autoridade individual; as decisões são de caráter
consultivo e são válidas apenas se o quórum das entidades bahá'ís estiver completo.[80]

Planos internacionais
Em 1937, Shoghi Effendi lançou um plano de sete anos para os bahá'ís da América do Norte, seguido por outro em
1946.[81] Em 1953, ele lançou o primeiro plano internacional, a Cruzada de Dez Anos.[82] Este plano trazia metas
extremamente ambiciosas para a expansão da comunidade e instituições bahá'ís, a tradução de textos bahá'ís em
línguas ainda inéditas e o envio de pioneiros bahá'ís para nações anteriormente não alcançadas.[83] Effendi
anunciou, através de cartas escritas durante a Cruzada de Dez Anos, que outros planos seriam lançados sob a
direção da Casa Universal de Justiça, eleita em 1963 no auge da Cruzada. Em 1964, a Casa de Justiça lançou um
plano de nove anos e uma série de planos plurianuais subsequentes, de duração e objetivos diversos, foram
lançados em seguida, guiando a direção da comunidade bahá'í internacional.[84]

Anualmente, em 21 de abril, a Cada Universal de Justiça envia uma mensagem de Ridván para a comunidade bahá'í
em todo o mundo,[85] que geralmente oferece uma atualização sobre o progresso do plano atual e oferece
orientações para o ano seguinte.[86] Os bahá'ís em todo o mundo estão sendo incentivados a se concentrar na
construção de competências através de aulas para crianças, grupos de jovens, reuniões devocionais e estudo
sistemático da religião através de círculos de estudo.[87][88] Outros focos são o envolvimento na ação social e
participação nos debates predominantes da sociedade.[89][90] Os anos de 2001 até 2021 representam quatro planos
sucessivos de cinco anos, culminando com o centenário da passagem de `Abdu'l-Bahá.[91]

Demografia
Um documento de fonte bahá'í apontava a existência de 4.700.000 fiéis em 1986, crescendo a uma taxa de 4,4%.
[92] Desde então, fontes bahá'í estimam o número de fiéis em torno de 5 milhões.[93] A Enciclopédia Cristã
Mundial estimava a existência de 7,1 milhões de bahá'ís em 218 países em 2000[94] e de 7,3 milhões em 2010 no
mesmo número de países.[95] Segundo esta fonte, "a fé bahá'í é a única religião que tem crescido mais do que a
população geral em todas as regiões das Nações Unidas ao longo dos últimos 100 anos. A fé bahá'í foi, assim, a
religião que mais cresceu entre 1910 e 2010, crescendo pelo menos duas vezes mais rápido do que a população de
quase todas as regiões da ONU".[96] A única falha sistemática desta fonte é indicar uma estimativa mais elevada
de cristãos do que o conjunto de outros dados disponíveis.[97]

A partir de sua origem nos Impérios Persa e Otomano, a religião conquistou fiéis no Sul e Sudeste Asiático, na
Europa e na América do Norte até o início do século XX. Durante as décadas de 1950 e 1960, vastas viagens
levaram a fé bahá'í para quase todos os países e territórios do mundo. Durante a década de 1990, os bahá'ís
desenvolveram programas de consolidação sistemática em larga escala e o início do século XXI viu grandes
influxos de novos fiéis ao redor do mundo. A fé bahá'í é, atualmente, a religião minoritária no Irã,[98] no
Panamá[99] e em Belize;[100] é a segunda maior religião internacional na Bolívia,[101] na Zâmbia[102] e na
Papua Nova-Guiné;[103] e a terceira maior religião internacional no Chade[104][105] e no Quênia.[106] Segundo
o World Almanac and Book of Facts 2004:

