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Lei n.

º 49/2005
de 30 de Agosto

Segunda alteração à Lei de Bases do Sistema Educativo e primeira alteração à Lei de


Bases do Financiamento do Ensino Superior.

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da


Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º
Alteração à Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro

Os artigos 11.º, 12.º, 13.º, 31.º e 59.º da Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro (Lei de Bases
do Sistema Educativo), alterada pela Lei n.º 115/97, de 19 de Setembro, passam a ter a
seguinte redacção:

«Artigo 11.º
[...]
1 - ...
2 - São objectivos do ensino superior:
a) Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e
empreendedor, bem como do pensamento reflexivo;
b) Formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em
sectores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade, e
colaborar na sua formação contínua;
c) Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia, das humanidades e das artes, e a criação e
difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em
que se integra;
d) Promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos, que
constituem património da humanidade, e comunicar o saber através do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação;
e) Suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar
a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos
numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração, na lógica
de educação ao longo da vida e de investimento geracional e intergeracional, visando
realizar a unidade do processo formativo;
f) Estimular o conhecimento dos problemas do mundo de hoje, num horizonte de
globalidade, em particular os nacionais, regionais e europeus, prestar serviços
especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;
g) ...
h) Promover e valorizar a língua e a cultura portuguesas;
i) Promover o espírito crítico e a liberdade de expressão e de investigação.
3 - O ensino universitário, orientado por uma constante perspectiva de promoção de
investigação e de criação do saber, visa assegurar uma sólida preparação científica e
cultural e proporcionar uma formação técnica que habilite para o exercício de
actividades profissionais e culturais e fomente o desenvolvimento das capacidades de
concepção, de inovação e de análise crítica.
4 - O ensino politécnico, orientado por uma constante perspectiva de investigação
aplicada e de desenvolvimento, dirigido à compreensão e solução de problemas
concretos, visa proporcionar uma sólida formação cultural e técnica de nível superior,
desenvolver a capacidade de inovação e de análise crítica e ministrar conhecimentos
científicos de índole teórica e prática e as suas aplicações com vista ao exercício de
actividades profissionais.

Artigo 12.º
[...]
1 - ...
2 - ...
3 - ...
4 - ...
5 - Têm igualmente acesso ao ensino superior, nas condições a definir pelo Governo,
através de decreto-lei:
a) Os maiores de 23 anos que, não sendo titulares da habilitação de acesso ao ensino
superior, façam prova de capacidade para a sua frequência através da realização de
provas especialmente adequadas, realizadas pelos estabelecimentos de ensino superior;
b) Os titulares de qualificações pós-secundárias apropriadas.
6 - ...
7 - Os trabalhadores-estudantes terão regimes especiais de acesso e ingresso e de
frequência do ensino superior que garantam os objectivos da aprendizagem ao longo da
vida e da flexibilidade e mobilidade dos percursos escolares.

Artigo 13.º
Organização da formação, reconhecimento e mobilidade
1 - A organização da formação ministrada pelos estabelecimentos de ensino superior
adopta o sistema europeu de créditos.
2 - Os créditos são a unidade de medida do trabalho do estudante.
3 - O número de horas de trabalho do estudante a considerar inclui todas as formas de
trabalho previstas, designadamente as horas de contacto e as horas dedicadas a estágios,
projectos, trabalhos no terreno, estudo e avaliação.
4 - A mobilidade dos estudantes entre os estabelecimentos de ensino superior nacionais,
do mesmo ou de diferentes subsistemas, bem como entre estabelecimentos de ensino
superior estrangeiros e nacionais, é assegurada através do sistema de créditos, com base
no princípio do reconhecimento mútuo do valor da formação e das competências
adquiridas.
5 - Os estabelecimentos de ensino superior reconhecem, através da atribuição de
créditos, a experiência profissional e a formação pós-secundária dos que nele sejam
admitidos através das modalidades especiais de acesso a que se refere o n.º 5 do artigo
12.º
6 - Os estabelecimentos de ensino superior podem associar-se com outros
estabelecimentos de ensino superior, nacionais ou estrangeiros, para conferirem os graus
académicos e atribuírem os diplomas previstos nos artigos seguintes.
7 - Não é permitido o funcionamento de estabelecimentos de ensino superior em regime
de franquia.

Artigo 31.º
[...]
1 - Os educadores de infância e os professores dos ensinos básico e secundário
adquirem a qualificação profissional através de cursos superiores organizados de acordo
com as necessidades do desempenho profissional no respectivo nível de educação e
ensino.
2 - ...
3 - ...
4 - ...
5 - ...
6 - A qualificação profissional dos professores de disciplinas de natureza profissional,
vocacional ou artística dos ensinos básico e secundário pode adquirir-se através de
cursos superiores que assegurem a formação na área da disciplina respectiva,
complementados por formação pedagógica adequada.
7 - A qualificação profissional dos professores do ensino secundário pode ainda
adquirir-se através de cursos superiores que assegurem a formação científica na área de
docência respectiva, complementados por formação pedagógica adequada.

Artigo 59.º
[...]
1 - ...
a) ...
b) ...
c) ...
d) ...
e) ...
f) Ensino superior;
g) [Anterior alínea f).]
h) [Anterior alínea g).]
i) [Anterior alínea h).]
j) [Anterior alínea i).]
l) [Anterior alínea j).]
m) [Anterior alínea l).]
n) [Anterior alínea m).]
o) [Anterior alínea n).]
2 - ...
3 - ...»

Artigo 2.º
Aditamento à Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro
São aditados os artigos 13.º-A, 13.º-B e 13.º-C à Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro (Lei de
Bases do Sistema Educativo), alterada pela Lei n.º 115/97, de 19 de Setembro, com a
seguinte redacção:

«Artigo 13.º-A
Graus académicos
1 - No ensino superior são conferidos os graus académicos de licenciado, mestre e
doutor.
2 - O grau de licenciado é conferido nos ensinos universitário e politécnico.
3 - O grau de licenciado é conferido após um ciclo de estudos com um número de
créditos que corresponda a uma duração compreendida entre seis e oito semestres
curriculares de trabalho.
4 - O grau de mestre é conferido nos ensinos universitário e politécnico.
5 - Têm acesso ao ciclo de estudos conducente ao grau de mestre:
a) Os titulares do grau de licenciado;
b) Os titulares de um grau académico superior estrangeiro que seja reconhecido como
satisfazendo os objectivos do grau de licenciado pelo órgão científico estatutariamente
competente do estabelecimento de ensino superior onde pretendem ser admitidos.
6 - O grau de mestre é conferido:
a) Após um ciclo de estudos com um número de créditos que corresponda a uma
duração compreendida entre três e quatro semestres curriculares de trabalho;
b) A título excepcional, após um ciclo de estudos com um número de créditos que
corresponda a dois semestres curriculares de trabalho.
7 - O grau de mestre pode igualmente ser conferido após um ciclo de estudos integrado
com um número de créditos que corresponda a uma duração compreendida entre 10 e 12
semestres curriculares de trabalho, nos casos em que, para o acesso ao exercício de uma
determinada actividade profissional, essa duração:
a) Seja fixada por normas legais da União Europeia;
b) Resulte de uma prática estável e consolidada na União Europeia.
8 - O ciclo de estudos a que se refere o número anterior pode ser organizado em etapas,
podendo o estabelecimento de ensino atribuir o grau de licenciado aos que tenham
concluído um período de estudos com duração não inferior a seis semestres.
9 - O grau de doutor é conferido no ensino universitário.
10 - Têm acesso ao ciclo de estudos conducente ao grau de doutor:
a) Os titulares do grau de mestre;
b) Os detentores de um currículo escolar, científico ou profissional que seja reconhecido
pelo órgão científico estatutariamente competente do estabelecimento de ensino
superior onde pretendem ser admitidos como atestando capacidade para realização deste
ciclo de estudos.
11 - Só podem conferir um dado grau académico numa determinada área os
estabelecimentos de ensino superior que disponham de um corpo docente próprio,
qualificado nessa área, e dos demais recursos humanos e materiais que garantam o nível
e a qualidade da formação adquirida.
12 - Só podem conferir o grau de doutor numa determinada área os estabelecimentos de
ensino superior universitário que, para além das condições a que se refere o número
anterior, demonstrem possuir, nessa área, os recursos humanos e organizativos
necessários à realização de investigação e uma experiência acumulada nesse domínio
sujeita a avaliação e concretizada numa produção científica e académica relevantes.

Artigo 13.º-B
Diplomas
1 - Os estabelecimentos de ensino superior podem realizar cursos não conferentes de
grau académico cuja conclusão com aproveitamento conduza à atribuição de um
diploma.
2 - Os ciclos de estudos conducentes ao grau de licenciado ou de mestre podem ser
organizados em etapas, correspondendo cada etapa à atribuição de um diploma.

