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11/06/2020-QUINTA-FEIRA

09h06 - https://meet.google.com/ntx-gqjz-gov?authuser=3
Teoria da dependência 09h06 - Hoje veremos a teoria da dependência, que trata-se
• Caio Prado Júnior, 1907-1990 essencialmente de uma teoria da modernização, que nada tem a
• sentido da colonização ver com desenvolvimento.
• Alberto Passos Guimarães 1908-1993
A teoria da dependência é uma formulação teórica desenvolvida
• Celso Furtado, 1920-2004
por intelectuais, que consiste em uma leitura crítica e marxista
• CEPAL
não-dogmática dos processos de reprodução do
• BNDE subdesenvolvimento na periferia do capitalismo mundial, em
• SUDENE, 1959-1964 contraposição às posições marxistas convencionais dos partidos
• Plano Trienal, 1962 comunistas e à visão estabelecida pela Comissão Econômica para a
• Karl Mannheim, 1893-1947 América Latina e o Caribe (CEPAL).
• reformas de base Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_dependência
• homogeneização social
• método histórico-estrutural Esse novo arcabouço teórico, diferentemente do primeiro, tentava
• dualismo compreender as limitações de uma forma de desenvolvimento que
• Lei 3692, 15/12/1959: cria a SUDENE se iniciou em um período histórico no qual a economia mundial já
• Vertente Marxista da dependência estava constituída sob a hegemonia de poderosos grupos
o Paul A. Baran 1909-1964 econômicos e forças imperialistas. Por esse motivo, enxergava que
o André Gunder Frank, 1929-2005 a forma de desenvolvimento implementada na América Latina só
o Ruy Mauro Marini, 1932-1997 tenderia a aprofundar cada vez mais as relações de dependência.
o Vânia Bambirra, 1940-2015 Fonte:
o Theotônio dos Santos, 1936-2018 https://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arq
• “Desenvolvimento do Subdesenvolvimento” uivos/comunicacoes/gt3/sessao4/Pedro_Duarte.pdf
• superexploração do trabalho
• Subimperialismo Um dos intelectuais que contribuíram para a elaboração da teoria
• Vertente não marxista da dependência da dependência foi Caio Prado Júnior.
o Enzo Faletto, 1935-2003
o Fernando Henrique Cardoso, 1931 -
• José Tadeu De Chiara

Caio da Silva Prado Júnior (São Paulo, 11 de fevereiro de 1907 — São Paulo, 23 de novembro de 1990) foi
um historiador, geógrafo, escritor, filósofo, político e editor brasileiro.

Formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco em 1928, onde mais tarde seria livre-
docente de Economia Política.

As suas obras inauguraram, no país, uma tradição historiográfica identificada com o marxismo, buscando
uma explicação diferenciada da sociedade colonial brasileira.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caio_Prado_Júnior

10h58 - Caio Prado Júnior (1907-1990) é um autor essencial para leitura sobre o Brasil e é oriundo de uma das famílias tradicionais
da hierarquia cafeeira. Ele aderiu ao marxismo, se filiou ao Partido Comunista (foi dissidente, na verdade). Ele estudou na FDUSP
(turma 101), onde tentou a carreira acadêmica, mas foi frustrado. Em 1954 houve um concurso da cátedra de Direito Econômico
e Economia Política (cuja cadeira Bercovici ocupa) no qual se inscreveram 7 ou 9 candidatos, sendo um deles o Caio Prado Júnior,
com uma tese sobre as diretrizes da política econômica brasileira. Na fase final do concurso, a vaga foi disputada entre ele e
outro professor, José Pinto Antunes. Quem venceu foi Pinto Antunes, justamente porque o Cario Prado era ligado ao Partido
Comunista, donde teve toda uma questão política na decisão do concurso, um dos mais famosos da FDUSP. Caio Prado não
conseguiu ser professor da FDUSP; embora fosse livre docente, nunca foi chamado para ministrar aulas (naquela época podia
fazer isso). Após a instauração da ditadura em 1964, Caio Prado e outros professores foram cassados em 1969 (principalmente
os da FFLCH-USP). Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Emília Viotti da Costa (historiadora), José Arthur Giannotti.
Sérgio Buarque de Holanda era professor da cátedra de história econômica do Brasil (em substituição a Roberto Simonsen) e se
aposentou em protesto. Disto decorreu a necessidade de abertura de concurso para preencher a vaga deixada pelo Sérgio
Buarque. Caio Prado ia prestar o concurso; todavia, a ditadura cassou o título e os direitos políticos do Caio Prado e ele foi
impedido de poder concorrer. Ele foi a única pessoa da FDUSP que foi cassada em termos acadêmicos.

Caio Prado é fundador da Editora Brasiliense, da Companhia Editora Nacional, teve uma atuação muito intensa no mundo da
cultura. Foi autor de vários livros, sendo “Evolução Política do Brasil” (1933) a primeira interpretação marxista da história do
Brasil. Entre suas principais obras estão o livro clássico “Formação do Brasil Contemporâneo” (1942), “História Econômica do
Brasil” (1945), talvez o mais conhecido, “Revolução Brasileira” (1966) e “História do desenvolvimento (1969).

Ele é reconhecido como um dos grandes intérpretes do Brasil, um dos grandes formadores da visão do Brasil. Ele escreveu
“Formação do Brasil Contemporâneo” (1942), que junto com “Casagrande e senzala” (1933) do Gilberto Freire e “Raízes do
Brasil” (1936) de Sérgio Buarque de Holanda compõem a trilogia dos livros sobre a formação do Brasil. São escritos dos anos 1930
e que vão influenciar até hoje a forma como se pensa o país. Caio Prado, obviamente, tem várias diferenças em relação a
Gilberto Freire e Sérgio Buarque, entre outros autores. O Caio Prado, ao contrário do Gilberto Freire e do Sérgio Buarque, analisa
várias questões. Sua obra tem caráter sistemático; ela pode ser reduzida a uma categoria central que é o sentido da colonização.
Nas palavras de Caio Prado “se formos à essência da nossa formação veremos que na realidade nos constituímos para fornecer
açúcar, tabaco, alguns outros gêneros. Mais tarde, ouro e diamante. Depois algodão, em seguida café para o comércio europeu.

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Nada mais que isso. E é com tal objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fosse o
interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido. A
estrutura, bem como as atividades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um negócio. Inverterá seus cabedais
e recrutará a mão de obra de que precisa, indígenas ou negros importados. Com tais elementos articulados numa organização
puramente produtora, industrial, se constituirá a colônia brasileira”, ou seja, a estrutura no Brasil é do jeito que é
especialmente porque o Brasil se constituiu como um produtor de matéria prima de produtos primários, de commodities, para o
mercado europeu e depois para o mercado internacional.

