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Que soluções para o tratamento dos Resíduos Sólidos

Industriais?
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa
Departamento de EngªQuímica
R. Conselheiro Emídio Navarro, 1900 Lisboa
jpuna@deq.isel.pt

I – RESUMO:

Esta pequena apresentação pretende focar, em especial, sem se esquecer da vastidão e complexidade deste
actual e premente problema que é a gestão e tratamento dos resíduos sólidos industriais (RSI), os resíduos
que apresentam uma perigosidade ecológica e sanitária elevada para o ecossistema envolvente: OS
RESÍDUOS INDUSTRIAIS PERIGOSOS (RIP). Estes resíduos carecem de um tratamento especial
adequado, com recurso a tecnologias não poluentes e eficazes do ponto de vista ambiental, mas também
económico e social. Temos de saber conviver com estes resíduos, mas principalmente, temos de os saber
tratar e de os controlar correctamente, tanto quanto nos for possível, para que deles não resultem, directa
ou indirectamente, impactes negativos significativos que se traduzam em prejuízos incontroláveis e
irreversíveis para o nosso planeta.

II – INTRODUÇÃO:

Foi sobretudo após a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Rio
de Janeiro, 1992) que o conceito de desenvolvimento sustentável passou a ser amplamente utilizado a nível
mundial. Assenta, entre outros aspectos, na integração das preocupações ambientais, nas decisões
económicas sectoriais e é consequência de uma consciencialização cada vez maior da necessidade de alterar
os comportamentos e actividades humanas quanto à utilização dos recursos naturais, de modo a que se possa
atingir um equilíbrio que não comprometa o desenvolvimento das gerações futuras.

Paralelamente foi-se constatando a existência de um interesse crescente, por parte de um grande número de
países, na avaliação do desempenho e implementação das políticas nacionais de ambiente e de
desenvolvimento sustentável, de modo a medir da melhor forma o cumprimento das exigências e metas que,
quer a nível da comunidade nacional, quer internacional, se vão estabelecendo, procurando conjugar
ambiente, economia e aspectos sociais.
O tratamento dos resíduos é um dos pilares de actuação do desenvolvimento sustentável e o seu urgente
tratamento afigurasse-nos como primordial para toda a comunidade, nomeadamente, para quem os produz e
para quem sofre os impactes ambientais negativos do seu não tratamento. O artigo 5º do Decreto - Lei
Quadro da gestão dos resíduos em Portugal (DL n.º 239/97 de 09/09), determina a elaboração de cinco
planos de gestão de resíduos, um nacional e quatro sectoriais para cada uma das categorias de resíduos
identificadas[4],[10]:
Ø RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (RSU);
Ø RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS (RSI);
Ø RESÍDUOS SÓLIDOS HOSPITALARES (RSH);
Ø RESÍDUOS AGRÍCOLAS (RA).

Foi já elaborado em Portugal um Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU), publicado em
Julho de 1997 pelo Instituto Nacional de Resíduos, um Plano Estratégico de Resíduos Hospitalares (PERH),
um Plano Estratégico de Gestão dos Resíduos Sólidos Industriais (PESGRI), legislado pelo DL n.º 516/99 de
02/12[7], os quais têm fomentado a maioria das acções de gestão de resíduos levadas a cabo um pouco por
todo o país nos últimos anos[4]. Foi ainda elaborado, no âmbito dos resíduos sólidos industriais (RSI), o
Plano Nacional de Prevenção de Resíduos Industriais (PNAPRI) para o período 2000-2015 o qual tem como
objectivo principal a redução da perigosidade e da quantidade de RSI produzidos através da sua prevenção
(incluindo valorização interna)[5]. A produção de resíduos é um dos mais graves e incontornáveis problemas
das sociedades modernas e, no caso específico dos RSU, esse problema agrava-se com a densidade em áreas
metropolitanas como as da Grande Lisboa ou do Grande Porto, não só pela correlação entre o poder
económico dos cidadãos e a produção de resíduos, mas também pelas carências de espaço para tratar,
valorizar, ou tão só depositar os resíduos produzidos[12].

Há que ter em conta, claramente, o seguinte: todas as actividades, nomeadamente as industriais, são
geradoras de poluição, mais concretamente, de resíduos. Estes resíduos poderão ser gasosos (emissões
atmosféricas), líquidos (efluentes) e sólidos (lixo), sendo estes últimos os mais complexos de serem geridos e
tratados. Não existem tecnologias 100% limpas e eficazes. Todos nós somos poluidores, por isso, todos nós
temos que tratar os resíduos produzidos. Ninguém pode e deve invocar ausência de culpa na degradação do
estado actual do Ambiente.

