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O BEST-SELLER COMO FERRAMENTA PARA A FORMAÇÃO DE

LEITORES NA ESCOLA

Cláudia Andréa Rottini1


Priscila Finger do Prado2

RESUMO Este artigo é o resultado obtido por meio do Programa de Desenvolvimento


Educacional (PDE). O objetivo desse trabalho é apresentar uma proposta de formação de
leitores a partir do trabalho com Best-Sellers, a começar pela leitura e discussão da obra
Harry Potter e a pedra filosofal, de J. K. Rowling. Estratégias de ações com atividades foram
realizadas no 7° ano ensino fundamental da Escola Estadual Irmão Isidoro Dumont – E. F., na
cidade de Itapejara D‘Oeste - Paraná, na linha de estudo Ensino e Aprendizagem de Leitura –
a formação de leitores. Apresentou-se uma proposta de trabalho do livro Harry Potter e a
pedra filosofal a partir do método recepcional. Para tanto, foi utilizada a produção didático-
pedagógica no formato de unidade didática intitulada ―O best-seller como ferramenta para a
formação de leitores na escola‖, buscando fomentar para o hábito da leitura, por meio do
Best-seller. A literatura de massa pode ser um objeto eficaz para desenvolver habilidades de
leitura, interpretação e reescrita de textos, suscitando o gosto pela leitura literária e não
literária. O discurso ficcional contemporâneo, entre outras práticas que possui, busca revelar
as possibilidades de outras interpretações plausíveis do mundo real, a fim de legar ao homem
a capacidade de melhor compreender a sociedade na qual está inserido, bem como, por meio
da apropriação do conhecimento que revela a construção dos discursos, interagir com ela de
forma mais consciente e crítica.

PALAVRAS-CHAVE: Best-Seller. Literatura de massa. Produção textual. Leitura literária.

1. INTRODUÇÃO
Grandes discussões são travadas no ambiente escolar, no que diz respeito à leitura e à
formação de leitores, porque costuma-se dizer que os jovens leem pouco, o que seria uma
inverdade; haja vista que estes se dedicam em atividades no computador e que grande parte de
seu tempo é gasto com leitura. Além disso, a partir da definição de leitor da pesquisa Retratos
da Leitura no Brasil (2015), há outras questões envolvidas quando o assunto é leitura: mas por
que escolhermos Harry Potter e a pedra filosofal para pensarmos em formação de leitores?
Por figurar como um fenômeno entre os jovens como uma leitura desafiadora, pois os grossos

1
Professora PDE – Licenciada em Letras Português/Inglês
2
Orientadora PDE
volumes não desanimam esse público, que lê cada vez mais essas histórias, que se aproximam
de suas vivências com temas pertencentes ao contexto de cada um.
O primeiro livro rendeu um filme lançado em 2001, com uma bilheteria quase de 1
bilhão de dólares. A partir desse livro, a escritora JK Rowling saiu do anonimato e passou a
figurar na lista dos autores mais vendidos. Com sete volumes, que alcançaram 450 milhões de
cópias vendidas, sendo que, no cinema, o último filme alcançou a terceira maior bilheteria da
história (V SIPECOM, 2013).
Foi a partir dos dados da pesquisa e de nossa observação no trabalho com leitura em
sala de aula que escolhemos como objetivo desse trabalho apresentar uma proposta de
formação de leitores a partir do trabalho com Best-Sellers, a começar pela leitura e discussão
da obra Harry Potter e a pedra filosofal, de J. K. Rowling. Dentre as obras destacadas como
preferidas entre os jovens estudantes, escolhemos Harry Potter e a pedra filosofal, por figurar
como um fenômeno entre os jovens e por se tratar de uma leitura desafiadora, como adiante
buscaremos demonstrar. Nessa saga composta por sete livros, os grossos volumes não
desanimam o público leitor, que lê cada vez mais, formando comunidades de leitura.
Mesmo considerada marginalizada dentro da escola e do ambiente acadêmico, a
literatura de massa continua a incentivar a formação de leitores, pois figura entre adolescentes
e jovens como leitura prazerosa e bem aceita. Sendo assim, a escola não deve ignorá-la, pelo
contrário, deve usá-la como forma de incentivar a leitura em sala de aula, uma vez que esta
leitura faz parte da vida de muitos, fora da escola. Mas, afinal, o que é Literatura de Massa?
Literatura de massa nada mais é do que a produção literária que agrada a um público
significativo, uma literatura que vende bem, por isso, um dos grandes representantes da
Literatura de massa é o best-seller. Nesse contexto, portanto, a obra que escolhemos para
iniciar nosso trabalho com a formação de leitores, Harry Potter e a pedra filosofal, faz parte
do grande grupo denominado Literatura de Massa, já que os livros da saga venderam mais de
400 milhões exemplares em todo o mundo, sendo 3 milhões deles no Brasil. O livro mais
vendido da série foi o primeiro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, com cerca de 120 milhões.
Contudo, o conceito de Literatura de Massa não é unânime, visto que também se
questiona as posições que definem o que seja literatura propriamente dita, assunto este que
permeia as discussões teóricas e que costuma ser caracterizado no aspecto histórico. O que
interessa saber sobre esse tipo de leitura é que ele costuma cair no gosto dos jovens em idade
escolar. Além disso, segundo Paes (1990), os leitores da literatura de entretenimento, ou seja,
a literatura de massa são os futuros leitores da literatura chamada ―culta‖, sendo que esta não
pode dispensar de ter ao seu lado aquela, que seria o primeiro passo na formação do leitor. Por
isso, a escola não deve ignorar, nem menosprezar a leitura dos Best-sellers, haja vista que
estes contribuirão para que os jovens possam potencializar seu papel como leitores.
Da leitura de sagas literárias como Harry Potter, surge a formação de círculos de
discussão sobre essas obras em redes sociais, o que demonstra que não é bem verdade que o
jovem não gosta de ler ou de discutir sobre o que lê, mas talvez que não estejamos
aproveitando seu gosto literário. Por isso, não há como desprezar a leitura de obras
caracterizadas como literatura de massa, já que estas podem contribuir para que a juventude
tenha aí o início de sua formação como leitor e para que, futuramente, os chamados clássicos
possam figurar também na lista de leituras desse público.
No contexto escolar, a questão da leitura, seja do texto literário ou não literário, tem
um papel crucial, uma vez que permite ao aprendiz observar comportamentos humanos além
de seu tempo e, posteriormente, relacioná-los ao seu próprio contexto de vida.
Ao refletir sobre o que propõe a legislação estadual, constata-se que é necessário levar
em conta as vivências do aluno, incluindo aí o que ele costuma ou gosta de ler. Por causa
disso, escolhemos a obra Harry Potter e a Pedra Filosofal, de J.K. Rowlling, que será
trabalhada a partir do método recepcional, pensado pelas escritoras Bordini e Aguiar (1993),
tal como é sugerido nas DCEs.