Artigo 13.º-C
Formação pós-secundária
1 - Os estabelecimentos de ensino superior podem ainda realizar cursos de ensino pós-
secundário não superior visando a formação profissional especializada.
2 - Os titulares dos cursos referidos no número anterior estão habilitados a concorrer ao
acesso e ingresso no ensino superior, sendo a formação superior neles realizada
creditável no âmbito do curso em que sejam admitidos.»
Artigo 3.º
Alteração à Lei n.º 37/2003, de 22 de Agosto
O artigo 16.º da Lei n.º 37/2003, de 22 de Agosto (estabelece as fases do financiamento
do ensino superior), passa a ter a seguinte redacção:

«Artigo 16.º
[...]
1 - ...
2 - O valor da propina é fixado em função da natureza dos cursos e da sua qualidade,
com um valor mínimo correspondente a 1,3 do salário mínimo nacional em vigor e um
valor máximo que não poderá ser superior ao valor fixado no n.º 2 do artigo 1.º da
tabela anexa ao Decreto-Lei n.º 31658, de 21 de Novembro de 1941, actualizada, para o
ano civil anterior, através da aplicação do índice de preços no consumidor do Instituto
Nacional de Estatística.
3 - O valor da propina devida pela inscrição no ciclo de estudos conducente ao grau de
mestre organizado nos termos do n.º 7 do artigo 13.º-A da Lei n.º 46/86, de 14 de
Outubro (Lei de Bases do Sistema Educativo), é fixado nos termos do número anterior.
4 - O valor da propina devida pela inscrição no ciclo de estudos conducente ao grau de
mestre nos restantes casos é fixado pelos órgãos a que se refere o artigo 17.º, nos termos
a definir pelo Governo.
5 - O valor da propina devida pela inscrição no ciclo de estudos conducente ao grau de
doutor é fixado pelos órgãos a que se referem as alíneas a) e c) do artigo 17.º
6 - O valor da propina devida pela inscrição nos restantes programas de estudos é fixado
pelos órgãos a que se refere o artigo 17.º
7 - (Anterior n.º 4.)
8 - Sempre que as universidades, os institutos politécnicos e os estabelecimentos de
ensino superior não integrados e as respectivas unidades orgânicas com autonomia
administrativa e financeira não fixem em determinado ano o valor das propinas, o
respectivo montante é actualizado nos termos do n.º 2.»

Artigo 4.º
Republicação
A Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 115/97,
de 19 de Setembro, e com as alterações e aditamentos introduzidos pela presente lei, é
republicada e renumerada na sua totalidade em anexo, que dela faz parte integrante.

Aprovada em 28 de Julho de 2005.

O Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.

Promulgada em 14 de Agosto de 2005.

Publique-se.

O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.

Referendada em 18 de Agosto de 2005.

O Primeiro-Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.


ANEXO
LEI DE BASES DO SISTEMA EDUCATIVO
CAPÍTULO I

Âmbito e princípios

Artigo 1.º
Âmbito e definição
1 - A presente lei estabelece o quadro geral do sistema educativo.
2 - O sistema educativo é o conjunto de meios pelo qual se concretiza o direito à
educação, que se exprime pela garantia de uma permanente acção formativa orientada
para favorecer o desenvolvimento global da personalidade, o progresso social e a
democratização da sociedade.
3 - O sistema educativo desenvolve-se segundo um conjunto organizado de estruturas e
de acções diversificadas, por iniciativa e sob responsabilidade de diferentes instituições
e entidades públicas, particulares e cooperativas.
4 - O sistema educativo tem por âmbito geográfico a totalidade do território português -
continente e Regiões Autónomas -, mas deve ter uma expressão suficientemente flexível
e diversificada, de modo a abranger a generalidade dos países e dos locais em que
vivam comunidades de portugueses ou em que se verifique acentuado interesse pelo
desenvolvimento e divulgação da cultura portuguesa.
5 - A coordenação da política relativa ao sistema educativo, independentemente das
instituições que o compõem, incumbe a um ministério especialmente vocacionado para
o efeito.

Artigo 2.º
Princípios gerais
1 - Todos os portugueses têm direito à educação e à cultura, nos termos da Constituição
da República.
2 - É da especial responsabilidade do Estado promover a democratização do ensino,
garantindo o direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no acesso e
sucesso escolares.
3 - No acesso à educação e na sua prática é garantido a todos os portugueses o respeito
pelo princípio da liberdade de aprender e de ensinar, com tolerância para com as
escolhas possíveis, tendo em conta, designadamente, os seguintes princípios:
a) O Estado não pode atribuir-se o direito de programar a educação e a cultura segundo
quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas;
b) O ensino público não será confessional;
c) É garantido o direito de criação de escolas particulares e cooperativas.
4 - O sistema educativo responde às necessidades resultantes da realidade social,
contribuindo para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos
indivíduos, incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e
solidários e valorizando a dimensão humana do trabalho.
5 - A educação promove o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista,
respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões,
formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em
que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva.

Artigo 3.º
Princípios organizativos
O sistema educativo organiza-se de forma a:
a) Contribuir para a defesa da identidade nacional e para o reforço da fidelidade à matriz
histórica de Portugal, através da consciencialização relativamente ao património cultural
do povo português, no quadro da tradição universalista europeia e da crescente
interdependência e necessária solidariedade entre todos os povos do mundo;
b) Contribuir para a realização do educando, através do pleno desenvolvimento da
personalidade, da formação do carácter e da cidadania, preparando-o para uma reflexão
consciente sobre os valores espirituais, estéticos, morais e cívicos e proporcionando-lhe
um equilibrado desenvolvimento físico;
c) Assegurar a formação cívica e moral dos jovens;
d) Assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas personalidades e pelos
projectos individuais da existência, bem como da consideração e valorização dos
diferentes saberes e culturas;
e) Desenvolver a capacidade para o trabalho e proporcionar, com base numa sólida
formação geral, uma formação específica para a ocupação de um justo lugar na vida
activa que permita ao indivíduo prestar o seu contributo ao progresso da sociedade em
consonância com os seus interesses, capacidades e vocação;
f) Contribuir para a realização pessoal e comunitária dos indivíduos, não só pela
formação para o sistema de ocupações socialmente úteis mas ainda pela prática e
aprendizagem da utilização criativa dos tempos livres;
g) Descentralizar, desconcentrar e diversificar as estruturas e acções educativas de modo
a proporcionar uma correcta adaptação às realidades, um elevado sentido de
participação das populações, uma adequada inserção no meio comunitário e níveis de
decisão eficientes;
h) Contribuir para a correcção das assimetrias de desenvolvimento regional e local,
devendo incrementar em todas as regiões do País a igualdade no acesso aos benefícios
da educação, da cultura e da ciência;
i) Assegurar uma escolaridade de segunda oportunidade aos que dela não usufruíram na
idade própria, aos que procuram o sistema educativo por razões profissionais ou de
promoção cultural, devidas, nomeadamente, a necessidades de reconversão ou
aperfeiçoamento decorrentes da evolução dos conhecimentos científicos e tecnológicos;
j) Assegurar a igualdade de oportunidade para ambos os sexos, nomeadamente através
das práticas de coeducação e da orientação escolar e profissional, e sensibilizar, para o
efeito, o conjunto dos intervenientes no processo educativo;
l) Contribuir para desenvolver o espírito e a prática democráticos, através da adopção de
estruturas e processos participativos na definição da política educativa, na administração
e gestão do sistema escolar e na experiência pedagógica quotidiana, em que se integram
todos os intervenientes no processo educativo, em especial os alunos, os docentes e as
famílias.

CAPÍTULO II
Organização do sistema educativo

Artigo 4.º
Organização geral do sistema educativo
1 - O sistema educativo compreende a educação pré-escolar, a educação escolar e a
educação extra-escolar.
2 - A educação pré-escolar, no seu aspecto formativo, é complementar e ou supletiva da
acção educativa da família, com a qual estabelece estreita cooperação.
3 - A educação escolar compreende os ensinos básico, secundário e superior, integra
modalidades especiais e inclui actividades de ocupação de tempos livres.
4 - A educação extra-escolar engloba actividades de alfabetização e de educação de
base, de aperfeiçoamento e actualização cultural e científica e a iniciação, reconversão e
aperfeiçoamento profissional e realiza-se num quadro aberto de iniciativas múltiplas, de
natureza formal e não formal.

SECÇÃO I
Educação pré-escolar

Artigo 5.º
Educação pré-escolar
1 - São objectivos da educação pré-escolar:
a) Estimular as capacidades de cada criança e favorecer a sua formação e o
desenvolvimento equilibrado de todas as suas potencialidades;
b) Contribuir para a estabilidade e a segurança afectivas da criança;
c) Favorecer a observação e a compreensão do meio natural e humano para melhor
integração e participação da criança;
d) Desenvolver a formação moral da criança e o sentido da responsabilidade, associado
ao da liberdade;
e) Fomentar a integração da criança em grupos sociais diversos, complementares da
família, tendo em vista o desenvolvimento da sociabilidade;
f) Desenvolver as capacidades de expressão e comunicação da criança, assim como a
imaginação criativa, e estimular a actividade lúdica;
g) Incutir hábitos de higiene e de defesa da saúde pessoal e colectiva;
h) Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências ou precocidades e promover a
melhor orientação e encaminhamento da criança.
2 - A prossecução dos objectivos enunciados far-se-á de acordo com conteúdos,
métodos e técnicas apropriados, tendo em conta a articulação com o meio familiar.
3 - A educação pré-escolar destina-se às crianças com idades compreendidas entre os 3
anos e a idade de ingresso no ensino básico.
4 - Incumbe ao Estado assegurar a existência de uma rede de educação pré-escolar.
5 - A rede de educação pré-escolar é constituída por instituições próprias, de iniciativa
do poder central, regional ou local e de outras entidades, colectivas ou individuais,
designadamente associações de pais e de moradores, organizações cívicas e
confessionais, organizações sindicais e de empresa e instituições de solidariedade social.
6 - O Estado deve apoiar as instituições de educação pré-escolar integradas na rede
pública, subvencionando, pelo menos, uma parte dos seus custos de funcionamento.
7 - Ao ministério responsável pela coordenação da política educativa compete definir as
normas gerais da educação pré-escolar, nomeadamente nos seus aspectos pedagógico e
técnico, e apoiar e fiscalizar o seu cumprimento e aplicação.
8 - A frequência da educação pré-escolar é facultativa no reconhecimento de que à
família cabe um papel essencial no processo da educação pré-escolar.

