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ABSTRACT: This paper presents part of the master degree thesis “Language Proficiency and
Libras Interpreters: a study about training courses admission and authorized professional life
beginning“. In the current context of increasing acceptance of Brazilian Sign Language, Libras, and
as legislation increases its bases that supports accessibility to the deaf community, the need to
characterize the services of interlingual interpreting between Libras and Brazilian Portuguese
Language are urgent. In this study, proficiency testing that gives access to training courses and
admission to the beginning of sign language professional life are analyzed. Our goal is to
understand how the tests are executed to evaluate hearing people linguistic proficiency,
specifically, sign language interpreters, and if this testing is adjusted to evaluate the day-by-day
tasks that this professional will perform. With this goal, we investigate Sign Communicative
Proficiency Interview (SCPI), tests applied in the State of Rio Grande do Sul (1997 and 2000) and
the National Proficiency Testing in Libras of the Education Ministery (MEC), called (Prolibras), to
reflect on which are the real abilities that would have to be assessed in sign language interpreters.
KEYWORDS: Brazilian Sign Language – Libras. Translation and Interpreting. Language testing.
Sign Language Interpreter.
1 A Proficiência Lingüística
É saber lidar com a imagem que os sujeitos da comunicação desejam projetar para os
parceiros e com a imagem que eles constroem uns dos outros; saber nomear e qualificar os entes
do mundo; saber descrever as ações dos atuantes de uma história; saber utilizar a seu favor a
argumentação para provar o seu ponto de vista e convencer; reconhecer e utilizar os saberes em
comum que são compartilhados em um ato de linguagem, seja o conhecimento enciclopédico ou
as crenças que circulam em um determinado grupo social.
Habilidade de modelar o nosso discurso, utilizando-se das mais diversas formas do signo.
Esta competência compreende desde o emprego das formas gramaticais, ao uso adequado do
léxico, até a estruturação do texto.
É possível captar, de toda a evolução do conceito de proficiência lingüística, que houve
ênfases em aspectos diferenciados das competências para a linguagem. Primeiramente, com
Chomsky (1965), o foco foi a estrutura interna da gramática; em seguida, com Hymes (1972),
Canale e Swain (1980) e Canale (1983), abre-se a possibilidade de considerar o uso e a situação
contextual e, por fim, com Chareaudeau (1984, 1992, 2001) o sujeito da linguagem, antes não
cogitado, é considerado no modelo.
Podemos assumir que a proficiência lingüística abrange um conjunto de competências que
representam os aspectos motores e temporais da fluência, o conhecimento metalingüístico e
gramatical e o uso apropriado desse conhecimento, com outros falantes, em contexto
sociocultural.
Considerando que os ILS lidam, prioritariamente, como intermediadores entre sujeitos
surdos e ouvintes, e essa intermediação pressupõe interação, ou seja, uso e contexto, as
testagens lingüísticas seriam mais bem sucedidas com uma abordagem que considerasse, além
de aspectos gramaticais, a linguagem que utilizamos na negociação dinâmica e interativa de
significados pretendidos entre duas ou mais pessoas em situações reais.
Escolhemos os testes aplicados no Rio Grande do Sul por ser este Estado um pioneiro na
formação mais planejada e sistemática de intérpretes de língua de sinais no Brasil. O primeiro
objetivo era analisar dois testes, o de 1997 e o de 2000, mas encontramos vários obstáculos: o
principal deles foi a falta de documentação e registro. Do teste de 1997 conseguimos, somente, a
fita VHS da prova e nenhum registro filmado ou escrito, além desse. Do teste de 2000, nada foi
localizado, nem as fitas VHS ou, tampouco, algum material escrito. Tivemos que nos contentar
com os dados existentes e, no caso do teste de 2000, procuramos um dos
entrevistadores/avaliadores para uma entrevista.
Em 1997, as fitas de vídeo da entrevista de seleção para o curso de preparação de
intérpretes de língua de sinais mostram que dois ouvintes, um ILS experiente, formador de ILS, e
uma ILS lingüista, filha de surdos, fizeram a primeira entrevista, a partir da segunda entrevista, os
dois surdos, um homem e uma mulher, instrutores de língua de sinais, assumiram a função de
entrevistadores e continuaram assim até o fim das filmagens. O conteúdo das filmagens parece
apontar para uma abordagem conversacional das habilidades lingüísticas dos candidatos. Na
seqüência das entrevistas, que parecem ter um foco semi-estruturado, existem algumas perguntas
que se repetem para todos os candidatos, tais como: “Por que queres ser ILS?; Já interpretastes
em algum lugar e qual?; Qual teu contato com os surdos e como aprendeu a língua de sinais?”.
Estas perguntas sugerem uma grande preocupação da comunidade surda com o engajamento
social dos intérpretes de língua de sinais.
