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APOLOGÉTICA, RAZÃO, FÉ E FILOSOFIA (Pt. 5)


WILLIAM LANE CRAIG

Uma das questões mais comuns sobre o Cristianismo é "E aqueles que nunca ouviram sobre Jesus Cristo?
Qual é o seu destino eterno?"
Bem vindo ao “Fé Racional”, conversas com o Dr. William Lane Craig. Eu sou Kevin Harris e estou feliz
em ter você conosco. Quero lembrar você que há muitos recursos como esse podcast disponíveis no
ReasonableFaith.Org
Transcrições e gravações de debates do Dr. Craig em campus universitários do mundo inteiro, artigos,
perguntas e respostas, um fórum de discussão e muito mais disponíveis agora no ReasonableFaith.Org

Kevin Harris, anfitrião do “Fé Racional”

Kevin: Dr. Craig, quando falamos sobre apologética, na fé cristã, "apologética" vem da palavra
grega "apologia" que significa dar uma defesa ou dar razões para aquilo em que você acredita.
Muitas pessoas discordam disso, elas dizem: "Você não pode fazer uma pessoa entrar no Reino
de Deus através de argumentos."

Craig: Muitas pessoas discordam disso, elas dizem: "Você não pode fazer uma pessoa entrar
no Reino de Deus através de argumentos." Certamente é verdade que apenas os argumentos,
na ausência da obra do Espírito Santo, apenas cairão como água numa rocha. Sem a obra do
Espírito Santo, ninguém virá a Cristo. Porque as coisas de Deus são tolice para a mente
escurecida do homem natural, como sabemos pelo que o Novo Testamento diz.
Então, argumentos apenas não trarão uma pessoa ao Reino. Mas, por outro lado, o Espírito
Santo pode usar argumentos, quando amorosamente os apresentamos, para atrair pessoas
para Si mesmo assim como o Espírito Santo pode usar a pregação para atrair pessoas para Si
mesmo.
Então, o Espírito Santo usa meios, isso é o importante a se entender. E quando apresentamos
razões para nossa fé, não estamos trabalhando sem ou contra o Espírito Santo. Em vez disso,
estamos confiando que o Espírito Santo usará nossos argumentos e evidências, enquanto os
apresentamos amorosamente, para atrair pessoas para Si mesmo. Então, nesse sentido, eu acho
que argumentos podem ser um meio útil através do qual o Espírito Santo pode trazer pessoas
a Cristo. E eu vi isso acontecer, não apenas em minha vida pessoal, compartilhando Cristo com
outros, mas falando em vários campi universitários, onde pessoas vieram a conhecer Cristo
ouvindo um argumento pela existência de Deus ou pela ressurreição de Jesus.
Mas a segunda coisa que quero dizer sobre isso, Kevin, é que essa atitude é de uma visão
muito limitada. Ela enfoca apenas seu contato evangelístico imediato e diz, "porque meus
argumentos não trouxeram aquela pessoa a Cristo, portanto, a apologética é inútil." Mas isso
falha em compreender que há uma missão mais ampla da apologética que transcende aquele
contato evangelístico imediato. A apologética serve pra moldar um milieu cultural onde o
Evangelho ainda possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para homens e
mulheres hoje.
Em países, por exemplo, na Europa, onde o milieu intelectual é tão profundamente pós-cristão
que o Evangelho nem pode ser ouvido pelas pessoas como uma opção viável, dizer às pessoas
para acreditar em Jesus Cristo é como dizer a elas para acreditar em duendes ou fadas.
Enquanto isso, nos EUA, o Evangelho ainda pode ser ouvido como uma opção
intelectualmente viável porque nós temos um milieu cultural aqui onde o Cristianismo é visto
com bastante simpatia.

Kevin: O que significa milieu?

