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LEITORES NA ESCOLA
1. INTRODUÇÃO
Grandes discussões são travadas no ambiente escolar, no que diz respeito à leitura e à
formação de leitores, porque costuma-se dizer que os jovens leem pouco, o que seria uma
inverdade; haja vista que estes se dedicam em atividades no computador e que grande parte de
seu tempo é gasto com leitura. Além disso, a partir da definição de leitor da pesquisa Retratos
da Leitura no Brasil (2015), há outras questões envolvidas quando o assunto é leitura: mas por
que escolhermos Harry Potter e a pedra filosofal para pensarmos em formação de leitores?
Por figurar como um fenômeno entre os jovens como uma leitura desafiadora, pois os grossos
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Professora PDE – Licenciada em Letras Português/Inglês
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Orientadora PDE
volumes não desanimam esse público, que lê cada vez mais essas histórias, que se aproximam
de suas vivências com temas pertencentes ao contexto de cada um.
O primeiro livro rendeu um filme lançado em 2001, com uma bilheteria quase de 1
bilhão de dólares. A partir desse livro, a escritora JK Rowling saiu do anonimato e passou a
figurar na lista dos autores mais vendidos. Com sete volumes, que alcançaram 450 milhões de
cópias vendidas, sendo que, no cinema, o último filme alcançou a terceira maior bilheteria da
história (V SIPECOM, 2013).
Foi a partir dos dados da pesquisa e de nossa observação no trabalho com leitura em
sala de aula que escolhemos como objetivo desse trabalho apresentar uma proposta de
formação de leitores a partir do trabalho com Best-Sellers, a começar pela leitura e discussão
da obra Harry Potter e a pedra filosofal, de J. K. Rowling. Dentre as obras destacadas como
preferidas entre os jovens estudantes, escolhemos Harry Potter e a pedra filosofal, por figurar
como um fenômeno entre os jovens e por se tratar de uma leitura desafiadora, como adiante
buscaremos demonstrar. Nessa saga composta por sete livros, os grossos volumes não
desanimam o público leitor, que lê cada vez mais, formando comunidades de leitura.
Mesmo considerada marginalizada dentro da escola e do ambiente acadêmico, a
literatura de massa continua a incentivar a formação de leitores, pois figura entre adolescentes
e jovens como leitura prazerosa e bem aceita. Sendo assim, a escola não deve ignorá-la, pelo
contrário, deve usá-la como forma de incentivar a leitura em sala de aula, uma vez que esta
leitura faz parte da vida de muitos, fora da escola. Mas, afinal, o que é Literatura de Massa?
Literatura de massa nada mais é do que a produção literária que agrada a um público
significativo, uma literatura que vende bem, por isso, um dos grandes representantes da
Literatura de massa é o best-seller. Nesse contexto, portanto, a obra que escolhemos para
iniciar nosso trabalho com a formação de leitores, Harry Potter e a pedra filosofal, faz parte
do grande grupo denominado Literatura de Massa, já que os livros da saga venderam mais de
400 milhões exemplares em todo o mundo, sendo 3 milhões deles no Brasil. O livro mais
vendido da série foi o primeiro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, com cerca de 120 milhões.
Contudo, o conceito de Literatura de Massa não é unânime, visto que também se
questiona as posições que definem o que seja literatura propriamente dita, assunto este que
permeia as discussões teóricas e que costuma ser caracterizado no aspecto histórico. O que
interessa saber sobre esse tipo de leitura é que ele costuma cair no gosto dos jovens em idade
escolar. Além disso, segundo Paes (1990), os leitores da literatura de entretenimento, ou seja,
a literatura de massa são os futuros leitores da literatura chamada ―culta‖, sendo que esta não
pode dispensar de ter ao seu lado aquela, que seria o primeiro passo na formação do leitor. Por
isso, a escola não deve ignorar, nem menosprezar a leitura dos Best-sellers, haja vista que
estes contribuirão para que os jovens possam potencializar seu papel como leitores.
