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Bibliografia.
ISBN 978-85-87478-10-8
Candomblé e
1. Candomblé: Religiões de origem africana Z99.673
Umbanda
Caminhos da devoção brasileira
SELO
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VAGNER GONÇALVES DA SILVA
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tos e, finalmente, dos brancos, que nenhum vínculo de
parentesco tinham com a África. A ancestralidade afri-
cana, como critério para pertencer ao culto, foi aboli-
da, e os orixás tornaram-se deuses adorados por toda
uma população que passou a incorporá-los, conhecer
\^ panteão e ãs
seus mitos e fundamentos (segredos rituais) e tê-los • •" y d e n o m i m ç õ e s regionais
como suas entidades espirituais regentes, independen- . áãsreligiões
temente de sua cor ou origem. ' '
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entre os iorubás, de Mavu e Lissa entre os jejes e de Este colocou então na cabeça um chapéu pintado de um
Zambi entre os bantos. Esse ser supremo criou a natu- lado de vermelho e de outro de branco. Ao passar entre os
reza e as divindades intermediárias que estão acima dois amigos cumprimentou-os e prosseguiu. Os amigos
dos homens. Neste sentido, os deuses africanos se intrigados se questionaram: "Quem seria o andarilho
aproximavam dos santos católicos, que foram santifi- com aquele chapéu vermelho?". O outro retrucou:
cados em função de suas vidas na terra (marcadas pela "Não, o chapéu era branco". Discutindo a respeito da
virtude, valentia, heroísmo, resistência à dor, etc.) e cor do chapéu, os amigos começaram a brigar até se
considerados intermediários entre os homens e Deus. matarem... (cf. Verger, 1985).
Essas semelhanças entre os deuses africanos e entre O dia de Exu é a segunda-feira, dia das almas no
estes e os santos católicos deu origem aos sincretismos calendário católico, e sua comida preferida é o galo,
que em cada região e época escolheram traços para farofa de dendê, pimenta e cachaça. Com essas atribui-
aproximar as divindades. Vejamos algumas dessas ções é fácil de imaginar por que o culto a Exu era visto
aproximações entre os deuses africanos e os santos como demoníaco pela Igreja já na África e no Brasil
católicos. colonial. A associação dessa divindade com o demó-
nio, que era invocado nas orgias sexuais das bruxas da
Idade Média, deu-lhe feições de diabo com chifres,
' DEUSES AFRICANOS E smos CATÓLICOS
rabo e patas de bode no lugar das mãos. N o rito jeje o
EXU, orixá mensageiro entre os homens e os deus mensageiro é Elebará e no rito angola é Aluviá
deuses, é uma das figuras mais polémicas do (masculino) e Pombagira (feminino).
^ candomblé. Desde sua origem na África, está h OGUM é o orixá da guerra e do fogo. Conhe-
associado ao poder de fertilização e à força transformado- eido também como ferreiro, é uma espécie de
ra das coisas. Nada se faz, portanto, sem sua permissão. herói civilizador africano na medida em que
Exu, quando não é solicitado diretamente, é quem conduz conhece os segredos da forja necessários para a fabrica-
o pedido dos homens para os outros deuses. Entre os obje- ção de instrumentos agrícolas e de guerra. Por isso,
tos que o representam está o ogó, instnamento de madei- seus símbolos são a espada e ferramentas como a enxa-
ra esculpido em forma de pênis e adornado com cabaças da e a pá. N o mito, Ogum teria sido o filho do rei Odu-
e búzios que representam os testículos e o sêmem. dua, fundador da cidade de Ifé (o principal centro
,., Espírito justo, porém vingativo, Exu nada executa divulgador da cultura iorubana da África) e conquista-
