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ENSINAR E SIGNIFICAR: AS RELAÇÕES'

DE ENSINOEM QUESTÃOOU DAS


(NÃOlcÓiKCJDÊNCiAS NAS RELAÇÕES
DE ENSINO'

..4nal,üza Bustamanto SmolRa

Muito.se tem falado do trabalho docente, da ativi:


dade de ensino. da. pratica do Í)roíessor: Muito:se .tem
estudado sobre o' professor e seu cotidiano, seus sabões
,efazeres. suas crenças, sua experiência. beu=conhécimen-
to,;Muito se tem indagado e .comentadosobro as.dificul-
dades. as belezas e aé especificidades dessa forma de
relação humana que "êhamanios ensinar::: E. apesar dé
tanto falarmos,ela aparecetão enigmática. às vezes sur-
preendente, às vezes desconcertante. muitas vezes ihusita-.
da. em totias as suas(im)possibilidades de acontedjmento

1: Este trabalho contotir com. apoio do Conselho. Nacional çle


liesenvolvimento Çientífico,.,'é Tecnológico,,CNPq, .Brasil:{ Versões
anteriores foram' apresentadas no ConÉressS)
. de Leitum. .do Brasili
Cainpiüas,,em 2005;-nas IV Jornadas de Desarrollo Humano e Educación,
Alcalá de Henares, Espanha, em 2005i lendo que esta última íoi publicada
em Cultúa e Educación: revista de teoria, invéstigaéión y práctica, v.4 , t)p.
3.14,2006

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Série-- .Desenvolvimento)humano e práticas culturaisl
Quer ela se realize.efetívamente, quer ela pareça não Agostinho: Que te parece que pretendemosfazer
J
acohtecet, quer ela se mestre dispensável, essa forma de quando falamos?
relação está.sempre a instigar ê a demandar atenção. Adeodato:'Pelo que de momento me ocorre, ou ensi-
Eiü meio aos incontáveis estudos, 'esforços e refle- nar,ou aprender.
xões. minha contribuição nesse momento pode consistir Agostinho: :.: é evidente que quando fabmos quere:
em trazer para discussão algutnas elaboraçõesque venho mos ensinar; .porém, como aprender?.l- o fim da pala-
fazendo na busca de compreensão de inúmeros aspectos vra é duplo: ou ensinar,-oii suscitar recordaçõesnos
due afetam essa relação, a qual tem se constituído:num outros ou em nós mesmos-. com as palavras nada
provocativo lugar de experiência e investigação. Assim mais fazemosldo que chamar a atenção; entretanto,
sendo, meus objetivos nessa apresentação são: 1. explomr '\ / a memória; a que as palavras aderem, faz com que
as relaçõesentre ensízlare sígzzí#car,numa perspectiva venham à mente as próprias coisas, das quais as palas
histórico-culturall 2::problematizaí a dinâmica da s#gm#- yraé são sinais (signos):=1Quando.falamos, fazemos
cação =-como produção humana .de signos e sentidos; 3. sinais, donde provem a palavra'significar -- fazer si -'
discutir as implicações dessa dinâmica para as ralações naif ü signa facere -. Toda palavra é sinal (signo),
dê ensinos e 4,- explicitar aspectos interconstitutivos
mas nem todo sinal(signo) é palavra-. Ensinar-e sig-
coiídiçõeslnateíiais, incluindo as dimensões psicológicas nificar são a mesmacoisa ou diferem em algo?-.
e ideológicas -- qué nos ajudem a compreender a comple-
Conclui-se portanto, que nada se podo'ensinar sem
xidade dessasrelações.
sinais'e que o próprio êonhecimÊnto há de ser a nós
Ao tematizar as ré/açã?s de ezlsino sob uma pers- mais caro do que os sinais;- não aprendemos nada
pectiva histórico-cultural, eu queria retomar essaquestão,.
por meio dessessinais que chamamospalavras:an-
We é arcbaicai4explorando as . relações entre ensinar e
tes, êrmo já disse, aprendemos q xialor da palavra,
significar.l.Encontramos na etimologia dçésas duas pala: ou seja, o significado que está escondido no som
was a Inoção de .Piano: Sfgnare: relativo à sinal, . signos (
assinalar apontar:jmostrart .assinaíl ]h sígnâre: Üiarcar. Esse texto de Agostinho é extremamente fecundo
fazer;nçidir, imprimir signos na mentem-,Sfgna
íaóere:.fazer
le abrangente em termos das ideias e argumentos que ele
sinais,;: signosl« significar. Podemos assim "perceber que
vai.construindo ha busca de compreensão das relaçõesdo
ensinar e, sigiíificar implicam '.formas . de (enter)ação, homem com o outro homem. a linguagem e o conhecimen-
(qper)ação mental, trabalho com signos. E a natureza .to dcrmundos?Nele destacam-se as indagações sobre as
mesma desse trabalho (com signos) àue tem sido objeto relações entre ensinar e falar,em que se ressalta a forma
de debaDesseculares.. ';especificamente humana de áção e. aprendizagem pela
Em nossa tradição grêco-romanacristã. podemos linguagemt as relações entre signo e palavra, palavra e
destacar o trabalho de Santo.Agostinho, t;ue já no século coíihecimento. Nesse ensaio teórico-teológico sobre aé
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nos apontava as relações entre ensinar e significar. eih~ formas dó'.significação, sobro o estatuto do signo e da
seü belíssimo Z)eMagíster, texto que é, ao mesmo tempo. linguagem, sobre a centralidade da palavra na relação-de
um tratado de semiótica e uma reflexão sobre a palavra, 'a ensino, mostra:se um exercício deietórica e argumenta-
memória e o ensino. Nesse texto, Agostinho entabula uma ção em busca da Verdade. Sinais, signos. palawas, têm
conversa com seü filho, Adeodato: para ele UH caráter instrumental'Integrando a episteme
da época, Agostinho vai encontrar em obus, no Verbum.
um princípio explicativo.

