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 Entrevista

 
Criacionismo Bíblico - I

Presidente da Sociedade Criacionista Brasileira fala sobre


fé e ciência.
Por Michelson Borges - Jornalista

Para falar sobre a controvérsia criacionismo x evolucionismo, o


Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira concedeu esta entrevista em
São Paulo, enquanto participava de uma comissão para a
criação de Centros Universitários, em 1998. 

Dr. Ruy Carlos Camargo Natural de São Carlos, SP, Ruy Vieira tem 68 anos de idade, é
Vieira engenheiro mecânico e eletricista, formado pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo. Dedicou-se ao ensino,
lecionando Mecânica dos Fluidos, de 54 a 56, no ITA (Instituto
Tecnológico da Aeronáutica). 
Em julho de 1956, foi lecionar Física Técnica (nome italiano dado à cadeira de Mecânica dos
Fluidos, Transmissão de Calor e Aplicações Tecnológicas) na Universidade de São Paulo, em
São Carlos, onde fez livre docência e tornou-se catedrático por concurso.

Em 1970, assumiu a chefia do departamento de Hidráulica e Saneamento naquela


universidade, fundando a pós-graduação que é considerada a melhor na área, no Brasil. Foi
convidado, em 1972, a integrar a Comissão de Especialistas do Ensino de Engenharia do
MEC, responsável pelo acompanhamento e avaliação das escolas de engenharia, currículos,
formação de professores e reconhecimento de cursos.

Segundo Ruy Vieira, após a aposentadoria (em 1986) é que ele começou a trabalhar "de
verdade". Atualmente representa o MEC no Conselho da Agência Espacial Brasileira
participando de suas reuniões periódicas e empreendendo viagens por locais onde existem
atividades espaciais. De três em três meses participa, também, de reuniões na Sociedade
Bíblica do Brasil, da qual é um dos diretores já há mais de 15 anos.

Além dessas ocupações, durante meio período, Vieira atua como consultor do Plano das
Nações Unidas para o Desenvolvimento e (PNUD) junto à Secretaria de Educação
Tecnológica do MEC. No outro meio período, dedica-se a traduções de livros e edita a Folha
Criacionista, publicação da Sociedade Criacionista Brasileira, da qual é presidente.

SINAIS: Quais as principais diferenças entre os modelos criacionista e


evolucionista?
DR. RUY VIEIRA: O criacionismo parte do pressuposto de planejamento, desígnio e
propósito no Universo. Ao passo que o evolucionismo parte de um princípio inteiramente
oposto: o acaso. Segundo o evolucionismo, portanto, não há planejamento na Natureza, as
coisas acontecem de forma casual e aleatória. Fundamentalmente, os modelos criacionista e
evolucionista são duas posições filosóficas e não científicas, que têm a ver com
pressupostos a respeito do Universo no qual estamos inseridos.

SINAIS: O que é um modelo ou teoria?


DR. RUY VIEIRA: No estudo do Universo, há a necessidade de uma certa sistematização.
Daí surge uma metodologia para esse estudo e são feitas hipóteses. Existem certas teses
preconcebidas, e as hipóteses muitas vezes são feitas para auxiliar a defesa dessas teses. E
é aí que começa toda a estruturação da filosofia da ciência, pois para se trabalhar com
ciência, há necessidade de certos parâmetros e a investigação do Universo se dá dentro
desses parâmetros.
Modelo é sempre uma coisa estruturada mentalmente para tentar reproduzir da maneira
mais aproximada possível a "realidade" (que no campo da filosofia é algo inatingível, pois
nem tudo é mensurável). O que acontece é que muitas hipóteses acabam sendo assimiladas
e divulgadas como verdades absolutas, "científicas", quando, de fato, não o são.

SINAIS: É possível harmonizar fé e ciência?


