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A Igreja do Oriente no Ocaso do Império Sassânida


No inicio do século VII o outrora glorioso Império Sassânida, enfrentava uma crise
socioeconômica e politica sem precedentes cujo fator principal foi a tri decenária guerra
(602-628) romano-persa que esgotara seus recursos humanos e materiais. Um conflito
cuja motivação inicial foi a tentativa do Xá Cosroes II de expulsar do trono bizantino o
usurpador de seu amigo Mauricio. O Imperador Heráclio embarcou pessoalmente em
uma contra ofensiva que contou com o significativo apoio de turcos e habitantes da
Transcaucásia. Os sucessos de Heráclio desencadearam a queda de Cosroes e iniciaram
uma década de instabilidade dinástica. Dentro deste contexto de crise sócio-política a
Igreja Persa também passou por um período instável e somente no inicio do reinado de
Cosroes é que ela se beneficiou da amizade do xá com o imperador bizantino 1 ao ponto
do xá disponibilizar um edifício para os cristãos em Hulwan em homenagem a São
Sérgio2. Entretanto, após este período de boa diplomacia, as relações entre as duas
grandes potências se deteriora drasticamente. Neste período o Grande Mosteiro de
Abrahão de Kaskar no monte Izla foi o principal centro de difusão de espiritualidade e
uma “infinidade de eminentes monges propagavam seus métodos ascéticos em todas as
províncias persas. Seu convento tornou-se como uma escola de aplicação onde quase
todos os ascetas do séc. VII se formaram” 3. Uma característica do monasticismo persa
foi, de modo geral, a boa relação com a hierarquia eclesial sendo que alguns Catholicós
foram monges”4. Além do grande Mosteiro de Monte Izla outro famoso foi o de Beth
‘Abe e estes, além de serem centros de difusão de espiritualidade, possuíam
significativas bibliotecas e estiveram envolvidos na educação da juventude5. Como já
vimos, a Escola de Nisibe foi uma continuidade da Escola de Edessa difundindo a
teologia antioquena. Após Bar Sawma e Narsai de Nisibe que a organizaram, esta
Escola teve seu apogeu no séc. VI e VII com Abrahão de Beth Rabban 6 e Henana de
Adiabena sendo que nos primeiros anos da direção Abrahão “a Escola cresceu
imensamente [...] e o número de alunos era de mil o que exigiu uma expansão
considerável de suas instalações físicas, incluindo pela primeira vez o prédio de uma
hospedaria7. Abrahão também melhorou o número de professores, comprando uma
fazenda para a escola e providenciando que sua renda fosse usada como remuneração
para os funcionários” 8. Quanto a Henana, ex-aluno de Abrahão, dirigiu a escola de 571
a 610, criou novas regras9 para a Escola e, além da teologia foi aberto, em anexo, uma
1
A boa diplomacia entre estes dois soberanos foi consequência do apoio dado pelo Imperador Mauricio
ao Xá Cosroes quando, entre 590-1, o xá teve que lutar contra Varahran Chobin o usurpador de seu trono.
2
McCullough, William Stewart. A Short History of Syriac Christianity to the Rise of Islam. Chico:
Scholars Press, 1982; p. 158.
3
Labout, Jérôme. Les Christianisme dans l’empire perse sous la dynastie sassanide (224-632). Paris:
Libraerie Victor Lecoffre, 1904; p. 317.
4
McCullogh, William Stewart. Op. cit. p. 168.
5
Ibid. p. 174.
6
Ibid. p. 155.
7
Na Regra de Mar Abrahão de Kashkar o autor referi a hospedaria como uma simples transliteração do
termo grego xenodokeion (NvykDnw), em ambas as línguas (grego e siríaco), indicam o lugar de
acolhida destinado a diferentes categorias: dos peregrinos aos doentes. Em Nisibe esta casa também foi
referida como a casa de acolhimento dos estudantes que frequentavam a escola teológica. Cf. Regola di
Abramo nº 11. Apud Chialà, Sabino. Abramo di Kashkar e la sua comunità. La rinascita del
monachesimo siro-orientale. In appendice le Regole di Abramo, Dadisho' e Babai, l'Epitome della vita di
Abramo e le altre fonti sul Grande monastero del Monte Izla. Magnano: Qiqajon, 2005; p. 166.
8
Id.
9
Como: “deveres do curador; da hospedagem; residência obrigatória na escola para estudantes;
disciplinas de estudos para os alunos; proteção dos livros da biblioteca; sistematização das vestes e do
corte de cabelos para os alunos; participação dos estudantes na atividades sociais da cidade; ponderação
2