SECÇÃO II
Educação escolar
SUBSECÇÃO I
Ensino básico

Artigo 6.º
Universalidade
1 - O ensino básico é universal, obrigatório e gratuito e tem a duração de nove anos.
2 - Ingressam no ensino básico as crianças que completem 6 anos de idade até 15 de
Setembro.
3 - As crianças que completem os 6 anos de idade entre 16 de Setembro e 31 de
Dezembro podem ingressar no ensino básico se tal for requerido pelo encarregado de
educação, em termos a regulamentar.
4 - A obrigatoriedade de frequência do ensino básico termina aos 15 anos de idade.
5 - A gratuitidade no ensino básico abrange propinas, taxas e emolumentos relacionados
com a matrícula, frequência e certificação, podendo ainda os alunos dispor
gratuitamente do uso de livros e material escolar, bem como de transporte, alimentação
e alojamento, quando necessários.

Artigo 7.º
Objectivos
São objectivos do ensino básico:
a) Assegurar uma formação geral comum a todos os portugueses que lhes garanta a
descoberta e o desenvolvimento dos seus interesses e aptidões, capacidade de
raciocínio, memória e espírito crítico, criatividade, sentido moral e sensibilidade
estética, promovendo a realização individual em harmonia com os valores da
solidariedade social;
b) Assegurar que nesta formação sejam equilibradamente inter-relacionados o saber e o
saber fazer, a teoria e a prática, a cultura escolar e a cultura do quotidiano;
c) Proporcionar o desenvolvimento físico e motor, valorizar as actividades manuais e
promover a educação artística, de modo a sensibilizar para as diversas formas de
expressão estética, detectando e estimulando aptidões nesses domínios;
d) Proporcionar a aprendizagem de uma primeira língua estrangeira e a iniciação de
uma segunda;
e) Proporcionar a aquisição dos conhecimentos basilares que permitam o
prosseguimento de estudos ou a inserção do aluno em esquemas de formação
profissional, bem como facilitar a aquisição e o desenvolvimento de métodos e
instrumentos de trabalho pessoal e em grupo, valorizando a dimensão humana do
trabalho;
f) Fomentar a consciência nacional aberta à realidade concreta numa perspectiva de
humanismo universalista, de solidariedade e de cooperação internacional;
g) Desenvolver o conhecimento e o apreço pelos valores característicos da identidade,
língua, história e cultura portuguesas;
h) Proporcionar aos alunos experiências que favoreçam a sua maturidade cívica e sócio-
afectiva, criando neles atitudes e hábitos positivos de relação e cooperação, quer no
plano dos seus vínculos de família, quer no da intervenção consciente e responsável na
realidade circundante;
i) Proporcionar a aquisição de atitudes autónomas, visando a formação de cidadãos
civicamente responsáveis e democraticamente intervenientes na vida comunitária;
j) Assegurar às crianças com necessidades educativas específicas, devidas,
designadamente, a deficiências físicas e mentais, condições adequadas ao seu
desenvolvimento e pleno aproveitamento das suas capacidades;
l) Fomentar o gosto por uma constante actualização de conhecimentos;
m) Participar no processo de informação e orientação educacionais em colaboração com
as famílias;
n) Proporcionar, em liberdade de consciência, a aquisição de noções de educação cívica
e moral;
o) Criar condições de promoção do sucesso escolar e educativo a todos os alunos.

Artigo 8.º
Organização
1 - O ensino básico compreende três ciclos sequenciais, sendo o 1.º de quatro anos, o 2.º
de dois anos e o 3.º de três anos, organizados nos seguintes termos:
a) No 1.º ciclo, o ensino é globalizante, da responsabilidade de um professor único, que
pode ser coadjuvado em áreas especializadas;
b) No 2.º ciclo, o ensino organiza-se por áreas interdisciplinares de formação básica e
desenvolve-se predominantemente em regime de professor por área;
c) No 3.º ciclo, o ensino organiza-se segundo um plano curricular unificado, integrando
áreas vocacionais diversificadas, e desenvolve-se em regime de um professor por
disciplina ou grupo de disciplinas.
2 - A articulação entre os ciclos obedece a uma sequencialidade progressiva, conferindo
a cada ciclo a função de completar, aprofundar e alargar o ciclo anterior, numa
perspectiva de unidade global do ensino básico.
3 - Os objectivos específicos de cada ciclo integram-se nos objectivos gerais do ensino
básico, nos termos dos números anteriores e de acordo com o desenvolvimento etário
correspondente, tendo em atenção as seguintes particularidades:
a) Para o 1.º ciclo, o desenvolvimento da linguagem oral e a iniciação e progressivo
domínio da leitura e da escrita, das noções essenciais da aritmética e do cálculo, do
meio físico e social e das expressões plástica, dramática, musical e motora;
b) Para o 2.º ciclo, a formação humanística, artística, física e desportiva, científica e
tecnológica e a educação moral e cívica, visando habilitar os alunos a assimilar e
interpretar crítica e criativamente a informação, de modo a possibilitar a aquisição de
métodos e instrumentos de trabalho e de conhecimento que permitam o prosseguimento
da sua formação, numa perspectiva do desenvolvimento de atitudes activas e
conscientes perante a comunidade e os seus problemas mais importantes;
c) Para o 3.º ciclo, a aquisição sistemática e diferenciada da cultura moderna, nas suas
dimensões humanística, literária, artística, física e desportiva, científica e tecnológica,
indispensável ao ingresso na vida activa e ao prosseguimento de estudos, bem como a
orientação escolar e profissional que faculte a opção de formação subsequente ou de
inserção na vida activa, com respeito pela realização autónoma da pessoa humana.
4 - Em escolas especializadas do ensino básico podem ser reforçadas componentes de
ensino artístico ou de educação física e desportiva, sem prejuízo da formação básica.
5 - A conclusão com aproveitamento do ensino básico confere o direito à atribuição de
um diploma, devendo igualmente ser certificado o aproveitamento de qualquer ano ou
ciclo, quando solicitado.

SUBSECÇÃO II
Ensino secundário
Artigo 9.º
Objectivos
O ensino secundário tem por objectivos:
a) Assegurar o desenvolvimento do raciocínio, da reflexão e da curiosidade científica e
o aprofundamento dos elementos fundamentais de uma cultura humanística, artística,
científica e técnica que constituam suporte cognitivo e metodológico apropriado para o
eventual prosseguimento de estudos e para a inserção na vida activa;
b) Facultar aos jovens conhecimentos necessários à compreensão das manifestações
estéticas e culturais e possibilitar o aperfeiçoamento da sua expressão artística;
c) Fomentar a aquisição e aplicação de um saber cada vez mais aprofundado assente no
estudo, na reflexão crítica, na observação e na experimentação;
d) Formar, a partir da realidade concreta da vida regional e nacional, e no apreço pelos
valores permanentes da sociedade, em geral, e da cultura portuguesa, em particular,
jovens interessados na resolução dos problemas do País e sensibilizados para os
problemas da comunidade internacional;
e) Facultar contactos e experiências com o mundo do trabalho, fortalecendo os
mecanismos de aproximação entre a escola, a vida activa e a comunidade e dinamizando
a função inovadora e interventora da escola;
f) Favorecer a orientação e formação profissional dos jovens, através da preparação
técnica e tecnológica, com vista à entrada no mundo do trabalho;
g) Criar hábitos de trabalho, individual e em grupo, e favorecer o desenvolvimento de
atitudes de reflexão metódica, de abertura de espírito, de sensibilidade e de
disponibilidade e adaptação à mudança.

Artigo 10.º
Organização
1 - Têm acesso a qualquer curso do ensino secundário os que completarem com
aproveitamento o ensino básico.
2 - Os cursos do ensino secundário têm a duração de três anos.
3 - O ensino secundário organiza-se segundo formas diferenciadas, contemplando a
existência de cursos predominantemente orientados para a vida activa ou para o
prosseguimento de estudos, contendo todas elas componentes de formação de sentido
técnico, tecnológico e profissionalizante e de língua e cultura portuguesas adequadas à
natureza dos diversos cursos.
4 - É garantida a permeabilidade entre os cursos predominantemente orientados para a
vida activa e os cursos predominantemente orientados para o prosseguimento de
estudos.
5 - A conclusão com aproveitamento do ensino secundário confere direito à atribuição
de um diploma, que certificará a formação adquirida e, nos casos dos cursos
predominantemente orientados para a vida activa, a qualificação obtida para efeitos do
exercício de actividades profissionais determinadas.
6 - No ensino secundário cada professor é responsável, em princípio, por uma só
disciplina.
7 - Podem ser criados estabelecimentos especializados destinados ao ensino e prática de
cursos de natureza técnica e tecnológica ou de índole artística.
SUBSECÇÃO III
Ensino superior

Artigo 11.º
Âmbito e objectivos
1 - O ensino superior compreende o ensino universitário e o ensino politécnico.
2 - São objectivos do ensino superior:
a) Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e
empreendedor, bem como do pensamento reflexivo;
b) Formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em
sectores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade, e
colaborar na sua formação contínua;
c) Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia, das humanidades e das artes, e a criação e
difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em
que se integra;
d) Promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos, que
constituem património da humanidade, e comunicar o saber através do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação;
e) Suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar
a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos
numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração, na lógica
de educação ao longo da vida e de investimento geracional e intergeracional, visando
realizar a unidade do processo formativo;
f) Estimular o conhecimento dos problemas do mundo de hoje, num horizonte de
globalidade, em particular os nacionais, regionais e europeus, prestar serviços
especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;
g) Continuar a formação cultural e profissional dos cidadãos pela promoção de formas
adequadas de extensão cultural;
h) Promover e valorizar a língua e a cultura portuguesas;
i) Promover o espírito crítico e a liberdade de expressão e de investigação.
3 - O ensino universitário, orientado por uma constante perspectiva de promoção de
investigação e de criação do saber, visa assegurar uma sólida preparação científica e
cultural e proporcionar uma formação técnica que habilite para o exercício de
actividades profissionais e culturais e fomente o desenvolvimento das capacidades de
concepção, de inovação e de análise crítica.
4 - O ensino politécnico, orientado por uma constante perspectiva de investigação
aplicada e de desenvolvimento, dirigido à compreensão e solução de problemas
concretos, visa proporcionar uma sólida formação cultural e técnica de nível superior,
desenvolver a capacidade de inovação e de análise crítica e ministrar conhecimentos
científicos de índole teórica e prática e as suas aplicações com vista ao exercício de
actividades profissionais.