2. AS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA

Segundo as Diretrizes Curriculares de Educação Básica do Paraná (2008), a leitura se


efetiva no ato da recepção, configurando o caráter individual que ela possui, pois depende de
fatores linguísticos e extralinguísticos. Isso quer dizer que, para que o texto tenha significação
para quem o lê, é necessário que sejam ativados conhecimentos de mundo desse leitor, a fim
de preencher os ―espaços vazios‖ do texto. Por isso, entende-se que é nessa dimensão
dialógica e discursiva que a leitura deve ser praticada, vivida e experienciada desde a
alfabetização.
Em relação à leitura literária especificamente, na atualidade, pode apoiar-se nos
pressupostos teóricos da Estética da Recepção, tomando-se como base, por exemplo, as
colocações de Iser (1979) e Jauss (1979), e da Teoria do Efeito, segundo Bordini e Aguiar
(1993), conforme expressam as DCEs (2008, p. 74). Estas teorias buscam formar um leitor
que é visto como um sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em seu contexto, com
condições de reconhecer, nas aulas de literatura, um envolvimento de subjetividades que se
expressa pela tríade obra/autor/leitor, por meio de uma interação que está presente na prática
de leitura. A escola, portanto, deve trabalhar a literatura levando em conta a sua dimensão,
pois a leitura literária permite aos sujeitos descobrirem-se em seu papel de interação com o
texto.
Dessa forma, a escola deve promover um encontro entre leitor e texto, permitindo a
esse leitor que possa se reconhecer na obra, sentir que sua cultura pode estar vinculada ao
texto lido. Com isso, para iniciar a formação do leitor, é de grande relevância oportunizar a
leitura de textos literários próximos à realidade desses educandos, pois quanto mais
familiaridade o texto puder despertar no leitor, mais haverá predisposição para a leitura, suas
expectativas estarão sendo priorizadas em relação ao ensino da literatura.
Aquele que lê amplia seu universo pessoal, além de ampliar também o universo da obra
a partir da sua experiência cultural. Conforme se menciona no texto das Diretrizes
Curriculares de Língua Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e Médio (2008,
p. 58), o trabalho com a literatura em sala de aula conta com a importância que o processo de
leitura representa na caminhada de aprendizagem do educando.
A literatura, vista como uma manifestação cultural, é um dos grandes monumentos
humanos que guarda em si marcas e elementos que, organizados no fazer estético,
representam os acontecimentos sociais ao longo dos tempos. Por isso, a literatura pode servir
de ―porta voz‖ de muitos saberes, o que justifica o incentivo à formação de leitores por meio
do texto literário:

A literatura, como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social. O entendimento
do que seja o produto literário está sujeito a modificações históricas, portanto, não pode ser
apreensível somente em sua constituição, mas em suas relações dialógicas com outros textos e
sua articulação com outros campos: o contexto de produção, a crítica literária, a linguagem, a
cultura, a história, a economia, entre outros. (DCEs, 2008, p. 57).

A escola tem papel fundamental na formação do leitor. Segundo Calvino (1994), esta
possui o dever de fornecer instrumentos para que o estudante tenha condições de fazer uma
opção, mesmo que esta ocorra fora e depois de cada escola, porque dada a ocorrência, as
leituras contribuíram para a formação de leitores. Segundo Ítalo Calvino, em seu livro Por
que ler os clássicos? (1994), as leituras da juventude são pouco profícuas pelo fato de haver
impaciência, distração e inexperiência (tanto das instruções para o uso, quanto inexperiência
de vida por parte dos jovens). Contudo, essas características não diminuem o papel formativo
da leitura para o público jovem. A leitura propicia-lhes modelos, recipientes, termos de
comparação, paradigmas de beleza e de vivências cotidianas, bem como valores, elementos
que virão a ser lembrados quando a juventude e a idade escolar se forem.
Quanto à leitura em sala de aula, o que acontece, segundo Souza (2016), é que a
maioria dos estudantes vê nas aulas de literatura uma leitura que os obriga a saber datas,
períodos literários e nomes de autores para cumprir tarefas ou avaliações escolares, fazendo
com que os jovens percam o prazer e o interesse pela leitura literária.
Segundo dados da pesquisa ―Retratos da Leitura no Brasil‖ (2015), foi possível
identificar que houve um aumento significativo no número de brasileiros que se declararam
leitores. Se, na edição anterior (2011), o índice de leitores no Brasil era de 50%, agora esse
número passou para 56%. A pesquisa apresenta como definição de leitor ―indivíduo que leu
pelo menos partes de um livro – em papel digital ou eletrônico e áudio livros, livros em braile
e apostilas escolares, excluindo-se manuais, catálogos, folhetos, revistas, gibis e jornais – nos
últimos três meses‖. Ainda segundo a pesquisa, é mais comum o hábito da leitura em pessoas
que estejam frequentando a escola, o que reforça a importância de se investir em práticas de
formação de leitores no âmbito escolar.
De acordo com Paulino (2004) a formação de leitores se dá a partir do momento em
que estes fazem a escolha de suas leituras, nas quais possam apreciar as construções e
significações verbais de cunho artístico, e que incluam essa prática em seus afazeres e
prazeres. Sendo assim, a escola deve defender práticas pedagógicas que incentivem os
educandos a buscarem cada vez mais o conhecimento por meio da leitura.
Nesse sentido, se as obras que constam entre o rol das mais lidas são preferidas pelos
estudantes, é necessário encontrar uma forma de trabalhá-las também em sala de aula,
destacando o trabalho estético que as envolve, bem como as problemáticas sociais ali
presentes. Incentivar os estudantes à leitura é uma tarefa de todo educador que, dessa forma,
deve mostrar que a experiência da leitura pode proporcionar uma viagem a novos
conhecimentos, visitas a mundos inimagináveis.
O processo de construção de sentido da leitura se realiza quando, por meio de
inferências feitas a partir de pistas linguísticas, somadas ao seu conhecimento de mundo, o
leitor consegue interpretar e construir sentido sobre o material lido, ultrapassando a visão de
leitura como mera extração de informações. Os alunos, quando leitores, terão melhores
oportunidades de entender o mundo à sua volta, serão capazes de realizar interferências, pois
o conhecimento dará essa oportunidade. Serão capazes ainda de produzir suas escritas, com
ideias claras e objetivas, fazendo-se entender em seus pensamentos e seus posicionamentos
perante a sociedade.
Percebe-se ainda que a escola não tem levado em conta a existência da leitura
diversificada, aquela praticada espontaneamente pelos alunos, aquela que está além do
contexto de sala de aula. Ao contrário, só tem se preocupado com um modelo de leitura
voltado aos clássicos, com fichamento, exercícios estruturados, com questões de levantamento
de dados sobre tais obras, uma prática enfadonha, segundo estes estudantes. Por isso, o
educando deve perceber que a leitura é um instrumento que lhes possibilitará alcançar as
competências e habilidades necessárias a uma vida mais produtiva. Neste sentido, Lajolo
(2004) complementa dizendo que:
Ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive. Se ler livros
geralmente se aprende nos bancos da escola, outras leituras se aprendem por aí, na
chamada escola da vida: a leitura independe da aprendizagem formal e se perfaz na
interação cotidiana com o mundo das coisas e dos outros (LAJOLO, 2004, p. 07).