Qual é o problema do Brasil, segundo Caio Prado? O grande tema, ele vai dizer, é o esforço para desobstruir, para abrir a
passagem da colônia para a nação. Ou seja, como superar o passado colonial que nos fez no rumo do futuro nacional a ser
construído? Por essa relação entre colônia e nação, na obra do Caio Prado, ela é dialética; é marxista. Não é uma simples
oposição. O Caio Prado faz uma análise negativa do passado colonial. Mas reconhece que é nele que se forja o país. É nele que
se forja a nacionalidade.

Caio Prado utiliza as categorias marxistas e o marxismo como método. Ele explica a colônia, a grande
exploração como totalidade. A transição da colônia para nação é interpretada de forma similar à que o
Lênin fez em 1899 no livro “O desenvolvimento do capitalismo na Russia”, que é uma interpretação de Lênin
sobre a economia russa, da história econômica russa. A compreensão que Caio Prado tem de nação está
ligada à ideia de ser contra o imperialismo, anti-imperialismo. Mas a partir dos parâmetros marxistas, Caio
Prado não é mero reprodutor, pelo contrário. E esse é um dos motivos de ele ter gerado muitos debates,
muitas críticas e muitos seguidores ao mesmo tempo. A partir dos parâmetros marxistas, Caio Prado
estabelece um caminho próprio para o materialismo histórico. Ele “nacionaliza” o método. E ele mostra
algumas coisas. Por exemplo, e isso é importante, Caio Prado demonstra claramente a inexistência de
transição do feudalismo para o capitalismo no Brasil.

Isso é importante, pois, até os anos 1960, existia uma grande parte de autores, principalmente ligados ao Partido Comunista,
que diziam que havia feudalismo no Brasil! Eles seguiam os “modelinhos” de manuais feitos na época na União Soviécia que
diziam que tinha que ter a transição de todos os modos de produção; então o Brasil tinha que ter tido feudalismo para poder ter
capitalismo. O principal desses autores (até um bom autor) vai ter seus probleminhas – Alberto Passos Guimarães. Ele tem um
livro chamado “Quatro séculos de latifúndio” sobre a questão agrária da propriedade no Brasil.

Alberto Passos Guimarães (Maceió, 16 de abril de 1908 - Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 1993) foi um
ensaísta brasileiro preocupado com a justiça social.
Era autodidata (não concluiu o Curso Secundário), trabalhou em Maceió como comerciante e jornalista,
onde fez parte da cena intelectual, ao lado de Graciliano Ramos, Aurélio Buarque de Holanda, Rachel de
Queiroz e Valdemar Cavalcanti.Foi militante do PCB, trabalhou no IBGE, trabalhou no Jornal Paratodos
(dirigido por Jorge Amado e Oscar Niemeyer).
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Passos_Guimarães

Então, eles vão dizer que a grande propriedade e o latifúndio no Brasil têm características feudais; que o latifundiário, o senhor
de terras, o senhor de engenho, o coronel, são como o senhor feudal. Que a escravidão foi uma espécie de substituta da servidão
e assim por diante. Caio Prado diz que isso não existiu. É um equívoco! Para Caio Prado o que ocorreu foi uma situação colonial
que é capitalista (sempre foi) e a situação nacional, que também é capitalista, enfatizando que as condições do capitalismo no
Brasil são distintas das condições do capitalismo avançado europeu ou americano. Caio Prado destaca, talvez o ponto-chave da
discussão, que a colonização no Brasil foi uma vasta empresa comercial. É a partir do interesse mercantil, em função desse
interesse que se organiza a colônia. O elemento fundamental dessa empresa colonial é a grande unidade produtora, o latifúndio.
Tudo se subordina à grande exploração de produtos primários. A principal característica da colônia, o sentido da colonização
está voltado para fora. E é uma empresa capitalista; Portugal já era capitalista. É o mercantilismo; o início do capitalismo. Tem
nada de feudalismo. Pode até ter tido resquícios feudais em Portugal, mas a colonização do Brasil, como a da América não é
feudal! Já ocorrem sob o capitalismo.

A nação, diz Caio Prado, deve produzir para o mercado interno. Quem produzia para o mercado interno eram os homens livres,
dependentes dos grandes proprietários, que eram aqueles que produziam alimentos de maneira residual, marginal. Caio Prado
denomina esses homens livres, do setor que produz para o mercado interno, de setor inorgânico da colônia. E ele feriu a base
da nacionalidade. O setor orgânico, agricultura, mineração para exportação, não podia ser a base para a nação, pois, estavam
estruturados pela mão de obra escrava. Não se podia fazer nação alguma a partir da escravidão.

Disse Caio Prado que em 1808, com a vinda da Família Real, a nação começou a se estruturar com instituições liberais trazidas
da Europa e uma infraestrutura colonial, que era mantida, inclusive a escravidão; o que gerava uma tensão constante na história
brasileira. A formação econômica e social brasileira, para Caio Prado, se caracteriza pelo convívio entre situações características
de tempos históricos variados e contrastantes. O Brasil não teve uma via de desenvolvimento clássico do capitalismo, mas se
desenvolveu de modo irregular, espasmódico, original, com ausências de processos de rupturas de formas sociais e econômicas
básicas. Como, por exemplo, o regime da terra, que é uma herança colonial que vigora até hoje. A noção de sentido da
colonização para o autor permitiria compreender essa formação de um país que se pretende independente, mas que não rompeu
definitivamente com o passado colonial. O Brasil é um país voltado à produção para o mercado internacional, embora existam
setores nacionais voltados para o mercado interno em uma relação de complementariedade. O capitalismo brasileiro é ambíguo,
vinculado a fatores internos e externos a nossa sociedade.

Caio Prado, ainda em nossa história econômica, liga a industrialização brasileira que ocorreu a partir da Revolução de 30,
com Getúlio Vargas, ao imperialismo. Ele defende que é uma transposição de filiais, de empresas estrangeiras, de
multinacionais. Ele não dá importância para a industrialização como outros autores, tais quais Celso Furtado, dão. Ele não
percebe as mudanças que a industrialização poderia trazer para a estrutura social, como a própria ampliação da população
urbana. Mas Caio Prado enfatiza sempre a questão das permanências e continuidades da estrutura colonial em nossa economia
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e sociedade, que impedem que o país se complete como nação. E o grande exemplo que ele usa é a questão da terra, da estrutura
agrária brasileira, da questão fundiária no Brasil, que é uma legítima herança do período colonial. Caio Prado, obviamente tem
grande importância. Até hoje tem de ser lido! Quem quer ter uma noção do que se discute o que é o Brasil e o que não é, tem
que ler Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado e tem que ler o Celso Furtado.

