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CAMPINAS
2015
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ECONOMIA
Fernanda Dalberto
CAMPINAS
2015
ii
Resumo:
Na periferia do capitalismo, a urbanização é o resultado de processos em que se
alimentam as contradições específicas da condição de subdesenvolvimento. As
heterogeneidades estruturais, oriundas de um passado colonial, se reproduzem e tomam
novas formas no decorrer da história. As cidades no Brasil refletem e reproduzem a
desigualdade social formada na esfera da produção. A política habitacional, por sua vez,
está condicionada às conjunturas econômicas e ao acesso aos fluxos de capitais
externos.
Palavras chave: Política habitacional; Urbanização; Periferia; Programa Minha Casa Minha Vida;
Conjunto Emílio Bosco.
Abstract:
On the periphery of capitalism, urbanization is the result of a process that feeds
on specific contradictions from the condition of underdevelopment.. Structural
heterogeneity, coming from a colonial past, have reproduced and taken new forms
throughout history. Cities in Brazil reflect and reproduce the social inequality formed on
the sphere of production. The housing policy, is subject to economic situations and
access to external capital flows.
Key-words: Housing Policy; Urbanization; Periphery; 'Minha Casa Minha Vida' Program; Emílio Bosco.
iii
Lista de Gráficos:
Gráfico 3: Conjunto Emílio Bosco - Faixa etária dos primeiros titulares .................... 36
iv
Lista de Figuras:
Imagens 13: Visão da outra perspectiva da Av. Emílio Bosco, sentido centro de Matão
em 2011 ......................................................................................................................... 40
Imagens14: Visão da outra perspectiva da Av. Emílio Bosco, sentido centro de Matão
em 2015.......................................................................................................................... 40
Figura 18: Distância e Tempo de Carro: Origens - Conjunto Emílio Bosco ............... 43
v
Lista de Quadros:
vi
Lista de Siglas:
vii
SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO: ........................................................................................................................... 1
CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 57
Anexo I: ....................................................................................................................................... 64
viii
INTRODUÇÃO:
O Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) deu uma nova dimensão à
política habitacional no Brasil. O programa foi lançado em 2009 como resposta à crise
financeira de 2008 iniciada nos Estados Unidos. Os objetivos divulgados pelo Governo
Federal foram de estímulo à construção civil, como parte de uma política anticíclica, ao
mesmo tempo em que o programa se apresenta como solução ao problema da habitação.
O MCMV não só mobiliza recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS) para o crédito, como direciona um volume inédito de subsídios diretos com
recursos do Orçamento Geral da União (OGU) destinados à moradia de famílias de
baixa renda (aproximadamente 0 a 3 salários mínimos).
1
Quadro 01: Déficit Habitacional por Região - Valores Absolutos, 2008
2
assim, pode apresentar diferentes soluções, não somente ligadas à construção de novas
moradias, mas também à melhoria e ocupação de outras já existentes.
3
Singer (1982) aponta que o solo urbano é confundido com capital, mas este é
assentado na propriedade privada dos meios de produção e não de habitação. Assim, o
"capital imobiliário" constitui um falso capital. Ele se valoriza, mas a origem de sua
valorização não é a atividade produtiva, e sim a monopolização do acesso a uma
condição indispensável à produção, a moradia1. Como todo espaço urbano é
propriedade privada, mesmo as piores localizações têm de ser compradas ou alugadas, a
população sem renda o suficiente para fazer frente aos preços de mercado é, dessa
forma, progressivamente excluída dos mercados formais (SINGER, 1982, p.21).
1
A habitação é um dos componentes da cesta básica de subsistência do trabalhador, ou seja, é necessária
a reprodução da força de trabalho, alicerce da reprodução capitalista (SINGER, 1982).
4
de propriedade privada e da casa própria para a classe trabalhadora. "A vulgarização da
casa própria, individualizada, é vista como vantajosa para a classe capitalista porque ela
estimula a fidelidade de pelo menos uma parte da classe operária ao princípio da
propriedade privada" (HARVEY, 1982 p.13), o que funciona como uma forte
ferramenta ideológica, através de falsa elevação dessa parcela da classe trabalhadora à
classe proprietária.
