Você está na página 1de 21

EXMO SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA DO SISTEMA DOS


JUIZADOS ESPECIAIS DA COMARCA DE SANTO ESTEVÃO - BAHIA.

Processo nº 0000727-35.2020.8.05.0230

COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA -


COELBA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ 15.139.629/0001-94,
com sede na Av. Edgard Santos, n. 300, Bloco A, Salvador/BA, por seus
procuradores ao final assinados, com endereço na Avenida Antônio Carlos
Magalhães, n. º 2573, sala 405, Edifício Royal Trade, Parque Bela Vista, Salvador –
BA , CEP 40280-000, e e-mail profissional (publicacao@abbehusenmoreira.adv.br)
para os efeitos de que trata o inciso V do art. 77 da Lei 13.105/2015, devidamente
constituído mediante instrumento de procuração em anexo, vem, perante Vossa
Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO ao processo movido por JOAO PEDRO
SANTANA OLIVEIRA JUNIOR, já qualificada, conforme razões que passa a
expor para, ao final, requerer.

1. REQUERIMENTO INICIAL
Requer que toda e qualquer intimação referente aos autos seja feita única e
exclusivamente para a pessoa do Bel. Paulo Abbehusen Junior. OAB/BA 28.568,
constante instrumento de mandato em anexo, nos termos do art. 272, §2º e §5º, do
Novo Código de Processo Civil, para que surtam os seus efeitos jurídicos e legais,
sob pena de nulidade.
Pleiteia, assim, que todas a intimações sejam dirigidas únicas e exclusivamente
para o referido profissional, lançando-se o nome do mesmo na capa do processo.

2. RESUMO DOS FATOS

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
Aduz a parte autora que solicitou ligação de energia para sua residência, porém
não foi atendida.
Assim, aduz que sofreu danos das mais diversas ordens.
Pelo exposto acima, Requer a parte Autora, liminarmente, a ligação do
fornecimento de energia na sua unidade consumidora No mérito, requer condenação
da Ré ao pagamento de indenização pelos danos morais supostamente
experimentados.
Atribuiu a causa o valor de R$ 41.560,00.
No curso da presente ação, iremos demonstrar as razões pelas quais não se
deve dar provimento à demanda.

3. DA PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DOS JUIZADOS EM FACE


DA NECESSIDADE DE PROVA PERICIAL.
Consoante a Lei n. 9.099/95, cabe aos Juizados Especiais unicamente a
apreciação e julgamento de questões de menor complexidade, assim entendidas
aquelas que prescindem de dilação probatória mais apurada para fins de instrução
processual1.
Nesse sentido, o Fórum Permanente dos Juízes Coordenadores dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do Brasil, através de seu enunciado 54, já pacificou o
entendimento no sentido de que:
“A menor complexidade da causa, para a fixação da
competência, é aferida pelo objeto da prova e não em face do
direito material”.
Os Tribunais pátrios têm acolhido a preliminar de extinção em razão da
complexidade da causa, conforme julgado a seguir:

É em relação à prova a ser produzida, e não ao direito material controvertido, que deve ser
apurada a existência ou não de menor ou maior complexidade.

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
“RECURSO INOMINADO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO
DE SERVIÇO DE ENERGIA ELÉTRICA. ALEGAÇÃO DE
SUSPENSÃO INDEVIDA DO SERVIÇO ESSENCIAL NA
LOCALIDADE ONDE RESIDE A PARTE AUTORA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ANULAÇÃO DA
SENTENÇA QUE JULGOU PARCIALMENTE
PROCEDENTES OS PEDIDOS AUTORAIS. REJEIÇÃO DE
PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL. NECESSIDADE
DE REALIZAÇÃO DE PERÍCIA TÉCNICA EM RAZÃO
DA COMPLEXIDADE PROBATÓRIA INCOMPATÍVEL
COM O RITO ESTABELECIDO PELA LEI Nº 9.099/95.
RECONHECIMENTO, DE OFÍCIO, DA
INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DOS JUIZADOS
ESPECIAIS. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO. ARTIGO 51, II, DA LEI Nº
9.099/95.A acionada, por sua vez, alega que, para a unidade
consumidora, não houve ocorrência de queda de energia no período
informado. Sustenta que, mesmo que o fato tivesse ocorrido, não
ensejaria danos morais, por se tratar de mero aborrecimento. Pugna
pela improcedência da demanda.

