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MATERIAL DIDÁTICO
O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO
TRABALHO
Impressão
e
Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3
UNIDADE 2 – SERVIÇOS DE MEDICINA DO TRABALHO....................................... 8
UNIDADE 3 – DOENÇAS DO TRABALHO .............................................................. 10
3.1 DOENÇA PROFISSIONAL E DOENÇA DO TRABALHO .................................................. 10
3.2 LESÕES POR ESFORÇO REPETITIVO (LER)/DISTÚRBIO OSTEO-MUSCULAR
RELACIONADO AO TRABALHO (DORT) ....................................................................... 14
3.3 DOENÇAS CAUSADAS POR RUÍDOS ....................................................................... 17
UNIDADE 4 – DOENÇAS CAUSADAS POR AGENTES FÍSICOS, QUÍMICOS E
BIOLÓGICOS ........................................................................................................... 26
4.1 DOENÇAS OCUPACIONAIS RESPIRATÓRIAS ............................................................ 26
4.2 DOENÇAS DA PELE .............................................................................................. 34
4.3 A SAÚDE BUCAL .................................................................................................. 37
UNIDADE 5 – DOENÇAS DO TRABALHO NA INDÚSTRIA E NO MEIO RURAL .. 43
UNIDADE 6 – ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS DOENÇAS DO TRABALHO
.................................................................................................................................. 45
UNIDADE 7 – TOXICOLOGIA .................................................................................. 59
UNIDADE 8 – PRIMEIROS SOCORROS ................................................................. 66
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68
3
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO
Desde o século XIX, a história nos mostra que o caminho percorrido entre
trabalho e qualidade de vida, que podemos traduzir em saúde, é uma via de mão
dupla e percebeu-se uma relação forte e negativa entre o trabalho e o sofrimento
que, muitas vezes, levava a morte prematura dos operários.
Falamos em via de mão dupla porque embora a construção do ser humano
tenha acontecido pelas relações sociais com seus pares, também aconteceu pelo
trabalho, ou seja, a satisfação de suas necessidades, quer sejam pessoais, sociais
ou de sobrevivência, passa necessariamente pelo trabalho.
Especialistas da Organização Mundial da Saúde chamam a atenção para o
seguinte fato: quando o trabalho está adaptado às condições do trabalhador e os
riscos da saúde estão sob controle, este trabalho favorece a saúde, tanto física
quanto mental. Muitas vezes, o impacto do trabalho sobre a saúde do trabalhador se
dá de forma inespecífica. Por esse motivo, podemos inferir que o trabalho caminha
junto ao conceito de doenças relacionadas com o trabalho.
Doenças profissionais são aquelas enfermidades que possuem uma relação
direta de causa e efeito entre risco e enfermidade. Por sua vez, as reconhecidas
como outras doenças relacionadas com o trabalho são enfermidades provocadas
por múltiplos fatores (multiprofissionais), desde os elementos de risco do próprio
ambiente de trabalho até características pessoais do trabalhador e a influência de
fatores socioculturais.
Conforme Mendes (1988), a OMS reconhece que existe não só doenças
profissionais, como também, doenças relacionadas com o trabalho, que são aquelas
favorecidas pelas condições e ambiente de trabalho, como por exemplo, o estresse
ocupacional.
Voltemos um pouco às relações formadas entre os seres humanos e nos
reportemos às novas formas de organização do trabalho associadas ao processo de
reestruturação produtiva. Estas configuram-se como resposta à crise de realização
capitalista ocorrida no modelo anterior, caracterizado pela generalização dos
princípios tayloristas-fordistas.
Diante do novo modelo econômico surgido nos anos 1980 nos países
avançados, destacam-se, segundo Pires (1998, p. 45-46),
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Todo esse contexto discorrido serve para mostrarmos que além das novas
configurações de trabalho, a pouca qualificação, a exclusão social, a falta de
compromisso dos empresários em relação aos seus trabalhadores, a falta de
cumprimento das leis, a não aplicação de penas são algumas das situações
contingenciais que impactam as relações e levam os trabalhadores a doenças do
trabalho ou doenças relacionadas ao trabalho.