2
A dependência externa, que persiste nas economias latino-americanas, tem seu cerne no passado
agroexportador dos países, que foi montado pelo modelo de colonização de exploração. A segregação
social, também marca dessas sociedades, tem sua origem inicial no campo com o latifúndio e histórica
exploração do trabalhador.
5
O problema habitacional não pode ser analisado isoladamente de outros
processos socio-econômicos e políticos mais amplos. Kowarick (1993) chama atenção
para dois processos interligados. O primeiro refere-se as condições de exploração do
trabalho, ou seja, à pauperização à qual estão sujeitos diversos segmentos da classe
trabalhadora. O segundo processo decorre do anterior, é o que o autor se refere como
Espoliação Urbana (KOWARICK, 1993, p.62), ou seja, o somatório de extorsões que
se operam através da inexistência ou precariedade de consumos coletivos socialmente
necessários à subsistência do trabalhador e que só exacerbam a exploração nas relações
de trabalho.
Nos anos 2000, o Brasil passou por um ciclo expansivo de emprego e renda,
estimulado principalmente pelo aumento do preço das commodities e pelo aquecimento
da economia mundial. Quando a crise de 2008 se deflagra a resposta do governo foi de
continuar e aumentar as medidas de estímulo ao gasto. É nesse contexto que o programa
Minha Casa Minha Vida é lançado.
6
uma introdução ao programa MCMV e seu funcionamento, para depois, no segundo
capítulo, avaliarmos com mais propriedade tanto o estudo de caso quanto algumas
análises nacionais.
7
CAPÍTULO 1: URBANIZAÇÃO E POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL
8
mas foram até reforçados". (FERNANDES, 1977 em MARICATO, 1995,
p.15)
A partir da Lei de Terras, entretanto, toda terra devoluta só poderia ser ocupada
através dos processos de compra e venda a preços que dificilmente seriam acessíveis ao
trabalhador livre. Dessa forma, a lei garantia a sujeição do trabalhador aos postos de
trabalho antes ocupados por escravos. (FIX, 2011, p.58)
9
O acesso ao mercado de terras urbanas em formação era, porém, restrito.
Mariana Fix (2011) aponta que em um primeiro momento a precariedade dos
transportes nas cidades associada à mercantilização da terra, que excluía grandes
camadas da população do seu acesso, obrigou o trabalhador urbano a se localizar perto
dos locais de emprego em péssimas condições. O cortiço foi a primeira solução
encontrada pelo trabalhador para a habitação no Brasil. Esses, porém, foram um dos
principais alvos das políticas higienistas do final do século XIX (MARICATO, 1995,
p.18).
Depois da crise de 1929, que atingiu com força os países centrais, o Brasil inicia
um novo período econômico impulsionado pela industrialização por substituição de
importações. Maricato (1995, p.19) ressalta que a industrialização brasileira combinou
crescimento urbano industrial com regimes arcaicos de produção agrícola. O
desenvolvimento econômico do país, e a consequente acentuação da urbanização, foram
processos marcados pela heterogeneidade. Houve prevalência do capital mercantil e
continuidade da importância da propriedade fundiária na estrutura econômica e política
do país (MIOTO, 2015, p.25).
10
desenvolvimento industrial reproduziu a pobreza do trabalhador no país. O processo foi
marcado por sucessivos apertos salariais e forte presença do subemprego e desemprego
(MIOTO, 2015, p.31). Como resultado, grande parte da camada trabalhadora não tinha
condições de acesso ao mercado formal de moradia. A saída histórica, uma vez que não
constituem demanda para pagar por esses bens e serviços é a autoconstrução3 (MIOTO,
2015, p.36).
