Você está na página 1de 5

A SUPLEMENTAÇÃO DE BICARBONATO DE SÓDIO MELHORA

O DESEMPENHO EM PROTOCOLO DE FADIGA ISOMÉTRICO


SODIUM BICARBONATE SUPPLEMENTATION IMPROVES PERFORMANCE IN ISOMETRIC Artigo Original
FATIGUE PROTOCOL Original Article
Artículo Original
LA SUPLEMENTACIÓN DE BICARBONATO DE SODIO MEJORA EL DESEMPEÑO EN PROTOCOLO
DE FATIGA ISOMÉTRICO
Cezar Augusto Souza Casarin¹ RESUMO
(Profissional de Educação Física)
Rafael Ambrósio Battazza² Introdução: A suplementação de bicarbonato de sódio (NaHCO3) tem demonstrado atenuar a fadiga e
(Profissional de Educação Física) melhorar o desempenho do exercício de alta intensidade, mas os efeitos sobre a manutenção de contrações
Marco Aurélio Lamolha² isométricas são pouco claros. Objetivo: Investigar o efeito do NaHCO3 no desempenho de indivíduos subme-
(Farmacêutico)
tidos ao protocolo de fadiga em exercício isométrico no dinamômetro isocinético. Métodos: Doze homens
Marcelo Martins Kalytczak¹
(Profissional de Educação Física) participaram do estudo randomizado, duplo-cego, cruzado e controlado por placebo. Sessenta minutos após
Fabiano Politti¹ ingestão de 0,3 g/kg de massa corporal de NaHCO3 ou placebo, os participantes realizaram protocolo isomé-
(Fisioterapeuta) trico de fadiga dos extensores do joelho direito, com duração de oito minutos, a 70% da contração isométrica
Alexandre Lopes Evangelista¹ voluntária máxima. Foi considerado indicador de fadiga o momento em que o torque aplicado diminuiu
(Profissional de Educação Física)
Andrey Jorge Serra³
para 50% do valor inicial. A duração da resistência foi avaliada com a manutenção da tarefa acima de 50% do
(Profissional de Educação Física) torque inicial. As concentrações de lactato e pH do sangue, assim como os índices de percepção subjetiva de
Roberta Luksevicius Rica² esforço (PSE) e dor (PSD) foram analisados. A PSE da sessão foi avaliada 30 minutos após o teste. Resultados:
(Profissional de Educação Física) O pH sanguíneo foi maior pré-protocolo e no indicador de fadiga após ingestão de NaHCO3, assim como as
Marcos Rodolfo Ramos Paunksnis¹
(Profissional de Educação Física)
concentrações de lactato sanguíneo no indicador da fadiga e ao final do protocolo (p < 0,001). A suplementação
Caue Vazquez La Scala Teixeira4 de NaHCO3 aumentou o tempo para atingir a fadiga e atenuou o declínio do pico de torque isométrico no final
(Profissional de Educação Física) do protocolo (p < 0,001). A PSE e PSD foram menores ao final do protocolo com NaHCO3 e a PSE da sessão
Aylton Figueira Junior5 foi atenuada (p < 0,001). Conclusão: A suplementação de NaHCO3 melhora o desempenho de contrações
(Profissional de Educação Física)
isométricas sustentadas e atenua a carga interna. Nível de Evidência II; Estudos diagnósticos – Investigação de
Danilo Sales Bocalini6
(Profissional de Educação Física) um exame para diagnóstico.