academia de medicina, mas como um corpo separado 10. Entretanto o brilho da mais
importante escola teológica do Oriente foi ofuscado pouco depois de um período de
esplendor e um período de decadência iniciou-se ainda sob a direção de Henana o qual,
propenso à questões controversas, tomou uma posição cristológica calcedoniana11,
combatendo as preposições de Teodoro de Mopsuéstia, teólogo por excelência da Igreja
do Oriente, e optando por São João Crisóstomo e por uma abordagem alegórica das
Escrituras conforme Orígenes e da Escola de Alexandria. Tal postura contrariou
fortemente o bispo Elias de Nisibe e de numerosos hierarcas da Igreja do Oriente.
Também houve evasão de professores e alunos e como alternativa difisita para estes, foi
aberta a Escola de Beth Sahde para onde boa parte se estabeleceram, outros foram para
a escola do Grande Mosteiro de Izla, outros ainda para a Escola Patriarcal de Selêucia, a
sucessora direta da Escola de Nisibe12.
A crise da Escola de Nisibe, de certa forma, está relacionada com a questão miafisita e
iniciou ainda sob a direção de Beith Rabban com a participação de um professor desta
escola, chamado Paulo, numa conferência do Imperador Justiniano em 532 na qual
ortodoxos gregos e monofisitas participavam e quando este retornou criou uma tensão
que trouxe bastante danos à escola. O apoio dos médicos de Cosroes, os monofisitas
Gabriel e Mar ‘Aba, na defesa de Henana para a permanência à frente da escola é
apenas um reflexo da tensão que durante quase dois séculos existiu no seio da Igreja do
Oriente entre sua tradicional cristologia difisita e tendências miafisitas de uma vigorosa
cristandade siro monofisita dentro do Império Persa cujo centro principal era Tacrit.
Esta cidade era a sede de um “mafrianato” 13, portanto uma administração autônoma
daquela sede patriarcal siro-ocidental estabelecida dentro do território bizantino.
Durante o longo reinado de Cosroes II (590 a 628), cuja rainha Sherim era monofisita, a
Igreja Persa teve perseguições e restrições14, ora causadas pelos zoroastristas ora pelos
cristãos monofisitas. Uma evidência explicita à essa situação foi a resistência do Xá a
autorização da eleição de um Catholicós à Sé de Selêucia-Ctesifont de 609 a 628 (ano
da morte de Cosroes II). Do ponto de vista eclesial a ausência de um Catholicós e as
consequentes dificuldades administrativas em relação à disciplina sacerdotal e
monástica, neste período, à exemplo da Igreja Jacobita, a Igreja do Oriente se organiza
em um sistema de “mafrianato” “onde cada metropolita tomou a responsabilidade de
sua própria província. Por exemplo ao sul de Selêucia-Ctesifont o arquidiácono Mar
Aba, um homem imbuído da verdade e sabedoria dirigia os assuntos daquela área. No
norte, Babai de Beth ‘Aynata (551 - 628), também conhecido por Babai o Grande, foi
monge e abade do grande mosteiro de Mar Abrahão em Izla, nomeado inspetor de

no trato com as mulheres; ensino para os meninos da cidade; participação em vigílias [de oração?];
acolhimento de presos de guerras e escravos fugitivos”. In McCullogh, William Stewart. Op. cit.; p. 156
10
É interessante observar que a instituição de medicina da Escola de Nisibe foi contemporânea da famosa
Escola Teológica de Gondishapur, promovida por Cosroes II e sendo suas academias filosóficas e
teológicas dirigidas pelo metropolita de Beth Huzaye, e teve semelhante papel nas referidas áreas e ainda
na tradução, para o siríaco, de obras de medicina, filosofia, teologia, astrologia, matemática, fitoterapia e
religião, contando com tradutores bizantinos, siríacos, persas, indianos e chineses. Cf. Elgood, Cyril. A
medical history of Persia. Cambridge: Cambridge University Press, 1951; p. 173.
11
Ainda que tenha sido culpado de “monofisismo” sua cristologia era propriamente calcedoniana e não
monofisita. Cf. Sauget, Joseph-Marie. “Henana de Adiabena”. In Di Berardini, Angelo (Org.). Dicionário
Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 663.
12
McCullogh, William Stewart. Op. cit.; p. 157.
13
Circunscrição eclesiástica siro-ocidental dirigida por um maphrian, Anyrpm, ('aquele que dá fruto',
frutuoso, metaforicamente um “consagrante”), o segundo mais alto posto na hierarquia eclesiástica. Aaron
Michael Butts, Lucas van Rompay, Sebastian Brock, George Kiraz (Orgs.). The Gorgias Encyclopedic
Dictionary of the Syriac Heritage (GEDSH). Piscataway: Gorgias Press, 2011; p. 217.
14
Cf. McCullogh, William Stewart. Op. cit.; pp. 158-9.
3