O aumento dos assentamentos em terrenos ilegais faz com que exista uma cidade
legal, que consta ao planejamento urbano, em contraste a cidade real (MARICATO,
1995, p.11). O uso do solo na periferia se dá com profundo deslocamento entre norma e
fato. Enquanto os imóveis não têm valor como mercadoria, ou têm valor irrisório, a
ocupação ilegal se desenvolve sem interferências do Estado. A partir do momento em
que os imóveis adquirem valor de mercado as relações passam a ser regidas pela
legislação e pelo direito oficial. "A lei do mercado é mais efetiva do que a norma legal"
(MARICATO, 1995, p.12).
3
Na autoconstrução os trabalhadores, com ajuda de parentes e amigos, erguem suas casas em seus tempos
de folga em terrenos próprios legais ou ilegais quase sempre nas franjas das cidades fortalecendo o
movimento de periferização nas cidades (KOWARICK, 1993). "A casa é mínima, é um abrigo, dotado
somente do indispensável" (FERRO, 2006). Há sempre um endividamento, que dado os baixos salários, é,
em grande parte dos casos, coberto através do aumento da já extensa jornada de trabalho. Se a esse tempo
forem adicionadas as horas gastas na locomoção diária e as referentes à confecção da casa, tem-se um
quadro claro do desgaste daqueles que "ingressam na aventura de possuir uma propriedade"
(KOWARICK, 1993)
11
A periferia como fórmula de reproduzir nas cidades a força de trabalho é
consequência direta do tipo de desenvolvimento econômico que se processou na
sociedade brasileira (KOWARICK, 1993). Possibilitando de um lado altas taxas de
exploração de trabalho e de outro forjando formas espoliativas que se dão ao nível da
própria condição urbana de existência a que foi submetida a classe trabalhadora
(KOWARICK, 1993).
12
A principal política habitacional do período veio da regulamentação das
condições de reprodução da força de trabalho, com a criação dos Institutos de
Aposentadoria e Pensões (IAPs) para cada categoria profissional. Os IAPs foram as
primeiras instituições públicas de importância a tratar da questão habitacional, embora
essa não fosse sua função central (FIX, 2011, p.76).
Embora importante, a experiência dos IAPs foi insuficiente, exemplo disso foi o
fato de as taxas de prestações de ajuda ao inquilino não se ajustarem com a inflação. O
seu impacto também foi desigual entre as regiões do país, o atendimento se concentrou
sobretudo no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Essa primeira política
habitacional funcionou mais como suporte ao circuito imobiliário nascente do que como
resposta ao problema da falta de habitação ou dos direitos sociais das populações de
baixa renda (FIX, 2011, p.78).
13
aumento dos preços e dificultava ainda mais o acesso da casa pelo trabalhador (FIX
2011).
14
que não condiz com estrutura produtiva do país e excluí camada significativa de sua
fruição (MIOTO 2015, p.09).
A massa excluída desse consumo, se por um lado não servia de mercado para
esses bens, por outro constituiu ampla oferta de mão de obra barata para sua produção
(MARICATO, 1995, p.21). A queda do poder aquisitivo do trabalhador correspondeu,
entre a década de 1960 e 1970, a uma acentuação na concentração de renda. 50% da
população Brasileira que se apropriava em 1960 de 17,7% da renda total passou, em
1970, a apropriar-se de 13,1%. (MARICATO 1982)
A habitação tem muita força ideológica. A casa própria é uma das principais
aspirações do brasileiro em razão de seu peso subjetivo e objetivo (BOLAFFI 1982,
p.43). Subjetivamente, a aquisição de um imóvel se constitui na principal evidência de
sucesso e conquista de posição social mais elevada. Objetivamente a casa própria
facilita a obtenção de crédito e libera o orçamento familiar do aluguel (BOLAFFI 1982,
p.43).
4
O BNH inaugurou um novo momento para a construção civil. Porém quanto à seus efeitos
multiplicadores, esses são altos para trás, ou seja, para atividades pouco qualificadas, e muito baixos no
estimulo da atividade industrial como um todo. Quando em 1967 iniciou-se a recuperação o pedal do
crescimento foi a indústria de bens duráveis e não a construção civil (BOLAFFI, 1982). Quanto ao
estimulo ao setor também preciso pesar as suas condições para o trabalhador. Nossa construção civil,
como mostra Ferro (1969), tem altas taxas de exploração do trabalho.