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. .' quando
": tes nos processos de desenvolvimento e aprendizagem,
Hoje. fala os com muita ;'naturalidade"
. : .
mas o;;pstatuto$teóüco desses instrumentos técnicos e
emmedação, {azen refe].ência à Vygotsky, e~afiímamoq
' to . ,-
simbólicos não é Ómesmo em diferentes abordagens. As.
que *é pelo outro e peloesigno que ~o conhecimento se
relações entre as ponhas de organização social e o funcio-
constrói. Muitas vezesnas escapam ag raízes,históricas e .
namento'lhental têm sitio enfatizadas por diversos autores
as dimensões dessa afirmação. Vale indagar, então. sobre
em diferentes áreas,' mas tem sido difícil concordam.:cona.
ag.implicações .e os. sentidos daquilo tjue: áfimiamog ot:l Z
ou aderir a. um mesmoprincípio explicativo;O que se
assumimos.
entende por História e por Cultura está longe de ser.éon-
Entre os gregos, romanos. Agostinho e. nós; mudabl:
.sensual. Conceitos éomQ.diversidade#heterogeneidadg,
ram as relações.dQ homem: cÓm o mundo. Mudaram
. as
plthalidadel e noções como as de sujeito, subjetividade,
condiçóçs de existência,.os modos de prõduçãa; mudaram
qubjetivação, vão configurando tensões, explicitando de''
os instrumentos..as técnicas, as práticas, o conhecimento
bates} mostrando diferenças
e os tdodos de conhecer, .Dezoito: géculoé de incontáveis
Pàrtl'cularmente 'nos últimos. :.50 anos mudaram
con"tribuiçÕes.$1osóficas e científicas se passaram desde
drnatinamnnta na õnndinÃQQQ ne mndAede relacao entre
as elaborações filosófico-religiosas d«Santo.. Agostinho«
os homens. A par das profundas modificaçõesnos modos
Novaspóssibilidades. tomaram-se possíveis.nos âmbitos
micro e macio. possa)ilidades cada vezmaiores dé atingir de comunicar.. Dos modos de viver, de pensar,'de aprender
deconentes das transfõimações(sobretudo)Tnaárea da
e perscrutar o micro (nanotecnologia) e ao mesmo tempo-
infoiínática;. aprofundam=se as contradições quanto ao
maior amplitude na relação e.compreensãodo(s)univer-
acessoao c)onhecimentóe doltiínio de instrumentos téc-
so(s) E 'o homem gempie.'seindagando: de maneiras Q
.hológicós = se "todos" parecem ser impactados;os efeitos
sições diíerenteg. sobre'q'vida, as origens da universo,
desses irhpactas nãÕ são os mesmos..bhá que se pensar
a natureza do conhecimento,,g da consciêhciâ, sob;lé si:
na diversidade das condições de apropriação das práticas
mesmo.
e nas possíveis fonnas de participação das pessoas nessas
Podemos pontuar algumas noções. concéitost:lte=
práticas, Como conceber as formas de relação sóbial, per-
mas ou concepções que vêm integrando nossos moda?.s
de
meadas por esses modos de produção? Como pensar e
pensamhoje. evêms e tomando fuga! comum'hãs
.. esferas
,
estudar as relações entre as formas de organização social
de Inossa:atuação: palavras e ideias que .aparecem.como e o funcionamento mental?
m.arcasde nossos modos contemporâneos de .conhecer.
Integrando esse movimento das Ídeiasl o.trabalho
Hoje, a noção de elaboração histórica do conhecimento
de Vygotsky vem ganhando força, contribuindo para fun-
encõnlxa-se amplamente divulgada. A noção de interação
damentar posições, e produzindo os mais varíadoé afeitos
social tem sido considerada; fundamental na elaboração
dõ conhecimento: mas a dimensão social tem:sido'corcel e sentidos=.
Hoje,nq âmbito da educaçãoformal.e não
formal,:e nos estudos sobre o desenvolvimentohumano,
boda de muitas maneiras diíerentesX:A linguagem e: o
muitas de suas elaboraçõestêm sido amplamente divul-
discursotêm sido vistos cofiio fundamentais nessa elabo'
gadas,~lidas,discutidas, assimiladas....Passamosa procla-
rallão,-(Óhtudo.ab .concepções de lióguagein e.alugar do
discurso são distintos nos +ái:iç)s'modelos . teóricos. Os
instrumentos e 'recursosde mediação têm lido,importan- 3.,l:i; C. Castodadis, M,.de Certeau, T..Eagleton, na Filosofia; CliHord Geertz:
Leroi-Gouhran, ça Antropologia; Norbert Rijas. PI Bourdieu, SlavosZizêk:
na Sociologia; Vygotsky, Wallon, Luim, Leontiev, ha Psicologia;Bakhtin:
2. '" Essa questão tem sido,objeto de estudos.e refléxõeE no grupo de pesquisa.
nos Estudos da Linguagem.
Confeãr Smolka.2000, 2003.

Editora Mercado de Letras -+EdlJcâção Séries.Desenvolvimento humano e práticas çulturais l ll


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mar que. a .natqeza 'dõ désenvo/ümento humano e .Éio Para falar da força desse princípio e das implicaçõ-
conhecimezltoé socíâli'Falamosém socíogénesedas fun' es que ele traz, vou remeter a uma contribuição de Vygots-

ções mentais.dalgumas palawàs. de Vigotski entram na ky;i(que .vem também se tornando-lugar comum na
ordem do dia, ejá comem o.asco de se tornarem jarrão no produção acadêmica e nos discursos de divulgação na
meio eduéacionâj: áreada educação),e retomaro exemplo'prototípico.
do
gesto de apontar
O conhecímendo dó mundo passa pelo ouço. Vale a pena(re)ler o texto de Vygotsky
O canlüho do obleto até a dHança e desta até o
objeto passa através de outra pessoa. No princípio, .ogesto indicativo náo era mais que
A cliazlça !ãrá amanhã, sozizüa, o que hqe íaz em um movimenta ~ihal sucedido de aganargquei
colaboração/. orientado pata o objeto, assinalava a ação preten-
A{.an»endi2agem Onstlbção; precede a.desenho/-. dida
vím eDZ:o. A criança tenta pegar'uin objeto afastado:de gi.
.A mediação do outro é ]imdamenta] no degenú(iJ= estende suas mãos êih direção ao objeto, mas não
tiímenz;o. o alcança. seus braços balançam no ar e os dedos
}Íá que se trabalhamna Zona\de l)esenvo/pimento fazem movimentos ( indicativos)
Pla<ima]. Quando a mãe vem em~ajudado filho e interpreta
seu .movimento como'uma indicação. a situação
Mas afirmar a soCiogênesenão esclarecesobreas sé transfortna radicalmente. O gesto,indicativo se
fomlas de constituição do funcionamento.mental.t:Copo converte em gesto para outros=.Em resposta .à
explicar essa constituição índividyal. pessoal, subjetiva, à tentativa fracassada de pegar o objeto, produz-se
partir dó soclus, isto é; do outro, do a/ter..,daaltel-idades'. uma reação,.não do objeto, mas de.outra pessoa
São outras Pessoas que conferem um sentido ao
Em seus esforçosde elaboração teórica,Vygotsky
propõe a emergência'.da 'dimensão semiótica. isto é, .a movimento da criança

