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br - Informativo de Jurisprudência Nº 77 – Outubro/2015

Dr. Diogo Flávio Lyra Batista, Procurador


Supremo Tribunal Federal IPSEM – Campina Grande.

Selecionado a partir dos informativos 800 a 803 do STF relevante o prévio planejamento na sua confecção, a fim de
que houvesse uma perfeita adequação entre o quantitativo
ADMINISTRATIVO de pessoal necessário e o número de vagas a serem
providas nos termos do instrumento convocatório. Por outro
01. Concurso público: procurador da república e atividade lado, o chamado “cadastro de excedentes” revelar-se-ia
jurídica. A referência a “três anos de atividade jurídica”, medida apropriada para possibilitar o aproveitamento célere
contida no art. 129 da CF, não se limita à atividade e eficiente daqueles já aprovados, sem a necessidade de
privativa de bacharel em direito. Esse o entendimento da abertura de novo concurso, na medida em que o
Primeira Turma, que concedeu a ordem em mandado de administrador público não poderia estimar, durante a
segurança impetrado por candidato ao cargo de procurador validade do concurso, de forma precisa, quantos cargos
da república que pleiteava o reconhecimento da atividade ficariam vagos, e quantos seriam necessários para
exercida enquanto técnico judiciário e assistente I e IV na determinada repartição. Na linha da jurisprudência do
Justiça federal, ambas, segundo alegado, com a atuação em STF, em relação aos candidatos aprovados dentro do
atividades finalísticas do Poder Judiciário, compatíveis com número de vagas previstas em edital, a Administração
o cargo almejado. (MS-27601/Inf. 800). Inteiro teor aqui. poderia, dentro do prazo de validade do processo
seletivo, escolher o momento em que
02. Concurso público: direito subjetivo à Prepare-se para o concurso da Advocacia se realizaria a nomeação, mas não
nomeação e surgimento de vagas. O Geral da União com poderia dispor sobre a própria
Plenário, por maioria, negou provimento nomeação. Essa última passaria a

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a recurso extraordinário em que se constituir um direito do concursando
discutia a existência de direito subjetivo aprovado e, dessa forma, um dever
à nomeação de candidatos aprovados imposto ao Poder Público. Apesar
fora do número de vagas previstas no disso, não se poderia dizer o mesmo
Resolução de questões objetivas, peças, daqueles aprovados fora do número
edital de concurso público, no caso de
surgimento de novas vagas durante o pareceres e dissertações de vagas previstas em edital, ou seja,
prazo de validade do certame. A Corte www.ebeji.com.br dentro do cadastro de reserva. Esses
afirmou que, a partir de 1988, com a candidatos possuiriam mera
promulgação da Constituição da expectativa de direito à nomeação,
República, o concurso público de provas situação que, apenas
e títulos teria se consolidado como um excepcionalmente, se convolaria em
primoroso instrumento democrático para direito subjetivo.
a seleção republicana e impessoal para O plenário destacou que
cargos e empregos públicos. Assim, incumbiria à Administração, no
teria sido estabelecido, âmbito de seu espaço de
constitucionalmente, o melhor mecanismo para a discricionariedade, avaliar, de forma racional e eficiente,
Administração assegurar, dentre outros, os princípios da a conveniência e oportunidade de novas convocações
isonomia e da impessoalidade na concorrência entre durante a validade do certame. Assim, o surgimento de
aqueles que almejassem servir ao Estado. Sua ideia novas vagas durante o prazo de validade de concurso
decorreria da necessidade de se garantir que assumisse não geraria, automaticamente, um direito à nomeação
determinado cargo aquele indivíduo que, competindo em dos candidatos aprovados fora das vagas do edital, nem
iguais condições com todos os candidatos (CF, art. 5º, mesmo que novo concurso fosse aberto durante a
“caput”), estivesse, em tese, melhor preparado. Vedar-se-ia, validade do primeiro. O provimento dos cargos
desse modo, a prática inaceitável de o Poder Público dependeria de análise discricionária da Administração
conceder privilégios a alguns ou de dispensar tratamento Pública, moldada pelo crivo de conveniência e
discriminatório e arbitrário a outros. Outrossim, a oportunidade. A despeito da vacância dos cargos e da
Administração, ao iniciar um processo seletivo, manifestaria publicação do novo edital durante a validade do
uma evidente intenção e necessidade de preencher concurso, poderiam surgir circunstâncias e legítimas
determinados cargos públicos, submetendo-se às razões de interesse público que justificassem a
determinações dos editais que publicasse, o que tornaria inocorrência da nomeação no curto prazo, de modo a
obstaculizar eventual pretensão de reconhecimento do

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direito subjetivo à nomeação dos aprovados em nomeação dos candidatos aprovados em concurso público
colocação além do número de vagas. A referida fora do número de vagas previstas em edital, salvo em caso
discricionariedade, porém, seria aquela consentânea de preterição. Em seguida, o julgamento foi suspenso para
com o Direito Administrativo contemporâneo, ou seja, posterior fixação de tese de repercussão geral. (RE-
não seria livre e irrestrita, mas vinculada a certas 837311/Inf. 803). Ouça áudio do julgamento.
premissas. Ou seja, deveria basear-se no dever de boa-
fé da Administração Pública, além de pautar-se por um CONSTITUCIONAL
incondicional respeito aos direitos fundamentais e aos
princípios da eficiência, da impessoalidade, da 01. Medida provisória: emenda parlamentar e “contrabando
moralidade e da proteção da confiança, todos inerentes legislativo”. É incompatível com a Constituição a
ao Estado de Direito. Em suma, se seria verdade que a apresentação de emendas sem relação de pertinência
nomeação dos candidatos aprovados em concurso público, temática com medida provisória submetida a sua
além do número de vagas do edital, estaria sujeita à apreciação. Essa a conclusão do Plenário — com efeitos
discricionariedade da Administração Pública, não menos “ex nunc” e imediata cientificação do Poder Legislativo —
verdadeiro seria que essa discricionariedade deveria ser que, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em
exercida legitimamente. Desse modo, nenhum candidato, ação direta ajuizada em face do art. 76 da Lei 12.249/2010,
estivesse ele dentro ou fora do número de vagas do edital, inserido mediante emenda parlamentar em projeto de
poderia ficar refém de condutas que, deliberadamente, conversão de medida provisória em lei, a versar sobre objeto
deixassem escoar, desnecessariamente e, por vezes, de distinto daquele originalmente veiculado no texto
modo reprovável, o prazo de validade do concurso para que apresentado à conversão. O dispositivo impugnado regula o
fossem nomeados, apenas, os aprovados em novo exercício e a fiscalização da profissão contábil, ao passo
concurso. Se a Administração decidisse preencher que a Medida Provisória 472/2009, convertida na lei em
imediatamente determinadas vagas por meio do comento, contemplava, originalmente, matérias
necessário concurso, e existissem candidatos educacionais, fiscais, tributárias e outras. O Colegiado
aprovados em cadastro de reserva de concurso válido, o assinalou que as regras formais do processo legislativo
princípio da boa-fé vincularia a discricionariedade da seriam construídas mediante escolhas fundamentais da
Administração e lhe imporia o necessário comunidade nos momentos constituintes, de modo a
preenchimento das vagas pelos aprovados no certame canalizar os futuros julgamentos políticos e tomadas de
ainda em validade. Desse modo, quem fosse aprovado decisão. Equacionou que a questão constitucional em foco
em concurso além das vagas previstas no edital não diria respeito a dois aspectos relevantes: a) necessidade de
ostentaria um direito subjetivo de ser nomeado, mesmo lei específica para restringir o exercício de profissão; e b)
que aberto novo edital durante a validade do certame possibilidade de, em processo legislativo de conversão de
(CF, art. 37, IV). Possuiria, ao revés, mera expectativa de medida provisória em lei, ser apresentada emenda
direito que seria convolada em direito adquirido à parlamentar com conteúdo temático distinto daquele objeto
nomeação, apenas, na excepcional circunstância de da medida provisória. No que se refere à suposta exigência
ficar demonstrado, de forma inequívoca, a necessidade de lei específica (CF, art. 5º, XIII), o texto constitucional
de novas nomeações durante a validade do concurso. seria claro ao estabelecer o direito fundamental ao livre
Uma coisa seria a vacância do cargo, outra a vacância exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
acompanhada do manifesto comportamento da trazendo a possibilidade de que lei estabeleça
Administração destinado a prover os cargos durante a qualificações e exigências para o exercício desse direito
validade do concurso, e isso, contudo, não ficaria fundamental. Assim, a liberdade profissional, em que
caracterizado pela mera publicação de novo edital de pese seja direito individual de liberdade, impondo ao
concurso. Estado um dever, em princípio, de abstenção, não fora
O Plenário ressaltou que a aprovação em concurso outorgada sem limites. Não obstante, qualquer limitação
público só originaria direito subjetivo à nomeação: a) legal somente poderia fixar exigências e limitações que
quando ela ocorresse dentro do número de vagas guardassem nexo lógico com as funções e atividades a
previstas no edital; b) quando houvesse preterição na serem desempenhadas, sob pena de vício de
nomeação por inobservância da ordem de classificação inconstitucionalidade por violação ao princípio da
no concurso; e c) quando surgissem novas vagas igualdade. Destacou que essa restrição ao direito
durante a validade do concurso e, excepcionalmente, a fundamental ao exercício de qualquer trabalho, ofício ou
Administração Pública, mesmo após reconhecer, de profissão consistiria em restrição legal qualificada. Nesse
forma inequívoca e demonstrada casuisticamente, a sentido, a Constituição não se limitaria a exigir que eventual
necessidade do provimento das vagas durante a restrição ao âmbito de proteção de determinado direito fosse
validade do concurso, deixasse o referido prazo escoar apenas prevista em lei, mas também estabeleceria as
para nomear candidatos de concurso superveniente, o condições especiais, os fins a serem perseguidos pela
que teria ocorrido na espécie. O Ministro Edson Fachin, ao limitação. No caso, a reserva legal qualificada fora satisfeita
também negar provimento ao recurso, considerou, no pela Lei 12.249/2010, tendo em vista que a matéria de seu
entanto, que a necessidade de observância da eficiência art. 76 tem por finalidade não a mera restrição ao direito
administrativa e do adequado manejo dos recursos públicos, fundamental de livre exercício da profissão de contador, mas
ensejaria o dever de a administração convocar todos os a imposição de qualificações para que o exercício desse
candidatos aprovados em concursos públicos, até o direito, no âmbito da profissão contábil, seja mais
preenchimento de todas as vagas, ressalvados motivos adequadamente realizado. A necessidade de lei formal
financeiros e razões de eficiência administrativa. A Ministra para o estabelecimento de qualificações para o exercício
Rosa Weber apontou a necessidade de se observar o profissional deveria, portanto, observar as regras de
princípio da discricionariedade vinculada ao Direito, na competência legislativa e não poderia impedir o
medida em que, no caso em comento, quando aberto novo exercício da profissão. Ao contrário, deveria antes servir
edital de concurso, já seriam conhecidos os classificados no para assegurar à sociedade que determinados
certame anterior. Vencidos os Ministros Roberto Barroso, profissionais, em especial os liberais, fossem efetiva e
Teori Zavascki e Gilmar Mendes, que davam provimento ao adequadamente qualificados para exercer uma
recurso por entenderem inexistente o direito subjetivo à específica atividade. No ponto, a Lei 12.249/2010