sem obter algo em troca e não esquece de cobrar as pro- dor de vários reinos. No Brasil, suas virtudes para o
messas feitas a ele. Um mito iorubano conta que dois combate o aproximaram dos santos guerreiros, como
amigos esqueceram de fazer as oferendas devidas a Exu. Santo Antônio, que já no século XVI era considerado
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Geralmente é festejado no dia de São Pedro, com quem com a maternidade, seu culto no Brasil foi aproximado
também é sincretizado por ser esse santo católico o ao de Nossa Senhora em suas várias louvações. Na
"porteiro do céu" e ser retratado nas nuvens. N o rito Bahia e no Rio Grande do Sul a festa dessa deusa é rea-
angola seu nome é Zazc. lizada em 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora dos
OXUM é a deusa iorubana da água doce, dos la- Navegantes e das Candeias. N o Rio de Janeiro e São
gos, das fontes e das cachoeiras. Na Africa, está Paulo o culto ocorre no dia 8 de dezembro, dia de Nos-
relacionada com a fertilidade das mulheres e com sa Senhora da Conceição, ou no dia 31 de dezembro, na
a riqueza dela decorrente, já que é pela procriação que se passagem do ano, quando se acredita que a água tenha
garante a continuidade das famílias e a subsistência das forças benéficas trazidas por Iemanjá para propiciar
comunidades. Por essas características, seu culto no Brasil um ano novo positivo.
foi somado à devoção católica a Nossa Senhora da Con- lANSÃ ou OYÁ é a deusa iorubana dos ventos,
ceição. O correspondente a OxLim no rito jeje é Eoiva ou dos raios e das tempestades, domínio que divi-
Aziritoboce. E no rito angola é Quissambo ou Samba. de com seu marido Xangô. Segundo o mito, o
IEMANJÁ é a deusa das águas, tida como mãe culto aos mortos (chamados de egungun) também está
de todos os outros orixás. Na Africa era divin- relacionado a lansã, que preparou roupas especiais
dade de um rio de água doce, porém, para para vesti-los de modo que pudessem voltar à Terra e
fugir de seu marido, desembocou no mar, onde vive falar com os seus descendentes. Sobre o culto a lansã, a
junto de sua mãe Okun. N o Brasil é cultuada sobretu- devoção às almas, presente no catolicismo popular,
do no mar, sendo associada com outros "encantados" pôde encontrar correspondência na religiosidade dos
das águas, de origem indígena. Daí ser louvada tam- negros. N o sincretismo afro-católico, lansã também foi
bém como Rainha do Mar, Janaina, Mãe D'água, associada a Santa Bárbara, que atraiu a fúria de seu pai
Sereia, Iara, etc. No rito jeje a divindade da água sal- ao se converter ao catolicismo. Condenada à morte, foi
gada é Abé, representada pela estrela-guia que caiu o próprio pai quem lhe cortou a cabeça, ato seguido por
no mar. N o rito angola o mar é representado por Mãe terrível tempestade em que um raio atingiu o executor
Danda (Dandahindá) ou Quissimbe. da santa. Desse modo. Santa Bárbara tem a seu favor o
A festa de Iemanjá, quando é costume dos devotos poder do raio, dos ventos e da tempestade, como lansã.
levar flores, perfumes e outros presentes ao mar, tem Por isso, a imagem de Santa Bárbara, uma jovem m u -
reunido milhares de pessoas e vem sendo praticada lher com uma espada, foi também associada ao caráter
desde o século passado em praias, diques, fontes e guerreiro de lansã. No rito jeje a entidade dos trovões é
lagos ao longo de quase todo o litoral brasileiro e em Sobô. No rito angola ela é chamada de Bamburucema ou
várias cidades do interior. Devido à relação de Iemanjá Matamba.
