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Existem duas formas distintas de conhecimento: o conhecimento vulgar (ou senso comum) e o conhecimento
científico.
Conhecimento vulgar
Associado a um primeiro nível do conhecimento – estando ligado à apreensão imediata, muitas vezes,
sensorial, da realidade.
Faz parte das ferramentas fundamentais do saber viver, pois é a partir dele que orientamos a nossa vida.
Poucas preocupações com o rigor.
Conhecimento científico
É um conhecimento experimental (inclui métodos formais de prova), crítico e revisível, pois nada é assumido como
absoluto ou definitivamente fechado, por mais seguro ou justificado, que a partida, possa parecer. Aquilo que hoje
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entendemos ser verdade, amanhã pode ser um enorme erro científico – daí a revisibilidade do conhecimento
científico.
Esta é fruto da natureza crítica e antidogmática, mais uma das oposições em relação ao senso comum.
Ambos são distintos, e em muitos aspetos: opostos – rutura. Mas, porém, existe uma certa continuidade e
complementaridade entre estas duas formas de conhecimento:
Hoje, dada a importância prática de que a investigação científica se reveste, há a noção de que é preciso, na medida do possível,
esbater as fronteiras entre senso comum e ciência, através da construção de uma opinião esclarecida. Entende-se que o
conhecimento científico é demasiado importante para ser deixado ao arbítrio dos cientistas e mesmo daqueles que nos governam,
e que o senso comum dos cidadãos deve ter alguma capacidade de intervenção nas decisões que a todos dizem respeito e que a
todos vão afetar.
É preciso que as pessoas compreendam o alcance, os limites e o interesse da investigação científica e tenham alguma capacidade
de intervenção na eventual tomada de decisão acerca de assuntos que a todos interessam.
Métodos científicos
Para que as diversas ciências possam almejar um conhecimento objetivo, explicativo e preditivo, precisam de trilhar
um caminho composto por diversas etapas e regras – caráter metódico.
É este caminho, o método, que garante a fiabilidade e a universidade dos resultados da ciência, pois resulta de um
trabalho organizado, rigoroso e eficaz.
Perguntar pelas metodologias científicas = Como se estabelecem as verdades [ou leis] em ciência?
Método indutivo
A 1ª sistematização de um método para fazer ciência surgiu na modernidade, com o filósofo Francisco
Bacon.
Segundo Bacon, o conhecimento científico é adquirido e confirmado por um processo de indução.
O conhecimento humano tem por base uma metodologia sistemática de indagação empírica assente na
observação, experimentação e indução.
A indução está muitas vezes ligadas ao princípio de que casos futuros serão semelhantes aos casos passados. Por
conseguinte, o grau de confirmação de uma hipótese dependeria apenas do número de casos favoráveis observados,
não passando o problema de uma questão de simples enumeração exaustiva das manifestações de um fenómeno.
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Bacon afirmou, por outro lado, que o seu método indutivo só poderia dar os frutos esperados se os seus praticantes
fossem capazes de eliminar quatro classes de «ídolos intelectuais».
Método hipotético-dedutivo
Ao contrário de Bacon, Galileu Galilei combinou a observação empírica e a dedução matemática, tendo sido um dos
percursores e defensores do método hipotético-dedutivo.
Para este, os sentidos são insuficientes para observação científica de fenómenos, pelo que criou instrumentos e
modelos que visaram tornar mais rigorosa e objetiva a tarefa do cientista.
Este começa com as observações, a partir das quais se constroem hipóteses ou teorias, que são explicações
imaginativas para os fenómenos observados.
A partir delas deduzem-se as suas consequências que, se confirmadas pela experimentação, produzem uma
generalização ou um enunciado universal que permitirá fazer previsões precisas – a lei. Se a
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experimentação não verificar a hipótese, esta e abandonada e tem de se contruir uma outra que passará pelo
mesmo processo. Ver esquema pág.209
Embora não dispense a dedução, o método experimental, insere-se numa conceção individualista e
verificacionista do método científico.
factos não é ponto de partida da ciência e a observação nunca e completamente neutra e objetiva A observação é
seletiva.