Nas palavras da referida autora, é possível inferir que a leitura extrapola o texto e a
escola, pois, muitas vezes, na escola da vida, há histórias mais significativas à vida de cada
sujeito. Embora a leitura independa da aprendizagem formal, há uma leitura que se aprende
em sala de aula, o que permite um melhor entendimento do que se lê e, no caso da literatura
de massa, que muitos estudantes já praticam, há um caminho mais curto entre o gosto da
leitura e aprendizado efetivo dela.
Não há como despertar o gosto pela leitura nem como formar leitores sem se deparar
com algumas variáveis que interferem nessa questão, por exemplo, a falta de recursos e de
estratégias para distribuição de livros, bem como de professores e bibliotecários com
qualificação e comprometimento no processo. Por isso, o trabalho com formação de
professores pode ser ainda mais penoso. Daí que, além da formação dos professores para o
trabalho com leitura em sala de aula é importante pensar em políticas públicas para o fomento
da área nas escolas.

3. BEST-SELLER: FERRAMENTAPARA FORMAÇÃO DE LEITORES NA ESCOLA

A leitura dos Best-Sellers é significativa para a formação de leitores, porque esta


literatura faz parte do cotidiano dos jovens. Por isso, faz-se necessário que a escola realize um
trabalho de resgate e valorização da leitura através dos Best-Sellers, para que o ensino-
aprendizagem seja facilitado, e para que os sujeitos que estão inseridos neste meio possam ter
autonomia e interesse pela literatura, dessa forma, tendo maior contato com os livros.
A indústria editorial, mais conhecida como fábrica de best-sellers, investe em autores
da moda, produzindo livros, os quais têm a capacidade de cativar milhares de leitores. Para
Eliane Paz (2004):
Se o Best-seller é resultado do processo de industrialização e efeito da ação
capitalista sobre a cultura, é preciso levar em conta também que esse tipo de
narrativa tende a constituir-se em ―campeão de vendas‖ porque se configura uma
poderosa estimuladora de leitura, isto é, tem o poder de mobilizar o olhar e estimular
a imaginação do leitor-consumidor. O fascínio duradouro dessa literatura indica que
não se pode analisá-la com uma visão simplista e redutora, limitando-a ao campo de
efeito de estratagemas mercadológicos ou como subproduto da literatura culta.
(PAZ, 2004:02)

Mesmo sendo resultado de industrialização, não se pode negar que o best-seller cativa
e desperta interesse de leitura nos sujeitos ―fisgados‖ pelas narrativas, as quais estimulam a
imaginação desse público através de composição simples, linguagem acessível e enredo
envolvente. Por ser um campeão de vendagem, há de se refletir sobre o efeito de estratagemas
mercadológicos.
Harry Potter e a pedra Filosofal apresenta um protagonista que segue a constituição
de herói pensada por Joanne K. Rowling. Mesmo que o universo ficcional criado pela autora
seja único, ele é estruturado sobre uma sólida base de mitos e folclore, a qual é preservada
através do tempo e da distância. A narrativa utiliza pequenos detalhes de lendas e histórias já
existentes para criar uma coisa totalmente nova.
Harry Potter conquistou o público jovem por ser uma saga em que a figura do herói
(protagonista) é levada para fora do seu mundo comum, cotidiano, em direção a um mundo
especial, novo e estranho. Na história, o protagonista Harry Potter vive com os tios Dursley,
onde é mal tratado até completar seus 11 anos. É com essa idade que o jovem bruxo começa a
receber cartas da escola de Hogwarts. Na noite de seu aniversário, Harry é visitado por Hagrid
(um ser gigante que trabalha para o diretor de Hogwarts), o qual revela que Harry é filho de
bruxos e foi convidado a ingressar na escola de bruxaria. A obra é composta de dezessete
capítulos, sendo ―O menino que sobreviveu‖, ―O vidro que sumiu‖, ―As cartas de ninguém‖,
―O guardião das chaves‖, ―O Beco Diagonal‖, ―O embarque na plataforma nova e meio‖, ―O
chapéu seletor‖, ―O mestre das poções‖, ―O duelo à meia-noite‖, ‗O Dia das Bruxas‖,
―Quadribol‖, ―O Espelho de Ojesed‖, ―Nicolau Flamel‖, ―Norberto, o dragão norueguês‖, ―A
floresta proibida‖, ―No alçapão‖ e ―O homem de duas caras‖.
J.K. Rowling utilizou estudos sobre linguística, mitologia, além de aspectos históricos
culturais para dar vida a toda sua criação, conferindo a obra grande valor literário. É uma
roupagem moderna às antigas histórias de magia e feitiçaria. Daí que se trata de uma obra que
agrada ao público e que pode contribuir para o crescimento dos alunos em relação ao
entendimento da cultura ocidental que nos rodeia.