“ A maioria dos bahá'ís mora na Ásia (3,6 milhões), na África (1,8 milhões) e na América Latina (900.000).
Segundo algumas estimativas, a maior comunidade bahá'í do mundo está na Índia, com 2,2 milhões de bahá'ís,
seguida pelo Irã, com 350.000, os EUA, com 150.000, e o Brasil, com 60.000. Os números variam muito nos
demais países. Atualmente, nenhum país possui uma maioria de bahá'ís.[107] ”
A religião bahá'í é listada pelo The Britannica Book of the Year (1992–atualidade) como a segunda religião
independente mais difundida no mundo em número de países alcançados. Segundo esta fonte, a fé bahá'í estava
presente em 247 países e territórios em 2002; representando mais de 2.100 grupos étnicos, raciais e tribais; as
escrituras bahá'ís foram traduzidas para mais de 800 línguas; possuindo 7 milhões de adeptos em todo o mundo.
[108] Em 2007, a fé bahá'í foi apontada pela revista Foreign Policy como a segunda religião que mais cresce no
mundo, tendo aumento seu número de fiéis em 1,7% em comparação ao ano anterior.[109]

Práticas sociais
As leis da fé bahá'í têm sua origem principal na obra Kitáb-i-Aqdas, escrita por Bahá'u'lláh.[110] A seguir, alguns
exemplos de leis básicas e hábitos religiosos.
A oração na fé bahá'í consiste de orações obrigatórias e devocionais (gerais). Todos os bahá'ís com mais de 15 anos
de idade devem recitar individualmente uma oração obrigatória por dia, usando palavras e formato fixos. Além da
oração obrigatória diária, os fiéis são orientados a oferecer diariamente uma oração devocional e um período de
meditação e estudo das escrituras sagradas. Não há nenhum formato padrão para as devoções e meditações, embora
as orações devocionais escritas por figuras centrais da fé bahá'í e apresentadas em livros de oração são tidos em alta
consideração. Ler em voz alta as orações de livros de oração é uma característica típica de reuniões bahá'ís.
A maledicência e a fofoca são proibidas e denunciadas.[6]
Bahá'ís adultos com boa saúde devem realizar anualmente um jejum de 19 dias do nascer ao pôr-do-sol de 2 de
março a 20 de março.
Os bahá'ís são proibidos de beber álcool ou usar drogas,[6] a menos que seja prescrito por um médico.[111]
A relação sexual só é permitida entre marido e mulher e, portanto, relações sexuais pré-maritais, extramaritais e
homossexuais são proibidas (Ver também: Homossexualidade e a Fé Bahá'í).
A jogatina é proibida.[6]
O fanatismo é proibido.
O ritualismo é desencorajado, com a notável exceção das orações obrigatórias.
É necessário abster-se da política partidária.
Enquanto algumas das leis do Kitáb-i-Aqdas são aplicáveis na atualidade e podem ser impostas pelas instituições
administrativas,[112] Bahá'u'lláh previu a aplicação progressiva de outras leis que dependem da existência de uma
sociedade predominantemente bahá'í. As leis, quando não estão em conflito direto com as leis civis de determinado
país, são obrigatórias para todos os bahá'ís,[112] e a observância de leis pessoais, como a prática de orações e
jejum, é de responsabilidade exclusiva do indivíduo.[110][113]

Casamento
O propósito do casamento na fé bahá'í é, principalmente, promover a harmonia espiritual, a companhia e a unidade
entre um homem e uma mulher e proporcionar um ambiente estável e carinhoso para a criação de crianças.[114] Os
ensinamentos bahá'ís sobre o casamento chamam-no de fortaleza para o bem-estar e para a salvação e colocam o
casamento e a família como base da estrutura da sociedade humana.[114] Bahá'u'lláh elogiava muito o casamento,
desencorajando o divórcio e a homossexualidade, e exigindo castidade fora do casamento; Bahá'u'lláh ensinava que
marido e mulher devem se esforçar para melhorar a vida espiritual um do outro.[115] O casamento interracial
também é muito elogiado nas escrituras bahá'ís.[114]