Da leitura de sagas literárias como Harry Potter, surge a formação de círculos de
discussão sobre essas obras em redes sociais, o que demonstra que não é bem verdade que o
jovem não gosta de ler ou de discutir sobre o que lê, mas talvez que não estejamos
aproveitando seu gosto literário. Por isso, não há como desprezar a leitura de obras
caracterizadas como literatura de massa, já que estas podem contribuir para que a juventude
tenha aí o início de sua formação como leitor e para que, futuramente, os chamados clássicos
possam figurar também na lista de leituras desse público.
No contexto escolar, a questão da leitura, seja do texto literário ou não literário, tem
um papel crucial, uma vez que permite ao aprendiz observar comportamentos humanos além
de seu tempo e, posteriormente, relacioná-los ao seu próprio contexto de vida.
Ao refletir sobre o que propõe a legislação estadual, constata-se que é necessário levar
em conta as vivências do aluno, incluindo aí o que ele costuma ou gosta de ler. Por causa
disso, escolhemos a obra Harry Potter e a Pedra Filosofal, de J.K. Rowlling, que será
trabalhada a partir do método recepcional, pensado pelas escritoras Bordini e Aguiar (1993),
tal como é sugerido nas DCEs.
A literatura, como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social. O entendimento
do que seja o produto literário está sujeito a modificações históricas, portanto, não pode ser
apreensível somente em sua constituição, mas em suas relações dialógicas com outros textos e
sua articulação com outros campos: o contexto de produção, a crítica literária, a linguagem, a
cultura, a história, a economia, entre outros. (DCEs, 2008, p. 57).
A escola tem papel fundamental na formação do leitor. Segundo Calvino (1994), esta
possui o dever de fornecer instrumentos para que o estudante tenha condições de fazer uma
opção, mesmo que esta ocorra fora e depois de cada escola, porque dada a ocorrência, as
leituras contribuíram para a formação de leitores. Segundo Ítalo Calvino, em seu livro Por
que ler os clássicos? (1994), as leituras da juventude são pouco profícuas pelo fato de haver
impaciência, distração e inexperiência (tanto das instruções para o uso, quanto inexperiência
de vida por parte dos jovens). Contudo, essas características não diminuem o papel formativo
da leitura para o público jovem. A leitura propicia-lhes modelos, recipientes, termos de
comparação, paradigmas de beleza e de vivências cotidianas, bem como valores, elementos
que virão a ser lembrados quando a juventude e a idade escolar se forem.
Quanto à leitura em sala de aula, o que acontece, segundo Souza (2016), é que a
maioria dos estudantes vê nas aulas de literatura uma leitura que os obriga a saber datas,
períodos literários e nomes de autores para cumprir tarefas ou avaliações escolares, fazendo
com que os jovens percam o prazer e o interesse pela leitura literária.
Segundo dados da pesquisa ―Retratos da Leitura no Brasil‖ (2015), foi possível
identificar que houve um aumento significativo no número de brasileiros que se declararam
leitores. Se, na edição anterior (2011), o índice de leitores no Brasil era de 50%, agora esse
número passou para 56%. A pesquisa apresenta como definição de leitor ―indivíduo que leu
pelo menos partes de um livro – em papel digital ou eletrônico e áudio livros, livros em braile
e apostilas escolares, excluindo-se manuais, catálogos, folhetos, revistas, gibis e jornais – nos
últimos três meses‖. Ainda segundo a pesquisa, é mais comum o hábito da leitura em pessoas
que estejam frequentando a escola, o que reforça a importância de se investir em práticas de
formação de leitores no âmbito escolar.
De acordo com Paulino (2004) a formação de leitores se dá a partir do momento em
que estes fazem a escolha de suas leituras, nas quais possam apreciar as construções e
significações verbais de cunho artístico, e que incluam essa prática em seus afazeres e
prazeres. Sendo assim, a escola deve defender práticas pedagógicas que incentivem os
educandos a buscarem cada vez mais o conhecimento por meio da leitura.