produção de $ígnos, o princípio dà sigúÊcação. como Vemos,!jpoitanto, que se modifica a função do


chave para se'compreendera conversãodas relaçõééso- próprio movimento: de estar dirigido ao objeto
passa a ser dirigido'a outra pessoa, converte-be
ciais em funç(5es mentais. Isso traz certas implicações, eu
em um meio de-relaçãol a apreensão)se transfor-
diria radicais., para ó-.quechaihamoÉ relações de êpsinõ.
ma em indi.cação...(1984:p. 63)

É interessante notar que nessa passagemVygotsky


4. Piêne Janêtfoi um dogmais enfáticas Psicólogos'em defesadessa.tese;e
outro' qão fala propriamente do signo. Ele fala em movimento,
ipspiradbr. de Vygotsl(y e Wallon, cujas .teorizações'.Pobre -"ó . / .

gesto,.interpretação, indicação: O que ele nos mostra é a


aparecépi.comoparticplaímenté relevantes. A desse junta Bakhtjn qpe,
analisando :a'construção do romance é a produção literária, incorpora mudança que se realiza na orientação da ação da criança.
contribuições'de M. Bubber e também elabora o prfnc@lo dn a/lerfdadp. a mudança .nossentidos da ação, para o outro e para si.-O
O homem.égeneticapeYttesacia!::. Ç).ouüóé;Mm:eter+lopaleéito dó':eü'. }novimento,.afetado pela interpretação do outro, óonvel-
(Wa\\on 1915). apelo outro que üos constituímos/«. O homem é umapessoa
te-se emllmeio de relação. Nessa conversão emerge e
social = um agregado de relações social corpor$c(#o num individuo E
inçidelo signo. E essa mudança de orientação 1--.
do objeto
ih$osshe! retaciómr-se àí4tàmentelbç.digo.::pçsú<ltldiretamêtlte 4.
passiva/(Vygotsky !929/2000a).
para o'outro - que constitu!.uma diferença teórica funda''
\

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ter geral, colho pma indicação e um modo de apontar para
mental dà'oiltías elaboraçõé$ teóricas(coinclporeiemplo,-
a complexidade da própria relação
de Piaget,'de Leontiev)
Convéiü chamar atenção .para'cÇfato de (lue as O que acontece na constituição.ou na.instituição
desse gesto é que, entre o süa/(movimento de agarrar c>
próprias elaborações dé VygotsliV: sobre ol.signo,vão se
objeto) e o signo(algo que se produz na relação coM~ooutro
trãnsíomiando. se adensando no percurso de suas elabo-,
e que transforma o moümento) encontramosa abertura
rações. No começo,: o~signo
- é ressalvado,. por
- :saía aiíalogia
:. .
comum instrumento técnico."relacionadoa uln atOinstru- para um possível que se inscrevenas condiçõese nas
construções humanas. A mão estendida e os movimentos
mental PQstéüomiente, tai se,tomando .constitutivo da
dos dedos podem ter uma infinidade de inteiptetações. --
significação.
querer, pegar:pedir. chamar. mostrar.. -..,podem conden)
Podemosdizer então que a constituição do gesto
sar diversas.lformasde atenção, várias intenções. A signi-
de apontar é um modo possível de relação é organização
âcação(de um movimento),portanto, não é unívoca e não
humana. no nível social gindivídual, a partir das práticas
é imediata. Ela vai Ée (re)eonhgurando. se estabelecendo.
cultuiâis e das condições concretas de vida =-materiais:
se convencionalizando na relação. entre as pessoas.
orgânicasbbiológicas,soêiaisl psicológicas, ideológicas
Há que. se compreender dialeticamente essa rela-
Esse ge$tóque se torna possível está, por suavez. inscrito
numa biétóHa de reJaçõeg.Considerados desse ponto de ção: aquilo que permite.ao homemdesprender-seda si-
tuação imediata gó s#gzü#ca num sistema de relações
:vista, os gestos,.como movimentos significativos,' não sâo
dados naturalmente. mas são-t:instruções (e mesiiío ins- sociais. objetívas. ÉI nesse sentido .que dizemos que o
conhecimento.do mundo "passa" pelo outro);É nà trans-
tituiçõesyhistóricas e õultuláisi:IHá que Éuspeitqrda ob:
viedade do gesto e vê-lo inscrito na' história de relações formação do movimento eih gesto que se esboça apossi-:
bilidade de emergência de muitos e diferentes sentidos. E
Uin'gosto é, àssiã\,.um inovimeDtO:nialóado/trans-
é ainda.na co.mplexificação do gesto e na possibilidade de
formado por urna relação social,. no qual se inscreve. a.i
jtrans)formação do signo eni~palawã =-ou na emergência
significação. A emergência do signo como prqquto dessa
do signo como pà/awa = que se.(re)dimensionam as pos-
relação:deixamarc g....
vestígios;. afeta.
. transforma~.,*
q rede--,
sibilidades do conhecitnento humano
mensioha os óigapismos que adquil-eiq o estatuto' de su-
Assim, Q exemplo prototípico do gesto de apontar
jeitos e passam a funcionar na esfera dõ simbéPico.
não resolve simplesmente ã (questão da signiQcação,-maÉ,
O que se coloca ém pauta é justamente a natureza
pelo contrário, aponta, ele mesmo, :para uiü instigante
social,'a emergência e a possibilidade da signiíicàçpo --
lugar de complexidade..:Pensam.portanto, nacoínplQxida-
isto é. da produção histórica designou e sentidos - como
' itui as formal de de do gesto relacionada à possibilidade é emergência de'
meio/modo de relação(Fié afeta e canse ..
sentidos nos leva a problematizar as condições .e'dimen-
sentir. pensar falar, agir das pessoas ein interação-
sões(da Firodução)dé sentidos e da construção de conhe-
Se esse exemplo do Gesto de apontar inspira e nos
cimentos nas relações (de ensino)
ajuda à coiiipfeendér copio, na relação da criança com.o
As .contribyiçõeg de Wallon. Vygotsky e Bakhtin
mundo. as maiêas da cultura vão se lnscrev?ndo no co!
nos ajudam a compreender a polissemia da palavra seno/-
pó/ihenlie, pela mediação db.óutr(ilpela'interpretação dos
do que envolve ç)condensa múltiplas dimensões em ten:
üovàtneõtos, pela.intervenção do adulto, qle~(esseexem-
são dialética. interconstitutiva: sentido relacionado à
plo) néo podo ser Visto lüeramente.'cdihó uma.situação
sensibilidade orgânica, às sênsaçõestmentidorelacionado
émi)trica. mas deve. elê mes ' a el tomado eln seu càrá