Os bahá'ís que pretendem se casar são convidados a obter uma compreensão completa do caráter do outro antes de
tomar uma decisão.[114] Embora os pais não devam escolher os noivos de seus filhos, após dois indivíduos
decidirem se casar eles devem receber a aprovação de todos os pais biológicos vivos, mesmo que um dos noivos
não seja um bahá'í.[6] A cerimônia de casamento bahá'í é simples; a única parte obrigatória do casamento é a
leitura dos votos de casamento prescritos por Bahá'u'lláh que tanto o noivo quanto a noiva devem ler na presença
de duas testemunhas.[114] Os votos são "Nós todos iremos, verdadeiramente, cumprir a vontade de Deus".[114]

Trabalho
O monasticismo é proibido na fé e os bahá'ís tentam atingir sua espiritualidade na vida cotidiana. A realização de
um trabalho útil, por exemplo, não é apenas necessário, mas também considerado uma forma de adoração.[14]
Bahá'u'lláh proibiu um estilo de vida mendicante e ascético.[116] A importância do auto-esforço e do serviço à
humanidade na vida espiritual de alguém também são enfatizados nos escritos de Bahá'u'lláh, onde ele afirma que o
trabalho feito com o espírito de serviço à humanidade é considerado por Deus semelhante à oração e à adoração.
[14]

Casas de Adoração
A maioria dos encontros de bahá'ís ocorrem em casas de fiéis, centros bahá'ís ou imóveis alugados, uma vez que
não é permitido conversar dentro das Casas de Adoração.[6] Internacionalmente, existem atualmente sete Casas de
Adoração Bahá'í, com uma oitava em construção no Chile[6][117] e a construção de mais sete sendo planejada em
abril de 2012.[118] As escrituras bahá'ís se referem a uma instituição chamada Mashriqu'l-Adhkár (Local nascente
da menção de Deus), um complexo de instituições que incluem um hospital, uma universidade, escolas, e assim por
diante.[119] O primeiro Mashriqu'l-Adhkár, localizado em Asgabate, no Turcomenistão e demolido em 1963, foi a
Casa de Adoração mais completa da história da fé bahá'í.[120]

Calendário
O calendário bahá'í é baseado no calendário estabelecido pelo Báb. Os anos são compostos por 19 meses de 19 dias
cada, com 4 ou 5 dias intercalares entre o 18° e o 19° mês para completar um ano solar.[2] O Ano Novo Bahá'í,
chamado Naw Rúz, corresponde ao tradicional ano novo persa e ocorre no equinócio vernal, 21 de março, no final
do mês de jejum. As comunidades bahá'ís se reúnem no início de cada mês numa reunião chamada de Festa de
Dezenove Dias para adoração, consulta e socialização.[14] A palavra "festa" significa "festa espiritual" e não uma
grande refeição.[6]

Cada um dos 19 meses possui um nome específico, simbolizando um dos atributos de Deus; alguns exemplos são
Bahá' (Esplendor), 'Ilm (Conhecimento) e Jamál (Beleza).[121] A semana bahá'í é familiar ao calendário
gregoriano, se consistindo de sete dias, com o nome de cada dia também sendo um atributo de Deus. Os bahá'ís
observam 11 dias sagrados durante o ando, sendo que o trabalho deve ser suspenso em nove deles. Tais dias
comemoram acontecimentos importantes na história da religião.[121]

Símbolos
Os símbolos da religião são derivados da palavra árabe Bahá' (‫" بهاء‬esplendor" ou "glória"), de valor numérico 9,
razão pela qual o símbolo mais comum da religião é a estrela de nove pontas.[122] O símbolo de pedra e caligrafia
do grande nome também são frequentemente encontrados. O primeiro é composto por duas estrelas de cinco pontas
intercaladas com um Bahá' estilizado, cuja forma se destina a relembrar as três unicidades da religião,[123]
enquanto o último é uma representação caligráfica da frase Yá Bahá'u'l-Abhá ( ‫" يا بهاء األبهى‬Ó Glória do Mais
Glorioso!").