No caso, constata-se que a prova testemunhal não foi capaz de


comprovar as alegações autorais.

Ocorre que, em tais circunstâncias, somente uma perícia traria


esclarecimento definitivo à lide, providência incompatível com o
procedimento abreviado e célere previsto para as ações endereçadas
ao juizado especial cível.

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
A complexidade que se apresenta não é jurídica, mas eminentemente
fática, portanto, incompatível com os princípios da Lei nº 9.099/95
e seu rito sumaríssimo.

Assim, verificando-se a necessidade de produção de prova


pericial, reconheço, de ofício, a incompetência dos Juizados
Especiais para apreciação do feito e, em face da
impossibilidade de remessa ao Juízo competente pela vedação
imposta pela Lei nº 9.099/95, é imperiosa a extinção do feito
para não ocasionar prejuízo às próprias partes, obstando o
exercício pleno do contraditório e da ampla defesa, restando
prejudicadas todas as demais questões suscitadas.

Vistos, relatados e discutidos os autos acima indicados. Realizado o


julgamento, a Terceira Turma Recursal do Tribunal de Justiça do
Estado da Bahia, composta pelos Juízes de Direito Marcelo Silva
Britto, Karla Kristiany Moreno de Oliveira e Mary Angélica Santos
Coelho, decidiu, à unanimidade, DECLARAR, DE OFÍCIO, A
INCOMPÊNCIA ABSOLUTA DOS JUIZADOS ESPECIAIS,
nos termos do voto do Juiz Relator, adiante lavrado, que passa a
integrar o presente acórdão.”

No presente feito, infere-se que, para a real percepção do atendimento ou não,


pelo Autor, das exigências normativamente previstas para a realização do serviço, faz-
se mister a realização de uma perícia técnica especializada a fim de que o perito
constate, in loco, se houve ou não o atendimento às especificações em comento.
O imóvel da autora está situado em uma localidade na qual é necessária
a realização de obra para que possa ser realizado o fornecimento de energia
elétrica de forma segura e devida.
Veja Excelência, que para o deferimento do pedido autoral, é preciso
que seja verificada a viabilidade da instalação de energia elétrica no imóvel do

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
Requerente, de acordo com os parâmetros estabelecidos pela ANEEL e pela
ABNT. Para isso, não há como o rito sumaríssimo dos juizados especiais
comportar uma extensa instrução probatória, sem que seja tolhido da ré o
direito constitucional à ampla defesa.
Ora, como a instalação da energia elétrica encontra-se condicionada ao
atendimento, pela Ré, dessas especificações, infere-se que essa prova é, inclusive, ato-
condição para a apreciação dos pleitos de reparação civil por aquele formulados.
Tal matéria, portanto, é incompatível com o rito processual dos juizados
especiais. Com efeito, e na única hipótese de não se acatar como válida a
argumentação da demandada, deverá ser oportunizada à concessionária do serviço
público a realização de toda e qualquer prova em direito admitido, não se podendo
afastar sob o fundamento de inadequação ao rito procedimentos dos juizados.
Afinal de contas, não custa lembrar que a opção pelo rito no presente
caso é unicamente da autora, não tendo a ré qualquer possibilidade de escolha,
o que não retira da acionada o direito de ter garantida a ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes (Constituição Federal de 1988, artigo 5º, inciso
LV).
Diante disso, a COELBA requer a extinção do feito sem incursão no mérito,
em virtude da complexidade da matéria, incompatível com o rito dos juizados.

4. DO PREQUESTIONAMENTO.
Antes de adentrar-se ao debate de mérito, faz-se imprescindível alertar este
a MM. Juízo que a matéria debatida nos autos está, estritamente, regrada na
regulação do setor de energia elétrica, qual seja, através das Resoluções da ANEEL.
Foi através da Lei 9427/96 que a ANEEL – Agencia Nacional de
Energia Elétrica – foi instituída, como agência reguladora responsável pela
fiscalização e regulamentação da matéria técnica concernente a comercialização de
energia elétrica no país:

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
Art. 2o. A Agência Nacional de Energia Elétrica –ANEEL tem por
finalidade regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição
e comercialização de energia elétrica, em conformidade com as
políticas e diretrizes do governo federal.