DR. RUY VIEIRA: Essa pergunta constitui um aspecto específico do caso mais geral que
tem a ver com a crescente influência da ciência e da tecnologia modernas na vida diária em
nossos dias, que, em seu extremo, leva à alegação de que o cristianismo e a Bíblia em
particular estão superados em face de numerosas "comprovações científicas" que
desautorizam a crença nos seus ensinos básicos.

Nesse sentido, diversos questionamentos são feitos: (1) Pode um cristão hoje ser ainda
cientista? Pode um cientista ser hoje ainda um cristão? (2) A ciência moderna já não
demoliu a base da fé cristã? (3) A fidelidade ao cristianismo exige que sejam rejeitadas
todas as teorias da ciência moderna? (4) Devemos viver considerando a ciência e a fé cristã
como coisas inteiramente separadas entre si? (5) Teria a ciência comprovado a fé cristã,
como alguns cristãos alegam? (6) O que dizer dos que afirmam que o desenvolvimento
científico atual exige que se inventem uma nova ciência e uma nova teologia mais
adequadas para o novo milênio?

Questões como essas podem ser respondidas de forma satisfatória tanto para a autêntica fé
cristã como para a ciência autêntica, desde que se levem em conta as perspectivas
corretas. Por isso, deve-se evitar a falsa dicotomia entre fé e razão. De fato, fé e razão
constituem aspectos essenciais de todas as atividades humanas, aí incluídas tanto a ciência
como a teologia cristã. Ambas fazem suposições (fé) e a partir delas, tiram conclusões
(razão). A fé em ser o Universo algo racionalmente compreensível constitui uma hipótese da
ciência. A fé nessa hipótese não somente motiva os cientistas a pesquisar mas realmente
torna a pesquisa possível e eficaz. Essa mesma fé pode constituir uma conclusão razoável
proveniente do ensino bíblico a respeito do Universo ter sido criado por um Deus racional.
Assim, ciência e fé não são conceitos que se contrapõem. Blaise Pascal, filósofo naturalista
cristão afirmava que a ciência é a atividade de "acompanhar os pensamentos de Deus".

SINAIS: É possível ser evolucionista e crer na Palavra de Deus ao mesmo tempo?


DR. RUY VIEIRA: Não. Evolucionismo e Bíblia não se harmonizam, pois a Bíblia é
essencialmente criacionista. Qualquer tentativa de se harmonizar a evolução com a Palavra
de Deus leva a dificuldades que se somam: as dificuldades que o criacionismo tem, com as
dificuldades próprias do evolucionismo. É muito pior querer fazer um híbrido. No entanto,
tanto o híbrido quanto qualquer um dos dois extremos são aceito pela fé. Não há como se
"comprovar" cientificamente qualquer um dos modelos, porque são filosofias. Não são
ciência.

SINAIS: O Senhor vê evidência de planejamento no Universo?


DR. RUY VIEIRA: Sem dúvida. Desde o microcosmo até o macrocosmo; em tudo.
Consideremos, por exemplo, a estrutura atômica molecular e cristalina das substâncias...
como explicar o surgimento dessas coisas por acaso? Moléculas orgânicas que têm a ver
com a vida... Tudo isso indica que houve um planejamento. Se tudo fosse meio caótico não
haveria cristal, tudo seria amorfo. Não haveria átomos específicos em uma cadeia de uma
tabela periódica. (A própria existência de uma tabela periódica, onde se podem fazer
previsões a respeito das características dos elementos, significa que há uma ordem, o que é
o contrário da desordem, característica da aleatoriedade, do acaso. Já a ordem é
característica de planejamento, desígnio.)

Considerando a Terra, o Sistema Solar a nossa e outras galáxias, vemos uma estrutura
coerente e lógica a tal ponto de podermos estabelecer modelos que indicam planejamento.
Tente fazer um modelo do comportamento da economia brasileira, por exemplo. É a coisa
mais difícil do mundo pois há muitos fatores caóticos e aleatórios que acabam interferindo,
como a bolsa da China, portarias do governo, ou mesmo uma geada em outro país; tudo
isso influi.