4. ELABORAÇÃO DO MATERIAL PEDAGÓGICO

O material didático pedagógico foi organizado a partir das reflexões a respeito da


formação de leitores e escritores, incentivando-os para o hábito da leitura, por meio do Best-
seller, considerado literatura de massa, a fim de desenvolver habilidades de leitura,
interpretação e reescrita de textos, suscitando o gosto pela leitura literária e não literária.
Tal como destacado anteriormente, esta unidade didática se baseou no método
recepcional, segundo Bordini e Aguiar (1993), conforme expressam as DCEs (2008, p. 74)
com as seguintes etapas: determinação do horizonte de expectativas; atendimento ao horizonte
de expectativas; ruptura do horizonte de expectativas; questionamento do horizonte de
expectativas; ampliação do horizonte de expectativas. Essas foram as etapas desenvolvidas na
unidade didática. O referido material foi dividido em cinco etapas, tal qual o método
recepcional.
• Atendimento ao horizonte de expectativas: momento em que foi proporcionado à
classe experiências com os textos literários que satisfizessem as suas necessidades em dois
sentidos, primeiro que os textos escolhidos para o trabalho em sala de aula fossem aqueles
que correspondessem ao esperado, e segundo em relação às estratégias de ensino que foram
organizadas a partir de procedimentos conhecidos dos alunos e de seu agrado. Foram
propostos textos cujos temas e/ou composição fossem muito procurados, ou na própria
literatura ou em outros meios de expressão como televisão, quadrinhos, folclore, espetáculos.
• Ruptura do horizonte de expectativas: etapa na qual foram introduzidos textos e
atividades de leitura que abalaram as certezas e costumes dos alunos seja em termos de
literatura ou de vivência cultural. Essa introdução deu continuidade à etapa anterior através do
oferecimento de textos semelhantes aos anteriores em um aspecto apenas: o tema, o
tratamento, a estrutura ou a linguagem, os demais recursos que o compõem foram
radicalmente diferentes, para que o aluno percebesse que estaria ingressando num campo
desconhecido, mas não se sentisse inseguro e rejeitasse a experiência. Nesta etapa, as
experiências de leitura tinham como objetivo manter um vínculo com as da etapa anterior que
fosse mantido pelo material literário e divergisse apenas quanto às estratégias de trabalho
adotadas.
• Questionamento do horizonte de expectativas: nesta etapa aconteceu à análise da
classe sobre o material trabalhado decidiu-se quais textos, através de seus temas e construção,
exigissem um nível mais alto de reflexão, e diante da descoberta de seus sentidos possíveis,
trouxeram um grau maior de satisfação. Tratou-se do momento em que os alunos puderam
verificar que conhecimentos, valores ou vivências pessoais, em qualquer nível,
proporcionassem a eles facilidade de entendimento do texto e/ou abrissem caminhos para
atacar os problemas encontrados. Sugeriu-se a discussão participativa, a qual fosse em
pequeno ou grande grupo, modos de registro de constatações, do fichário ao diário pessoal ou
coletivo, possibilitando a constante retomada dos textos, anteriormente utilizados nas demais
etapas.
• Ampliação do horizonte de expectativas: etapa resultante da reflexão sobre as
relações entre leitura e vida, tomou-se consciência das alterações e aquisições obtidas através
da experiência com a literatura. Foi de grande relevância considerar que a verbalização da
consciência aconteceu por iniciativa dos alunos, sem intervenção direta do professor, que
neste momento teve o papel de provocar seus alunos e criou condições para que eles
avaliassem o que foi alcançado e o que resta fazer. Cientes de suas possibilidades de manejo
com a literatura pode-se dizer que é o início de uma nova aplicação do método permitindo aos
alunos uma postura mais consciente em relação à literatura e à vida.
Para que o trabalho cumprisse com seus objetivos e se utilizasse em seu
desenvolvimento da metodologia supracitada, as atividades em sala foram conduzidas do
seguinte modo: Cada aluno relatou o que sabia sobre a história do Harry Potter, a fim de
obtermos um quadro coletivo sobre as informações a respeito da obra. Em seguida, a turma
realizou uma pesquisa sobre a autora Joanne Kathleen Rowling e cada aluno fez a leitura
desses dados para a turma. A próxima etapa foi apresentar aos alunos o livro, leu-se com eles
e comentou-se aspectos com os quais podiam se identificar, mas também destacaram aspectos
estilísticos da construção da obra. Após isso, foi solicitado aos educandos que fizessem a
leitura do livro e trouxessem questões que julgassem importantes na obra, como, por exemplo,
a forma como são descritos os laços de amizade entre os protagonistas. Em outro momento,
foi exibido o filme para a turma, juntamente com um roteiro que questões que deviam ser
observadas por eles no filme. Ao término do filme, também foi confeccionado, em papelão,
personagens da obra Harry Potter (sem a cabeça), para que os estudantes da escola pudessem
ser fotografados. O último passo foi a ampliação dos horizontes de expectativa, momento em
que se pode fazer relações com outras obras literárias. A ideia é que sejam trabalhadas, na
sequência do projeto, as sete obras da série Harry Potter, a fim de iniciar um círculo de
leituras e discussões.