E ainda:
Art. 4ª
§ 3o O processo decisório que implicar afetação de
direitos dos agentes econômicos do setor elétrico ou dos
consumidores, mediante inciativa de projeto de lei ou,
quando possível, por via administrativa, será precedido de audiência
pública convocada pela ANEEL.

Portanto, toda a matéria de regulação pela ANEEL, seja a Resolução414/2010,


sejam as normas do PRODIST, são regras técnicas que fazem jus de respeito e
consideração pelo Judiciário.
Neste espeque, desde já resta prequestionada a Lei 9427/96, aos seu Art. 2ª e 4ª,
§3ª, assim como, em consectário, a CF/88, ao Art. 175, senão vejamos.
A intervenção do Judiciário com decisões que ultrapassem os ditames
e regulamentos editados pela ANEEL, de certo, afrontaria a separação dos poderes,
o regime democrático de direito e a segurança jurídica.
Violar as resoluções do setor elétrico, portanto, representaria violação
expressa ao normativo chancelado pela Constituição Federal de 1988, no que toca
à concessão do serviço público, senão vejamos:
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre: (...)
IV - a obrigação de manter serviço adequado;

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
Por assim dizer, a adequação do serviço concedido estará regrada na Lei
que, in casu, institui a ANEEL, esta que, por sua vez, editou as Resoluções
que estabelecem os parâmetros de adequação e qualidade do serviço de energia
elétrica.
Com estas considerações ab initio, requer que este MM. Juízo se
pronuncie quanto ao prequestionamento das normas federais que garantem eficácia
aos termos das resoluções do setor elétrico, tudo com escopo em evitar expressa
violação ao ordenamento jurídico.

5. DO MÉRITO.
5.1. VERDADE DOS FATOS
Ao expor os fatos, a parte autora não passa ao douto Juízo o que realmente se
deu, distorcendo de tal molde a verdade dos acontecimentos, visando claramente
obter vantagem indevida.
Cumpre ressaltar, de início, como é de conhecimento geral, que a Empresa
demandada exerce a função de concessionária de serviço público, motivo pelo qual
necessita cumprir à risca todas as leis e normas aplicáveis, em especial aquelas editadas
pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, agência reguladora criada para
reger e fiscalizar as atividades relacionadas ao bem objeto da concessão (energia
elétrica).
Insta registrar que se trata de uma solicitação de ligação de energia para unidade
Recorrida, para a qual a consumidora NÃO atende a todos os requisitos necessários,
sendo imprescindível a realização adequação técnica para que seja efetuada a referida
ligação.

A partir da análise no sistema comercial desta recorrente, foi possível observar


que a parte autora solicitou ligação de energia no seu imóvel. Em atendimento ao
requerimento feito pela parte autora a Empresa Ré elaborou o projeto que foi
aprovado através da nota de obra nº 9101482125.

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
NOTAS DE OBRAS RELACIONADAS:

NOTA AINDA NÃO EXECUTADA POIS ESTÁ AGUARDANDO A ANUÊNCIA DO AUTOR

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
CUSTOS DA OBRA

Saliente-se que a Coelba opera em ambiente regulado, devendo obedecer


rigorosamente ao fixado no Contrato de Concessão, nas Resoluções da Agência

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, nas Normas Técnicas da ABNT e na
Legislação Pátria, em especial, a setorial.

De mais a mais, é de se frisar que as normas instituídas pela ANEEL, Agência


Reguladora do setor elétrico, voltam-se precipuamente para garantir a segurança e a
correção no fornecimento de energia ao próprio consumidor, evitando-se situações
que possam lhe acarretar danos de qualquer espécie.

Cumpre ressaltar, que a Empresa demandada exerce a função de


concessionária de serviço público, motivo pelo qual necessita cumprir à risca todas as
leis e normas aplicáveis, em especial aquelas editadas pela Agência Nacional de
Energia Elétrica – ANEEL, agência reguladora criada para reger e fiscalizar as
atividades relacionadas ao bem objeto da concessão (energia elétrica).

Em observância às normas mencionadas que a concessionária realiza as


instalações de redes elétricas, e técnicos especializados determinam como devem ser
feitas tais instalações.

Ademais, Doutos julgadores, o fornecimento da energia elétrica é


condicionado à observância, nas instalações elétricas da unidade consumidora, das
normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes e das normas e padrões da
concessionária. Assim, se alguma demora há na instalação do fornecimento de
energia, esta decorre ao atendimento desta concessionária a essas normas.