A estrela de cinco pontas é o símbolo da fé bahá'í.[124][125] Na religião, a estrela é conhecida como Haykal (em
árabe: "templo") e foi iniciada e estabelecida pelo Báb. O Báb e Bahá'ú'lláh escreveram várias de suas obras no
formato de pentagramas.[126]

Desenvolvimento socioeconômico
Desde seu início, a fé bahá'í teve participação no desenvolvimento socioeconômico, primeiro através da luta pela
liberdade das mulheres,[127] definindo a promoção da educação feminina como uma preocupação prioritária,[128]
o que levou à criação de escolas, cooperativas agrícolas, e clínicas voltadas às mulheres.[127]

A religião entrou em uma nova fase quando uma mensagem da Casa Universal de Justiça foi lançada em 20 de
outubro de 1983. Os bahá'ís foram instados a procurar maneiras, compatíveis com os ensinamentos da fé, através
das quais poderiam ajudar no desenvolvimento social e econômico das comunidades em que viviam. Como
resultado, o número de ações socioeconômicas bahá'ís oficialmente reconhecidas em todo o mundo saltou de 129
em 1979 para 1.482 em 1987.[129]

Organização das Nações Unidas


Bahá'u'lláh escreveu sobre a necessidade de um governo mundial nesta época da vida coletiva da humanidade. Por
causa disso, a comunidade bahá'í internacional decidiu apoiar os esforços de melhoria das relações internacionais
através de organismos como a Liga das Nações e a Organização das Nações Unidas, embora faça algumas reservas
sobre a atual estrutura e constituição da ONU.[130] A Comunidade Internacional Bahá'í é uma agência sob a
direção da Casa Universal de Justiça em Haifa e possui status consultivo nos seguintes organismos:[131][132]
Conselho Económico e Social (ECOSOC)
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a mulher (UNIFEM)
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
A Comunidade Internacional Bahá'í possui escritórios na ONU em Nova Iorque e em Genebra e representações nas
comissões regionais da ONU e outros escritórios em Addis Ababa, Bangkok, Nairóbi, Roma, Santiago e Viena.
[132] Recentemente um escritório do Programa para o Meio Ambiente e outro para o Fundo de Desenvolvimento
para a Mulher foram instituídos como parte do Escritório da ONU da fé baha'í. A Fé Bahá'í também empreendeu
programas comuns de desenvolvimento em várias outras agências das Nações Unidas. No Fórum do Milênio, um
bahá'í foi o único representante não-governamental convidado a discursar.[133]

Perseguição
Os bahá'ís continuam sendo perseguidos em diversos países islâmicos, uma vez que os líderes islâmicos não
reconhecem a fé bahá'í como uma religião independente, e sim como uma apostasia do islã.[64] As perseguições
mais severas têm ocorrido no Irã, onde mais de 200 bahá'ís foram executados entre 1978 e 1998,[98] e no Egito.[6]
Os direitos dos bahá'ís foram restringidos em vários outros países, incluindo Afeganistão,[6][134] Azerbaidjão,[6]
Indonésia,[6][135][136] Iraque,[137] Marrocos,[6][138] Romênia[6] e boa parte da África subsaariana.[139]

Irã
A marginalização dos bahá'ís pelo governo do Irã tem seus laços nos esforços históricos do clero muçulmano em
perseguir as minorias religiosas como forma de garantir e ampliar seu poder.[140] Quando o Báb começou a atrair
um grande número de seguidores, o clero esperava parar o movimento através da difusão de que seus seguidores
eram inimigos de Deus.[6] As diretivas clericais levaram a ataques de fiéis muçulmanos e execuções públicas.[3]
No início do século XX, além da repressão que impactava indivíduos seguidores da fé bahá'í, foram iniciadas
campanhas centralmente dirigidas que tinham como alvo a comunidade bahá'í como um todo e suas instituições.
[141] Em um caso, em Yazd, em 1903, mais de 100 bahá'ís foram assassinados.[142] Escolas bahá'ís, como as
escolas Tarbiyat para meninos e meninas em Teerã, foram fechadas nos anos 1930 e 1940, os casamentos entre
bahá'ís não foram reconhecidos pelas autoridades do Estado iraniano e textos da literatura bahá'í foram censurados.
[141][143]