1. Crítica
A observação não é o ponto de partida da ciência.
Ao contrário do que pensamos, a observação dos factos não é o ponto de partida da ciência. A nossa
subjetividade (conhecimento e expetativas do observador) interfere com o juízo que fazemos acerca do que
vimos. Parir do princípio que o conhecimento e as expetativas de quem faz ciência não têm qualquer
influência nas observações pode conduzir a conclusões erradas.
2. Crítica
A observação nunca é completamente neutra e objetiva.
As observações são então profundamente influenciadas pelos conhecimentos prévios e pelas expectativas
do observador. O cientista é um ser humano situado num espaço e num tempo concretos. A sua
humanidade, na qual se incluem conhecimentos, mas também ideologias e valores, afetos e desejos, reflete-
se no trabalho que realiza. Não existe pois, observação pura.
3. Crítica
A observação é seletiva.
Os cientistas não se limitam a observar, pelo contrário, selecionam os aspetos específicos sobre os quais se
concentram. Quando os cientistas, como Hooke, registam observações concentram-se sobre determinados
aspetos e ignoram outros. Esta seleção envolve uma decisão que revela um enquadramento mental e
pressupostos teóricos prévios.
Exemplo: “Todos os metais se dilatam ao serem aquecidos” – enunciado universal, pois abrange a totalidade dos
acontecimentos de um tipo particular, isto é, refere-se a todas as ocasiões em que se aquecem metais.
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Será que esta aparente regularidade das leis da natureza é suficiente para justificar a indução?
Para Hume não: a indução e racionalmente injustificável, mesmo que permaneça psicologicamente inevitável.
Qualquer tentativa de justificar a crença na fiabilidade da indução está, a partida, condenada ao fracasso.
Popper é um cético em relação ao poder preditivo da indução, Para este, o problema central da filosofia da ciência é o
problema da demarcação: o que nos permite distinguir uma teoria científica de uma teoria não científica? Como se
distingue da pseudociência?
O filósofo construiu um sistema em clara oposição à perspetiva verificacionista dos positivistas lógicos. A ideia
central da sua perspetiva é a seguinte:
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Assim, o estatuto da ciência e sempre provisório. Embora visemos a verdade, nunca podemos estar certos
de a alcançar.
No seu ponto de vista, Popper chamou método das conjeturas e refutações, também designado por
falsificacionismo.
1. Para Popper, os cientistas não iniciam o seu trabalho pela observação, mas por uma teoria. Estas, na medida em
que não podem nunca ser confirmadas (indução), são sempre simples conjeturas e devem ser sujeitas a rigorosos
testes experimentais que as tentem falsificar.
2. Testar uma teoria significativa, para Popper, ver se esta pode ser
refutada, falsificada, isto é, procurar mostrar a sua falsidade.
3. Assim se espera, de deteção de erro em deteção de erro, avançar em
direção a verdade.
Por mais provas que tenhamos, nunca poderemos fizer que uma teoria é
absolutamente verdadeira. Em contrapartida, podemos provar que é falsa. Os testes tem essa função. O teste que
confirma a teoria é apenas mais um e, no fundo, nada prova, enquanto um único teste pode desmentir uma teoria,
isto é, mostrar que essa teoria, ou parte dela, e falsa.
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Teoria falsificável (ou refutável) – teoria que tem a propriedade de poder ser sujeita a testes e de ser
verdadeira ou falsa;
Teoria falsificada (ou refutada) – teoria que já se provou ser falsa. Foi sujeita a testes e não resistiu.
O grau de corroboração de uma teoria depende mais da severidade do que da quantidade de testes a que pode ser ou a
que foi submetida. É medido através do sucesso demonstrado pela hipótese ao sobreviver aos testes.
Ver esquema pág. 220
Critério de demarcação
O objetivo de Popper foi distinguir ciência de não ciência a marca da ciência é, a sua testabilidade.
Neste sentido, uma teoria só tem estatuto cientifico se forma falsificável, isto e, se puder ser colocada a prova através
de um teste que torne possível a sua refutação. Mas como se distingue ciência de não ciência ou da pseudociência?