Celso Monteiro Furtado GCSE (Pombal, 26 de julho de 1920 — Rio de Janeiro, 20 de novembro de 2004)
foi um economista brasileiro e um dos mais destacados intelectuais do país ao longo do século XX.

Suas ideias sobre o desenvolvimento econômico e o subdesenvolvimento enfatizavam o papel do Estado


na economia, com a adoção de um modelo de desenvolvimento econômico de corte pré-keynesiano.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Celso_Furtado

Celso Furtado é talvez o maior economista brasileiro. Ele foi o grande economista desenvolvimentista do Brasil; formulou uma
concepção teórica própria sobre o subdesenvolvimento. Também tem vários livros, uma obra vasta. Ele era paraibano, estudou
direito na Universidade do Brasil no Rio de Janeiro. Participou da IIGM como membro da Força Expedicionária Brasileira-FEB e
quando terminou a guerra, foi para França e fez um doutorado sobre história econômica em Paris. Ao terminar, não retornou
para o Brasil, pois, foi convidado para fazer parte da primeira equipe da CEPAL, onde ajudou a formular a teoria do
desenvolvimento da CEPAL.

Obviamente, ele estava sempre preocupado com o Brasil. Nos anos 1950, no segundo Governo Vargas, ele
estava na CEPAL e também foi chamado a participar do então Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico-BNDE (que depois virou BNDS nos anos 1980, “ganhou o ‘social’” no finzinho da ditadura, mas
foi criado como BNDE). Teve um ano em que ele foi para a Inglaterra onde publicou o livro “Formação
Econômica do Brasil” (1959), que é, há 60 anos, o principal livro de história econômica do Brasil, junto
com Caio Prado.

Bercovici recomenda vivamente: tem que ler Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado e
Celso Furtado. Tem outros como Darci Ribeiro, Raimundo Fauno (“que gosta de rato, mas tem que ler”),
mas os quatro anteriores são os principais.

Celso Furtado, ao retornar, propôs um plano de desenvolvimento regional para o nordeste (no governo JK), e se tornou em 1959
o criador e o primeiro superintendente da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste-SUDENE, 1959-1964. Para além
disso, no governo João Goulart, Celso Furtado se tornou o primeiro Ministro do Planejamento do Brasil, em 1962. Talvez tenha
sido a melhor proposta no sentido do que significa o Plano Trienal de 1962, que efefivamente nunca foi implementado no país,
por conta do golpe. Quando veio o golpe militar de 1964, Celso Furtado foi cassado (ele estava na primeira lista dos cassados) e
exilado, acusado de comunista. Foi convidado para ministrar aulas em Yale e em Columbia nos EUA e em Sorbone, na França,
onde viveu o exílio em Paris como professor de economia do desenvolvimento. Ele regressou ao Brasil nos anos 1980, foi Ministro
da Cultura entre 1986 e 1988, durante o governo Sarney, o primeiro governo da redemocratização. Depois se afastou da vida
pública, mas continuou sendo um intelectual influente até sua morte em 2004. Até hoje, Celso Furtado (aliás, seu centenário é
esse ano) é o autor brasileiro mais lido, mais citado, mais conhecido na academia internacional.

Ele tem uma teoria própria do subdesenvolvimento, na CEPAL, que ele ajudou a formular. Ele entende o subdesenvolvimento a
partir da perspectiva histórica, com muitos elementos keynesianos, mas também de marxismo “por baixo do pano”. Ele se
inspirou muito num sociólogo de origem húngara, mas de língua alemã, que é Karl Mannheim, especialmente a partir da ideia de
que o conhecimento é uma forma de informar a ação. Ou seja, o intelectual tem que dar os pressupostos para que o homem
político, ou o homem no Estado, possa agir. Ele também é defensor do planejamento democrático, o que defendeu a vida inteira.
Mannheim é talvez o principal autor que influenciou, em termos sociológicos, o Celso Furtado.

Karl Mannheim (Budapeste, 27 de março de 1893 — Londres, 9 de janeiro de 1947) foi um sociólogo judeu
nascido na Hungria.
Foi professor extraordinário de sociologia em Frankfurt a partir de 1934. Em 1935, com a ascensão do nazismo
Mannheim deixou a Alemanha para tornar-se professor da London School of Economics.
Seu pensamento assemelha-se em certos aspectos aos de Hegel e Comte: acreditava que, no futuro, o homem
iria superar o domínio que os processos históricos exercem sobre ele. Foi também muito influenciado pelo
historicismo alemão e pelo pragmatismo inglês. Max Weber e Karl Marx são os principais sociólogos com quem
Mannheim dialoga para a construção da sua teoria sociológica a partir de Ideologia e Utopia (1929).
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Mannheim

A obra de Celso Furtado tem três grandes características:


1-O Estado tem que promover o desenvolvimento, especialmente por meio do planejamento. Apenas pela coordenação estatal
seria possível internalizar o centro de decisão econômica e romper o subdesenvolvimento, promovendo emancipação econômica
nacional.
2-Toda e qualquer política monetária, cambial, tem que estar subordinada à política desenvolvimentista. A política principal é
a de superação do subdesenvolvimento; é ele que pauta as outras.
3-A preocupação constante com reformas sociais, com as chamadas reformas de base. Especialmente a reforma agrária e a
redução das desigualdades regionais. O ponto-chave do Celso Furtado sobre o qual ele escreveu bastante, é a ideia de
homogeneização social; é que o desenvolvimento só ocorre com a inclusão das massas urbanas e rurais, com a homogeneização
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social. O que não é uniformização dos padrões de vida, mas sim a satisfação adequada das necessidades de alimentação,
vestuário, moradia, acesso à educação, ao laser e à cultura para todos os cidadãos. A ideia é que todo mundo tem que ter
condições mínimas de vida garantidas.

O desenvolvimento, diz Furtado, é um fenômeno eminentemente histórico, ou seja, cada sociedade enfrenta problemas
específicos. Não há um modelo, não há “etapinhas”. Subdesenvolvimento não é uma etapa pela qual os países desenvolvidos
necessariamente passaram; é um processo histórico autônomo. Celso furtado sempre enfatiza: o subdesenvolvimento é também
um fenômeno de dominação de natureza cultural e política, não só econômica. Ele inova a literatura econômica com a ideia de
que os países subdesenvolvidos tinham estruturas econômicas distintas dos países desenvolvidos. Portanto, os problemas e
desafios para sua transformação eram distintos. Necessitavam de uma reflexão própria, de uma teoria própria. O método dele,
como vimos na CEPAL, é o método histórico-estrutural.