Artigo 12.º
Acesso
1 - Têm acesso ao ensino superior os indivíduos habilitados com o curso do ensino
secundário ou equivalente que façam prova de capacidade para a sua frequência.
2 - O Governo define, através de decreto-lei, os regimes de acesso e ingresso no ensino
superior, em obediência aos seguintes princípios:
a) Democraticidade, equidade e igualdade de oportunidades;
b) Objectividade dos critérios utilizados para a selecção e seriação dos candidatos;
c) Universalidade de regras para cada um dos subsistemas de ensino superior;
d) Valorização do percurso educativo do candidato no ensino secundário, nas suas
componentes de avaliação contínua e provas nacionais, traduzindo a relevância para o
acesso ao ensino superior do sistema de certificação nacional do ensino secundário;
e) Utilização obrigatória da classificação final do ensino secundário no processo de
seriação;
f) Coordenação dos estabelecimentos de ensino superior para a realização da avaliação,
selecção e seriação por forma a evitar a proliferação de provas a que os candidatos
venham a submeter-se;
g) Carácter nacional do processo de candidatura à matrícula e inscrição nos
estabelecimentos de ensino superior público, sem prejuízo da realização, em casos
devidamente fundamentados, de concursos de natureza local;
h) Realização das operações de candidatura pelos serviços da administração central e
regional da educação.
3 - Nos limites definidos pelo número anterior, o processo de avaliação da capacidade
para a frequência, bem como o de selecção e seriação dos candidatos ao ingresso em
cada curso e estabelecimento de ensino superior, é da competência dos estabelecimentos
de ensino superior.
4 - O Estado deve progressivamente assegurar a eliminação de restrições quantitativas
de carácter global no acesso ao ensino superior (numerus clausus) e criar as condições
para que os cursos existentes e a criar correspondam globalmente às necessidades em
quadros qualificados, às aspirações individuais e à elevação do nível educativo, cultural
e científico do País e para que seja garantida a qualidade do ensino ministrado.
5 - Têm igualmente acesso ao ensino superior, nas condições a definir pelo Governo,
através de decreto-lei:
a) Os maiores de 23 anos que, não sendo titulares da habilitação de acesso ao ensino
superior, façam prova de capacidade para a sua frequência através da realização de
provas especialmente adequadas, realizadas pelos estabelecimentos de ensino superior;
b) Os titulares de qualificações pós-secundárias apropriadas.
6 - O Estado deve criar as condições que garantam aos cidadãos a possibilidade de
frequentar o ensino superior, de forma a impedir os efeitos discriminatórios decorrentes
das desigualdades económicas e regionais ou de desvantagens sociais prévias.
7 - Os trabalhadores-estudantes terão regimes especiais de acesso e ingresso e de
frequência do ensino superior que garantam os objectivos da aprendizagem ao longo da
vida e da flexibilidade e mobilidade dos percursos escolares.

Artigo 13.º
Organização da formação, reconhecimento e mobilidade
1 - A organização da formação ministrada pelos estabelecimentos de ensino superior
adopta o sistema europeu de créditos.
2 - Os créditos são a unidade de medida do trabalho do estudante.
3 - O número de horas de trabalho do estudante a considerar inclui todas as formas de
trabalho previstas, designadamente as horas de contacto e as horas dedicadas a estágios,
projectos, trabalhos no terreno, estudo e avaliação.
4 - A mobilidade dos estudantes entre os estabelecimentos de ensino superior nacionais,
do mesmo ou de diferentes subsistemas, bem como entre estabelecimentos de ensino
superior estrangeiros e nacionais, é assegurada através do sistema de créditos, com base
no princípio do reconhecimento mútuo do valor da formação e das competências
adquiridas.
5 - Os estabelecimentos de ensino superior reconhecem, através da atribuição de
créditos, a experiência profissional e a formação pós-secundária dos que nele sejam
admitidos através das modalidades especiais de acesso a que se refere o n.º 5 do artigo
12.º
6 - Os estabelecimentos de ensino superior podem associar-se com outros
estabelecimentos de ensino superior, nacionais ou estrangeiros, para conferirem os graus
académicos e atribuírem os diplomas previstos nos artigos seguintes.
7 - Não é permitido o funcionamento de estabelecimentos de ensino superior em regime
de franquia.

Artigo 14.º
Graus académicos
1 - No ensino superior são conferidos os graus académicos de licenciado, mestre e
doutor.
2 - O grau de licenciado é conferido nos ensinos universitário e politécnico.
3 - O grau de licenciado é conferido após um ciclo de estudos com um número de
créditos que corresponda a uma duração compreendida entre seis e oito semestres
curriculares de trabalho.
4 - O grau de mestre é conferido nos ensinos universitário e politécnico.
5 - Têm acesso ao ciclo de estudos conducente ao grau de mestre:
a) Os titulares do grau de licenciado;
b) Os titulares de um grau académico superior estrangeiro que seja reconhecido como
satisfazendo os objectivos do grau de licenciado pelo órgão científico estatutariamente
competente do estabelecimento de ensino superior onde pretendem ser admitidos.
6 - O grau de mestre é conferido:
a) Após um ciclo de estudos com um número de créditos que corresponda a uma
duração compreendida entre três e quatro semestres curriculares de trabalho;
b) A título excepcional, após um ciclo de estudos com um número de créditos que
corresponda a dois semestres curriculares de trabalho.
7 - O grau de mestre pode igualmente ser conferido após um ciclo de estudos integrado
com um número de créditos que corresponda a uma duração compreendida entre 10 e 12
semestres curriculares de trabalho, nos casos em que, para o acesso ao exercício de uma
determinada actividade profissional, essa duração:
a) Seja fixada por normas legais da União Europeia;
b) Resulte de uma prática estável e consolidada na União Europeia.
8 - O ciclo de estudos a que se refere o número anterior pode ser organizado em etapas,
podendo o estabelecimento de ensino atribuir o grau de licenciado aos que tenham
concluído um período de estudos com duração não inferior a seis semestres.
9 - O grau de doutor é conferido no ensino universitário.
10 - Têm acesso ao ciclo de estudos conducente ao grau de doutor:
a) Os titulares do grau de mestre;
b) Os detentores de um currículo escolar, científico ou profissional que seja reconhecido
pelo órgão científico estatutariamente competente do estabelecimento de ensino
superior onde pretendem ser admitidos como atestando capacidade para realização deste
ciclo de estudos.
11 - Só podem conferir um dado grau académico numa determinada área os
estabelecimentos de ensino superior que disponham de um corpo docente próprio,
qualificado nessa área, e dos demais recursos humanos e materiais que garantam o nível
e a qualidade da formação adquirida.
12 - Só podem conferir o grau de doutor numa determinada área os estabelecimentos de
ensino superior universitário que, para além das condições a que se refere o número
anterior, demonstrem possuir, nessa área, os recursos humanos e organizativos
necessários à realização de investigação e uma experiência acumulada nesse domínio
sujeita a avaliação e concretizada numa produção científica e académica relevantes.

Artigo 15.º
Diplomas
1 - Os estabelecimentos de ensino superior podem realizar cursos não conferentes de
grau académico cuja conclusão com aproveitamento conduza à atribuição de um
diploma.
2 - Os ciclos de estudos conducentes ao grau de licenciado ou de mestre podem ser
organizados em etapas, correspondendo cada etapa à atribuição de um diploma.

Artigo 16.º
Formação pós-secundária
1 - Os estabelecimentos de ensino superior podem ainda realizar cursos de ensino pós-
secundário não superior visando a formação profissional especializada.
2 - Os titulares dos cursos referidos no número anterior estão habilitados a concorrer ao
acesso e ingresso no ensino superior, sendo a formação superior neles realizada
creditável no âmbito do curso em que sejam admitidos.

Artigo 17.º
Estabelecimentos
1 - O ensino universitário realiza-se em universidades e em escolas universitárias não
integradas.
2 - O ensino politécnico realiza-se em escolas superiores especializadas nos domínios da
tecnologia, das artes e da educação, entre outros.
3 - As universidades podem ser constituídas por escolas, institutos ou faculdades
diferenciados e ou por departamentos ou outras unidades, podendo ainda integrar
escolas superiores do ensino politécnico.
4 - As escolas superiores do ensino politécnico podem ser associadas em unidades mais
amplas, com designações várias, segundo critérios de interesse regional e ou de natureza
das escolas.

