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Cidades- Comunidades e Territórios

Dez. 2006, n.0 12/13, pp. 15-34

A Revitalização Urbana
Contributos para a Definição de um Conceito Operativo1
Dulce Moura*, Isabel Guerra**, João Seixas*** e Maria ]oão Freitas****

Resumo: Este artigo é parte de um relatório mais vasto- Políticas Públicas de Revitalização:
reflexão para formulação estratégica e operacional das actuações a concretizar no QREN, de
Outubro de 2005 - que pretendia apontar conteúdos e formas de desenho de um potencial
programa em revitalização urbana inserido no próximo quadro comunitário.
Dada a mutação das sociedades, a diversidade de situações a considerar e a proliferação de
conceitos, a primeira preocupação foi a de situar o conceito de revitalização urbana no con­
texto da diversidade de conceitos da mesma família: requalificação, reabilitação, renovação,
etc. Assentando num conceito englobante que define a revitalização urbana como um proces­
so integrado de reanimação de parte da cidade e onde se podem incluir operações de vária
ordem, pretende-se depois estruturar uma tipologia de situações empíricas que permitam dar
corpo à diversidade potencial de intervenções em nome da referida revitalização urbana.

Palavras-chave: Revitalização; Renovação urbana; Requalificação; Reabilitação.

Introdução território português: Centros urbanos e núcleos


históricos, Expansões periféricas ou peri-urbanas,

No relatório Políticas Públicas de Revitaliza­ Áreas de oportunidade pontual ou estratégica,

ção: reflexão para formulação estratégica e Espaços de reserva com potencialidade derivada,

operacional das actuações a concretizar no QREN, Espaços de relação e sinergia.

propõe-se que o conceito de Revitalização Urbana


seja entendido sobretudo como uma estratégia e Uma proposta de clarificação
um processo, distinguindo-se da generalidade dos conceptual em torno
programas urbanísticos, de um modo geral sem da revitalização urbana
transversalidade e integração nas suas linhas de
actuação. Neste sentido, a revitalização urbana O pós-guerra 1945-1975 desenvolveu-se
desenvolve estratégias e promove um processo com como o período que antecedeu a concepção da
carácter inclusivo e integrador, capaz de provocar revitalização urbana, tal como hoje a conhecemos.
iniciativas, projectos e actuações - de carácter De facto, a maioria dos países ocidentais, nestes
transversal e sectorial, sendo um instrumento de "30 anos gloriosos", desenvolveram um modelo
gestão colectiva do território com capacidade para económico de estruturação dos Estados Provi­
utilizar, como recursos próprios, programas dência, onde as políticas sociais do Estado,
urbanos muito diferenciados, de cariz mais social, nomeadamente as ligadas à construção, edificaram
económico ou cultural. uma reconstrução económica e social, à qual as
Propõe-se ainda uma tipologia de territórios cidades também não escaparam, vivendo um
a revitalizar com base na situação actual do intenso crescimento económico de matriz fordista.

1 Este artigo é parte do relatório Políticas Públicas de Revitalização: reflexão para formulação estratégica e operacional das actuações a concre­
tizar no QREN, Outubro de 2005 onde participaram vários peritos .

* Socióloga, investigadora do CET e perita em SECOT.


** Professora do Departamento de Sociologia do ISCTE, investigadora do CET.
*** Professor na Universidade de Barcelona, investigador do CET.
**** Investigadora do LNEC e administradora no INH.

Cidades • Comunidades e Territórios, n.0 12/13, 2006, pp. 13- 32 15


CIDADES Comunidades e Territórios

As necessidades de renovação e revitalização liário juntamente com uma forte “privatização” da


das cidades colocaram-se com mais insistência no intervenção na regeneração urbana.
último quartel do século xx, com o envelhecimento Entretanto, a economia internacional evoluiu
de zonas de construção massiva no pós-guerra ou para um modelo de economia global onde as
com o declínio das velhas zonas industriais e cidades e as regiões urbanas foram fortemente
portuárias características das fases de industria- influenciadas. Novos conceitos como a flexibilida-
lização pesada. Apesar de no contexto europeu as de ou a desregulação têm de se articular neste novo
experiências de intervenção em zonas degradas ou período com as questões urbanas, ao nível das
em degradação e as “políticas” que as suportaram repercussões:
terem sido inúmeras e diferenciadas, desenvol- – nas mutações económicas: fragilização do
ve-se hoje um largo consenso sobre alguns dos – modelo fordista, emergência de novas
princípios orientadores dessas políticas. – formas de relação com o trabalho e precari-
Programas como o “Neighbourhood Renewal – zação dos percursos individuais, descone-
Strategy” em Inglaterra nascem ainda da tradição – xão entre o económico e os territórios,
de compromisso social do Estado junto das – predominância de um regime internacio-
populações desfavorecidas das grandes cidades – nal com hegemonia do capital financeiro,
remontando aos movimentos reformistas urbanos – mobilidade de capitais e desconexão pro-
do início do século xx, passando posteriormente – gressiva entre território de produção de
pela racionalização das medidas de ajuda à regene- – riqueza e território do consumo;
ração (“Single Regeneration Budget Programme”, – nas mutações sociais: fragilização e frag-
1994), até à fase actual, quando, em 1997, a che- – mentação da família, aumento das desi-
gada ao poder do New Labour levou à criação de – gualdades de mercado, diversificação
uma unidade dedicada à exclusão social (“Social – crescente das trajectórias individuais,
Exclusion Unit”) que procura dinamizar a reflexão – envelhecimento da população, aumento das
estratégica sobre a revitalização nos bairros urba- – mobilidades populacionais.
nos mais desfavorecidos.
O primeiro governo de Margaret Thatcher, em Em França, entre a lei Malraux de 1962, que
1979 na Grã-Bretanha, é o ponto de partida para marca o início da preocupação pública francesa
este novo cenário de tipo neoconservador enquan- em preservar o habitat no centro das cidades
to governo do estado e neoliberal na gestão do francesas e as consequentes fases da “Politique de
território. A política urbana e territorial passou a la Ville”, até à recente lei da “Solidarité et
ser algo negociado e negociável entre o sector Renouvellement Urbains”, que pretende revitalizar
público e os agentes privados, entre a procura de os “quartier en crise”, desenvolveram-se muitos
uma economia global e as exigências do território debates e transformações sobre o modo de pensar
local. e fazer a própria revitalização (reabilitação,
As instâncias públicas adoptaram um papel requalificação…). Pelos vários documentos que
de subsidiariedade, desde facilidades fiscais ou acompanharam este debate, constata-se que não
flexibilidade no planeamento, até à eventual parti- houve propriamente uma ruptura, mas que as
cipação activa no comércio especulativo do solo problemáticas e os métodos de intervenção se
afectando, inclusive, as propriedades públicas (ex. foram enriquecendo com as experiências de
as Docklands em Londres, ou a companhia ferroviá- terreno.
ria estadual de Berlim reunificada, propriedades Assim, aos princípios estabelecidos nos anos
públicas que foram postas ao serviço de estraté- 70, nas primeiras “Opérations Programmées
gias privadas altamente especulativas). d’Amélioration de l’Habitat”, acrescentaram-se os
O que caracterizou a intervenção urbana benefícios das operações de “Développement
thatcheriana foi, por um lado, a primazia à reabi- Social des Quartiers” orientadas para as perife-
litação física com o claro objectivo de “devolver à rias, onde se concentravam os bairros sociais de
cidade” solos com forte valor fundiário e, por outro construção massiva da geração anterior. A mon-
lado, a promoção da competição entre municípios tagem de equipas pluridisciplinares, um trabalho
para o acesso aos fundos de investimento imobi- mais integrado e uma inovação nos estaleiros de