15
infraestrutura urbana e nacional, por meio do Banco Nacional de Habitação
(BNH), do Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU), e do
Sistema Financeiro de Habitação (SFH), iniciou uma nova fase na articulação
entre Estado e indústria da construção, particularmente para o subsetor de
edificações." (FIX, 2011, p.90)
16
A política foi fundamental para a estruturação de um mercado imobiliário nos
moldes capitalistas. As empresas privadas ligadas ao mercado imobiliário saíram dessa
experiência fortalecidas na medida em que houve subsídios à demanda e também houve
a criação de sistemas de financiamento habitacionais que ampliavam seus capitais de
giro (MIOTO, 2015, p.51).
17
Brasil, ainda mais pela necessidade de moldar sua política macro de acordo com a
cartilha recessiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) (CARNEIRO, 2002).
5
As medidas restritivas estão endossadas pelo tripé macroeconômico que vem sendo a regra da política
econômica no Brasil desde o Plano Real (1994): regime de metas de inflação, fiscais (regime de restrições
aos gastos de governo) e pelo câmbio flutuante.
18
lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida em 2009 as políticas habitacionais
implementadas foram escassas e pontuais.
Embora este período seja marcado por uma expressiva redução na capacidade de
financiamento, ocorreram também algumas inovações institucionais importantes (FIX,
2011). Uma delas foi a criação da Carta de Crédito, tanto para o FGTS quanto para o
SBPE, o que ampliou o poder de barganha dos tomadores de empréstimos frente às
empresas construtoras e aos vendedores de imóveis em geral (CARDOSO, 2013, p.22).
Esse movimento de ampliação do crédito, porém, foi limitado pelas altas taxas de juros
que prevaleceram no período. Com isso, praticamente se inviabilizou o financiamento
de longo prazo para as camadas de baixa renda e mesmo para parcela dos setores
médios (CARDOSO, 2013, p.23).
19
que teve como consequência forte restrição dos empréstimos do FGTS para a produção
de moradias por Estados e Municípios, o que levou à redução quase absoluta dos
financiamentos previstos pelo Programa Pró-Moradia, que se delineava até 1997 como
o principal programa para apoio à atuação dos governos locais no setor habitacional
(CARDOSO, 2013, p.24).
20
em 1997 instituiu a possibilidade de criação de companhias securitizadoras. Mas a
tentativa de reproduzir o modelo americano não prosperou (CARDOSO, 2013, p.26).
21
(PLHIS) que deveria estabelecer as diretrizes e prioridades da política em nível local.
(CARDOSO, 2013 p.31)
Como parte das tentativas do combate à crise o programa Minha Casa, Minha
Vida (MCMV) foi lançado em março de 2009. O pacote habitacional foi divulgado
como uma das principais políticas anticíclicas do governo Lula. Tinha o intuito de
fomentar a indústria da construção civil e manter o desenvolvimento do setor
imobiliário. Trata-se de um programa de financiamento e subsídios que aposta na
iniciativa privada como agente motora do processo (ARANTES e FIX, 2009, p.01).
22
foram descobertas como "mercado", ainda possuíam grandes dificuldade no acesso à
moradia (ARANTES e FIX, 2009, p.02).