5. RELATO DE IMPLEMENTAÇÃO

Para iniciar a apresentação do projeto com a turma, houve explanação da temática


através de um vídeo elaborado sobre a importância da leitura, uma reflexão interativa com
esses estudantes. Para estimular a curiosidade e o interesse dos alunos, foi aplicado um
questionário, para que se pudesse investigar a preferência de leitura dos educandos,
determinando, assim, os horizontes de expectativas, como primeira etapa do método
recepcional.
Após a aplicação do questionário, foi possível conhecer as experiências dos alunos
com a leitura literária. Depois de realizado o levantamento das respostas dadas por eles, essas
foram analisadas e em seguida expostas à turma, oportunizando, assim, a participação de
todos nas discussões e reflexões. No momento também se iniciou a fala que orientou sobre a
importância da leitura.
Na primeira parte, considerada determinação do horizonte de expectativas, foi
realizada a sondagem em relação ao tema a ser tratado, portanto, que é a checagem sobre o
que os alunos já sabem como experiência de leitura. Essa primeira intervenção pedagógica,
que teve por objetivo obter informações a respeito das experiências dos alunos com relação à
leitura, foi a seguinte:

 Você lê com que frequência?

 Você gosta de ler?

 O que você prefere ler: histórias de humor, histórias de suspense, histórias


de aventura, histórias de ficção científica, livros de poema, outros quais?

 Você gosta de assistir filmes?


 Que tipo de filme você prefere: animação, comédia, ação, aventura,
romance, suspense, terror, outros quais?

 Essas leituras que você realizou foram recomendadas por quem?

 Quando você gosta de um filme e sabe que ele é baseado em um livro você se
interessa por ler o livro?

De posse do resultado dos questionários, debateu-se com a turma pontos relevantes


das respostas destes estudantes, e cada um à sua maneira fez defesa de sua opinião. Em
seguida foi solicitado a todos que produzissem, individualmente, um relato crítico a respeito
das questões trabalhadas.
O segundo passo foi o atendimento do horizonte de expectativas, tendo como ponto de
partida o conhecimento a partir das suas experiências e gostos. Por isso, nesse momento,
foram levados à biblioteca, para que pudessem entrar em contato com o que já conhecem e/ou
gostam, em relação à leitura. Lá tiveram oportunidade de receber uma aula expositiva sobre
as diferenças entre leitura literária e não literária. A biblioteca foi previamente preparada e
destinada a esta aula, contando com auxílio da bibliotecária para seleção de livros literários e
não literários que estavam dispostos em cima das mesas.
Diante disso, foi possível comprovar que as atividades até então realizadas
contribuíram para que cada estudante se manifestasse na escolha de livros. Foi um momento
de grande relevância de incentivo à formação de leitores. Esse contato com os livros é
imprescindível para que o aluno possa evidenciar os conhecimentos já adquiridos e as maiores
dificuldades a serem sanadas.
Ainda na etapa do atendimento ao horizonte de expectativas, foi apresentada a obra
Harry Potter e Pedra Filosofal, de J.K. Rowlling, por meio do filme. Em seguida, foi
apresentado também aos alunos um breve comentário sobre a obra de J.K. Rowlling, por se
tratar de um dos maiores fenômenos de vendagem de livros e de bilheteria do filme.
Lembrou-se de que o primeiro livro rendeu um filme, lançado em 2001, com uma bilheteria
quase de 1 bilhão de dólares. Explicou-se que, a partir desse livro, a escritora J.K. Rowling
saiu do anonimato e passou à lista dos mais vendidos (best sellers), o qual pode ser
encontrado no seguinte endereço: http://comoestas.ru/wp-content/uploads/2010/08/J.K.-
Rowling-1-Harry-Potter-e-a-Pedra-Filosofal.pdf
Este momento funcionou como uma atividade de pré-leitura, juntamente com o
trabalho com o filme. A experiência fílmica deve ser vista em sua especificidade, já que filme
e livro são obras diferentes, criadas a partir de linguagens diversas.
Em seguida, realizou-se um debate sobre a obra fílmica Harry Potter e a Pedra
Filosofal. Na ocasião, os alunos individualmente teceram considerações a respeito do referido
filme, apresentando suas impressões. Após as discussões apresentar aos alunos um tema
muito importante que está contido na referida obra, o enfrentamento entre o bem o mal, esse
duelo que acompanha o homem desde os primórdios. O bem sempre vence o mal? Harry
Potter enfrentou muita maldade após ser entregue a seus tios? E você que maldades enfrenta,
hoje? Como Harry lida com as forças do mal em Hogwarts? É possível dizer, a partir da
leitura do filme, que o bem e o mal podem estar dentro de cada ser humano? Após o debate,
produziram uma resenha crítica sobre a obra trabalhada.
Na etapa da ruptura com o horizonte de expectativas, foi realizada a leitura do livro, os
quais foram adquiridos pelos próprios alunos, com exceção de quatro deles, para os quais a
escola providenciou. A leitura realizada após debates e trabalho com o filme, possibilitou uma
análise mais atenta aos detalhes da narrativa.
Harry Potter e a Pedra Filosofal, inicia a série contando a história de um jovem
garoto órfão de onze anos, de nome Harry Potter, criado pelos tios que o abominam.
Ressaltou-se a característica de o herói da narrativa ser órfão, o que possibilita que o leitor
tenha compaixão dele e exalte suas proezas. Harry é forçado a conviver com um primo
implicante durante toda sua infância, ação essa que pode suscitar identificação por parte do
leitor, mas também que apresenta diálogo intertextual com contos como ―Cinderela‖.. Sua
história guarda mistérios que vão sendo revelados ao longo da história; segue-se a revelação
de que Harry é um bruxo, um ser humano dotado de poderes, capaz de fazer coisas
sobrenaturais que outros humanos, ditos trouxas, não conseguem. Outro ponto que costuma
chamar a atenção do público leitor. Harry é apresentado a um novo mundo, oculto e secreto
no qual os bruxos pertencem, vivendo organizados e em sociedade. Com a entrada de Harry
para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, novos personagens aparecem com suas
histórias e peculiaridades, assim como diferentes matérias a aprender, estranhas criaturas e
curiosidades do mundo bruxo. Rony Weasley e Hermione Granger são os amigos mais
próximos de Harry na escola, Draco Malfoy destaca-se como o rival e adversário de Harry e
seus amigos. Ao longo do livro, Harry é levado a descobrir como seus pais (Lílian e Thiago
Potter) morreram não em um acidente de carro, como afirmavam seus tios, mas assassinados
por um bruxo das trevas denominado Lord Voldemort.
Dessa forma, a história deste primeiro livro é concluída com o confronto entre Harry e
Lord Voldemort, auxiliado por seu servo, professor de Defesa Contra as Artes das Trevas,
Quirrel, em que o bruxo das trevas busca obter um item alquímico que lhe permita viver
eternamente: a Pedra Filosofal, do qual extrairia o Elixir da Vida.
Vários são os elementos da cultura ocidental capazes de suscitar trabalho e discussão
em sala de aula, mas preferiu-se desenvolver atividades em aula especificamente com os
capítulos ―O beco diagonal‖, a fim de explorar a questão da magia no livro, a construção do
ambiente mágico, e ―O espelho de Ojesed‖, a fim de destacar a problemática da identidade e
dos desejos dos jovens.