1. Universidade Nove de Julho Descritores: Fadiga muscular; Bicarbonato de sódio; Alcalose; Exercício.
(UNINOVE), Programa de Pós-
Graduação em Ciências da ABSTRACT
Reabilitação, São Paulo, SP, Brasil.
2. Universidade São Judas Tadeu
Introduction: Although sodium bicarbonate (NaHCO3) supplementation has been shown to decrease fatigue
(USJT), Programa de Pós-Graduação and improve high-intensity exercise performance, the effects on maintenance of isometric contractions are not clear.
em Educação Física, Laboratório de Objective: To investigate the effect of NaHCO3 on the performance of individuals subjected to a fatigue protocol in an
Fisiologia Translacional, São Paulo, isometric exercise on the isokinetic dynamometer. Methods: Participants were 12 men in a randomized, double-blind,
SP, Brasil.
crossover, placebo-controlled trial. Sixteen minutes after the intake of 0.3 g/kg of body mass of NaHCO3 or placebo, the
3. Universidade Nove de Julho
(UNINOVE), Programa de Pós participants performed an isometric fatigue protocol of right knee extension exercises during eight minutes at 70% of
Graduação em Biofotonica Aplicada em maximum voluntary isometric contraction. The fatigue indicator was the time point at which torque was reduced to
Ciências da Saúde, São Paulo, SP, Brasil. 50% of the initial value. The length of resistance was assessed by maintaining the task over 50% of the initial torque.
4. Faculdade Praia Grande, Lactate/blood pH concentrations and rate of perceived exertion (RPE) and pain (RPP) indexes were analyzed. The RPE
Departamento de Educação Física,
of the session was evaluated 30 minutes after the test. Results: Blood pH was higher in pre-protocol and in the fatigue
Praia Grande, SP, Brasil.
5. Universidade São Judas Tadeu (USJT), indicator after NaHCO3 intake, as were the blood lactate concentrations in the fatigue indicator and at the end of
Programa de Pós-Graduação em the protocol (p<0.001). NaHCO3 supplementation increased the time to fatigue and lessened the rate of decline of
Educação Física, São Paulo, SP, Brasil. isometric peak torque at the end of the protocol (p<0.001). RPE and RPP were smaller at the end of the protocol in
6. Universidade Federal do Espírito the NaHCO3 condition, and the RPE of the session was diminished (p<0.001). Conclusion: NaHCO3 supplementation
Santo, Laboratório de Fisiologia e
enhances steady isometric contraction performance and reduces the internal load. Level of Evidence II; Diagnostic
Bioquímica Experimental, Vitória,
ES, Brasil. studies - Investigation of an examination for diagnosis.

Correspondence: Keywords: Muscle fatigue; Sodium bicarbonate; Alkalosis; Exercise.


Danilo Sales Bocalini. Universidade
Federal do Espirito Santo. RESUMEN
Rua Militao Barbosa de Lima, 132,
Centro, São Bernardo do Campo, SP, Introducción: La suplementación de bicarbonato de sodio (NaHCO3) ha demostrado atenuar la fatiga y mejorar el
Brazil. 09720-420. desempeño del ejercicio de alta intensidad, pero los efectos sobre el mantenimiento de contracciones isométricas son
bocaliniht@hotmail.com poco claros. Objetivo: Investigar el efecto de NaHCO3 en el desempeño de individuos sometidos al protocolo de fatiga
en ejercicio isométrico en el dinamómetro isocinético. Métodos: Doce hombres participaron del estudio aleatorizado,
doble ciego, cruzado y controlado por placebo. Sesenta minutos después de la ingestión de 0,3 g/kg de masa corporal
de NaHCO3 o placebo, los participantes realizaron protocolo isométrico de fatiga de los extensores de la rodilla derecha
40 Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019
con duración de ocho minutos a 70% de la contracción isométrica voluntaria máxima. Se consideró indicador de fatiga
el momento en que el torque aplicado disminuyó para 50% del valor inicial. La duración de la resistencia fue evaluada
con el mantenimiento de la tarea por encima del 50% del torque inicial. Fueron analizadas las concentraciones de
lactato y pH sanguíneos, así como los índices de percepción subjetiva de esfuerzo (PSE) y dolor (PSD). La PSE de la sesión
fue evaluada 30 minutos después del test. Resultados: El pH sanguíneo fue mayor pre-protocolo y en el indicador de
fatiga después de la ingestión de NaHCO3, así como las concentraciones de lactato sanguíneo en el indicador de la
fatiga y al final del protocolo (p<0,001). La suplementación de NaHCO3 aumentó el tiempo para alcanzar la fatiga y
atenuó el declive del pico de torque isométrico al final del protocolo (p<0,001). La PSE y PSD fueron menores al final
del protocolo con NaHCO3 y la PSE de la sesión fue atenuada (p<0,001). Conclusión: La suplementación de NaHCO3
mejora el rendimiento de las contracciones isométricas sostenidas y atenúa la carga interna. Nivel de Evidencia II;
Estudios diagnósticos - Investigación de un examen para diagnóstico.

Descriptores: Fatiga muscular; Bicarbonato de sodio; Alcalosis; Ejercicio.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1517-869220192501190091 Artigo recebido em 12/01/2018 aprovado em 16/07/2018

INTRODUÇÃO consequentemente, uma melhora do desempenho na tarefa realizada18.