Artigo 18.º
Investigação científica
1 - O Estado deve assegurar as condições materiais e culturais de criação e investigação
científicas.
2 - Nas instituições de ensino superior serão criadas as condições para a promoção da
investigação científica e para a realização de actividades de investigação e
desenvolvimento.
3 - A investigação científica no ensino superior deve ter em conta os objectivos
predominantes da instituição em que se insere, sem prejuízo da sua perspectivação em
função do progresso, do saber e da resolução dos problemas postos pelo
desenvolvimento social, económico e cultural do País.
4 - Devem garantir-se as condições de publicação dos trabalhos científicos e facilitar-se
a divulgação dos novos conhecimentos e perspectivas do pensamento científico, dos
avanços tecnológicos e da criação cultural.
5 - Compete ao Estado incentivar a colaboração entre as entidades públicas, privadas e
cooperativas no sentido de fomentar o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da
cultura, tendo particularmente em vista os interesses da colectividade.

SUBSECÇÃO IV
Modalidades especiais de educação escolar

Artigo 19.º
Modalidades
1 - Constituem modalidades especiais de educação escolar:
a) A educação especial;
b) A formação profissional;
c) O ensino recorrente de adultos;
d) O ensino a distância;
e) O ensino português no estrangeiro.
2 - Cada uma destas modalidades é parte integrante da educação escolar, mas rege-se
por disposições especiais.

Artigo 20.º
Âmbito e objectivos da educação especial
1 - A educação especial visa a recuperação e a integração sócio-educativas dos
indivíduos com necessidades educativas específicas devidas a deficiências físicas e
mentais.
2 - A educação especial integra actividades dirigidas aos educandos e acções dirigidas
às famílias, aos educadores e às comunidades.
3 - No âmbito dos objectivos do sistema educativo, em geral, assumem relevo na
educação especial:
a) O desenvolvimento das potencialidades físicas e intelectuais;
b) A ajuda na aquisição da estabilidade emocional;
c) O desenvolvimento das possibilidades de comunicação;
d) A redução das limitações provocadas pela deficiência;
e) O apoio na inserção familiar, escolar e social de crianças e jovens deficientes;
f) O desenvolvimento da independência a todos os níveis em que se possa processar;
g) A preparação para uma adequada formação profissional e integração na vida activa.

Artigo 21.º
Organização da educação especial
1 - A educação especial organiza-se preferencialmente segundo modelos diversificados
de integração em estabelecimentos regulares de ensino, tendo em conta as necessidades
de atendimento específico, e com apoios de educadores especializados.
2 - A educação especial processar-se-á também em instituições específicas quando
comprovadamente o exijam o tipo e o grau de deficiência do educando.
3 - São também organizadas formas de educação especial visando a integração
profissional do deficiente.
4 - A escolaridade básica para crianças e jovens deficientes deve ter currículos e
programas devidamente adaptados às características de cada tipo e grau de deficiência,
assim como formas de avaliação adequadas às dificuldades específicas.
5 - Incumbe ao Estado promover e apoiar a educação especial para deficientes.
6 - As iniciativas de educação especial podem pertencer ao poder central, regional ou
local ou a outras entidades colectivas, designadamente associações de pais e de
moradores, organizações cívicas e confessionais, organizações sindicais e de empresa e
instituições de solidariedade social.
7 - Ao ministério responsável pela coordenação da política educativa compete definir as
normas gerais da educação especial, nomeadamente nos seus aspectos pedagógicos e
técnicos, e apoiar e fiscalizar o seu cumprimento e aplicação.
8 - Ao Estado cabe promover, a nível nacional, acções que visem o esclarecimento, a
prevenção e o tratamento precoce da deficiência.

Artigo 22.º
Formação profissional
1 - A formação profissional, para além de complementar a preparação para a vida activa
iniciada no ensino básico, visa uma integração dinâmica no mundo do trabalho pela
aquisição de conhecimentos e de competências profissionais, por forma a responder às
necessidades nacionais de desenvolvimento e à evolução tecnológica.
2 - Têm acesso à formação profissional:
a) Os que tenham concluído a escolaridade obrigatória;
b) Os que não concluíram a escolaridade obrigatória até à idade limite desta;
c) Os trabalhadores que pretendam o aperfeiçoamento ou a reconversão profissionais.
3 - A formação profissional estrutura-se segundo um modelo institucional e pedagógico
suficientemente flexível que permita integrar os alunos com níveis de formação e
características diferenciados.
4 - A formação profissional estrutura-se por forma a desenvolver acções de:
a) Iniciação profissional;
b) Qualificação profissional;
c) Aperfeiçoamento profissional;
d) Reconversão profissional.
5 - A organização dos cursos de formação profissional deve adequar-se às necessidades
conjunturais nacionais e regionais de emprego, podendo integrar módulos de duração
variável e combináveis entre si, com vista à obtenção de níveis profissionais
sucessivamente mais elevados.
6 - O funcionamento dos cursos e módulos pode ser realizado segundo formas
institucionais diversificadas, designadamente:
a) Utilização de escolas de ensino básico e secundário;
b) Protocolos com empresas e autarquias;
c) Apoios a instituições e iniciativas estatais e não estatais;
d) Dinamização de acções comunitárias e de serviços à comunidade;
e) Criação de instituições específicas.
7 - A conclusão com aproveitamento de um módulo ou curso de formação profissional
confere direito à atribuição da correspondente certificação.
8 - Serão estabelecidos processos que favoreçam a recorrência e a progressão no sistema
de educação escolar dos que completarem cursos de formação profissional.

Artigo 23.º
Ensino recorrente de adultos
1 - Para os indivíduos que já não se encontram na idade normal de frequência dos
ensinos básico e secundário é organizado um ensino recorrente.
2 - Este ensino é também destinado aos indivíduos que não tiveram oportunidade de se
enquadrar no sistema de educação escolar na idade normal de formação, tendo em
especial atenção a eliminação do analfabetismo.
3 - Têm acesso a esta modalidade de ensino os indivíduos:
a) Ao nível do ensino básico, a partir dos 15 anos;
b) Ao nível do ensino secundário, a partir dos 18 anos.
4 - Este ensino atribui os mesmos diplomas e certificados que os conferidos pelo ensino
regular, sendo as formas de acesso e os planos e métodos de estudos organizados de
modo distinto, tendo em conta os grupos etários a que se destinam, a experiência de
vida entretanto adquirida e o nível de conhecimentos demonstrados.
5 - A formação profissional referida no artigo anterior pode ser também organizada de
forma recorrente.

Artigo 24.º
Ensino a distância
1 - O ensino a distância, mediante o recurso aos multimedia e às novas tecnologias da
informação, constitui não só uma forma complementar do ensino regular mas pode
constituir também uma modalidade alternativa da educação escolar.
2 - O ensino a distância terá particular incidência na educação recorrente e na formação
contínua de professores.
3 - Dentro da modalidade de ensino a distância situa-se a universidade aberta.

Artigo 25.º
Ensino português no estrangeiro
1 - O Estado promoverá a divulgação e o estudo da língua e da cultura portuguesa no
estrangeiro mediante acções e meios diversificados que visem, nomeadamente, a sua
inclusão nos planos curriculares de outros países e a criação e a manutenção de
leitorados de português, sob orientação de professores portugueses, em universidades
estrangeiras.
2 - Será incentivada a criação de escolas portuguesas nos países de língua oficial
portuguesa e junto das comunidades de emigrantes portugueses.
3 - O ensino da língua e da cultura portuguesas aos trabalhadores emigrantes e seus
filhos será assegurado através de cursos e actividades promovidos nos países de
imigração em regime de integração ou de complementaridade relativamente aos
respectivos sistemas educativos.
4 - Serão incentivadas e apoiadas pelo Estado as iniciativas de associações de
portugueses e as de entidades estrangeiras, públicas e privadas, que contribuam para a
prossecução dos objectivos enunciados neste artigo.

SECÇÃO III
Educação extra-escolar

Artigo 26.º
Educação extra-escolar
1 - A educação extra-escolar tem como objectivo permitir a cada indivíduo aumentar os
seus conhecimentos e desenvolver as suas potencialidades, em complemento da
formação escolar ou em suprimento da sua carência.
2 - A educação extra-escolar integra-se numa perspectiva de educação permanente e
visa a globalidade e a continuidade da acção educativa.
3 - São vectores fundamentais da educação extra-escolar:
a) Eliminar o analfabetismo literal e funcional;
b) Contribuir para a efectiva igualdade de oportunidades educativas e profissionais dos
que não frequentaram o sistema regular do ensino ou o abandonaram precocemente,
designadamente através da alfabetização e da educação de base de adultos;
c) Favorecer atitudes de solidariedade social e de participação na vida da comunidade;
d) Preparar para o emprego, mediante acções de reconversão e de aperfeiçoamento
profissionais, os adultos cujas qualificações ou treino profissional se tornem
inadequados face ao desenvolvimento tecnológico;
e) Desenvolver as aptidões tecnológicas e o saber técnico que permitam ao adulto
adaptar-se à vida contemporânea;
f) Assegurar a ocupação criativa dos tempos livres de jovens e adultos com actividades
de natureza cultural.
4 - As actividades de educação extra-escolar podem realizar-se em estruturas de
extensão cultural do sistema escolar, ou em sistemas abertos, com recurso a meios de
comunicação social e a tecnologias educativas específicas e adequadas.
5 - Compete ao Estado promover a realização de actividades extra-escolares e apoiar as
que, neste domínio, sejam da iniciativa das autarquias, associações culturais e
recreativas, associações de pais, associações de estudantes e organismos juvenis,
associações de educação popular, organizações sindicais e comissões de trabalhadores,
organizações cívicas e confessionais e outras.
6 - O Estado, para além de atender à dimensão educativa da programação televisiva e
radiofónica em geral, assegura a existência e funcionamento da rádio e da televisão
educativas, numa perspectiva de pluralidade de programas, cobrindo tempos diários de
emissão suficientemente alargados e em horários diversificados.