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A Revitalização Urbana

construção, estruturaram uma política pública onde da mercantilização dos valores fundiários e imobi-
os princípios da experimentação e da avaliação liários, pelo que foram definidas em termos de:
foram sempre suportados por um Estado forte e 1) desenvolvimento da planificação estraté-
interventor2. 1) gica, enquanto articulação entre agentes
Nos modelos de fragilização dos Estados 1) públicos e privados;
Providência – liberais, socio-democráticos ou 2) multiplicação das parcerias e equipas de
corporativistas-conservadores –, desenvolveram-se 1) gestão com a colaboração público-priva-
as novas premissas que coincidiram com uma 1) do, como meio de agilizar e flexibilizar a
maior liberalização por parte do Estado e das 1) gestão das questões territoriais;
instâncias públicas na actividade económica e 3) desenvolvimento de políticas de marketing
empresarial. E este período levou a alguns cená- 1) e promoção territorial aumentando a com-
rios territoriais recorrentes: 1) petitividade entre cidades no conceito de
– a diminuição do controlo do território por 1) um mercado global;
– parte das instâncias públicas com pressões 4) privatização, selectiva e algumas vezes
– fundiárias e imobiliárias por parte do 1) indiscriminada, de infra-estruturas e ser-
– sector empresarial; 1) viços que eram públicos (higiene, trans-
– a progressiva “privatização” da lógica 1) portes...).
– urbana nomeadamente de alguns serviços Mas a emergência do mercado globalizado,
– tradicionalmente de responsabilidade do novo capitalismo neoliberal (que vem procurar
– pública, processo aliás muito evidente ao a acessibilidade e o simbolismo das áreas centrais,
– nível das mobilidades e comunicações e contrariando as descontinuidades e os limites
– que está ainda hoje em curso; internos ao crescimento e à expansão da econo-
– a especialização de territórios em mono- mia), surge simultaneamente à propagação do
– cultivos urbanos, como o turismo, ou os paradigma do desenvolvimento sustentável e à
– usos vinculados ao entretenimento urbano, consolidação dos movimentos comunitários e
– e o desenvolvimento de problemas e ambientalistas.
– sectores urbanos que deixam de ter resposta As experiências do final do século xx per-
– eficaz (ex. habitação social nas grandes mitem definir a revitalização no contexto do
– cidades); planeamento estratégico das cidades e territórios,
– aumento da competitividade territorial como forma de contrariar o urban decline,
– entre municípios e regiões vizinhas; processo de deterioração e declínio das áreas
– a distribuição territorial desigual do in- centrais ou marginalizadas, mantendo a cidade
– vestimento, dirigida a sufragar projectos em constante renovação e procura de factores de
– ambiciosos de grandes firmas ou nomes da inovação.
– arquitectura, para crescimento e transfor-
– mação das áreas urbanas (cada espaço quer Conceitos e realidades que concorrem
– ter arquitectos – marca e edifícios – logo para a revitalização urbana
– singulares para se inserir no mapa global
– das imagens urbanas); ou Ao longo do tempo, a desactualização de
– o aumento da polarização territorial zonas da cidade – central ou periférica – chama-
– através da pauperização de territórios ram a atenção pela necessidade de lhes dar novas
– pouco apetecíveis ou em perda de valor por funções. Frequentemente, a oportunidade gerada
– razões várias. pelo envelhecimento de alguns dos equipamentos
Do ponto de vista dos processos, no final do e bens urbanos aí localizados chamam a atenção
século xx, as políticas territoriais não ficaram à para possíveis valorizações dos sítios em termos
margem da tendência generalizada do aumento imobiliários, culturais e sociais. A lógica de
da competitividade, da procura da inovação e intervenção urbana nesses espaços muda no

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Ver uma síntese das experiências francesas em reabilitação em http://www.urbanisme.equipement.gouv.fr/cdu/accueil/bibliographies/
rehabilitation/preface.htm

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CIDADES Comunidades e Territórios

tempo mas também opõe ideologias face à cidade, imagem de reforço dos valores e poder do Estado,
nem sempre reconciliáveis, dada a diversidade e “limpar” tecidos “insalubres” socialmente e
interesses. Surgem, assim, conceitos que, embora urbanisticamente, ou reorganizar a rede viária.
nem todos bem definidos, contêm simultaneamen- A ideia de renovação atinge, sobretudo, as
te uma ideia (teórica) e uma proposta de acção intervenções de larga escala, de transformação
sobre a cidade. É o caso dos conceitos de renova- integral. Implica, por isso, uma mudança estru-
ção urbana, reabilitação, requalificação. tural que abrange 3 dimensões básicas:
● dimensão morfológica (forma da cidade e

Renovação urbana ● da paisagem);

● dimensão funcional (base económica e das

O conceito da renovação urbana é marcado ● funções a ela associadas que podem desa-

pela ideia de demolição do edificado e consequente ● parecer ou ser substituídas)

substituição por construção nova, geralmente ● dimensão social (esfera sociológica,


com características morfológicas e tipológicas ● geralmente substituição de residentes ou
diferentes, e/ou com novas actividades económi- ● visitantes por outros com níveis de ren-
cas adaptadas ao processo de mudança urbana. ● dimento, instrução e estilo de vida dife-
Os efeitos sociais que esta política teve onde foi ● rentes).
aplicada são conhecidos dos estudos urbanos e, nos Estas operações têm um carácter zonal
casos de cidades norte-americanas e francesas, destacado e tornam-se geralmente ‘áreas de
implicou:
renovação’ ou ‘sectores de renovação’ (como a City
– a reocupação das zonas centrais pelas
londrina nos anos 80; a renovação de Berlim
– actividades económicas de ponta (escritó-
reunificado no início dos anos 90 ou a frente
– rios de grandes empresas multinacionais,
marítima de Barcelona desde os anos 80).
– sector financeiro);
– e a expulsão de parte da função residencial
– dos centros das cidades com a progressiva
Reabilitação
– periferização das classes médias, ou ainda
– das actividades económicas de fraca A renovação faz um tratamento hard do
– capacidade económica para competir no tecido edificado e, por consequência, do tecido
– mercado imobiliário com as empresas de social e económico. A reabilitação não representa
– elevado estatuto económico e grande pres- a destruição do tecido, mas a sua “habilitação”, a
– tígio que buscavam no centro uma locali- readaptação a novas situações em termos de
– zação estratégica. funcionalidade urbana. Trata-se de readequar o
Em Portugal, este tipo de intervenção foi tecido urbano degradado, dando ênfase ao seu
aplicado extensivamente na época do Estado Novo carácter residencial, no qual geralmente se fazem
(lembre-se o caso do Martim Moniz, da Alta de duas intervenções complementares:
Coimbra, o projecto do Auzelle para a Ribeira – no edificado (habitabilidade, qualidade da
Barredo no Porto, etc.) pois, ao mesmo tempo que – habitação, serviços e instalações, e isola-
se proclamava o restauro dos monumentos, proce- – mento térmico e acústico), implicando não
dia-se ao nível do planeamento, sob pretextos – somente a reabilitação dos edifícios habi-
higienistas ou de necessidade viária, a uma subs- – tacionais, como a dos outros edifícios,
tituição dos tecidos antigos. Nesse contexto, o – incluindo mesmo a construção de equipa-
tecido antigo é considerado caduco, insalubre, sem – mentos. Além disso, a reabilitação urbana
valor patrimonial e impeditivo da modernização, – não implica uma intervenção igual em
propondo-se a sua demolição ou renovação. Nos – todos os edifícios, podendo implicar a de-
planos de urbanização, os tecidos antigos passam – molição de alguns, o restauro estrito de
a ser preservados em “formol” – processo de folclo- – outros, a construção de novos, etc., do
rização e institucionalização do património – ou – mesmo modo que reabilitar um edifício
esventrados para dar visibilidade aos monumen- – pode implicar a demolição de alguns
tos, instalar instituições de âmbito nacional com – elementos e a construção de novos;