Em relação ao trabalho especificamente, podemos mencionar alguns pontos
que têm influência decisiva sobre os efeitos na saúde dos trabalhadores. São eles: a
concentração de uma substância química como um solvente orgânico presente num
ambiente de pintura a revolver; ou o ácido crômico numa galvanoplastia; ou ainda a
sílica cristalina sob forma de poeira numa mineração, ou numa atividade de
jateamento de areia. Ainda temos a intensidade de um agente físico como é o ruído
em qualquer local de trabalho ou o calor e a umidade do ar em uma atividade de
forjaria ou tinturaria.
No que diz respeito a substâncias químicas, por exemplo, a forma física com
que se apresenta – gasosa ou vapor ou aerodispersóide (poeira por exemplo) – e o
tamanho das partículas, etc. são fatores importantes que devem ser levados em
conta. De uma forma geral, também são fatores que contribuem para o
desencadeamento de uma doença relacionada ao trabalho a duração da exposição
diária ou a duração da exposição ao longo da vida, a gravidade da lesão que pode
ser causada, e outros mais. Por exemplo, a exposição ocupacional ao benzeno pode
resultar em morte por câncer, se ela ocorrer de forma “leve” e crônica, mas a morte
também pode resultar se a exposição for aguda e em grande quantidade ou
concentração. Exposições Intermediárias, ou exposições através da pele têm
consequências menores e diversas (KITAMURA, 2005).
Segundo Almeida et al (2006), os riscos ocupacionais afetam diretamente a
Saúde do Trabalhador, expondo-o a adoecimentos e acidentes de trabalho. A
portaria nº 25 (29/12/1994) classifica os principais riscos ocupacionais:
riscos químicos (poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases, vapores e
substâncias compostas ou produtos químicos em geral);
riscos biológicos (vírus, bactérias, protozoários, fungos, parasitas e bacilos);
riscos ergonômicos e de acidentes (esforço físico intenso, levantamento e
transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido
de produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e
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jornada de trabalho, por banco de horas, como de direitos trabalhistas, por regimes
jurídicos diferenciados, em que, especialmente para a pequena e média empresa,
aventou-se inclusive a reversão de direitos já consignados. Isso sem desconsiderar
que, paralelamente às deficiências na cobertura da fiscalização, foi – e continua
sendo – inexpressivo o aumento de cláusulas sobre saúde e condições de trabalho
nos Acordos Coletivos de Trabalho (SALIM, 2001).
Em outras palavras, um quadro caracterizado por dois aspectos: por um lado,
pela retração do mercado de trabalho; por outro, pelo avanço na deterioração das
condições laborais daqueles cujos postos ou ocupações se encontram em níveis
diferenciados de formalidade das relações contratuais ou empregatícias. Situação,
enfim, que tem trazido importantes reflexos nas variações e tendências dos
acidentes do trabalho no país.
Naquela ocasião, paralelamente à redefinição do Setor Serviços, ocorreram a
queda dos assalariados na participação total da população economicamente ativa
(PEA) e o incremento de todo o mercado informal de trabalho. O último, hoje, em
muitos casos, com participação majoritária no mercado de trabalho e indícios de
saturação na absorção de trabalhadores excluídos do setor formal, traduz-se,
inexoravelmente, no maior número de trabalhadores à margem dos direitos sociais,
como o acesso à previdência social e ao bem-estar no ambiente de trabalho, através
do inalienável direito a saúde e segurança.
De forma reflexa, as estatísticas disponíveis indicaram, no final da década,
uma nova tendência quanto ao quadro acidentário no país. Em 1999, pela primeira
vez na história laboral do país, tivemos uma maior ocorrência de acidentes do
trabalho no Setor Serviços.