mosteiros pelos metropolitas de Adiabene, Nisibes e Kaika (ou Beth Garmai) fez que a
ortodoxia nestoriana oficial fosse respeitada, pelo menos nos mosteiros”15. Autor de
mais de 83 obras que vão desde comentários bíblicos, hagiográficos e teológicos. O
Livro da União é o tratado cristológico sobrevivente mais sistemático de Babai,
dividido em sete memre que cobrem mais de 200 fólios. Um outro manuscrito de sua
autoria, denominado 'Tractatus Vaticanus', trata da "impossibilidade de união
hipostática e união natural, possibilidade de união parsópica e significado da expressão
união hipostática entre os pais da antiguidade". De caráter hagiográfico foi preservado
Atos do martírio do presbítero Jorge, martirizado sob Cosroes II e alguns memre sobre
o eremita Mateus, Abrahão de Nisibe, Gabriele de Qatar, uma História dos discípulos
de Deodoro de Tarso; um tratado sobre a festa da Cruz; sobre a Causa dos Hosanna;
Regras Monásticas; Canônes para os monges; Cartas a Josè Hazzaya; Hinos para as
festas litúrgicas. Seu comentário sobre as Centúrias de Evagrius Ponticus é uma fonte
importante sobre a posição de Babai em relação às ideias origenistas às quais ele tentou
eliminar16 e apresentou Evágrio em oposição a Orígenes e seu seguidor Henana. A
introdução dos escritos evagrianos foi por demais importantes para o avivamento
místico entre os monges gregos e sírios. Para os monges do Monte. Izla, Evágrio foi o
pilar da teologia mística17. Com a morte de Cosroes II em 628 e ascensão Cavedes II ao
trono persa, foi dada a concessão para a eleição de um novo catholicós e assim
Isho’yahb II ocupou a sede do Catholicossado de Selêucia-Ctesifont de 628 a 645. Sua
formação se deu basicamente na Escola de Nisibe durante o controvertido período de
Henana de Adiabene e não consta que tivesse simpatia alguma pela cristologia miafisita
ou calcedoniana, pois foi um dos 300 alunos que abandonaram a Escola de Nisibe
quando Henana manifestou oposição ao método exegético de Theodoro de Mopsuéstia,
transferindo-se para a Escola de Balad e, ainda que fosse casado, foi ordenado bispo
desta cidade a qual deixou para o catholicossado em 628. Apesar de sua indisposição à
cristologia calcedoniana, em 630 liderou o grupo de clérigos persas que foi até Alepo na
conferência do Imperador Heráclio quando então iniciou um diálogo de reconciliação
com a Igreja Grega através de uma Fórmula de Fé adequada à cristologia calcedoniana e
à nestoriana. De fato sua fórmula de fé foi aprovada como “ortodoxa” por Heráclio e
pelo Patriarca Sérgio de Constantinopla e, como um gesto de unidade, foi convidado
pelo patriarca a celebrar a missa em sua própria liturgia na qual foi dada a comunhão ao
imperador, ao patriarca e demais clérigos calcedonianos, por sua vez o Patriarca Sérgio
presidiu a missa em seu próprio rito e concedeu a comunhão ao catholicós e aos seus
clérigos. Por respeito, em sua missa, o Catholicós Isho’yahb omitiu as costumeiras
referências, próprias de sua liturgia eucarística, aos denominados “Três Capitulos” e
esperava que os calcedonianos omitissem a menção a Cirilo de Alexandria, o que não
ocorreu. Quando de seu retorno à Pérsia, Isho’yahb foi acusado por Bar Sawma de Susa
de fazer concessões não permitidas aos romanos18. Mas ainda que Isho’yahb II tenha
feito “concessões” em favor de um diálogo “ecumênico”, seu credo, pronunciado diante
do imperador e do patriarca bizantino, em nada fere a tradicional doutrina cristológica
da Igreja do Oriente: “Jesus Cristo, Filho de Deus, que escolheu sofrer com o corpo pela
nossa salvação, por nós homens, imune de paixão em sua divindade...” 19 . Se Isho’yahb
foi sempre firme em sua confissão de fé difisita, o mesmo não podemos dizer do bispo
Matírios Sahdona que fez parte de sua comitiva na Síria, pois “visitando um mosteiro
15
McCullogh, William Stewart. Op. cit.; p. 159-60.
16
O texto grego já foi condenado pela Igreja do Oriente em 553 por suas heresias origenistas.
17
Sauget, Joseph-Marie. “Babai o Grande”. In Di Berardini, Angelo (Org.). Op. cit., p. 204.
18
Paša, Željko (Org.). Patrologia Siriaca II. Dalla chiusura della Scuola di Edessa (489) fino al período
dei Mongoli (XIVº sec.). Antologia dei Testi. Roma: Pontificio Istituto Orientale, 2020, p. 43.
19
Ibid. p. 44
4