CAPÍTULO III
Apoios e complementos educativos

Artigo 27.º
Promoção do sucesso escolar
1 - São estabelecidas e desenvolvidas actividades e medidas de apoio e complemento
educativos visando contribuir para a igualdade de oportunidades de acesso e sucesso
escolar.
2 - Os apoios e complementos educativos são aplicados prioritariamente na escolaridade
obrigatória.

Artigo 28.º
Apoios a alunos com necessidades escolares específicas
Nos estabelecimentos de ensino básico é assegurada a existência de actividades de
acompanhamento e complemento pedagógicos, de modo positivamente diferenciado, a
alunos com necessidades escolares específicas.

Artigo 29.º
Apoio psicológico e orientação escolar e profissional
O apoio no desenvolvimento psicológico dos alunos e à sua orientação escolar e
profissional, bem como o apoio psicopedagógico às actividades educativas e ao sistema
de relações da comunidade escolar, são realizados por serviços de psicologia e
orientação escolar profissional inseridos em estruturas regionais escolares.

Artigo 30.º
Acção social escolar
1 - São desenvolvidos, no âmbito da educação pré-escolar e da educação escolar,
serviços de acção social escolar concretizados através da aplicação de critérios de
discriminação positiva que visem a compensação social e educativa dos alunos
economicamente mais carenciados.
2 - Os serviços de acção social escolar são traduzidos por um conjunto diversificado de
acções, em que avultam a comparticipação em refeições, serviços de cantina,
transportes, alojamento, manuais e material escolar, e pela concessão de bolsas de
estudo.

Artigo 31.º
Apoio de saúde escolar
Será realizado o acompanhamento do saudável crescimento e desenvolvimento dos
alunos, o qual é assegurado, em princípio, por serviços especializados dos centros
comunitários de saúde em articulação com as estruturas escolares.

Artigo 32.º
Apoio a trabalhadores-estudantes
Aos trabalhadores-estudantes será proporcionado um regime especial de estudos que
tenha em consideração a sua situação de trabalhadores e de estudantes e que lhes
permita a aquisição de conhecimentos, a progressão no sistema do ensino e a criação de
oportunidades de formação profissional adequadas à sua valorização pessoal.

CAPÍTULO IV
Recursos humanos

Artigo 33.º
Princípios gerais sobre a formação de educadores e professores
1 - A formação de educadores e professores assenta nos seguintes princípios:
a) Formação inicial de nível superior, proporcionando aos educadores e professores de
todos os níveis de educação e ensino a informação, os métodos e as técnicas científicos
e pedagógicos de base, bem como a formação pessoal e social adequadas ao exercício
da função;
b) Formação contínua que complemente e actualize a formação inicial numa perspectiva
de educação permanente;
c) Formação flexível que permita a reconversão e mobilidade dos educadores e
professores dos diferentes níveis de educação e ensino, nomeadamente o necessário
complemento de formação profissional;
d) Formação integrada quer no plano da preparação científico-pedagógica quer no da
articulação teórico-prática;
e) Formação assente em práticas metodológicas afins das que o educador e o professor
vierem a utilizar na prática pedagógica;
f) Formação que, em referência à realidade social, estimule uma atitude
simultaneamente crítica e actuante;
g) Formação que favoreça e estimule a inovação e a investigação, nomeadamente em
relação com a actividade educativa;
h) Formação participada que conduza a uma prática reflexiva e continuada de auto-
informação e auto-aprendizagem.
2 - A orientação e as actividades pedagógicas na educação pré-escolar são asseguradas
por educadores de infância, sendo a docência em todos os níveis e ciclos de ensino
assegurada por professores detentores de diploma que certifique a formação profissional
específica com que se encontram devidamente habilitados para o efeito.
Artigo 34.º
Formação inicial de educadores de infância e de professores dos ensinos básico e
secundário
1 - Os educadores de infância e os professores dos ensinos básico e secundário
adquirem a qualificação profissional através de cursos superiores organizados de acordo
com as necessidades do desempenho profissional no respectivo nível de educação e
ensino.
2 - O Governo define, por decreto-lei, os perfis de competência e de formação de
educadores e professores para ingresso na carreira docente.
3 - A formação dos educadores de infância e dos professores dos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do
ensino básico realiza-se em escolas superiores de educação e em estabelecimentos de
ensino universitário.
4 - O Governo define, por decreto-lei, os requisitos a que as escolas superiores de
educação devem satisfazer para poderem ministrar cursos de formação inicial de
professores do 3.º ciclo do ensino básico, nomeadamente no que se refere a recursos
humanos e materiais, de forma que seja garantido o nível científico da formação
adquirida.
5 - A formação dos professores do ensino secundário realiza-se em estabelecimentos de
ensino universitário.
6 - A qualificação profissional dos professores de disciplinas de natureza profissional,
vocacional ou artística dos ensinos básico ou secundário pode adquirir-se através de
cursos de licenciatura que assegurem a formação na área da disciplina respectiva,
complementados por formação pedagógica adequada.
7 - A qualificação profissional dos professores do ensino secundário pode ainda
adquirir-se através de cursos de licenciatura que assegurem a formação científica na
área de docência respectiva, complementados por formação pedagógica adequada.

Artigo 35.º
Qualificação para professor do ensino superior
1 - Adquirem qualificação para a docência no ensino superior os habilitados com os
graus de doutor ou de mestre, bem como os licenciados que tenham prestado provas de
aptidão pedagógica e capacidade científica, podendo ainda exercer a docência outras
individualidades reconhecidamente qualificadas.
2 - Podem coadjuvar na docência do ensino superior os indivíduos habilitados com o
grau de licenciado ou equivalente.

Artigo 36.º
Qualificação para outras funções educativas
1 - Adquirem qualificação para a docência em educação especial os educadores de
infância e os professores dos ensinos básico e secundário com prática de educação ou de
ensino regular ou especial que obtenham aproveitamento em cursos especialmente
vocacionados para o efeito realizados em estabelecimentos de ensino superior que
disponham de recursos próprios nesse domínio.
2 - Nas instituições de formação referidas nos n.os 3 e 5 do artigo 34.º podem ainda ser
ministrados cursos especializados de administração e inspecção escolares, de animação
sócio-cultural, de educação de base de adultos e outros necessários ao desenvolvimento
do sistema educativo.
Artigo 37.º
Pessoal auxiliar de educação
O pessoal auxiliar de educação deve possuir como habilitação mínima o ensino básico
ou equivalente, devendo ser-lhe proporcionada uma formação complementar adequada.

Artigo 38.º
Formação contínua
1 - A todos os educadores, professores e outros profissionais da educação é reconhecido
o direito à formação contínua.
2 - A formação contínua deve ser suficientemente diversificada, de modo a assegurar o
complemento, aprofundamento e actualização de conhecimentos e de competências
profissionais, bem como a possibilitar a mobilidade e a progressão na carreira.
3 - A formação contínua é assegurada predominantemente pelas respectivas instituições
de formação inicial, em estreita cooperação com os estabelecimentos onde os
educadores e professores trabalham.
4 - Serão atribuídos aos docentes períodos especialmente destinados à formação
contínua, os quais poderão revestir a forma de anos sabáticos.

Artigo 39.º
Princípios gerais das carreiras de pessoal docente e de outros profissionais da educação
1 - Os educadores, professores e outros profissionais da educação têm direito a
retribuição e carreira compatíveis com as suas habilitações e responsabilidades
profissionais, sociais e culturais.
2 - A progressão na carreira deve estar ligada à avaliação de toda a actividade
desenvolvida, individualmente ou em grupo, na instituição educativa, no plano da
educação e do ensino e da prestação de outros serviços à comunidade, bem como às
qualificações profissionais, pedagógicas e científicas.
3 - Aos educadores, professores e outros profissionais da educação é reconhecido o
direito de recurso das decisões da avaliação referida no número anterior.

CAPÍTULO V
Recursos materiais

Artigo 40.º
Rede escolar
1 - Compete ao Estado criar uma rede de estabelecimentos públicos de educação e
ensino que cubra as necessidades de toda a população.
2 - O planeamento da rede de estabelecimentos escolares deve contribuir para a
eliminação de desigualdades e assimetrias locais e regionais, por forma a assegurar a
igualdade de oportunidades de educação e ensino a todas as crianças e jovens.

Artigo 41.º
Regionalização
O planeamento e reorganização da rede escolar, assim como a construção e manutenção
dos edifícios escolares e seu equipamento, devem assentar numa política de
regionalização efectiva, com definição clara das competências dos intervenientes, que,
para o efeito, devem contar com os recursos necessários.
Artigo 42.º
Edifícios escolares
1 - Os edifícios escolares devem ser planeados na óptica de um equipamento integrado e
ter suficiente flexibilidade para permitir, sempre que possível, a sua utilização em
diferentes actividades da comunidade e a sua adaptação em função das alterações dos
diferentes níveis de ensino, dos currículos e dos métodos educativos.
2 - A estrutura dos edifícios escolares deve ter em conta, para além das actividades
escolares, o desenvolvimento de actividades de ocupação de tempos livres e o
envolvimento da escola em actividades extra-escolares.
3 - A densidade da rede e as dimensões dos edifícios escolares devem ser ajustadas às
características e necessidades regionais e à capacidade de acolhimento de um número
equilibrado de alunos, de forma a garantir as condições de uma boa prática pedagógica e
a realização de uma verdadeira comunidade escolar.
4 - Na concepção dos edifícios e na escolha do equipamento devem ser tidas em conta
as necessidades especiais dos deficientes.
5 - A gestão dos espaços deve obedecer ao imperativo de, também por esta via, se
contribuir para o sucesso educativo e escolar dos alunos.