Celso Furtado defende que os neoclássicos não explicam; eles não levam em consideração a história. Para entender a economia
brasileira e a latinoamericana tem que historicizar e contextualizar a análise econômica. Tem que descobrir a especificidade da
economia e sociedade subdesenvolvidas. A crítica que ele sofre é o que se chama de dualismo, pois ele entendia que existia
num mesmo sistema econômico, como o brasileiro, setores atrasados e setores modernos; os setores atrasados atrapalhariam os
modernos. A crítica que foi feita foi que, na verdade, os setores atrasado e moderno não se contrapõem. Eles fazem parte da
mesma coisa; o atrasado vive do moderno e o moderno vive do atrasado. Eles são uma coisa só. Não haveria essa divisão. Eis a
crítica a Celso Furtado.

“Formação Econômica do Brasil” foi publicado em 1959. Mais que um livro de história econômica, trata-se de um método de
análise do processo de subdesenvolvimento. Furtado queria refundar racionalmente a sociedade brasileira por uma ação
consciente, deliberada, ou melhor, planejada. Ele expõe o problema político de construção da nação para além da economia,
no qual o Estado era o agente do projeto de construção nacional. A interpretação de Furtado naquele livro destaca a autonomia
do Estado brasileiro para atuar economicamente a partir da Revolução de 1930. A política deliberada a partir de 1930 foi de
expansão econômica, via mercado interno, especialmente por meio da industrialização. Ele entende que há uma ruptura na
política econômica a partir da Revolução de 1930. O destaque é uma análise, que hoje se torna clássica, da política de
preservação do setor cafeeiro para manutenção dos níveis de renda na economia, favorecendo a internalização do centro de
decisão econômica e o processo de industrialização. Essa análise dele sobre como foi salva a economia do café nos anos 1930 é
clássica. Para solucionar a crise, os interesses das classes sociais dominantes (os grandes proprietários exportadores de café),
para eles valem que o governo provisório de Getúlio Vargas queira proteger, salvaguardar os preços do café. E isso era importante
para garantir a renda nacional; era praticamente o único produto que o país tinha. Então o governo de Getúlio comprou o café
dos produtores, estocou e queimou o café. Getúlio era louco queimando dinheiro? Isso mesmo! Ele queimou o café para que seu
preço se mantivesse estável! Para não ocorrer excesso de oferta de café no mercado internacional e, consequentemente, o preço
do produto não caísse. Isso foi nos anos 1930. A essa política Furtado chamou de socialização das perdas. Alguns dizem que foi
um “keynesianismo antes do Keynes”. Bercovici acredita que é mesmo. Assim como o New Deal do Roosevelt, em que ele fazia
obras públicas de modo que trabalhadores abriam estradas durante o dia e vinha outro pessoal para destruir tudo durante a
noite! Isso para manter a renda! São formas utilizadas para manter a renda, manter a economia funcionando. Ao fazer isso, Celso
Furtado destaca que o Estado brasileiro conseguiu manter a renda do café superando as limitações da sua própria base social
para preservar as condições gerais de reprodução do sistema. E, mais do que isso, nesse processo o Estado brasileiro buscou
modificar as próprias condições dessa reprodução, abrindo caminho para a industrialização e o deslocamento do centro dinâmico
da economia. Se mantém a renda e se faz com que essa renda não vá apenas para o café; que ela também se dirigisse para a
indústria. Começa o início da mudança estrutural da economia brasileira.

O nacionalismo econômico brasileiro se caracteriza justamente pela busca de maior independência econômica. O pressuposto
disto é o controle do Estado sobre os recursos naturais para beneficiar a economia nacional. A posição do Brasil como exportador
de matérias primas, portanto, era vulnerável às oscilações do mercado internacional. Ela deixa de ser vista como vantajosa. E o
Estado brasileiro, a partir de 1930, é reestruturado para atuar na promoção das transformações estruturais julgadas necessárias
para solucionar isso. Especialmente pela diversificação da economia pela industrialização. Celso Furtado mostra isso, como o
processo é fundado em decisões políticas. O processo de transformação da economia em capitalista do Brasil teve e continua
tendo uma nítida e presente direção política. E essa política foi conhecida como desenvolvimentismo. O fato de o Estado estar
envolvido no processo de transformação econômica significa que ele também está inserido no processo de acumulação de capital.
O poder estatal assume a tarefa de criar riqueza e gerar novas capacidades produtivas. Além, obviamente, de estar diretamente
envolvido nos conflitos sobre distribuição e bem-estar. A centralidade do Estado no processo de acumulação de capital no Brasil,
mostra Furtado, é incontestável. As funções do Estado, antes limitadas à preservação do sistema econômico, atuando meramente
como regulador da produção e protegendo eventuais setores ameaçados por crises, essas funções foram constantemente
ampliadas para dinamizar e orientar a expansão e diversificação das forças produtivas, incentivando e realizando diretamente a
criação de riqueza e transformando as estruturas econômicas e sociais do país.

Obviamente, essa expansão e atuação do Estado brasileiro não é linear nem contínua. Antes, sim, é completa de contradições e
especificidades historicamente determinadas, tendo que enfrentar simultaneamente (ao contrário dos países europeus e dos
EUA) questões vinculadas à afirmação de um poder estatal soberano. Ou seja, a formação de um Estado nacional, e ao mesmo
tempo a construção de um aparato estatal apto a lidar com os desafios de um sistema econômico capitalista avançado e estava
se industrializando. Assim, o Brasil teve que enfrentar duas coisas: construir um Estado nacional e construir um Estado de
capitalismo avançado. A autonomia desse Estado, portanto, existe, mas nunca é plena ou absoluta conforme se amplia essa
capacidade intervencionista. A natureza do Estado brasileiro é heterogênea e contraditória. No sentido de que é um Estado
nacionalista, cuja estratégia de acumulação é condicionada pela sua inserção na economia internacional e depende, em muitos
aspectos, da cooperação de empresas multinacionais. Ou seja, é o Estado intervencionista que atua de forma profunda e
transformadora em vários setores, mas é limitado e insuficiente em outros. A título de exemplo, o Brasil é um Estado que
consegue construir uma base de foguetes e ao mesmo tempo não consegue desapropriar uma fazenda. Ele é limitado em coisas
que não deveria ser, mas consegue avançar em outras. Apesar dessas contradições ou por causa delas, talvez, esse Estado é
instrumento central na política do desenvolvimento.