A fadiga muscular (FM) é um fenômeno complexo, multifatorial e Assim, o objetivo deste estudo foi investigar o efeito da ingestão de
dependente da tarefa realizada com inúmeros mecanismos que podem NaHCO3 no desempenho de indivíduos saudáveis submetidos a pro-
impactar a magnitude do decréscimo de força1,2. Especificamente nos tocolo de fadiga em exercício isométrico no dinamômetro isocinético.
exercícios de alta intensidade com predominância do sistema glicolíti-
co, a alta hidrólise de adenosina trifosfato (ATP) resulta em elevação na
MATERIAIS E MÉTODOS
concentração de íons de hidrogênio ([H+]), com consequente queda do Após aprovação pelo comitê de ética local da USJT e de assinarem
pH. Essa condição é denominada de acidose metabólica e pode induzir da declaração de Helsinki (número de protocolo 78606), 12 voluntários
uma série de mecanismos que prejudicam o processo de contração- homens saudáveis foram recrutados para participar do estudo. Todos os
-relaxamento do músculo e, portanto, pode ser considerada como um sujietos tinham experiência em treinamento resistido (mais de seis meses)
importante mecanismo na indicação da FM3,4. sem lesões prévias dos membros inferiores.
Contudo, apesar da FM ser entendida como uma queda na capa- Todos os indivíduos compareceram no laboratório três vezes para o
cidade de produzir força e potência muscular, quando a tarefa envolve procedimento de familiarização da avaliação isocinética utilizando um
sustentar uma contração máxima, a diminuição do desempenho é para- Sistema Biodex 3 (Biodex, Inc., Shirley, NY) e para a assinatura de todos os
lelo ao aumento de FM. No entanto, quando a tarefa requer contrações documentos. Resumidamente, no primeiro dia os indivíduos assinaram o
submáximas, é possível que o aparecimento da FM não esteja associada termo de consentimento e foram submetidos ao processo de familiarização
com a interrupção do esforço. Como muitas atividades da vida diária e do teste isométrica. No Segundo dia, os dados antropométricos (estatura,
diversas modalidades de exercício envolvem contrações submáximas, massa corporal e dobras cutâneas) foram avaliados e um segundo processo
o aparecimento da FM pode não limitar a capacidade de um indivíduo de familiarização foi realizado. No terceiro dia os participantes foram subme-
de executar o exercício, o que significa que contrações submáximas tidos ao ultimo procedimento de familiarização. Todos os indivíduos realiza-
podem ser mantidas após o início da FM1. ram três contrações isométricas voluntárias máximas (CIVM) dos extensors
Neste sentido, a utilização de substâncias alcalinas tem sido amplamen- do joelho direito a 90º durante cinco segundos e com cinco de descanso
te aplicada em diversas modalidades esportivas e protocolos de exercício entre as contrações para determinar o torque máximo antes do protocolo
de alta intensidade, na tentativa de melhorar o desempenho através da de fadiga isométrico. Após a CVIM, todos os sujeitos realizaram contrações
diminuição da FM5-9. A ingestão de NaHCO3 aumenta as concentrações de alta intensidade (70% da contração voluntária máxima) mantida até oito
de bicarbonato [HCO3-] no sangue, o que facilita o efluxo de H+ e lactato minutos ou exaustão. Durante o teste, os voluntários foram encorajados
da célula muscular e, assim, retarda o processo de acidificação10,11. verbalmente a manter o nível de força pelo maior tempo possível, até que o
De fato, uma série de estudos5-9 vem demonstrando que a ingestão valor da força diminuísse para 50% da CIVM (indicador de fadiga). O tempo
de NaHCO3 melhora o desempenho em exercício de alta intensidade e de resistência foi avaliado (tempo para o qual um indivíduo foi capaz de
principalmente de caráter intermitente, embora outras pesquisas tenham manter a tarefa mecânica solicitada acima de 50% da CIVM).
encontrado resultados discordantes12-14. Após completarem o teste de familiarização, os indivíduos foram
Dentre estes fatores, o uso de substâncias ergogênicas em exercícios distribuídos em um delineamento duplo-cego, randomizado, cruzado
isométricos tem sido pouco avaliado15-17. Maughan et al.17, avaliando os para consumir 0.3 g/kg massa corporal de NaHCO3 ou placebo (carbo-
efeitos da alcalose induzida pela ingestão de NaHCO3 no desempenho nato de cálcio – CaCO3). O NaHCO3 foi distribuído uniformemente em
do exercício em jovens saudáveis, encontraram aumento significativo no cápsulas gelatinosas 60 min antes do exercício, de acordo com estudos
desempenho em cargas relativas a 20%, mas não a 50 e 80% da contração prévios5 e separados por pelo menos uma semana de whasout.
voluntária máxima dos extensores do joelho. Hunter et al.16, encontraram A estatura foi mensurada por um estadiômetro Cardiomed (WCS model),
menor declínio da força durante contração máxima sustentada de 50s após com precisão de 115/220 cm. A mensuração foi realizada com o cursor em
exercício de ciclismo prolongado em indivíduos treinados na modalidade um ângulo de 90º na escala, com o participante em pé, com os pés juntos
quando NaHCO3 foi utilizado comparado a ingestão de placebo. em contato com o estadiômetro. A massa corporal total foi mensurada
As investigações acerca da utilização do NaHCO3 têm se concentrado por uma balança eletrônica Filizola calibrada (Personal Line Model 150)
nos exercícios de caráter intermitente, dinâmico e de curta duração. com escala de 100g e capacidade máxima de 150kg. O índice de massa
O conhecimento e o estudo da ação dessa substância em contração corporal (IMC, kg/m2) foi calculado usando a equação IMC = peso/altura2.
isométrica contínua de maior duração, e das condições relacionadas a Para determinar a concentração sanguine de lactato ([La-]) e pH,
FM neste tipo específico de exercício, pode contribuir para a aplicação amostras de sangue foram coletadas do lóbulo da orelha em pontos
de estratégias que possam diminuir o processo deste fenômeno e, pré-determinados ao longo de cada teste. As amostras de 25-μL foram

Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 41


imediatamente avaliados por analyses eletroquímicas em um dispositivo
automatizado (YSI 2300, Yellow Springs, OH).
As taxas de percepção subjetiva de esforço (PSE) e dor (PSD), foram
relatadas antes, no ponto de fadiga e imediatamente após protocolo de

Pico de torque (Nm)


fadiga (fim do esforço) utilizando a escala de Borg 0-10 e a escala visual
analógica, respectivamente.
A carga interna do treinamento de cada sessão foi avaliada pela
multiplicação da duração da sessão de exercício em minutos pela inten-
sidade do treinamento, indicada pela PSE através da escala de acordo
com estudos prévios20. Os indivíduos foram orientados a escolher um
descritor e um número de 0 a 10. Para assegurar que os dados obtidos
da PSE fossem referentes ao treinamento em seu total, foi solicitado que
os indivíduos respondessem a seguinte pergunta 20 a 30 minutos após Placebo NHCO3
o término da sessão: “Como foi a sua sessão de treino?”.
O teste D’Agostino-Pearson foi aplicado para análise de distribuição
gaussiana. O teste t de Student pareado e a ANOVA de uma via seguido pelo
teste post hoc de Bonferroni foram realizados para comparar as diferenças
no protocolo de fadiga. A análise de comparação entre os grupos inativo
e ativo foi realizada por ANOVA de medidas repetidas, seguida pelo teste

TDT (Nm/s)
post hoc de Bonferroni. O tamanho do efeito de Cohen foram calculados
e avaliados com base nos seguintes critérios propostos por Rhea21: <0,50
trivial, 0,50 a 1,25 pequeno, 1,25 a 1,9 moderado e > 2 grande. Um alfa de
0,05 foi usado para determinar significância estatística. Todos os valores
foram expressos como média ± desvio padrão. Todas as análises foram
realizadas no software SPSS (v 15.0; IBM, Armonk, NY, USA).
Placebo NHCO3
RESULTADOS
Os valores médios e desvio padrão dos parâmetros antropométricos Figura 1. Média ± desvio padrão do pico de torque isométrico (Painel A) e taxa de
podem ser vistos na Tabela 1. desenvolvimento de torque (Painel B).
A análise dos efeitos da suplementação de NaHCO3 não demonstrou
diferenças significantes entre os placebo e NaHCO3 nas variáveis pico de
torque (PT) isométrico (Placebo: 321±15; NaHCO3: 321±18 Nm) e taxa
de desenvolvimento de torque (Placebo: 73±3; NaHCO3: 76±4; Nm/s), Fadiga Final do protocol
como descrito na Figura 1A e 1B, respectivamente.
Pico de torque (Nm)