Segundo a Previdência Social, enquanto, entre 1997 e 1999, a participação
desse setor subiu de 38,7% para 44,6%, inversamente, a participação da Indústria
caiu de 49,2% para 44,2%. Participação, inclusive, que se estende ao número de
casos fatais, ou seja, às mortes decorrentes de acidentes do trabalho (SALIM,
2003).
Nesse particular, Waldvogel (2002) ressalta que destacaram-se os grupos
ocupacionais dos ramos de atividade Serviços e Comércio e Transporte e
Comunicação. Aliás, a autora, em sua criteriosa análise, aponta a emergência de se
considerarem os fatores exógenos ao ambiente de trabalho na detecção dos riscos
intrínsecos dos acidentes do trabalho, especialmente nos casos em que os
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1
Essa pesquisa ouviu 1.072 trabalhadores com mais de 16 anos e de todos os ramos de atividade na
cidade de São Paulo. Os entrevistados foram selecionados por sexo, idade, renda e escolaridade
(Folha de S. Paulo, 07/10/2001, Caderno C).
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No Rio de Janeiro, pesquisa do Sindicato dos Bancários entre os seus 32 mil associados revelou
que praticamente 45% da categoria tinha sintomas da doença, ou seja, cerca de 14 mil trabalhadores
(Jornal do Brasil, 25/03/01).
14
associada aos casos têm demonstrado a pouca eficácia dos tratamentos isolados,
portanto, é um campo rico de estudo para os Enfermeiros, uma vez que pela
observação cotidiana e o fato de sempre lidarem com trabalhadores pode aguçar a
curiosidade e o desejo de pesquisar mais sobre os quadros clínicos das LER/DORT.
como físico. Acredita-se até a presente data que um ruído de 80 dB não provoque
surdez para a maioria dos indivíduos, desde que a duração da exposição diária não
exceda a 16 horas. Entretanto, um ruído de 92 dB (A) pode causar surdez
profissional ao longo do tempo, se a exposição do trabalhador exceder a três horas
por dia (GANIME, 1993).
A ideia de que o ruído é um problema exclusivo do trabalhador leva a não
valorização do tempo e capital investidos na produção. A empresa deve entender
que dar atenção ao ruído significa mais do que “cumprir a lei” “ou atender à
fiscalização”, pois os seus efeitos danosos podem resultar em um ônus financeiro e
doença ocupacional.
Segundo Campanhole e Campanhole (1993), há um contraponto existente no
mundo onde tanto se deseja “produtividade” e “competitividade”, causando
estranheza o fato de um administrador “não querer” encarar o ruído como inimigo
comum que afeta tanto a saúde da sua empresa como a de seu empregado. Através
de uma análise cuidadosa, ficam claras as ações que devem ser tomadas para
buscar uma melhoria de condição de trabalho e, consequentemente, um aumento na
produtividade dos trabalhadores.
níveis de ruído pode provocar danos irreversíveis à audição como a Perda Auditiva
Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevado (PAINPS). Além da alteração na
função auditiva devido à exposição ao ruído ocupacional, o ruído e a PAINPS
compromete a comunicação e a qualidade de vida dos trabalhadores.
O ruído é considerado como o agente físico nocivo à saúde mais frequente no
ambiente de trabalho, sendo caracterizado como o fator de maior prevalência das
origens de doenças ocupacionais (PADOVANI et al, 2004). A PAINPS, por sua vez,
é a segunda maior causa de perda auditiva no homem, além de ser a mais frequente
das doenças ocupacionais (MANUBENS, 2001).
De acordo com o Ministério do Trabalho (artigo 168 da Consolidação das Leis
do Trabalho, na NR 7) (3) e Portaria SSST/MTb nº 5, publicada em 25 de fevereiro
de 1997, foram estabelecidos diretrizes e parâmetros mínimos para a avaliação e o
acompanhamento da audição dos trabalhadores expostos a níveis de pressão
sonora elevados. Definiram a PAINPS como perda auditiva gerada por níveis de
pressão sonora elevados, com alterações dos limiares auditivos, do tipo
neurossensorial, decorrente da exposição ao ruído ocupacional, apresentando como
características principais à irreversibilidade e a progressão gradual com o tempo de
exposição ao risco. Gatto et al (2005) definiram a PAINPS como uma patologia
cumulativa e insidiosa, que progride ao longo dos anos de exposição ao ruído
associado ao ambiente de trabalho.