em Apamea manteve uma longa conversa com um monge cujo resultado foi danificou
sua crença difisita e quando retornou à Pérsia, desenvolveu um monofisismo completo e
acabou sendo expulso da Igreja do Oriente” 20. Oriundo de um vilarejo da zona
montanhosa de Kirkut, foi monge em Beth ‘Abe por volta de 635-640. Foi também
aluno da Escola de Nisibe e teve boa formação teológica, conhecendo bem os autores
capadócios. Certamente, devido a censura eclesiástica, perderam suas obras
cristológicas restando apenas as espirituais: o “Livro da Perfeição”, principal obra,
parcialmente perdida, expões suas ideias ascéticas e isto é importante para conhecer a
doutrina espiritual do monasticismo nestoriano da Pérsia do séc. VII. Dele ainda
subsistem cinco cartas “Máximas de sabedoria”21.
O ocaso do Império Sassânida, durante o catholicossado de Isho’yahb II (628- 645), foi
um período de grande instabilidade política havendo de 628 a 665 22, entre xás e
imperatrizes, quatorze governantes, muitos destes reinando ao mesmo tempo, sendo
ironicamente o mais estável Yazdegerd III que subiu ao trono com apenas oito anos de
idade: “o jovem xá não tinha autoridade e reinou como figura simbólica, já o poder real
estava nas mãos dos comandantes do exército, cortesãos e poderosos membros da
aristocracia, que lutavam entre si. O poderoso império desmoronava rapidamente devido
a conflitos internos e invasões em todas as frentes: ao leste pelos göktürks ao noroeste
pelos judaizantes khazars23, mas foram os árabes vindos do oeste e do sul, unidos sob a
bandeira do Islã, que deram o golpe mortal ao império” 24. Os historiadores ocidentais
identificaram vários fatores para o sucesso da conquista árabe: “a fraqueza dos dois
impérios bizantino e sassânida; entusiasmo dos guerreiros inspirados pela nova fé; o
descontentamento da população monofisita da Síria e do Egito por causa da política
opressiva de Bizâncio; o melhor sistema de comunicação interna. Recentemente, foi
dado ênfase à importância da religião na criação de quadros de guerreiros disciplinados,
motivados e unidos”25. Não temos noticias que os conquistadores árabes, liderados por
Said Ibn-Abi-Waqqas, um dos companheiros de Mohammad, aplicassem uma
perseguição sistemática aos cristãos persas, mas tudo indica que, da mesma forma que
aconteceu em Damasco em setembro de 635, quando o califa Khalid disse aos
habitantes desta cidade “que se não fizessem resistência, garantiria segurança para suas

20
McCullogh, William Stewart. Op. cit.; p. 163.
21
Di Berardino, Angelo. “Martírios Sahdona”. In Berardino, A. Op. cit. p. 903.
22
Com a morte de Cosroes II em 628 até a conquista islâmica em 651 sucederam ao trono persa os
seguintes xás e rainhas: Kavade II (628); Ardashir III (628-630); Shahrbaraz (630); Cosroes III (630);
Boran (630); Shapur I Shahvara (630); Peroz II (630); Azarmidokht (630-631); Farrukh Hormiz VI (630-
631); Hormizd VI (630-632); Cosroes VI (630-636); Farrukhzad Khosraw (631); Boran (631-632);
Yazdegerd III (632-651), sendo este último entronizado por uma série de conflitos e assassinatos internos
e a conquista muçulmana da Pérsia começou em seu primeiro ano de reinado. Ao observarmos os anos
em que estes diversos xás “governaram” o Império Sassânida, concluiremos que houve de (10) xás
“reinando” ao mesmo tempo, portanto uma sucessão de usurpações. Cf.
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_shahanshahs_of_the_Sasanian_Empire
23
Kia, Mehrdad. The Persian Empire: A Historical Encyclopedia. Saint Barbara: ABC-CLIO, 2016; Vol.
II, pp. 284–285.
24
Yazdegerd não conseguiu conter a invasão árabe do Irã, passando a maior parte de seu reinado fugindo
de uma província para outra, na esperança de formar um exército para repelir os árabes, malsucedido,
alcançou o seu fim nas mãos de um moleiro perto de Merw em 651, terminando assim o último império
iraniano pré-islâmico após mais de 400 anos de governo.
25
G. von Grunebaum, The First Expansion of Islam: Factors of Thrust and Containment, in «Diogenes»,
53, 1966 (gen.-mag.), pp. 64-72; C. Décobert, Le mendiant et le combattant: l’institution de l’Islam, Paris
1991, pp. 57-6. Apud. Stasolla, Maria Giovanna. La conquista islamica dello «spazio antiocheno». In.
Alzati, Cesare (Org.). Dal Mediterraneo al Mar della Cina: L’irradiazione della tradizione cristiana
di Antiochia nel continente asiatico e nel suo universo religioso. Vaticano: Libreria Editreci Vaticana,
2015; p. 137.
5