A diversidade de composição dos resíduos e a disparidade do seu comportamento ambiental, obrigam a


considerar a sua gestão global como uma operação complexa, exigindo uma diversidade, cada vez maior, de
soluções e de tecnologias, que se têm de complementar de forma racional e harmónica. Sabendo que o
“melhor resíduo” é o que não chegou a ser formado, que “é melhor valorizar do que tratar” e que “a
reutilização e a reciclagem são destinos preferíveis melhores do que quaisquer outros para os resíduos”,
importa estar atento também às tecnologias emergentes de tratamento de resíduos que, um pouco por todo o
lado, nos são propostas. Na realidade, muitas dessas tecnologias não são, de facto, novas. Foram apenas
modificadas e/ou eventualmente adaptadas e completadas, face às novas realidades.

O que importa será poder garantir, que em todos os casos e em todos os locais, os resíduos formados gerarão
impactes tão reduzidos quanto possível e que a sua valorização máxima foi também conseguida. Importará,
acima de tudo, minimizar a sua produção a montante e maximizar a sua capacidade de coexistência com o
meio ambiente sem o deteriorar. Certamente, que isso não será fácil mas, dentro de certos limites, terá de ser,
e é, possível[6].

III – RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS (RSI):

III.1 – ESTRATÉGIA DE RSI:

O DL n.º 239/97 de 09/09[8], que estabelece as regras a que fica sujeita a gestão de resíduos, veio:

Ø Reafirmar o princípio da responsabilidade do produtor e distribuir as responsabilidades na gestão de


resíduos;
Ø Reforçar os poderes de intervenção do Ministério do Ambiente, fazendo depender da sua autorização
prévia a generalidade das operações de gestão de resíduos, incluindo as que se integrem em actividades
industriais devidamente licenciadas;
Ø Reformular as referências aos instrumentos de planeamento da política de gestão de resíduos,
desfazendo-se algumas dúvidas e ambiguidades sobre competência nesta matéria;
Ø Proibir determinadas práticas de gestão de resíduos, como o seu abandono e o seu transporte,
armazenamento, valorização ou eliminação em unidades não licenciadas e/ou autorizadas, bem como a
sua incineração no mar ou injecção no solo;
Ø Consagra uma nova classe de resíduos, os “outros resíduos” permitindo evitar dúvidas quanto ao seu
enquadramento legislativo.

Por sua vez, a Portaria n.º 818/97 de 05/09[9], aprova:

Ø A lista harmonizada que abrange todos os resíduos, designada por Catálogo Europeu de Resíduos
(CER);
Ø A lista de resíduos perigosos;
Ø A lista das características de perigo atribuíveis aos resíduos.
III.2 - PRINCÍPIOS NA ESTRATÉGIA DE GESTÃO DE RSI:

PRODUÇÃO DE Caracterização laboratorial Classificação:


- inerte
RESÍDUOS Selecção da solução de gestão - - não perigoso
- perigoso (RIP)

TRANSPORTE

Tratamento e deposição: Valorização: Comercialização:


Ø Subprodutos
Ø Físicos, químicos e biológicos; Ø Óleos;
Ø Incineração; Ø Solventes;
Ø Pirólise por plasma com vitrificação; Ø Metais, plásticos;
Ø Deposição controlada (aterros); Ø Bidões e outros.
Ø Estabilização.

Figura 1. Metodologia a aplicar na gestão dos RSI.

III.3 – POLÍTICA DOS 3 R’s:

Quando se trata um problema de controlo de resíduos é necessário que essa abordagem siga a seguinte
hierarquia, constante do princípio dos 3 R’s[2],[7]:

Ø Em primeiro lugar é necessário verificar se não será possível evitar a produção do resíduo, por
exemplo, utilizando produtos fabricados de forma diferente, ou prolongando o tempo de vida útil do
produto ⇒ REDUÇÃO;

Ø Em segundo lugar é necessário verificar se não é possível reutilizar esse resíduo no processo, para a
obtenção de um produto idêntico ⇒ REUTILIZAÇÃO;

Ø Finalmente, quando não é possível aproveitar grande parte do valor do resíduo, tenta-se a terceira
alternativa que é dar uma outra utilização a esse resíduo ⇒ RECICLAGEM.
REDUÇÃO

REUTILIZAÇÃO

RECICLAGEM

Figura 2: Pirâmide de hierarquização do princípio dos 3 R’s.