Os sinais iniciais da PAINPS mostram o acometimento dos limiares auditivos
em uma ou mais frequências entre faixa de 3000 a 6000 Hz. De acordo com Hanger,
Barbosa-Branco (2004), as frequências mais altas e mais baixas poderão levar
maior tempo para serem comprometidas.
Alguns estudos verificaram que a frequência de 6000 Hz é a mais acometida
nas audiometrias sugestivas de PAINPS (RUGGIERI et al 1991; CORRÊA FILHO et
al, 2002), enquanto outros estudos, referiram que a frequência de 4000 Hz é a mais
comprometida nos estágios iniciais (KÓS; KÓS, 1998; ARAÚJO, 2002).
Além da perda auditiva, o zumbido é uma queixa comum em profissionais que
atuam em ambientes ruidosos, com níveis de 85 dB NPS ou maiores e sua
prevalência aumenta de acordo com a evolução do dano auditivo.
Considerando que a PAINPS é uma doença passível de prevenção e sua
prevalência ainda é alta no meio de trabalho, e esta perda da audição pode
prejudicar a qualidade de vida afetando as relações sociais, de comunicação e de
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e) Psíquico
Há queixas de irritabilidade, fadiga e mal-ajustamento incluindo também
conflitos sociais entre os trabalhadores expostos ao ruído. Evidências reais de
alterações psíquicas causadas pelo barulho ainda carecem de estudos mais
detalhados e prolongados.
Há alterações no estado de ânimo, modéstia e afetividade, dado que o
trabalhador deverá aumentar seu nível de concentração, aumentando a fadiga
(GANIME et al, 2010).
f) Comunicação
Sabe-se que a comunicação é uma das principais ferramentas para se ter
êxito na realização do trabalho em variados locais, a eficácia de uma boa
comunicação está intimamente ligada ao sucesso na execução do trabalho. Dentre
as variadas formas de comunicação encontramos a oral, a qual tem sido uma das
mais afetadas com a exposição excessiva ao ruído.
Um dos efeitos do ruído é a sua influência sobre a comunicação oral. O
barulho intenso provoca o mascaramento da voz. Os sons nas frequências de 500,
1000 e 2000 Hz são os que mais interferem na comunicação. Este tipo de
interferência atrapalha a execução ou o entendimento de ordens verbais, a emissão
de aviso de alerta ou perigo.
Paralelamente, o ruído pode diminuir a eficiência das comunicações pela
conversação, telefone, rádio, etc. Sabe-se também que o número de acidentes na
indústria aumenta com nível de ruído, justamente pela diminuição da eficiência nas
comunicações (GANIME et al, 2010).
A associação entre exposição ao ruído e perda auditiva ocupacional tem sido
descrita há mais de um século, porém, somente a partir da década de 1960,
pesquisadores mostraram preocupação com os efeitos da música sobre a audição.
Segundo Maia e Russo (2008), no caso dos músicos, por exemplo, o risco de
perda auditiva não existe somente após longa exposição à música amplificada.
Curtas exposições a níveis sonoros excessivamente elevados, como em concertos
de rock, também podem causar perda auditiva e zumbido.
transtornos dos nervos olfatórios ou das vias olfatórias centrais (DELLA GIUSTINA,
et al, 2004).
Fatores de risco – para as hiposmias de condução, são fatores
predisponentes as rinossinusites crônicas, poliposes, presença de corpos estranhos,
tumores, deformidades e desvios nasais, assim como o uso continuado de
medicação tópica nasal. Para as disosmias, em geral, podem ser apontados como
fatores causais os distúrbios neurológicos, psicológicos, hormonais, infecciosos,
neurovegetativos, tumorais, renais e as sequelas de traumas.
