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Transtornos depressivos

Profª. Msc. Sarah Monteiro


sarah_mctf@hotmail.com
Aspectos gerais

■ As síndromes depressivas têm como elementos mais salientes o


humor triste e o desânimo.

■ Entretanto, elas caracterizam-se por uma multiplicidade de sintomas


afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos e cognitivos,
relativos à autovaloração, à vontade e à psicomotricidade.

■ Também podem estar presentes, em formas graves de depressão,


sintomas psicóticos (delírios e/ou alucinações), marcante alteração
psicomotora (geralmente lentificação ou estupor) e fenômenos
biológicos (neuronais ou neuro-endócrinos) associados.
Sintomatologia
Alterações da esfera instintiva
e neurovegetativa
Sintomas afetivos
– Tristeza, sentimento de melancolia – Anedonia (incapacidade de sentir
prazer em várias esferas da vida)
– Choro fácil e/ou frequente
– Fadiga, cansaço fácil e constante
– Apatia (indiferença afetiva; “Tanto
(sente o corpo pesado)
faz como tanto fez.”) – Desânimo, diminuição da vontade
– Sentimento de falta de sentimento (hipobulia; “Não tenho pique para
(“É terrível: não consigo sentir mais nada.”)
mais nada!”) – Insônia ou hipersomnia
– Sentimento de tédio, de aborrecimento – Perda ou aumento do apetite
crônico – Constipação, palidez, pele fria com
– Irritabilidade aumentada (a ruídos, diminuição do turgor
pessoas, vozes, etc.) – Angústia ou – Diminuição da libido (do desejo sexual)
ansiedade – Diminuição da resposta sexual
(disfunção erétil, orgasmo retardado
– Desespero
ou anorgasmia)
– Desesperança
ALTERAÇÕES IDEATIVAS ALTERAÇÕES COGNITIVAS
– Ideação negativa, pessimismo em – Déficit de atenção e concentração
relação a tudo – Déficit secundário de memória
– Idéias de arrependimento e de – Dificuldade de tomar decisões
culpa – Pseudodemência depressiva
– Ruminações com mágoas antigas
– Visão de mundo marcada pelo tédio
(“A vida é vazia, sem sentido; ALTERAÇÕES DA AUTOVALORAÇÃO
nada vale a pena.”) – Sentimento de auto-estima diminuída
– Idéias de morte, desejo de desaparecer, – Sentimento de insuficiência, de incapacidade
dormir para sempre – Sentimento de vergonha e autodepreciação
– Ideação, planos ou atos suicidas
ALTERAÇÕES DA VOLIÇÃO SINTOMAS PSICÓTICOS
E DA PSICOMOTRICIDADE – Idéias delirantes de conteúdo
negativo:
– Tendência a permanecer na cama • Delírio de ruína ou miséria
por todo o dia (com o quarto escuro, • Delírio de culpa
recusando visitas, etc.)
• Delírio hipocondríaco e/ou de
– Aumento na latência entre as
perguntas e as respostas negação dos órgãos
– Lentificação psicomotora até o • Delírio de inexistência (de si e/
estupor ou do mundo)
– Estupor hipertônico ou hipotônico – Alucinações, geralmente
– Diminuição da fala, redução da voz, auditivas,
fala muito lenta com conteúdos depressivos
– Mutismo (negativismo verbal) – Ilusões auditivas ou visuais
– Negativismo (recusa à alimentação, – Ideação paranóide e outros
à interação pessoal, etc.) sintomas
psicóticos humor-incongruentes
Perdas e depressão
■ Do ponto de vista orgânico, temos fatores causais e desencadeantes
que têm importante peso nos diversos quadros depressivos: fatores
biológicos, genéticos e neuroquímicos.

■ Do ponto de vista psicológico, a depressão tem uma relação


fundamental com as experiências de perda.

■ Surge com muita frequência após perdas significativas: de pessoa


muito querida, emprego, moradia, status socioeconômico, ou de
algo puramente simbólico.

■ As síndromes e as reações depressivas surgem com muita frequência


após perdas significativas: de pessoa muito querida, emprego,
moradia, status socioeconômico, ou de algo puramente simbólico.
Subtipos de transtornos depressivos
Os subtipos de transtornos depressivos mais utilizados na prática clínica são:

1. Episódio ou fase depressiva e transtorno depressivo recorrente


2. Distimia
3. Depressão atípica
4. Depressão tipo melancólica ou endógena
5. Depressão psicótica
6. Estupor depressivo
7. Depressão agitada ou ansiosa
8. Depressão secundária ou orgânica
Episódio ou fase depressiva e transtorno
depressivo recorrente

■ No episódio depressivo, evidentes sintomas depressivos devem


estar presentes por pelo menos duas semanas, e não mais que
por dois anos de forma ininterrupta.

■ Sintomas: humor deprimido, anedonia, fatigabilidade,


diminuição da concentração e da auto-estima, ideias de culpa e
de inutilidade, distúrbios do sono e do apetite.

■ Os episódios duram geralmente entre 3 e 12 meses (com média


de seis meses).
Episódio ou fase depressiva e
transtorno depressivo recorrente

■ O episódio depressivo é classificado pela CID-10 em leve,


moderado ou grave, de acordo com o número, a intensidade
e a importância clínica dos sintomas.

■ Quando o paciente apresenta, ao longo de sua vida, mais de


um episódio depressivo, que nunca foram intercalados por
episódios maníacos ou hipomaníacos, faz-se estão o
diagnóstico de transtorno depressivo recorrente.
Distimia
■ Trata-se de uma depressão crônica, geralmente de
intensidade leve, muito duradoura. Começa no início da vida
adulta e persiste por vários anos.