Não foram encontradas diferenças significantes no PT isométrico


correspondente a 50% do pico máximo entre as intervenções (Figura 2A).
Contudo, no final do protocolo a suplementação de NaHCO3 (Fadiga:
160±23 Nm; Fim do protocolo: 55±23 Nm;) induziu uma melhora na
manutenção do PT isométrico comparado a intervenção placebo (Fadiga:
160±20 Nm, Fim do protocolo: 16±8 Nm). Grande effect size foi encontrado
em ambas as intervenções (Placebos: 7,20; NaHCO3: 4,56), contudo, a su-
plementação de NaHCO3 induziu um menor efeito quando comparado
ao placebo. A suplementação de NaHCO3 promoveu maior manutenção Placebo NHCO3
do PT isométrico (Figura 2B) retardando (p<0,001) o tempo (Placebo: 42±5
sec; NaHCO3: 95±5 sec) para atingir a fadiga com grande effect size (10,6).
Na análise do pH sanquíneo, não foram encontradas diferenças
significantes (p<0,001) nos três momentos de avaliação na intervenção
Tempo para fadiga (sec)

com placebo (Figura 3A) (Repouso: 7,63±0,11 = Fadiga: 7,60±0,12 = Fim


do protocolo: 7,62±0,10) com pequeno effect size (0.09).
Na Figura 3B é demonstrado que diferenças significantes (p<0,001)
na [La-] foram encontradas tanto na intervenção com placebo (Repouso:
(Nm)

Tabela 1. Média e desvio-padrão (DP) dos parâmetros biométricos.


Média ± DP 95% IC
Idade (anos) 32 ± 8 24,96 – 39,04
Massa corporal (kg) 81 ± 4 77,44 – 83,99
Estatura (m) 1,74 ± 0,1 1,69 – 1,79 Placebo NHCO3
IMC (kg/m2) 27 ± 2 25,14 – 28,29
Gordura corporal (%) 21 ± 7 14,94 – 27,06 *p<0,01 indica diferença estatisticamente significante versus fadiga. †p<0,01 indica diferença estatisticamente
significante versus placebo.
Massa gorda (kg) 17 ± 6 11,74 – 22,83
Figura 2. Média ± desvio padrão do pico de torque isométrico a 50% do pico de
Massa magra (kg) 63 ± 5 59,00 – 67,86 torque isométrico (fadiga) e no final do protocol (Painel A) e o tempo de sustentação
IMC: índice de massa corporal, IC: interval de confiança. da força até atingir 50% do pico de torque isométrico (Painel B).

42 Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019


Taxa de esforço percebido
pH

Repouso Fadiga Fim do protocolo


Repouso Fadiga Exaustão

Intensidade da dor
Lactato (mMol/L)
Lactate (mMol/L)

Repouso Fadiga Fim do protocolo


Repouso Fadiga Exaustão
*p<0,01 indica diferença estatisticamente significante versus descanso. †p< 0,01 indica diferença estatisti- *p<0,01 indica diferença estatisticamente significante versus descanso. †p<0,01 indica diferença estatisti-
camente significante versus placebo. camente significante versus placebo.
Figura 3. Média ± desvio padrão do pH a 50% do pico de torque isométrico e das Figura 4. Média ± desvio padrão da taxa de percepção de esforço (Painel A) e dor
concentrações sanguíneas de lactato nas intervenções com placebo (○) e NaHCO3 (●). (Painel B) nas intervenções com placebo (○) e NHCO3 (●).

1,08±0,37; Fadiga: 4,47±1,51; Fim do protocolo: 6,92±1,13) quanto com


NaHCO3 (Repouso: 0,95±0,24; Antes: 5,42±1,63; Depois: 7,71±0,74) e gran-
de effect size em ambas as intervenções (Placebo: 15,78; NaHCO3: 28,16).
Contudo, a suplementação de NaHCO3 induziu hiperlactecemia tanto
Carga interna (ua.)

na fadiga quanto no fim do protocolo quando comparado ao placebo.