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A Revitalização Urbana

– na paisagem urbana (elementos de visi- vação), muitas vezes a estratégia era evitar que a
bilidade, fachadas, espaços de transição como o operação de reabilitação física acarretasse
espaço público contíguo ao residencial), na processos de expulsão dos habitantes e substi-
medida em que as intervenções de reabilitação tuição destes por outras camadas sociais: “a reabi-
surgem muitas vezes associadas a actuações de litação significa a restituição da estima pública.
melhoramento do espaço público ou revitalização Sendo o seu objectivo criar condições para que as
do mesmo. pessoas não só possam viver e sobreviver em condi-
É dado especial cuidado no “processo” de ções consideradas adequadas, mas, também, criar
reabilitação, metodologias, equipas, parcerias e condições de maneira a que estes núcleos ou essas
participação. Este processo pode facilitar algumas cidades constituam núcleos estimados pela socieda-
etapas complexas da reabilitação, como o de e a colectividade.” (Arq.º Alcino Soutinho in 2.º
realojamento provisório das populações residentes Encontro dos Programas Urban e Reabilitação
ou os acordos com os proprietários. Em finais dos Urbana, 1998:48).
anos 80, desenvolve-se a ideia, de um modo mais O procedimento de reabilitar que existe, que
consistente, da reabilitação urbana em Portugal a maioria dos GTL3 assumiu claramente como um
(com uma diferença de mais de uma década em objectivo de actuação, deve-se ao facto de eles
relação à Europa), pese embora experiências terem operado sempre em áreas de elevado valor
pontuais desencadeadas em meados dos anos histórico e patrimonial. De facto, apesar de após
setenta, na zona ribeirinha do Porto, por exemplo. 1987 haver a possibilidade de os GTLs operarem
Preocupações com o património histórico- em áreas urbanas degradadas “não-históricas”, na
-arquitectónico e com a manutenção da população realidade isso não veio a acontecer, porque na
nos centros das cidades comandam esta nova selecção das candidaturas (e como os recursos eram
política de intervenção urbanística (Ribeira- escassos) deu-se sempre a preferência às áreas
-Barredo no Porto, Évora, Guimarães, ou mesmo antigas por serem consideradas prioritárias rela-
em Lisboa). tivamente a outras. Por outro lado, a partir dos
A criação de gabinetes técnicos locais em anos noventa, houve directrizes fortes para que a
Portugal (foram lançados os primeiros 37 GTLs em actuação dos GTLs se centrasse na elaboração de
1985, simultaneamente, de Norte a Sul do país) Planos de Salvaguarda e não em operações con-
deu um importante contributo para o desencadear cretas.
de operações planeadas de intervenção no espaço No que se refere ao ambiente construído, em
construído, de natureza histórico-patrimonial. 1998 a CE adoptou a comunicação “Desenvolvi-
O que faltou, muitas vezes, foi um investimento mento Urbano Sustentável na União Europeia: um
continuado nessas experiências de reabilitação, a Quadro de Acção”, onde aponta a reabilitação das
sua avaliação e, sobretudo, o balanço da susten- áreas urbanas degradadas e a melhoria da qualida-
tabilidade das intervenções e o seu contributo de do ambiente construído como objectivos a atin-
efectivo para o desenvolvimento urbano, ou desen- gir pela União Europeia. Este documento sublinha
volvimento local, dos contextos onde ocorreram. a necessidade das acções de reabilitação urbana
A maioria daquelas intervenções em Portugal serem realizadas de forma integrada e de se torna-
acabou por ter um peso quase exclusivo da di- rem numa componente essencial das políticas
mensão física da reabilitação, dissociada de locais de planeamento. Em 2001, a Resolução do
intervenções no tecido económico e social dos Concelho da União Europeia “Sobre a qualidade
contextos de intervenção. Mesmo quando tais arquitectónica em ambientes rurais e urbanos” dá
intervenções ocorreram, elas pautaram-se mais indicações no sentido de que a dimensão cultural
pela lógica de reabilitar o que existe e, tal como se e a qualidade do tratamento físico do espaço sejam
procedia face ao edificado (onde a preservação e tidas em conta nas políticas europeias de coesão, e
habilitação do tecido urbano e do edificado é um sublinha a importância de defender o elemento
objectivo bastante mais prioritário que o da ino- cultural e patrimonial.

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Gabinetes Técnicos Locais organizados pelas Câmaras Municipais em zonas históricas a reabilitar.

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CIDADES Comunidades e Territórios

Na comunicação da CE “Desenvolvimento longo prazo e defenda o património que deixamos


urbano sustentável na União Europeia: Um às gerações futuras, a reabilitação dos núcleos
quadro de acção”, o desenvolvimento cultural e o históricos assume uma grande importância. O pa-
património são apontados como factores cruciais trimónio edificado é, em si próprio, um recurso
para a vitalidade das cidades e para o seu de- finito e insubstituível e a sua destruição é um dano
sempenho económico. A reabilitação dos núcleos irreversível. Por outro lado, a crescente perda de
urbanos históricos é hoje assumida como um dos solos em favor da urbanização justifica a neces-
pilares na economia de usos e ocupações do solo, sidade de uma abordagem sistemática à protecção
na rentabilização do espaço construído e na e racionalização do uso dos solos, sendo a reabili-
dotação de bens de utilidade pública – equipamen- tação dos tecidos construídos uma alternativa à
tos e infra-estruturas. Por outro lado, a reabilita- urbanização extensiva e ao consumo desnecessá-
ção urbana é uma actividade geradora de emprego rio de recursos não renováveis. Por último, a demo-
nas áreas da conservação e turismo e uma fonte de lição de edifícios existentes levanta problemas de
receita para as cidades que se tornam destinos mais ordem ecológica, como o tratamento dos resíduos
atractivos. sólidos e o dispêndio de mais recursos para a cons-
Nas conclusões finais da Conferência Intergo- trução de novos edifícios.
vernamental “Cultural Policies for Development:
The Power of Culture” (1998), assim como na Requalificação
resolução anteriormente referida “Sobre a qualida-
de arquitectónica em ambientes rurais e urbanos”, A requalificação urbana é sobretudo um
defende-se que a diversidade cultural permite uma instrumento para a melhoria das condições de vida
melhor qualidade de vida. Assim, como forma de das populações, promovendo a construção e
contrariar os efeitos negativos da globalização, são recuperação de equipamentos e infra-estruturas
vitais os esforços no sentido de reforçar a autenti- e a valorização do espaço público com medidas de
cidade e a diversidade cultural, preservando e va- dinamização social e económica. Procura a
lorizando o património construído. A imagem da (re)introdução de qualidades urbanas, de aces-
cidade, e dos centros históricos em particular, é
sibilidade ou centralidade a uma determinada área
um factor fundamental para o reforço dos laços
(sendo frequentemente apelidada de uma política
identitários da população e para a coesão social.
de centralidade urbana).
A reabilitação integrada dos tecidos históricos
Provoca a mudança do valor da área, ao nível
emerge como uma via privilegiada de atingir estes
económico (actividades económicas com alto valor
objectivos, agindo de forma concertada sob os
financeiro), cultural (localização de usos econó-
aspectos físicos, culturais, sociais e funcionais do
micos relacionados com a cultura), paisagístico e
tecido urbano.
social (produção de espaços públicos com valor de
Em 1992, o Quinto Programa da Comunida-
centralidade).
de Europeia (CE) de Política e Acção em Matéria
de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, A requalificação urbana tem um carácter
sublinha a necessidade de estudar o desenvol- mobilizador, acelerador e estratégico, e está princi-
vimento sustentável como uma prioridade, par- palmente voltada para o estabelecimento de novos
ticularmente no que diz respeito às necessidades padrões de organização e utilização dos territórios,
da urbanização em conflito com a conservação dos e para um melhor desempenho económico (ex. as
recursos e protecção ambiental. Na complexa experiências de reintrodução de actividades
interacção das diferentes forças e pressões que dão logísticas e terciárias em Ranstaad/ Holanda; a
origem aos problemas ambientais, o papel do Área da Nova Centralidade de Barcelona, antes e
ordenamento e gestão do território é apontado como depois dos Jogos Olímpicos; Bilbao, Londres ou
crucial. Em 2001, o Sexto Programa de Acção em Newcastle).
Matéria do Ambiente da CE refere explicitamente
que para que a expansão urbana não se faça às Promoção urbana
expensas do ambiente, deve ser promovida a
reabilitação urbana em oposição à construção em Esta é uma faceta com pouca visibilidade
locais novos. Para uma política de desenvolvimen- quando integrada em processos de revitalização, e
to sustentável, que assegure o nosso bem-estar a consiste:

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A Revitalização Urbana

– na atracção de esforços de todo o tipo – territorial realizadas ao longo de 5 décadas, de