CAPÍTULO V– O BECO DIAGONAL

[...] Harry acordou cedo na manhã seguinte. Embora soubesse que


já era dia, continuou com os olhos bem fechados. "Foi um sonho",
disse a si mesmo com firmeza. ―Sonhei que um gigante chamado
Rúbeo Hagrid veio me dizer que eu ia para uma escola de magia.
Quando abrir os olhos estarei em casa no meu armário.‖ De repente
ouviu um ruído alto de batidas. "É a tia Petúnia batendo na porta",
pensou Harry, desanimando. Mas, ainda assim, não abriu os olhos.
Tinha sido um sonho tão bom. Bum. Bum. Bum. — Está bem —
resmungou Harry — já estou levantando. Sentou-se e o pesado
casaco de Hagrid escorregou de seu corpo. O casebre estava
inundado de sol, a tempestade passara, o próprio Hagrid estava
dormindo no sofá desmontado e havia uma coruja batendo com a
garra na janela, trazendo um jornal no bico. Harry ergueu-se de um
pulo, sentia-se feliz como se houvesse um grande balão crescendo
dentro dele. Foi direto à janela e abriu-a com um puxão. A coruja
entrou voando e deixou cair o jornal em cima de Hagrid, que nem
acordou. A coruja então voou pelo chão e começou a atacar o
casaco do gigante Hagrid. — Não faça isso. Harry tentou espantar a
coruja, mas ela o ameaçou com o bico e continuou a atacar
ferozmente o casaco. — Rúbeo! — chamou Harry alto. — Tem
uma coruja... — Pague a ela — resmungou Hagrid dentro do sofá.
— Quê? — Ela quer receber o pagamento pela entrega do jornal.
Procure nos bolsos. O casaco de Hagrid parecia ser feito só de
bolsos, molhos de chaves, fichas de metal, rolinhos de barbante,
balas de hortelã, saquinhos de chá... E finalmente, Harry puxou um
punhado de moedas estranhas. — Dê a ela cinco Nuques— disse
Hagrid sonolento. — Nuques? — As moedinhas de bronze. Harry
contou cinco moedinhas de bronze e a coruja esticou a perna para
ele enfiar o dinheiro numa carteirinha de couro que trazia presa.
Em seguida saiu voando pela janela aberta[...]
A partir do primeiro excerto a ser analisado, foi realizado um roteiro de
questões, a fim de que fosse explorado o tema:

 O que é magia?

 Como a magia é tratada em nosso mundo?

 Você já leu algum livro envolvendo o universo mágico? Qual?

 Você já assistiu algum filme que envolvia magia? Qual?

 Enumere alguns episódios em que a magia se faça presente em Harry Potter e a pedra
filosofal.

 Você já ouviu falar de Nicolau Flamel?

 Você já ouviu falar em alquimia?

 Você acha que uma pedra filosofal que concede vida eterna a alguém seria um objeto
disputado pelos homens hoje em dia?

 Qual seria o lado bom e o lado ruim de ser imortal?

Após discussão sobre as questões, foi o momento de atualizar o tema, a partir de uma
matéria da Revista Super Interessante, que fala de Nicolau Flamel, um alquimista que pode ter
existido, cuja busca aparece no livro analisado.

O homem que tirava ouro de chumbo

Xodó dos esotéricos, o livreiro Nicolau Flamel teria descoberto a fórmula


da riqueza e da imortalidade: há quem acredite que ele esteja vivo, aos 678
anos

São tantas as histórias fantasiosas, que alguém poderia duvidar de sua


existência. Pois bem: Flamel existiu, sim. Nasceu em 1330 e morreu em 1418.
Já a fama sobrenatural é bem forçada. Registros do século 14 dão conta de que
Flamel era proprietário de uma livraria em Paris. Sua grande paixão era a
alquimia – o conjunto de práticas e conhecimentos químicos medievais, uma
moda na Europa da época. Diz a lenda que sua vida mudou por causa de um
enigmático manuscrito em hebraico antigo de Abraão, o Judeu – não o Abraão
da Bíblia, mas um mago do século 14. Depois de 21 anos de tentativas, o
livreiro teria conseguido decifrar a obra com o auxílio de um velho cabalista
espanhol.

Foi com base nos conhecimentos ocultos que Flamel conseguiu transformar
chumbo em ouro. Mais: ele registrou em seu testamento o processo – mas
escreveu tudo em código, pois queria que apenas seu sobrinho conhecesse o
segredo. O tratado só foi ―traduzido‖ em 1758, quando uma dupla de
decifradores tentou produzir ouro seguindo as instruções do alquimista. Em
vão. Aliás, se você quiser arriscar, confira o texto na Biblioteca Nacional em
Paris, onde o original está até hoje.