■ Os sintomas depressivos mais comuns são diminuição da


auto-estima, fatigabilidade aumentada, dificuldade em tomar
decisões ou se concentrar, mau humor crônico, irritabilidade
e sentimento de desesperança.

■ Os sintomas devem estar presentes de forma ininterrupta


por, pelo menos, dois anos.
Depressão atípica
■ É um subtipo de depressão que pode ocorrer em episódios depressivos de
intensidade leve a grave, em transtorno unipolar ou bipolar.

■ Além dos sintomas depressivos gerais, ocorrem:


- Aumento do apetite (principalmente para doces, chocolate) e/ou ganho de
peso
- Hipersomnia (>10h/dia ou duas horas a mais que quando não-deprimido)
- Sensação do corpo muito pesado
- Sensibilidade exacerbada a “indicativos” e rejeição
- Reatividade do humor aumentada (melhora rapidamente com eventos
positivos e também piora rapidamente com eventos negativos)
- Fobias e aspecto histriônico (afetação, teatralidade, sugestionabilidade)
associados
Depressão tipo melancólica ou endógena
■ Subtipo de depressão na qual predominam sintomas classicamente endógenos. Esse
tipo de depressão é de natureza mais neurobiológica, mais independente de fatores
psicológicos.

■ Sintomas:
– Lentificação psicomotora, demora em responder às perguntas
– Perda do apetite e de peso corporal
– Alterações do sono, sobretudo se apresentar insônia terminal (indivíduo acorda de
madrugada e não consegue mais dormir)
– Anedonia (incapacidade de sentir prazer em várias esferas da vida)
– Depressão pior pela manhã, melhorando ao longo do dia
– Hiporreatividade geral
– Tristeza vital, “sentida no corpo” (qualitativamente diferente da tristeza normal)
– Diminuição da latência do sono REM (inversão da arquitetura do sono)
– Ideação de culpa
Depressão psicótica

■ É uma depressão grave, na qual ocorrem, associados aos


sintomas depressivos, um ou mais sintomas psicóticos.

■ Exemplos de sintomas psicóticos:


- Delírio de ruína ou culpa
- Delírio hipocondríaco
- Delírio de negação de órgãos
- Alucinações com conteúdos depressivos.
Estupor depressivo
■ Estado depressivo grave, no qual o paciente permanece dias na
cama ou sentado, em estado de catalepsia (imóvel; em geral rígido).

■ Apresenta negativismo que se exprime pela ausência de respostas


às solicitações ambientais
■ Geralmente fica em estado de mutismo
■ Recusa alimentação
■ Muitas vezes urina e defeca no leito

■ O paciente pode, nesse estado, desidratar e vir a falecer por


complicações clínicas (pneumonia, insuficiência pré-renal,
desequilíbrios hidroeletrolíticos).
Depressão agitada ou ansiosa

■ Tipo de depressão com forte componente de ansiedade e


inquietação psicomotora.

■ O paciente queixa-se de angústia intensa associada aos


sintomas depressivos.

■ Não para quieto; insone; irritado; anda de um lado para


outro; desespera-se.

■ Nos casos graves, há sério risco de suicídio.


Depressão secundária ou orgânica

■ Tipo de depressão causada ou fortemente associada a uma


doença ou um quadro clínico somático, seja ele primariamente
cerebral ou sistêmico.

■ Doenças como hipo ou hipertireoidismo, lúpus eritematoso


sistêmico, doença de Parkinson e acidentes vasculares cerebrais
(AVCs) apresentam, com significativa frequência, quadro
depressivo que faz parte da própria condição patológica.
Caso clínico: Depressão
■ Jack, homem branco, divorciado, de 49 anos, vivia com o filho de 10
anos na casa da mãe. Reclamou de depressão crônica e disse que
finalmente percebeu que necessitava de ajuda. Ele relatou que tinha
sido pessimista e preocupado durante a maior parte de sua vida adulta.
Sentia-se um pouco deprimido e não sentia muita alegria. Ele tinha
dificuldade para tomar decisões, era pessimista em relação ao futuro e
pensava muito pouco em relação a si mesmo. Durante os últimos 20
anos, período mais longo que ele conseguiu lembrar em que seu
humor foi ‘normal’ ou menos deprimido, duro apenas 4 ou 5 dias.
■ Apesar das dificuldades, Jack conseguiu terminar a faculdade e fez
mestrado em administração pública. As pessoas lhe diziam que seu
futuro seria brilhante e que ele seria muito valorizado no governo
estadual. Jack não pensava assim. Ele assumiu um emprego
administrativo de baixo nível em uma agência estadual, pensando que
poderia sempre trabalhar em um nível muito maior. Ele nunca o
conseguiu, permaneceu na mesma mesa durante 20 anos.
■ A esposa de Jack, aborrecida com o contínuo pessimismo, com
a falta de autoconfiança e a relativa incapacidade do marido
para se divertir, se desanimou e se divorciou dele. Jack mudou-
se para a casa da mãe afim de que ela pudesse ajudar a cuidar
de seu filho e dividir as despesas.

■ Cerca de 5 anos antes de vir a clínica, Jack tinha experimentado


uma fase de depressão pior do que qualquer outra. Sua
autoestima ia de baixa a não existente. Em virtude de sua
indecisão, ele se tornou incapaz de decidir qualquer coisa. Ele
estava exausto todo o tempo e sentia como se houvesse
chumbo em seus e braços e pernas, o que dificultava sua
movimentação. Ele se tornou incapaz de completar projetos ou
de cumprir os prazos finais. Sem esperança, começou a pensar
em suicídio. Depois de tolerar indiferença durante anos por
parte de alguém que ele esperava que o promovessem, os
empregadores de Jack o dispensaram.

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