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estabelece,Objetiva
em seu art. 76, a exigência de determinadas procedimento. Assim, a decisão da Corte não poderia
qualificações a serem cumpridas para o regular exercício da provocar insegurança jurídica, de modo que estariam
profissão de contador. Inova ao fixar essas exigências e preservadas as leis fruto de conversão de medida provisória,
ainda estabelece uma regra de transição àqueles que no que diz respeito à inconstitucionalidade formal. O Ministro
exerçam o ofício de técnicos em contabilidade. O Tribunal Roberto Barroso acrescentou que o entendimento pela
assentou que estariam cumpridos os requisitos formais e inconstitucionalidade das emendas parlamentares sem
materiais impostos constitucionalmente. Destacou, por outro pertinência temática com a medida provisória decorreria de
lado, que o processo legislativo de conversão de medida nova interpretação da Constituição quanto a esse costume,
provisória, não obstante ser peculiar e de tramitação mais à luz do fato de que a prática seria reiterada há muito tempo.
célere, consistiria em espécie constitucionalmente prevista, O Ministro Teori Zavascki frisou a LC 95/1998, a tratar da
sem restrição quanto à matéria versada na lei impugnada. técnica de formulação das leis, segundo a qual a
Assim, não implicaria inconstitucionalidade o simples fato de necessidade de pertinência temática estaria prevista. O
a lei haver resultado de projeto de conversão de medida Ministro Gilmar Mendes enfatizou a necessidade de se
provisória. sinalizar ao Congresso Nacional que essa prática, muito
O Plenário, no que concerne à possibilidade de, em embora mantidos os atos praticados até o momento, não
processo legislativo de conversão de medida provisória em poderia se repetir doravante. Vencidos os Ministros Rosa
lei, ser apresentada emenda parlamentar com conteúdo Weber (relatora), Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski
temático distinto daquele objeto da medida provisória, (Presidente), que julgavam o pedido procedente; e o Ministro
consignou que esta seria espécie normativa primária, de Dias Toffoli, que julgava o pleito improcedente em maior
caráter excepcional, sujeita a condição resolutiva e de extensão, por considerar que não caberia ao STF avaliar a
competência exclusiva do Presidente da República (CF, pertinência temática entre a medida provisória e a emenda,
artigos 59, V; e 62, § 3º). Como espécie normativa de o que seria de competência do Congresso Nacional. (ADI-
competência exclusiva do Presidente da República e 5127/Inf. 803). Ouça áudio do julgamento e assista ao
excepcional, não seria possível tratar de temas diversos vídeo com os principais julgados da semana.
daqueles fixados como relevantes e urgentes. Uma vez
estabelecido o tema relevante e urgente, toda e qualquer ELEITORAL
emenda parlamentar em projeto de conversão de
medida provisória em lei se limitaria e circunscreveria 01. Partidos políticos: direito de antena, acesso ao Fundo
ao tema definido como urgente e relevante. Assim, seria Partidário e ativismo congressual. O Plenário, por maioria,
possível emenda parlamentar ao projeto de conversão, julgou procedente pedido formulado em ação direta para
desde que observada a devida pertinência lógico-temática. declarar a inconstitucionalidade dos artigos 1º e 2º da Lei
De outro lado, editada a medida provisória, competiria ao 12.875/2013, que, ao promoverem alterações nas Leis
Legislativo realizar o seu controle. Esse controle seria 9.096/1995 e 9.504/1997, restringem, aos novos partidos
político e jurídico, pois diria respeito à urgência e relevância políticos, criados após a realização das eleições para a
exigidas constitucionalmente. O Colegiado frisou que o uso Câmara dos Deputados, qualquer acesso aos recursos do
hipertrofiado da medida provisória, instrumento excepcional, Fundo Partidário, bem como qualquer tempo destinado a
deturparia o processo legislativo, gerando distorções propaganda eleitoral. De início, o Colegiado destacou que as
ilegítimas. Nessa quadra, a prática das emendas disposições ora impugnadas decorreriam de superação
parlamentares no processo de conversão de medida legislativa da interpretação conferida pelo STF ao art. 47, § 2º,
provisória em lei com conteúdo temático distinto II, da Lei 9.504/1997 (ADI 4.430/DF, DJe de 19.9.2013 e ADI
apresentaria fortes complexidades democráticas. O 4.795/DF, DJe de 30.10.2013). Na oportunidade, o Tribunal
Legislativo, no procedimento de conversão, poderia aprovar dera interpretação conforme ao preceito questionado, para
emendas aditivas, modificativas ou supressivas. Por outro salvaguardar aos partidos novos, criados após a realização de
lado, o fato de a Constituição não ter expressamente eleições para a Câmara dos Deputados, o direito de acesso
disposto no art. 62 a impossibilidade de se transbordar proporcional aos dois terços do tempo destinado à
a temática da medida provisória não significaria que o propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Poucos
exercício da faculdade de emendar pelo Congresso meses após o julgamento dos casos supracitados, o
fosse incondicionado. Congresso editara a Lei 12.875/2013 que, em sentido oposto
O Tribunal reputou que, quando uma medida provisória, ao ao pronunciamento da Corte, subtraíra dessas novas
ser convertida em lei, passa a tratar de diversos temas legendas o acesso aos recursos do Fundo e ao direito de
inicialmente não previstos, o seu papel de regulação da vida antena. Caberia perquirir, portanto, quais os limites de
comum estaria enfraquecido do ponto de vista da reações legislativas a decisões proferidas pelo STF, tendo em
legitimidade democrática. Com essa prática, se geraria vista o impacto na esfera de liberdade de conformação do
insegurança. Um processo legislativo democrático, público e legislador. Nesse sentido, o Tribunal deteria a última palavra
transparente deveria primar por uma uniformidade temática no que se refere à interpretação da Constituição, imune a
que o tornasse sempre mais acessível, pelos outros poderes qualquer controle democrático. Não se ignoraria, entretanto,
e pelo povo. Esse entendimento não significaria a legitimidade, em algumas hipóteses, do ativismo
fortalecimento do Executivo, tendo em vista a importante congressual, ou seja, de reversão legislativa a decisões
função de controle do Legislativo no que diz respeito aos da Corte, desde que observadas algumas balizas
pressupostos autorizadores de medida provisória. Ademais, constitucionais. Nesses casos, o Legislativo buscaria
também não implicaria, necessariamente, o reconhecimento reverter situações de autoritarismo judicial ou de
da inconstitucionalidade de todas as leis de conversão comportamento antidialógico, incompatível com a
promulgadas até o presente julgamento, inclusive a lei separação de poderes. Ao legislador seria, assim,
objeto desta ação. Isso se daria por duas razões: em franqueada a capacidade de interpretação da
primeiro lugar, seria a primeira oportunidade de a Corte Constituição, a despeito de decisões de
enfrentar o tema, e compreensão diversa subtrairia a inconstitucionalidade proferidas pelo STF. Seria possível
possibilidade de diálogo entre os diversos ramos do Estado extrair as seguintes conclusões a respeito do tema: a) o
sobre a matéria. Em segundo lugar, essa prática alusiva à Tribunal não subtrai “ex ante” a faculdade de correção
conversão de medidas provisórias estaria arraigada, a legislativa pelo constituinte reformador ou pelo legislador
resultar em diversas normas produzidas de acordo com o ordinário; b) no caso de reversão jurisprudencial via

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emenda constitucional, a invalidação somente ocorrerá oportunidade, o Plenário asseverara que o art. 17 da CF, que
nas hipóteses estritas de ultraje aos limites do art. 60 da consagra o direito político fundamental da liberdade de
CF; e c) no caso de reversão jurisprudencial por lei criação de partidos, tutela, igualmente, as agremiações que
ordinária, excetuadas as situações de ofensa evidente ao tenham representação no Congresso, sendo irrelevante
texto constitucional, a Corte tem adotado comportamento perquirir se essa representatividade resulta da criação de
de autorrestrição e de maior deferência às opções nova legenda no curso da legislatura. Além disso, também
políticas do legislador. ficara consignado que erigir a criação de novos partidos como
O Tribunal assinalou que seria prudente não se atribuir hipótese caracterizadora de justa causa para as migrações
a qualquer órgão, fosse do Judiciário, fosse do Legislativo, a partidárias, somada ao direito constitucional de livre criação
faculdade de pronunciar, em solução de definitividade, a de novas legendas, impõe a conclusão inescapável de que é
última palavra sobre o sentido da Constituição. O próprio texto defeso privar as prerrogativas inerentes à representatividade
constitucional desafiaria esse entendimento. Em primeiro política do parlamentar. Por sua vez, a justificação do projeto
lugar, os efeitos vinculantes das decisões proferidas em de lei se limitara a afirmar, genericamente, que a
sede de controle abstrato não atingem o Legislativo (CF, regulamentação da matéria, excluindo dos partidos criados o
artigos 102, § 2º; e 103-A), de modo a ser perfeitamente direito de antena e o Fundo Partidário, fortaleceria as
possível a edição de emendas constitucionais ou leis agremiações, sem enfrentar os fundamentos das ações
ordinárias acerca do assunto objeto de pronunciamento diretas. Portanto, a inconstitucionalidade das normas em
judicial. Em segundo lugar, o dever de fundamentação das questão se agrava, porquanto a decisão do STF fora
decisões judiciais (CF, art. 93, IX), impõe que o STF, mesmo ancorada em sólida construção argumentativa calcada em
nas hipóteses de correção legislativa de sua jurisprudência, cláusulas pétreas. Em tese, a nova legislação que afrontasse
enfrente a controvérsia à luz dos novos argumentos decisões do Tribunal nasceria com presunção relativa de
expendidos pelo legislador para reverter o precedente. Além inconstitucionalidade, mas, na espécie, a
disso, desconsiderar que as demais instituições sejam inconstitucionalidade da lei seria evidente.
intérpretes autorizados da Constituição poderia propiciar certa O Plenário reputou, também, que as normas em debate
acomodação ou desinteresse nos demais atores em seriam inconstitucionais por afrontarem as condições de
interpretar o texto constitucional. Ademais, a perspectiva funcionamento das instituições democráticas. A restrição
juriscêntrica de hermenêutica constitucional também estimula imposta pela nova lei às novas legendas justificaria a
comportamentos irresponsáveis na conformação da intervenção do STF, pois se cuidaria de tentativa de
Constituição pelo legislador. Assim, o STF deveria proceder inviabilizar os canais de acesso e de participação daqueles
como catalisador deliberativo, promovendo a interação e o que estão fora do jogo democrático. Seria dever da Corte
diálogo institucional, de modo a maximizar a qualidade otimizar e aperfeiçoar o processo democrático, de sorte a: a)
democrática na obtenção dos melhores resultados em termos corrigir as patologias que desvirtuem o sistema
de apreensão do significado constitucional. Portanto, o representativo, máxime quando obstruam as vias de
legislador poderia, por emenda constitucional ou lei expressão e os canais de participação política; e b) proteger
ordinária, superar a jurisprudência, reclamando posturas os interesses e direitos dos grupos políticos minoritários, cujas
distintas da Corte. Se veiculada por emenda, altera-se o demandas dificilmente encontram eco nas deliberações
próprio parâmetro amparador da jurisprudência. Nessas majoritárias. A discussão acerca dos critérios de distribuição
situações, a invalidade da emenda somente poderá dos recursos do Fundo Partidário e do horário de propaganda
ocorrer nas hipóteses de descumprimento do art. 60 da eleitoral encerram importantes ferramentas de viabilização e
CF. Se, porém, introduzida por legislação ordinária, a desenvolvimento dessa engenharia democrática, impactando
norma que frontalmente colidir com a jurisprudência do decisivamente no pleito eleitoral. Com a imposição de severas
Tribunal nasce com presunção de inconstitucionalidade, limitações ao Fundo Partidário e ao direito de antena, as
de sorte que caberia ao legislador o ônus de demonstrar, novas agremiações seriam alijadas do processo político. Por
argumentativamente, que a correção do precedente se esses motivos, a reação jurisprudencial materializada na
afigura legítima, e que o posicionamento jurisprudencial Lei 12.875/2013, ao subtrair dos partidos novos, criados
deve ser superado, tendo em conta novas premissas no curso da legislatura, o direito de antena e o acesso a
fáticas e jurídicas. Assim, a novel legislação que recursos do Fundo Partidário remanesceria eivada de
frontalmente colidisse com a jurisprudência se submeteria a inconstitucionalidade, na medida em que, além de o
um escrutínio de constitucionalidade mais rigoroso. legislador não ter logrado trazer novos e consistentes
O Colegiado apontou que, no caso em debate, a análise fundamentos para infirmar o pronunciamento da Corte, o
da justificação do projeto de lei que desaguara na norma diploma inviabiliza, no curto prazo, o funcionamento e o
supracitada revelaria a inaptidão dos fundamentos ali desenvolvimento de minorias político-partidárias, em
expendidos para legitimar a reversão da interpretação fixada ofensa aos postulados do pluralismo político e da
pelo STF na matéria. Os fundamentos seriam: a) as liberdade partidária (CF, art. 17, § 3º). Vencidos os Ministros
migrações que ocorrem durante a legislatura vulneram a Edson Fachin, Teori Zavascki, Gilmar Mendes, Celso de Mello
previsibilidade institucional na distribuição dos recursos dos e Ricardo Lewandowski (Presidente), que julgavam o pedido
fundos partidários e do horário de propaganda; b) essas improcedente. (ADI-5105/Inf. 801). Ouça áudio do
alterações geram um cenário de insegurança jurídica; c) a julgamento e assista ao vídeo com os principais
medida legislativa visa a valorizar os partidos políticos, de julgados da semana.
modo a evitar disfunções no sistema partidário; d) perenidade
do partido enquanto instrumento do pluralismo político; e e) o 02. Eleição suplementar e inelegibilidade. As hipóteses de
art. 17, § 3º, da CF seria observado com a distribuição inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive
equitativa dos 5% dos recursos do Fundo Partidário e do 1/3 quanto ao prazo de seis meses, são aplicáveis às
do horário de propaganda eleitoral. Não haveria, no projeto, eleições suplementares. Essa a conclusão do Plenário,
enfrentamento aos fundamentos das ações diretas de que negou provimento a recurso extraordinário em que se
inconstitucionalidade referidas, e os argumentos não seriam alegava que, em caso de eleições suplementares, os
capazes de infirmar a tese então exarada pela Corte. Na referidos prazos deveriam ser mitigados. Na espécie, o