vidas, propriedades e igrejas, nada seria destruído e em suas casas muçulmanos não
praticariam violência. Dar-lhes-emos o pacto de Alah e a proteção de seu Profeta.
Enquanto eles pagarem o imposto, nada além do bem lhes sucederão”26.
Como veremos, com maior profundidade, neste conturbado período, a Igreja do Oriente
desenvolveu uma relevante obra missionária que alcança os confins da Ásia, mas por
ora trataremos das missões entre os árabes e indianos. A missão junto às tribos árabes
teve como ponto de referência os Lakhimidas, ou Banu Lakhm, g‫بنوللمم‬, um reino árabe
pré-islâmico situado no sul do atual Iraque, cuja capital era a antiga cidade de 'Ḥirtā',
perto do Eufrates, a sudeste da atual Al-Najaf. Os lakhimidas eram geralmente aliados
dos sasânidas e constantemente em guerra com os ghassanidas, situados ao oeste,
aliados de Bizâncio. Foi um importante centro da cultura árabe pré-islâmica, onde
muitos de seus poetas se reuniram e onde se diz que a escrita árabe se originou. O inicio
da evangelização desta região certamente remete há alguns séculos anteriores, sendo
que no século V, a população sob o governo lakhmida tinha uma grande parcela cristã,
denominada ʿIbād, que se entende por “servos” ou “devotos” do Senhor e no Sínodo de
Mar Isaac, em 410, consta a presença de Hosha, bispo de 'Ḥirtā'. Muitos dos Catholicós
residiram ali, especialmente em tempos de perseguição em áreas sob domínio direto dos
sassânidas, e pelo menos cinco deles possuíram casas de descanso em'Ḥirtā' 27 Havia
uma escola em ‘Ḥirtā’, fundada por Qiyore de Edessa, alojada em um mosteiro
posteriormente chamado Dayr al-Askūl. Entre seus bispos posteriores, conta o
lexicógrafo Anenanishoʿ bar Seroshway (séc. IX). O famoso tradutor Ayunayn bar
Isḥāq al-ʿIbādī (†873) era natural de ‘Ḥirtā’. O último bispo conhecido de ‘Ḥirtā’ é
Yūḥannā bar Nāzūk, que se tornou Catholicós em 1012. Há relatos que Nuʿmān II
(500–3), embora não fosse um cristão batizado, frequentava regularmente os cultos da
Igreja. Mundhir III (506–54), que teve uma mãe (Māʾ al-Samāʾ) e uma esposa cristã
(Hind, filha de Arethas / Ḥārith bar M Amr al-Kindī), pode ter se tornado cristão por um
breve período antes de reverter ao paganismo. E o único rei lakhmida a se tornar
abertamente cristão e persistir em sua fé foi Nuʿmān III (583 - ca. 602), o último da
dinastia, que foi deposto e morto pelo rei sassânida Cosroes II (590-628). Um grande
número de mosteiros pontilhavam o campo ao redor de ‘Ḥirtā’ foi descrito no Kutub al-
diyārāt, um gênero especial da literatura árabe que trata de mosteiros, como o Livro dos
mosteiros de Shābushtī (cerca de 988) ( Kitāb al-diyārāt ) e Hishām b. Livro de Ḥīra de
Muḥammad al-Kalbī (d. Ca. 819) ( Kitāb al-Ḥīra ), que agora está perdido, mas foi
usado, entre outros, pelo geógrafo Yāqūt em seu Muʿjam al-buldān. Nestas obras,
muitos dos mosteiros em torno de ‘Ḥirtā’ são associados e nomeados a membros
(muitas vezes mulheres) da família real lakhmida, incluindo al-Lajj, filha de Nuʿmān II,
ʿAlqama, pai de Abū Yaʿfur (503–5), Ḥanẓala, sobrinho do mesmo, Hind, a Velha,
esposa de Mundhir III, e Hind, a Jovem, filha de Nuʿmān III28.
Os árabes sassânidas do noroeste da Arábia, cuja origem era iemenita 29, tornaram-se
cristãos da variedade monofisita e, sem dúvida, foram os responsáveis por um certo
cristianismo que alcançou o Hijaz e o extremo sul da península arábica. Através de
26
McCullogh, William Stewart. Op. cit., p. 164. Segundo McCullogh “é provável que os Catholicós
tenha feito algum entendimento com Sa'd, mas as condições de tal acordo, dada por Bar Hebraeus, pode
pertencer em parte para um período posterior. Também é possível que os acordos feitos pelo comandante
árabe local tenham que ser confirmados pelo califa, o que está relacionado à tradição”. Ibid. p. 164.
27
Entre estes registra-se os seguintes nomes: Dadishoʿ I (421–56), Babowai (457–84), Aba I (540-52),
Qazqiel (567-81) e Ishoʿyahb I (582-95); talvez também Aqaq (485-95 / 6) e, mais tarde, Abrahão II
(837-50).
28
Hidemi Takahashi, Hidemi. Ḥirta. In Brock, Sebastian, P et alii. The Gorgias Encyclopedic Dictionary
of the Syriac Heritage (GEDSH). Op. cit. p. 201.
29
Cf. McCullogh, William Stewart. Op. cit.; pp. 43-4
6