Na velhice, Flamel dedicou-se a escrever obras sobre alquimia e, após uma


vida discreta, morreu em casa, aos 88 anos. O que explica, então, o mito em
que ele se transformou? Simples: os livros de esoterismo exageraram certos
traços da biografia do alquimista. Ele era rico? Sim, graças ao sucesso da
livraria. Mas era mais bacana dizer que seu ouro vinha do chumbo… Ele era
um bruxo? Não, apenas um químico por hobby. Mas ficava mais misterioso
dizer que a profissão de livreiro era mera fachada para atividades ocultas.
Matéria disponível em: https://super.abril.com.br/historia/o-homem-que-tirava-
ouro-de-chumbo/#

Depois da leitura da matéria na íntegra, pediu-se para que comentassem, por escrito,
em um texto dissertativo, por que a história da Flamel ficou tão famosa e por que é possível
tecer relações entre essa matéria e o livro lido. Depois, passou-se à análise do outro fragmento
escolhido.

FRAGMENTO CAPÍTULO XII - O ESPELHO DE OJESED

―[...] O Natal se aproximava. Certa manhã em meados de dezembro, Hogwarts


acordou coberta com mais de um metro de neve. O lago congelou e os gêmeos
Weasley receberam castigo por terem enfeitiçado várias bolas de neve fazendo-as
seguir Quirrell aonde ele ia e quicarem na parte de trás do seu turbante. As poucas
corujas que conseguiam se orientar no céu tempestuoso para entregar correspondência
tinham de ser tratadas por Hagrid para recuperar a saúde antes de voltarem a voar.
Todos mal aguentavam esperar as férias de Natal. E embora a sala comunal da
Grifinória e o salão principal tivessem grandes fogos nas lareiras, os corredores
varridos por correntes de ar tinham se tornado gélidos e um vento cortante sacudia as
janelas das salas de aulas. As piores eram as aulas do Professor Snape nas masmorras,
onde a respiração dos alunos virava uma névoa diante deles e eles procuravam ficar o
mais próximo possível dos seus caldeirões. —Tenho tanta pena — disse Draco
Malfoy, na aula de Poções. — dessas pessoas que têm que passar o Natal em
Hogwarts porque a família a não as querem em casa. Olhou para Harry ao dizer isso.
Crabbe e Goyle miraram Harry, que estava medindo pó de espinha de peixe-leão, e
não lhes deu atenção. Malfoy andava muito mais desagradável do que de costume
desde a partida de Quadribol. Aborrecido porque Sonserina perdera, tentara fazer as
pessoas rirem dizendo que um sapo iria substituir Harry como apanhador no próximo
jogo. Então percebeu que ninguém achara graça, porque estavam todos muito
impressionados com a maneira com que Harry conseguira se segurar na vassoura
corcoveante. Por isso Draco, invejoso e zangado, voltara a aperrear Harry dizendo que
não tinha família como os outros‖

O espelho de Osejed é um objeto magnífico, pois ao contemplá-lo este mostra seu


mais profundo desejo. Harry vê no Espelho sua família em pé à sua volta. Isso faz com que se
reflita como é fácil iludir as pessoas com coisas deste mundo. Pensando nisso, podemos
refletir qual seria o papel das redes sociais em nossas vidas hoje. A vida que se constrói nas
redes é feita de aparências e mentiras, e só se vê ou se mostra o que se quer enxergar, assim
como Harry frente ao Espelho, que vê seus pais, porque esse é seu desejo mais profundo. Não
é triste viver de mentira, só pras redes ou mesmo só para o espelho do desejo?
O tema pode ser atualizado, com a atividade, a partir da leitura de uma matéria da
Revista Carta Capital sobre o assunto:

[...] Ao participar das redes sociais acreditamos ter muitos amigos à nossa
volta, sermos populares, estarmos ligados a todos os acontecimentos e
participando efetivamente de tudo. Isso é uma verdade, mas também uma
ilusão, porque essas conexões são superficiais e instáveis. Os contatos se
formam e se desfazem com imensa rapidez; os vínculos estabelecidos são
voláteis e atrelados a interesses momentâneos [...]. Disponível em:
http://www.cartaeducacao.com.br/artigo/a-ilusao-dasredes-sociais/

Depois da leitura, realizou-se uma atividade, na qual era necessário, a partir do