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f
OXALÁ é O orixá da criação. Foi ele quem mo-
delou com o barro o corpo dos homens sobre
o qual Olodumarê (O Ser Supremo) soprou
para dar vida. No princípio. Oxalá foi designado por
Olodumarê para criar todo o mundo, tendo para isso
recebido o "saco da criação" e o poder de realização
(axé). Contudo, antes de sair para a sua missão, es-
queceu-se de fazer as oferendas a Exu que resolveu se
vingar provocando-ihe uma enorme sede. Desespe-
rado, ele se embriaga com vinho de palmeira e ador-
mece. Olodumarê, ao saber do ocorrido, designa Odu-
dua, o segundo deus criado depois de Oxalá, para
substituir o orixá embriagado. Odudua espalha, então,
a substância do saco da criação sobre a superfície da
água até formar um monte. Neste monte coloca uma
galinha que, ciscando, vai espalhando continuamente
a terra até cobrir a superfície das águas. Foi neste mon-
te que se erigiu a cidade de Ifé (cf. Verger, 1981).
Devido a essas características, o culto a Oxalá foi
relacionado com a devoção católica a Jesus, também f i -
lho do criador supremo e salvador dos homens na
Terra. Exemplo desse sincretismo entre Jesus e Oxalá
aparece numa das festas mais populares na Bahia, a
lavagem da Igreja do Senhor do Bonfim. Nesse caso a
origem desse sincretismo está num mito africano. O
velho Oxalá resolveu visitar seu amigo Xangô, rei de
Oyó. Após longa jornada, ao entrar nessa cidade, en-
controu perdido o cavalo de Xangô. Tentando amansá-
lo, foi visto pelos soldados do rei, que logo o tomaram Oxalá, o velho deus da criação, caminha
por u m ladrão. Oxalá foi atirado na prisão e lá ficou por
apoiado no poxorô, o cajado sagrado que o
sete anos. Durante esse período grandes catástrofes
acompanha em suas cerimónias.
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acometeram o reino de Oyó: seca, epidemias e esterili- próprias, sendo alguns conhecidos em uma região e
dade das mulheres. Xangô consultou então o adivinho desconhecidos em outras.
e ficou sabendo da prisão injusta de u m velho. Ao Assim, variações regionais do rito jeje-nagô podem
saber que este era seu amigo Oxalá, como forma de ser encontradas por todo o Brasil (em cultos equivalen-
desculpar-se, ordenou que todos de seu reino vestis- tes ainda que distanciados no espaço e aparentemente
sem roupas brancas (porque branco é a cor de Oxalá) e sem contatos entre si), como no candomblé da Bahia, no
buscassem água três vezes seguidas para banhar batuque do Rio Grande do Sul e no xangô de Per-
Oxalá. Na lavagem da Igreja do Bonfim, o costume nambuco (o nome do culto vem do orixá Xangô, muito
católico de lavar o chão como ato de devoção forneceu cultuado nessa região). Com relação a esses cultos, é
aos negros uma ocasião de comemorarem o banho de possível deduzir queumamesmainfluênciaiorubádi-
Oxalá. Assim, até hoje, os adeptos do candomblé, ves- recionou o seu desenvolvimento, incorporando a cultu-
tidos de branco e carregando na cabeça jarros com ra local. Assim, se Ogum na Bahia recebe como oferen-
água, fazem uma grande procissão até a igreja, onde da feijão preto, em Porto Alegre seu prato é o churrasco
lavam seu chão com a água dos jarros, homenageando e nos terreiros dessa cidade os homens dançam vesti-
ao mesmo tempo o Senhor do Bonfim e revivendo o dos com a bombacha, traje típico gaúcho, em vez das
mito de Oxalá (cf. Verger, 1981). calças brancas, comuns nos outros lugares do Brasil.