O próprio fato de poder existir ciência - que pressupõe que a determinadas causas vão
corresponder determinados efeitos - já mostra planejamento no Universo.

SINAIS: O que é a Sociedade Criacionista Brasileira?


DR. RUY VIEIRA: Na minha carreira de docente universitário, como também no
acompanhamento dos estudos de meus filhos, no curso secundário e no preparo para o
concurso vestibular, bem como na observação dos acontecimentos sociais, políticos,
econômicos, científicos e tecnológicos, pude perceber como as doutrinas evolucionistas
foram sendo introduzidas nos livros textos e assimiladas e divulgadas gradativamente pelos
meios de comunicação, passando mesmo a pautar o comportamento social em vários
setores da atividade 

humana
.

Pela providência divina, chegaram às minhas mãos (isso há cerca de trinta anos) notícias
sobre a existência de sociedades criacionistas no exterior, com intensa atividade de
divulgação de literatura a respeito da controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo.
Devido às circunstâncias que mencionei, interessei-me pela fundação de uma sociedade
congênere no Brasil, já que era extremamente escassa a literatura criacionista em língua
portuguesa e se fazia sentir bastante a sua falta. Assim, em 1972, foi fundada a Sociedade
Criacionista Brasileira, tendo início a publicação do seu periódico - a Folha Criacionista - que
neste ano de 1998 chegará à sua 59a. edição, ao longo desse período de 27 anos.

A continuidade desse trabalho durante um quarto de século foi um verdadeiro milagre,


devendo-se agradecer a Deus pelo sucesso alcançado em termos de um enorme número de
pessoas interessadas que se beneficiaram, de uma forma ou de outra, com o trabalho
realizado. Agradecimentos devem também ser estendidos a muitas pessoas que
colaboraram de diferentes formas para tornar realidade esse empreendimento.

Mais detalhes sobre a Sociedade Criacionista Brasileira e suas atividades podem ser
encontrados na Internet, no site: http://www.scb.org.br ou pela Caixa Postal 08743 - CEP
70312 -970, Brasília, DF.

SINAIS: Por que o senhor é criacionista?


DR. RUY VIEIRA: Entendo que tornar-se criacionista é uma conseqüência lógica de tornar-
se cristão. Ser cristão é aceitar a Cristo como Salvador e, portanto, aceitar a revelação
exposta na Bíblia, especialmente no que diz respeito ao relato da criação de um mundo
perfeito, da provação e da queda subseqüentes, com todas as suas conseqüências
deletérias.

Não tive educação religiosa em casa, e dada a minha educação escolar até o nível
universitário ter sido centrada nos parâmetros agnósticos, e mesmo ateístas, vigentes em
nosso país, não tive educação religiosa também nos bancos escolares. Dessa forma, só vim
a conhecer o cristianismo como experiência pessoal, pela providência de Deus, já no fim de
meu curso de Engenharia. É evidente que ocorreram conflitos em minha mente entre o
conhecimento adquirido até então e a nova perspectiva que se abria diante de mim, de um
mundo criado, mantido e dirigido por um Deus que manifestava propósito, desígnio e
planejamento em todas as Suas obras.

Dou graças a Deus por ter conseguido superar todas as barreiras que se interpuseram no
caminho de minha conversão! Hoje posso associar de forma bastante coerente a imagem de
um mundo perfeito criado por Deus, e a degradação decorrente da entrada do pecado neste
mundo, com princípios básicos da ciência que aprendi na minha carreira de estudante, e
que posteriormente integraram o conteúdo de disciplinas que vim a ministrar como docente
universitário, como por exemplo a Primeira e a Segunda Leis da Termodinâmica,
envolvendo considerações filosóficas sobre o conceito de entropia, ordem e desordem,
direcionalidade, decaimento e degradação.

Vislumbro, hoje, em todos os campos do conhecimento humano com os quais tive de me


relacionar, a perfeita coerência da visão criacionista com os fatos e as evidências neles
encontrados.

Entrevista publicada em dezembro de 1998 na revista

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