Em relação a esta hierarquia, diga-se que na prática, só para o terceiro R é que existem política concretas,
planos e incentivos. Para a implementação do princípio da redução e para o da reutilização pouco mais se
tem feito do que uma vaga campanha moral, com efeitos bastante reduzidos[2]. Em 1999, foram estimados
cerca de 30.000 toneladas para reciclagem ou regeneração[4].

É muito importante reduzir os Resíduos Industriais (RI) na sua origem, principalmente os perigosos e
incentivar politicamente a reutilização.

Para os resíduos que não consigam se enquadrar nestas 3 etapas, não resta outra alternativa senão a adopção
do método adequado de tratamento e destino final.

É É
RESÍDUOS possível não possível não

aplicar os tratá-los?
3 R’s? Deposição

sim sim Exportação

Métodos de redução/ Métodos de


reutilização/reciclagem tratamento

Figura 3. Fluxograma que caracteriza a análise a ser efectuada a qualquer tipo de resíduo.
III.4 – MAPAS DE REGISTO DE RSI:

A Portaria n.º 792/98 de 22/09 determina que cada produtor de resíduos industriais deve obrigatoriamente
preencher o mapa de registo de RSI, identificando-os de acordo com o Catálogo Europeu de Resíduos
(CER). É de acordo com estes mapas que se faz a avaliação dos quantitativos de RSI, perigosos e não
perigosos, produzidos em Portugal. No entanto, o n.º de empresas declarantes encontra-se ainda distante do
universo dos estabelecimentos existentes. Assim, segundo dados da Direcção Geral do Ambiente (DGA),
em 1998, de um total de 273161 estabelecimentos industriais, obtiveram-se respostas de 3000
empresas. No entanto, os quantitativos de resíduos declarados correspondem a cerca de 85% da
produção nacional, uma vez que a maioria dos registos declarados se reportam a empresas de dimensão
significativa e com uma boa % de produção nacional de RI, principalmente de RIP[4]. Infelizmente, não está
disponível em [5] o n.º de respostas dos estabelecimentos industriais que indicaram ao Ministério do
Ambiente e Recursos Naturais, em 1999 e em 2000, os seus quantitativos de resíduos produzidos.

III.5 – PRODUÇÃO DE RSI:

Com base nos mapas de registo de RSI, obteve-se uma produção de pouco mais de 20 milhões de toneladas
anuais de RSI em 1998, com decréscimo em 1999 e, repartida do seguinte modo:

Tabela 1: Produção dos vários tipos de RSI e o seu total, em 1998[11] e 1999[5].
Produção de RSI Toneladas (1998) Toneladas (1999) (*)
RESÍDUOS INDUSTRIAIS BANAIS (RIB) 20.283.039 17.349.000
RESÍDUOS INDUSTRIAIS PERIGOSOS (RIP) 262.875 151.000
TOTAL DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS 20.545.914 17.500.000
(*) – valores aproximados

Em %, o montante de RIP corresponde a cerca de 1.3% do total, valor que se acha na linha do verificado em
países da União Europeia semelhantes, em nível de desenvolvimento, a Portugal. A diversidade da natureza
dos RIP e as múltiplas soluções específicas disponíveis fazem com que apenas uma proporção limitada do
quantitativo total, no estado actual de desenvolvimento e conhecimento, tenha como meio de tratamento a
incineração. Em Portugal, a % de RIP incineráveis é de 12.6%. A média europeia situava-se em 1998
nos 12.5% (PESGRI 99). Estimou-se, em 1999, 74000 toneladas de incineráveis e 109000 toneladas de
RIP para tratamento físico-químico e aterro controlado[11].

III.6 – INDICADORES DE RESPOSTA:

A nova estratégia de gestão de RSI, definida na Resolução do Conselho de Ministros n.º 98/97 de 25/07,
retoma a hierarquia de princípios de gestão aprovada pela UE, designadamente a prevenção, a reciclagem, a
valorização energética e, finalmente a deposição em aterro. É indicada a co-incineração nas cimenteiras
nacionais como método preferencial de tratamento de RIP com apetência para a valorização energética e que
não sejam passíveis de regeneração/reciclagem. É colocado a cargo dos privados a construção/exploração de
aterros para resíduos industriais.