Diferenças significantes (p<0,001) foram encontradas na intervenção
com placebo na PSE (Fadiga: 6,14±1,77; Fim do protocolo: 9,28±1,89)
bem como na PSD (Fadiga: 7,28±9,85; Fim do protocolo: 9,85±0,37) e
grande effect size foi encontrado em ambos os parâmetros (1,77 e 1,40),
respectivamente. Resultados similiares foram encontrados na PSE após a
ingestão de NaHCO3 (Fadiga: 5,71±1,88 < Fim do protocolo: 7,85±1,95)
bem como na PSD (Fadiga: 5,28±7,85 < Fim do protocolo: 7,85±1,95) e Placebo NHCO3
ua: unidades arbitrárias.
grande effect size foi encontrado em ambos os parâmetros (1,13 e 0,32).
Adicionalmente, a suplementação de NaHCO3 induziu menor PSE (Figura Figure 5. Mean ± standard deviation of internal load in the interventions with
Placebo (○) and NHCO3 (●).
4A) e PSD (Figura 4B) (p<0,001) quando comparado ao placebo.
Foi observado diferença significante (p< 0,001) entre a carga interna
Sabe-se que o processo de fadiga é um fenomeno multifatorial, contu-
em ambas as intervenções (placebo: 74,29±6,04; NaHCO3: 56,00±6,53
do em exercícios de alta intensidade, a FM está associada a elevação das [H+]
unidades arbitrárias), considerando os parâmetros mais comumente
com concomitante queda do pH intramuscular3. O melhor desempenho
utilizados na prescrição de treinamento (Figura 5).
encontrado após a ingestão de NaHCO3, provavelmente está relacionado
ao aumento do efluxo de H+ do músculo em exercício, o que reduz a
DISCUSSÃO
acidose intramuscular e consequentemente atrasa o processo de fadiga10.
Os principais achados do presente estudo corresponde ao aumento O efluxo de H+ do interior da célula para o meio extracelular é in-
significante no tempo para se atingir a fadiga (50% do PT inicial) e um fluenciado pelo gradiente de pH dos meios e ocorre em conjunto com
menor declínio do PT isométrico no final do protocolo após suplemen- o efluxo de lactato realizado através da proteína transportador monocar-
tação com NaHCO3. Este resultado demonstra o efeito ergogênico na boxilato ligada à membrana plasmática. Portanto, os maiores valores de
manutenção da força isométrica avaliada no dinamômetro isocinético. pH extracelular pré exercício e no momento da fadiga observados após
A melhora no desempenho do exercício observado em nosso estudo a ingestão de NaHCO3, sugerem que a velocidade de transporte de H+
está em conformidade com outros estudos9,16,22-24 com melhora no foi aumentada em consequência do maior gradiente de pH ocasionado
desempenho após indução de alcalose. pela ingestão da substância alcalina25.

Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019 43


Além disso, embora aumentos nas [La-] sanguíneo tenham sido obser- os mecanismos mediados centralmente possam ser afetados. Dentre estes
vados tanto após NaHCO3 quanto após placebo durante a realização do mecanismos, tem sido proposto que as alterações metabólicas no músculo
protocolo quando comparado ao momento pré exercício, um maior efluxo de em exercício, resultam em feedback neural inibitório através de fibras afe-
lactato foi observado no momento da fadiga e no fim do protocolo quando rentes dos grupos III e IV, que são responsivas a uma variedade de estímulos
os participantes foram suplementados com NaHCO3. Por sua vez, o efluxo químicos5,27. Assim, a menor PSE e o maior desempenho apresentado com
de lactato aumentado contribui para a manutenção do pH intramuscular o NaHCO3, podem refletir uma menor alteração metabólica (incluindo [H+])
e, assim, para a intensidade do exercício25. Como sugerido por Coombes e devido a ação desta substância e, por conseguinte, um feedback menos