Ressalte-se que a adequação técnica requisito primordial para o fornecimento


de energia, Tanto é assim que a Resolução ANEEL 414/2010, no parágrafo 1º do art.
166, estabelece a obrigatoriedade do consumidor em reformar ou substituir as
instalações que vierem a ficar em desacordo com as normas técnicas.

A Resolução 414/2010 da ANEEL estabelece:

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
Art. 166. É de responsabilidade do consumidor, após o ponto de
entrega, manter a adequação técnica e a segurança das instalações
internas da unidade consumidora.

§ 1o As instalações internas que ficarem em desacordo com as


normas e padrões a que se referem as alíneas “a” e “b” do inciso I
do art. 27, vigentes à época da primeira ligação da unidade
consumidora, devem ser reformadas ou substituídas pelo
consumidor. (Grifos nossos)

No mesmo sentido, leia-se o artigo 27, II, a, da Resolução 414/2010:

Art. 27. Efetivada a solicitação de fornecimento, a distribuidora


deve cientificar o interessado quanto à:

II – necessidade eventual de:

a) execução de obras, serviços nas redes, instalação de equipamentos


da distribuidora ou do interessado, conforme a tensão de
fornecimento e a carga instalada a ser atendida;

Dessa forma, não há como imputar a COELBA a responsabilidade pela


demora no ato de ligação do fornecimento de energia, uma vez que, como dito acima,
tal fato foi originado por culpa exclusiva do usuário, que se recusou a arcar com os
custos do serviço.

Noutro giro, apenas quando o imóvel disponibiliza o instrumental necessário,


é que surge a possibilidade de instalação do referido medidor e, consequentemente,
do fornecimento de energia.

Não pode a Demandada suplantar a legislação de regência, colocando em risco


toda a coletividade para atender os interesses particulares, de apenas um indivíduo.
Como se percebe, a Ré agiu em estrito cumprimento das normas aplicáveis à espécie,

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
seguindo orientação traçada pela própria ANEEL, razão por que não há que se falar
em ato ilícito passível de indenização.

É patente que o douto juízo a quo, em sua respeitável sentença, não considerou
as evidencias constantes nos autos, valendo-se veemente de reforma a decisão
recorrida.

5.2. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA E ADEQUAÇÃO DO SERVIÇO


PRESTADO. SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO
Em casos de ligação do fornecimento de energia elétrica, a concessionária,
deve valer-se das normas vigentes para desenvolver suas atividades. Sendo assim, para
que a mesma efetue a instalação, tanto nas unidades consumidoras quanto em vias
públicas, é realizado um estudo de viabilidade técnica, através do qual são
determinados os locais mais adequados à instalação de postes e fiações que
possibilitam o fornecimento do serviço público de sua responsabilidade.
Explica-se. Na qualidade de concessionária de serviço público de
fornecimento e distribuição de energia, a Ré submete-se à observância de um
conjunto de normas e padrões estabelecidos por entidades oficiais competentes, a
exemplo da ANEEL e da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT ou
outra entidade credenciada ao Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial – CONMETRO.
Nesse sentido, imperioso destacar ainda, no tocante à instalação e
fornecimento de energia elétrica (seja na hipótese de ligação inicial, seja no caso de
religação), o que versa o artigo 27 da Resolução nº 414/2010 da ANEEL, in litteris:
Art. 27. Efetivada a solicitação de fornecimento, a
distribuidora deve cientificar o interessado quanto à:
I – obrigatoriedade de:
a) observância, na unidade consumidora, das normas e
padrões disponibilizados pela distribuidora, assim como

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
daquelas expedidas pelos órgãos oficiais competentes,
naquilo que couber e não dispuser contrariamente à
regulamentação da ANEEL;
b) instalação, pelo interessado, quando exigido pela
distribuidora, em locais apropriados de livre e fácil acesso, de
caixas, quadros, painéis ou cubículos destinados à instalação de
medidores, transformadores de medição e outros aparelhos da
distribuidora necessários à medição de consumo de energia
elétrica e demanda de potência, quando houver, e à proteção
destas instalações;