J Editora N4ercado de ILetras.--Educáçãd .Sério--Desenvolvimento humano e práticas culturais 115


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lizam, se estabilizam, e; ao mesmo.tempo, se singularizam
às emoções e sentimentos; sentido.relacionado à direção
num:acontecimentos 5. o que se produz afeta. reverte,
e oiientaçãó das (enter)açõe$;sentido relacionado à razão.
à significação. E ria tessitura dessasdimensões que signos reverbera, marca a(iueles que participam dà produção. O.
signo é tim méío/modo de feJaçãosocfaJque afeta o funú:
se produzem, sempre em !)eJação a" -- outros ê algo. ~Qs
sentidos emergem como resultantes dessas relações. :cionamento mental.-0 signo modíÉca asreJaçõesizlçelítzn:

Dizendo de um outro modo: a sensibilidade orgâni- cionais (Vygotsky 1996);6;;sentidos múltiplos e diversos
vão sendo assim produzidos na dinâmica dessas relações
ca.e as sensações vão se tomando Slgniácativas,'ha me:
Na aná]isedo gesto de apontar, os aspectosre]aciona],
diria em que os corpos/sujeitos se afetam g.,produzem
social, .históüco, constitutivo do signo. da significaçãol se
efeitos/abetos uns nos outros; as emoções vão se(}rans)for:
explicitam.'
mando e os sentimentos vão sendo;üoüados,reiagonados
Se a slgz2íâcação constit;üu para Vygotsky um dos
à possibilidade dé sigziiócação(produção de signos na
'relação) e Constituição qo. funcionamentcr mental 'e do principais núcleos de investigação teórica. uma daspreocÜ-
pações que marcou seus trabalhos desde ol início dizia res-
conhecimento pela linguagem(lógica, razão : Jogos)l 'as
dilações e odentaêõek das(enter)ações sigmãcamielacioj' peito aos modos de ensinar, aos modos de estudar as relações
nadas ao movimento. situação e posições dos sujeitos no de ensino, e aos resultados ou efeitos dessa? relações. Essa
articulàçãofentre significação e relação lde ensino aponta
espaço e no..tempo(história).:
pára a necessidade de investigação' e de compreensãodo
Mas voltemos às relações entre ensinar.e significar.
desenvolvimento humano nas in)bricações da dimensão or-
A etimologia e a história das i)alavras nos mostmm slgnr-
gânica, biológica, coifa a história e a cultura
fiãados estabilizados (oumuitas vezes esquecidos?) nas
Aqui, várias questões se colocam: 'Como o homem
práticas. culJ;Mais. 'Clonceitds ç concepções se(trans)for:
vai se constituindo e sendo aíetado pela produção de suas
mam coinepelas palavras etitretecidas àspráticãs. Se as
próprias condições de existência? Como os-instrumentos
questões sobre a significação e o sentido persistem,:outros
modos de problematização..foimulaçãõ e compreensão e as técnicas quq .vão sendo produzidose\lse.tomam
disponíveisna cultura vão transformandoos }nodosde
tornaram-se possíveis: éobretüdo depois. de Darwüi. 9
aprender é ensinar?
MaÜ, às iêlações sociais que'.se estabelecem nas conde,
ções mateüãis, históricas. de existência, aparecem como
l ,Se partimos do pressuposto da natureza social
um possível princípio explicativo da etnergência da signo
do desenvolvimento humano e do(ionhecimeã:
ficação e da linguagem:
Assim, seJetomannosos significados inscritos nas tof como tem sido proclaiiiado hoje em dia. a
partir dos cónstrutos de Vygotsky..pelo menos
palavras --'àssinalal4apontar. [ mostrar.,. assinar; marcar.,
nó âmbito:dos nossos estudos e escolas de for-
fazer incidir, imprimir signos ha mehtel fazer sinais, sign98
-;bémC)scomo êles hoje sqllmantéme se trãnsfomiam} l!: mação. por que então muitas crianças não
a função indicativa<do gesto.de apontar emerge na ide,. aprendem4na escola? Se essa É uma função
social, por que não conseguimos ensinar? O que
Ção;2. ü;h signo~sélproduz.ãa relação entre p?lo ménog
duas pessoasi 3. .produz-se a lpartir de condições cõncre- não conseguimos ensinar? O que achamos que
tRS,,materiais de existência. a partir de .um movimento
orientado para algo, que integra essa relação: 4. essa qção 5« Vários autores(como Peirce, Bakhtin, Ponzio, dentreoutros) nos apontam

partilhada iipplica e ao mesmo tempo leva à flgniâcação hoje para uma -concepção
de signo como dinâmico,móvel, aberto,
inacabado. Conferir Smolká 2004.
isto\é. produção de signos/sentidos, que se conypenclona;

