Você está na página 1de 4

CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Discente: Karllen Daniela Gomes de Ataide


Disciplina: Teoria Política I
Professor: Clóvis
Turma: 2º Período Data: 21/03?2019

Para que serve a Teoria Social?

“A história de todas a grandes civilizações galácticas tende a


atravessar três fases distintas e identificáveis - as da sobrevivência,
da interrogação e da sofisticação, também conhecidas como as fases
do como, do porquê e do onde”   1

Sempre quando penso em o porquê as teorias relacionadas às humanidades são


necessárias, me deparo com a explicação do Guia do mochileiro das galáxias para a função da
humanidade nestas bandas de cá do universo, então me permita fazer esta digressão. E se você
caro leitor não teve a inenarrável satisfação em ler este clássico da ficção (?) 2 científica, é com
pesar que eu vou dar spoilers.
Não é segredo para ninguém que a resposta sobre o sentido da vida, do universo e de
tudo mais é 42 e foi dada há milênios pelo grande computador chamado de Pensador
Profundo. Sim, é esta mesmo, não existe erro nesta sentença: a resposta é 42. A questão de
verdade - e nunca foi tão literal - é sobre a questão em si: Qual é a pergunta para 42?
Projeta-se então um novo supercomputador a fim de descobrir a pergunta definitiva, e
na visão de Adams, este hardware capaz de chegar a esta questão, é este planetinha em que
habitamos, cheio de pequenos processadores senciente conhecidos como: nós, seres humanos.
Desta maneira, influenciada por um dos meus autores preferidos, observar as relações
sociais sempre me deu um sentimento de analisar como este “computador” funciona, entender
nossa história é compreender a linguagem, assim como, formular as teorias sobre nós, é como
desvendar a programação por trás disso.
Somos seres sociais dotados de inteligência, memória, curiosidade, e ambições, mas
quase sempre essas faculdades não caminham juntas. O que em certa maneira é bem
interessante pois aumenta as possibilidades em progressão geométrica infinita. Todavia,

1
ADAMS, Douglas. O guia do mochileiro das galáxias. v. 1. São Paulo: Arqueiro, 2011. pp.: 155
2
Me pergunto até onde chega a ser ficção mesmo...
dificulta a vida de um cientista social pois ao contrário da questão para o sentido da vida, do
universo e tudo mais, não temos uma resposta já pré-estabelecida, tão pouco apenas uma
pergunta a fazer.
Ainda assim, tal como na obra, no intento pela questão definitiva, foram necessários
milhares de anos, bilhares de seres humanos com infinitas sinapses, vivências, concepções,
culturas, tecnologias, associações, para proporcionar a um deles, o fundamento correto para a
grande pergunta.
Em nosso caso, mesmo não crendo que possamos chegar a um modelo teórico que
abarque todas as relações, é justamente pela multiplicidade de indivíduos e de sociedades - e
quando dito isto leia-se todo o constructo teórico pelas diversas áreas do conhecimento
engendrado por toda a nossa história é que em um panorama geral conseguimos compreender
que esta amplitude epistemológica somente contribui para a renderização da tela de nós
enquanto humanidade. Não se trata de nós como partícipes da natureza, se trata de nós nos
relacionando com tudo e como isto se dá.
Se as teorias desenham o esboço em carvão, os conceitos são as cores básicas e as
temáticas contornam os detalhes na tessitura da realidade. No entanto a realidade é
movimento, e devemos estar dispostos a não só ficar presos em uma tela infinitamente na
busca inalcançável da transposição da vida para abstração mas aprendermos a analisar o que
já foi feito, e onde precisamos chegar.
Isto me leva a um ponto bem relevante sobre a ciência, o experimentar para prever. Em
uma palestra Noam Chomsk é bem categórico em dizer que para ele não existe teoria em
Ciências Sociais que o que existe é observação da vida comum e entendimento, este processo
hermenêutico de observação da nossa vida não é algo intelectualizante, mas sim um
movimento que nos aproxima da nossa própria “programação” que é composta de matéria
diferente do mundo natural, apesar de parte dele. Ele retira do senso comum a
descredibilidade no âmbito científico e o coloca como pedra fundamental do pensar em nós
como sociedades.  
(...) primeiro, não existe teoria, eu não sei de teoria nenhuma nas ciências
sociais eu não acho que o termo teoria deve ser usado em áreas tão pouco
intectualizadas como as ciências sociais existe apenas a observação do senso comum
o que é verdade, eu acho que a maior parte disto é apenas senso comum mas se não
existe teoria, qual é o sentido disto? teoria é muito diferente de entendimento, a
maior parte de nossas vidas nós vivemos muito bem sem nenhuma teoria sobre as
outras pessoas e nós não temos teorias sobre os outros mas nós conseguimos levar,
acertamos o caminho e assim por diante existem muitas poucas áreas da vida
humana onde existe algo que possamos chamar teoria em algumas áreas.(...) no
mundo dos assuntos humanos eu não acho que exista muito espaço para a teoria, eu
acho que a mensagem deve ser: use o bom senso, olhe para a história, pense nas
coisas óbvias ultrapasse as imagens cridas pela propaganda, lembre-se de que as
instituições tentam lhe doutrinar tenha isto em mente compense isto, e se você fizer
estas coisas você deve conseguir entender o mundo tão bem quanto qualquer outra
pessoa.3

