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10/6/2019 A poética das imagens e do tempo do cineasta Carlos Adriano - 08/04/2016 - Ilustríssima - Folha de S.

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08/04/2016 13h05
discrição esperada do Ju
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RESUMO O texto analisa o curta-metragem "Sem PUBLICIDADE


Lattes, o brasileiro que d
Título # 3: E para que Poetas em Tempo de Nobel e nomeou base de
Pobreza?" (2016), do diretor paulistano Carlos HISTÓRIA
Adriano. A obra é parte da sua série "Apontamentos
Conheça o 'Schindler po
para uma Auto Cine Biografia (em Regresso)". O
ajudou 10 mil judeus a f
filme, que integra a mostra competitiva do festival É
Tudo Verdade - 21º Festival Internacional de CIÊNCIAS SOCIAIS

Documentários, será exibido neste sábado (9) e na Movimentos negros repe


quarta (13) em São Paulo. No Rio, tem exibições no do racismo científico, di
domingo (10) e na quinta (14). Veja a programação.
recomendações d

"Sem Título # 3", filme de Carlos Adriano, pergunta: "E para que poetas em
tempo de pobreza?". Reflexão encantatória sobre a dívida e a transmissão da
poesia e do cinema, em sua consanguinidade espiritual, sua sobrevida na
modernidade, o tempo de despoetização do mundo. Por isso, a fita começa
com uma dedicatória: "Para Bernardo, poeta da programação de filmes e
arquivos, programador-poeta de cinemateca, que em 2016 faria 70 anos".

Neste filme, biografia e autobiografia, memórias e filmes encontram no


cinema a reconciliação. Construído com erudição cinematográfica e literária,
histórica e conceitual, a phylia reúne Cocteau e Pasolini, Ungaretti e Buñuel,
JORNALISMO
Cendrars e Joyce, Pound, Lorca e Lang, enfrentando a finitude de tudo que é
temporal, no sentido inverso ao do desaparecimento. Como funciona a engren
notícias falsas no Brasil
Carlos Adriano reavê a metafísica da saudade de Hölderlin, reconsiderada por INTERNACIONAL
Heidegger, revisitada por ele, no milagre da multiplicação de imagens Trump, os nerds do 4cha
poéticas e declamação lírica, pois cada amor contém todos os amores, cada direita dos Estados Unid
filme, todos os filmes, cada livro, todos os livros. "Todo o mundo é feito para
MÚSICA
culminar em um belo livro", ou em um belo filme, poderiam dizer Mallarmé e
o narrador-cineasta. Em entrevistas, Caetano
relembram o início da tr
Nesta fita, o passado não suscita a potência de meditação sobre as ruínas do Há 50 anos, tropicália chegava pa
tempo ou lamentos pelos desvarios das guerras, civis ou entre Estados, CIÊNCIA
quando se vêem cenas de populações inteiras de foragidos, em exílio forçado, Computador quântico es
atravessando fronts e fronteiras rumo ao desconhecido. Mais que tudo, para e vai levar tecnologia a u
Carlos Adriano, todas as guerras são contra a cultura, quando deveriam lutar
FILOSOFIA
contra a própria incultura. Eis por que Carlos Adriano extrai do político o
estético, e não o contrário, a fim de interrogar o devir e seus espectros. Os africanos que propus
iluministas antes de Loc
Porque a tragédia grega está definitivamente extinta, os poetas, errantes
agora, seguem na "noite sagrada". Como em Cocteau: "A inspiração poética revolução russa
não vem do céu, ela deveria chamar-se expiração, é algo que sai de nossas
profundezas, de nossa noite, e o poeta tenta colocar sua noite na mesa, a
'noite escura da alma'". A "noite escura da alma" de San Juan de la Cruz está
em Cocteau e em todo poeta, sinônimo de desamparo, ausência, mortificação,
obscuridade, privação, pobreza, carência, solidão e vazio.

Bíblica ou teogônica, a noite é caos originário: " No começo as trevas cobriam


o abismo". Mas ela é também a noite constelada de poetas,COMPARTILHE
sonhadores e
ESTE LINK
astrólogos. E noite dos místicos, a dos " espaços infinitos" de Pascal e
sobretudo a de Orfeu que, na noite dos ínferos que julgam os mortos, chamou TV FOLHA
por Eurídice. No horizonte do impossível luto, Carlos AdrianoCompartilhar
reinventa o 0
Documentário fictício
como seria se Stálin proi
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lirismo órfico que desperta os mortos: "O que amas de verdade é tua herança Especial traz vídeos sobre os 100

verdadeira / o que amas de verdade não te será arrancado", diz-se no filme.