Editora Marcado dél Letras -l Educação Série =-Desenvolvimento humano e práticas cylturaís 117
116 \
elas=não'conseguem aprender? Por.'quê? O que escreverem-pm texto sobre.heróis em quadrinhos, os alu-
nos manifes-tarem diferentes reações::çincompreensão,
elas aprendem que nós dão conseguimos elue(-
l qlheámento, desdém,..ironia,indignação, revolta. Ao ten-
gar?
tar conversar com os alunos sobre a proposta, a professora
2 Secompreendemos d desenvolvimentohumano
ouve dé um deles: "Não quero íicât fazendo essashistoii:
marcado pelo movimento histórico. cóipo lidar
rnhasl ÉI sempre a mesma .merdasQuero escrever coisas
(X)ma rapidez e a compléxidadeéadavez maioli
iwpo4antes :.,,coisas que acontecétn no mundo
da produção e das transíomiações que seope-
ram nos modos de vida::;. quando somos'insta- Na proposta da professora. Vemos a..atenção de
dos a'ensi.nar, inclusive o que ainda?não' trabalhar a produção.de texto e.imagem como objetos de
sabei)os? (penso.por exemplo. tanto nas con:q conhecimento, .a partir de um modo de produção/produto
lições de acesso e nt),domínio
,, da tecnologia.
,. anual. 'contemporâneo (mas não tanto). Vemos a suposição
quanto no encontro cónl aquilo que seconfigura :de que a proposta -- criação de personagense histórias em
como Tdiíerénte'! 1=óu à$ vezes também o absó; . quadünhos.+, interessasse aos alunos. Vemos na sua ati-
lutamente comum e pressuposto, que .náo cha- tude a disposição de conversar com os alunos, quando a
propostaparecêfracassar
ga asse l tornar ,visível. ou imediatamente
evidente para qós, que nos aparece .coma Na fala do aluno. entreveem-se as imagens que ele
(des)conhecido, ocultado,. .ignomdo)l tem da tarefa escolar (repetição, monotonia),:do ensino e
do conhecimento da língua(como inelevantes), da impor-
tância de outros dizeres..da.relevância de outros assuntos.
A i)attir-cla compree nsão da produção da signiíica=
,.
ção na trama dab relações histórica ê cultuíalment? esta- E que mundo é esse do qual o aluno quer falar? Que
belecidas,':e da compreensão.da inserção 4.o gesto.-- de coisas são essas que acontecem no mundo e que apare-
apontar. de ensinai - na dihâ=íica das relações objetivas . cem a ele pomo importantes?.Vivenciandoàom a profes-
\ramos colocar em foco a relação de ensino. sorao espaçoda sala de aula, a pesquisadoraretoma a
fala do &.luno,indagando.dobreo que.éle gostariade
Para discutia um ouço mais detidaménté essa escrever. Aprendendo a lidar com õ computador na sala
de infonnática, eésê aluno produz o seguinte texto
questão ,vgu remete íiâ uma situação üvenciada em sala.
duaula em tema 6' série da.rede pública de ensina)..eu
uma cidade do estado dé Sãó Paulo, Brasil. ViElaS aciom- Gostaria que no mundotivesse menos drogas,.menos
'
pãnhãhdóotràbalh. ) de ..,
professores
. que atüam
.. !nna escola
. .. more e qye o Lula desse pais abrigos para óé pobres
e todos os meses desse roupas e comidas. Colocasse
A Í)roíeséota de, bç)rtuguês tém.,mais çle tíintq anos de
el©eríência de ensin(ã.Junto com ela iniciamos um projetg mail policias nas ruas para pega essapessoasque .\

de produçãodé textos na sala de .iüíormática.:com ç) fica fumando nasruas qque fica vendendo pdrcaria-
objetivo dç eüsinaraos alunos o manejo deste equipamen' das para outras pessoas. E.qye houvesse mais emprç:
to. aolhesmo temPO em que..viabilizávamos covas lombas gos para as pessoas que estão desempregadas, para

de trabalho tom a escrita lía escola. Essa proposta 4pre; r.... eles poder. sustentarsuasfamílias por que tem mui-
ou-se como yma instância de negociação e barganha tas farhilias qué estão passandofome por que não
com oÉalunos. que vinham sistématicaménte rechaçando tçm emprega para poder se alimentar, eu já Vi
cfualqubr proposta de .produção de .peidos aprébentadâ muitas pessoasque passamfome e passamfrio, que

pela i)roíessota Soliqitadós,por ffelnplo, g llcnarep p

]18 -Editora .
Mqcldo dó Letras Educação gérid = Desenvolvimento humano e práticas culturais. 119
se cobrem com jor:na.l para não 'passarfrio mais mesa'
mo assim eles passam frio. Eu gostaria que aÉfaltasse
formas de ensinar da professora. .::Afinal, quais os sentidos
dé se criar heróis Qhistóüas em quadrinhoF? Os lugares.
as posições sociais. institucionais,
\

a história, os modos de
:1
doi os bairrosl Eu'também queria que os homens
;'
dizer, os valores, vão se explicitando nas bão:coíncl(ién-
não acabassem Com a natureza .por que gema nature-
cías que se tornam visíveis:a:Muitas vezes..chamamos
za como vai sendo mundo,lêem a natureza e o que
essas não;coincidências de diversidades:de diferenças
vai ser de nois e dela*tambem.
No interior dessas diferenças, âs imagens, os conceitos, os
fim:,: Assinado J:
sentidos de\"herói"j"por exemplo,.não coincidem: O que
aparecia como um /usar comum de um certo ponto :ãe
obdoldicéütáqliê, revoltado 'cóln as tarefas çséo= vista(heróis e historias em quadiinhosyconfigura-se agora
laréé. esbraveja com a praíebsora e'explicita,seuinteresse como um lugar de não-coúncldências
eih 'escrever sobre o mundQj!,deihanda e reivindica al- Mas outras hão-coincidências foram ganhando vi-
guiüdireitosbásico s:fala da pobreza.
. . . .do. deseihprêgo.
..: da
... sibilidade em nossas análises. Não:coincidências de cà=
violêál;ia, dãs:condições de vida:. Coisas do: dia a dia, ráter intrínsecos ou seja, aquelas internas às próprias
presentesna rua,' üa tnídiailnos latos. nas mentes..Q palawas, ao funcionamento cio discurso.' Não-coincidên-
mundo (Íue ,se iDO trà- nesse
, tecto,
, -ãão ,.é ó mundo do
cias'que dizem respeito à constituição.e à dinâmica da
mafavilhamento, das possibilidades..e poderes do conhe-
própria significação::Bakhtin nos fala da dfa/ética interz2a
cimento humano(científico).''trata-se de'(ümaíomia (q) do sídho; Vygotsky pontua inúmeras não-coúncidéncias:
um conhecifnento.que tem sido, muitas vezes. dest)recado
(ocultado?): r4a/i)ela escola. É o fundo da expenênqa O sigMaaao não é água/ à pa/aWa, nem é água/
vivida. restüta,..iestringidã.r(iiréunsciita à'premência pas aopensamento.
ca:rências.
Esta não identidade pode ser verificada na não
O texto transcende a situação iiüédiata da sala'de
coincidência das linhas de evoltlção.
aula. extiapola à:interação professor/aluno.convoca oq' A ]oglca e a gramática:não coücidenl
tr(iê interlocutores, aponta paraDm auditório social mais A gramática da ída nãÓcoücíde com a dÓpezi-
amplo. De um certo pontada:vista, Jota façade üm lugar saqe.nto. = i, l;$1 { .! :.;. '~
comum: fala da experiência de MuitOS,fala.poí müit.os'.O Existe uma faità de coincidência entre os aspec
ciue diz não traz novidades. Reitera Ójá dito.lo já conheci- tos semióticoe fálico da faia
do., oFmplamdnte divulgado. Tainbé;n nesse sglitido, o O sentido das palawas muda cóm Qmotivo.
êle fala/esclêve é um lugar.domem. O texto)ecoa mina O sigíiificado da palavra não é igual a uma coisa
vozeomuin. da qual participa trazendo-algpihqs marcas e
simples dada de umavez poí todas.
cóntomós de subjetividade -l sensibilidade(mostra-se êíé-
A conespondência entre as estruturas psicológí
tado pelo (íris do) .outro), solidariedade (reivindica .pelo cas pyramaticaig=da fala pode ser encontrada
'
outro);i:"(Eu) gQstariP.:. Eu:queria... Eu ~iá vi qUe
. mesmo
. .. menos frequentemente .doque se assume
assim eles passam frio. (Vygotsky 1987a. 1996)
Isso nos leva a retomar e ponderar sobre o' insuces::
SQ:daproposta inicial da professora. Na situação :mencio
6. Lembramos aqui o trabalho de JácquelineAuthieí:Revuz(1998), sobre as
ada,fbodemos vei. cortid'a proa)osgahão ,coincide~com a
nãõ:êóincidênciasenunciativas,no âmbito dos estlidosda Linguagem e dÉI
); como a regpósta do aluno:afronta as
e;(pectativa do alun . ., .v: Análise do Discurso Francesa.