Nesta abordagem, muitos se reviraram pela necessidade a todo instante de serem


reconhecidos dentro do status de ciência como o próprio nome já propõe. Talvez pela
juventude desta área do conhecimento e também pelo momento em que foi formado, solicitar
este tipo de “carteirada”. Mas definitivamente este não é o momento para este tipo de
posicionamento de elite cientificista, observo o que ele disse como a simplicidade que ele
tenta propor: precisamos nos conectar com o nosso objeto, a nossa humanidade. Quem me
comprovar que um texto escrito em terceira pessoa é por essência mais legítimo e sensível aos
assuntos e angústias humanos do que este à sua frente, ou uma obra literária como 1984 ou
Macbeth - e pelo amor do grande arquiteto, eu não estou me comparando com Orwell ou
Sheakespeare - , eu aceito com tranquilidade desclassificação da minha avaliação.
Eu como licencianda, sempre me debruço em como fazer o “upload” destes
conhecimentos para as futuras gerações, de maneira que elas possam reconstruir esta realidade
de maneira mais justa, mais bondosa, mais humana. Por este motivo penso que implementar
um conteúdo rígido, robótico, descontextualizados falar de relações humanas de maneira
distanciada, enxuta de emoções e das sensibilidades que são intrínsecas ao nosso pensar, é
bem mais que errôneo é hipócrita, pois este ambiente asséptico é inexistente até mesmo em
um laboratório químico, o que se dizer das sociedades?
Observar um movimento em todo o mundo onde desqualifica a ciência é justamente
pelas pessoas não se reconhecerem na ciência. Este distanciamento por eras, numa tentativa de
se manter com o status superior de detentor da voz autorizado do conhecimento, nos
desconectou de quem deveríamos observar, e das responsabilidades sobre a análise destas
observações e como ajudar a melhorar, não a sociedade, mas nós, a humanidade.
Produzir conhecimento pelo conhecimento é leviano, e é um resultado do não trazer
para si o todo. É se encantar por demais pelo machado, e não cortar a madeira, em certo
momento todos morrem de frio no inverno. Talvez Adams estivesse certo, precisamos sempre
de uma pergunta como norte.
Então retomemos à responder o nosso questionamento inicial para que serve a Teoria
Social?
Adams disse uma vez que escolheu o número 42 como uma resposta arbitrária pois ela
não era importante, mas se há algo que se observa em sua escrita irônica ao extremo e por sua

3
CHOMSKY, Noam. Palestra, 1998. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Sc9CLEG Zdgc
sagacidade, é que nada que ele diz é em vão. Alguns teóricos literários relacionam o grande
apreço de Adams por linguagem de sistemas o número 42. Na linguagem ASCII o 42 é a
codificação para o asterisco (*) que por sua vez significa em programação “tudo” ou
“qualquer coisa”.
E nesta perspectiva eu me reservo ao direito de não utilizar qualquer teórico social para
dar esta resposta. Hoje estou concordando com o Adams, não sei se esta é a pergunta para 42 -
e se for, provavelmente a terra será explodida por uma nave Worg para a construção de uma
autoestrada intergaláctica em qualquer minuto…ou não.
A teoria social para mim serve para qualquer coisa, desde uma abstração que nos
distancia de nossas potencialidades enquanto seres humanos, tentando nos encaixar em
elucubrações objetivadas e científicas, ou até apaziguar os ânimos entre os conhecimentos
alinhavando nossa colcha de retalhos de entendimentos, histórias, vivências e nos mostrando
que temos mais à colaborar do que em competir.

Referências

ADAMS, Douglas. O guia do mochileiro das galáxias. v. 1. São Paulo: Arqueiro, 2011.
CHOMSKY, Noam. Palestra, 1998. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v
=Sc9CLEGZdgc
Palestra: Para que serve a Teoria Social Março/2019

Você também pode gostar