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marido da Objetiva
recorrente, então prefeito, tivera seu mandato art. 199 da Lei de Execução Penal (“O emprego de algemas
cassado pela justiça eleitoral, em razão da prática de abuso será disciplinado por decreto federal”), apontando, então, que,
do poder econômico. O Tribunal esclareceu que, na hipótese se ainda não há decreto federal que regulamente a utilização
dos autos — eleições suplementares diante do afastamento de algemas, caberia aos interessados ajuizar mandado de
por irregularidade de prefeito e em que sua esposa fosse injunção. A Corte asseverou que, para admitir-se a revisão
candidata —, a questão da inelegibilidade reclamaria ou o cancelamento de súmula vinculante, seria
compreensão própria. Realçou que, conforme se observaria necessário demonstrar: a) a evidente superação da
do parágrafo § 7º do art. 14 da CF (“São inelegíveis, no jurisprudência do STF no trato da matéria; b) a alteração
território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes legislativa quanto ao tema; ou, ainda, c) a modificação
consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, substantiva de contexto político, econômico ou social. A
do Presidente da República, de Governador de Estado ou proponente, porém, não teria comprovado a existência dos
Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os aludidos pressupostos, assim como não teria se
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, desincumbido do ônus de apresentar decisões reiteradas do
salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à STF que demonstrassem a desnecessidade de vigência do
reeleição”), o caso seria de inelegibilidade e não de enunciado em questão, o que impossibilitaria o exame da
desincompatibilização. Portanto, não se trataria de presente proposta de cancelamento. Por fim, cumpriria
providência a ser adotada pelo candidato a de destacar que o mero descontentamento ou eventual
desincompatibilizar-se para concorrer. divergência quanto ao conteúdo de verbete vinculante não
A Corte consignou que, como a perda do mandato de autorizariam a rediscussão da matéria. (PSV-13/Inf. 800).
prefeito se dera em menos de seis meses do pleito Ouça áudio do julgamento e assista ao vídeo com os
complementar, a desincompatibilização no prazo fixado no principais julgados da semana.
parágrafo § 7º do art. 14 da CF constituiria uma condição
inalcançável para a recorrente, mesmo que ela desejasse. 02. Desmembramento e foro por prerrogativa de função. O
Entretanto, a questão em análise não diria respeito à Plenário negou provimento a agravo regimental em
desincompatibilização da esposa candidata, já que ela não reclamação na qual se discutia alegada usurpação da
exercera o cargo do qual devesse, ela própria, competência do STF para o processamento de detentor de
desincompatibilizar-se. A hipótese seria de inelegibilidade e, foro por prerrogativa de função. Na espécie, o STF, em
nessa condição, deveria ser considerada para todos os 19.12.2014, nos autos da Pet 5.245/DF, acolhera
efeitos. Salientou que o § 7º do art. 14 da CF teria o requerimento de cisão processual, mantendo-se na Corte o
desiderato ético, político e social de prevenir possível trâmite de termos de depoimento em que figurassem
apoderamento familiar dos mandatos eletivos, inclusive detentores de prerrogativa de foro, com remessa dos demais
com utilização indevida da estrutura administrativa. aos juízos e tribunais com competência para processamento
Trataria, portanto, de hipótese constitucional de dos demais investigados. Assim, o reclamante fora
inelegibilidade e, assim, insuscetível de mitigação em mencionado especificamente em determinado termo de
favor dos seus destinatários. A par disso, a orientação da depoimento, no âmbito de acordo de colaboração premiada
Corte seria a de compreender os §§ 5º, 6º e 7º do art. 14 da devidamente homologada, havendo a instauração de
CF na sua perspectiva sistemática e teleológica, procedimento autônomo (Pet 5.278/DF), com o seguinte
especialmente em face da introdução, em nosso sistema, do desmembramento dos autos, para que prosseguissem no
instituto da reeleição. Nessa perspectiva, nas hipóteses em juízo reclamado as investigações contra os demais
que a reeleição de um dos cônjuges fosse investigados que não possuíssem prerrogativa de foro no
constitucionalmente autorizada, a inelegibilidade do STF. A Corte afirmou que, nesse contexto, com o
outro soaria incongruente. Em razão disso, o STF desmembramento realizado e a remessa de cópia dos
firmara entendimento no sentido de que quem pudesse termos à origem, eventual encontro de novos indícios
se reeleger poderia ser sucedido pelo cônjuge, e assim, da participação de parlamentar em momento
ao contrário, quem não pudesse se reeleger não poderia subsequente não invocaria, por si só, usurpação de
por ele ser sucedido. Nessa linha, cumpriria dar atenção, competência, pois apurados por autoridade judiciária
não tanto à circunstância da irredutibilidade do prazo que, por decisão do STF, prosseguira na condução de
constitucional de seis meses da suposta procedimentos relativos aos mesmos fatos, todavia
desincompatibilização, mas sim à condição de referentes a não detentores de prerrogativa de foro.
reelegibilidade do prefeito cassado. Não haveria dúvida, por Ademais, não mereceria prosperar a alegação de que teria
conseguinte, que o cônjuge da recorrente tornara-se havido investigação direta do reclamante por parte do juízo
irreelegível, seja para a eleição complementar, seja para reclamado. A violação de competência implicaria a
novo pleito (LC 64/90, art. 1º, I, c). (RE-843455/Inf. 802). realização de medidas investigatórias dirigidas às
Ouça o áudio do julgamento. autoridades sujeitas à prerrogativa de foro e não a
simples declaração de réu colaborador, com menção
PENAL E PROCESSO PENAL sobre a participação de detentores de foro por
prerrogativa de função durante audiência de instrução.
01. Enunciado 11 da Súmula Vinculante do STF. O Plenário Raciocínio inverso levaria à conclusão de que toda vez que
rejeitou proposta de cancelamento do Enunciado 11 da despontasse elemento probatório novo veiculado aos fatos
Súmula Vinculante (“Só é lícito o uso de algemas em casos investigados, todos os processos e ações penais em
de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à andamento haveriam de retornar ao STF para novo exame,
integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de o que, além de desarrazoado, inviabilizaria, na prática, a
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena persecução penal. Outrossim, em casos de
de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da desmembramento seria comum a existência, em juízos
autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que diversos, de elementos relacionados tanto ao detentor de
se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”). prerrogativa de foro quanto aos demais envolvidos. Contudo,
No caso, a proponente — Confederação Brasileira dos a existência dessa correspondência não caracterizaria
Trabalhadores Policiais Civis – Cobrapol — afirmava que a usurpação de competência. Pelo contrário, a simples
edição do enunciado em questão teria usurpado a função do menção do nome do reclamante em depoimento de réu
Poder Legislativo. Ressaltava, ademais, o quanto disposto no colaborador, durante a instrução, não caracterizaria ato

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GEAGU Objetiva
de investigação, ainda mais quando houvesse prévio
desmembramento, como no caso. (Rcl-21419/Inf. 802).
Inteiro teor do acórdão aqui. Ouça áudio do julgamento
e assista ao vídeo com os principais julgados da
semana.

03. Descumprimento de ordem judicial e ciência. Configura-


se o crime de responsabilidade de prefeito, nos termos
da segunda parte do inciso XIV do art. 1º do Decreto-Lei
201/1967 (“Art. 1º. São crimes de responsabilidade dos
Prefeitos Municipais, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da
Câmara dos Vereadores: ... XIV - Negar execução à lei
federal, estadual ou municipal, ou deixar de cumprir ordem
judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade,
por escrito, à autoridade competente”), a existência de
inequívoca ciência da determinação judicial. A mera
comunicação da ordem a terceiros não atende as
exigências legais. Com base nessa orientação, e por não
existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal
(CPP, art. 386, V), a Primeira Turma absolveu o réu. Na
espécie, quando prefeito ao tempo dos fatos, fora acusado
de descumprir ordem judicial sem dar o motivo da recusa ou
da impossibilidade de fazê-lo, por escrito, à autoridade
competente. A Turma apontou que a projeção desse
entendimento se guiaria pelos mesmos parâmetros
utilizados para aferição do dolo nos delitos em que o ato
de desobedecer figurar como elementar do tipo, cuja
previsão genérica é a do art. 330 do CP, sobre o qual
doutrina e jurisprudência seriam unânimes em exigir a
ciência inequívoca do agente quanto à ordem
descumprida. Esclareceu que a decisão liminar, cujo
descumprimento criminoso fora atribuído ao acusado, bem
como aquela que ampliara os seus efeitos, não teriam sido
endereçadas ao prefeito, mas aos seus procuradores
judiciais. Por fim, ponderou que o fato de o Município não
ser pequeno poderia implicar a possibilidade de que a
gestão administrativa fosse desconcentrada e
descentralizada para além do gabinete do prefeito. (AP-
555/Inf. 802)

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Dr. Diogo Flávio Lyra Batista, Procurador


Superior Tribunal de Justiça IPSEM – Campina Grande.

Selecionado a partir do informativo 567 e 568 do STJ naqueles concursos em que não se utiliza essa expressão,
aprovado fora do número de vagas previsto no edital, só terá
ADMINISTRATIVO direito à nomeação nos casos de comprovada preterição,
seja pela inobservância da ordem de classificação, seja por
01. Direito administrativo. Desistência de candidato contratações irregulares. Contudo, deve-se acrescentar e
aprovado em concurso público dentro do número de vagas. destacar que a desistência de candidatos aprovados dentro
O candidato aprovado fora do número de vagas do número de vagas previsto no edital do certame é
previstas no edital de concurso público tem direito hipótese diversa e resulta em direito do próximo classificado
subjetivo à nomeação quando o candidato à convocação para a posse ou para a próxima fase do
imediatamente anterior na ordem de classificação, concurso, conforme o caso. É que, nessa hipótese, a
aprovado dentro do número de vagas, for convocado e necessidade e o interesse da Administração no
manifestar desistência. O posicionamento do STJ (RMS preenchimento dos cargos ofertados estão estabelecidos no
33.875-MT, Primeira Turma, DJe 22/6/2015; e AgRg nos edital de abertura do concurso, e a convocação do candidato
EDcl nos EDcl no Ag 1.398.319-ES, Segunda Turma, DJe que, logo após, desiste, comprova a necessidade de
9/3/2012) induz à conclusão de que o candidato constante convocação do próximo candidato na ordem de
de cadastro de reserva, ou, naqueles concursos em que não classificação. Embora exista diferença entre as situações
se utiliza essa expressão, aprovado fora do número de fático-jurídicas daqueles que se encontram
vagas previsto no edital, só terá direito à nomeação nos classificados imediatamente após o candidato
casos de comprovada preterição, seja pela inobservância da desistente de vaga disponibilizada no edital do
ordem de classificação, seja por contratações irregulares. concurso e daqueles classificados imediatamente após
Contudo, deve-se acrescentar e destacar que a desistência o candidato desistente classificado fora das vagas
de candidatos aprovados dentro do número de vagas ofertadas, deve-se reconhecer que o ato administrativo
previsto no edital do certame é hipótese diversa e resulta em que convoca candidato para preencher outras vagas,
direito do próximo classificado à convocação para a posse oferecidas após o preenchimento daquelas previstas
ou para a próxima fase do concurso, conforme o caso. É pelo edital, gera o mesmo efeito do ato de convocação
que, nessa hipótese, a necessidade e o interesse da dos candidatos aprovados dentro de número de vagas
Administração no preenchimento dos cargos ofertados quando há desistência. É que, também nessa hipótese, a
estão estabelecidos no edital de abertura do concurso, e Administração, por meio de ato formal, manifesta
a convocação do candidato que, logo após, desiste, necessidade e interesse no preenchimento da vaga. O
comprova a necessidade de convocação do próximo ato administrativo que prevê novas vagas para o
candidato na ordem de classificação. Precedentes do certame adita o edital inaugural, necessitando preencher
STF citados: ARE 866.016 AgR, Primeira Turma, DJe os mesmos requisitos de validade e produzindo os
29/10/2013; ARE 661.760 AgR, Primeira Turma, DJe mesmos efeitos jurídicos com relação aos candidatos.
29/10/2013; RE 643.674 AgR, Segunda Turma, DJe Assim, se o ato de convocação, perfeito, válido e eficaz,
28/8/2013; ARE 675.202 AgR, Segunda Turma, DJe encontra motivação nas novas vagas ofertadas, não há
22/8/2013. (AgRg no ROMS 48.266-TO/Inf. 567). Inteiro fundamento para se diferenciar o entendimento
teor aqui. aplicável às mencionadas categorias de candidatos, à
luz dos princípios constitucionais da isonomia, da
02. Direito administrativo. Desistência de candidato moralidade e da legalidade. (AgRg no RMS 41.031-PR/Inf.
aprovado em concurso público fora do número de vagas. O 567). Inteiro teor aqui.
candidato aprovado fora do número de vagas previstas
no edital de concurso público tem direito subjetivo à 03. Direito administrativo. Possibilidade de aplicação da lei
nomeação quando o candidato imediatamente anterior de improbidade administrativa a estagiário. O estagiário
na ordem de classificação, embora aprovado fora do que atua no serviço público, ainda que transitoriamente,
número de vagas, for convocado para vaga surgida remunerado ou não, está sujeito a responsabilização por
posteriormente e manifestar desistência. O ato de improbidade administrativa (Lei 8.429/1992). De
posicionamento do STJ (RMS 33.875-MT, Primeira Turma, fato, o conceito de agente público, constante dos artigos 2º e
DJe 22/6/2015; e AgRg nos EDcl nos EDcl no Ag 1.398.319- 3º da Lei 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa),
ES, Segunda Turma, DJe 9/3/2012) induz à conclusão de abrange não apenas os servidores públicos, mas todo
que o candidato constante de cadastro de reserva, ou, aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem

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remuneração, por eleição, nomeação, designação, fato, o citado dispositivo celebra a distinção clássica entre a
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou mora ex re (ou automática), que se constitui pelo simples
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função na inadimplemento, e mora ex persona, que depende de
Administração Pública. Assim, na hipótese em análise, o interpelação. Mantendo a tradição do CC/1916, o diploma
estagiário, que atua no serviço público, enquadra-se no em vigor estabelece como regra geral que, se desobedecido
conceito legal de agente público preconizado pela Lei o prazo estipulado para o cumprimento da obrigação, sua
8.429/1992. Ademais, as disposições desse diploma legal simples estipulação já dispensa ato do credor para constituir
são aplicáveis também àquele que, mesmo não sendo o devedor em mora. Assim, para que incida a regra da
agente público, induza ou concorra para a prática do ato de mora automática é necessário haver previsão contratual
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma, direta ou o concurso dos requisitos previstos no art. 397,
ou indireta. Isso porque o objetivo da Lei de Improbidade caput: dívida líquida, certa e o inadimplemento da
não é apenas punir, mas também afastar do serviço público obrigação. Se o devedor acertou um prazo para cumprir
os que praticam atos incompatíveis com o exercício da a prestação e se não há dúvida quanto ao valor a ser
função pública. (REsp 1.352.035-RS/Inf. 568). Inteiro teor pago, não há também razão para se exigir que o credor
aqui. o advirta quanto ao inadimplemento. Nesses casos,
aplica-se o brocardo dies interpellat pro homine (o termo
CIVIL E PROCESSO CIVIL interpela no lugar do credor). Na hipótese, a obrigação é
positiva e certa, pois materializada em mensalidades de
01. SÚMULA 544. É válida a utilização de tabela do serviço educacional em valor estabelecido em contrato. Com
Conselho Nacional de Seguros Privados para efeito, a mora ex re independe de qualquer ato do credor,
estabelecer a proporcionalidade da indenização do como interpelação ou citação, porquanto decorre do próprio
seguro DPVAT ao grau de invalidez também na hipótese inadimplemento de obrigação positiva, líquida e com termo
de sinistro anterior a 16/12/2008, data da entrada em implementado, cuja matriz normativa é atualmente o art.
vigor da Medida Provisória n. 451/2008. Segunda Seção, 397, caput, do CC/2002. Precedente citado: AgRg no REsp
aprovada em 26/8/2015, DJe 31/8/2015. 1.401.973-MG, Quarta Turma, DJe 26/8/2014. (REsp
1.513.262-SP/Inf. 567). Inteiro teor aqui.
02. Direito processual civil. Impossibilidade
Prepare-se para os concursos da
de oferecimento de reconvenção em 04. Direito processual civil.
embargos à execução. É incabível o Advocacia-Geral da União com Legitimidade do promitente comprador
oferecimento de reconvenção em e do promitente vendedor em ação de
embargos à execução. O processo de
execução tem como finalidade a
satisfação do crédito constituído, razão
GEAGU cobrança de débitos condominiais. O
promitente comprador e
promitente vendedor de imóvel têm
o

pela qual se revela inviável a Resolução de questões objetivas, peças, legitimidade passiva concorrente
reconvenção, na medida em que, se pareceres e dissertações em ação de cobrança de débitos
admitida, ocasionaria o surgimento de www.ebeji.com.br condominiais posteriores à imissão
uma relação instrumental cognitiva daquele na posse do bem,
simultânea, o que inviabilizaria o admitindo-se a penhora do imóvel,
prosseguimento da ação executiva. como garantia da dívida, quando o
Com efeito, na execução, a doutrina titular do direito de propriedade
ensina que: "a cognição é rarefeita e (promitente vendedor) figurar no
instrumental aos atos de satisfação. Daí a polo passivo da demanda. No REsp
falta de espaço para a introdução de uma 1.345.331-RS (Segunda Seção, DJe
demanda do executado no processo 20/4/2015), julgado por meio do rito
puramente executivo". Dessa forma, como a reconvenção dos recursos repetitivos, as seguintes teses foram firmadas:
demanda dilação probatória e exige sentença de mérito, ela "a) O que define a responsabilidade pelo pagamento das
vai de encontro com a fase de execução, na qual o título obrigações condominiais não é o registro do
executivo já se encontra definido, de sorte que só pode ser compromisso de compra e venda, mas a relação jurídica
utilizada em processos de conhecimento. Por fim, material com o imóvel, representada pela imissão na
entendimento em sentido contrário violaria o princípio da posse pelo promissário comprador e pela ciência
celeridade e criaria obstáculo para a satisfação do crédito, inequívoca do condomínio acerca da transação. b)
porquanto a ideia que norteia a reconvenção é o seu Havendo compromisso de compra e venda não levado a
desenvolvimento de forma conjunta com a demanda inicial, registro, a responsabilidade pelas despesas de
o que não ocorreria caso ela fosse admitida em sede de condomínio pode recair tanto sobre o promitente
embargos à execução, na medida em que as demandas não vendedor quanto sobre o promissário comprador,
teriam pontos de contato a justificar a reunião. Precedente dependendo das circunstâncias de cada caso concreto.
citado: REsp 1.085.689-RJ, Primeira Turma, DJe 4/11/2009. c) Se ficar comprovado: (i) que o promissário comprador
(REsp 1.528.049-RS/Inf. 567). Inteiro teor aqui. se imitira na posse; e (ii) o condomínio teve ciência
inequívoca da transação, afasta-se a legitimidade
03. Direito civil. Termo inicial de juros de mora em cobrança passiva do promitente vendedor para responder por
de mensalidade por serviço educacional. Se o contrato de despesas condominiais relativas a período em que a
prestação de serviço educacional especifica o valor da posse foi exercida pelo promissário comprador". Pela
mensalidade e a data de pagamento, os juros de mora leitura isolada da tese 1, "c", desse precedente, o
fluem a partir do vencimento das mensalidades não proprietário estaria isento de arcar com as despesas de
pagas - e não da citação válida. O caput do art. 397 do condomínio a partir da imissão do promitente comprador na
CC/2002 dispõe que: "O inadimplemento da obrigação, posse do imóvel. Porém, a tese firmada no repetitivo deve
positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em ser interpretada de acordo com a solução dada ao caso que
mora o devedor". Por sua vez, o parágrafo único do mesmo deu origem à afetação. Há de se observar, portanto, que, no
dispositivo legal afirma que, "Não havendo termo, a mora se caso do REsp 1.345.331-RS, a ação de cobrança havia sido
constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial". De ajuizada contra o proprietário (promitente vendedor), tendo