Nesse sentido, se as obras que constam entre o rol das mais lidas são preferidas pelos
estudantes, é necessário encontrar uma forma de trabalhá-las também em sala de aula,
destacando o trabalho estético que as envolve, bem como as problemáticas sociais ali
presentes. Incentivar os estudantes à leitura é uma tarefa de todo educador que, dessa forma,
deve mostrar que a experiência da leitura pode proporcionar uma viagem a novos
conhecimentos, visitas a mundos inimagináveis.
O processo de construção de sentido da leitura se realiza quando, por meio de
inferências feitas a partir de pistas linguísticas, somadas ao seu conhecimento de mundo, o
leitor consegue interpretar e construir sentido sobre o material lido, ultrapassando a visão de
leitura como mera extração de informações. Os alunos, quando leitores, terão melhores
oportunidades de entender o mundo à sua volta, serão capazes de realizar interferências, pois
o conhecimento dará essa oportunidade. Serão capazes ainda de produzir suas escritas, com
ideias claras e objetivas, fazendo-se entender em seus pensamentos e seus posicionamentos
perante a sociedade.
Percebe-se ainda que a escola não tem levado em conta a existência da leitura
diversificada, aquela praticada espontaneamente pelos alunos, aquela que está além do
contexto de sala de aula. Ao contrário, só tem se preocupado com um modelo de leitura
voltado aos clássicos, com fichamento, exercícios estruturados, com questões de levantamento
de dados sobre tais obras, uma prática enfadonha, segundo estes estudantes. Por isso, o
educando deve perceber que a leitura é um instrumento que lhes possibilitará alcançar as
competências e habilidades necessárias a uma vida mais produtiva. Neste sentido, Lajolo
(2004) complementa dizendo que:
Ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive. Se ler livros
geralmente se aprende nos bancos da escola, outras leituras se aprendem por aí, na
chamada escola da vida: a leitura independe da aprendizagem formal e se perfaz na
interação cotidiana com o mundo das coisas e dos outros (LAJOLO, 2004, p. 07).
Nas palavras da referida autora, é possível inferir que a leitura extrapola o texto e a
escola, pois, muitas vezes, na escola da vida, há histórias mais significativas à vida de cada
sujeito. Embora a leitura independa da aprendizagem formal, há uma leitura que se aprende
em sala de aula, o que permite um melhor entendimento do que se lê e, no caso da literatura
de massa, que muitos estudantes já praticam, há um caminho mais curto entre o gosto da
leitura e aprendizado efetivo dela.
Não há como despertar o gosto pela leitura nem como formar leitores sem se deparar
com algumas variáveis que interferem nessa questão, por exemplo, a falta de recursos e de
estratégias para distribuição de livros, bem como de professores e bibliotecários com
qualificação e comprometimento no processo. Por isso, o trabalho com formação de
professores pode ser ainda mais penoso. Daí que, além da formação dos professores para o
trabalho com leitura em sala de aula é importante pensar em políticas públicas para o fomento
da área nas escolas.
Mesmo sendo resultado de industrialização, não se pode negar que o best-seller cativa
e desperta interesse de leitura nos sujeitos ―fisgados‖ pelas narrativas, as quais estimulam a
imaginação desse público através de composição simples, linguagem acessível e enredo
envolvente. Por ser um campeão de vendagem, há de se refletir sobre o efeito de estratagemas
mercadológicos.
Harry Potter e a pedra Filosofal apresenta um protagonista que segue a constituição
de herói pensada por Joanne K. Rowling. Mesmo que o universo ficcional criado pela autora
seja único, ele é estruturado sobre uma sólida base de mitos e folclore, a qual é preservada
através do tempo e da distância. A narrativa utiliza pequenos detalhes de lendas e histórias já
existentes para criar uma coisa totalmente nova.
