Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
D. João V
D. João V representa o poder real que, de forma absoluta, condena uma nação a servir a sua
religiosidade fanática e a sua vaidade.
Cumpridor dos seus deveres de marido e de rei, D. João V assume apenas o papel gerativo de
um filho e de um convento, numa dimensão procriadora, da qual a intimidade e o amor se encon-
5 tram ausentes.
Amante dos prazeres humanos, a figura real é construída através do olhar crítico do narra-
dor, de forma multifacetada: é o devoto fanático que submete um país inteiro ao cumprimento de
uma promessa pessoal (a construção do convento, de modo a garantir a sucessão) e que assiste
aos autos de fé; é o marido que não evidencia qualquer sentimento amoroso pela rainha, apre-
10 sentando nesta relação uma faceta quase animalesca, enfatizada pela utilização de vocábulos
que remetem para esta ideia (como a forma verbal “emprenhou” e o adjetivo “cobridor”); é o
megalómano que desvia as riquezas nacionais para manter uma corte dominada pelo luxo, pela
corrupção e pelo excesso; é o rei vaidoso que se equipara a Deus nas suas relações com as reli-
giosas; é o curioso que se interessa pelas invenções do padre Bartolomeu de Gusmão; é o esteta
15 que convida Domenico Scarlatti a permanecer em Portugal; é o homem que teme a morte e que
antecipa a sua imortalidade, através da sagração do convento no dia do seu quadragésimo pri-
meiro aniversário.
Baltasar Sete-Sóis
Baltasar Mateus é um dos membros do casal protagonista da narrativa.
30 Representa a crítica do narrador à desumanidade da guerra, uma vez que participa na Guerra
da Sucessão (1704-1712) e, depois de perder a mão esquerda, é excluído do exército.
OEXP12 DP © Porto Editora
Blimunda Sete-Luas
Blimunda é o segundo membro do casal protagonista da narrativa.
Mulher sensual e inteligente, Blimunda vive sem subterfúgios, sem regras que a condicio-
Domenico Scarlatti
Scarlatti representa a arte que, aliada ao sonho, permite a cura de Blimunda e possibilita a
conclusão do voo da passarola.
Povo
O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo trabalhador. Espoliado, rude, vio-
lento, o povo atravessa toda a narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas por
60 Baltasar e Blimunda, tipificam a massa coletiva e anónima que construiu, de facto, o convento.
A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a que foram sujeitos quarenta
mil portugueses, para alimentar o sonho de um rei megalómano ao qual se atribui a edificação
do Convento de Mafra.
A necessidade de individualizar personagens que representam a força motriz que erigiu o
65 palácio-convento, sob um regime opressivo, é a verdadeira elegia de Saramago para todos aque-
les que, embora ficcionais, traduzem a essência de ser português.
Clero
A crítica subjacente a todo o discurso narrativo enfatiza a hipocrisia e a violência dos repre-
sentantes do espiritualismo convencional, da religiosidade vazia, baseada em rituais que, ao
invés de elevarem o espírito, originam o desregramento, a corrupção e a degradação moral (é
70 relevante, neste contexto, o papel da Inquisição).
fotocopiável