Quanto ao teste de 2000, entramos em contato com um dos participantes da banca que
nos concedeu uma entrevista, pois não foi localizado nenhum registro escrito sobre como esse
1
processo foi planejado e executado. Seu depoimento serviu de base no exame dos objetivos,
procedimentos e critérios desse teste. As perguntas tiveram que ser feitas por correio eletrônico, já
que a pessoa está, atualmente, morando fora do Rio Grande do Sul, e nossos horários de trabalho
impossibilitaram uma conversa telefônica.
Apresentamos, então, os questionamentos e as respostas obtidas.
“PERGUNTA: Qual o objetivo dos testes: avaliar proficiência em língua de sinais ou
proficiência tradutória (interpretativa)? Os avaliadores estavam conscientes desta diferença na
época? Os objetivos estavam claros para todos?
RESPOSTA: Os dois! Porém, a proficiência em língua de sinais não era mais importante
do que a tradutória...na verdade, dava-se mais importância na capacidade do candidato em
perceber (have the gap to) o sentido e passar para a melhor interpretação. Muitas vezes, você não
precisa ter/saber todos os sinais...mas sim a capacidade de interpretar o sentido daquela situação.
Não acredito que nós avaliadores tínhamos ciência da diferença entre ambas...não na
profundidade de hoje...talvez tínhamos uma noção geral...mas não clara, profunda, própria do que
era um e outro. E por isso, os objetivos não estavam claros para ninguém!
PERGUNTA: O teste consistia em uma entrevista, uma interpretação da língua de sinais
para língua oral e de outra da língua oral (texto lido) para a língua de sinais. Como chegaram a
este modelo?
RESPOSTA: Eu não sei precisar por que chegamos a este modelo, forma...Vi alguns
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testes do RID (ainda anos 80 nos EUA), li sobre isto e discutia com a Ronice ...mas não me
lembro claramente como chegamos a este modelo. PORÉM, algo tinha que ser feito .A Feneis
aceitou este modelo, então.
PERGUNTA: Como eram avaliados os candidatos? Quais os critérios utilizados? Era
considerado apto o candidato que preenchesse quais condições?
RESPOSTA: MUITO COMPLICADO...mas estava claro para a equipe/banca toda: as
expressões faciais eram importantes, o jogo do corpo, os sinais em si...enfim, a média dos itens
acima teria que sair uma interpretação (pelo mínimo), razoável. O suficiente para o padrão mais
simples possível....já que alguns não eram da capital...vinham do interior e haviam sinais
diferentes dos nossos. Respeitávamos isso.”
Diante do pioneirismo, os elaboradores do teste tiveram uma forte influência de um exame
de proficiência tradutória aplicado nos Estados Unidos. O RID tem seu próprio exame, mas é uma
certificação profissional que inclui um teste de proficiência tradutória e outras provas sobre ética e
assuntos correlatos à interpretação de língua de sinais. O depoimento apenas reflete o esforço em
começar uma seleção mais consistente de ILS, porém sem contar com pesquisas anteriores que
pudessem dar um suporte à construção do teste. Não faz parte de nossos objetivos a crítica sem
propósitos, mas sim mapear a evolução dos testes de seleção de ILS.
Ainda precisa ser feita uma análise mais aprofundada do material filmado, a fim de
apreciar de uma maneira mais minuciosa como as interações se processaram, mas, a partir dos
dados coletados até aqui, podemos presumir que, além de uma abordagem conversacional, um
dos critérios que obteve grande valoração foi como o candidato estabelecia interação com uma
pessoa surda e sua postura diante da comunidade surda.
4 Prolibras
1
Informação por correio eletrônico, texto autorizado.
2
Register for the Interpreters of the Deaf, entidade dos Estados Unidos encarregada de fazer o registro profissional dos
intérpretes de língua de sinais daquele país.
3
Referência à Profa. Dra. Ronice Müller de Quadros, lingüista, ILS e filha de pais surdos, que foi uma das precursoras nos
estudos da área da língua de sinais no Estado do Rio Grande do Sul.
4
Todas as citações desta seção, sobre o SCPI, são traduções livres de Mª Cristina P. Pereira.
5
Alfabeto manual ou alfabeto datilológico: configurações de mão que representam as letras do alfabeto da língua oral,
neste caso, da língua portuguesa.
O seguinte quadro comparativo é um resumo dos itens que constam em todos os testes
analisados mas, por limitações de tempo, alguns aspectos ainda não foram suficientemente
pesquisados.
RS RS Prolibras SCPI
TESTES
(1997) (2000) (desde 2006) (década de 80)
2 entrevistadores
2 entrevistadores, surdos, 1
ENTREVISTADORES surdos, instrutores filmador/leitor Não há. Um.
de Libras ouvinte e intérprete
experiente.
TREINAMENTO PARA
Informação não Sim. E oficinas de
OS
Não houve. Não houve. disponibilizada, dita reciclagem a cada
ENTREVISTADORES e
sigilosa. dois.
