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REDAÇÃO COMENTADA

Tema: A redução da maioridade penal e seus efeitos em discussão no Brasil

Introdução: O uso de clichês nas dissertações podem criar a sensação de falta de vocabulário
e/ou erudição por parte do aluno. Assim, o início da introdução com “atualmente” não é uma
boa escolha. Os coloquialismos têm o mesmo efeito e, portanto, a expressão “mas não é bem
assim” deve ser substituída. Além disso, faltou clareza no apontamento de que se está usando
um contra-argumento e o uso da primeira pessoa do plural torna o texto muito pessoal.

Desenvolvimento I: Novamente, temos um problema com o uso da primeira pessoa do plural.


Outra questão é o segundo período muito longo (ele pode facilmente ser dividido em dois perí-
odos). O uso do tópico frasal foi um acerto e possibilitou uma melhor compreensão das ideias.

1 Atualmente, discutimos muito acerca da questão da redução da


2 maioridade penal no Brasil. É muito frequente a ideia de que com a
3 consciência de que não podem ser presos, adolescentes sentem maior
4 liberdade para cometer crimes. Mas não é bem assim, uma vez que se
5 trata de uma questão bem mais profunda.
6 Devemos levar em conta, primeiramente, a realidade atual do
7 sistema prisional brasileiro. A superlotação é um problema crescente e
8 afeta diretamente o dia a dia dos presos - a infraestrutura é precá-
9 ria e os direitos humanos são constantemente infringidos, o que torna
10 inevitável que os índices de reincidência sejam altos. Por isso, permitir
11 que jovens menores de 18 anos sejam presos só agravaria a situação: a
12 superlotação seria ainda maior e um menor que poderia ser reabilitado
13 teria muito mais chances de continuar no crime.
14 Outra coisa é que com a diminuição da maioridade penal, as
15 pessoas mais necessitadas de assistência do Estado serão prejudicadas,
16 já que devemos levar em consideração o fato de que o perfil dos pre-
17 sidiários das penitenciárias brasileiras é majoritariamente de negros,
18 indivíduos provenientes de periferia e pessoas em situação de vulnera-
19 bilidade econômica.
20 Além disso tudo a Constituição brasileira diz que os menores de
21 18 anos são penalmente inimputáveis, ou seja, não podem ser conde-
22 nados a prisão como os adultos. Isso é inconstitucional pois trata-se de
23 uma cláusula pétrea, ou seja, um trecho da Constituição que não pode
24 ser alterado.
25 Assim, fica claro que trata-se de uma situação muito complexa.
26 É preciso que o olhar popular se distancie de uma análise prática e su-
27 perficial, que acredita que o problema da violência facilmente se resolve
28 com punição. Somente assim a discussão poderá levar a caminhos que
29 efetivamente se mostrem como soluções.
30 Desenvolvimento II: Observe que todo o parágrafo foi escrito em somente um período, tor-
nando as ideias confusas e deixando ao leitor muitas informações, sem tempo de processá-las
e compreendê-las. Aqui, isso poderia facilmente ser resolvido com a inversão da ordem em que
os argumentos foram colocados.
O uso de “outra coisa” no início do parágrafo pode soar muito coloquial, assim como o “já que”.
Seria interessante substituí-los.

Desenvolvimento III: Falta neste parágrafo um tópico frasal, que sintetize as ideias a serem desenvolvidas. Uma
forma de resolver isso seria trazer o argumento da inconstitucionalidade para o início do trecho. A repetição
do “ou seja” também pode ser evitada.

Conclusão: A proposta de intervenção está incompleta e se mostra insuficiente. Que tipo de pensamento dará lugar à
“análise prática e superficial”? Isso já foi tratado no texto e precisa ser recuperado na conclusão.
Há também um problema nas ideias. Está explícita a ideia de que violência não se trata com punição em um âmbito mais
geral, mas isso não foi tratado ao longo do texto. Seria importante especificar de que tipo punição se está tratando.
REDAÇÃO EXEMPLAR

Tema: A redução da maioridade penal e seus efeitos em discussão no Brasil

Sugestão de reescrita:

1 Muito se tem discutido acerca da questão da redução da maioridade penal


2 no Brasil. Aqueles que se posicionam a favor da mudança argumentam que com a
3 consciência de que não podem ser presos, adolescentes sentem maior liberdade para
4 cometer crimes. A questão é que se trata, na verdade, de uma discussão muito mais
5 profunda.
6 A primeira coisa a ser levada em conta é a realidade atual do sistema prisio-
7 nal brasileiro. A superlotação é um problema crescente e afeta diretamente o dia
8 a dia dos presos - a infraestrutura é precária e os direitos humanos são constan-
9 temente infringidos. Nesse contexto de precarização, é inevitável que os índices de
10 reincidência sejam altos. Por isso, permitir que jovens menores de 18 anos sejam
11 presos só agravaria a situação: a superlotação seria ainda maior e um menor que
12 poderia ser reabilitado teria muito mais chances de continuar no crime.
13 Outra coisa a ser levada em consideração é o fato de que o perfil dos presi-
14 diários das penitenciárias brasileiras é majoritariamente de negros, indivíduos pro-
15 venientes de periferia e pessoas em situação de vulnerabilidade econômica. Com a
16 diminuição da maioridade penal, seriam esses os setores mais afetados - justamente
17 os que mais necessitam de assistência do Estado.
18 Além disso tudo, a diminuição da maioridade penal é inconstitucional. A
19 Constituição brasileira diz que os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis,
20 ou seja, não podem ser condenados a prisão como os adultos - trata-se de uma
21 cláusula pétrea, trecho da Constituição que não pode ser alterado.
22 Assim, fica claro que trata-se de uma situação muito complexa. É preciso que
23 se transfira o olhar popular de uma análise prática e superficial, que acredita que o
24 problema da violência facilmente se resolve com punições severas, para uma pers-
25 pectiva mais profunda, disposta a levar em conta os direitos humanos e a realidade
26 socioeconômica do Brasil Somente assim a discussão poderá levar a caminhos que
27 efetivamente se mostrem como soluções.
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