Craig: Significa um contexto, um contexto cultural amplo. De forma que, quando uma pessoa
ouve o Evangelho pela primeira vez, ou alguém compartilha "As Quatro Leis Espirituais" com
aquela pessoa, aquela pessoa pode pensar, "bem, sim, essa é uma opção para mim." E talvez
ela esteja pronta para crer em Cristo.
E você pode pensar, "bem, aquela pessoa não precisou de argumentos para vir a Cristo, os
argumentos não tiveram papel nenhum nisso, ela apenas respondeu ao Evangelho." Bem, sim,
em um senso imediato. Mas, em um senso mais amplo, ela estava em um contexto intelectual
onde o Evangelho ainda podia ser ouvido por aquela pessoa como uma opção viável e, assim,
ela pôde responder ao Evangelho de forma afirmativa.
Então o que a apologética faz, de certa forma, é dar às pessoas a permissão intelectual para
acreditar mesmo que elas não creiam baseadas naqueles argumentos, no seu contexto
imediato. Ela lhes dá permissão intelectual para acreditar em Cristo ao ouvir o Evangelho,
porque elas estão em um ambiente intelectual onde o Evangelho é ainda uma opção viável.
Então, eu acho que é muito importante usar a apologética não apenas por sua importância
imediata no evangelismo, mas também para moldar a vida e a cultura americana de forma que
o Evangelho ainda possa ser ouvido.

Kevin: Agora, quando dizemos "argumentos", nós queremos dizer argumentos lógicos.

Craig: Exatamente! Não estamos falando de discutir com os descrentes. Nunca deveríamos
discutir ou brigar com um descrente. Se você não pode compartilhar razões e evidências com
um descrente de forma amorosa, sem perder a calma ou ficar emocionalmente irritado, você
não deveria estar fazendo apologética. Você precisa trazer suas emoções à submissão a Cristo
antes de tentar compartilhar razões e evidências.

Kevin: E pode ser frustrante às vezes.

Craig: Pode! Isso é verdade! Você precisa realmente se esforçar às vezes para não ficar irritado
com um descrente obstinado e indigesto, como às vezes eles podem ser1. Mas sabe o que eu

1Assista no blog DeusEmDebate o debate entre William Lane Craig e Peter Atkins para ver um exemplo muito
claro disso.
descobri, Kevin? Isso é interessante. Eu me encontro ficando emocionalmente defensivo e
irritado quando eu não sei a resposta para a objeção ou questão que o descrente tem. Quando
eu sei a resposta ou a objeção, eu vejo que não fico bem um pouco irritado! É tão fácil, porque
você conhece a resposta! Então, depois que ele compartilha suas objeções, você diz, "Poxa, isso
está errado! Você está mal-informado! Esses são os fatos." E é como compartilhar a verdade
com alguém que pensa que não há 50 estados nos EUA, ou que pensa que é o 50° estado do
país. Você não fica irritado quando alguém diz isso, porque você conhece a resposta e é fácil
explicar a verdade de uma forma não defensiva. As vezes em que você fica mais irritado é
quando você se sente ameaçado e defensivo porque não sabe a resposta. Então, isso significa
que, quanto mais informado você for, quanto mais habilidoso você for como apologista, o
menos defensivo, o mais confiante e o mais calmo você será ao compartilhar sua fé.

Kevin: Bill, eu acho que esse é um grande ponto! É muito encorajador saber que não
precisamos saber todas as respostas, que Deus usará nossa disponibilidade para Ele, mas que,
quanto mais soubermos, mais eficientes seremos como embaixadores de Cristo.

Craig: Eu acho que é verdade, Kevin. Essa tem sido minha experiência, que pessoas que
podem dar boas razões para aquilo em que acreditam são mais ousadas, mais confiantes, são
menos temerosas, menos intimidadas e, assim, mais relaxadas e calmas. Elas não ficam
ansiosas e irritadas, porque elas sabem a resposta, sabem por que acreditam nisso e
simplesmente não têm motivo para ficarem irritadas. E eu vejo em minha própria vida que
cheguei a um ponto em que posso entrar em qualquer contexto universitário e me sentir
bastante confortável compartilhando minha fé, porque eu simplesmente não estou ameaçado
por essas pessoas. Eu ouvi o melhor que eles têm para oferecer, eu sei como responder, eu
raramente ouço uma nova objeção que já não tenha ouvido e, então, eu estou totalmente não-
intimidado quando entro nesses contextos universitários e compartilho o Evangelho com
audiências que, às vezes são bastante hostis. Eu gosto, porque não me sinto ameaçado!
Kevin: Eu ouço às vezes a objeção, "Não precisamos usar argumentos e razões, nós apenas
precisamos usar a Bíblia. Nós apenas precisamos liberar a Bíblia, porque ela é poderosa, é a
Palavra de Deus."