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Segundo Furtado, os fins do desenvolvimento devem ser fixados pela própria sociedade nacional. No entanto, a vontade política
para orientar e favorecer essas transformações econômicas e sociais é indispensável para impulsionar e conduzir o processo de
desenvolvimento endógeno. Um desses objetivos é a chamada homogeneização social, com a garantia de apropriação do
excedente econômico pela maior parte da população.

Outra exigência é a chamada internalização do centro de decisão econômica. A dinamização e a integração do mercado interno
com grande ênfase no desenvolvimento tecnológico. A questão teórica central do livro “Formação Econômica do Brasil” é a
internalização do centro de decisão econômica, a constituição do mercado interno no Brasil. Eis o ponto-chave da análise que
o Celso Furtado faz. A internalização do centro de decisão econômica tem por objetivo, entre outros, reduzir a vulnerabilidade
externa do país, visando assegurar uma política nacional de desenvolvimento.

Essa vulnerabilidade externa pode ser traduzida como a baixa capacidade do Brasil em resistir à influência de fatores
desestabilizadores ou choques externos. É um conceito complementar ao de soberania econômica, pois, diz respeito diretamente
à capacidade de decisão de política econômica de forma autônoma. A expansão do mercado interno é a principal estratégia do
dinamismo econômico. O processo de desenvolvimento econômico, portanto, tem que ser liderado pelas demandas internas do
país e não apenas pelas exportações, ampliando relações comerciais e objetivando a instituição de uma sociedade industrial
avançada. A superação do subdesenvolvimento, para Furtado, significa a construção de um Estado nacional verdadeiramente
autônomo. O que implica na remoção de obstáculos internos, enfrentando classes economicamente dominantes, e externos,
rompendo com a situação de dependência. Para isso, é preciso de uma política deliberada de desenvolvimento.

Celso Furtado também se destaca pela preocupação com a questão federativa. Particularmente com a questão das desigualdades
regionais, com a diferença econômica e social entre as várias regiões do país que estavam se agravando nos anos 1950, em
virtude de o processo de industrialização ser mais concentrado no centro-sul do país. Assim, ele propôs ao governo Juscelino a
criação de um órgão de planejamento regional – a SUDENE, que trazia no projeto original de Furtado uma série de inovações,
inclusive para as relações federativas. A SUDENE foi criada pela Lei 3692, de 15/12/1959. A ideia era de unir ação técnica com
comando político. Partindo do pressuposto de que não existia plano de desenvolvimento sem política de desenvolvimento, a
SUDENE buscou apoio do poder político regional, mediante um órgão chamado de Conselho Deliberativo, vinculando o problema
do desenvolvimento também ao debate político e ao debate nacional de decisão política.

Na estrutura administrativa da SUDENE existia o superintendente, Celso Furtado, que era ligado diretamente ao Presidente da
República. Ou seja, ele tinha um cargo praticamente de ministro; não estava subordinado a ministério algum. Também havia o
Conselho Deliberativo com representantes de alguns ministérios e com representantes de estados, cujo território fazia parte da
área de atuação da SUDENE. São os estados que hoje conhecemos como o nordeste do Brasil. Quem inventou o nordeste tal como
atualmente conhecido foi a SUDENE, pois, até então a região nordeste como a conhecemos hoje não existia. Hoje, essa região
tem 9 estados: Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão. Na época, o
Maranhão, Bahia e Sergipe não faziam parte do nordeste. A SUDENE, além desses 9 estados, também incluiu depois Minas Gerais,
pois o norte de Minas Gerais também faz parte do “Polígono das Secas”. No Conselho Deliberativo, eram os governadores que
representavam seus estados. Isso significava que havia uma articulação entre entes da federação nas decisões de um órgão de
planejamento regional. Não era algo imposto de cima para baixo. A proposta original era que os planos diretores de
desenvolvimento regional fossem elaborados pela SUDENE, discutidos pelos governadores do Conselho Deliberativo e depois
enviados para discussão e aprovação do Congresso Nacional. Isso quebrava a ideia de imposição e teve importância na
reestruturação do federalismo brasileiro, em razão de ser o único órgão que envolveu efetivamente os governos federal e
estadual numa participação conjunta em projetos comuns. Era dessa participação conjunta que a proposta da SUDENE ganhava
força no Congresso Nacional para ser aprovada como lei.

Então, o Conselho Deliberativo da SUDENE foi uma engenharia muito bem montada para tentar canalizar e expressar a vontade
política regional do nordeste. O objetivo foi uma reestruturação de todo o processo de decisão regional, talvez no único órgão
efetivamente regional da história do Brasil, em que se conseguiu fazer isso por 5 anos. Foram aprovados dois planos regionais de
desenvolvimento nesse formato numa tentativa de criar uma saída inovadora e democratizante das relações federativas. A
SUDENE estava envolvida dentro de todo o processo de reformas de base, de reformas estruturais para melhorar as condições de
vida no Brasil, de inclusão social. Não por acaso, por causa de sua importância, essa experiência foi destruída com o golpe militar
de 1964, quando os governadores deixaram de ser eleitos, passando a serem indicados pelo governo militar (os “governadores
biônicos”, na verdade, são interventores). Disto decorreu que a SUDENE se esvaziou completamente, sendo completamente
destruída depois de 1964. Houve tentativas de reestruturá-la, tanto nos anos 1980, quanto nos anos 2000 no governo Lula, mas
nenhuma delas deu muito certo. Foi uma experiência que, infelizmente, foi abandonada e destruída. Mas foi uma saída distinta
que Celso Furtado deu para repensar a federação no Brasil, o que até hoje tem importância e pode ser repensado.

Para Celso Furtado, a industrialização completaria o projeto nacional. Ao contrário do que entendia Caio Prado, seria por meio
da industrialização que o Brasil conseguiria romper o círculo vicioso do subdesenvolvimento. O projeto explícito do livro
“Formação Econômica do Brasil” é um projeto de futuro. O Brasil deveria prosseguir na industrialização, deveria resolver a
questão regional, deveria fazer a reforma agrária, deveria distribuir renda. Esse projeto também vai estar presente na concepção
do Plano Trienal em 1962, ressaltando as barreiras ao desenvolvimento e indicando como superá-las. Otávio Yang, um sociólogo
já falecido da USP, dizia que o Plano Trienal foi a síntese mais completa de todas ambições da política econômica de Estado no
Brasil. Ela é a síntese do nacional desenvolvimentismo no Brasil. A intensão do Plano Trienal era completar a conversão da
economia colonial em economia nacional com a tomada dos centros de decisões essenciais ao desenvolvimento autônomo pelo
Estado brasileiro. O projeto presente em “Formação Econômica do Brasil”, em resumo, é o projeto de superação do
subdesenvolvimento, que se traduziria nas reformas de base no início dos anos 1960. Obviamente, foi o projeto derrotado no
golpe militar de 1964, que não foi retomado depois.