Harry Potter conquistou o público jovem por ser uma saga em que a figura do herói
(protagonista) é levada para fora do seu mundo comum, cotidiano, em direção a um mundo
especial, novo e estranho. Na história, o protagonista Harry Potter vive com os tios Dursley,
onde é mal tratado até completar seus 11 anos. É com essa idade que o jovem bruxo começa a
receber cartas da escola de Hogwarts. Na noite de seu aniversário, Harry é visitado por Hagrid
(um ser gigante que trabalha para o diretor de Hogwarts), o qual revela que Harry é filho de
bruxos e foi convidado a ingressar na escola de bruxaria. A obra é composta de dezessete
capítulos, sendo ―O menino que sobreviveu‖, ―O vidro que sumiu‖, ―As cartas de ninguém‖,
―O guardião das chaves‖, ―O Beco Diagonal‖, ―O embarque na plataforma nova e meio‖, ―O
chapéu seletor‖, ―O mestre das poções‖, ―O duelo à meia-noite‖, ‗O Dia das Bruxas‖,
―Quadribol‖, ―O Espelho de Ojesed‖, ―Nicolau Flamel‖, ―Norberto, o dragão norueguês‖, ―A
floresta proibida‖, ―No alçapão‖ e ―O homem de duas caras‖.
J.K. Rowling utilizou estudos sobre linguística, mitologia, além de aspectos históricos
culturais para dar vida a toda sua criação, conferindo a obra grande valor literário. É uma
roupagem moderna às antigas histórias de magia e feitiçaria. Daí que se trata de uma obra que
agrada ao público e que pode contribuir para o crescimento dos alunos em relação ao
entendimento da cultura ocidental que nos rodeia.
5. RELATO DE IMPLEMENTAÇÃO
Quando você gosta de um filme e sabe que ele é baseado em um livro você se
interessa por ler o livro?
O que é magia?
Enumere alguns episódios em que a magia se faça presente em Harry Potter e a pedra
filosofal.
Você acha que uma pedra filosofal que concede vida eterna a alguém seria um objeto
disputado pelos homens hoje em dia?
Após discussão sobre as questões, foi o momento de atualizar o tema, a partir de uma
matéria da Revista Super Interessante, que fala de Nicolau Flamel, um alquimista que pode ter
existido, cuja busca aparece no livro analisado.
Foi com base nos conhecimentos ocultos que Flamel conseguiu transformar
chumbo em ouro. Mais: ele registrou em seu testamento o processo – mas
escreveu tudo em código, pois queria que apenas seu sobrinho conhecesse o
segredo. O tratado só foi ―traduzido‖ em 1758, quando uma dupla de
decifradores tentou produzir ouro seguindo as instruções do alquimista. Em
vão. Aliás, se você quiser arriscar, confira o texto na Biblioteca Nacional em
Paris, onde o original está até hoje.
Depois da leitura da matéria na íntegra, pediu-se para que comentassem, por escrito,
em um texto dissertativo, por que a história da Flamel ficou tão famosa e por que é possível
tecer relações entre essa matéria e o livro lido. Depois, passou-se à análise do outro fragmento
escolhido.
[...] Ao participar das redes sociais acreditamos ter muitos amigos à nossa
volta, sermos populares, estarmos ligados a todos os acontecimentos e
participando efetivamente de tudo. Isso é uma verdade, mas também uma
ilusão, porque essas conexões são superficiais e instáveis. Os contatos se
formam e se desfazem com imensa rapidez; os vínculos estabelecidos são
voláteis e atrelados a interesses momentâneos [...]. Disponível em:
http://www.cartaeducacao.com.br/artigo/a-ilusao-dasredes-sociais/
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ISER, W. et al. A interação do texto com o leitor. In: A literatura e o leitor – textos da
estética da recepção. Trad. Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.
PAES, J. P. A aventura literária: ensaios sobre ficção e ficções. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990.
PAZ, Eliane H. Massa de qualidade. In: I Seminário Brasileiro sobre o Livro e História
Editorial, 2004, Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa. Disponível em:
http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/pdf/elianehpaz.pdf. Acesso em 20 de julho de 2016.