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havido embargos de terceiro pelos promitentes compradores possibilidade de o proprietário do imóvel ficar vinculado à
na fase de execução. Naquele julgado, entendeu-se que a obrigação por longos anos, caso o promitente comprador
responsabilidade pelo pagamento das despesas não providencie a lavratura da escritura e o devido registro.
condominiais seria dos promitentes compradores, porque Esse questionamento, entretanto, diz respeito
relativas a débitos surgidos após a imissão destes na posse exclusivamente à relação obrigacional estabelecida entre o
do imóvel. Porém, não se desconstituiu a penhora do imóvel. proprietário (promitente vendedor) e o promitente
Há, portanto, uma aparente contradição entre a tese e a comprador, os quais podem estabelecer prazo para a
solução dada ao caso concreto, pois a tese 1, "c", em sua ultimação do negócio jurídico, inclusive com fixação de
literalidade, conduziria à desconstituição da penhora sobre o multa. Se não o fazem, deixam aberta a possibilidade de o
imóvel do promitente vendedor. A contradição, contudo, é negócio jurídico ficar pendente de exaurimento por longos
apenas aparente, podendo ser resolvida à luz da teoria da anos, devendo arcar com as consequências de seus atos. O
dualidade da obrigação. Observe-se, inicialmente, que o outro questionamento diz respeito à possível falta de
promitente comprador não é titular do direito real de interesse do proprietário, ou melhor, "quase ex-proprietário",
propriedade, tendo apenas direito real de aquisição caso em contestar a ação de cobrança de despesas
registrado o contrato de promessa de compra e venda. condominiais, uma vez que o interesse direto seria do
Desse modo, o condomínio ficaria impossibilitado de promitente comprador, já imitido na posse do imóvel. Sobre
penhorar o imóvel. Restaria, então, penhorar bens do esse ponto, cabe ressaltar que o proprietário do imóvel
patrimônio pessoal do promitente comprador. Porém, não é responde pelos débitos condominiais com todo o seu
rara a hipótese em que o comprador esteja adquirindo seu patrimônio, não somente com o imóvel, pois a obrigação
primeiro imóvel e não possua outros bens penhoráveis, o propter rem não se confunde com os direitos reais de
que conduziria a uma execução frustrada. Esse resultado garantia. Não se pode afirmar, portanto, que faltaria
não se coaduna com a natureza, tampouco com finalidade interesse ao proprietário em contestar a demanda, pois
da obrigação propter rem. Quanto à natureza, é da essência correrá o risco de sofrer constrição em seu patrimônio
dessa obrigação que ela nasça automaticamente com a pessoal, uma vez que dinheiro e depósitos bancários têm
titularidade do direito real e somente se extinga com a preferência sobre a penhora do imóvel (art. 655, I, do CPC).
extinção do direito ou a transferência da titularidade, De outra parte, o promitente comprador poderá, a qualquer
ressalvadas as prestações vencidas. Como se verifica, não tempo, ingressar na demanda como assistente litisconsorcial
há possibilidade de a obrigação se extinguir por ato de (art. 54 do CPC), para assumir a defesa de seus interesses.
vontade do titular do direito real, pois a fonte da obrigação Por último, não restam dúvidas de que, entre o risco de o
propter rem é a situação jurídica de direito real, não a condômino inadimplente perder o imóvel e o risco de a
manifestação de vontade. Logo, a simples pactuação de comunidade de condôminos ter que arcar com as despesas
uma promessa de compra e venda não é suficiente para da unidade inadimplente, deve-se privilegiar o interesse
extinguir a responsabilidade do proprietário pelo pagamento coletivo dessa comunidade em detrimento do interesse
das despesas de condomínio. De outra parte, quanto à individual do condômino inadimplente. Conclui-se, portanto,
finalidade, a obrigação propter rem destina-se a manter a que os questionamentos referidos no EREsp 138.389-MG
conservação da coisa. Nessa esteira, ao se desconstituir a não obstam a interpretação da tese à luz da teoria da
penhora sobre o imóvel, o atendimento da finalidade de dualidade da obrigação. (REsp 1.442.840-PR/Inf. 567).
conservação acaba sendo comprometido, pois o condomínio Inteiro teor aqui.
passa a depender da incerta possibilidade de encontrar bens
penhoráveis no patrimônio do promitente comprador. Vale 05. Direito processual civil. Arguição de compensação em
lembrar, ainda, que a mera possibilidade de penhora do contestação. A compensação de dívida pode ser alegada
imóvel tem, por si só, o efeito psicológico de desestimular a em contestação. A compensação é meio extintivo da
inadimplência, de modo que a impossibilidade de penhora obrigação (art. 368 do CC), caracterizando-se como defesa
geraria o efeito inverso, atentando contra a finalidade da substancial de mérito ou espécie de contradireito do réu.
obrigação propter rem, que é manter a conservação da Nesse contexto, a compensação pode ser alegada em
coisa. Há premente necessidade, portanto, de se firmar uma contestação como matéria de defesa,
adequada interpretação da tese firmada pelo rito do art. 543- independentemente da propositura de reconvenção, em
C do CPC, de modo a afastar interpretações contrárias à obediência aos princípios da celeridade e da economia
natureza e à finalidade da obrigação propter rem. Uma processual. Com efeito, não é razoável exigir o
interpretação interessante pode ser obtida com a aplicação ajuizamento de ação reconvencional para a análise de
da teoria da dualidade do vínculo obrigacional à hipótese de eventual compensação de créditos, devendo-se
pluralidade de direitos subjetivos reais sobre a coisa. prestigiar a utilidade, a celeridade e a economia
Segundo essa teoria, a obrigação se decompõe em débito processuais, bem como obstar enriquecimento sem
(Schuld), o dever de prestar, e responsabilidade (Haftung), a causa. No mais, o Novo Código de Processo Civil, nos arts.
sujeição do devedor, ou terceiro, à satisfação da dívida. 336, 337 e 343, atento aos princípios da economia e da
Aplicando-se essa teoria à obrigação de pagar despesas celeridade processual, adotou a concentração das respostas
condominiais, verifica-se que o débito deve ser imputado a do réu, facultando a propositura da reconvenção na própria
quem se beneficia dos serviços prestados pelo condomínio, contestação. Precedente citado: REsp 781.427-SC, Quarta
no caso, o promitente comprador, valendo assim o brocardo Turma, DJe 9/9/2010. (REsp 1.524.730-MG/Inf. 567). Inteiro
latino ubi commoda, ibi incommoda. Até aqui, não há, a teor aqui.
rigor, nenhuma novidade. A grande diferença é que o
proprietário não se desvincula da obrigação, mantendo- 06. Direito processual civil. Possibilidade de alteração da
se na condição de responsável pelo pagamento da forma de pagamento dos alimentos em ação revisional. Em
dívida, enquanto mantiver a situação jurídica de sede de ação revisional de alimentos, é possível a
proprietário do imóvel. Essa separação entre débito e modificação da forma da prestação alimentar (em
responsabilidade permite uma solução mais adequada espécie ou in natura), desde que demonstrada a razão
para a controvérsia, preservando-se a essência da pela qual a modalidade anterior não mais atende à
obrigação propter rem. Restauram-se, desse modo, as finalidade da obrigação, ainda que não haja alteração na
conclusões de um entendimento já trilhado por esta Corte condição financeira das partes nem pretensão de
Superior, em voto proferido pelo Min. Ruy Rosado de Aguiar modificação do valor da pensão. A ação revisional de
no REsp 194.481-SP, Quarta Turma, DJ 22/3/1999. É certo

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alimentos tem como objeto a exoneração, redução ou real, à base de dados do Registro Nacional de Veículos
majoração do encargo, diante da modificação da situação Automotores (Renavam), de ordens judiciais de restrições
financeira de quem presta os alimentos ou os recebe, nos de veículos, inclusive registro de penhora. Para a utilização
termos do que dispõe o art. 1.699 do CC. A variabilidade desse sistema, assim como ocorre com a penhora on line
ou possibilidade de alteração que caracteriza os pelo sistema BACENJUD, é dispensável o exaurimento das
alimentos, que está prevista e reconhecida no referido vias administrativas tendentes à localização de bens do
artigo, não diz respeito somente à possibilidade de sua devedor. Essa conclusão pode ser extraída das
redução, majoração e exoneração na mesma forma em seguintes considerações: a) a execução é movida no
que inicialmente fixados, mas também à alteração da interesse do credor, a teor do disposto no artigo 612 do
própria forma do pagamento sem modificação de valor, CPC; b) o sistema RENAJUD é ferramenta idônea para
pois é possível seu adimplemento mediante prestação simplificar e agilizar a busca de bens aptos a satisfazer
em dinheiro ou o atendimento direto das necessidades os créditos executados; e c) a utilização do sistema
do alimentado (in natura), conforme dispõe o art. 1.701 informatizado permite a maior celeridade do processo
do CC. Nesse contexto, a ação de revisão de alimentos, (prática de atos com menor dispêndio de tempo e de
que tem rito ordinário e se baseia justamente na recursos) e contribui para a efetividade da tutela
característica de variabilidade da obrigação alimentar, jurisdicional. Observe-se que, nos termos do art. 655, I e II,
também pode contemplar a pretensão de modificação da do CPC, a penhora observará, preferencialmente, dinheiro e,
forma da prestação alimentar, devendo ser demonstrada em seguida, veículos de vias terrestres. Logo, em
a razão pela qual a modalidade anterior não mais atende cumprimento à referida ordem de preferência, no insucesso
à finalidade da obrigação, ainda que não haja alteração da utilização da ferramenta BACENJUD para a localização
na condição financeira das partes nem pretensão de de ativos financeiros, é lícito ao exequente requerer ao juízo
modificação do valor da pensão, cabendo ao juiz fixar que promova a consulta via RENAJUD a respeito da
ou autorizar, se for o caso, um novo modo de prestação. possível existência de veículos automotores em nome do
Precedente citado: REsp 1.284.177-DF, Terceira Turma, executado, revelando-se injustificável a recusa com esteio
DJe de 24/10/2011. (REsp 1.505.030-MG/Inf. 567). Inteiro no singelo fundamento da ausência de comprovação do
teor aqui. esgotamento de diligências na busca de bens penhoráveis.
Sob outra perspectiva, é notório que os órgãos públicos, em
07. Direito processual civil. Natureza jurídica do termo de sua grande maioria, como garantia de privacidade, não
acordo de parcelamento para fins de execução. O Termo de fornecem os dados cadastrais de particulares, o que torna
Acordo de Parcelamento que tenha sido subscrito pelo difícil a obtenção da informação pretendida. Além disso, a
devedor e pela Fazenda Pública deve ser considerado busca realizada no DETRAN local não é capaz de verificar a
documento público para fins de caracterização de título existência de veículos em outros Estados da Federação, ao
executivo extrajudicial, apto à promoção de ação contrário da pesquisa pelo sistema RENAJUD, que atinge
executiva, na forma do art. 585, II, do CPC. De fato, o art. todo o país. Dessa forma, atualmente, com o aparato
585, II, do CPC elenca o "documento público assinado pelo tecnológico posto a favor do Estado, a exigência de
devedor" dentre os títulos executivos extrajudiciais, mas não exaurimento das vias administrativas de busca bens do
traz o seu conceito, sendo que o art. 364 do CPC revela tão devedor se afigura verdadeiro mecanismo de
somente a força probante do referido documento, ao referir procrastinação do andamento do feito, o que vai de
que "faz prova não só da sua formação, mas também dos encontro à efetiva prestação jurisdicional. Ademais, o
fatos que o escrivão, o tabelião, ou o funcionário declarar CNJ, atento às repercussões dos sistemas BACENJUD,
que ocorreram na sua presença". Nesse contexto, o STJ, ao RENAJUD e INFOJUD como importantes ferramentas que
analisar situação similar, assentou que "a melhor asseguram a razoável duração do processo judicial, editou a
interpretação para a expressão documento público é no Recomendação 51/2015, cujo teor corrobora o entendimento
sentido de que tal documento é aquele produzido por exposto acima. (REsp 1.347.222-RS/Inf. 568). Inteiro teor
autoridade, ou em sua presença, com a respectiva aqui.
chancela, desde que tenha competência para tanto"
(REsp 487.913-MG, Primeira Turma, DJ 9/6/2003). Ademais, CONSUMIDOR
essa mesma linha de raciocínio é seguida pela doutrina, que
define documento público como "todo aquele cuja 01. SÚMULA 543. Na hipótese de resolução de contrato
elaboração se deu perante qualquer órgão público, como, de promessa de compra e venda de imóvel submetido
por exemplo um termo de confissão de dívida em repartição ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a
administrativa". Dessa forma, na hipótese em análise, não imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente
há como extirpar da declaração de vontades exarada pelas comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva
partes no âmbito administrativo a natureza de documento do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente,
público, na medida em que lavrada sob a chancela de órgão caso tenha sido o comprador quem deu causa ao
público e firmado pelo devedor, externando a vontade da desfazimento. Segunda Seção, aprovada em 26/8/2015,
Administração Pública e do particular. (REsp 1.521.531- DJe 31/8/2015.
SE/Inf. 568). Inteiro teor aqui.
02. Direito do consumidor. Fixação de multa por infração das
08. Direito processual civil. Desnecessidade de exaurimento normas de defesa do consumidor. A pena de multa
das vias extrajudiciais para a utilização do sistema aplicável às hipóteses de infração das normas de defesa
RENAJUD. A utilização do sistema RENAJUD com o do consumidor (art. 56, I, do CDC) pode ser fixada em
propósito de identificar a existência de veículos reais, não sendo obrigatória a sua estipulação em
penhoráveis em nome do executado não pressupõe a Unidade Fiscal de Referência (Ufir). O art. 57 do CDC, ao
comprovação do insucesso do exequente na obtenção estabelecer que a "multa será em montante não inferior a
dessas informações mediante consulta ao DETRAN. O duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da
RENAJUD é um sistema on line de restrição judicial de Unidade Fiscal de Referência (Ufir), ou índice equivalente
veículos criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que venha a substituí-lo", apenas define os limites para a
que interliga o Judiciário ao Departamento Nacional de fixação da multa. Precedente citado: AgRg no REsp
Trânsito (Denatran) e permite consultas e o envio, em tempo 1.385.625-PE, Primeira Turma, DJe 11/9/2013. (AgRg no

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GEAGU Objetiva567). Inteiro teor aqui.