AVALIADORES
Surdos e ouvintes, Surdos e ouvintes, Uma dupla. Havendo
AVALIADORES em número em número discrepância nas De dois a três.
indeterminado. indeterminado. notas, outra dupla
MEDIDAS DE Explicitados e
Não explicitados. Não explicitados. Não explicitados.
AVALIAÇÃO descritos.
1 Entrevista e 2
AMOSTRA PARA Simulação de aula
Entrevista filmada. interpretações Entrevista filmada.
AVALIAÇÃO expositiva filmada.
(LS<=>LO) filmadas.
PÓS-TESTE Não houve. Não houve. Não há. Sempre há.
sua sinalização foi apresentada para ser avaliada por um grupo de surdos profundos a fim de que
estes julgassem o grau de “fluência” dos primeiros.
Em nosso estudo, o objetivo está na proficiência em seu mais amplo aspecto, e não só na
fluência (ritmo, pausas e velocidade) em língua de sinais. Os sujeitos filmados foram candidatos,
recém aprovados, para um curso de interpretação de língua de sinais, em narrações de situações
de risco e perigo vividas, em interação conversacional, em duplas. Posteriormente, a filmagem foi
mostrada a surdos e ouvintes, usualmente habilitados a compor bancas de seleção para cursos de
interpretação de língua de sinais. Não foram dadas notas pelo desempenho dos candidatos, mas
sim um parecer, sinalizado ou escrito, sobre os elementos que, na sinalização desses ILS,
demonstravam se eles estavam prontos, ou não, para iniciar a sua formação.
Intérpretes de língua de sinais, ouvintes, adultos, que estejam em processo de admissão
ou cursando a formação específica para tradução/interpretação de língua de sinais, foram os
participantes filmados neste experimento.
Para a análise das filmagens, obtivemos a colaboração de potenciais avaliadores de
bancas de seleção a cursos de interpretação de língua de sinais, ou seja, intérpretes experientes e
pessoas surdas instrutoras ou professoras de Libras.
Na primeira análise, os seguintes resultados merecem destaque como aspectos negativos
recorrentes que diminuem a proficiência de um sinalizador, segundo a opinião dos potenciais
avaliadores:
• Execução de parâmetros da Libras ou, até mesmo, o sinal completo repetidas vezes
(repetição demasiada).
• Falta de expressão facial.
• Pouca utilização de classificadores.
• Configuração de mão pouco nítida e frouxa.
• Utilização da estrutura do Português (aproximação do português sinalizado).
• Falta de referenciação ou não se mantêm os referentes.
• Por outro lado, foram apontados como aspectos positivos na sinalização, seja,
caracterizando uma pessoa proficiente em língua de sinais, os seguintes itens:
• Fluência na sinalização.
• Entonação expressa por meio da expressão facial.
• Sinalização clara, com atenção aos parâmetros bem executados.
• Utilização de classificadores.
• Expressão facial condizente com a narrativa.
Existem, ainda, mais dados a serem analisados sobre os depoimentos dos potenciais
avaliadores. Esses dados serão sistematizados no decorrer da pesquisa, podendo ser a base de
possíveis critérios para um futuro teste de proficiência lingüística.
Ainda temos um longo percurso para nos qualificarmos em testagem lingüística de língua
de sinais. Começamos a trilhar um caminho de qualificação com o lançamento do Prolibras, pois o
apoio de um órgão como o Ministério da Educação, e dos grupos de pesquisa a ele vinculados, é
essencial para uma constante reavaliação do teste. Já não estamos mais nos tempos dos
primeiros testes feitos no Rio Grande do Sul e, ao mesmo tempo, ainda estamos longe de uma
qualidade, organização e base teórica consistente demonstradas no SCPI. A direção que
apontamos é um investimento maior em pesquisas para dar base metodológica coerente com o
aporte teórico da testagem e manter um grupo permanente de investigação para a revisão e
depuração do Prolibras. As possibilidades que o Prolibras poderia ter são muitos, dentre os quais:
• ser adaptado e desdobrado para as diversas necessidades dos profissionais e
estudantes da área da surdez e da língua de sinais: professores, intérpretes,
acadêmicos de cursos de extensão de Libras, etc.;
• uma aplicação mais freqüente do que apenas uma vez ao ano, pois isso evitaria o
grande volume de fitas de vídeo a analisar de uma só vez: com três ou quatro edições
anuais, as avaliações poderiam ser muito mais meticulosas;
• com uma freqüência maior de aplicação dos exames, seria possível pensar na
implantação do aconselhamento pós-teste para os candidatos que assim declarassem
na inscrição;
AGRADECIMENTOS
Agradecemos, de modo especial, ao Prof. Dr. Frank Caccamise, pela gentil e desprendida
atitude de compartilhar o material original do SCPI conosco.
REFERÊNCIAS