Também deve o consumidor – sendo necessário – responsabilizar-se


pela execução de obras e/ou serviços nas redes e/ou instalação de
equipamentos, da distribuidora e/ou do consumidor, conforme a tensão de
fornecimento e a carga instalada a ser atendida (art. 27, inciso II, “a”),
participando financeiramente nas adequações necessárias.
Isso se dá, principalmente, porque a adequação das instalações elétricas
evita curtos-circuitos, incêndios e/ou eletroplessão, acidentes que contém alto
potencial de óbito. Trata-se, inclusive, de respeito aos usuários, que não
devem pôr em risco seu bem de maior valia, a vida.
O próprio Código de Defesa do Consumidor, no artigo 6º, incisos I e VI,
estabelece como direitos básicos os de proteção à vida, saúde e segurança, bem como o da
efetiva prevenção de danos patrimoniais e morais, decorrendo de tais direitos o dever do
fornecedor de sanear o serviço, quando este apresente riscos ao consumidor, ainda
que por culpa do próprio interessado.
Ao exigir a adequação técnica, a concessionária, além de obedecer à
legislação aplicável2, protege o indivíduo e a coletividade, visando a

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
integridade física do cidadão, bem juridicamente indisponível e devidamente
tutelado pela nossa Carta Magna, o que de certo está acontecendo na situação
in examine, face a adequação da conduta da Ré em não religar a energia nos
moldes ora discutidos.
No caso ora em voga, caso este douto Juízo entenda pela procedência
dos pedidos do Demandante fará com que se deixe de lado toda essa
segurança investida e observada pela empresa, em prol da coletividade, e se
verifique apenas a questão particular em querer o Autor a ligação do
fornecimento de energia da sua residência, sem a mesma atender aos
requisitos técnicos exigidos.
Não há que se falar em arbitrariedade na postura adotada pela Ré. Muito pelo
contrário, ao analisar-se a conduta da mesma, há de se ter em mente uma interpretação
sistemática da legislação pátria, principalmente da Constituição Federal, atendendo ao
princípio da horizontalidade das normas constitucionais, estando, de um lado, a proteção à
continuidade do serviço público e, do outro, o direito à vida e à segurança.
Cumpre ressaltar que a COELBA, na qualidade de concessionária de serviço
público, submete-se ao Regime Jurídico de Direito Público quando no
desenvolvimento de sua atividade primordial, qual seja, o fornecimento de energia,
devendo observar, sobretudo, os princípios e normas constitucionais, bem como
aqueles que regem a Administração Pública.
Destarte, a conduta da ora Ré em não atender ao pleito autoral tem fulcro
nestes princípios, com destaque para o PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO
INTERESSE PÚBLICO SOBRE O INTERESSE PRIVADO. É incontestável que
os anseios de um cidadão não podem prevalecer sobre toda a coletividade. Não se
pode colocar em risco bens tão valiosos como a vida em prol de meros caprichos de
apenas um indivíduo.

Principalmente: artigo 6º da Lei 8.987/95; artigo 6º, I e VI, da Lei 8.078/90 e Resolução ANEEL
456

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
Vale dizer, ainda, que do princípio administrativo supramencionado decorre a
indisponibilidade do interesse público pela Administração e por aqueles que fazem as
vezes desta. Destarte, não pode a COELBA, apenas com vistas a atender as
solicitações do Autor, dispor de forma arbitrária das prerrogativas que possui,
infringindo, assim, o Sistema Jurídico pátrio.
Doutos Julgadores, no caso dos autos, o Autor, sobrepondo-se a interesses de
toda uma sociedade, se acha capaz de determinar os padrões técnicos adequados para
recebimento de energia elétrica, para satisfazer meramente pretensões particulares,
ditando onde e como deve ser prestado fornecimento de energia elétrica!
Ressalte-se, pois, que cabe à Constituição Federal, bem como à legislação
pátria, estabelecer os limites de atuação das concessionárias de serviços públicos,
conforme se infere do dispositivo in verbis:
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre
através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de
serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
prorrogação, bem como as condições de caducidade,
fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
Daí depreende-se que não existe amparo legal para que a COELBA proceda à
instalação ou remoção de forma arbitrária de redes ou postes de energia elétrica nas
unidades de consumo, ou preste seu serviço de fornecimento de energia,
considerando apenas uma simples pretensão de um usuário.
Ademais, o art. 5º, inciso II, da Carta Magna estabelece que ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Desta forma,