várias fontes30, sabe-se que por volta do ano 500 d.C. havia um número substancial de
cristãos, bem como judeus, no sudoeste da Arábia, principalmente no Iêmen. Outra
provável via de evangelização cristã do sudoeste da península arábica foram os zelosos
cristãos difisitas da supramencionada ‘Ḥirtā’ já que estes possuíam laços econômicos
com tribos árabes iemenitas e muitos destes eram nestoriano. Mesmo após a ascensão
do Islã, e apesar da ordem do califa 'Umar (634-44) de que apenas muçulmanos
deveriam ser encontrados na Arábia31, é curioso que no pequeno Sínodo Nestoriano de
676, convocado pelos Catholicós Mar George I, tivesse a presença de um metropolita e
de cinco bispos, cujas dioceses estavam localizadas nos arredores do Golfo Pérsico; um
bispo era de Beth Qatraye, no continente árabe, em frente às ilhas do Bahrain, e outro
era o bispo dos Mazonaye (os habitantes de 'Urnan). Cerca de cem anos depois, quando
Tomás de Marga registrava os bispos consagrados pelos Catholicós Timóteo 1 (780-
820), ele se refere ao bispo de Sana no Iêmen 32. Outra significativa missão dos siro-
orientais foi aquela da Índia*, onde desde a Antiguidade Tardia se tem noticia dos
Cristãos de São Tomás33, um termo frequentemente usado para cristãos de Malabar,
Kerala, no sudoeste indiano e uma antiguíssima tradição afirma que eles remontam a
pregação apostólica de São Tomás, que teria chegado ao sul da Índia no ano 52. No
inicio eram localmente denominados nazrani, que corresponde a nāṣrāye, termo usado
pelas autoridades sassânidas para os cristãos (posteriormente retomado em árabe). Antes
da chegada dos europeus no século XVI, os cristãos de Thomas faziam parte do
Patriarcado da Igreja do Oriente, mas desde o final do século XVI, no entanto,
ocorreram sucessivas divisões, com o resultado de que hoje em Kerala existem sete
igrejas diferentes da tradição siríaca. “As fontes escritas e arqueológicas para o período
pré-português são mínimas; as escritas locais foram destruídas no Sínodo de Diamper
(Udayamperur, 1599). O comércio marítimo entre o Mar Vermelho e o porto de
Muziris, no sul da Índia (geralmente identificado como Kodungalur/Cranganore) foi
bem desenvolvido no primeiro século AD, e não há nada impossível nas fortes tradições
orais e escritas locais de que São Tomás esteve no sul da Índia (embora os Atos Siríacos
de Thomas, talvez do 3º século, parecem remetê-lo ao o norte). Vários documentos do
terceiro século: fontes gregas, no entanto, ligam-no a Pártia. Por sua vez, Santo Efrem
refere-se a Tomás sendo morto na Índia e afirma que um comerciante trouxe alguns de
seus ossos para Edessa (madrāše de Nisibis 42.1-2). Mylapore como o local do martírio
de Thomas não é atestado até a Idade Média, em relatos de viajantes ocidentais
conheciam uma tradição de que "ele foi enterrado em Maḥluph, na região dos
indianos"34. Entretanto não está claro quando a hierarquia da Igreja na Índia iniciou sua
comunhão plena com a Igreja Persa, mas de acordo com a Crônica de Siirt 35, Dodi,
bispo de Baṣra (evidentemente do 3º / 4º séculos) deixou sua sede para ir à Índia onde,
30
Moberg, Axel. The Book of the Himyarites, London, 1924
31
Neste período a península arábica estava sob os califas Abássidas que eram um tanto mais tolerante, e
assim a prescrição mais antiga contra infiéis na Arábia nem sempre era evidentemente aplicada.
32
The book of governors: by Thomas, bishop of Marga, fl. 850. [from old catalog]; Budge, E. A. Wallis
(Ernest Alfred Wallis). London: Paternoster House & Charing Cross Road, 1893; Vol. 2, IV. 20, p. 448.
In https://archive.org/details/bookgovernorshi02thomgoog
*A maior parte deste estudo sobre os “cristãos de São Tomás” foram obtidas através do artigo de: Brock,
Sebastian P. Thomas Christians. In Gorgias Encyclopedic Dictionary of the Syriac Heritage. The Gorgias
Encyclopedic Dictionary of the Syriac Heritage (GEDSH). Op. cit., p. 103.
33
Na literatura em língua portuguesa muitas vezes são denominados também de “Cristãos de São Tomé”
já que Tomé é uma variante portuguesa mais usada que Tomás ou Thomas.
34
Shlemon de Baṣra. 'Bee Book', ktābā d-debboritā. In Assemani, Bib. Or , 3.1.309. Apud. Loopstra,
Jonathan A. “Shlemon of Baṣra”. In Gorgias Encyclopedic Dictionary of the Syriac Heritage... Op. cit. p.
576.
35
Patrologia Orientalis, 26; I.8. Apud. Brock, Sebastian P. Thomas Christians.Op. cit. p. 103
7