REsp 1.466.104-PE/Inf. correntista, como depositário. É, pois, de reconhecer-se a
ilegitimidade do Banco do Brasil, na condição de gestor do
EMPRESARIAL CCF, para responder pela ausência de prévia notificação
aos correntistas inscritos no CCF, pelo que descabe cogitar-
01. Direito empresarial e processual civil. Responsabilidade se de sua responsabilização por danos materiais ou morais,
por ausência de notificação de inscrição de correntista no exceto nas hipóteses em que também figure como banco
CCF. Recurso repetitivo (art. 543-c do CPC e Res. 8/2008- sacado. Precedentes citados: REsp 1.425.756-RS, Terceira
STJ). Tema 874. O Banco do Brasil, na condição de Turma, DJe de 16/6/2014; e AgRg no AREsp 230.981-RS,
gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Quarta Turma, DJe de 17/9/2014. (REsp 1.354.590-RS/Inf.
Fundos (CCF), não tem a responsabilidade de notificar 568). Inteiro teor aqui.
previamente o devedor acerca da sua inscrição no
aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para PENAL E PROCESSO PENAL
as ações de reparação de danos diante da ausência de
prévia comunicação. Inicialmente, destaca-se que a 01. SÚMULA 542. A ação penal relativa ao crime de lesão
Segunda Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.061.134- corporal resultante de violência doméstica contra a
RS, fixou, para os efeitos do art. 543-C do CPC, a tese de mulher é pública incondicionada. Terceira Seção,
que "os órgãos mantenedores de cadastros possuem aprovada em 26/8/2015, DJe 31/8/2015.
legitimidade passiva para as ações que buscam a reparação
dos danos morais e materiais decorrentes da inscrição, sem 02. Direito penal e processual penal. Comprovação da
prévia notificação, do nome de devedor em seus cadastros materialidade do delito de violação de direito autoral.
restritivos, inclusive quando os dados utilizados para a Recurso repetitivo (art. 543-c do CPC e Res. 8/2008-STJ).
negativação são oriundos do CCF do Banco Central ou de Tema 926. É suficiente, para a comprovação da
outros cadastros mantidos por entidades diversas". No materialidade do delito previsto no art. 184, § 2º, do CP,
entanto, o CCF tem natureza, finalidade e características a perícia realizada, por amostragem, sobre os aspectos
específicas, que não se confundem com as de outros externos do material apreendido, sendo desnecessária a
cadastros a que se refere imediatamente a lógica daquele identificação dos titulares dos direitos autorais violados
julgado. Com efeito, o CCF tem natureza pública, visa à ou de quem os represente. No que diz respeito à
proteção do crédito em geral e à preservação da higidez do comprovação da materialidade dos delitos contra a
sistema financeiro nacional, servindo aos interesses da propriedade intelectual, a Lei 10.695/2003 (Lei Antipirataria),
coletividade (art. 192 do CF), envolvendo relevante interesse além de modificar o art. 184 do CP, incluiu, para facilitar a
de ordem pública, submetido a normas de cunho estatutário apuração desses crimes, os arts. 530-A e seguintes no CPP,
obrigatório, estabelecidas pelas autoridades monetárias, prevendo a possibilidade de elaboração de laudo pericial por
operando sob controle do Banco Central do Brasil (Bacen), apenas um perito. Previu-se, também, nos crimes de ação
sem prevalente intuito de obtenção de ganhos. Já os demais penal pública incondicionada - aos quais se aplica o
cadastros são de natureza privada, instituídos e mantidos no procedimento previsto nos arts. 530-B a 530-H -, a
interesse de particulares, sociedades empresárias atuantes, possibilidade de a autoridade policial agir de ofício,
sem vínculo sistêmico, no ramo comercial, submetidos a apreendendo o produto ilícito e tomando as medidas
normas de índole meramente contratual, operados por necessárias para cessar a atividade criminosa. Daí o debate
entidades privadas, que os exploram com nítido intuito da sobre: (a) se a materialidade do crime previsto no art. 184, §
obtenção de lucro. Segundo a Resolução 1.682/1990 do 2º, do CP pode ser comprovada mediante laudo pericial feito
Bacen, a inclusão no CCF ocorre automaticamente quando por amostragem do produto apreendido; (b) se é suficiente a
o cheque é devolvido por: a) falta de provisão de fundos análise de características externas do material apreendido
(motivo 12), na segunda apresentação; b) conta encerrada para a aferição da falsidade necessária à tipificação do delito
(motivo 13); e c) prática espúria (motivo 14). Conforme o art. descrito no art. 184, § 2º, do CP; e, ainda, (c) se, para a
10 da referida Resolução e o item 14 da Circular 2.989/2000 configuração do delito em questão, é dispensável a
do Bacen: "Nas devoluções pelos motivos 12 a 14, o banco identificação individualizada dos titulares dos direitos
sacado é responsável pela inclusão do emitente no Cadastro autorais violados ou de quem os represente. Quanto ao
de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF)". A mesma primeiro ponto em debate (a), realmente, o art. 530-D do
Resolução dispõe que a instituição financeira, ao recusar o CPP dispõe que "Subsequente à apreensão, será realizada,
pagamento de cheque por motivo que enseje a inclusão de por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente
ocorrência no CCF, deve providenciar a referida inclusão no habilitada, perícia sobre todos os bens apreendidos e
prazo de quinze dias, contados da data de devolução do elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou
cheque. Por sua vez, o correntista não fica prejudicado pela o processo". Entretanto, ainda que esse dispositivo legal
inscrição de seu nome no CCF, senão após previamente literalmente disponha que a perícia deve ser realizada sobre
notificado, pois as ocorrências do CCF devem ser "todos os bens apreendidos", a materialidade do crime
obrigatoriamente comunicadas pela instituição financeira previsto no art. 184, § 2º, do CP pode ser comprovada
sacada, por escrito, ao respectivo correntista emitente do mediante laudo pericial feito por amostragem do produto
cheque e, somente após, serão consolidadas pelo apreendido, já que basta a apreensão de um único objeto
executante dos serviços de compensação de cheques e para que, realizada a perícia e identificada a falsidade do
outros papéis e distribuídas, em meios magnéticos, às bem periciado, tenha-se como configurado o delito em
instituições bancárias, conforme o art. 16 e o art. 27, "a", da questão. Nesse sentido, a Sexta Turma do STJ (HC
Resolução 1.682/1990 do Bacen, alterado pelo art. 1º da 213.758-SP, DJe 10/4/2013) já definiu que "há critérios
Circular 2.250 do Bacen. Assim, tratando-se de sistema estatísticos aptos a permitir que o perito conclua sobre a
financeiro, não pode o Banco do Brasil encarregar-se de falsidade ou autenticidade dos bens a partir de exemplares
desempenhar função estranha, notificação prévia de representativos da amostra apreendida [...]
emitente de cheque sem provisão de fundos, dever que as contraproducente a análise de dezenas ou mesmo de
normas de regência do sistema atribuem corretamente a centenas de produtos praticamente idênticos para fins de
outro componente do sistema, o próprio banco sacado, comprovação da materialidade do delito de violação de
instituição financeira mais próxima do correntista, detentor direito autoral. Entender de forma diversa o disposto no art.
do cadastro desse cliente e do próprio saldo da conta do 530-D do Código de Processo Penal apenas dificultaria a

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GEAGU Objetiva
apuração do delito em questão e retardaria o término do direitos autorais violados ou de quem os represente
processo judicial, em inobservância ao princípio para a configuração do crime em questão. (REsp
constitucional da razoável duração do processo (CF, art. 5º, 1.456.239-MG e REsp 1.485.832-MG/ Inf. 567). Inteiro teor
LXXVIII)", de modo que "a exigência do legislador de que a aqui.
perícia seja realizada sobre todos os bens apreendidos se
presta, na verdade, não para fins de comprovação da 03. Direito penal. Crime de dano praticado contra a CEF. O
materialidade delitiva, mas para fins de dosimetria da pena, crime de dano (art. 163 do CP) não será qualificado (art.
mais especificamente para a exasperação da reprimenda- 163, parágrafo único, III) pelo fato de ser praticado
base, uma vez que se mostra mais acentuada a contra o patrimônio da Caixa Econômica Federal (CEF).
reprovabilidade do agente que reproduz, por exemplo, com O crime de dano qualificado previsto no art. 163, parágrafo
intuito de lucro, 500 obras intelectuais, [...] do que aquele único, III, do CP possui a seguinte redação: "Destruir,
que, nas mesmas condições reproduz apenas 20". Do inutilizar ou deteriorar coisa alheia: [...]. Parágrafo único - Se
mesmo modo, a Quinta Turma do STJ (AgRg no REsp o crime é cometido: [...] III - contra o patrimônio da União,
1.451.608-SP, DJe 5/6/2015) também entende que a Estado, Município, empresa concessionária de serviços
materialidade do delito previsto no art. 184, § 2º, do CP pode públicos ou sociedade de economia mista [...]". Diante da
ser comprovada mediante perícia por amostragem no literalidade do referido dispositivo penal, questiona-se se o
material apreendido. Em relação ao segundo ponto (b), dano ao patrimônio de entes públicos nele não
deve-se destacar que o STJ já possui o entendimento de mencionados, como as empresas públicas, permitiria ou não
que é dispensável excesso de formalismo para a a incidência da qualificadora em questão. Como se sabe, o
constatação da materialidade do crime de violação de direito Direito Penal é regido pelo princípio da legalidade, não
autoral, de modo que a simples análise de características havendo crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
externas dos objetos apreendidos é suficiente para a prévia cominação legal, nos termos do art. 5º, XXXIX, da CF
aferição da falsidade necessária à configuração do delito e do art. 2º do CP. Em observância ao mencionado
descrito no art. 184, § 2º, do CP. Nessa perspectiva, postulado, não se admite analogia em matéria penal quando
registre-se que, conforme a Quinta Turma do STJ, a análise utilizada de modo a prejudicar o réu. Desse modo, ainda
das características externas, tais como a padronização das que o legislador tenha pretendido proteger o patrimônio
impressões gráficas, presença de logotipo padrão, códigos público de forma geral por via da previsão da forma
IFPI, nome do fabricante, cor do disco, e a conclusão de que qualificada do dano e, além disso, mesmo que a
os objetos não possuem características de fabricação destruição ou a inutilização de bens de empresas
comuns, são suficientes a atestar a falsificação, "até mesmo públicas seja tão prejudicial quanto as cometidas em
porque, na maioria dos casos, o conteúdo da mídia face das demais pessoas jurídicas mencionadas na
falsificada é idêntico ao produto original, situando a norma penal em exame, o certo é que, não é possível
diferença unicamente em seus aspectos externos" (AgRg no incluir a CEF (empresa pública) no rol constante do
REsp 1.359.458-MG, DJe 19/12/2013). Ademais, seguindo o dispositivo em apreço. Precedente citado: AgRg no REsp
intuito da legislação pátria de facilitar o combate à pirataria, 1.469.224-DF, Sexta Turma, DJe 20/2/2015. (RHC 57.544-
não seria razoável exigir minúcias no laudo pericial, como a SP/Inf. 567). Inteiro teor aqui.
análise do conteúdo das mídias apreendidas, mesmo porque
"a caracterização da materialidade delitiva [...] pode ser 04. Direito penal. Configuração do crime de estupro de
afirmada [até mesmo] por exames visuais sobre a mídia vulnerável. Recurso repetitivo (art. 543-c do CPC e Res.
fraudada" (AgRg no REsp 1.441.840-MG, Quinta Turma, 8/2008-STJ). Tema 918. Para a caracterização do crime
DJe 10/6/2014). Com a mesma compreensão, a Sexta de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A, caput,
Turma do STJ (AgRg no REsp 1.499.185-MG, DJe do Código Penal, basta que o agente tenha conjunção
9/3/2015). Por fim, no tocante à terceira questão em carnal ou pratique qualquer ato libidinoso com pessoa
debate (c), de fato, para a configuração do crime em menor de 14 anos; o consentimento da vítima, sua
questão, é dispensável a identificação individualizada eventual experiência sexual anterior ou a existência de
dos titulares dos direitos autorais violados ou de quem relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não
os represente. Isso porque a violação de direito autoral afastam a ocorrência do crime. Inicialmente, registre-se
extrapola a individualidade do titular do direito, devendo que a interpretação jurisprudencial acerca do art. 224, "a",
ser tratada como ofensa ao Estado e a toda a do CP (antes da entrada em vigor da Lei 12.015/2009) já
coletividade, visto que acarreta a diminuição na vinha se consolidando no sentido de que respondia por
arrecadação de impostos, reduz a oferta de empregos estupro ou por atentado violento ao pudor o agente que
formais, causa prejuízo aos consumidores e aos mantinha relações sexuais (ou qualquer ato libidinoso) com
proprietários legítimos e fortalece o poder paralelo e a menor de 14 anos, mesmo sem violência real, e ainda que
prática de atividades criminosas conexas à venda mediante anuência da vítima (EREsp 1.152.864-SC,
desses bens, aparentemente inofensiva. Sob essa Terceira Seção, DJe 1º/4/2014). Com efeito, o fato de
orientação, posicionam-se tanto a Quinta Turma (HC alterações legislativas terem sido incorporadas pela Lei
273.164-ES, DJe 5/2/2014) quanto a Sexta Turma (AgRg no 12.015/2009 ao "Título IV - Dos Crimes contra a Dignidade
AREsp 416.554-SC, DJe 26/3/2015) do STJ. Além disso, o Sexual", especialmente ao "Capítulo II - Dos Crimes Sexuais
tipo penal descrito no art. 184, § 2º, do CP, é perseguido, contra Vulnerável", do CP, estanca, de uma vez por todas,
nos termos do art. 186, II, do mesmo diploma normativo, qualquer dúvida quanto à irrelevância, para fins de
mediante ação penal pública incondicionada, de modo aperfeiçoamento do tipo penal inscrito no caput do art. 217-
que não é exigida nenhuma manifestação do detentor do A, de eventual consentimento da vítima ao ato libidinoso, de
direito autoral violado para que se dê início à ação anterior experiência sexual ou da existência de
penal. Consequentemente, não é coerente se exigir a relacionamento amoroso entre ela e o agente. Isso porque, a
sua individualização para a configuração do delito em despeito de parte da doutrina sustentar o entendimento de
questão. Saliente-se, ainda, que o delito previsto no art. que ainda se mantém a discussão sobre vulnerabilidade
184, § 2º, do CP é de natureza formal. Portanto, não absoluta e vulnerabilidade relativa, o tipo penal do art. 217-A
demanda, para sua consumação, a ocorrência de do CP não traz como elementar a expressão "vulnerável". É
resultado naturalístico, o que corrobora a certo que o nomem iuris que a Lei 12.015/2009 atribui ao
prescindibilidade de identificação dos titulares dos citado preceito legal estipula o termo "estupro de