Critério de demarcação –
positivistas vs Popper
(pág.222)
Popper, com este critério de demarcação contribuiu para o desenvolvimento da epistemologia evolucionista, pois tem
como objetivo mostrar que os cientistas procedem de forma racional e argumentada e aceitam a revisão das suas
convicções em função das críticas que recebem.
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Tal como Popper, Khun foi um crítico das teorias individualistas, mas foi-o também de Popper e das teorias
falsificacionistas. Como progride a ciência? A ciência é objetiva? Ao contrário da conceção normal (os cientistas
descobrem mais e mais verdades sobre o mundo), Khun propõe uma conceção radicalmente nova:
Rejeita que a ciência progrida por simples acumulação de conhecimentos e sem conflitos;
Afirma que a evolução do conhecimento científico ocorre por solavancos, por abalos sucessivos, isto e, por
meio de revoluções científicas.
De acordo com a perspetiva kuhniana, a partir do momento em que um novo paradigma se impõe, a ciência entra
numa evolução cíclica em que alternam três fases: normal, crítica e revolucionária. O progresso de uma ciência
acontece da seguinte forma.
Determinação dos
factos significativos
Correspondência entre
factos e teoria
Reajustamento da
teoria
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Um cientista não abandona facilmente um paradigma. A atividade de ciência normal, tal como Kuhn a concebe, é
extremamente conservadora e dogmática. Porém, por vezes, no trabalho de ciência normal, o cientista confronta-se
com falhanços, com peças do puzzle que parecem não encaixar.
A estes falhanços, dá-se o nome de anomalias. O aparecimento destas no seio do paradigma, não é, à
partida, um problema, mas a sua acumulação pode vir a constitui-se como tal.
As anomalias levam a um esforço suplementar por parte da comunidade científica, no sentido de tentar preservar a
visão do mundo que o paradigma encerra.
Só quando as anomalias não podem ser ultrapassadas e são acumulando e que os fundamentos do
paradigma são postos em causa, instaurando-se um período de crise.
O grau das anomalias, e não apenas a sua quantidade, também contribui para a crise do paradigma, pois quanto mais
graves e serias são as anomalias e quanto mais tempo resistem a eliminação, mais a crise paradigmática se acentua.
A revolução científica corresponde a uma mudança de paradigma. Põe fim a crise e mostra que a
comunidade científica aderiu a um novo paradigma. Estão, pois, criadas as condições, para que se dê inicio
a um novo período de ciência normal.
O episódio revolucionário dá lugar a uma
reconstrução de todo o universo cientifico, partindo
de novos princípios, o que altera não apenas as
generalizações teóricas mais elementares em que se
baseia o trabalho dos cientistas, como os seus
métodos, aplicações e instrumentos. Trata-se de uma
forma radicalmente nova de ver o mundo.
O paradigma entra em crise porque se descobrem cada vez mais fenómenos que não estão de acordo com
o paradigma. Durante uma época de crise, a confiança no paradigma diminui e a investigação
característica da ciência normal dá lugar a um período de ciência extraordinário. Assim, o fim de uma
crise só poderá ocorrer quando surgir um novo paradigma .
No entanto, a instauração de um novo paradigma não é tarefa fácil. Para que seja possível o seu
aparecimento, é preciso que surja primeiro uma nova teoria. Quando isto acontece, afirma Kuhn, dá-se o
passo decisivo para a ocorrência de uma revolução científica.
Kuhn considera que a diferença de paradigmas é de tal modo radical que eles não se podem comparar. Este facto
revela que existe uma incomensurabilidade entre paradigmas. Deste modo, estamos perante uma das teses mais
controversas defendidas por Kuhn, a qual nos leva a concluir que é impossível determinar se um paradigma é
superior ou mais verdadeiro do que outro.
Assim, pode concluir-se que o conceito de verdade é, segundo Kuhn, sempre relativo a um paradigma, ou seja,
aquilo que é verdade num paradigma pode não ser noutro.
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Kuhn eo
problema da objetividade científica
Khun apresenta critérios objetivos para determinar o que faz com que os cientistas escolham um paradigma em
detrimento de outro:
Exatidão
Consciência
Alcance
Simplicidade
Fecundidade