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O Futuro
das Sociedades
Democrá cas
Sérgio Antônio Görgen ofm
O Futuro das
Sociedades
Democrá cas
1ª Edição
Candiota - RS - 2019
Sumário
1. Introdução.................................................................................................................................
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7. Tocando em Frente..........................................................................................................
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| Sentado ao final da tarde entre as crianças, o andarilho diverte-se
contando histórias e plantando sementes à margem da estrada. No dia
seguinte, bem cedo, vai par r. Um dos meninos pergunta: “Você vai voltar
aqui algum dia?”. Sorrindo ele responde: “Provavelmente não”. Ao que o
menino insiste: “Então porque está deixando essas sementes, se nunca vai
ver se elas vão brotar ou não?” Olhos nos olhos do menino e mantendo o
sorriso aberto, novamente responde: “Alguém passou por esse caminho
antes de mim e plantou flores que me alegram e fazem a jornada mais
suave. Também plantou frutas das quais posso me alimentar quando tenho
fome. Plantou árvores grandes, que me oferecem sua sombra quando
preciso descansar. Agora, estou apenas fazendo a minha parte”.
Grato pelo ensinamento, o menino lhe abraça com força, antes da
despedida. ‘‘Faça o mesmo por onde andar’’, conclui o andarilho. |
O texto ‘‘O Futuro das Sociedades Democrá cas ‘’ do qual deriva este
ebook foi publicado originalmente na Revista Semestral da Escola Superior
de Teologia e Espiritualidade Franciscana (ESTEF) - Cadernos da Estef - Nº
62-2019/1, que teve como tema ‘‘Democracia e Polí cas Públicas’’.
1 - Introdução
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2 - Experiências Embrionárias
ao Longo da História
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ca, com tal radicalidade democrá ca, cercado por culturas e ins tuições
baseadas em seu contrário, é para mim, embora meus parcos conhecimentos
em história franciscana, até hoje, um grande mistério. Tendo a acreditar na
inspiração da experiência apostólico-conciliar dos primeiros cristãos.
3 - As Revoluções Contemporâneas
na França e nos Estados Unidos
Mas sociedades democrá cas em larga escala, com as conformações
de Estados organizados, tendo a democracia como princípio organiza vo
fulcral em suas definições, em seus pactos e contratos sociais, em cláusulas
pétreas estabelecidos em Cons tuições Polí cas, pactuadas a par r de
Assembleias Cons tuintes, só se consolidam tardiamente, quando falamos
em termos de história humana. É a par r das revoluções filosóficas, em grande
parte formuladas a par r de utopias conviviais, propostas por Morus, Campa-
nela, Hegel, Hobbes, Rosseau, Voltaire, Montesquieu, que perscrutam, cada
um a seu modo, cada um com suas ênfases e cada qual com seus destaques, a
proposição de sociedades baseadas em acordos polí cos cole vos, exercidas
em estados territorialmente estruturados. A formatação de Repúblicas, com
Três Poderes exercidos com funções definidas e contrabalanceadas, procuran-
do realizar um sistema ao mesmo tempo, confli vo e harmonizador, tendo na
par cipação popular e na pactuação social – O Contrato Social – a fonte e a
base do poder polí co. Enfim, a par r do final do Século XVIII consolidam-se as
primeiras Democracias Liberais como as conhecemos hoje, ou o Estado Demo-
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secreto, tem menos que 80 anos. O voto do analfabeto, num país de milhões
de analfabe zados, só foi consagrado na Cons tuição de 1988. Uma democra-
cia com milhões excluídos da cidadania é sempre uma democracia de “pé que-
brado”, uma democracia limitada.
Assim mesmo, estas jovens democracias, limitadas e eli stas, sob
regime capitalista, liberais e controladas, estão em crise e parecem não mais
se coadunar com a nova fase da economia capitalista com seus fluxos de capi-
tais à nível global. E as democracias vivem em severas crises ameaçadas por
fleumas autoritárias e fascistas, com a promoção midiá ca de sua desmorali-
zação.
Vivemos tempos sombrios onde regressões democrá cas estão
postas na ordem do dia.