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GEAGU
vulnerável".Objetiva
Entretanto, como salientado, a "vulnerabilidade" regra, a mulher) é menor de 14 anos, com respaldo nos
não integra o preceito primário do tipo. Na verdade, o costumes sociais ou na tradição local, tem raízes em uma
legislador estabelece três situações distintas em que a cultura sexista - ainda muito impregnada no âmago da
vítima poderá se enquadrar em posição de vulnerabilidade, sociedade ocidental, sobretudo em comunidades
dentre elas: "Ter conjunção carnal ou praticar outro ato provincianas, segundo a qual meninas de tenra idade, já
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos". Não cabe, informadas dos assuntos da sexualidade, estão aptas a
destarte, ao aplicador do direito relativizar esse dado manter relacionamentos duradouros e estáveis (envolvendo,
objetivo, com o fim de excluir a tipicidade da conduta. A obviamente, a prática sexual), com pessoas adultas.
propósito, há entendimento doutrinário no viés de que: Ressalta-se, por fim, que praticamente todos os países do
"Hoje, com louvor, visando acabar, de uma vez por todas, mundo repudiam o sexo entre um adulto e um adolescente -
com essa discussão, surge em nosso ordenamento jurídico e, mais ainda, com uma criança - e tipificam como crime a
penal, fruto da Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, o conduta de praticar atos libidinosos com pessoa ainda
delito que se convencionou denominar de estupro de incapaz de ter o seu consentimento reconhecido como
vulnerável, justamente para identificar a situação de válido. Precedentes citados: AgRg nos EDcl no AREsp
vulnerabilidade que se encontra a vítima. Agora, não 191.197-MS, Quinta Turma, DJe 19/12/2014; e AgRg no
poderão os Tribunais entender de outra forma quando a REsp 1.435.416-SC, Sexta Turma, DJe 3/11/2014. (REsp
vítima do ato sexual for alguém menor de 14 (quatorze) 1.480.881-PI/Inf. 568). Inteiro teor aqui.
anos. [...]. O tipo não está presumindo nada, ou seja, está
tão somente proibindo que alguém tenha conjunção carnal 05. Direito penal. Extinção da punibilidade
ou pratique outro ato libidinoso com menor de 14 anos, bem independentemente do adimplemento da pena de multa.
como com aqueles mencionados no § 1º do art. 217-A do Recurso repetitivo (art. 543-c do CPC e Res. 8/2008-STJ).
Código Penal. Como dissemos anteriormente, existe um Tema 931. Nos casos em que haja condenação a pena
critério objetivo para análise da figura típica, vale dizer, a privativa de liberdade e multa, cumprida a primeira (ou a
idade da vítima". Dessa forma, não se pode qualificar ou restritiva de direitos que eventualmente a tenha
etiquetar comportamento de crianças, de modo a desviar a substituído), o inadimplemento da sanção pecuniária
análise da conduta criminosa ou justificá-la. Expressões não obsta o reconhecimento da extinção da
como "amadurecimento sexual da adolescente", punibilidade. A Lei 9.268/1996 deu nova redação ao art.
"experiência sexual pretérita da vítima" ou mesmo a 51 do CP e extirpou do diploma jurídico a possibilidade
utilização das expressões "criança prostituta" ou "criança de conversão da pena de multa em detenção, no caso de
sedutora" ainda frequentam o discurso jurisprudencial, como inadimplemento da sanção pecuniária. Após a alteração
se o reconhecimento de tais circunstâncias, em alguma legislativa, o mencionado artigo passou a vigorar com a
medida, justificasse os crimes sexuais perpetrados. Esse seguinte redação: "Transitada em julgado a sentença
posicionamento, todavia, implica a impropriedade de se condenatória, a multa será considerada dívida de valor,
julgar a vítima da ação delitiva para, a partir daí, julgar-se o aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à
agente. Refuta-se, ademais, o frágil argumento de que o dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que
desenvolvimento da sociedade e dos costumes possa concerne às causas interruptivas e suspensivas da
configurar fator que não permita a subsistência de uma prescrição". Portanto, diante da nova redação dada ao CP,
presunção que toma como base a innocentia consilli da a pena de multa não mais possui o condão de constranger o
vítima. Basta um rápido exame da história das ideias penais direito à locomoção do sentenciado (STF: AgRg no HC
- e, em particular, das opções de política criminal que deram 81.480-SP, Primeira Turma, DJ 5/4/2002; e HC 73.758-SP,
ensejo às sucessivas normatizações do Direito Penal Segunda Turma, DJ 24/9/1999). É imperioso frisar que a
brasileiro - para se constatar que o caminho da nova redação do art. 51 do CP trata da pena de multa como
"modernidade" é antípoda a essa espécie de proposição. dívida de valor já a partir do trânsito em julgado da sentença
Deveras, de um Estado ausente e de um Direito Penal penal condenatória, ou seja, em momento, inclusive, anterior
indiferente à proteção da dignidade sexual de crianças e ao próprio cumprimento da pena privativa de liberdade ou da
adolescentes, evoluiu-se, paulatinamente, para uma Política restritiva de direitos. Isso implica afirmar que o jus puniendi
Social e Criminal de redobrada preocupação com o saudável do Estado exaure-se ao fim da execução da pena
crescimento físico, mental e afetivo do componente infanto- privativa de liberdade ou da restritiva de direitos,
juvenil de nossa população, preocupação que passou a ser porquanto, em nenhum momento, engloba a pena de
compartilhada entre o Estado, a sociedade e a família, com multa, considerada dívida de valor a partir do trânsito
reflexos na dogmática penal. Assim é que novas tipificações em julgado da sentença penal condenatória.
vieram reforçar a opção do Estado brasileiro - na linha de Entendimento oposto, ou seja, a possibilidade de
similar esforço mundial - de combater todo tipo de violência, constrição da liberdade daquele que é apenado somente
sobretudo a sexual, contra crianças e adolescentes. É em razão de sanção pecuniária, consistiria em
anacrônico, portanto, qualquer discurso que procure legitimação da prisão por dívida, em afronta, portanto,
considerar a modernidade, a evolução moral dos costumes ao disposto no art. 5º, LXVII, da CF e, ainda, no art. 7º, 7,
sociais e o acesso à informação como fatores que se da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
contrapõem à natural tendência civilizatória de proteger (Pacto de San José da Costa Rica), cujo texto estabelece
certos grupos de pessoas física, biológica, social ou que "ninguém deve ser detido por dívida". Dessa forma,
psiquicamente fragilizadas. Além disso, não há que se o reconhecimento da pena de multa como dívida de
falar em aplicação do princípio da adequação social, valor atribui à sanção pecuniária caráter extrapenal. Se a
porquanto no julgamento de caso de estupro de natureza da multa, após o trânsito em julgado da
vulnerável deve-se evitar carga de subjetivismo, sob condenação, fosse compreendida como de caráter penal,
pena de ocorrência de possíveis danos relevantes ao mesmo diante da extinção da pena privativa de liberdade ou
bem jurídico tutelado - o saudável crescimento físico, da restritiva de direitos pelo cumprimento, os efeitos da
psíquico e emocional de crianças e adolescentes - que, sentença se conservariam até o adimplemento da pena
recorde-se, conta com proteção constitucional e pecuniária, porquanto não reconhecida a extinção da
infraconstitucional, não sujeito a relativizações. Ora, a punibilidade do apenado. Após a alteração legislativa que
tentativa de não conferir o necessário relevo à prática de considerou a pena de multa como dívida de valor, deve-se
relações sexuais entre casais em que uma das partes (em assinalar também a alteração da competência para a

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execução da sanção, exclusiva, então, da Fazenda Pública, hipótese, contudo, os crimes são conexos, o que viabilizou a
conforme disposto no enunciado da Súmula 521 do STJ: "A ocorrência, no mesmo processo, tanto de uma sentença
legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de condenatória quanto de um acórdão condenatório. Isso
pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva porque a sentença condenou por um crime e absolveu por
da Fazenda Pública". Portanto, extinta a pena privativa de outro, e o acórdão reformou a absolvição. Ressaltado isso,
liberdade (ou restritiva de direitos) pelo seu enfatiza-se que a prescrição não é contada separadamente
cumprimento, o inadimplemento da pena de multa não nos casos de crimes conexos que sejam objeto do mesmo
obsta a extinção da punibilidade do apenado, processo. Ademais, para efeito de prescrição, o art. 117, §
porquanto, após a nova redação do art. 51 do CP, dada 1º, do CP dispõe que: "[...] Nos crimes conexos, que sejam
pela Lei 9.268/1996, a pena pecuniária é considerada objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a
dívida de valor e, desse modo, possui caráter interrupção relativa a qualquer deles". Portanto, observa-se
extrapenal, de forma que sua execução é de que, a despeito de a sentença ter sido em parte
competência exclusiva da Procuradoria da Fazenda condenatória e em parte absolutória, ela interrompeu o
Pública. (REsp 1.519.777-SP/Inf. 568). Inteiro teor aqui. prazo prescricional de ambos os crimes julgados.
Outrossim, o acórdão, em que pese ter confirmado a
06. Direito processual penal. Utilização de formulários falsos condenação perpetrada pelo Juiz singular, também
da receita federal e competência. O fato de os agentes, condenou o agente - que, até então, tinha sido absolvido
utilizando-se de formulários falsos da Receita Federal, - pelo outro crime, de sorte que interrompeu,
terem se passado por Auditores desse órgão com novamente, a prescrição de ambos os delitos conexos.
intuito de obter vantagem financeira ilícita de Precedente citado do STF: HC 71.983-SP, Segunda Turma,
particulares não atrai, por si só, a competência da DJ 31/5/1996. (RHC 40.177-PR/Inf. 568). Inteiro teor aqui.
Justiça Federal. Isso porque, em que pese tratar-se de
uso de documento público, observa-se que a falsidade 09. Direito penal. Livramento condicional no crime de
foi empregada, tão somente, em detrimento de associação para o tráfico. O condenado por associação
particular. Assim sendo, se se pudesse cogitar de para o tráfico (art. 35 da Lei 11.343/2006), caso não seja
eventual prejuízo sofrido pela União, ele seria apenas reincidente específico, deve cumprir 2/3 da pena para
reflexo, na medida em que o prejuízo direto está fazer jus ao livramento condicional. Isso porque a
nitidamente limitado à esfera individual da vítima, uma própria Lei 11.343/2006, no parágrafo único do art. 44,
vez que as condutas em análise não trazem prejuízo prevê requisito objetivo específico para a concessão do
direto e efetivo a bens, serviços ou interesses da União, livramento condicional ao delito de associação para o
de suas entidades autárquicas ou empresas públicas tráfico: "Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e
(art. 109, IV, da CF). (CC 141.593-RJ/Inf. 568). Inteiro teor 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de
aqui. sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de
07. Direito penal. Termo inicial do prazo prescricional do direitos. Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput
crime previsto no art. 2º, i, da lei 8.137/1990. O termo inicial deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o
do prazo prescricional da pretensão punitiva do crime cumprimento de dois terços da pena, vedada sua
previsto no art. 2º, I, da Lei 8.137/1990 ("fazer declaração concessão ao reincidente específico". Assim, em
falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, observância ao Princípio da Especialidade, aplica-se o
ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou disposto no art. 44, parágrafo único, da Lei 11.343/2006 em
parcialmente, de pagamento de tributo") é a data em que detrimento dos incisos I e II do art. 83 do CP. Ressalte-se
a fraude é perpetrada, e não a data em que ela é que o lapso temporal de cumprimento de pena para
descoberta. Isso porque o referido tipo tem natureza de obtenção do livramento condicional quanto ao delito do
crime formal, instantâneo, sendo suficiente a conduta art. 35 da Lei 11.343/2006 independe da análise do
instrumental, haja vista não ser necessária a efetiva caráter hediondo do crime. Precedentes citados: AgRg no
supressão ou redução do tributo para a sua REsp 1.484.138-MS, Sexta Turma, DJe de 15/6/2015; e HC
consumação, bastando o emprego da fraude. Assim, o 292.882-RJ, Sexta Turma, DJe de 18/8/2014. (HC 311.656-
fato de a fraude ter sido empregada em momento RJ/Inf. 568). Inteiro teor aqui.
determinado, ainda que irradie efeitos até ser
descoberta, não revela conduta permanente, mas sim, 10. Direito penal. Compensação entre a atenuante da
crime instantâneo de efeitos permanentes - os quais confissão espontânea e a agravante de violência contra a
perduraram até a descoberta do engodo. Precedente mulher. Compensa-se a atenuante da confissão
citado do STJ: RHC 9.625-CE, Sexta Turma, DJ 27/8/2001. espontânea (art. 65, III, "d", do CP) com a agravante de
Precedente citado do STF: RHC 90.532 ED, Tribunal Pleno, ter sido o crime praticado com violência contra a mulher
DJe 5/11/2009. (RHC 36.024-ES/Inf. 568). Inteiro teor aqui. (art. 61, II, "f", do CP). O STJ tem firme entendimento de
que a atenuante da confissão espontânea, por envolver
08. Direito penal. Interrupção de prescrição de pretensão a personalidade do agente, deve ser utilizada como
punitiva em crimes conexos. No caso de crimes conexos circunstância preponderante quando do concurso entre
que sejam objeto do mesmo processo, havendo agravantes e atenuantes, nos termos consignados pelo
sentença condenatória para um dos crimes e acórdão art. 67 do CP. Nessa linha intelectiva, o STJ, por ocasião do
condenatório para o outro delito, tem-se que a julgamento do REsp 1.341.370-MT, Terceira Seção, DJe
prescrição da pretensão punitiva de ambos é 17/4/2013, submetido ao rito do art. 543-C do CPC, pacificou
interrompida a cada provimento jurisdicional (art. 117, § a compreensão de que a agravante da reincidência e a
1º, do CP). De antemão, salienta-se que o art. 117, IV, do atenuante da confissão espontânea, por serem
CP enuncia que: "O curso da prescrição interrompe-se: IV - igualmente preponderantes, devem ser compensadas
pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios entre si. Nessa senda, o referido entendimento deve ser
recorríveis". Nesse contexto, é importante ressaltar que, se a estendido, por interpretação analógica, à hipótese em
sentença é condenatória, o acórdão só poderá ser análise, dada sua similitude, por também versar sobre a
confirmatório ou absolutório, assim como só haverá acórdão possibilidade de compensação entre circunstâncias
condenatório no caso de prévia sentença absolutória. Na preponderantes.( AgRg no AREsp 689.064-RJ/Inf. 568).