Artigo 43.º
Estabelecimentos de educação e de ensino
1 - A educação pré-escolar realiza-se em unidades distintas ou incluídas em unidades
escolares onde também seja ministrado o 1.º ciclo do ensino básico ou ainda em
edifícios onde se realizem outras actividades sociais, nomeadamente de educação extra-
escolar.
2 - O ensino básico é realizado em estabelecimentos com tipologias diversas que
abarcam a totalidade ou parte dos ciclos que o constituem, podendo, por necessidade de
racionalização de recursos, ser ainda realizado neles o ensino secundário.
3 - O ensino secundário realiza-se em escolas secundárias pluricurriculares, sem
prejuízo de, relativamente a certas matérias, se poder recorrer à utilização de instalações
de entidades privadas ou de outras entidades públicas não responsáveis pela rede de
ensino público para a realização de aulas ou outras acções de ensino e formação.
4 - A rede escolar do ensino secundário deve ser organizada de modo que em cada
região se garanta a maior diversidade possível de cursos, tendo em conta os interesses
locais ou regionais.
5 - O ensino secundário deve ser predominantemente realizado em estabelecimentos
distintos, podendo, com o objectivo de racionalização dos respectivos recursos, ser aí
realizados ciclos do ensino básico, especialmente o 3.º
6 - As diversas unidades que integram a mesma instituição de ensino superior podem
dispersar-se geograficamente em função da sua adequação às necessidades de
desenvolvimento da região em que se inserem.
7 - A flexibilidade da utilização dos edifícios prevista neste artigo em caso algum se
poderá concretizar em colisão com o n.º 3 do artigo anterior.

Artigo 44.º
Recursos educativos
1 - Constituem recursos educativos todos os meios materiais utilizados para conveniente
realização da actividade educativa.
2 - São recursos educativos privilegiados, a exigirem especial atenção:
a) Os manuais escolares;
b) As bibliotecas e mediatecas escolares;
c) Os equipamentos laboratoriais e oficinais;
d) Os equipamentos para educação física e desportos;
e) Os equipamentos para educação musical e plástica;
f) Os centros regionais de recursos educativos.
3 - Para o apoio e complementaridade dos recursos educativos existentes nas escolas e
ainda com o objectivo de racionalizar o uso dos meios disponíveis será incentivada a
criação de centros regionais que disponham de recursos apropriados e de meios que
permitam criar outros, de acordo com as necessidades de inovação educativa.

Artigo 45.º
Financiamento da educação
1 - A educação será considerada, na elaboração do Plano e do Orçamento do Estado,
como uma das prioridades nacionais.
2 - As verbas destinadas à educação devem ser distribuídas em função das prioridades
estratégicas do desenvolvimento do sistema educativo.

CAPÍTULO VI
Administração do sistema educativo

Artigo 46.º
Princípios gerais
1 - A administração e gestão do sistema educativo devem assegurar o pleno respeito
pelas regras de democraticidade e de participação que visem a consecução de objectivos
pedagógicos e educativos, nomeadamente no domínio da formação social e cívica.
2 - O sistema educativo deve ser dotado de estruturas administrativas de âmbito
nacional, regional autónomo, regional e local, que assegurem a sua interligação com a
comunidade mediante adequados graus de participação dos professores, dos alunos, das
famílias, das autarquias, de entidades representativas das actividades sociais,
económicas e culturais e ainda de instituições de carácter científico.
3 - Para os efeitos do número anterior, serão adoptadas orgânicas e formas de
descentralização e de desconcentração dos serviços, cabendo ao Estado, através do
ministério responsável pela coordenação da política educativa, garantir a necessária
eficácia e unidade de acção.

Artigo 47.º
Níveis de administração
1 - Leis especiais regulamentarão a delimitação e articulação de competências entre os
diferentes níveis de administração, tendo em atenção que serão da responsabilidade da
administração central, designadamente, as funções de:
a) Concepção, planeamento e definição normativa do sistema educativo, com vista a
assegurar o seu sentido de unidade e de adequação aos objectivos de âmbito nacional;
b) Coordenação global e avaliação da execução das medidas da política educativa a
desenvolver de forma descentralizada ou desconcentrada;
c) Inspecção e tutela, em geral, com vista, designadamente, a garantir a necessária
qualidade do ensino;
d) Definição dos critérios gerais de implantação de rede escolar, da tipologia das escolas
e seu apetrechamento, bem como das normas pedagógicas a que deve obedecer a
construção de edifícios escolares;
e) Garantia da qualidade pedagógica e técnica dos vários meios didácticos, incluindo os
manuais escolares.
2 - A nível regional, e com o objectivo de integrar, coordenar e acompanhar a actividade
educativa, será criado em cada região um departamento regional de educação, em
termos a regulamentar por decreto-lei.

Artigo 48.º
Administração e gestão dos estabelecimentos de educação e ensino
1 - O funcionamento dos estabelecimentos de educação e ensino, nos diferentes níveis,
orienta-se por uma perspectiva de integração comunitária, sendo, nesse sentido,
favorecida a fixação local dos respectivos docentes.
2 - Em cada estabelecimento ou grupo de estabelecimentos de educação e ensino a
administração e gestão orientam-se por princípios de democraticidade e de participação
de todos os implicados no processo educativo, tendo em atenção as características
específicas de cada nível de educação e ensino.
3 - Na administração e gestão dos estabelecimentos de educação e ensino devem
prevalecer critérios de natureza pedagógica e científica sobre critérios de natureza
administrativa.
4 - A direcção de cada estabelecimento ou grupo de estabelecimentos dos ensinos
básico e secundário é assegurada por órgãos próprios, para os quais são
democraticamente eleitos os representantes de professores, alunos e pessoal não
docente, e apoiada por órgãos consultivos e por serviços especializados, num e noutro
caso segundo modalidades a regulamentar para cada nível de ensino.
5 - A participação dos alunos nos órgãos referidos no número anterior circunscreve-se
ao ensino secundário.
6 - A direcção de todos os estabelecimentos de ensino superior orienta-se pelos
princípios de democraticidade e representatividade e de participação comunitária.
7 - Os estabelecimentos de ensino superior gozam de autonomia científica, pedagógica e
administrativa.
8 - As universidades gozam ainda de autonomia financeira, sem prejuízo da acção
fiscalizadora do Estado.
9 - A autonomia dos estabelecimentos de ensino superior será compatibilizada com a
inserção destes no desenvolvimento da região e do País.

Artigo 49.º
Conselho Nacional de Educação
É instituído o Conselho Nacional de Educação, com funções consultivas, sem prejuízo
das competências próprias dos órgãos de soberania, para efeitos de participação das
várias forças sociais, culturais e económicas na procura de consensos alargados
relativamente à política educativa, em termos a regular por lei.

CAPÍTULO VII
Desenvolvimento e avaliação do sistema educativo

Artigo 50.º
Desenvolvimento curricular
1 - A organização curricular da educação escolar terá em conta a promoção de uma
equilibrada harmonia, nos planos horizontal e vertical, entre os níveis de
desenvolvimento físico e motor, cognitivo, afectivo, estético, social e moral dos alunos.
2 - Os planos curriculares do ensino básico incluirão em todos os ciclos e de forma
adequada uma área de formação pessoal e social, que pode ter como componentes a
educação ecológica, a educação do consumidor, a educação familiar, a educação sexual,
a prevenção de acidentes, a educação para a saúde, a educação para a participação nas
instituições, serviços cívicos e outros do mesmo âmbito.
3 - Os planos curriculares dos ensinos básico e secundário integram ainda o ensino da
moral e da religião católica, a título facultativo, no respeito dos princípios
constitucionais da separação das igrejas e do Estado e da não confessionalidade do
ensino público.
4 - Os planos curriculares do ensino básico devem ser estabelecidos à escala nacional,
sem prejuízo de existência de conteúdos flexíveis integrando componentes regionais.
5 - Os planos curriculares do ensino secundário terão uma estrutura de âmbito nacional,
podendo as suas componentes apresentar características de índole regional e local,
justificadas nomeadamente pelas condições sócio-económicas e pelas necessidades em
pessoal qualificado.
6 - Os planos curriculares do ensino superior respeitam a cada uma das instituições de
ensino que ministram os respectivos cursos estabelecidos, ou a estabelecer, de acordo
com as necessidades nacionais e regionais e com uma perspectiva de planeamento
integrado da respectiva rede.
7 - O ensino-aprendizagem da língua materna deve ser estruturado de forma que todas
as outras componentes curriculares dos ensinos básico e secundário contribuam de
forma sistemática para o desenvolvimento das capacidades do aluno ao nível da
compreensão e produção de enunciados orais e escritos em português.