Da mesma forma, forças populares propugnam por mais democracia,
por radicalização da democracia, por formas diretas – e não apenas represen-
ta vas – de exercício do poder popular na tomada de decisões no âmbito do
estado, por democracia econômica real com distribuição de riqueza e renda,
por um estado efe vo na redução das desigualdades em todos os âmbitos,
pelo uso dos bens comuns das nações em bene cios de todos e não de uma
pequena classe privilegiada.
Estas disputas e estas lutas estão apenas começando.
Algumas perguntas a serem feitas são: é possível a convivência entre
democracia polí ca de massas e ditadura econômica controlada por minori-
as? É possível exercício real da democracia par cipa va com níveis indecoro-
sos de injus ças e desigualdades sociais? São possíveis estados democrá cos
sem sociedades democrá cas? Como construir sistemas educacionais e infor-
ma vos que promovam cultura de par cipação e decisão democrá ca?
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econômico com a adesão, sem revoltas, ou, pelo menos, com a apa a, dos
pobres e explorados. Da mesma forma o sistema de produção de bens cultura-
is é uma das malhas que produz incessantemente ideias e interpretações que
jus ficam, alimentam, protegem e sustentam a estrutura socioeconômica.
No Brasil, o sistema de representação polí ca – estrutura do Estado
Brasileiro com três poderes (Execu vo, Legisla vo e Judiciário) e suas três
instâncias (União, Estados e Municípios) – começa a emi r sinais externos de
um processo lento de deterioração.
Estamos próximos da erupção de uma crise sistêmica? Di cil dizer. A
população ainda acredita em soluções dentro do sistema, embora os instru-
mentos de manipulação estejam sendo u lizados – poder policial-judicial e
meios de comunicação – no limite do esgarçamento. Qualquer sistema de
representação, para manter-se em pé, precisa de um grau mínimo de iden fi-
cação entre representantes e representados. Precisa de apoio popular e sus-
tentação na sociedade. Isto é rela vamente fácil quando o grau de exigência
cidadã e o nível de informações básicas da população são, ambos, rela va-
mente baixos. No Brasil dos úl mos anos, os índices de par cipação e exigên-
cia cidadã, bem como o nível de informações, apesar dos pesares e a passos
lentos, tem crescido significa vamente.
Isto pode levar, num primeiro momento, a um nível maior de tenta -
vas de manipulações massivas, através das várias mídias. Mas os graus eleva-
dos de desilusões quanto a efe vidade dos instrumentos de representação à
disposição e aos agentes que se apresentam, logo em seguida se manifestam
novamente e as crises se sucedem. Num segundo momento, a massa popular
passará a ser mais e mais exigente em relação tanto à qualidade das informa-
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Uma vida boa para todos e todas, possibilitará que possamos aceder a
todos os bene cios construídos pela humanidade e em consequência, o
desenvolvimento de um conjunto de potencialidades, cria vidade, relações
prazerosas e de sa sfação das necessidades.
b. Bens Comuns
São aqueles que uma comunidade ou uma população compar lham e
que têm acesso e que não são propriedade privada de alguns. A natureza,
como o ar e a água; a cultura, como a linguagem, os conhecimentos tradiciona-
is e o patrimônio histórico; e a própria comunidade em que nos inserimos, seja
o espaço local, seja a internet, são bens comuns e, em conjunto sustentam a
vida humana.
Ao contrário do que afirma o ideário capitalista, os bens comuns têm
mais valor quanto mais abundantes são. Seu valor não é medido de forma
financeira, mas pelos bene cios que produz; e sua preservação não depende
do retorno financeiro, e sim do compromisso comum de longo prazo.
Há uma urgência em reconectar as esferas da produção, da reprodu-
ção e do consumo separadas pelo capitalismo. Essa reconexão é que nos pro-
piciará as transformações necessárias em nosso co diano para atuar em
termos de recuperação e produção dos bens comuns.
c. Igualdade e Diversidade
O modelo capitalista funciona com base em coextensividade entre a
exploração de classe, a opressão patriarcal, o racismo e a discriminação da
sexualidade negando sua livre expressão.
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e. Soberania e Desenvolvimento
Soberania Nacional é a garan a de autodeterminação do conjunto do
povo brasileiro para escolher e decidir sobre seu próprio des no. Temos uma
visão de emancipação em que o povo decide os rumos e defende seu território
e seus bens comuns.