No rito jeje a criação ficou a cargo do par Mavu-
Lissa. Mavu representa o princípio feminino e é com-
TAMBOR-DE-MINA "
pletada por Lissa, o princípio masculino, representado
pelo Sol. No rito angola a divindade da criação é Zam- Na região do Maranhão e do Pará, a forte influência
bi ou Lemba. dos jejes criou uma forma de culto específica chamada
de tambor-de-mina. O termo mina é uma referência à
procedência dos escravos, aprisionados no forte portu-
CANDOMBÍÉ, BATUQUE E XANGÔ
guês São Jorge da Mina, na África Ocidental, antes de
As religiões afro-brasileiras se desenvolveram pratica- embarcarem para o Brasil.
mente em todos os estados onde houve a presença do Com exceção de alguns terreiros da Bahia e de Por-
negro e de seus descendentes. Fatores como o tamanho to Alegre, foi no Maranhão, particularmente em São
da população negra em relação à de brancos e de ín- Luís, que o culto aos voduns, divindades dos jejes, mais
dios, a influência de determinadas etnias, a repressão se desenvolveu. Na Casa das Minas, terreiro fundado
ao culto, as condições urbanas e outros, fizeram com nessa cidade em meados do século XIX, os voduns
que os cultos apresentassem características regionais são cultuados de acordo com as famílias mitológicas às
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CANDOMBLÉ E UMBANDA
minado ponto da mata, faziam uma fogueira e prepa- tos católicos eram agrupadas por falanges ou linhas
ravam a mesa (com toalha, velas e pequenas imagens). como a linha da Costa, de Umbanda, de Quimbanda, de
O embanda entoava u m canto preparatório, pedindo Mina, de Cabinda, do Congo, do Mar, de Caboclo, linha
licença aos espíritos (Calunga, espírito do mar; Tatá, Cruzada, etc. (cf. Ramos, 1940, p. 124). Nas sessões de
espíritos benéficos), sendo acompanhado por palmas e macumba procurava-se cultuar o maior número de
por outras cantigas. Durante os ritos, era servido vinho linhas possível, pois quanto mais conhecimento o pai-
e mastigava-se uma raiz enquanto se sorvia o fumo do de-santo tivesse sobre elas, mais poderoso era conside-
incenso, que era queimado num vaso. As iniciações rado. A abrangência de cultos que sob o termo macumba
eram feitas nesse momento quando o adepto passava eram conhecidos parece ter sido u m dos motivos de sua
três vezes por baixo da perna do embanda, simbolizan- popularidade e de seu uso indiscriminado para se de-
do sua obediência ao seu novo pai. U m pó sagrado, signar as religiões afro-brasileiras em geral. r
enba, era soprado para afastar os espíritos inferiores e
preparar o ambiente para a tomada do Santé, que sig-
CANDOMBLÉ DE CABOCLO
nificava a incorporação do espírito protetor. Para ter
um Santé, era preciso que o iniciado passasse por pro- o culto aos caboclos, tão presentes na religiosidade dos
vas — por exemplo, entrar no mato com uma vela apa- bantos, deu origem ao candomblé de caboclo, conside-
gada e retornar com ela acesa, sem ter levado meios rado por muitos adeptos como uma variação do can-
para acendê-la, e trazendo, então, o nome do seu espí- domblé de angola, no qual os deuses indígenas assu-
rito protetor. Alguns desses espíritos eram conhecidos miram o papel central, com o mesmo status dos orixás.
como Tatá Guerreiro, Tatá Flor da Carunga, Tatá Rom- Os caboclos são os espíritos "donos da terra" e re-
pe-Serra eTatá Rompe-Ponte (cf. Nery, 1963). presentam os índios que aqui viviam antes da chegada
dos brancos e dos negros. Quando baixam nos terreiros,
vestem-se com cocar de pena, dançam com arco e fle-
MACUMBA cha, fumam charutos e bebem vinho. Geralmente falam
As macumbas do Rio de Janeiro se aproximavam mui- um português antigo e quase incompreensível. Muitos
to das práticas da cabula. O chefe do culto também era deles são extremamente católicos e suas preces e lou-
chamado de embanda, umbanda ou quimbanda, e seus vações lembram os tempos coloniais de sua catequese.
ajudantes, cambono ou cambone. As iniciadas eram as Por serem conhecedores da medicina local e dos segre-
filhas-de-santo, por influência do rito jeje-nagô, ou mé- dos da mata, são famosos como curandeiros e feiticeiros.