– económicos, institucionais e sociais; responsabilidade nacional ou comunitária,
– – quando se vai iniciar uma operação de colocaram em cima da mesa, em todos os países
– revitalização (marketing do programa e europeus, alguns dos princípios base a que
– consolidação dos pressupostos económi- devem obedecer os programas de revitalização.
– cos), etc; As experiências realizadas questionam o conteúdo
– na comunicação de todos os progressos da (demasiado físico) das operações, mas também as
– operação de revitalização urbana e criação formas de gestão: processos burocratizados, sem
– de consensos em torno da sua evolução participação pública e frequentemente conflituais.
– futura, que é uma condição sine qua non A palavra de ordem é integrar: integrar
– de todo o processo de revitalização – é tão dimensões de intervenção; integrar funções
– importante concretizar objectivos, como urbanas; integrar parceiros e recursos. Nesse
– dar-lhes visibilidade na colectividade e contexto, a revitalização assenta na implementação
– fazer a colectividade participar deles de um processo de planeamento estratégico, capaz
– (“governança”, base de um processo de de reconhecer, manter e introduzir valores de
– gestão urbana e territorial). forma cumulativa e sinergética. Isto é, intervém a
As políticas de promoção urbana estão na re- médio e longo prazo, de forma relacional, assumin-
taguarda da gestão e da comunicação do processo do e promovendo os vínculos entre territórios,
de revitalização e cobrem actuações como o fund- actividades e pessoas. Não é, portanto, um
-rising, o marketing, e o novo branding urbano e projecto, ou uma soma de vários projectos ou de
territorial. programas introduzidos num dado território,
Face à implementação de muitos programas procurando-se antes garantir uma operação
desenvolvidos nas últimas décadas centrados na sustentável, a níveis diferenciados, mas em interde-
promoção dos centros históricos e áreas com uma pendência no desenho da intervenção ou na sua
“herança” turístico-cultural, as experiências mais implementação, como:
interessantes giraram em torno de uma carta de 1. a performance económica e financeira
apresentação que sintetiza os objectivos da 1. (“economic viability”);
revitalização (ex. estratégias de promoção do 2. a sustentabilidade física e ambiental
enoturismo em França e Espanha). 1. (“environmental responsibility”); e
3. a coesão social e cultural (“social and cul-
Revitalização urbana: 1. tural equity”).
um conceito englobante
Assim, a revitalização urbana obriga a
Sem uma grande preocupação de destrinça, intervir na melhoria da qualidade do ambiente
interessava delimitar o “mercado das ideias” para urbano, das condições socioeconómicas ou no
a intervenção, ou os principais consensos sobre os quadro de vida de um determinado território
conceitos aparentados, o que nos permitiu, por um (‘território de revitalização urbana’), baseando-se
lado, distanciarmo-nos deles e, por outro lado, numa visão global, actuando de forma integrada
redefinir o nosso próprio posicionamento. Todos os e concertando um grande número de domínios e
conceitos atrás apresentados e a sua operacio- dimensões de intervenção. A sua actuação não
nalidade enquanto Programas e Projectos, podem é rígida, mas adapta-se às realidades territoriais,
integrar-se numa intervenção mais vasta de nas quais intervém pretendendo coordenar e
revitalização urbana. adaptar os recursos existentes e potenciais, pú-
É neste contexto conceptual, ou de diferentes blicos e privados, apelando à população e às
modelos de intervenção (nem sempre claramente entidades que as representam para serem co-auto-
distintos, raramente indissociáveis na intervenção ras do processo de revitalização.
face a um território), que se discutem as principais Como se desenvolverá adiante, a considera-
tendências no que se refere às políticas urbanas e ção dos territórios de revitalização urbana deve
territoriais relacionadas com a revitalização nos ainda integrar duas dimensões fundamentais: a
últimos 20 anos. As experiências de intervenção lógica do lugar mas também a sua inserção numa

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CIDADES Comunidades e Territórios

Figura 1 - Dimensões de Intervenção da Revitalização Urbana

perspectiva sistémica do sistema territorial de A revitalização urbana, enquanto processo de


onde recolhe a sua lógica própria e a sua identi- trazer “nova vida” ou trazer “de novo” dinâmicas
dade específica. perdidas, desenvolve uma perspectiva claramente
A lógica sistémica privilegia a cooperação organicista e vitalista, na análise e no modo de
entre diferentes escalas e territórios (área planeamento do processo de urbanização ou do
envolvente, cidade, região, sistema nacional), território urbanizado. Mas, antes de mais, trata-se
compreendendo o papel que a “área a revitalizar” de um conceito complexo e as estratégias, as
desempenha no sistema urbano, sublinhando os metodologias e os instrumentos de revitalização
podem abranger muitas vertentes, desenvolvidas
efeitos indutores na sua área de influência
por outros modelos de intervenção na transforma-
(significa perceber tanto os resultados no lugar,
ção do espaço urbano.
como os impactos territoriais alargados). A lógica
A leitura das diferentes propostas de defini-
do lugar sublinha a intervenção enquanto actua- ção do conceito, partindo de autores e experiên-
ção de proximidade, reforçando a mobilização e a cias de intervenção urbana, permite-nos extrair
participação dos diferentes actores de um espaço alguns critérios de diferenciação. Assim, entre as
fisicamente delimitado, numa lógica de acção propostas analisadas, encontramos:
concertada. Um olhar sistémico e integrado sobre 1. Em primeiro lugar, apesar do conceito de
a revitalização urbana exige a sua discussão, 1. revitalização pressupor uma abordagem
quer numa perspectiva mais vasta e integrada de 1. meramente negativa (reactiva), colocando
Política das Cidades e Formas de Governação 1. em evidência as situações e/ou os factores
Urbana quer, ainda, no contexto empírico da 1. de desvitalização, é sobretudo uma abor-
estrutura de ordenamento e administração do 1. dagem positiva (pró-activa) tendo em
território nacional. 1. consideração os factores potenciadores de
O processo de revitalização desenvolve-se, a 1. novos dinamismos;
médio e longo prazo, numa perspectiva de 2. Em segundo lugar, os entendimentos da
sustentabilidade da intervenção, articulando as 2. revitalização enfatizam quer um maior
oportunidades, as vantagens competitivas e um 2. centramento nos indivíduos e no enqua-
2. dramento social e cultural, quer nas
urbano cada vez mais globalizado, de expressão
2. dimensões físicas do edificado e das
localizada. Baseia-se, sobretudo, nos “opportunity
2. formas urbanas;
projects”, na colaboração privado/público (in-
3. Em terceiro lugar, emerge a distinção
vestidores) e na relação com as comunidades. 2. entre as definições mais descritivas e
As operações de revitalização tendem ainda a 2. funcionais que recenseiam aquilo que está
intervir a montante dos factores de desvitalização, 2. contido no conceito (valores urbanos,
ou de outros potencialmente vitais, de modo a 2. defesa de certas formas de edificado e
promover uma intervenção sustentável. 2. organização urbana, objectivos estraté-

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A Revitalização Urbana

2. gicos; etc.) e as definições mais pro- generalidade dos programas urbanísticos, de um


2. cessuais que enfatizam as dimensões modo geral sem transversalidade e integração nas
2. activas das formas dessa intervenção. suas linhas de actuação. Neste sentido, a
A um nível mais genérico, e operacional, a revitalização urbana desenvolve estratégias
abordagem da revitalização confronta-se com e promove um processo com carácter inclusivo
a proliferação de noções potencialmente concor- e integrador, capaz de provocar iniciativas,
rentes: renovação, reabilitação, requalificação, etc., projectos e actuações – de carácter transversal e
e poderemos organizar a literatura existente em sectorial –, sendo um instrumento de gestão
torno de três posições distintas: colectiva do território com capacidade para
– Considerar a revitalização social enquanto utilizar como recursos próprios, programas
– dimensão contida em outras noções, no- urbanos muito diferenciados, de cariz mais social,
– meadamente na de planeamento urbano; económico ou cultural.
– Considerar a revitalização como conceito- Três objectivos fundamentais caracterizam o
– -mãe que alberga outras noções; processo de revitalização urbana, enquanto
– Defender a natureza distinta das proble- planeamento estratégico transversal que interessa
– máticas sem que isso implique a recusa de reter:
– eventuais relações substantivas entre os 1. Capacidade de promover e manter a
– fenómenos que elas recobrem. 1. diversidade e a integração das esferas do
1. desenvolvimento económico, social e
Desafios e objectivos para um modelo 1. do ambiente urbano, de modo a aumentar
operacional de revitalização 1. a qualidade de vida das populações;
2. Implementar projectos de desenvolvimento
Na discussão sobre uma intervenção urbana 2. estratégicos, operadores de desenvol-
integrada e estratégica na Europa, podem des- 2. vimento e orientadores da mudança,
tacar-se quatro grandes desafios e desígnios 2. antecipando problemas e direccionando
fundamentais da revitalização urbana: 2. soluções, procurando sinergias entre
1. aumentar a eficácia e a eficiência do 2. diferentes territórios, actividades econó-
1. sistema urbano, promovendo a coesão 2. micas e populações;
1. social e a competitividade territorial intra 3. Monitorizar os objectivos, considerando
1. e intercidades – inserção das cidades nas 2. tanto os problemas como as oportunida-
1. redes transeuropeias, cooperação estraté- 2. des do território no mesmo processo de
1. gica entre cidades a articulação entre a 2. planeamento, decisão e intervenção estra-
1. intervenção no espaço rural e urbano; 2. tégica, implicando os actores desde a fase
2. dinamizar a sociedade civil, promovendo 2. de concepção da estratégia, da definição
1. o bem-estar urbano, a qualidade de vida
2. à execução de objectivos.
1. dos cidadãos e a melhoria das empresas e
1. do sistema económico; Algumas qualidades qualificam uma “área
3. promover uma intervenção urbana equili-
revitalizada” como a capacidade de gerar activi-
3. brada e articulada, tendo em conta as
dades, transacções e promover a diversidade:
3. dimensões ambientais, económicas,
● Actividades – sugere vitalidade, energia,
3. sociais e culturais;
● animação, acontecimento num determina-
4. contribuir para racionalização, moderni-
● do contexto urbano, o que exige a presença
3. zação e responsansabilização da admi-
● de pessoas (a residir, a trabalhar, a passar),
3. nistração das áreas urbanas (central, lo-
● e viabilidade e sustentabilidade ao nível do
3. cal, instituições e cidadãos), propondo e
● que produz e como se mantém. Essa acti-
3. implementando estratégias, mas também
● vidade corresponde a uma vitalidade
3. esperando valor e resultados.
● económica (investimento na área, empre-