Não é possível pensar um projeto para o Brasil sem ter como base fun-
damental da proposta a Soberania Nacional: sobre o território, a garan a
militar de defesa deste território, a autodeterminação polí ca da Nação, as
riquezas naturais, a produção cien fica e tecnológica e a plena governabilida-
de sobre a própria economia. As soberanias energé ca e alimentar são a base
da soberania polí ca e econômica da Nação.
Propor Desenvolvimento como eixo paradigmá co se trata de afirmar
a necessidade de desenvolvimento das forças produ vas em país periférico,
que respeita a sustentabilidade ambiental, e proporcione condições dignas de
vida a todos e todas. Há que se propor um desenvolvimento pluridimensional,
altamente diversificado, robustecendo os setores que possam atender as
necessidades da população e as estratégias da Nação. Um desenvolvimento
que garanta qualidade de vida, inclusive possibilitando que os ganhos tecnoló-
gicos sejam redistribuídos entre todos, a fim de que as pessoas possam ter
tempo para viver todas as dimensões da vida para além do trabalho.
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7 – Tocando em Frente
O poder econômico da burguesia financeira exercido à nível internaci-
onal, ancorado em novas tecnologias de quarta geração, con nuará a propug-
nar por menos democracia, capturando as estruturas dos Estados nacionais
em função de seus interesses, u lizando todas as formas de manipulação
midiá ca – as novas e as velhas mídias – e se necessário, guerras localizadas –
híbridas e militares – para alcançar seus interesses econômicos.
Por outro lado, tende a crescer as lutas contra todas as formas de desi-
gualdades, por cidadania plena, por direitos básicos à existência e à liberdade,
pelo direito à diversidade, pelo uso comum dos bens comuns, por decisões
par lhadas e democrá cas. Este enfrentamento vai se dar cada vez de forma
mais intensa tanto à nível local como nacional e universal. Poderá ter retroces-
sos democrá cos e civilizatórios cá ou lá, e o Brasil é a candidatura da vez.
Porém, a marcha da humanidade – e do povo brasileiro – nas contradições e
nas lutas, con nuará avançando para formas mais democrá cas, saudáveis,
conviviais, igualitárias, respeitadoras das liberdades e das diversidades. E esta
luta é de todas e todos.
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Passos concretos?
Na situação e realidade brasileira, sugiro, telegraficamente, algumas
proposições e acentuações, visando alimentar os debates, as lutas e as prá -
cas, nos próximos anos:
- Colocar como centralidade das lutas, a superação das desigualdades
e das injus ças sociais em suas várias formas de expressão. Sem isto, teremos
sempre a impressão de estar “fazendo buracos na água”, ou “enxugando gelo.”
E a desigualdade tem duas filhas legí mas: a violência e a corrupção. É preciso
ir à raiz.
- Radicalizar a democracia. Precisamos de “mais” e não “menos”
democracia. Torna-la algo presente no quo diano, no dia a dia da vida, nas
comunidades, nas ins tuições de base, nos Movimentos Sociais, nas Igrejas,
em todos os ambientes. Educar-se e educar para a democracia, para respeitar
decisões cole vas, para opinar, para construir consensos, para ouvir o outro e
os outros. Construir e lutar por formas de par cipação popular mais efe vas
nas decisões e na gestão do Estado, em suas várias instâncias. Construir e cul -
var uma cultura de debates, de par cipação, de construção cole va de sabe-
res e projetos. A começar pelos Municípios, a primeira escola de democracia –
ou de prá cas pouco democrá cas. Ampliar a par cipação nas estruturas
legisla vas municipais, propor estruturas legisla vas municipais que superem
as limitações e os encalacres das câmaras municipais de vereadores, obsole-
tas, por sinal. Criar instrumentos de democracia par cipa va direta – e não
apenas representa va – em todas as instâncias do Estado. Democra zar o
Poder Judiciário, com instrumentos de democrá cos de escolha e controle
popular e fim da vitaliciedade, com mandatos datados.
- Democra zar a comunicação. O povo tem direito à verdade, ao
contraditório, para bem poder decidir. Amplo acesso aos meios de comunica-
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Sérgio Antônio Görgen é frei
franciscano, membro da
Ordem dos Frades Menores.