mais tarde, converteu muitas pessoas36. Maʿne, metropolitana de Fars37 (final do séc. V),
teria composto madrāše, memre e ʿenyāne em persa (médio) para uso litúrgico e
enviado esses livros para o ilhas do mar e para a Índia. No início do séc. VI Cosmas
Indicopleustes, um amigo dos Catholicós Mar Aba, fala de uma igreja em Malabar e um
bispo “nomeado da Pérsia” em Kalliana38. E em meados do VII século, período que ora
estudamos, uma das Cartas de Isho'yahb III 39 afirma que a linha de bispos da Índia
dependia da sede metropolitana de Rev Ardashir, antiguíssimo sede metropolitana da
Igreja do Oriente situada na província de Fars, no Golfo Pérsico. O vínculo com Fars
ajuda a explicar porque o pahlavi, em vez de siríaco, aparece nas várias cruzes de pedra
do século IX (?)40. Por sua vez as cartas perdidas de Timóteo I foram destinadas aos
cristãos indianos a respeito da eleição de um bispo, e em outros lugares ele fala de
monges que viajam regularmente para e da Índia. Enfim, um riquíssimo acervo
documental atesta que as atuais e vigorosas comunidades dos Cristãos de São Tomé na
Índia devem muito ao dedicado trabalho desenvolvido ao longo séculos pelas missões
da Igreja do Oriente.
Para completar as informações sobre o relevante trabalho missionário da Igreja Persa
em direção ao Oriente não podemos jamais omitir as missões da Ásia Central e Oriental.
Ainda muito antes das missões organizadas que alcançaram os confins da Ásia no
século VII temos notícia que monges e eremitas sírios em busca de solidão e ascetismo,
terminaram evangelizando comunidades inteiras dos confins da Pérsia assim “sabemos,
pelas Vidas de Pethion e Saba41, que muitos eremitas foram encontrados pelo menos nas
regiões montanhosas entre a Media e o Vale do Tigre, foram responsáveis pela
conversão de um bom número de nômades que vagavam por essas regiões” 42. Um
significativo relato que atesta a existência da mais antiga obra missionária cristã na
China é a famosa pedra “Estela de Xian”, também conhecida por “Tabuleta
Nestoriana”; trata-se de uma estela chinesa Tang erigida em 781 em comemoração a
150 anos do inicio do cristianismo na China, ou seja, uma missão “nestoriana” que
chegou a capital chinesa, Chang’na em 63543, exatamente durante o catholicossado de
Isho’yahb II. Nesta estela consta em caracteres siríacos e chineses a atividade
missionária do monge Olopen, a ereção de um mosteiro nestoriano nos anos de 635-638
e os nomes de sessenta e sete missionários nestoriano ativos em Siang-fu”44. Por sua vez
Tomás de Marga registra que desde os tempos do Catholicós Timóteo I (780-820) foi
consagrado um certo David como metropolita para a China 45. De fato apesar das
perseguições e restrições, a Igreja do Oriente a chegada do Islã na Pérsia assinala o

36
Patrologia Orientalis, 117, II.9. Apud. Brock, Sebastian P. Thomas Christians. Op. cit. p. 103.
37
Id.
38
Esta localidade foi dentificada como Kalyan, área de Mumbai-Pune ou Quilon. In Cosmas,
Indicopleustes. The Christian topography of Cosmas Indicopleustes; Eric Otto Winstedt Editora:
Cambridge: University Press, 1909.'Topography, III.15. Apud. Brock, Sebastian P. Thomas Christians. In
Gorgias Encyclopedic Dictionary of the Syriac Heritage... Op. cit. p. 103.
39
Duval, Rubens, Anciennes littératures chrétiennes: II. La littérature syriaque, Paris: Librairie Victor
Lecoffre, 1907; p. 252. Apud. Brock, Sebastian P. Thomas Christians. Op. cit. p. 103.
40
Uma leitura aprimorada para uma destas epigrafes é dada por Gignoux, Ph. (1995), “The Pahlavi
inscriptions on Mount Saint Thomas Cross, South India”, in: Gitin, S., Sokoloff, M. & Zevit, Z. (eds.),
Solving Riddles and Untying Knots: Biblical Epigraphic and Semitic Studies in Honour of J. C.
Greenfield, Winona Lake: Eisenbrauns, pp. 411-22.
41
Hoffmann, George. Auszüge aus Syrischen AKTEN Persischer Mäartyrer. Leipzig: F. A. Brockhaus,
1880; p. 68ss. Apud. Labout, Jérôme. Op. cit., p. 316
42
Labout, Jérôme. Op. cit., p. 316
43
Bihlmeyer, Karl & Tuechle, Hermann. História da Igreja. São Paulo: Edições Paulinas, 1964; p. 221.
44
Ibid. p. 180.
45
The book of governors: by Thomas, bishop of Marga. Op. cit. Vol 2; p. 448.
8

inicio de uma fértil obra missionária cristã que se expandia sempre mais em direção ao
leste, em regiões distantes dos grandes centros islâmicos, seguindo a “rota da seda”,
partindo de Merv no Khorasan, noroeste iraniano, até os confins da China. É
interessante observar que no Sínodo de Mar Dadisho em 424, em Markabta de Tayyaye,
havia a presença de bispos cujas jurisdições era Ḥerat, no atual Afeganistão, Abrashahr
no Khorason46 enquanto Merv está registrada nos sínodos de 486, 497, 554, e 585 47. Em
diversas regiões da Ásia Central como no Turquestão e Kirquistão, na antiga
Sogdiana48, do século VIII ao XIV, o cristianismo penetrou pelo zelo missionário dos
monges siro-orientais, regiões onde foram descobertas centenas de lapides sepulcrais
cristãs que alcançam até o ano de 134549. Portanto o cristianismo siro-oriental chegou
aos confins da Ásia e esteve muito divulgado entre os povos turcos e mongóis como
atestam as lápides do interior da Mongólia50. Nos tempos de Geghis Khan seus filhos
tomaram como esposas mulheres cristãs da tribo mongólica dos keraites, e sob a regra
do neto de Genghis Khan, Möngke Khan, a influência religiosa principal entre os
mongóis era cristã. Por exemplo Arghun Khan (Hulagu Khan), que era neto de Genghis
Khan e fundador do Ilkhanate 51 era casado com Bulucã Catum (Doquz Khatun), uma
princesa mongol da tribo dos keraites. Arghun era um devoto budista, mas devido sua
simpatia pelos cristãos, acredita-se que durante seu governo tenha oprimido duramente
os muçulmanos. A história de Rabban Sawma, um monge nestoriano mongol que
nasceu nas imediações de Pequin por volta de 1225, que será o embaixador do khanato
persa, Ilkhanate, junto ao Papa Honório IV e junto a diversos reinos europeus, em favor
de uma aliança franco-mongol e também a história de seu discípulo o monge Rabban
Marcos52 natural de Beijing (Khanbaliq, ou Taitu), em 1245, que se transformará em
patriarca da Igreja do Oriente sob o nome de Mar Yaballaha III evidenciam o quanto as
missões siro-orientais influenciaram não somente no âmbito religioso, mas também
político dos povos mongóis em um processo que vai basicamente do século VII ao
XIV53. De fato Arghun lutou contra as forças islâmicas tentando destruir os mamelucos
aliando-se aos cristãos, tal plano consistiria em uma invasão por ambos os lados da