diuns, por influência do espiritismo. Na macumba as Os caboclos, apesar de serem brasileiros e ressalta-
entidades como os orixás, inquices, caboclos e os san- rem essa característica nas suas cantigas (nelas se d i -
CANDOMBLÉ E U M B A N D A
V A G N E R GONÇALVES D A SILVA
zem da "nação brasileira") e nos nomes que carregam baseada no culto dos "mestres", entidades sobrenaturais
(de povos indígenas brasileiros como Tupi, Tupinam- que se manifestam como espíritos de índios (caboclos),
bá. Aimoré, Guarani), quando narram suas origens se de animais ou de antigos e prestigiados chefes do culto.
apresentam como habitantes de uma "aldeia mítica" A sessão do catimbó é liderada pelo mestre (o chefe
(como "Hungria" e "Visala"), não-localizável no tempo do culto), pela rainha, que o acompanha, e pelos discí-
e no espaço. Em alguns casos, seus nomes fazem refe- pulos. Os trabalhos iniciam-se com a "abertura da
rências à natureza cultuada pelos índios, como caboclo mesa", que é a defumação das pessoas reunidas ao re-
Sol, Lua Nova, Estrela, Mata Verde, Tomba-Serra, etc. dor do altar ou de uma mesa (com velas e imagens de
santos católicos), feita com a fumaça dos cachimbos.
Os caboclos, além de representarem os espíritos de
Seguem-se as rezas católicas (pai-nosso e ave-maria) e
índios que já morreram e que retomaram à terra como
as danças, que consistem basicamente em agitar o ma-
"encantados", podem ser vistos como representantes
racá para invocar os espíritos dos mestres, que vão bai-
da população mestiça, proveniente do cruzamento do
xando no corpo dos presentes conforme se canta para
branco com a índia. São antigos homens do sertão, cai-
a linha a que pertençam. Há os mestres indígenas,
piras, roceiros, com seus hábitos rurais (cf. Santos,
como Jandaraí, Xaramundi, Caboclo Tupi; os mestres
1992, p. 57). Em muitos terreiros, os caboclos são clas-
de origem africana (o que demonstra a presença do
sificados em dois tipos: os "caboclos de pena" (porque
negro no catimbó), como Pai Joaquim e Mestre Malun-
usam cocar), e os "boiadeiros", quando seu contato com
guinho; e os mestres de origem católica, como Mestre
a cultura dos brancos já descaracterizou seus hábitos
Santo Antônio. A função básica dos mestres, quando
originais da aldeia. Em vez do cocar de pena, o boiadei-
incorporados, é curar doenças, receitar remédios e
ro veste-se com chapéu de couro, e dança segurando
exorcizar com o poder de seu maracá as "coisas-feitas"
um laço com o qual imita os gestos de laçar o gado.
e os maus espíritos do corpo das pessoas.
Na pajelança da Região Amazônica, além da incor-
CATIMBÓ, PAjELANÇA E CURA poração dos espíritos de mestres humanos, outras enti-
Esses cultos se expandiram principalmente pelo norte dades descem (acredita-se que por uma corda imaginá-
do Brasil, na região que vai da Amazónia até Pernam- ria) e se manifestam no corpo dos praticantes, como o
buco, onde a influência do índio se mostrou mais inten- espírito de animais reais (jacarés, cobras, botos, cavalos-
sa. É muito difícil distinguir fronteiras nítidas entre o marinhos) ou fantásticos (mãe-do-lago, cobra grande).
catimbó, a pajelança e a cura (ou "mesa de cura"). De E através da alma do animal, encarnada no pajé, que
qualquer modo, por esses nomes, entre outros, chama- este fica sabendo as causas das doenças e seus remé-
se a religião de caráter essencialmente mágico-curativa. dios (cf. Cascudo, 1988).
CANDOMBLÉ E U M B A N D A