McNaugthon22, os maiores valores de [La-] sanguíneo podem refletir uma negativo do músculo e um efeito menor sobre o comando central descen-
maior contribuição anaeróbia durante o exercício e maior dependência dente para os motoneurônios27. No entanto, é interessante observar que
da glicólise anaeróbia para completar o protocolo no ensaio NaHCO3. no final do protocolo (quando a PSE foi menor em NaHCO3), os valores de
De forma consistente, a literatura tem demonstrado que a ingestão pH não diferiram entre as condições NaHCO3 e placebo. A investigação de
de 0,3 g.kg/ massa corporal de NaHCO3 eleva tanto o pH extracelular pré outras variáveis metabólicas pode auxiliar na compreensão deste fenômeno.
exercício como as [La-] sanguíneo durante o esforço5,7-9,13,14. Em relação a PSE da sessão realizada após 30 minutos do término do
Em relação ao PT inicial e a taxa de desenvolvimento de torque realiza- protocolo, valores menores foram observados quando os participantes foram
do no teste CIVM (pré protocolo de oito minutos), não foram observadas suplementados com NaHCO3. A PSE da sessão tem sido proposto como um
diferenças estatísticas entre as duas condições, apontando que a força método válido e confiável de monitorar a intensidade do exercício e permite
máxima não foi afetada pela suplementação de NaHCO3. Uma possível que o indivíduo forneça uma avaliação global de quão difícil foi a sessão20. Ao
explicação para esse fato é que, devido a curta duração do esforço (três menos a nosso conhecimento, até o momento nenhuma pesquisa investigou
contrações de cinco segundos com cinco minutos de intervalo), não ocorreu a influência do NaHCO3 nas respostas da PSE da sessão. Novamente, é possível
uma signficante produção de H+, uma vez que neste tipo de esforço a via que menores alterações metabólicas tenham ocorrido durante o exercício em
predominante de transferência de energia é o ATP-CP e não a via glicolítica. função da maior capacidade de tamponamento extracelular após ingestão
Neste sentido, a ação do NaHCO3 é incapaz de afetar o desempenho22. do NaHCO3, que pode ter contribuido para uma recuperação mais completa
O efeito da alcalose na percepção de esforço têm sido investigado em e uma menor percepção de esforço após 30 minutos de recuperação27.
pesquisas de diferentes modalidades de exercício5,6,26, mas os resultados
são conflitantes. Krustrup et al.5, encontraram valores menores para PSE CONCLUSÃO
somente após 440m de um teste intermitente de alta intensidade, mas Os resultados sugerem que a ingestão de NaHCO3 pode melhorar
não após 160 e 280m e no momento de exaustão após suplementação o desempenho de contrações isométricas sustentadas dos extensores
de NaHCO3 quando comparado ao controle. No entanto, quando os do joelho com deminuição na PSE e PSD e menor carga interna. No
participantes ingeriram a substância alcalina, ocorreu uma melhora de entanto, é necessário conduzir mais pesquisas para investigar o efeito
14% no desempenho. Duncan et al.26, não encontraram diferenças nas do NaHCO3 nos parâmetros de carga interna, como por exemplo na PSE
respostas de PSE entre as condições NaHCO3 e controle de homens da sessão, que pode fornecer informações relacionadas a recuperação e
treinados no exercício resistido, embora um maior número de repetições auxiliar na prescrição do exercício de características dinâmicas.
foi obtido no primeiro exercício após o uso de NaHCO3.
Em nosso estudo, não encontramos alterações na percepção de esfor-
ço no ponto de fadiga. Contudo, um menor grau de PSE foi estabelecida Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito
após os oito minutos de protocolo. Em teoria, nós podemos sugerir que de interesses referente a este artigo.