Além de Caio Prado e Celso Furtado, Bercovici considerou interessante trazer também considerações sobre as famosas teorias
da dependência, que são derivadas de debates sobre desenvolvimento. Foram muito fortes na América Latina e ainda tem gente
que estuda e trata disso. Elas têm duas vertentes, duas linhas: uma vertente marxista e uma vertente não marxista.

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Começando pela vertente marxista, que talvez seja a mais original delas. A origem da teoria da dependência, na versão marxista,
tem várias fontes. Para começar, as teorias do imperialismo de Hobson, Lênin, Rosa Luxemburgo e Hilferding, também se
inspiraram num trabalho de um economista russo radicado nos EUA: Paul A. Baran. Ele falava sobre apropriação do excedente
nas economias socialistas e do processo de desenvolvimento do capitalismo. Baran tem vários estudos importantes sobre a
formação do capitalismo e sobre economia do desenvolvimento. Ele também é uma das fontes.

Paul Alexander Baran (Mykolaiv, Ucrânia, 25 de agosto de 1909 – Palo Alto, Califórnia, EUA, 26 de março de
1964) foi um economista americano marxista.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_A._Baran

Também estavam nesse debate que aconteceu nos anos 1960 sobre feudalismo e capitalismo, da formação econômica da América
Latina. Nossos vizinhos da América Hispânica, em países como México, Argentina, Venezuela, Chile e assim por diante, também
tiveram debates similares. Os autores principais dessa vertente marxista da dependência são:
o Paul A. Baran (1909-1964)
o André Gunder Frank (1929-2005)
o Ruy Mauro Marini (1932-1997)
o Vânia Bambirra (1940-2015)
o Theotônio dos Santos (1936-2018)

Gunder Frank foi um alemão que depois radicou-se nos EUA. Circulou pelo mundo, esteve no Brasil na Universidade de Brasília-
UnB, esteve no Chile, África, Ásia.

Andreas (André) Gunder Frank (Berlim, 24 de fevereiro de 1929 - Luxemburgo, 23 de abril de 2005) foi um
economista e sociólogo alemão. Nos anos 1960, foi um dos criadores da Teoria da Dependência - com Theotônio
dos Santos, Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, e outros - cuja formulação, próxima à da "teoria do
desenvolvimento desigual e combinado" de Leon Trotsky, auxiliou o combate às formulações hegemônicas dos
partidos comunistas.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/André_Gunder_Frank

Também merecem destaque os brasileiros: Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra e Theotônio dos Santos. Todos eles são pouco lidos
no Brasil. Em compensação na América Hispânica, até hoje, são bastante lidos. Isso se deve ao fato de que tiveram carreira
acadêmica em que suas publicações foram efetuadas no exílio, no México principalmente. Foram para o Chile, depois para o
México por conta da ditadura militar. Todos eles começaram na UnB, ficaram exilados por muitos anos e quando voltaram ao
país, não conseguiram se reposicionar totalmente na academia brasileira (“Conhecemos nossa gloriosa universidade, sempre
problemática”). Eles acabaram sendo escanteados, embora sejam os autores brasileiros mais lidos no exterior também. É um
paradoxo: são conhecidos lá fora e desconhecidos aqui dentro (“santo de casa não faz milagre”).

Ruy Mauro Marini (Barbacena, 1932 - Rio de Janeiro, 1997) foi um cientista social brasileiro. Conhecido
internacionalmente como um dos elaboradores da Teoria da Dependência. Embora extremamente conhecido
nos países latino-americanos de língua espanhola sua obra é pouco conhecida no Brasil.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ruy_Mauro_Marini

Vânia Bambirra (Belo Horizonte, 1940 - Rio de Janeiro, 2015) foi uma cientista política e economista brasileira.
Graduada em 1962 pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
mestre pela Universidade de Brasília (UnB) e doutora em Economia pela Universidade Nacional Autônoma do
México (UNAM), é mais conhecida na América de língua espanhola do que no próprio Brasil, onde tem apenas
dois livros publicados.
Ao lado de intelectuais, como Ruy Mauro Marini, André Gunder Frank e Theotônio dos Santos, formulou a
Teoria da Dependência, uma interpretação crítica, marxista não-dogmática, dos processos de reprodução do
subdesenvolvimento na periferia do capitalismo.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vânia_Bambirra

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Theotônio dos Santos Júnior (Carangola, 11 de novembro de 1936 - Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2018)
foi um economista brasileiro. Está entre os formuladores da teoria da dependência e um dos principais
expoentes da teoria do sistema-mundo.
Bacharel em sociologia e política pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre em Ciência Política pela
Universidade de Brasília, obteve a titulação de notório saber (equivalente ao grau de doutor) em economia,
concedida pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal Fluminense, da qual era
professor emérito. Foi também coordenador da Cátedra UNESCO em Economia Global e Desenvolvimento
Sustentável e da Universidade das Nações Unidas (UNU) sobre economia global e desenvolvimento sustentável
(a REGGEN).

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Theotônio_dos_Santos

O que se pode chamar de essencial na teoria marxista da dependência? Eles criticam três conceitos simultaneamente, que
estavam em voga na época:
1-O mito do feudalismo na agricultura: não há; eles concordam com Caio Prado;
2-Obstáculos externos do desenvolvimento;
3-O dualismo estruturalista da CEPAL: a ideia de que existe um setor atrasado e um setor moderno nas economias.

A questão do capitalismo x feudalismo já vimos com Caio Prado. Não há feudalismo algum na exploração do continente
americano. A empresa colonial é capitalista; está nos marcos do capitalismo, no processo de acumulação capitalista.

Em relação à questão dos obstáculos externos, o que a teoria da dependência vai reforçar é que as relações entre os países
desenvolvidos e os subdesenvolvidos está muito ligada à apropriação do excedente por parte das elites dos países
subdesenvolvidos. Ou seja, o imperialismo não é propriamente um fenômeno externo. Ele existe internamente, porque as
elites estão ligadas aos interesses imperialistas, vamos dizer assim. A apropriação feita por elas faz parte inclusive da estrutura
do subdesenvolvimento dos países latinoamericanos. Gunder Frank desenvolveu, e os demais também adotaram, a expressão que
ficou famosa que é o “desenvolvimento do subdesenvolvimento”. Gunder Frank defende que na América Latina, o
desenvolvimento capitalista efetivamente ocorre, mas sob a forma do subdesenvolvimento. Essa fórmula desenvolvimento e
subdesenvolvimento capta essa dinâmica. Ou seja, a industrialização na América Latina, ao contrário do que dizia Celso Furtado,
a CEPAL, ela seria possível, ela ocorreria, mas da forma que fosse necessária ao centro do capitalismo; ela seria complementar
à industrialização do centro do capitalismo. Ela reforçaria o subdesenvolvimento; não ajudaria a superá-lo. Antes, estaria
vinculada ao desenvolvimento do próprio capitalismo. Ou seja, o subdesenvolvimento se desenvolve nesse sentido. É uma
condição interessante.