Editofá Mercado de Letras .Educação Série H Desenvolvimento humano ,é práticas culturais 1 21


120
gens . e possibilidades de , coincidênciàs=f Esse exercício
,:'Ora.' diante de; tantas nãç)-coincidências;!ensinar
possibilita ampliar as margens de olhar. .de conceber. .As
toma-se uma tarefa impossível?'E isso que nos.dizem pela
(não)coincidências -: e aqui mudamos a maneira de escre+
meros algumas yert antes em.psicanálise...
. Miasnão.:é.ipso
. .
ver, indicando entre parêhteseÉfapossibilidadesempre
tiue ãos propõem ou rios énsinâm Vygotéky . ç. Bal(htin,
... . positiva/negativa de haver co-incidências ='aparecem as-
quaniio apontam a pg$sibilidade de encontro de qon5cten-
\'- ' ' ' " ispuroesehÉíve] '\ simComo!elações construídas, estabelecidas,(re)conhe-
cÍas'($elapalawa)..A'paJawa éo.meioma ; .,.
cidas como tais, dentre infinitas possibilidades
de reJàçãosocía], é omateHa/pdvUegíado daléomumcaçao
'ciõtidiana''
- ' "~ c;mateHa lseinióüoo BuÉcanda' então, 'num exercício analítico. ampliar
. , da üdaiz3tedor, , menu
.. de
,
as margens do olhar para tentar compreender a éomplexi:
/uta. nos diz BakhtiD.'A paJawa é o lnícr(cosmo da cons-
cíênciahulhada.l.:ÉNo1entanl;o,ela é uma conte inesgotável dade das (não)coincidências. da dinâihica da significação.
e da produção de sentidos'nas ralações de ensino, vamos
de)novos.prÓble:lias. ..: seu sentido nwlca , éVcompleto
- . '.,no?.
.p retomar o texto de Jota
alerta'Vygotsky.
Em,nossaconÉtruçãohistórica aprendemos a pnvt
Que o mundo tivessemenos drogas
lediar a' .constâncial .:a ilnicidade;i:a homogeneidadega
Que o Lula' dessemais abrigos
exatidão. .a completude. Esses têm sido nossos parame-
';trog.acluilq.que defi ieanorma.., óiiormativo. anõinlalida-
. .. .
Q'ueêolocasse mais polfciqs

de;,Q que' -nao com ]idd, ó, que degregula, temumvalor


. .. Que houvessemail empregos
Que as pessoas não passassem frio e fome
áia].final, desviantêl .anónnal. patológico. 'Isso..mesmo e
Que asfaltasse'
os bairros
apesar dos discurgõs pós-iiiQdemos da 'pluralidade Q dp
diversidade. Que nã(i acabassem
com a natureza.:

Éxpetimentemos:inverter. essa relação e procure-


mos conceber as llião-éoiHcidências canto fundantes, ou Setomarmos a instituiçãoéscolarcomo o lugar da
seja. vamos tóiná-lãss:como referêdciá. e Pensar que. as produção do texto, vemos que Jota fala da posição de
co-incidências são possibilidades que sé tomam viável aluno. Tendo-se em conta sua idade -:'115anos b e alguns
critérios culturalmente estabelecidos de desenvolvimen-
dentre as não:coincidências. Vamos dizer, num largao
' ' Dais "incluÉiVÓ to, Jota pode ser visto como adolescente. Considerando-se
atual,'cjue esse plocedimentoltoma-se .
Se cónãderaímós os PQs$íveigsignificados dqco-ihcfdir - a. série em que se encontra (6':),, é um aluno, "repetente
l ' : )sulcado,estarde
oconer ao:!iiesmo, tempo. -dar o.}ngsmo r , ..; qüe nos faz lembrar os excluídos do Interior, de Bourdieu
ácóido, encohtral:i-J)odemos pensam .pas ihfinitaEI Mar- j1997). Alto,.. magro, moreno, tido como rebelde. usando
boné, brincos, óculos espelhados, vive num jogo de sedu-
ção com as meninas. Em geral "displicente" na realização
7. Vale lembrar aqui que.dando-sê'contadééilasnão-cóiàcidêàcias,VygotskV
das tarefas..empenha-se na.produção do texto no compu-
tG 1 - '
enfatiza'üáoensitío;aeons ubão do êonhêciúentÓ;.e
. . buscava.ampliar
.; , as
,
tador. Moaisainda porque, afinal,cessaproposta de trabalho
formas de participação daspessoasnaspraticas soqais; Aliás, .esse?ra um
de carátçr foi derivada de um comentário SQU.O acesso ao computa-
compromtss&político ;.lâu)dàméntadonuca l +onvieção IK:.''.
episteniolégiêõ.Por liso, prqpunhá e Tyestia todos os.esforçosno gêhtido dor nãõ só~viabiliza.mas dá outro estatuto ao seu texto
da constituição social da personalidade(Vygotsky 1994). Daí dizer, por Pêlo que escreve no texto, participa, de alguma comia, dos
exemplo, que as situações de deficiência(orgânica ou mental) eram lugares problemas,do!-bàino.Em seu texto, mostra-seincisivo.
tiriVilegiadoá de invenção:dó,,ttovo::liso tinha à vér,í cettamentei.cota os reivindicativo. Podemos dizer que fala como cidadão. Essa
tnódos de éle' óoncebeicultura, linguagetü;:história, desgn-!1lvimentq
humano,'funcionamento
mental.
\