Craig: Bem, eu concordo que, ao compartilharmos nossa fé em Cristo, precisamos usar a Bíblia.
Como a Palavra de Deus, ela é poderosa e não voltará vazia. Então, eu acho que,
compartilhando nossa fé com um descrente, devemos livremente citar e usar as Escrituras.
Mas, se o descrente tiver perguntas ou objeções, seria desrespeitoso com ele, e não seria
amoroso recusar-se a responder essas questões e apenas citar versículos bíblicos para ele. Isso
não é tratar essa pessoa como uma pessoa que é à imagem de Deus, que é digna de amor, por
quem Cristo morreu. Nós precisamos tratar essa pessoa com respeito e, portanto, tratar suas
questões e objeções com respeito e isso significa dar-lhe respostas sérias.
Então, se ele disser, por exemplo, "você não pode confiar na Bíblia, porque a Bíblia é uma
tradução de uma tradução de uma tradução e, por isso, não sabemos mais o que o original
disse," a resposta não é apenas citar versículos bíblicos para ele. A resposta é explicar que
temos excelentes manuscritos do Novo Testamento na língua grega e que, portanto, nós não
dependemos de traduções para saber o que o original disse, e ajudá-lo a estar informado sobre
os fatos aqui. Então, é uma questão de tratar o descrente com dignidade e respeito quando
tratamos suas questões com seriedade e como dignas de uma boa resposta.

Kevin: Nós parecemos ver isso em Paulo. Ele parecia ter diferentes metodologias com
diferentes pessoas. Em Atos 17, ele foi bastante filosófico com os filósofos, mas foi mais
simples com a Igreja em Corinto.

Craig: A principal estratégia evangelística de Paulo era, "eu me tornei todas as coisas para
todos os homens para, de todas as formas, ganhar alguns." E isso quer dizer: sensibilidade
para quando a apologética é apropriada e quando não é. Se alguém, por exemplo, está
sofrendo profundamente por causa da morte de uma criança, digamos, pode ser totalmente
inapropriado tratar isso como um problema intelectual do sofrimento e recitar a resposta que
você memorizou para o problema intelectual do mal2. Em vez disso, essa pessoa pode apenas
precisar de um ouvinte compassivo ou de um ombro para chorar.
Ou, se você está falando com uma pessoa que é do tipo mais artístico, sabe? Alguém da área
da literatura, drama, pintura ou outras formas de arte, ela pode não responder a um
argumento científico sobre a fina sintonização do Universo. Em vez disso, ela pode ser mais
responsiva à beleza da fé cristã na literatura, na arte e filme ou a considerações estéticas
relacionadas à fonte da beleza objetiva, ou o sentido da vida e da existência e a beleza dos
relacionamentos pessoais. Então, a apologética será totalmente diferente na vida desse tipo de
pessoa. Nós precisamos adaptar nossa apologética no evangelismo ao tipo de pessoas com
quem estamos interagindo.

Kevin: Para mais recursos como esse do Dr. William Lane Craig, vá para o
ReasonableFaith.Org3 e muito obrigado por ouvir ao "Fé Racional", com William Lane Craig.

2 Assista no blog DeusEmDebate a palestra de William Lane Craig sobre o problema do mal e tente memorizar os
pontos principais da defesa que ele apresenta para o problema do mal.
3 Ou para o blog DeusEmDebate.blogspot.com!!! 

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