Os resíduos para os quais o tratamento térmico é actualmente a solução mais indicada são, muito
especialmente, os sólidos e lamas orgânicas provenientes de um conjunto diverso de actividades tais como:
limpeza de reservatórios de refinarias de petróleos e de certas actividades de comércio e serviços, lamas de
tintas e resinas da fabricação de produtos metálicos, resíduos oleosos, asfaltos e resíduos de fabrico oriundos
de actividades de química orgânica de base, lamas de produção de resinas, de fibras sintéticas, de indústrias
de tintas, vernizes e lacas, pesticidas inutilizados e respectivos resíduos, óleos e solventes usados não
passíveis de recuperação, lamas e resíduos das indústrias de sabões, perfumaria e resíduos de corantes da
indústria de artes gráficas[3].

II.6 – MÉTODOS DE TRATAMENTO DE RSI:

INCINERAÇÃO DEDICADA
VALORIZAÇÃO
ENERGÉTICA
MÉTODOS DE CO-INCINERAÇÃO
TRATAMENTO

TRATAMENTOS PIRÓLISE POR VITRIFICAÇÃO


FÍSICO-QUÍMICOS

Figura 4. Classificação dos métodos a aplicar no tratamento dos RSI.

INCINERAÇÃO DEDICADA:

A incineração dedicada é um método de tratamento de RSI praticamente idêntico à incineração de RSU,


realizada em instalação própria para o efeito e que consiste na destruição dos resíduos através da combustão
em massa (“Mass burning”), sendo a energia calorífica resultante recuperada e transformada em energia
eléctrica. As principais vantagens da valorização energética são:
Ø O aproveitamento da energia que é obtida pela queima dos resíduos;
Ø A redução do peso e do volume dos resíduos a enviar para aterro.
No processo de incineração propriamente dito, tem-se o seguinte:

SECAGEM DESVOLATILIZAÇÃO GASEIFICAÇÃO COMBUSTÃO


A temperatura no forno é de cerca de 1100ºC, sendo obrigatório que os gases permaneçam durante 2
segundos à temperatura de 850ºC para minimizar a formação de dioxinas. A energia térmica libertada
na combustão é aproveitada para uma caldeira com o intuito de produzir vapor para alimentar turbinas de
modo a produzir energia eléctrica. Esta produção permite rentabilizar o processo de incineração. É
fundamental o controlo do teor de oxigénio e da temperatura dos gases de combustão para assegurar
uma queima completa e eficiente dos RSI.

CO-INCINERAÇÃO EM CIMENTEIRAS:

Embora não seja ainda possível quantificar com exactidão os RIP destinados a queima, devido à margem de
incerteza na computação dos quantitativos de cada resíduo e das condições de aceitabilidade dos mesmos
para o tratamento térmico, as estimativas de RIP a queimar revelam que o problema da co-incineração é
apenas uma pequena parte da resolução dos destinos a dar aos resíduos industriais, que ascendem a mais de
20 milhões de toneladas/ano (PESGRI 99), logo, para os restantes, continua-se a aguardar uma solução, que
é igualmente urgente.

Os fornos de cimento das cimenteiras reúnem algumas características que os recomendam como possíveis
instalações para a eliminação de RIP, principalmente se esses resíduos forem combustíveis e puderem ser
destruídos por reacção com o oxigénio atmosférico. Dado o seu carácter perigoso, a queima destes resíduos
tem de ser efectuada de modo a que a sua remoção e destruição seja elevada. Basicamente, os RIP, depois de
pré-tratados por processos físicos, são introduzidos no forno de produção de clínquer (componente
intermédio no fabrico de cimento) no qual são queimados, por combustão, a alta temperatura (aprox.
1450ºC). Estas temperaturas são das mais elevadas encontradas em qualquer processo industrial. Os gases de
combustão atingem temperaturas máximas de 2000ºC no queimador principal do forno e permanecem
a temperaturas acima dos 1200ºC por períodos de 4-6 segundos. Estas condições são fundamentais
para inibir a formação de dioxinas/furanos no processo de queima. O tempo de residência dos gases a
alta temperatura é também bastante superior ao conseguido noutros processos de combustão alternativos,
como a incineração dedicada. Assim, um forno de clínquer é um local com condições óptimas para uma
queima ou destruição eficaz de qualquer resíduo orgânico que se possa oxidar/decompor com a temperatura.
Os gases saem pela chaminé com temperaturas na ordem dos (150-250)ºC. O produto final obtido por este
processo é um cimento com metais pesados fixados e incorporados na sua estrutura molecular. A energia
necessária para alimentar o forno é obtida por uma variedade de combustíveis, mas com uma larga % para o
carvão, que contém reduzidos teores de enxofre, não favorecendo a formação significativa de SO2. No
entanto, os RIP, nomeadamente os respeitantes aos óleos, solventes e lamas orgânicas, possuem altos
poderes caloríficos, o que permite que se consiga taxas de substituição de consumo de carvão por estes
resíduos até a um máximo de 40%. Normalmente, uma tonelada de clínquer produzido necessita de (1700 -
1800 ) MJ [3],[11].
PIRÓLISE RECORRENDO À FORMAÇÃO DE PLASMA, COM VITRIFICAÇÃO (PPV):