Propõe-se que o conceito de Revitalização ● go, transacção de propriedades), social

Urbana seja entendido sobretudo como uma ● (uso do espaço público), social e cultural

estratégia e um processo, distinguindo-se da ● (eventos, espectáculos).

23
CIDADES Comunidades e Territórios

● Transacções – trocas de nível económico a) respeita à disponibilização de solos para


● (consumo, transacção de propriedades), a) fins públicos, condição fundamental
● social (relações, compromisso e participa- a) para envolver os parceiros privados na
● ção), cultural (networks, trocas de informa- a) tarefa de revitalização urbana;
● ção e ideias). b) ligação à política nacional de habitação –
● Diversidade – pode ser económica (de b) definir um conjunto alargado de medidas
● actividades, estabelecimentos, habitações), b) de regulação da oferta e procura habita-
● social (cidade facilitadora para a expres- b) cional e facilitando o acesso ao “direito à
● são de um individualismo criativo) e b) habitação” e ao “direito à cidade”; inver-
● cultural (multi-identidades, cidade tole- b) ter a actual distribuição de apoios e
● rante). b) incentivos à habitação, passando a
A revitalização, desenvolvida nesta pers- b) privilegiar a reabilitação e o sector do
pectiva de processo e estratégia, procura articular b) arrendamento em detrimento do apoio à
territórios diferentes (rural/urbano, espaços b) aquisição de cada própria; rever a lei do
transfronteiriços, relação lugar/nível regional e b) arrendamento, os incentivos fiscais à
nacional…) e desenvolve uma política que cruza b) reabilitação de edifícios e o REGEU;
esferas de decisão de escala diferente, tanto b) penalizar os edifícios devolutos e degra-
vertical (de hierarquia diferente), como horizon- b) dados, assim como os terrenos expectantes,
talmente (multiplicidade de iniciativas sectoriais b) e facilitar à Administração Pública a sua
que podem ter influência no território). b) disponibilização no mercado de habitação;
c) ligação aos vários instrumentos de planea-
Dimensões do conceito c) mento a implementar ou implementados:
de revitalização urbana c) – assegurar, ao nível dos planos munici-
c) pais, a compatibilidade entre as opções de
As experiências das operações de interven- c) planeamento previstas no PDM e os
ção urbana com desígnios semelhantes e a análise c) programas de revitalização urbana, de
crítica dos Programas realizadas ao longo do c) nada adiantando uma intervenção isolada
documento permitem identificar seis dimensões c) se a disciplina global do plano for num
integradas na definição actual do conceito de c) sentido de incremento desmesurado das
revitalização urbana. c) áreas de construção com claro prejuízo
c) para a qualidade de vida;
i) Integração sistémica: c) – diminuição das áreas classificadas como
i) pensar global, agir local c) urbanas e urbanizáveis, e relocalização
c) destas ao longo de eixos de territórios
Nesse sentido, os programas de revitalização c) prioritários, articulando diferentes tecidos
não esgotam as outras políticas territoriais com as c) urbanos residenciais, secundários e ter-
quais devem estar relacionados e ser coerentes, c) ciários, dotados dos necessários equipa-
nomeadamente: c) mentos e infra-estruturas;
a) ligação às políticas de solos – fomentar a c) – miscigenização de actividades no
a) existência de instrumentos ao dispor da c) espaço urbano, criando condições para que
a) Administração Pública para intervir de c) os espaços reabilitados sejam espaços
a) modo eficaz no funcionamento do merca- c) “vivos”, o que só se conseguirá se neles
a) do do solo, nomeadamente com a criação c) poderem ser desenvolvidas actividades
a) de bolsas de terrenos municipais que c) que garantam a sua sustentabilidade
a) assegurem a existência de bens integra- c) económica;
a) dos no domínio municipal, disponíveis em c) – criação de ZUP (Zonas de Urbanização
a) valores suficientes para influenciar polí- c) Prioritária), no sentido de estancar as
a) ticas de solos. Deste modo, os Municípios c) urbanizações desgarradas e consequente
a) podem influenciar a actuação dos pro- c) interdição de loteamentos fora destas
a) prietários privados, nomeadamente no que c) zonas.

24
A Revitalização Urbana

c) – reforço e requalificação dos centros iv) A intervenção dos actores privados:


c) urbanos tradicionais e implementação iv) empresas, mas não só
c) de novas centralidades como pólos de
c) agregação de tecidos dispersos; Há uma consciência recente de que a entra-
c) – criação/requalificação de espaços da dos interesses privados nas operações de
c) públicos enquadrados por tecidos residen- revitalização é não apenas uma inevitabilidade,
c) ciais. mas sobretudo uma potencialidade deste tipo de
processos. Estas operações intervêm em territórios
ii) A integração das dimensões físicas em larga medida de propriedade ou de uso de uma
ii) com as dimensões económicas, sociais, miríade alargada de actores privados – proprietá-
rios do solo, das casas, inquilinos, trabalhadores
ii) culturais e ambientais
da área, etc., cuja adesão é indispensável. Mas esta
presença, apesar de manifestar interesses poten-
Uma base de reconhecimento comum sobre o
cialmente contraditórios, é também portadora de
conceito de revitalização urbana, refere-se a um
recursos e de culturas de formas de fazer
modelo de intervenção que procura conciliar
multifacetadas.
dimensões urbanísticas, arquitectónicas e patri- O espaço não é propriedade do Estado, sendo
moniais, com objectivos económicos e sociais. Um embora regulado por ele, é produzido e apropriado
progressivo reconhecimento de que o território são por uma grande diversidade de actores sociais, e a
as pessoas fez acompanhar crescentemente os capacidade de construir projectos colectivos e
processo de reabilitação física com os de qualifi- accionar sinergias que rentabilizem os recursos
cação social. Os modelos de revitalização podem privados e harmonizem interesses contraditórios
ser mais liberais ou mais “sociais”, dependendo é também uma dimensão indispensável dos
dos países e das opções políticas, mas definitiva- programas de reabilitação.
mente eles integram uma intervenção onde aos
elementos físicos se juntaram as dimensões v) Um espaço de gestão colectiva
económicas de criação de empresas e de emprego, v) e de reforço do papel regulador do Estado
as dimensões sociais de requalificação humana e
cultural das populações residentes. Muitos dos participantes em processos de
Os espaços locais são encarados cada vez mais reabilitação urbana, dos mais variados matizes
como espaços de oportunidade e os programas de e temporalidades, chamam a atenção para a
revitalização como meios de inovação e experi- importância do processo de gestão colectiva
mentação social, ecológica, de participação, destes espaços e, muito concretamente, para a
cooperação e gestão inovadoras. necessidade imperiosa de envolvimento dos
públicos-alvo.
A revitalização urbana pressupõe formas de
iii) Da reparação à prevenção fazer específicas, com inovação na criação
de figuras de gestão para a transformação da forma
Emerge a defesa crescente que a revitalização de agir do Estado, que tem de actuar em sentidos
exige uma abordagem preventiva e não apenas pouco habituais: inserção temporal de medição dos
reparadora dos problemas, activando programas e processos urbanos, convergência de acções gover-
financiamentos para evitar a degradação física namentais sectoriais, articulação de diferentes
e social, agindo sobretudo ao nível local, adaptan- escalas de intervenção, combinação de contributos
do-se às especificidades de cada área territorial e de actores sociais muito dissemelhantes (este
agindo a montante dos problemas (lutar contra os ponto será desenvolvido na discussão dos modelos
processos desvitalização). É assim que o discurso de gestão e participação no próximo ponto do
relatório).
sobre os territórios “sensíveis”, ou a tipologia já
identificada que inclui territórios em formação ou
vi) Sustentabilidade e inovação
em crescimento, são importantes para ensaiar
formas de vitalização que antecipem e contrariem As dimensões atrás referidas como fazendo
uma potencial degradação socio-urbanistica. parte integrante do conceito de revitalização