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
evidenciamos que a empresa, ora Ré, em verdade apenas agiu em consonância com
as determinações da Agência Reguladora, que é quem detém a competência para
legislar sobre a referida matéria.
Ora, Nobre Julgador, não há dúvidas de que no caso dos autos o interesse
particular está prevalecendo diante do interesse público, fato este totalmente
rechaçado pelo ordenamento jurídico vigente. Assim, se o referido pleito prevalecer,
haverá um prejuízo à segurança da coletividade, bem como uma possível inadequação
do serviço prestado, uma vez que promovido o fornecimento de energia elétrica a
revelia das determinações de um técnico especializado, bem como da legislação
vigente.
Destarte, resta evidente que, ao abster-se de restabelecer o fornecimento de
energia elétrica em unidade que não atende às especificações impostas e informadas,
exigindo a observância de tais condicionantes para tanto, a Ré agiu licitamente e em
absoluta conformidade com as orientações da ANEEL, que, em última análise,
reproduzem os cuidados adotados para resguardar a segurança do próprio
consumidor. Absteve-se, pois, em exercício de legítimo direito de não fornecer o
serviço quando não observados os padrões exigidos.
Ante o exposto, resta evidente que à Demandada não pode ser legitimamente
imputada a prática de ato ilícito algum. Sua atuação, ao contrário, foi absolutamente
regular e dentro dos padrões exigidos pela ANEEL.

5.3. DA INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL

Atualmente, verifica-se um completo desvirtuamento do instituto do dano


moral. Por tudo, por nada e por qualquer coisa, busca-se obter reparação desta
espécie, como se fosse uma penalidade para qualquer infração, real ou suposta.
Não é esse, todavia, o sentido de dano moral. Como toda e qualquer forma de
proteção à dignidade humana, a ressarcibilidade do dano moral não merece vala
comum, na qual se peça por tudo, levando à banalização e ao desrespeito do instituto.

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
A propósito, destaca o ilustre mestre Yussef Said Cahali, em sua brilhante obra clássica
“O Dano Moral”, que reproduz o ensinamento de Roberto Brebbia a respeito das
hipóteses ensejadoras de danos morais:
“Danos morais originados pela violação dos direitos inerentes à
personalidade que protegem os bens que integram o aspecto
objetivo ou social do patrimônio moral: a) a honra; b) o nome; c) a
honestidade; d) a liberdade para agir; e) a autoridade paterna; f) a
fidelidade conjugal; g) o estado civil. Danos morais originados pela
violação dos direitos inerentes à personalidade que protegem os bens
que integram o aspecto subjetivo do patrimônio moral: a) afeições
legítimas; b) segurança pessoal e a integridade física; c) intimidade;
d) o direito moral do autor sobre sua obra; e) o valor de afeição de
certos bens patrimoniais.” (traduzido)

Para se justificar a indenização por danos morais, ter-se-ia de admitir que a


parte demandante sofrera profundos abalos emocionais, angústia, dor e decepção, em
razão dos eventos por ela descritos, sentimentos que fujam à frustração cotidiana, à
normalidade, o que não foi absolutamente o caso.
Não há, no fato narrado, nada que se possa entender como extraordinário, ou
provocador de qualquer angústia real. Ainda que se pudesse reconhecer que a situação
causou à parte demandante algum transtorno, incômodo ou desconforto, não se afiguraria
possível efetivamente enquadrá-los na rubrica de “dano moral”.
A solução para essas hipóteses deve se pautar pela lógica da razoabilidade, uma
vez que, em se admitindo que qualquer desconforto ou situação desagradável possa
dar ensejo à indenização por danos morais, correr-se-á o risco de banalizar o instituto,
o que vem sendo bastante repudiado pelos Tribunais pátrios.
Sobre o tema, vale ressaltar os ensinamentos do insigne Sergio Cavalieri Filho,
que, com muita propriedade, traça alguns parâmetros para a identificação de danos
desse jaez:

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
“Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a
dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo a normalidade,
interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo,
causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar.
Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade
exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de
fazerem parte da normalidade do nosso dia-dia, no trabalho, no
trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações
não são intensas ou duradouras, a ponto de romper o equilíbrio
psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por
banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos triviais aborrecimentos” (CAVALIERI FILHO,
Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros,
1996, p. 76)