Segundo Bagatin e Costa (2006), a literatura disponível é escassa para os
agentes ocupacionais geradores de anosmias, citando apenas alguns: cádmio e
compostos, presentes em galvanoplastias, fundição de ligas metálicas, soldas,
fabricação de acumuladores e outros locais; hidrocarbonetos alifáticos, em
solventes, desengraxadores, produtos de limpeza, fabricação de eletroeletrônicos,
tintas, vernizes, adesivos e produtos petroquímicos; sulfeto de hidrogênio, nas
indústrias metalúrgica, química e de fertilizantes; cimento, na fabricação e
construção civil; ácido sulfúrico e amônia, nas indústrias químicas e de fertilizantes;
formaldeído, em indústrias têxteis, embalsamadores, madeireiras e na fabricação de
desinfetantes, corantes, tintas, germicidas e móveis; dissulfeto de carbono em
indústrias têxteis, na fabricação de solventes, parasiticidas, vernizes, resinas e
outros produtos; acrilatos, nas indústrias têxteis e de tintas; radiações ionizantes,
presentes nas extrações, fabricação de reatores, laboratórios e indústrias; chumbo;
cromo; níquel; zinco e outros.
3
John Snow identificou o local de moradia de cada pessoa que morreu por cólera em Londres entre
1848-49 e 1853-54 e notou uma evidente associação entre a origem da água utilizada para beber e
as mortes ocorridas. A partir disso, Snow comparou o número de óbitos por cólera em áreas
abastecidas por diferentes companhias e verificou que a taxa de mortes foi mais alta entre as
pessoas que consumiam água fornecida pela companhia Southwark. Baseado nessa sua
investigação, Snow construiu a teoria sobre a transmissão das doenças infecciosas em geral e
sugeriu que a cólera era disseminada através da água contaminada. Dessa forma, foi capaz de
propor melhorias no suprimento de água, mesmo antes da descoberta do micro-organismo causador
da cólera; além disso, sua pesquisa teve impacto direto sobre as políticas públicas de saúde.
O trabalho de Snow relembra que medidas de saúde pública, tais como melhorias no abastecimento
de água e saneamento, têm trazido enormes contribuições para a saúde das populações. Ficou ainda
demonstrado que, desde 1850, estudos epidemiológicos têm identificado medidas apropriadas a
serem adotadas em saúde pública. Entretanto, epidemias de cólera são ainda frequentes nas
populações pobres, especialmente em países em desenvolvimento. Em 2006, houve em Angola 40
mil casos de cólera com 1.600 óbitos, enquanto no Sudão foram 13.852 casos e 516 mortes, somente
nos primeiros meses do mesmo ano.
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Multicausalidade
Nos estudos epidemiológicos sobre fatores ambientais, as exposições são
frequentemente analisadas de forma isolada. Entretanto, é importante ter em mente
que existem inúmeros mecanismos através dos quais as exposições ambientais
podem influenciar o efeito de outras exposições. Multicausalidade e uma clara
hierarquia das causas são, com frequência, evidentes; isto pode explicar diferenças
entre os resultados de estudos epidemiológicos conduzidos em diferentes locais. A
forma como uma exposição ambiental afeta um indivíduo pode também depender da
exposição a outros fatores de risco e características individuais, tais como:
Idade e sexo;
Fatores genéticos;
Presença de doença;
Nutrição;
Personalidade;
Condicionamento físico.
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Exposição e dose
Os estudos epidemiológicos sobre o efeito de fatores ambientais,
frequentemente, lidam com fatores específicos que podem ser medidos
quantitativamente. Os conceitos de exposição e dose são particularmente
importantes na epidemiologia ambiental e ocupacional.