25
CIDADES Comunidades e Territórios

urbana, fazem inverter o olhar sobre os territórios va a comunidade (por um lado saber com quem é
a revitalizar. Não estamos já a olhar para terri- preciso aprender, por outro, saber com quem se quer
tórios em declínio, mas para territórios cujo poten- caminhar), obrigando a planear, desenhar e
cial de vitalização está emergente, esperando que implementar uma estratégia, a medir os resulta-
um projecto colectivo suportado por actores dos, e provocar uma disseminação e continuidade
variados (públicos, privados; nacionais, regionais sistemática dessa intervenção. Só estes pressu-
ou locais) sob orientação pública, permita inovar postos tornam a revitalização um processo, uma
ao nível das várias dimensões do desenvolvimento estratégia e uma acção a médio e longo prazo.
económico, social, cultural, arquitectónico e Um outro pressuposto, já explorado anterior-
urbanístico, etc. mente, está relacionado com a necessidade de de-
Um dos desafios dos programas de revitali- senvolver um processo de planeamento integrado,
zação é a sua capacidade de inovação nas várias multidimensional, de modo a criar espaços para
dimensões que movimenta e que pode ser desde viver e trabalhar, assim como para o lazer
ao nível da qualificação dos recursos humanos e (“live+work+play”) utilizando e provocando
da criação de emprego, até à inovação no desenvol- ligações entre territórios, actividades e pessoas:
vimento das energias renováveis ou na utilização – desenvolvimento de estratégias partici-
das redes de alta velocidade para comunicação – padas e integradas capazes de afectar as
entre cidadãos. Aqui se introduz a dimensão – diversas dimensões que afectam cidade
experimental dos projectos de revitalização – (meio físico e ambiental, problemas
urbana a apoiar, que devem ser os que, partindo – económicos, sociais);
das potencialidades do local, lhe dão novas capa- – reabilitação física, social e cultural do
cidades de desenvolvimento sustentado. Projectos – território;
experimentais, e sustentabilidade, são palavras- – promoção de uma economia social local ou
-chave da nova geração de programas de revi- – urbana (coesão social, actores sociais) e do
talização urbana. – empreendedorismo; e
– implementação de planos de revitalização
– de médio e longo prazo, capazes de esti-
Pressupostos para a intervenção
– mular e consolidar a intervenção.
Alguns pressupostos fundamentais podem ser Após a definição da estratégia, há dois
referenciados neste momento. processos que devem ocorrer simultaneamente:
O modelo de estratégia de revitalização o planeamento da acção e a mobilização de re-
proposto deve iniciar-se com a definição de um cursos. O planeamento da acção deverá ter em conta
cenário de chegada. Este cenário de chegada é uma a prioridade dos objectivos mensuráveis, as
imagem do que se pretende que a área venha a ser condições preexistentes, as abordagens e métodos
após o processo de revitalização (definido para um escolhidos, as responsabilidades previstas dos
horizonte alargado de 10 a 20 anos) e deve ser actores e os recursos previsíveis. Como para as
partilhado por todos os actores. Após esta formu- mesmas condições preexistentes, diferentes
lação, deve ser desenhada uma estratégia para o abordagens e métodos implicam diferentes recur-
alcançar a partir da situação actual e com os recur- sos para atingir o mesmo objectivo, as actividades
sos (humanos, logísticos, temporais, financeiros, de planeamento da acção e de mobilização de
etc.) disponíveis. Esta estratégia define as metas recursos não só devem ser feitas simultaneamente,
gerais, baseadas em valores definidos e as aborda- como devem dar um constante “feedback” uma à
gens e métodos a adoptar. Para cada meta devem outra.
ser definidos objectivos mensuráveis que quando A estratégia deverá ter tradução num Plano
alcançados darão resposta a essa mesma meta. Para de Revitalização. Este é um plano detalhado de
facilitar o planeamento da acção, a prioridade dos como atingir os objectivos mensuráveis, com os
objectivos deve também ser claramente definida. recursos disponíveis num dado prazo de tempo.
Para uma reflexão e, posteriormente, uma O seu grau de pormenor é muito superior ao da
acção, face a um “cenário de chegada” desejado, é estratégia. O Plano de Revitalização deve ser
importante que um processo de revitalização envol- estrategicamente fragmentado em peças opera-

26
A Revitalização Urbana

Programas operacionais

Planeamento de acção


Cenário de ▲ Plano de
Chegada Estratégia Acção Projectos
Mobilização de Recursos


Acções

Figura 2 – Esquema de modelo de estratégia possível num processo de revitalização

cionais de menor escala (programas operacionais, sobre áreas urbanas desvitalizadas e sobre os de-
projectos e acções) que darão resposta a objecti- safios que se colocam às cidades contemporâneas.
vos específicos. Deve ainda activar diferentes Nesse sentido, a construção de uma tipologia,
modelos de participação, intervenção, monitori- quer ao nível da escala de análise, quer da escala
zação e avaliação, de modo concreto, metodologi- de intervenção, tem em conta dois pressupostos
camente orientado e com objectivos e metas fundamentais:
mensuráveis. 1. um, subjacente ao conceito de revitaliza-
Alguns elementos base desse documento 1. ção diz respeito à capacidade de definir
estratégico de revitalização (Plano) pressupõem: 1. territórios, cujas características (enquan-
– a relação entre a estratégia apresentada 1. to área desvitalizada ou a revitalizar)
– para a área e as estratégias existentes a 1. sejam suficientemente flexíveis, integra-
– outras escalas (cidade/região/país); 1. das e processuais;
– os valores chave e princípios gerais a 2. outro, partindo das próprias exigências
– seguir por todos os objectivos e acções; 1. contratuais, diz respeito à capacidade de
– metas gerais e objectivos mensuráveis 1. pensar a revitalização no plano nacional,
– coerentes entre si; relação existente entre 1. não o reduzindo, como é frequente, à
– as metas, os objectivos e o contexto; 1. escala urbana-central, urbano-metropoli-
– a definição de abordagens e métodos 1. tana ou peri-urbana.
– concertados para atingir os objectivos;
– a clarificação dos compromissos, respon- Face à natureza de algumas decisões a tomar,
– sabilidades e recursos que cada um dos identificam-se cinco grandes desafios para a
– actores acordou aplicar no processo de construção de uma tipologia de Territórios de
– revitalização (em especial das autoridades Revitalização Urbana:
– públicas); e
– a descrição geral do processo a longo 1. A visão de uma estratégia nacional de
– prazo; cronograma; programas operacio- inversão de processos de desvitalização urbana,
– nais, projectos e acções isoladas que no seu válida para a “totalidade das localidades” (na
– conjunto darão resposta integral aos objec- perspectiva de que o programa deverá cobrir o
– tivos. território nacional), articulada com a necessidade
de um programa experimental assente numa
Territórios: “selectividade territorial” (envolvendo apenas
da classificação à elegibilidade algumas localidades, seleccionados previamente
com candidaturas decorrentes de processos de
Pressupostos para a revitalização animação prévios, ou por iniciativa de candida-
turas “espontâneas” com base em capacidade de
O enquadramento dos Territórios a Reabili- iniciativa e organização preexistente), tendo em
tar/TRU, de acordo com a reflexão tida sobre o vista a promoção da inovação (aperfeiçoamento
conceito de revitalização urbana (e antes de se das formas de resposta nos diferentes domínios das
materializar qualquer processo empírico de traba- políticas públicas que podem concorrer para a
lho) baseia-se nas reflexões conceptuais efectuadas inversão de processos de desvitalização urbana).