O processo de Pirólise recorrendo à formação de plasma, com vitrificação, é um processo de reacção pelo
qual, simultaneamente, os materiais orgânicos são convertidos em gases, com poder calorífico recuperável
industrialmente, e os materiais inorgânicos são fundidos, sofrendo um processo de vitrificação. Para que
estes processos possam ocorrer simultaneamente, é essencial a presença de uma fonte térmica constituída por
uma massa reduzida, mas dotada de elevada entalpia e é necessário proceder também à adição de vapor de
água. A Pirólise constitui, como é sabido, um processo de decomposição térmica, em que um determinado
material carbonáceo, sólido, é transformado em gases, líquidos e sólidos. Se a fonte de calor não for
deficiente em oxigénio, verifica-se a combustão do material carbonáceo, libertando-se uma elevada
quantidade de calor e reduzindo-se significativamente o valor calórico dos gases de Pirólise formados. Uma
fracção do material carbonáceo pode transformar-se em combustível líquido, em especial quando a
temperatura não atingir valores muito superiores a 450ºC. A temperatura de Pirólise, a taxa de aquecimento
aplicada e a composição do material sujeito ao tratamento, determinarão, conjuntamente, a constituição do
gás de Pirólise no processo[1].

Se, pelo contrário, a Pirólise for efectuada recorrendo à formação do estado de plasma (gás ionizado), ou
seja, em condições elevadas de temperatura e pressão, a fase líquida é eliminada e é obtida apenas uma fase
gasosa (gás de Pirólise) e uma fase sólida (cinzas que são depositadas no fundo do reactor). De acordo com
as situações anteriores, qualquer produto (incluindo resíduos), contendo composto orgânicos, é
conversível em gases de Pirólise e numa mistura de metais e de vidro refractário, pela chama de gases
ionizados, cuja temperatura atinge valores entre 4000 a 7000ºC. Durante a Pirólise, as elevadas
temperaturas do plasma incandescente, conduzem à destruição das moléculas mais complexas
presentes, nomeadamente, de dioxinas e furanos. Por outro lado, ocorre formação de cinzas que podem
ser fundidas conjuntamente e se depositarem no reactor. Quando a temperatura é optimizada e é feita uma
injecção de vapor de água na zona de temperatura mais elevada, os compostos formados, a partir do material
carbonáceo dos RIP serão, Metano, Monóxido de Carbono, Hidrogénio, Dióxido de Carbono e água. Neste
caso, é eliminada a formação de hidrocarbonetos líquidos, bem como as macromoléculas que se formam nos
processos de incineração, resultantes do processo de combustão e designados por produtos de combustão
incompleta (PIC’s) dos quais se destacam as dioxinas, os furanos, os PCB’s, etc.[1],[6].

ALGUNS DADOS OBTIDOS DESTE MÉTODO TESTADO NO TRATAMENTO DE RSU[6]:

Ø A produção de gases representou uma recuperação calórica da ordem dos 10,51 MJ/Nm3;
Ø Redução significativa do volume de resíduos e do seu peso;
Ø Rendimento na ordem dos 612 kWh por tonelada de RSU tratada.
Há nesta altura que chamar a atenção para os seguintes pontos:

a) Os produtos orgânicos presentes são destruídos e oxidados a formas de valência máxima e de


perigosidade mínima;
b) Os gases residuais podem ser utilizados para fins de valorização energética, economicamente
interessantes e/ou, submetidos tratamentos de depuração de eficiência reconhecida;
c) Os resíduos sólidos remanescentes apresentam-se vitrificados tendo sido verificada a sua muito reduzida
lixiviabilidade, cujo depósito em aterro parece viável;
d) Não são produzidas macromoléculas tóxicas;
e) O reduzido volume de ar utilizado (5% do consumido normalmente na incineração).