A exposição possui duas dimensões: nível e duração. Para fatores ambientais
que causam efeitos agudos, mais ou menos imediatamente após o início da
exposição, o nível atual da exposição irá determinar se o efeito vai ocorrer ou não.
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Monitoração biológica
Se o fator ambiental em estudo é um agente químico, o nível de exposição e
a dose podem ser estimados, às vezes, através da medida da sua concentração em
fluídos orgânicos ou nos tecidos. Essa abordagem é chamada de monitoração
biológica. Geralmente, utiliza-se a urina e o sangue para essa monitoração, mas
para certos agentes químicos, outros tecidos e fluídos podem ser de particular
interesse: o cabelo é muito útil para o estudo da exposição ao metilmercúrio, através
do consumo de pescados; a unha tem sido usada para estudar a exposição ao
arsênico; a análise de fezes pode dar uma estimativa da exposição recente a metais
através da alimentação (particularmente chumbo e cádmio); o leite materno é um
bom material para estudar a exposição a inseticidas organoclorados e outros
hidrocarbonetos clorados, tais como, difenil policlorado e dioxinas; e biópsias de
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tecido adiposo, ossos, pulmão, fígado e rim podem ser usadas no estudo de
pacientes com suspeita de envenenamento.
Vigilância Epidemiológica
O objetivo primordial de se instituir sistemas de vigilância epidemiológica em
Saúde Pública é garantir o correto monitoramento das doenças.
Vigilância epidemiológica pode ser definida como um sistema contínuo de
coleta sistemática, análise e disseminação dos dados. Desta maneira morbidade e
mortalidade podem ser reduzidas, melhorando-se as condições de saúde da
população (BAGATIN; ANTÃO; PINHEIRO, 2006).
Os resultados gerados pela vigilância epidemiológica podem ser úteis para
orientar ações imediatas em casos que tenham extrema importância em termos de
saúde pública – por exemplo, os casos de síndrome respiratória aguda grave
(SARS) que ocorreram recentemente na Ásia e no Canadá – mensurar a
importância das doenças, estudar fatores de risco e populações expostas, avaliar
ações que estão sendo implementadas facilitando a alocação de recursos de forma
eficaz, identificar a necessidade de implementação de novos programas e avaliar o
desempenho dos já existentes.
Para que esses programas sejam eficazes é necessária estrita colaboração
entre pneumologistas e profissionais de saúde pública. Diversos elementos são
essenciais para o funcionamento de proconsiderados na elaboração desses
programas: profissionais qualificados, armazenamento dos dados, controle de
qualidade e manutenção confidencial dos dados.
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UNIDADE 7 – TOXICOLOGIA
Monitoramento terapêutico
(determinação de Ecotoxicologia:
fármacos em material efeitos nocivos aos
biológico; correções de organismos de um
doses; efeitos adversos); ecossistema (testes
Monitoramento biológico em algas, bactérias,
(exposições dafnias, abelhas,
minhocas, peixes,
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ocupacionais); etc.).
Controle antidopagem
(competições esportivas);
Diagnóstico de
intoxicações agudas ou
crônicas;
Controle da
farmacodependência
(drogas psicoativas).
Toxicidade
É a capacidade, inerente a um agente químico, de produzir danos aos
organismos vivos, em condições padronizadas de uso. Uma substância muito tóxica
causará dano a um organismo se for administrada em quantidades muito pequenas,
enquanto que uma substância de baixa toxicidade somente produzirá efeito quando
a quantidade administrada for muito grande.
O conhecimento da toxicidade das substâncias químicas se obtém através de
experimentos em laboratório utilizando animais. Os métodos são empregados com
todo rigor científico com a finalidade de fornecer informações relativas aos efeitos
tóxicos e principalmente para avaliar riscos que podem ser extrapolados ao homem.
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Intoxicação
É um conjunto de efeitos nocivos representado pelos sinais e sintomas que
revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação do agente químico com o
sistema biológico. Corresponde ao estado patológico provocado pelo agente tóxico,
em decorrência de sua interação com o organismo.