27
CIDADES Comunidades e Territórios

2. A necessidade de reflectir sobre áreas que 4. A complexidade, quando tem de se ter em


estão em diferentes posições, em termos de uma conta áreas onde interagem diversos vectores
classificação de um processo de desvitalização e dinâmicos, de múltiplas dimensões da desvitali-
declínio urbano. Podem-se identificar, a priori, zação, que devem ser reconhecidos e medidos;
4 tipos de territórios: e que, evidentemente, devem ser vistos de uma
III) “territórios em formação”, espaços que não têm forma integrada, cujo entendimento e integração
III) vitalidade urbana nem nunca tiveram, deve incluir a vertente da coesão social, da gestão
III) “territórios em crescimento”, espaços urbanos urbana e dos processos de governação territorial.
III) em que se identifica uma vitalidade cres-
5. A pertinência de uma discussão sobre
III) cente;
escala de análise e de intervenção da revitalização
III) “territórios em perda”, enquanto espaços onde
face a diferentes dimensões, que se admitem
III) a vitalidade urbana tem vindo a perder fulgor;
III) ou como interdependentes mas que podem envolver
IV) “territórios desvitalizados”, ou seja, espaços exercícios diferenciados (exemplo, quando o local
III) que não tendo vitalidade urbana já a tiveram da concentração espacial de problemas não coin-
III) no passado: cide com o local da sua causa próxima, ou quando

Figura 3 – Tipologia de territórios e processos de desvitalização/a revitalizar

3. A necessidade de integrar ou distinguir uma decisão global se faz reflectir num processo
a perspectiva do lugar (acção local, em função local).
de unidades territoriais constituídas com base O quadro de incidência das intervenções em
nas fronteiras político-administrativas dos revitalização urbana, para todo o país, deve estar
suportado por uma estratégia de âmbito nacional.
agentes-chave da intervenção (os Municípios, nos
Esta estratégia, vertida em documento aprovado
Concelhos) e a perspectiva sistémica (reflectindo,
superiormente, enquadra-se não só nos instrumen-
por exemplo, nas medidas tomadas a montante,
tos já existentes ou em fase final de elaboração e
sobre processos de impacto na desvitalização aprovação [como os atrás referenciados Sistema
territorial), ou como classificar áreas a revitalizar Urbano Nacional definido pela DGOTDU (1996),
tendo em conta, por um lado, a sua perspectiva de o futuro Plano Nacional da Política de Ordenamento
lugar, mas também considerando o seu contexto do Território (PNPOT), e os diversos PROT regio-
nacional (já que revitalizar tendo em conta a nais], mas também em linhas conceptuais e
perspectiva local e nacional, não corresponde programáticas sobre as novas e fundamentais
a escalas de intervenção “superiores” mas sim a visões e acções em sede de revitalização urbana
problemáticas diferentes). para as cidades portuguesas.

28
A Revitalização Urbana

Em termos gerais, as áreas de revitalização b. lização demográfica (exceptuando o fenó-


urbana poderão ter uma maior incidência nas b. meno da imigração), e perante o notável
áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, na medida b. aumento, nas últimas duas décadas, do
em que as duas metrópoles integram de modo b. parque habitacional em praticamente
relativamente destacado – e distinto – não só um b. todas as áreas urbanas5, que se deverá
conjunto significativo de centros urbanos histó- b. investir agora, decididamente, na qualifi-
ricos, como também bairros de habitação social b. cação dos espaços e das redes urbanas e
(duas figuras centrais de qualquer política de b. das centralidades já existentes – muito
revitalização), para além de uma série de proble- b. nomeadamente em termos de uma valo-
máticas prioritárias e bem contemporâneas para o b. rização de cariz mais humano e qualitati-
desenvolvimento socioeconómico da sociedade b. vo, e menos ligada a processos de simples
portuguesa. No entanto, evidentemente que em b. dotação física, de pendor habitacional.
múltiplas outras áreas urbanas do país (incluindo
os arquipélagos dos Açores e da Madeira), as Uma tipologia de territórios
problemáticas em sede de TRU também se de revitalização urbana
colocam com importante e elevada acuidade. Será
necessário, por conseguinte, justificar as propos- O “perfil tradicional” das áreas urbanas
tas de intervenção (e de perspectiva dinâmica), de susceptíveis de políticas e programas em sede
acordo com cada contexto concreto de cidade, de Revitalização Urbana, toma em principal
contexto este por sua vez enquadrável no de cada consideração as “áreas urbanas com sintomas
subsistema urbano, que se pretende equilibrado, claros de desvitalização”, ou áreas em declínio.
sustentável, coeso e dinâmico. Efectivamente, tal sentido das políticas de
A estabilização referencial das prioridades revitalização incide em territórios urbanos deno-
em termos de revitalização urbana, para além minados de “desvitalizados” ou “em perda”, e tem
dos enquadramentos que encontra em sede de como objectivo voltar a dotá-los de uma vitalidade
ordenamento do território (com base em docu- urbana que já terão possuído. Observando as
mentos base referidos), articula-se também com políticas desenvolvidas na Europa e nos Estados
dois pressupostos centrais para as novas realida- Unidos verifica-se que muitos dos programas de
des urbanas do Portugal do início do século XXI: revitalização se concentram em áreas urbanas
a. o pressuposto de que as grandes dinâmi- degradadas, zonas de habitação social, e os indi-
a. cas de mobilidade residencial de médio e cadores de desvitalização, ou índices de perda
a. largo espectro em Portugal, e que levaram são, de um modo generalizado, associados a
a. a um crescimento populacional das cida- fenómenos de exclusão social e económica da
a. des e metrópoles, apresentam desde população residente e com menor peso, a deca-
a. meados dos anos 90 uma tendência para a dência das actividades económicas, comerciais e
a. estabilização. Tal facto é bastante visível de serviços.
a. ao nível das duas áreas metropolitanas, e Não obstante, a relevância da actuação neste
a. na maioria das cidades médias (embora em tipo de áreas consideradas em declínio, a
a. alguns casos, como por exemplo nas áreas abrangência do perfil proposto para os territórios
a. urbanas a norte da Área Metropolitana do urbanos portugueses, com as suas diferentes
a. Porto, se assista ainda a uma progressão tipologias (que detalharemos em seguida), não se
a. demográfica relativa – mas com uma efec- deve cingir (embora deva privilegiar, dado um
a. tiva tendência para a estabilização)4; e panorama constituinte de importantes carências e
b. o pressuposto de que, perante esta estabi- deficiências socioterritoriais) às áreas conside-

4
Note-se que tal facto não considera – antes pelo contrário – que não haja importantes movimentações internas, em cada sistema urbano.
O recente estudo da Câmara Municipal de Lisboa (2004a) mostra que, ao longo da década de 90, as dinâmicas de mudança residencial terão
praticamente duplicado – dentro da AML, essencialmente.
5
Este processo foi essencialmente conduzido por via de uma cadeia de valor ligada à promoção do solo para fins urbanísticos, pouco regulada a
nível global apesar dos instrumentos de gestão territorial. Esta situação tem reflexos, nomeadamente, em situações como a existência de um
grande parque habitacional vago, em muitos dos casos com boas condições de habitabilidade.

29
CIDADES Comunidades e Territórios

radas desvitalizadas, ou em processo de – território, de modo a aumentar a qualidade