Durante o reinado do xá Mohammad Reza Pahlavi uma campanha de perseguição contra os bahá'ís foi instituída
como forma de desviar a atenção dos problemas econômicos do Irã e de um crescente movimento nacionalista.
[144] Uma campanha antibahá'í começou em 1955 e incluía a divulgação de propaganda contra a religião em
estações de rádio e jornais oficiais.[6][141] No final da década de 1970, o regime do xá perdeu legitimidade devido
a sua postura pró-Ocidente, às suas arbitrariedades e à deterioração da economia iraniana.[145] Conforme o
movimento antixá ganhava terreno e apoio, se espalhava a propaganda revolucionária alegando que alguns dos
assessores do xá eram bahá'ís.[146] Eles eram retratados como ameaças econômicas e como apoiadores de Israel e
do ocidente e as hostilidades contra eles aumentaram.[141][147]

Desde a Revolução Islâmica de 1979, os bahá'ís iranianos têm tido suas casas frequentemente saqueadas e são
banidos de ingressar em universidades[148] e no serviço público e centenas deles foram presos por causa de suas
crenças religiosas, a maioria dos quais por participar de círculos de estudo.[98] Cemitérios bahá'ís foram
demolidos, assim como alguns locais que possuem significado especial para os fiéis, como a casa de Mírzá Buzurg,
o pai de Bahá'u'lláh.[3] A casa do Báb em Shiraz, um dos três locais de peregrinação dos bahá'ís, foi destruída duas
vezes.[3][149][150] De 1979 a 1983, 72 bahá'ís foram presos e executados.[6]

De acordo com um grupo de estudo norte-americano, os ataques contra os bahá'ís no Irã aumentaram durante a
presidência de Mahmoud Ahmadinejad.[151][152] A Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos
revelou uma correspondência confidencial do comando das forças armadas do Irã de outubro de 2005 que orienta
seus membros a identificar os bahá'ís e monitorar suas atividades.[153] Devido a essas ações, a Relatora Especial
da Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos afirmou, em 20 de março de 2006, que ela "também
expressa preocupação que essas informações adquiridas como resultado do monitoramento serão usadas como base
para aumentar a perseguição e a discriminação contra os membros da fé bahá'í, em violação aos códigos
internacionais".[153] Ainda segundo a instituição, os últimos acontecimentos indicam que a situação em relação às
minorias religiosas no Irã está deteriorando.[153]

Em 14 de maio de 2008, membros de um órgão informal conhecido como "Amigos" que supervisionavam as
necessidades da comunidade bahá'í no Irã foram presos e levados para a prisão de Evin.[151][154] O processo
judicial dos Amigos foi adiado várias vezes, mas foi finalmente levado ao tribunal em 12 de janeiro de 2010.[155]
A entrada de observadores no tribunal não foi autorizada e até mesmo os advogados de defesa, que durante dois
anos tiveram acesso mínimo aos réus, tiveram dificuldade em entrar no tribunal.[155] O presidente da Comissão
dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional disse que parece que o governo já predeterminou o resultado do
caso e está violando a lei internacional de direitos humanos.[155] As sessões foram realizadas em 7 de fevereiro de
2010,[156] 12 de abril de 2010[157] e 12 de junho de 2010.[158] Em 11 de agosto de 2010, soube-se que a
sentença judicial foi de 20 anos de prisão para cada um dos sete acusados,[159] que foi posteriormente reduzida
para 10 anos.[160] Após a sentença, eles foram transferidos para a prisão de Gohardasht.[161] Em março de 2011,
as sentenças foram revertidas para os 20 anos originais.[162] Em 3 de janeiro de 2010, as autoridades iranianas
detiveram mais dez membros da minoria bahá'í, incluindo Leva Khanjani, neta de Jamaloddin Khanjani, um dos
sete líderes bahá'ís presos em 2008 e, em fevereiro, eles prenderam seu filho, Niki Khanjani.[163]