Ruy Mauro Marini defendeu e depois os demais adotaram também alguns conceitos básicos. Para ele o capitalismo é um modo
de produção mundial em que se articulam informações sociais que isoladamente não representam mais que formas particulares
da sua lógica global. Tal visão rompe com o enfoque eurocêntrico que postulava que a Europa e os EUA eram a essência do
capitalismo, enquanto a América Latina e regiões de periferia seriam as economias do atraso, marcadas por formas pré-
capitalistas ou insuficientemente capitalistas de organização econômica, política e social. O capitalismo é mundial. Cada
economia é uma forma particular de capitalismo. Então o capitalismo se constitui numa economia mundial que institui uma
divisão internacional do trabalho monopolista, hierarquizada, competitiva, baseada em formas distintas e complementares de
especialização produtiva e de gigantescas transferências de excedente e de mais valia das periferias para os centros.

Então a teoria marxista da dependência tenta mostrar o lugar da América Latina no sistema mundial capitalista. Como ela se
estrutura. Para mais que uma teoria do capitalismo na periferia, ela ambiciona em se constituir num ponto de partida para
reinterpretação do capitalismo global, mostrando as interconexões entre as distintas formações sociais que se articulam no
capitalismo de uma maneira geral.

Um conceito-chave que o Marini usa para explicar a dependência, e que todo mundo vai usar depois, é o de “superexploração
do trabalho”. Diz Marini que a superexploração do trabalho é uma consequência da forma como o capitalismo se estrutura na
periferia e na América Latina. Dessa maneira, ocorrem dois tipos de transferência de valor fundadas, em última instância, no
monopólio tecnológico. Existe uma transferência de valor da economia local para a economia mundial e existe uma transferência
de valor da pequena e média burguesia para os segmentos monopolistas internos, constituídos pela burguesia nacional que se
associa por meio da dependência, tecnológica, comercial e financeira ao capital estrangeiro. Tais transferências teriam mais
dinâmica que a própria geração local de mais valor e produziriam economias mundiais cada vez mais assimétricas e teriam como
consequência a apropriação de parte do valor da força do trabalho pelo capital como forma de compensação. Essa apropriação
se daria com a queda dos preços da força de trabalho abaixo do seu valor e se efetivaria sob a forma combinada ou isolada de
redução salarial, aumento de intensidade de jornada de trabalho, aumento da qualificação da força de trabalho, sem pagamento
proporcional ao trabalhador. Ou seja, na periferia a mão de obra é mais explorada que no centro. Daí a superexploração. Ela
não recebe o mesmo salário equivalente. Diz Marini (“e aí está o pulo do gato”): a superexploração do trabalho limita a expansão
do mercado interno. Quando se tem a redução do valor da força de trabalho, na verdade as pessoas não conseguem adquirir
produtos. Ou seja, a produção é voltada, na sua imensa maioria, para competir fora, com preços mais baratos. Assim, os amplos
níveis de desigualdade, pobreza, fragilidade do sistema de educação, falta de qualificação, falta de ciência e de tecnologia,
instabilidade democrática, os golpes de Estado, são partes constitutivas da América Latina. Não são uma excepcionalidade. A
excepcionalidade está nos quesitos de inclusão, de ampliação do mercado interno, de fortalecimento democrático, de afirmação
da soberania popular. Isso é exceção! A regra é a exploração. É assim que funciona o sistema baseado na superexploração da
mão de obra e, portanto, da baixa renda. A título de exemplo: qual a razão da China atravessar dois oceanos para comprar ferro
no Brasil e não comprar da Austrália que está do lado dela? No Brasil é mais barato. Mas como, se o preço do ferro, na média, é
fixado internacionalmente? É que a mão de obra é mais barata! Simples assim. E é muito mais barata. A Austrália é um welfare
state, bem ou mal; tem uma série de garantias aos trabalhadores que não tem no Brasil. Por isso as coisas daqui são mais baratas,
por isso somos competitivos.

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Marini diz de outra categoria de exploração do trabalho, que também é importante. Com o desenvolvimento do capitalismo,
obviamente há uma integração tecnológica que tende a se chocar com a restrição do mercado interno. Então, começa a haver
uma ênfase em dados setores privilegiados de renda, do consumo suntuário das classes mais altas, de compras estatais, de
importação de produtos necessários. Para Marini, isso criaria, em alguns lugares, a possibilidade de haver um subimperialismo.
Ou seja, países em que a burguesia nacional tivesse um diferencial em relação a seus vizinhos, que pudessem ganhar mercados
regionais sem nenhum competidor externo importante para os quais se pode orientar produção manufatureira e obter fonte de
matéria prima e suprimento estratégico.

O subimperialismo se daria, obviamente, no meio de uma política antagônica entre países dependentes imperialistas. Mas estaria
ao alcance apenas de alguns países dependentes, que aí disputariam a primazia com alinhamento único a potência hegemônica.
Ou seja, dependendo do país, ele consegue se sobressair e impor uma dominação sobre seus vizinhos. O Brasil é exemplo típico.
O Brasil com nossa vizinhança; a África do Sul, a Índia, o Egito, a Turquia, são países que exercem influência regional econômica.
Há país que “deu azar” de ser dominado não apenas pela potência hegemônica, não só pelos EUA, mas têm outros imperialismos
em jogo (“o coitado do Paraguai tem que aguentar ainda o subimperialismo de quinta do Brasil; ou a Bolívia, o Uruguai; a gente
reclama da nossa situação, mas tem gente que está pior”).

Para a teoria marxista da dependência, a única maneira de superar o subdesenvolvimento é a revolução socialista; é mudar
totalmente o modo de produção. Eles eram revolucionários nesse ponto, por isso ligados ao marxismo que defende a saída
revolucionária.