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Cada autor contribuiu individual e significativamente para o desenvolvimento deste artigo. CASC (000-0002-3606-0828)* concebeu o estudo,
coletou e interpretou os dados e redigiu o original. RAB (0000-0001-9874-3790)* interpretou os dados, redigiu e revisou o original. MAL (0000-0001-9874-3788)* analisou os dados
e revisou o original. MMK (0000-0002-2406-4450)* analisou os dados e revisou o original. FP (0000-0002-7901-3351)* interpretou os dados, redigiu e revisou o original. ALE (0000-
0002-4941-6475)*, MRRP (0000-0003-1857-6924) interpretaram os dados, redigiram e revisaram o original. AJS (0000-0002-5407-8183)* analisou os dados e revisou o original. RLC
(0000-0002-6145-1337)*, AFJ (0000-0001-8069-2366)*, CVLST (0000-0002-8523-5794) interpretaram os dados, redigiram e revisaram o original. DSB (0000-0003-3993-8277)* concebeu
o estudo, coletou e interpretou os dados e revisou o original. *ORCID (Open Researcher and Contributor ID).

REFERÊNCIAS
1. Enoka RM, Duchateau J. Muscle fatigue what, why and how it influences musclefunction. J Physiol. 15. Siegler JC, Marshall P, Pouslen MK, Nielsen NP, Kennedy D, Green S. The effect ofpH on fatigue during
2008;586(1):11-23. submaximal isometric contractions of the human calf muscle. Eur J Appl Physiol. 2015;115(3):565-77.
2. Taylor JL, Gandevia SC. A comparison of central aspects of fatigue in submaximal and maximal voluntary 16. Hunter AM, De Vito G, Bolger C, Mullany H, Galloway SDR. The effect of inducedalkalosis and submaximal
contractions. J Appl Physiol. 2008;104(2):542-50. cycling on neuromuscular response during sustained isometriccontraction. J Sports Sci. 2009;27(12):1261-9.
3. Fitts RH. Cellular mechanisms of muscle fatigue. Physiol Rev. 1994;74(1):49–94. 17. Maughan RJ, Leiper JB, Litchfield PE. The effects of induced acidosis and alkalosis onisometric endurance
capacity in man. In: Dotson CO, Humphrey JH. editors. Exercise Physiology: current Selected Research.
4. Ament W, Verkerke, GJ. Exercise and fatigue. Sports Med. 2009;5(39):389-422.
Vol. 2. New York: AMS Press; 1986.p.73-82.
5. Krustrup P, Ermidis G, Mohr M. Sodium bicarbonate intake improves high-intensityintermittent
18. Derave W, Ozdemir MS, Harris RC, Pottier A, Reyngoudt H, Koppo K, et al. Beta-alanine supplementation
exercise performance in trained young men. J Int Soc Sports Nutr. 2015;12(25):1-7. augments muscle carnosine content and attenuates fatigueduring repeated isokinetic contraction
6. Artioli GG, Gualano B, Coelho DF, Benatti FB, Galley AW, Lancha AH. Doessodium-bicarbonate ingestion bouts in trained sprinters. J Appl. Physiol. 2007;103(5):1736-43.
improve simulated judo performance? Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2007;17(2):206-17. 19. Hosseninzadeh M, Andersen OK, Arendt-Nielsen L, Madeleine P. Pain sensitivity isnormalized after a
7. Zajac A, Cholewa J, Poprzecki S, Waskiewicz Z, Langfort J. Effects of sodiumbicarbonate ingestion on repeated bout of eccentric exercise. Eur J Appl Physiol. 2013;113(10):2595-602.
swim performance in youth athletes. J Sports Sci Med. 2009;8(1):45–50. 20. Foster C, Florhaug JA, Franklin J, Gottschall L, Hrovatin LA, Parker S, et al. A newapproach to monitoring
8. Wu CL, Shih MC, Yang CC, Huang MH, Chang CK. Sodium bicarbonate supplementation prevents skilled exercise training. J Strength Cond Res. 2001;15(1):109-15.
tennis performance decline after a simulated match. J Int Soc Sports Nutr. 2010;7(33):1-8. 21. Rhea MR. Determining the magnitude of treatment effects in strength training researchthrough the
9. Carr BM, Webster MJ, Boyd JC, Hudson GM, Scheett TP. Sodium bicarbonatesupplementation improves use of the effect size. J Strength Cond Res. 2004;18(4):918-20.
hypertrophy-type resistance exercise performance Eur J Appl Physiol. 2013;113(3):743-52. 22. Coombes J, McNaughton LR. Effects of bicarbonate ingestion on leg strength andpower during isokinetic
10. McNaughton LR, Siegler JC, Midgley A. The ergogenic effect of sodium bicarbonate. Curr Sport Med knee flexion and extension. J Strength Cond Res. 1993;7(4):241-9.
Rep. 2008;7(4):230-6. 23. Verbitsky O, Mizrahi J, Levin M, Isakov E. Effect of ingested sodium bicarbonate onmuscle force, fatigue,
11. Burke LM, Pyne DB. Bicarbonate loading to enhance training and competitiveperformance. Int J Sport and recovery. J Appl Physiol. 1997;83(2):333-7.
Physiol Perform. 2007;2(1):93-7. 24. Mueller SM, Gehrig SM, Frese S, Wagner CA, Boutellier U, Toigo M. Multiday acutesodium bicarbonate
12. Webster MJ, Webster MN, Crawford RE, Gladden LB. Effect of sodium bicarbonateingestion on exhaustive intake improves endurance capacity and reduces acidosis in men. J Int Soc Sports Nutr. 2013;10(16):1-9.
resistance exercise performance. Med Sci Sport Exerc. 1993;25(8):960-5. 25. Baker JS, McCormick MC, Robergs RA. Interaction among Skeletal Muscle Metabolic Energy Systems
13. Portington KJ, Pascoe DD, Webster MJ, Anderson LH, Rutland RR, Gladden LB. Effectof induced alkalosis during Intense Exercise. J Nutr Metabol. 2010;1-13.
on exhaustive leg press performance. Med Sci Sports Exerc.1998;30(4):523-8. 26. Duncan MJ, Weldon A, Price MJ. The effect of sodium bicarbonate ingestion on backsquat and bench
14. Cameron SL, McLay-Cooke RT, Brown RC, Gray AR, Fairbairn KA. Increased bloodpH but not performance press exercise to failure. J Strength Cond Res. 2014;28(5):1358–66.
with sodium bicarbonate supplementation in elite rugby unionplayers. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 27. Amann M. Central and Peripheral Fatigue: Interaction during Cycling Exercise in Humans. Med Sci
2010;20(4):307-21. Sport Exerc. 2011;43(11):9-45.

44 Rev Bras Med Esporte – Vol. 25, No 1 – Jan/Fev, 2019

Você também pode gostar