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Inteiro teorObjetiva
aqui. benefício originário de aposentadoria conta-se após o
deferimento do ato de pensionamento. Isso porque, em
11. Direito penal. Crime de coação no curso de decorrência do princípio da actio nata, a legitimidade do
procedimento investigatório criminal (PIC). O crime de pensionista para propositura de ação de revisão advém
coação no curso do processo (art. 344 do CP) pode ser apenas com o óbito do segurado, já que, por óbvio,
praticado no decorrer de Procedimento Investigatório aquele não era titular do benefício originário, direito
Criminal instaurado no âmbito do Ministério Público. personalíssimo. (REsp 1.529.562-CE/Inf. 568). Inteiro teor
Isso porque, além de o PIC servir para os mesmos fins e aqui.
efeitos do inquérito policial, o STJ já reconheceu que,
mesmo as ameaças proferidas antes da formalização do 03. Direito tributário e previdenciário. Gratificações e
inquérito caracterizam o crime de coação no curso do prêmios e contribuição previdênciária. Não incide
processo, desde que realizadas com o intuito de contribuição previdenciária sobre prêmios e
influenciar o resultado de eventual investigação criminal gratificações de caráter eventual. A fim de verificar a sua
(HC 152.526-MG, Quinta Turma, DJe 19/12/2011). (HC inclusão ou não no salário-de-contribuição, uma das
315.743-ES/Inf. 568). Inteiro teor aqui. principais características a ser aferida sobre as
gratificações e os prêmios é a habitualidade ou não de
PREVIDENCIÁRIO seu pagamento. Havendo pagamento com habitualidade,
manifesto o caráter salarial, implicando ajuste tácito
01. Direito previdenciário. Hipótese de mitigação do requisito entre as partes, razão pela qual incide contribuição
etário para a concessão de salário-maternidade. O não previdenciária. A propósito, o STF possui entendimento
preenchimento do requisito etário exigido para a filiação firmado pela Súmula 207 ("As gratificações habituais,
ao RGPS como segurado especial não constitui óbice à inclusive a de natal, consideram-se tacitamente
concessão de salário-maternidade a jovem menor de convencionadas, integrando o salário"). Tratando-se de
dezesseis anos impelida a exercer trabalho rural em prêmio ou gratificação eventual, fica afastada a
regime de economia familiar (art. 11, VII, "c" e § 6º da Lei incidência da contribuição, conforme o art. 28, § 9º, "e",
8.213/1991). Realmente, a Lei 8.213/1991 fixou a idade 7, da Lei 8.212/1991. Não incide contribuição
mínima de dezesseis anos para que se ostente a condição previdenciária sobre salário-família. A doutrina aponta
de segurado especial a que se refere o art. 11, VII, "c" e § que a natureza jurídica do salário-família não é de
6º, desse mesmo diploma legal. Além disso, a idade mínima salário, em que pese o nome, na medida em que não é
de dezesseis anos constitui o limite constitucional para o pago como contraprestação de serviços prestados pelo
trabalho (art. 7º, XXXIII, da CF) e o marco etário para filiação empregado. Realizando-se uma interpretação
ao RGPS. Apesar disso, não se pode admitir, na hipótese, sistemática da legislação de regência (art. 70 da Lei
que o não preenchimento do requisito etário para filiação ao 8.213/1991 e art. 28, § 9º, "a", da Lei 8.212/1991), verifica-
RGPS prejudique o acesso ao benefício previdenciário do se que se trata de benefício de natureza previdenciária
salário-maternidade. Inicialmente, o sistema de Seguridade não incorporável ao cômputo dos rendimentos que
Social, em seu conjunto, tem por objetivo constitucional integrarão a aposentadoria do trabalhador. (REsp
proteger o indivíduo, assegurando direitos à saúde, à 1.275.695-ES/Inf. 568). Inteiro teor aqui.
assistência social e à previdência social, revelando-se,
dessa forma, elemento indispensável para garantia da TRIBUTÁRIO
dignidade humana. Nesse contexto, prejudicar o acesso ao
benefício previdenciário em razão do não 01. Direito tributário. Desinfluência da emissão de dcg no
preenchimento do requisito etário implicaria desamparar marco inicial da prescrição tributária. A emissão de "Débito
não só a jovem trabalhadora, mas também o nascituro, Confessado em GFIP - DCG" não altera o termo inicial
que seria privado não apenas da proteção social, como da prescrição tributária. O "Débito Confessado em GFIP -
também do convívio familiar, já que sua mãe teria de DCG" é o documento no qual se registra o débito decorrente
voltar às lavouras após o nascimento. Além do mais, a de divergência entre os valores recolhidos em documento de
intenção do legislador infraconstitucional ao impor o arrecadação previdenciária e os declarados em "Guia de
limite mínimo de dezesseis anos de idade para a Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e
inscrição no RGPS era a de evitar a exploração do Informações à Previdência Social - GFIP", nos termos do art.
trabalho da criança e do adolescente, ancorado no art. 460, V, da Instrução Normativa 971/2009 da Secretaria da
7º, XXXIII, da CF. Negar o salário-maternidade à jovem Receita Federal. Salientado isso, verifica-se que a
grávida a que se refere a hipótese contraria essa jurisprudência deste Tribunal Superior firmou
proteção, na medida em que coloca a adolescente em compreensão no sentido de que a "entrega de
situação ainda mais vulnerável, afastando a proteção Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais -
social de quem mais necessita. Corroborando esse DCTF, de Guia de Informação e Apuração do ICMS - GIA,
entendimento, o STJ já assentou a orientação de que a ou de outra declaração dessa natureza prevista em lei
legislação, ao vedar o trabalho infantil, teve por escopo (dever instrumental adstrito aos tributos sujeitos a
a proteção da criança ou adolescente, tendo sido lançamento por homologação), é modo de constituição
estabelecida a proibição em seu benefício, e não em seu do crédito tributário, dispensando a Fazenda Pública de
prejuízo, aplicando-se o princípio da universalidade da qualquer outra providência conducente à formalização
cobertura da Seguridade Social (REsp 541.103-RS, do valor declarado" (AgRg no AgRg no REsp 1.143.085-
Quinta Turma, DJ 1º/7/2004; e AgRg no Ag 922.625-SP, SP, Primeira Turma, DJe 3/6/2015). Desse modo, conforme
Sexta Turma, DJ 29/10/2007). (REsp 1.440.024-RS/Inf. a jurisprudência do STJ, quando o crédito tributário for
567). Inteiro teor aqui. constituído por meio de GFIP, o prazo prescricional
previsto no art. 174 do CTN para a propositura da
02. Direito previdenciário. Prazo decadencial do direito de execução judicial começará a correr da data do
pleitear revisão de pensão previdenciária decorrente de vencimento da obrigação tributária e, quando não
morte. O prazo decadencial do direito de revisar o valor houver pagamento, da data da entrega da declaração, se
do salário de benefício da pensão previdenciária por esta for posterior àquele (AgRg no AREsp 349.146-SP,
morte mediante o recálculo da renda mensal inicial do Primeira Turma, DJe 14/11/2013). Assim, uma vez

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constituído Objetiva
o crédito por meio de declaração realizada pelo
contribuinte, compete à autoridade tributária tão somente a
realização de cobrança, não caracterizando a emissão do
DCG Batch novo lançamento, e, consequentemente, marco
de início de prazo prescricional. (REsp 1.497.248-RS/Inf.
567). Inteiro teor aqui.

02. Direito tributário. Incidência de ir sobre lucros cessantes.


Os valores percebidos, em cumprimento de decisão
judicial, a título de pensionamento por redução da
capacidade laborativa decorrente de dano físico
causado por terceiro são tributáveis pelo Imposto de
Renda (IR). Para a materialização da hipótese de incidência
do IR, requer-se, simplesmente, a existência de acréscimo
patrimonial, consistente na aquisição de riqueza nova,
independentemente da fonte ou procedência do ganho,
exceto em situações de imunidade ou isenção. Tal
afirmação encontra-se em sintonia com o princípio tributário
intitulado pecunia non olet, que, de acordo com a doutrina,
"significa que o 'dinheiro não tem cheiro'", razão pela qual "o
tributo será cobrado de todos aqueles que apresentam
capacidade contributiva (capacidade econômica)". Feitas
essas considerações, sob a ótica do Código Civil,
notadamente dos arts. 402 e 403, tem-se que indenização
corresponde a perdas e danos, devendo englobar não
apenas o que o indivíduo perdeu, como também o que
deixou de lucrar, este último denominado "lucros cessantes".
Nesse contexto, a natureza indenizatória dos lucros
cessantes não os retira do âmbito de incidência do IR,
pois o que interessa para a tributação por intermédio do
referido tributo, como visto acima, é a obtenção de
riqueza nova, ou seja, a ocorrência de acréscimo
patrimonial. Assim, para fins de incidência do IR, o
nomen iuris atribuído à verba é irrelevante. No caso dos
valores percebidos a título de pensionamento por
redução da capacidade laborativa decorrente de dano
físico causado por terceiro, não obstante a verba
ostente a natureza de lucros cessantes - o que a
qualifica como verba indenizatória -, há acréscimo
patrimonial apto a autorizar a incidência do IR com base
no art. 43, II, do CTN. (REsp 1464786-RS/Inf. 568). Inteiro
teor aqui.

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