O governo iraniano afirma que a fé bahá'í não é uma religião, e sim uma organização política e, portanto, se recusa
a reconhecê-la como uma religião minoritária.[164] No entanto, o governo nunca apresentou provas convincentes
que dessem apoio à sua caracterização da comunidade bahá'í enquanto organização política.[165] Além disso, as
declarações do governo de que os bahá'ís que se converterem terão seus seus direitos restaurados comprovam que
os bahá'ís são perseguidos unicamente por sua filiação religiosa.[166] O governo iraniano também acusa a fé bahá'í
de estar associada ao sionismo pelo fato do Centro Mundial Bahá'í estar localizado em Haifa, Israel.[167] Estas
acusações contra os bahá'ís não têm nenhuma base na realidade histórica,[168][169][170] e são feitas pelo governo
iraniano para usar os bahá'ís como "bodes expiatórios".[171] Na verdade, foi o líder iraniano Nasser al-Din Shah
que expulsou Bahá'u'lláh da Pérsia para o Império Otomano e Bahá'u'lláh foi posteriormente exilado pelo sultão
otomano, a pedido do xá persa, a territórios mais longe do Irã, sendo finalmente exilado na cidade de Acre, na
Síria, que só um século mais tarde foi incorporada ao estado de Israel.[172]

Egito
A comunidade e as instituições bahá'ís foram banidas do Egito em 1960.[173][174] Todas as propriedades da
comunidade bahá'í, incluindo centros, bibliotecas e cemitérios, foram confiscados pelo governo e, desde então,
fatwas foram emitidas pelo clero acusando os bahá'ís de apostasia.[173]

A controvérsia das cédulas de identidade começou em 1995, quando o governo egípcio introduziu o processamento
eletrônico de documentos de identidade, introduzindo a exigência de que os documentos listem a religião do
indivíduo como "muçulmana", "cristã" ou "judaica" (as três únicas religiões reconhecidas oficialmente pelo
governo).[175] Anteriormente, os oficiais do governo preenchiam os documentos a mão e escreviam "outra
religião" nos documentos de bahá'ís.[175] Após a introdução do sistema computadorizado, que não permite a
inclusão de qualquer outro termo que não seja "muçulmano", "cristão" ou "judeu" nos documentos,[175] os bahá'ís
ficaram impedidos de obter documentos oficiais como carteira de identidade, certidão de nascimento, certidão de
óbito, certidão de casamento ou divórcio ou passaporte, necessários para o exercício de seus direitos no país, a não
ser que mintam sobre sua afiliação religiosa, o que entra em confronto com o princípio religioso da fé bahá'í.[176]
Sem os documentos, não é possível conseguir emprego, vaga em escolas públicas, atendimento em hospitais, viajar
para o exterior ou sequer votar, dentre outras inconveniências.[176] Após um prolongado processo legal que
culminou com uma decisão judicial favorável aos bahá'ís, o ministro do Interior do Egito divulgou um decreto, em
14 de abril de 2009, que altera a lei para permitir que os egípcios que não sejam muçulmanos, cristãos ou judeus
obtenham documentos de identificação que tragam um traço no lugar de uma das três religiões reconhecidas.[177]
Os primeiros cartões de identificação sob o novo decreto foram emitidos a dois bahá'ís em 8 de agosto de 2009.
[178]

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