desvitalização. Efectivamente, podem também ser – de vida das populações;
tomadas em consideração áreas com algum vigor – Implementar projectos de desenvolvimen-
urbano – áreas que, numa análise mais integrada – to estratégicos, isto é, procurar sinergias
(em termos, por exemplo, de prioridade estratégi- – entre diferentes territórios, actividades
ca perante o sistema urbano em que se inserem), – económicas e populações, capazes de se
sejam consideradas determinantes para o desen- – tornarem operadores e orientadores de
volvimento de uma estratégia urbana de âmbito – mudança, antecipando os problemas e
mais global. – direccionando as soluções;
Interessa ainda destacar, que processos – Monitorizar os objectivos, considerando
pouco prudentes de procurar tornar uma área que – tanto os problemas como as oportunidades
se encontra desvitalizada, mais atractiva ao – do território no mesmo processo de planea-
– mento e decisão estratégicos.
investimento, seja ao nível económico, como
habitacional, social ou cultural (processos nor-
A – Centros urbanos e núcleos históricos
malmente ligados a intervenções puramente
físicas), pode tornar-se um factor de afastamento – Áreas degradadas ou com tendência para
de importantes dinâmicas de vitalidade – tais como – uma situação de desvitalidade urbana,
a não efectivação de uma ocupação habitacional – obsolescência de uma grande parte do
(continuando os processos de despovoamento) ou – parque residencial ou ligação a áreas
o afastamento de vitais redes urbanas de proxi- – industriais ou portuárias decadentes;
midade e de identidade, tais como alguns tipos – Áreas com processos de densificação e
de actividades económicas (como o comércio de – sobreocupação, ou abandono e deteriora-
proximidade, por exemplo) ou múltiplas formas – ção;
de manifestações sociais e culturais. É nestes – Áreas com concentração de classes mais
paradoxos das intervenções que se deve questio- – desfavorecidas, despovoamento originado
nar o “direito à cidade” e a equidade social da – por diversas causas: redução do número de
intervenção – promovendo verdadeiros tecidos – habitantes/fogo, degradação dos edifícios,
urbanos (sociais, económicos, culturais e – número elevado de habitações devolutas,
ambientais), com valores de cidadania, de ética – envelhecimento da população...;
e de estética, de proximidade e de mobilidade, de – Áreas com subutilização das infra-estrutu-
inclusão e de heterogeneidade (não meramente – ras e equipamentos instalados, resultante
funcional, mas verdadeiramente social). – de um despovoamento (escolas a fechar,
Foram considerados, face à natureza da – crise no comércio de bairro agravado este
– pela concorrência dos centros comerciais
intervenção urbana de revitalização e ao contexto
– instalados na periferia, decréscimo do
nacional, 5 perfis territoriais de “estado da arte”:
– número de utentes dos transportes públi-
– cos, mesmo em Lisboa, apesar do aumento
A – Centros urbanos e núcleos históricos – da rede do Metropolitano...).
B – Expansões periféricas ou peri-urbanas Dos três grandes vectores globais de
C – Áreas de oportunidade pontual revitalização urbana, o vector mais prioritário para
C – ou estratégica esta tipologia é o primeiro vector – a promoção da
D – Espaços de reserva com potencialidade diversidade económica e social. Tal vector inclui
C – derivada os objectivos da complexidade, da multifunciona-
E – Espaços de relação e sinergia lidade, da proximidade e da mobilidade, à escala
humana, perante os múltiplos elementos consti-
A análise de cada um desses perfis retoma os tuintes da vida urbana. No entanto, e precisamen-
grandes objectivos, enunciados anteriormente, dos te no sentido da promoção da diversidade, será
processos de revitalização urbana integrada: também vital o segundo vector – a implementação
– Promover a diversidade e a integração das de projectos estratégicos, muito especialmente
– esferas do desenvolvimento tanto do am- através das áreas mais avançadas de formação e
– biente urbano, como económico e social no cultura, do ambiente urbano e dos espaços públi-

30
A Revitalização Urbana

cos, da investigação e tecnologia, e da economia – Espaços onde o desenvolvimento de


baseada no conhecimento. Este entendimento – projectos de larga escala (ex. projecto
pressupõe o re-estabelecimento de centralidades – turístico, reconversão de uma área urba-
dinâmicas e com identidade, quer a nível social, – na) potencia o aparecimento de novas
quer cultural e económico, perante os novos – oportunidades com carácter pontual e
contextos de afirmação dos territórios. – fáceis de reconhecer no mercado;
– Espaços cujos investimentos induzem
B – Expansões periféricas ou peri-urbana – revalorizações rápidas no uso do solo (nem
– sempre positivas), mas também potencia-
– Espaços complexos, com fraca qualidade – lidades que necessitam de um esforço
– da habitação e problemas derivados da – público para as tornar visíveis a médio e
– grande heterogeneidade cultural em – longo prazo.
– situação de pobreza, com reduzidas Dos três grandes vectores globais de
– ofertas de emprego (favorecendo assim a revitalização urbana, o vector prioritário para esta
– função dormitório), e sofrendo de carên- tipologia é o segundo vector – a implementação de
– cias persistentes e, por vezes, em aumen- projectos estratégicos. No entanto, também os
– to: ao nível de equipamentos e infra-estru- outros vectores (mesmo o primeiro) devem estar
– turas, sempre tardios e exigindo vultuosos presentes – abdicando assim de se desenvolver
– investimentos públicos; ao nível também projectos estratégicos desintegrados de um contexto
– de transporte público, incentivado por isso urbano composto por elementos de diversidade
– o transporte privado nas deslocações funcional.
– pendulares; e no que toca a espaços públi-
– cos atractivos, apesar dos esforços das D – Espaços de reserva com
– autarquias nos últimos anos; D – potencialidade derivada
– Processos de metropolização desorganiza-
– da, mudanças rápidas e não previstas nos – Territórios inseridos ou próximos de áreas
– mapas das acessibilidades e da centrali- – ecológicas ou agrícolas que se justificam
– dade; – pelo valor acrescentado que pode ser gera-
– Constituídas por tecidos residenciais, ora – do através de um processos de revitali-
– fortemente concentrados, ora fragmentados; – zação;
– Pode incluir espaços de habitação social – Áreas com novas regulações e normativas
– ou de origem ilegal (AUGI). – relativas, por exemplo, à gestão e orde-
– namento da paisagem, e que abrem pos-
Dos três grandes vectores de revitalização – sibilidades a projectos de revalorização do
urbana, o vector prioritário para esta tipologia é o – território natural, e sobretudo agrícola,
segundo vector – a implementação de projectos – vinculado ao património cultural e a polí-
estratégicos, muito especialmente através do fomen- – ticas de sustentabilidade territorial.
to da qualidade de vida e da identidade social, e Dos três grandes vectores globais de revita-
do combate aos fenómenos de exclusão social. lização urbana, o vector prioritário para estes ter-
No entanto, e tal como referido anteriormente, ritórios é o primeiro – nestas áreas, a manutenção
também nestas áreas se deverá potenciar a quali- da diversidade é um objectivo que, quando atin-
dade de vida pública, a diversidade, a hetero- gido, possibilita e potencia a implementação de
geneidade e a mobilidade á pequena escala – no projectos estratégicos que podem gerar sinergias
âmbito dos projectos definidos como prioritários. posteriores entre territórios, actividades e popu-
lações.
C – Áreas de oportunidade pontual
C – ou estratégica E – Espaços de relação e sinergia

– Territórios vinculados a projectos de infra- – Relativos a novas oportunidades que


– -estruturas, por exemplo, um aeroporto ou – emergem da mudança de valor de determi-
– a construção de uma ponte; – nadas situações territoriais;

31
CIDADES Comunidades e Territórios

– Espaços de grande permeabilidade econó- encarada como pertencendo ao passado e as


– mica, social e cultural como, por exemplo, políticas habitacionais são encaradas como
– os espaços fronteiriços. respostas a grupos sociais específicos mais do que
estratégias globais de acessibilidade ao aloja-
Neste tipo de espaços, o vector prioritário é o mento. As preocupações orientam-se particular-
segundo vector, pois a oportunidade deve ser vista mente para a regeneração urbana e, dependendo
como estratégica, oferecendo possibilidades de da gravidade, para tentativas de estabilização dos
sinergias entre territórios, actividades e pessoas, o actualmente voláteis mercados habitacionais
que poderia supor acordos entre Estados frontei- privados.
riços, de natureza regional, ou, pelo menos, Por sua vez, o debate académico centra-se nas
supranacional. problemáticas da diversidade, da escolha e da
coexistência multicultural mais do que na lingua-
Conclusão gem da privação da pobreza urbana.
Estas transformações das dinâmicas demo-
As dinâmicas de reabilitação urbana estão gráficas e habitacionais são acompanhadas do
hoje no centro do pensamento sobre a “questão recuo do Estado da maioria das políticas sociais
habitacional”: por um lado, porque as profundas nomeadamente das políticas de habitação e rea-
transformações da sociedade actual e a transfor- bilitação urbana. Curiosamente, e infelizmente, a
mação que trazem desactualizaram muitas áreas e discussão sobre a reabilitação parece resumir-se à
funções urbanas e obrigam a repensar as novas discussão sobre quem suporta os elevados encar-
áreas da cidade e, por outro lado, há um reco- gos deste processo e, nesse sentido, a preocupação
nhecimento por parte dos analistas europeus que a do Observatório da QCA em encomendar um
maior parte dos problemas habitacionais estão estudo sobre a problemática é um bom sintoma
resolvidos. sobre a preocupação com que a administração
De facto, para a maioria dos países europeus, segue estes processos e uma afirmação da vontade
a necessidade quantitativa de alojamento é pública em intervir.

32
A Revitalização Urbana

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