Tem outra vertente da teoria da dependência, que é a chama teoria não marxista da dependência. Essa vertente não marxista
tem dois grandes autores:
o Enzo Faletto (1935-2003)
o Fernando Henrique Cardoso (FHC) (1931 - )

Ambos publicaram conjuntamente um livro de 1966 – “Dependência e subdesenvolvimento na América Latina”, que se contrapõe
à teoria marxista da dependência. Eles defendem uma teoria mais sociológica, até porque eles são sociólogos e não economistas.
Eles dizem que a dependência é uma forma de vinculação do sistema econômico ao sistema político, tanto interna quanto
externamente. FHC era sociólogo, discípulo de Florestan Fernandes, quando ocorreu o golpe militar foi para o Chile, na CEPAL,
depois foi para a França. Quando retornou ao país, virou catedrático na USP e foi cassado em 1969 pela ditadura. Ele se ligou
ao partido político MDB e prosseguiu com sua carreira política a partir do final dos anos 1970; foi senador, ministro e depois
Presidente da República. Foi ele quem implantou o neoliberalismo no Brasil. Na época em que FHC foi presidente, o jornal Folha
de São Paulo o entrevistou sobre a teoria da dependência e há boatos de que ele teria dito “esqueçam o que eu escrevi”.
Bercovici desmente: FHC jamais disse isso; pelo contrário! A teoria da dependência de FHC diz que o que a CEPAL queria, e o
Celso Furtado também, era romper com o sistema. Superar o subdesenvolvimento, em última análise, é romper com o sistema.
É preciso de uma série de transformações estruturais radicais e embora não seja propriamente revolucionária como a teoria da
dependência marxista, tem que mudar de posição, um rompimento. FHC entende que isso não dava para fazer (“veio o golpe de
64 e já era”). Então ele defende que, em compensação, a integração com o mercado internacional é permitir a possibilidade de
um desenvolvimento dependente e associado, que seria característico das relações entre países com graus e modelos distintos
de industrialização. Ou seja, não existiria a dicotomia industrialização e dependência. Você pode ser industrializado e ser
dependente; depende do grau da inserção da sua indústria no mercado internacional. Então, se pode ter um desenvolvimento
dependente associado. Isso quer dizer o seguinte: “olha, uma parte aqui vai se dar bem”, vai estar associada ao mercado
internacional, vai ser moderna, vai ser avançada, o resto, quem sabe um dia. E foi exatamente isso que FHC fez em todo o seu
governo; ele não mentiu, pelo contrário, foi extremamente leal a sua tese da dependência.

O economista Paulo Nogueira Batista Júnior faz uma piada falando: “se alguém, algum dia, quiser escrever a biografia do FHC já
tem um nome – ‘Manual da dependência: da teoria à prática’”. Afinal, foi isso que ele fez. Incentivou setores que tinham uma
vinculação maior com a economia internacional e o “resto é o resto”. Há entrevistas em que ele dizia que, com a globalização,
vinte milhões de brasileiros iriam se integrar e o resto “quem sabe um dia”. Ele tinha uns rompantes de sinceridade, que depois
geravam crises políticas, mas, enfim, fez isso mesmo. A política que ele seguiu foi a teoria da dependência não marxista, que
é uma teoria da modernização; não é uma teoria do desenvolvimento. Não rompe com coisa alguma, não tem transformação
estrutural, não melhora condição de vida, simplesmente mantém a estrutura vinculada a uma ou várias potências hegemônicas.
Não por acaso, foi FHC quem enraizou o neoliberalismo no Brasil, a partir dos anos 1990.

Enzo Faletto (Santiago, Chile, 14 de julho de 1935 - Santiago, Chile, 22 de junho de 2003) foi um sociólogo e
historiador chileno. Faletto é um dos formuladores da Teoria da Dependência. Sua obra mais conhecida é
Dependencia y desarrollo en América Latina; ensayo de interpretación sociológica, escrita juntamente com
Fernando Henrique Cardoso. O livro foi publicado inicialmente no México (Siglo XXI, 1969) e depois no Brasil
(Rio de Janeiro: Zahar, 1970). É também autor de Génesis Histórica del Proceso Político Chileno (1971) e El
Liberalismo (1977). Professor titular da Universidad de Chile, obteve sua Licenciatura em História na
Faculdade de Filosofia e, mais tarde, o Mestrado em Sociologia na Facultad Latinoamericana de Ciências
Sociales (FLACSO). Entre 1967 e 1972 deu aulas a estudantes de sociologia e jornalismo da Universidade do
Chile. A partir de 1973 atuou na CEPAL, como consultor, mantendo entretanto seu vínculo com a FLACSO. Em
1990, regressou à docência na Universidade do Chile, especificamente no Departamento de Sociologia, função
na qual permaneceu até o fim de sua vida.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Enzo_Faletto

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Fernando Henrique Cardoso (FHC) (Rio de Janeiro, 18 de junho de 1931), é um sociólogo, cientista político,
professor universitário, escritor e político brasileiro. Foi o 34.º presidente da República Federativa do Brasil
entre 1995 e 2003. FHC graduou-se em Sociologia pela Universidade de São Paulo-USP e mais tarde tornou-se
professor emérito na USP. Foi perseguido depois do golpe militar de 1964, exilando-se no Chile e na França,
voltando ao Brasil em 1968. Lecionou em universidades estrangeiras e desenvolveu uma importante carreira
acadêmica, tendo produzido diversos estudos sociais premiados.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Henrique_Cardoso

Sobre FHC ter acabado com a inflação – conforme Bercovici, ele o fez a um preço muito alto; destruiu as finanças públicas com
juros altos; destruiu a indústria com o câmbio alto e teve uma série de consequências. Foi pensada apenas a questão da moeda
e não se pensou no resto (“talvez acharam que o resto não tinha importância”). O Plano Real é o marco da desindustrialização
no Brasil. Dava para “comprar iogurte a um real”. Ciro Gomes, por exemplo, defende que o Plano Real foi incompleto; que as
reformas fiscais que precisavam ser feitas não o foram, pois o custo político era alto, donde optou-se por não fazer e “surfar na
popularidade de ter acabado com a inflação”. Tem todo um debate a respeito. Bercovici recomenda para quem desejar saber
mais sobre o Plano Real a consulta a um dos professores do seu departamento: Prof. José Tadeu de Chiara. Ele trabalhou no
Plano Real, na parte jurídica. Ele conhece exatamente quais são os problemas do Plano Real.

Prof. Dr. José Tadeu de Chiara, possui graduação em Direito pela Universidade de São Paulo (1975) e
doutorado em Direito pela Universidade de São Paulo (1987). Atualmente é professor doutor da Universidade
de São Paulo. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Econômico e Financeiro, atuando
principalmente nos seguintes temas: direito econômico, intervenção do estado na economia, juros, câmbio
e direito comercial.

Fonte: http://lattes.cnpq.br/8520810505682862

10h22 – Fim. Semana que vem: Neoliberalismo (nossa penúltima aula do curso).[01:18:00]

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