TRATAMENTOS FÍSICO-QUIMICOS:

Uma significativa % de RSI, com mais incidência nos perigosos, é actualmente tratada por vários métodos
físico-químicos, consoante a natureza dos resíduos a serem tratados. Existem um conjunto de reacções
químicas em que se baseiam correntemente o tratamento químico, que incluem, por exemplo, processos de
oxidação por ozono (O3), H2O2, Cl2, O2, NaOCl, entre outros, processos de redução com SO2, sulfato ferroso,
sulfitos, tiossulfatos ou NaBH4, neutralizações por adição de ácidos ou bases, precipitações, etc.

IV – CONCLUSÕES FINAIS:

ü Aquando da abordagem do sistema de gestão de Resíduos Sólidos Industriais, embora o mesmo


princípio se aplique a qualquer outro tipo de resíduos, em primeiro lugar deve-se aplicar a política dos
3R’s, segundo a hierarquia REDUZIR -> REUTILIZAR -> RECICLAR. Se o referido resíduo não
puder ser abrangido por nenhuma das premissas da política dos 3 R’s, então terá de se procurar a melhor
solução de tratamento para o mesmo, consoante os métodos e as tecnologias actualmente disponíveis.

ü De entre os meios de tratamento de incineração, a co-incineração reúne maior n.º vantagens que a
incineração dedicada, quer do ponto de vista económico, ambiental e social, mas tem, o grande
inconveniente de estar sujeita à localização das cimenteiras.

ü O sistema PPV não é totalmente inócuo (nada o é nem poderá ser), mas é, de longe, a tecnologia
significativamente menos poluente que as restantes actualmente disponíveis (incluindo os várias formas
de incineração), desde que correctamente planeada e implementada e aproveitadas as virtualidades que
lhe são inerentes.
ü O sistema PPV é um método de tratamento que pode ser aplicado a qualquer tipo de resíduos sólidos,
incluindo os perigosos que não são possíveis de serem incinerados. Permite ainda viabilizar a
valorização energética de qualquer material e simultaneamente rentabilizar a unidade através da
produção autónoma de energia eléctrica.

ü Nenhuma tecnologia é 100% limpa, mas o sistema PPV é de longe o método que menos impactes
ambientais negativos cria junto do meio envolvente, o que lhe confere uma mais-valia importante do
ponto de vista ambiental e social.

ü Sem prejuízo dos pontos anteriores, continua a ser imperativo a procura de novas soluções para o
tratamento dos resíduos sólidos, principalmente os RIP.

ü A deposição em aterros controlados deve ser sempre a última opção a ser colocada para o destino final
de qualquer resíduo. A deposição nos aterros deve somente estar confinada às cinzas volantes
inertizadas e aos resíduos sólidos remanescentes, previamente tratados, nas várias unidades de
tratamento e valorização.

V – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

[1] Beudin, V., “Plasma vitrification of Fly Ash”, Process Integration Symposium on Environmental
Technologies: Plasma Systems and Applications, Atlanta, 1995;
[2] “Estratégia de gestão de Resíduos Industriais”, Eng.º Carlos Martins, vice-presidente do Instituto dos
Resíduos, seminário sobre gestão de resíduos industriais perigosos, Março de 2001;
[3] “Co-incineração de RIP nos Fornos das Cimenteiras”, Eng.º Carlos Oliveira – Scoreco, seminário sobre
gestão de resíduos industriais perigosos, Março de 2001;
[4] “Relatório de Estado do Ambiente”, Ministério do Ambiente e Recursos Naturais, 1999;
[5] “Relatório de Estado do Ambiente”, Ministério do Ambiente e Recursos Naturais, 2000;
[6] Oliveira, Prof. Doutor José Filipe dos Santos, “O paradigma/paradoxo da valorização de resíduos: da
matéria à energia, do inútil ao essencial”, FCT/UNL, Julho de 2000;
[7] DL n.º 516/99 de 02/12 (PESGRI 99);
[8] Portaria n.º 818/97 de 05/09 (Catálogo Europeu de Resíduos);
[9] DL n.º 239/97 de 09/09;
[10] http://www.dga.min-amb.pt
[11] http://www.incineracao-online.pt
[12] http://www.valorsul.pt

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