123
Editora Marcado de Letra? '- Educação série =-Desenvolvimento humano e práticasculturais
122
vulnerabilidade social(desemprego;pobreza,drogas,vio-
multiplicidade .de posiçõéi' social? sé ; (con)fundem'.
lência). Ao íalgrem das "mesmas coisas':, demandas::e
«não)coincidem?) .na pessoa de Jota
metas "significam" coisas bastante diferentes. E, no enl
InteTessante f)erceber como se opera na süa*produ-
tanto. podemosver como um texto e outro encontram-se
ção escuta b que Bourdiçu~(1997)'chama efeito de lugar intrinsecamente articulados. parecem se sustentar tanto
que se produz entretecido.na"trama das.condições-éTela-;
na(quiloque os aproxima(o, dito; íomé.:pobreza.:qüalidadg
çóes sóçiais e sé4mpõe(pala hóg) à interpretação.dç! .texto
de vida, preocupação com a natureza) quanto naquilo que
Integrando a comunidade de um bairro l5obre de pe8iíeria,
os distancia (onão ditosas condiçõesde vida, circunstân-
Jota fala desse lugar marcando uma distinção em relação
cias da enunciação). Mostram:se intercÕns.titutivos,nos
àqueles ainda mais pobres: masmesmp asÉinl "eles"pas' dizeres e nas práticas
saía õío... 6e/esJ:
estão desempregados,nEsseslugares e'
A quem as metas da-ONU se diúgemtDe quem
posições sociais sigzliHcab], produzem .sentidos em seu
demandam as ações? Ações orientadas para quem? Assi-
texto. Mas não só;.doutrostextos.também repercutem e se
nam o documento os presidentes de 157 nações. Presidefl-
entretecem:lnumatrama intertextual,.ao texto de Jota
te Lula incluído. Há. na íonnulação das metas,um "êles
As "demandas" de Jota parecem. de algulpa form:a.
oculto para quem as ações devem se orientar qüe parece
(jõiiicidir cóm as "8 Metas para o milêniol', anunciadas pela
coincidir com o "eles."--que é também um "nósToculto --
ONU. Uha certa análise poderia apontar.-inclusive, pala.
no texto de Jota. Ele quer o que querem os integrantes da
o fato de o dizer do aluno repetir ou parafrasear as metas
ONU=AÍ, os' desejos coincidem com as metas. Mas as
formuladas pela ONÜ(das quais destaçó quatro):
,condições de vida. os lugares de vivência são diferentes.
Isso faz-com Cinemudem os sentidos, uma vez que Jota
1.Acabar com à fome e a n)iséria
,faz parte dt) ''eles11para quem as ações devem ser oriénta-
2.Educação-básicapara todos das
3.Promover a igualdade entre os.sexos
A compreensão da produção de sentidos.nos espa-
4.Reduzir a mortalidade.ihíantil
ços de (não)coincidências que marcam o trabalbó simbó-
5.Mlelhorar a saúde 4a restante
lico (interações, intertextos) nos possibilita pensar..na
6.Combater.a AIDS, a malária e outras doenças
dinâmica .ínterconstitutíVa das dimensões individual, so-
7.0uaiídade de üda e respeito,ao meto ambiente .
cial, ideológica. Ü=,essa .dinâmica interconstitutiva que
8. Todo ntiin do trabalhan do pelo desenvolviiüen llo
vale a pena, aindal explorar na relação de ensino, tomada
aqui'como lugar de análise.:Para tantos:vamosouvir a
Mas
, os
1 + õontêxtoÉ,
: - : ' ãs condições
' ' de pr idilÇãoi
, os .
professora em conversa com a pesquisadora antes de
sentidos da íormulação=das ilietas é da,enunciação do
ambas vivencialem qsituação acima mencionada:
:aluno se .distinguem:'enquanto o aDÚnciOçdasmetas ré;
meto a um objetivo.de.cáráter formal, impessoal. marcado
(-.) realmente quando eu peguei essaclasse,eu falei
pelo infinitivo dos veibo9; o texto do aluno fala da expe- ah, va/ ser /ãci/, ..,, eu'estou acostumada! ..; Mas real
riência e.da posição social de.quem convive de perto, de .
mente estásendo uma barra, Üiul!.- Olha, para final
dentro;- com a precariedade das .condições de vida.. a
+
\ de Carreira::.Eti estou colocando assim,tudo o que
eu sei,.cabe! Estou procurando, (-.), mas sabe,'na

8. Pntendemos expandir essa ideia a partir das,çontribuiçãei de Vygotsky


(1996; ] 994; 2Q00a)sobre a fomlação da pason'lidado.