fragmento da matéria da Revista Carta Educação, de 7 de novembro de 2013, escrever um
texto dissertativo com o tema VIVER EM REDE NO SÉCULO XXI.
Na quarta etapa, questionamento do horizonte de expectativas, trabalhou-se a trajetória
do herói. Esse é o momento de propor mudanças, transformação, levar ao desconhecido, sem
perder o vínculo com o já aprendido. Após a leitura do livro, realizou-se os seguintes
questionamentos: qual a situação do protagonista ao início; o que altera a situação inicial do
protagonista; o que acontece desde que a situação inicial é modificada; como se resolve a
dinâmica; como está o protagonista ao fim do conflito; Após as discussões enumerou-se
diferentes retratos produzidos a partir da leitura da obra, com objetivo de encontrar elementos
que possam estar de acordo com os fatos narrados no filme e que ainda podem ser explorados
por eles. Com isso, pode-se perceber que há uma estrutura na construção do herói que se
assemelha a tantas outras dentro da literatura, desde livros clássicos como A odisseia, de
Homero, até filmes mais populares como Indiana Jones.
Ainda nessa etapa, houve a oportunidade para participação dos alunos de forma oral
com objetivo de que garantir a socialização do conhecimento. Momento de análise sobre as
obras lidas, os desafios enfrentados, se houve superação dos obstáculos e avanço nos
conhecimentos. Para finalizar os alunos produziram um relato crítico sobre a obra assistida, os
quais, depois de corrigidos, foram expostos no mural da escola para que todos pudessem ler.
Na etapa ampliação do horizonte de expectativas, instigou-se os alunos na busca de
novos textos, novas obras, novos filmes que satisfaçam seu novo horizonte de expectativas,
para que esse pudesse ser ampliado novamente com outras experiências. Foi incentivado para
que os alunos buscassem ler outras obras da série, a fim de perceber se a trajetória do herói se
apresentava semelhante.
A formação de leitores se dá a partir do momento em que estes façam escolhas de suas
leituras, nas quais possam apreciar as construções e significações verbais de cunho artístico e,
além disso, incluam em seus afazeres e prazeres. Sendo assim, a escola deve defender práticas
pedagógicas que incentivem os educandos a buscarem cada vez mais o conhecimento por
meio da leitura. É preciso levá-los a perceber que cada um faz uma leitura diferente a partir da
mesma obra, mas que não é qualquer interpretação que cabe à literatura, mas sim aquela que
entra na obra e tira dela as mais profundas interpretações e informações.
Os leitores da literatura de entretenimento são os futuros leitores da literatura chamada
―culta‖, e esta não pode dispensar de ter ao seu lado aquela, que seria o primeiro passo na
formação do leitor. Por isso, a escola não deve ignorar, nem menosprezar a leitura dos Best-
sellers, haja vista que estes contribuirão para que os jovens possam potencializar-se como
leitores.
Para o encerramento do projeto PDE, a fim de estabelecer um clima de comemoração,
foi proposto que cada aluno se caracterizasse de acordo com um personagem do livro/filme e
se apresentasse para os demais alunos da escola, inclusive todos foram convidados para uma
seção de cinema, com exibição em uma das salas do colégio.
Ao colocar em prática as etapas da unidade didática, percebeu-se que a sequência de
atividades possibilitou aos estudantes a percepção de que as leituras e análises feitas não
foram apenas mais uma tarefa escolar, mas uma atividade de leitura significativa que propôs a
compreensão da leitura, bem como suas relações com o mundo em que vivemos. Essas
reflexões, assim como o relato da implementação do projeto, serviram de suporte para a
produção deste artigo.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto de intervenção pedagógica e a produção didático-pedagógica ―O Best-seller


como Ferramenta para a Formação de Leitores na Escola‖, elaborados durante o PDE –
Programa de Desenvolvimento Educacional foi concluído com a escrita deste artigo, que
relatou a proposta de trabalho com formação de leitores pelo trabalho com a obra Harry
Potter e a Pedra Filosofal, de J.K. Rowlling, que foi trabalhada a partir do método
recepcional, utilizadas estratégias de ações com atividades executadas no 7° ano ensino
fundamental da Escola Estadual Irmão Isidoro Dumont – E. F., na cidade de Itapejara D‘Oeste
- Paraná, no decorrer do segundo semestre do ano de 2016.
Foi possível comprovar que as estratégias desenvolvidas contribuíram para a
habilidade de leitura e foram significativas, pois estas, por meio da leitura do best- eller,
configuraram uma importante ferramenta para formação destes leitores. Por isso, a literatura
de massa não deve ser desprezada pelas escolas, pois esta pode servir como um caminho a ser
percorrido a fim de alcançar um objetivo maior, que seria a formação de leitores.
A proposta de leitura, elaborada a partir do método recepcional, também pôde permitir
uma ampliação das discussões advindas da leitura, pela relação com a realidade vivida pelos
alunos, o que torna, de fato, a atividade de leitura significativa. Diante das novas ferramentas
de comunicação, do predomínio do signo icônico, dos desafios que a literatura enfrenta no
mundo contemporâneo, a escola precisa reavaliar as atividades que desenvolve para incentivar
a leitura literária
Faz-se necessário algumas reflexões, pois teoriza-se de uma forma diferentemente da
prática e isso cria uma certa rejeição por parte dos educandos que se veem obrigados a
responder questionários a respeito de obras lidas, apenas para aferição de notas. Por isso a
formação dos educadores precisa ser revista, haver formação continuada para novas
metodologias sejam incorporadas no cotidiano escolar.
Formar leitores competentes e autônomos é uma tarefa difícil, mesmo porque hoje, a
grande maioria de crianças e adolescentes está focada em outros interesses, um deles as redes
sociais, mas as usam apenas para entretenimento, sem sequer pesquisar, ler e usar para
aprendizagem. Também é notório que em muitas escolas, a prática de leitura é proposta com
base nos modelos tradicionais, e que não se considera os contextos de vivência do sujeito
leitor.
Com esse trabalho houve a oportunidade de incentivar os alunos a realizarem
atividades que possibilitassem ampliar seu universo de leitura e de escrita, motivados pela
leitura dos best-sellers, a partir dos quais se dá a possibilidade de adentrar no universo
literário-ficcional e reconhecer elementos concernentes ao estudo das sequências e elementos
narrativos predominantes nesse gênero textual.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, V. T.; BORDINI, M. G. Literatura e Formação do leitor: alternativas


metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Da Educação Básica; Secretaria de Estado de Educação


do Paraná Ed. Jam3 Comunicação. Curitiba: 2008.

COELHO, Nelly Novaes. O fenômeno Harry Potter e o nosso tempo em mutação. In


PORTAL CULTURAL HILDA HILST. Disponível em <
http://hildahilst.com.br.cpweb0022.servidorwebfacil.com/separata.php?id=31&categoria=10
>Acesso em 20 de julho de 2016.

ISER, W. et al. A interação do texto com o leitor. In: A literatura e o leitor – textos da
estética da recepção. Trad. Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.

JAUSS, H. R. et al. A estética da recepção – considerações gerais. In: A literatura e o leitor


– textos da estética da recepção. Trad. Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

PAES, J. P. A aventura literária: ensaios sobre ficção e ficções. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990.

PAZ, Eliane H. Massa de qualidade. In: I Seminário Brasileiro sobre o Livro e História
Editorial, 2004, Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa. Disponível em:
http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/pdf/elianehpaz.pdf. Acesso em 20 de julho de 2016.

SOUZA, Danilo Fernandes Sampaio de. A influência da literatura de massa na formação


do leitor adolescente. Disponível em
http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/IIICILLIJ/Trabalhos/Trabalhos/S5/danilosouza.pdf.
Acesso em 19 de julho de 2016.

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