Ademais, os Tribunais pátrios têm decidido pela não incidência do dano moral
em casos semelhantes aos dos autos:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER C/C INDENIZATÓRIA. DEMORA NA
LIGAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Sentença de parcial
procedência para condenar a ré a realizar a instalação do
serviço de energia elétrica na residência da parte autora.
Condenou o réu ao pagamento de 50% das custas e despesas
processuais, bem como honorários advocatícios que fixou em
R$800,00, e a parte autora ao pagamento de 50% das custas e
despesas processuais e honorários que fixou em 10% sobre o
valor do pedido de indenização por danos morais, observada a
gratuidade de justiça deferida. Apelação da parte autora em
busca da fixação da verba indenizatória. A sentença

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
reconheceu a demora na prestação do serviço e determinou a
instalação do serviço de energia elétrica na residência da autora.
Todavia, os fatos narrados não têm o condão de acarretar
danos de ordem moral. A despeito da pretensa demora, a
parte autora não demonstrou que tenha reforçado o pedido de
instalação de energia em outras ocasiões, deixando de trazer
aos autos protocolos de atendimento telefônico ou presencial,
o que afasta a verossimilhança da alegação de que
suportou danos morais. Sentença mantida. Sem honorários
recursais. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (TJ-RJ -
APL: 00472753520178190004, Relator: Des(a). SÔNIA DE
FÁTIMA DIAS, Data de Julgamento: 04/12/2019,
VIGÉSIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL)

Saliente-se, outrossim, que o Colendo STJ é pacífico no sentido de que a


indenização por danos morais não pode ensejar enriquecimento ilícito da parte,
devendo ser imposta com moderação.

6. NÃO CABIMENTO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


Estabelece o art. 373, inciso I, do novo Código de Processo Civil, que o ônus
da prova, incumbe ao autor, “quanto ao fato constitutivo de seu direito”. Assim, deve o
Autor demonstrar cabalmente o fato constitutivo de seu direito.
Como se sabe, trata-se do devido processo legal previsto na Constituição
Federal de 88.
Assim, se a Constituição Federal expressamente garantiu às partes o direito
à ampla defesa, não poderá o Estado, no exercício de sua Função Jurisdicional,
negar tal direito às partes.
No caso em análise, não há hipossuficiência do consumidor, já que o mesmo

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
poderia produzir prova em sentido contrário, obedecendo a legislação aplicável. Além
disso, deve-se ressaltar que, como atos administrativos que são, os praticados pela
concessionária detêm presunção de legitimidade, cabendo ao consumidor fazer prova
em contrário.
In casu, apesar de alegar, não se desincumbiu a parte Autora do seu ônus de
provar, deixando de confrontar de forma robusta a LEGALIDADE dos
procedimentos adotados pela empresa Ré.
Na presente demanda, portanto, impossível falar em inversão do ônus da
prova, da forma preceituada no artigo 6º, VII, do CDC, vez que é a parte Autora que
pretende modificar situação que já existe.
A inversão do ônus da prova não é automática.
Ressalte-se que o simples fato de se tratar de relação de consumo não autoriza,
por si só, a inversão do ônus, entendimento sedimentado nos tribunais pátrios e no
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

7. DO NÃO CABIMENTO DE CUSTAS E HONORÁRIOS ADVCATÍCIOS


EM SEDE DE JUIZADO ESPECIAL
Quanto ao pleito de pagamento de custas e honorários advocatícios, este é
descabido em sede de Juizados Especiais, conforme art. 55 da Lei 9099/95, in litteris:

“A sentença de primeiro grau não condenará o vencido em custas


e honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má-
fé (....).”

Portanto, o pedido formulado pelo demandante deve ser julgado improcedente.

8. DOS REQUERIMENTOS
Face ao todo exposto, vem a Empresa Ré, perante Vossa Excelência, requerer:
Requer seja a presente contestação recebida tempestivamente e no mérito

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
requer que os pedidos formulados pela parte Autora sejam julgados
IMPROCEDENTES, sendo declarada a ausência de responsabilidade da Acionada
em razão dos argumentos acima expostos.
Por fim, requer que todas as publicações sejam feitas em nome do Dr.
PAULO ABBEHUSEN JUNIOR., OAB/BA 28.568.

Termos em que
Pede deferimento,

Salvador, 5 de junho de 2020.

PAULO ABBEHUSEN JUNIOR CAMILA VIEIRA


OAB/BA 28.568 OAB/BA 59.631

Assinado eletronicamente por: PAULO ABBEHUSEN JUNIOR;


Código de validação do documento: 73eb07e4 a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.

Você também pode gostar