23
permitir aumentar os índices de utilização do solo nos empreendimentos. (CARDOSO,
2013, p.37)
24
renda (CARDOSO, 2013, p.40). Para cada tipo de empreendimento construído, as
unidades devem ser comercializadas no valor definido dentro de limites estabelecidos
conforme características especificas de cada cidade e região, envolvendo níveis
diferentes de subsídio de acordo com a faixa de renda. (CARDOSO, 2013, p.41)
Quanto ao seu financiamento, Mariana Fix (2011) aponta que o MCMV não
trouxe grandes inovações. Foram do BNH as mudanças mais significativas no
financiamento imobiliário, com a criação do FGTS e do SBPE, que continuam a ser as
principais fontes de recurso. A grande novidade do programa são os subsídios diretos
com recursos do Orçamento da União destinados à faixa de menor renda. (FIX, 2011,
p.144)
6
Os investimentos no PNHR são a partir de recursos orçamentários e do FGTS, contratados com
entidades governamentais e sociais – sindicatos, associações, cooperativas. Nesse caso, não valem os
critérios de por renda familiar mensal, mas pela renda anual, dado a sazonalidade das safras ou produção
agropecuária. (AMORE 2015, p.19)
25
Quadro 04: Metas quantitativas (unidades e investimento) por fases, faixa de renda e
modalidade:
Fase Faixa Modalidade Uhs % Investimento
FAR s/ esp.
Faixa 1 FDS (Entidades) 30.000 3%
Rural (PNHR) s/ esp.
Fase 1
Faixa 1- total 400.000 40%
Faixa 2 FGTS 400.000 40%
Faixa 3 FGTS 200.000 20%
Fase 1 - Totais 1.000.000 100% R$ 28 bi
FAR 860.000 43%
FDS (Entidades) 60.000 3%
Faixa 1
Rural (PNHR) 60.000 3%
Fase 2 Oferta pública 220.000 11%
Faixa 1 - total 1.200.000 60%
Faixa 2 FGTS 600.000 30%
Faixa 3 FGTS 200.000 10%
Fase 2 - totais 2.000.000 100% R$ 125 bi
Fonte: AMORE, 2015, p.22
As parcelas pagas pelas famílias que tem a casa subsidiada também aumentaram,
e esse aumento foi setorizado. Para as famílias que recebem até R$800, a parcela será
fixa de R$80. As que recebem entre R$800 e 1.200 pagarão 10% da renda. Famílias
com renda entre R$ 1.200 e 1.600 terão percentual de 15%. E para as de renda entre
R$1.600 e 1.800 será de 20%. (LAPORTA, 2015). A nova meta é de 3 milhões de
contratações (BALBIM, 2015).
26
No segundo semestre de 2015, a crise internacional chega ao Brasil com mais
força, e a reação do governo tem sido contrária à anticíclica de 2008. A resposta dada,
até o momento, foi por meio de medidas de austeridade traduzidas pelo ajuste fiscal. O
Ministro do Planejamento Joaquim Levy anunciou corte no Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) de R$ 7 bilhões. Em seu trecho que trata do Minha Casa, Minha
Vida, esse será R$ 4,8 bilhões (FOLHA, 2015). Foi decidido que o FGTS passará a
direcionar recursos para o pagamento das despesas da faixa 1, para desonerar o
orçamento da União (FOLHA, 2015). Mesmo com os cortes, o governo mantém sua
meta estabelecida de 3 milhões de contratações. A reação dos movimentos sociais tem
sido de protesto aos cortes e retrocessos que a política recessiva trará.
4,022,695
2,775,260
2,364,112
855,971
391,464
27
CAPÍTULO 02: O CONJUNTO RESIDENCIAL EMÍLIO BOSCO E AS
FRAGILIDADES DO MINHA CASA MINHA VIDA
A partir dos anos 1960 e principalmente depois década de 1970, a RMC recebeu
grandes investimentos governamentais, tornando-se um dos maiores eixos de expansão
industrial no interior do Estado (CUNHA, 2009, p.339). A região atraiu modernas
plantas de grandes empresas e as relações intersetoriais com agropecuária e o setor
terciário se intensificaram (BRANDÃO, 2002 p.402). Tal fato levou a um crescimento
desordenado da mancha urbana, criando para Campinas problemas típicos de grandes
metrópoles, como falta de moradia e o consequente processo de favelização,
especulação imobiliária desenfreada e baixos salários. Este processo gerou um padrão
de crescimento físico em áreas intermediárias vazias e horizontalização com grande
ação especulativa mercantil (CUNHA, 2009, p.441). Durante a década de 1980, a
7
Fonte: IBGE - disponível em: http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=
1&idnoticia=2972
28
população desconcentrou-se da cidade de Campinas, dirigindo-se aos municípios
vizinhos, o que acabou por transformar alguns deles em cidades-dormitórios.