Artigo 51.º
Ocupação dos tempos livres e desporto escolar
1 - As actividades curriculares dos diferentes níveis de ensino devem ser
complementadas por acções orientadas para a formação integral e a realização pessoal
dos educandos no sentido da utilização criativa e formativa dos seus tempos livres.
2 - Estas actividades de complemento curricular visam, nomeadamente, o
enriquecimento cultural e cívico, a educação física e desportiva, a educação artística e a
inserção dos educandos na comunidade.
3 - As actividades de complemento curricular podem ter âmbito nacional, regional ou
local e, nos dois últimos casos, ser da iniciativa de cada escola ou grupo de escolas.
4 - As actividades de ocupação dos tempos livres devem valorizar a participação e o
envolvimento das crianças e dos jovens na sua organização, desenvolvimento e
avaliação.
5 - O desporto escolar visa especificamente a promoção da saúde e condição física, a
aquisição de hábitos e condutas motoras e o entendimento do desporto como factor de
cultura, estimulando sentimentos de solidariedade, cooperação, autonomia e
criatividade, devendo ser fomentada a sua gestão pelos estudantes praticantes,
salvaguardando-se a orientação por profissionais qualificados.

Artigo 52.º
Avaliação do sistema educativo
1 - O sistema educativo deve ser objecto de avaliação continuada, que deve ter em conta
os aspectos educativos e pedagógicos, psicológicos e sociológicos, organizacionais,
económicos e financeiros e ainda os de natureza político-administrativa e cultural.
2 - Esta avaliação incide, em especial, sobre o desenvolvimento, regulamentação e
aplicação da presente lei.
Artigo 53.º
Investigação em educação
A investigação em educação destina-se a avaliar e interpretar cientificamente a
actividade desenvolvida no sistema educativo, devendo ser incentivada, nomeadamente,
nas instituições de ensino superior que possuam centros ou departamentos de ciências
da educação, sem prejuízo da criação de centros autónomos especializados neste
domínio.

Artigo 54.º
Estatísticas da educação
1 - As estatísticas da educação são instrumento fundamental para a avaliação e o
planeamento do sistema educativo, devendo ser organizadas de modo a garantir a sua
realização em tempo oportuno e de forma universal.
2 - Para este efeito devem ser estabelecidas as normas gerais e definidas as entidades
responsáveis pela recolha, tratamento e difusão das estatísticas da educação.

Artigo 55.º
Estruturas de apoio
1 - O Governo criará estruturas adequadas que assegurem e apoiem actividades de
desenvolvimento curricular, de fomento de inovação e de avaliação do sistema e das
actividades educativas.
2 - Estas estruturas devem desenvolver a sua actividade em articulação com as escolas e
com as instituições de investigação em educação e de formação de professores.

Artigo 56.º
Inspecção escolar
A inspecção escolar goza de autonomia no exercício da sua actividade e tem como
função avaliar e fiscalizar a realização de educação escolar, tendo em vista a
prossecução dos fins e objectivos estabelecidos na presente lei e demais legislação
complementar.

CAPÍTULO VIII
Ensino particular e cooperativo

Artigo 57.º
Especificidade
1 - É reconhecido pelo Estado o valor do ensino particular e cooperativo como uma
expressão concreta da liberdade de aprender e ensinar e do direito da família a orientar a
educação dos filhos.
2 - O ensino particular e cooperativo rege-se por legislação e estatuto próprios, que
devem subordinar-se ao disposto na presente lei.

Artigo 58.º
Articulação com a rede escolar
1 - Os estabelecimentos do ensino particular e cooperativo que se enquadrem nos
princípios gerais, finalidades, estruturas e objectivos do sistema educativo são
considerados parte integrante da rede escolar.
2 - No alargamento ou no ajustamento da rede o Estado terá também em consideração
as iniciativas e os estabelecimentos particulares e cooperativos, numa perspectiva de
racionalização de meios, de aproveitamento de recursos e de garantia de qualidade.
Artigo 59.º
Funcionamento de estabelecimentos e cursos
1 - As instituições de ensino particular e cooperativo podem, no exercício da liberdade
de ensinar e aprender, seguir os planos curriculares e conteúdos programáticos do
ensino a cargo do Estado ou adoptar planos e programas próprios, salvaguardadas as
disposições constantes do n.º 1 do artigo anterior.
2 - Quando o ensino particular e cooperativo adoptar planos e programas próprios, o seu
reconhecimento oficial é concedido caso a caso, mediante avaliação positiva resultante
da análise dos respectivos currículos e das condições pedagógicas da realização do
ensino, segundo normas a estabelecer por decreto-lei.
3 - A autorização para a criação e funcionamento de instituições e cursos de ensino
superior particular e cooperativo, bem como a aprovação dos respectivos planos de
estudos e o reconhecimento oficial dos correspondentes diplomas, faz-se, caso a caso,
por decreto-lei.

Artigo 60.º
Pessoal docente
1 - A docência nos estabelecimentos de ensino particular e cooperativo integrados na
rede escolar requer, para cada nível de educação e ensino, a qualificação académica e a
formação profissional estabelecidas na presente lei.
2 - O Estado pode apoiar a formação contínua dos docentes em exercício nos
estabelecimentos de ensino particular e cooperativo que se integram na rede escolar.

Artigo 61.º
Intervenção do Estado
1 - O Estado fiscaliza e apoia pedagógica e tecnicamente o ensino particular e
cooperativo.
2 - O Estado apoia financeiramente as iniciativas e os estabelecimentos de ensino
particular e cooperativo quando, no desempenho efectivo de uma função de interesse
público, se integrem no plano de desenvolvimento da educação, fiscalizando a aplicação
das verbas concedidas.

CAPÍTULO IX
Disposições finais e transitórias

Artigo 62.º
Desenvolvimento da lei
1 - O Governo fará publicar no prazo de um ano, sob a forma de decreto-lei, a legislação
complementar necessária para o desenvolvimento da presente lei que contemple,
designadamente, os seguintes domínios:
a) Gratuitidade da escolaridade obrigatória;
b) Formação de pessoal docente;
c) Carreiras de pessoal docente e de outros profissionais da educação;
d) Administração e gestão escolares;
e) Planos curriculares dos ensinos básico e secundário;
f) Ensino superior;
g) Formação profissional;
h) Ensino recorrente de adultos;
i) Ensino a distância;
j) Ensino português no estrangeiro;
l) Apoios e complementos educativos;
m) Ensino particular e cooperativo;
n) Educação física e desporto escolar;
o) Educação artística.
2 - Quando as matérias referidas no número anterior já constarem de lei da Assembleia
da República, deverá o Governo, em igual prazo, apresentar as necessárias propostas de
lei.
3 - O Conselho Nacional de Educação deve acompanhar a aplicação e o
desenvolvimento do disposto na presente lei.

Artigo 63.º
Plano de desenvolvimento do sistema educativo
O Governo, no prazo de dois anos, deve elaborar e apresentar, para aprovação na
Assembleia da República, um plano de desenvolvimento do sistema educativo, com um
horizonte temporal a médio prazo e limite no ano de 2000, que assegure a realização
faseada da presente lei e demais legislação complementar.

Artigo 64.º
Regime de transição
O regime de transição do sistema actual para o previsto na presente lei constará de
disposições regulamentares a publicar em tempo útil pelo Governo, não podendo
professores, alunos e pessoal não docente ser afectados nos direitos adquiridos.

Artigo 65.º
Disposições transitórias
1 - Serão tomadas medidas no sentido de dotar os ensinos básico e secundário com
docentes habilitados profissionalmente, mediante modelos de formação inicial
conformes com o disposto na presente lei, de forma a tornar desnecessária a muito curto
prazo a contratação em regime permanente de professores sem habilitação profissional.
2 - Será organizado um sistema de profissionalização em exercício para os docentes
devidamente habilitados actualmente em exercício ou que venham a ingressar no ensino
de modo a garantir-lhes uma formação profissional equivalente à ministrada nas
instituição de formação inicial para os respectivos níveis de ensino.
3 - Na determinação dos contingentes a estabelecer para os cursos de formação inicial
de professores a entidade competente deve ter em consideração a relação entre o
número de professores habilitados já em exercício e a previsão de vagas disponíveis no
termo de um período transitório de cinco anos.
4 - Enquanto não forem criadas as regiões administrativas, as competências e o âmbito
geográfico dos departamentos regionais de educação referidos no n.º 2 do artigo 47.º
serão definidos por decreto-lei, a publicar no prazo de um ano.
5 - O Governo elaborará um plano de emergência de construção e recuperação de
edifícios escolares e seu apetrechamento no sentido de serem satisfeitas as necessidades
da rede escolar, com prioridade para o ensino básico.
6 - No 1.º ciclo do ensino básico as funções dos actuais directores de distrito escolar e
dos delegados escolares são exclusivamente de natureza administrativa.
Artigo 66.º
Disposições finais
1 - As disposições relativas à duração da escolaridade obrigatória aplicam-se aos alunos
que se inscreverem no 1.º ano do ensino básico no ano lectivo de 1987-1988 e para os
que o fizerem nos anos lectivos subsequentes.
2 - Lei especial determinará as funções de administração e apoio educativos que cabem
aos municípios.
3 - O Governo deve definir por decreto-lei o sistema de equivalência entre os estudos,
graus e diplomas do sistema educativo português e os de outros países, bem como as
condições em que os alunos do ensino superior podem frequentar em instituições
congéneres estrangeiras parte dos seus cursos, assim como os critérios de determinação
das unidades de crédito transferíveis.
4 - Devem ser criadas condições que facilitem aos jovens regressados a Portugal filhos
de emigrantes a sua integração no sistema educativo.

Artigo 67.º
Norma revogatória
É revogada toda a legislação que contrarie o disposto na presente lei.

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