Logicamente, o efeito tóxico só será produzido, se a interação com o receptor
biológico apropriado ocorrer em dose e tempo suficientes para quebrar a
homeostasia do organismo. Existem, então, na grande maioria das vezes, uma série
de processos envolvidos, desde o contato do agente tóxico com o organismo, até o
sintoma clínico que revela esta interação. Isto permite dividir a intoxicação em 4
fases distintas, a saber:
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EFEITO TÓXICO
São os efeitos adversos causados por substâncias químicas. Assim, todo o
efeito tóxico é indesejável e nocivo. Mas nem todos efeitos indesejáveis são tóxicos.
CLASSIFICAÇÃO DOS EFEITOS TÓXICOS
Efeito idiossincrático As reações idiossincráticas correspondem às respostas quantitativamente
anormais a certos agentes tóxicos, provocados por alterações genéticas. O
indivíduo pode ter uma resposta adversa com doses baixas (não-tóxicas)
ou então ter uma resposta extremamente intensa com doses mais
elevadas. Exemplo: sensibilidade anormal aos nitritos e outros agentes
metemoglobinizantes, devido a deficiência, de origem genética, na NADH-
metemoglobina redutase.
Efeito alérgico Reações alérgicas ou alergia química são reações adversas que ocorrem
somente após uma prévia sensibilização do organismo ao AT, ou a um
produto quimicamente semelhante.
Na primeira exposição, a substância age como um hapteno promovendo a
formação dos anticorpos, que em 2 ou 3 semanas estão em concentrações
suficientes para produzir reações alérgicas em exposições subsequentes.
Alguns autores não concordam que as alergias químicas sejam efeitos
tóxicos, já que elas não obedecem ou apresentam uma relação
dose/resposta (elas não são dose dependente). Entretanto, como a alergia
química é um efeito indesejável e adverso ao organismo, pode ser
reconhecido como efeito tóxico.
Efeito imediato, Efeitos Imediatos ou agudos são aqueles que aparecem imediatamente
crônico e retardado após uma exposição aguda, ou seja, exposição única ou que ocorre, no
máximo, em 24 horas. Em geral são efeitos intensamente graves.
Efeitos crônicos são aqueles resultantes de uma exposição crônica, ou
seja, exposição a pequenas doses, durante vários meses ou anos. O efeito
crônico pode advir de dois mecanismos:
(a) Somatória ou Acúmulo do Agente Tóxico no Organismo: a velocidade
de eliminação é menor que a de absorção, assim, ao longo da exposição o
AT vai sendo somado no organismo, até alcançar um nível tóxico.
(b) Somatória de Efeitos: ocorre quando o dano causado é irreversível e,
portanto, vai sendo aumentado a cada exposição, até atingir um nível
detectável; ou, então, quando o dano é reversível, mas o tempo entre cada
exposição é insuficiente para que o organismo se recupere totalmente.
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Efeitos locais e O efeito local refere-se àquele que ocorre no local do primeiro contato entre
sistêmicos o AT e o organismo. Já o sistêmico exige uma absorção e distribuição da
substância, de modo a atingir o sítio de ação, onde se encontra o receptor
biológico. Existem substâncias que apresentam os dois tipos de efeitos.
(ex.: Benzeno, chumbo tetraetila, etc.).
Efeitos resultantes da O termo interação entre substâncias químicas é utilizado todas as vezes
interação de agentes em que uma substância altera o efeito de outra. A interação pode ocorrer
químicos durante a fase de exposição, toxicocinética ou toxicodinâmica. Como
consequência destas interações podem resultar diferentes tipos de efeitos:
Adição: É aquele produzido quando o efeito final de 2 ou mais agentes é
quantitativamente, é igual à soma dos efeitos produzidos individualmente.
Ex.: Chumbo e arsênio atuando a nível da biossíntese do heme (aumento
da excreção urinária da coproporfirina).