Série -- Desenvolvimento humano d práticas,culturais 125


Editora Mericlado de Letras -' Edut:ação
124
Mas a fala:da professoraevidenciaainda certas
hora áue eu v(b fazeífeu não sinto daquele retorno \

tensões no gesto de .ensinar.:nüm movimento de .ihten?i-


baêanal.;
íicação ou intensidade de sehtid(É. que se explicitam has
.eu fico assim até com dor na .boca do estômago
cê)n(tra)diçõesim:línsecas à sua experiência e conheci-
árido eu tenhoque trabalhar -. eu acho que Ó alu- mento
.àdo maia a aula i:omo está
no hoje'não éitâ aguenta
sendo dada.::.çú não estou preparada.:.
Pensei:vai serfácil! .;.euestouacostumada.:.
/ Eu
nós vamos precisar tnudar porque a .escola-não
não estou preparada-.-Está difícil!
estade acôrdo çõm o perfil de,aluno,ho)e).não está.) Euestou colocando 'assim,tudo ó que eu seio./ Eu
Rós vamos precisar trabalhar com mais reclirsos. - % fico assimaté com dor na boca dolestâmagoquando
aluno tem telefone celular cheio de Joguinho, a tec- eu tenho que trabalhar:-
nologia avançou.tanto-. nós estamos ainda cou. Far
. .;
roca:
Múltiplas dimensõesdo sentido no trabalho de
Estádifíci/. Os alunos nãó te valorizam mais como ensinar: .VeiÜos .àonhgwando-se o drama na relação de
uma pessoa,quepode ajuda-los. ç quando você cha- ensino.;.:Drama no sentido de Vygotsky, de-Politzer, ,de
' )..!xinga!,,,estádirigi/!
ma atenção elelespond . . Balüitin, no sentida dé uma multiplicidade.de vezes, posi-
ções e sentidos entretecidos nal pessoa;-Drama que aponta
Tanto as énunciações; dai profeébora é dõ :.pinho. para as dimensões sensível,flexível e reflexiva da signifi-
quanto q fomlulaQ o da .QNU,
, produzidas:...çde. poslçoes
-.... cação. dó trabalho êom,signos, a partir das condições
sociais,lugarese in stânciaé..diferentes,linserein-se
, ,. . ,, . num
.. cohcretaÉ. 'materiais de existência. Significação que afeÕ
]loHzomtesocial. nuH jogo de fc)rçase relações que produ: ta/constitui o corpo/sujeito.:.õorgahismoe o lhundo enl
zefn sentidos ao mesind tempo'tãó diverso.s(ééntiilientos contrate-se no\signo..: \Psiquismo ,êT.ideolo.gia
e posições) quanto h-tensos«não)có-incidências-
. d .. na.. re-
.. ízllpregnam-semutuamente:l (Bakhtih 1981,.p.66).Bakh:
sultante) Podemos apontampara alguns sentidos''que se tin nos fala do homem, ser expressivo e ]ã/ante,:que ntMca
produzeínnêsseip
'''.' ' .; .. . .
LertextQ.:.:lÉnunciações:e ,.....
;.íomlulàções coincide consigo.mesmo.e poí isso é inesgotável em géu
coincidem, por elemplc). no desejo ARIE)ropol$Ea
dg mudança sentido e signlãcado:. (1984, P: 395):,.1Jomo Z)uplex, ,ser
diatódico.... Uln drama éinlpossívelnossistemas orgânicos
t.)NU: -Educação básica. para todos. (yygotsky 1.929/2000a)
Prof.a:Precisamos mudar«: Eu tento«.; Essa (não)coinci'dência do sujeito consigo mesmo
A\unU. Não quero essas.
historinhas.}. Quero escrever nos mostra como a,dinâmica dâ personalidade é drama;
l:ousasimpoaantes. :como o drama vivido é.expeüenciado pelo sujeito sê eR-
Coincidem ao apontarema pobreza e,a precarieda- tretece e se constitui na tmma das relaçõese das exbe:
de dascondições- de ensino, de vida: ciências histórica e culturallhente partilhados. Drama que
ONU ::Acabar.'com à fome e a miséria; Qua/idade dç :inVÉtde/permeia o)cesto de ehsinals'--.Insignàre, .slgnã Za-
vida; Todos trabalhando.l. ciere.=.indicando um cozlio á corpo na relação de ensino
Prof.ü; Precisamos de recursos. .. ó aluno ho)e não
ula tomo esta sendo dada
esta agúerNmndo'mais a -
' perda..: rnnsmq
Alufio: Semprea mesma . hfstorinha.:;
/
'9.
Ideia mais amplamente diiÍcutida po tékeodo ÇOLE%Sinolká 2005

Série Desenüolvinnento human(i e práticas c'ulturaii ]27


l EditoraMarcadodQ..,Letras-
Educação.
126
T

É o gesto de ~ensinar,então --. apontara marcar,


significar g que.rétQmamos aqui. em toda sua.complexi-
dade. Se o gosto de apontar é um lugar dé emergência da
significação (produção de signos e sentidos), o gesto de
ensinai (se) constitui(n)a elaboração histórica desse ges-
to. O gesto de ensinar condensa, assim, muitos gestos de
apontar..i- - i{.:\Wç-:- f \$+' t,: h+
Uma questão que persiste é: apontar o que, por bluee
pua onde?l.Essaé uma indagação constitutiva do drama na
relação de ensino, e que remete à problemática:da coí2#gu:-
ração dos ob/fatos--.de conhecimento, de ensino, de investi:
cação.'o Isso se toma ob/eto de novas considerações: \

Assumir. as(não)coincidências coMO andantes é


mudar o olhar nas/para as relações de ensino. Aquilo que
geralmente "náo cabo'bnas teorias, nas análises é nos
processos de avaliação .-.porque não lêonseguimos enxer-
gar, porctue não conseguimos(ainda?) enunciar d teorizar
sobre =,acaba tendo um lugar possívelí necessário mesmo
E isso que nos move para novos esforços de interpretação',
de teorização. Isso.nos leva a pensar nas implicações
desseposicionamento teórico para compreenderos mo-
dos de ensinar e os modos de estudar:as relaçõesde
ensino. Ensinar seca.' áÉsim,um trabalho com signos. um
trabalho de.:signiÉcaçãopõr excelência, que implica in-
cansáveis gestos indicativos nas orientações dos olhares,
nas configurações dos objétos..nas formas.de referir, de
conceituar;ll: . Um .trabalho nas margens ou espaços ge
(não)co-incidências,:na
.buscade focosou pontosde eh,
contro ou tangenciamento, que produzem tanto sentidos
diversosquantolug?res comuns. Trabalho que assume aF
co-incidências como possíveis e não as pressupõe como
dadas a priori As' possibilidades de cb-incidência gão
condição e objeto déésetrabalho. marcado pela iücomple:
tule. sempre.

]0= Essa questãomerece discussãoespecífica. Lembro aqui as importantes


contHbuiçõesde Moro e Ro&lguez(1997) e Rodriguez,eMoro(1999)
sobreo assunto.

128 EditaraÀ4ercado
dê,Letras: Educação

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