*Legal
ESCONDE-ESCONDE

À maneira dos situacionistas e de Debord, não se trata nesta fita de citações


de filmes e de versos, mas de "détournements", de desvios, deslocamentos, DE: BRASÍLIA (BSB) DE:
PARA: CURITIBA (CWB) PARA
desfigurações e refigurações, entre o luto e o lúdico, em um jogo sutil entre
um primeiro grau lírico e um segundo irônico. Escondido em meio a citações,
Carlos Adriano brinca de esconde-esconde com o espectador. Não por acaso,
TRECHO A PARTIR DE

R$ 280,57 R
vê-se Pasolini, ator de um de seus próprios filmes, com um chapéu
parodiando uma auréola de santo no tempo de que "os deuses já partiram" ou COMPRE JÁ
ao qual "ainda não chegaram". CONFIRA CONDIÇÕES C
NO SITE VOEGOL.COM.BR NO

O autor dentro do ator, o filme dentro do filme –como "Santos Dumont" é


filme e personagem de Carlos Adriano– são ficções heurísticas que inscrevem
envie sua notícia
o cinema em uma continuidade temporal, súmula e soma de filiações e
fidelidades, a cada vez única e singular em sua repetição, escapando da ilusão Fotos Vídeos R
de um recomeço absoluto. Assim, o filme de Rohmer sobre Mallarmé,
simultaneamente Rohmer e Mallarmé, o cineasta como o duplo do poeta,
como o são Buñuel, Pasolini, Lang, Lorca, entre outros. Carlos Adriano
compreende a "origem" como rastro de outro rastro. Em uma modernidade
em crise antigenealógica, que dissipa pertencimentos e tradições, mas que,
simultaneamente busca por identidades, Carlos Adriano, à contraluz, dá a siga a folha
conhecer que o habitar moderno, não sendo experiência da memória, é
pobreza da memória.
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Na fita de Carlos Adriano, não se trata de lembranças –que evocam o que Bgegrc qcs ck _gj,,,
passou e terminou–, mas de reminiscências, de vestígios que permanecem
vivos e atuantes, vencendo a barreira do tempo, tempo que é passagem e
caminho sem volta, mas também transcriação poética: "Espero estar distante
de você, em estado de fantasma", ouve-se de Cocteau.

Por isso, a fita se faz com imagens de trêmulas folhagens que se transformam
em pássaros, anjos e voo ascensional, manifestando a leveza e a "charis":
"Para compreender meus versos é preciso dizê-los com simplicidade". Em EM ILUSTRÍSSIM
uma modernidade saturada de imagens, o poeta e o cinema só poderiam
mesmo "estar em greve contra a sociedade", nas palavras de Mallarmé. + LIDAS + COMENTADAS + ENV

Leia três poemas inéd


Apresentando-se em preto e branco, em cores ou em negativo, a fita se 1
constrói no registro do fantasma e dos espectros, na transitividade entre o já
sido e o agora, figurações retóricas das transmigrações do tempo: "Um filme Quem é o tradutor que
ressuscita atos mortos e mostra além disso, com o rigor do realismo, [...] os 2 Nietzsche para um po

fantasmas da irrealidade". A irrealidade é um dos aspectos da realidade,


sempre assombrada por memórias de uma aparição. Elas são, para Pasolini, Aprendi com Yara de N
"nostalgia da vida, júbilo, sentimento de exclusão que não retira o amor à 3 minha liberdade, diz D

vida, mas o engrandece".


Lava Jato cobra conta
RUPTURAS 4 deve, diz pesquisador

"Sem Título # 3" é o título que se nega a si mesmo, o terceiro de uma série não
Diálogo da literatura c
causal, feita das rupturas do tempo. Nele, tudo se passa como se o filme
COMPARTILHE ESTEnão
LINK
5 altera percepção de le
fosse feito por ninguém, ou por todos e para todos, aleatoriamente: "todo
pensamento", ouve-se, "é um jogo de dados", em equilíbrio à beira do
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precipício, como nas imagens da paisagem íngreme com suas silhuetas
distantes e fantasmais. "Destemido é o poeta que permanece só com Deus. A
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10/6/2019 A poética das imagens e do tempo do cineasta Carlos Adriano - 08/04/2016 - Ilustríssima - Folha de S.Paulo

inocência protege e assim ele dispensa armas e astúcias, até que a ausência de
Deus seja o que ajuda."

Cultivados no jardim do amor reencontrado, os planos vivos das rosas rubras,


Larissa M
justapostos às imagens de Lorca e do tributo à Comuna de Paris, afirmam o Tour (DV
sentido de uma nova vida para o cineasta-poeta. Assim como os planos Larissa Ma
misteriosos do "caminhante" refletido na orla do mar apontam para uma
história inaugurada no presente do agora. Constelações projetadas, de Comp

bibliotecas e filmotecas.

O filme de Carlos Adriano não é uma busca do tempo perdido, porque não
tenta retê-lo. Ao contrário, o cineasta joga-se inteiramente na passagem do Ainda So
tempo porque "tudo que almeja permanecer sagrado se envolve de mistério". Jojo Moye
Por isso, "os poetas são servidores de uma força desconhecida que os habita".
Comp
O cinema de Carlos Adriano respeita esse enigma.
OLGÁRIA MATOS é professora titular dos departamentos de filosofia da USP e da Unifesp. É autora de
"Os Arcanos do Inteiramente Outro: a Escola de Frankfurt, a Melancolia, a Revolução" (Brasiliense) e "O
Iluminismo Visionário: Walter Benjamin, leitor de Descartes e Kant" (Brasiliense), entre outros.
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