Sinergismo: Ocorre quando o efeito de 2 ou mais agentes químicos
combinados, é maior do que a soma dos efeitos individuais.
Ex.: A hepatotoxicidade, resultante da interação entre tetracloreto de
carbono e álcool é muito maior do que aquela produzida pela soma das
duas ações em separado, uma vez que o etanol inibi a biotransformação do
solvente clorado.
Potenciação: Ocorre quando um agente tóxico tem seu efeito aumentado
por atuar simultaneamente, com um agente “não tóxico”.
Ex.: O isopropanol, que não é hepatotóxico, aumenta excessivamente a
hepatotoxicidade do tetracloreto de carbono.
Antagonismo: Ocorre quando dois agentes químicos interferem um com a
ação do outro, diminuindo o efeito final. É, geralmente, um efeito desejável
em toxicologia, já que o dano resultante (se houver) é menor que aquele
causado pelas substâncias separadamente. Existem vários tipos de
antagonismo:
(a) Antagonismo químico (também chamado neutralização) – ocorre
quando o antagonista reage quimicamente com o agonista, inativando-o.
Este tipo de antagonismo tem um papel muito importante no tratamento
das intoxicações. Ex.: Agentes quelantes como o EDTA, BAL e
penicilamina, que sequestram metais (As, Hg, Pb, etc.) Diminuindo suas
ações tóxicas.
(b) Antagonismo funcional – ocorre quando dois agentes produzem efeitos
contrários em um mesmo sistema biológico atuando em receptores
diferentes. Ex.: Barbitúricos que diminuem a pressão sanguínea,
interagindo com a norepinefrina, que produz hipertensão.
(c) Antagonismo não-competitivo, metabólico ou farmacocinético – é
quando um fármaco altera a cinética do outro no organismo, de modo que
menos AT alcance o sítio de ação ou permaneça menos tempo agindo. Ex.:
Bicarbonato de sódio que aumenta a secreção urinária dos barbitúricos;
fenobarbital que aumenta a biotransformação do tolueno, diminuindo sua
ação tóxica.
(d) Antagonismo competitivo, não-metabólico ou farmacodinâmico – ocorre
quando os dois fármacos atuam sobre o mesmo receptor biológico, um
antagonizando o efeito do outro. São os chamados bloqueadores e este
conceito é usado, com vantagens, no tratamento clínico das intoxicações.
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Toxicologia Ocupacional
Segundo Nascimento (2008), Toxicologia Ocupacional é a área da toxicologia
aplicada aos princípios e métodos para identificação, gestão e controle dos
compostos químicos no ambiente de trabalho, visando o uso adequado e seguro de
agentes químicos, que ofereça um ambiente salubre ao trabalhador. Esta área tem
por objeto de estudo o trabalhador, enquanto a Higiene Ocupacional, com a qual se
complementa, estuda os ambientes ocupacionais.
Para fins de prevenção e retorno à atividade ocupacional quando acometido
por alguma intoxicação ou qualquer doença ocupacional é de fundamental
importância a caracterização da doença como profissional ou do trabalho, embora,
para o diagnóstico e tratamento, esta relação causal não tem influência na
abordagem terapêutica e nem no prognóstico.
Nem sempre é fácil estabelecer o nexo causal entre a exposição ocupacional
e o aparecimento de agravos à saúde, portanto, ao Enfermeiro cabe monitorar
ambiente/trabalhadores junto com a equipe de profissionais que atua nesta área.
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Deve-se ter sempre uma ideia bem clara do que se vai fazer, para não expor
desnecessariamente o acidentado, verificando se há ferimento com o cuidado de
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REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS BÁSICAS
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
RAFIEE S; ERICKSON T. Arsênio. In: Ling LJ, Clark RF, Erickson TB, Trestail III JH,
editors. Segredos em toxicologia: perguntas e respostas necessárias ao dia-a-dia
em rounds, no Serviço de Emergência, em exames orais e escritos. Rio Grande do
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