46
Chabot, Jean-Baptiste (Org.).Synodicon Orientale ou Recueil de Synodes Nestoriens. Paris: Imprimeri
Nationale, 1902; pp. 285-98.
47
Vööbus, Arthur. HASO I; pp. 263-65. Apud. McCullogh, William Stewart. Op. cit.; p. 180.
48
Numerosos manuscritos em sogdiano (uma extinta lingua irânica escrita com caracteres siríacos)
encontrados na região de Turfan foram transcritos, analisados e publicados pelo Prof. Nicholas Sims-
Williams, da Universidade de Londres. Entre seus números trabalhos citamos o seguinte: Sims-Williams,
N. (1992), “Sogdian and Turkish Christians in the Turfan and Tun-huang manuscripts”, in: Cadonna, A.
(ed.), Turfan and Tun-huang: The Texts. Encounter of Civilisations on the Silk Route, Florance: Olschki,
pp. 43—61. Ver também: Barbati, Chiara. (2009), Il lezionario sogdiano cristiano C5. Una nuova
edizione, Doctoral thesis, Roma: Università di Roma “La Sapienza”.
49
Bihlmeyer, Karl & Tuechle, Hermann. Op. cit. 221.
50
Ver Halbertsma, Tjalling H. F. Early Christian Remains of Inner Mongolia: Discovery, Reconstruction
and Appropriation. Leiden: Brill, 2008.
51
Ilkhanate foi um khanato estabelecido a partir da região sudoeste do Império Mongol (em áreas
anteriormente pertencentes ao Império Sassânida) governado por um mongol da “Casa de Hulagu”.
Hulagu Khan, filho de Tolui e neto de Genghis Khan, herdou o Oriente Médio parte do Império Mongol
depois que seu irmão Möngke Khan morreu em 1260.
52
O texto completo desta epopeia foi publicado, a partir dos originais siríacos, na seguinte obra: The
Monks of Kublai Khan Emperor of China or the History of the Life and Travels of Rabban Sawma,
Envoy and Plenipotentiary of the Mongol Khans to the Kings of Europe, and Markos who as Mar Yabh-
Allaha II Became Patriarch of the Nestorian Church in Asia. Translated from the siríaca by Sir E. A.
Wallis Budge, Kt. M. A. London: The Religious Tract Society, 1928 e encontra-se disponivel em sua
versão electronica: http://www.aina.org/books/mokk/mokk.htm
53
Galletti, Mirella. Cristiani del Kurdistan: Assiri, caldei, siro-cattolici e siro-otodossi. Roma: Jouvence,
2003; p. 83-96.
9

Síria. No entanto, devido a desconfiança dos europeus para com os mongóis, tal projeto
não foi realizado. Durante o seu governo, Arghun teve de enfrentar uma nova e
inconclusiva guerra contra a Horda de Ouro. Internamente seu governo também ficou
marcado pela reestruturação das finanças de seu reino, graças ao seu ministro das
finanças Sa'ded-Daule, Arghun foi assassinado em 1291. Sua esposa, a rainha cristã
Bulucã Catum, lhe deu dois filhos, Gazã e Öljeitü, mas a conversão de ambos ao Islã 54
ruiu a esperança da Igreja do Oriente, que naquele período enxergava uma oportunidade
singular de construir uma cristandade persa aos moldes da bizantina.

54
Gazã, que sucedeu seu pai Arghun, nasceu budista, mas sob o conselho de Raxide Adim, converteu-se
ao islamismo como parte de um acordo militar para acender ao trono em 1292. Em 1295 impõe o Islã
como uma religião de Estado e em seu reinado. Quanto a Öljeitü, que tinha sido batizado que, por
influência de sua mãe, chegou a ser batizado quando criança, tinha flertado com o budismo, tornou-se um
Hanafi sunita, embora ele ainda manteve alguma xamanismo residual. E finalmente entre 1309-1310, ele
se tornou um muçulmano xiita.

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