8
Fonte: Prefeitura de Sumaré - disponível em: <www.sumare.sp.gov.br/mapas.htm>
9
Fonte: IBGE - disponível em <www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=355240>
10
Com a expansão industrial na Via Anhanguera muitas empresas de grande porte instalaram plantas no
município de Sumaré. Os ramos com maior expressão são metalúrgico, químico, elétrico e têxtil e dentre
as principais empresas podemos destacar: Honda, 3M do Brasil, Villares, Adere, Amanco, Buckman,
Wabco, Pastifício Selmi, Pirelli, Sata Brasil, Quinta Roda, Desleeclama, Syngenta, Sherwin Williams,
Schneider, Transitions Opticals, Sotreq, PPG. (PREFEITURA DE SUMARÉ, 2015)
29
Figura 1: Mapa da Região Metropolitana de Campinas
Fonte: www.sumare.sp.gov.br/mapas.htm
Fonte: www.sumare.sp.gov.br/mapas.htm
30
Conforme dados disponibilizados pela Prefeitura, Sumaré em 2011 tinha um
déficit habitacional estimado em 8.743 unidades, porém, desde que o MCMV começou
a atuar no município esse número vem caindo significativamente. O município já tem
5.636 unidades do programa entregues à faixa 1, essas divididas em 20 condomínios e 3
empreendimentos. Desde 2013 o programa tem sido o foco da secretaria da habitação e
o primeiro conjunto entregue foi o Emílio Bosco, o caso selecionado para a pesquisa.
2.2 Metodologia
31
2.3 O Conjunto Residencial Emílio Bosco:
Fonte: http://www.sumare.sp.gov.br/
11
Conforme informado pela secretaria da habitação, em 2013 foram realizadas no município de Sumaré
uma série de políticas que envolveram a reintegração de posse de áreas de risco e demolição de moradias
precárias. Ainda segundo a secretaria as regiões das quais as famílias são originárias se encontravam às
margens do curso de água e sofriam com alagamentos constantes.
32
Foto da portaria e área comum do conjunto Emílio Bosco. Fonte: GoogleMaps
Fotos da autora do Conjunto Emílio Bosco tiradas em visita realizada em outubro de 2015
33
Figuras 7, 8, 9 e 10: Região do Residencial Emílio Bosco
Imagem da Av. Emílio Bosco, com Conjunto Residencial Emílio Bosco à esquerda e Conjunto Poços de
Caldas em frente (Foto retirada do GoogleMaps)
Imagem da Av. Emílio Bosco, à esquerda temos a portaria Conjunto Residencial Emílio Bosco e todas as
edificações que podemos ver a direita são condomínios do MCMV (Foto retirada do GoogleMaps)
Imagem tirada a partir da perspectiva que se têm da portaria do Conjunto Emílio Bosco (Foto retirada do
Google Maps)
34
Foto de uma das torres do conjunto Poços de Caldas com bandeira do MTST (Movimento dos
Trabalhadores sem Teto). (Foto da autora, maio de 2015)
35
Gráfico 2: Conjunto Emílio Bosco - Origem das Famílias
22% 25%
Pq. Franceschini
Jd. Basilicata
Jd. Alvorada
17%
Auxílio Moradia
36%
Dos titulares da casa12 75,9% são mulheres. Como é regra o Cadastro Único ser
feito em nome das mulheres, os 24,1% titulares homens são provavelmente sozinhos e
sem companheiras. Declararam-se ser chefiadas por mulheres 43,75% das famílias. A
faixa etária dos titulares e cônjuges revela que há um alto índice de jovens chefes de
família (faixa etária de 25 a 39 anos). O conjunto também tem 11% de titulares idosos,
atendendo ao pré-requisito estipulado nas regras do programa de 3%.
Gráfico 03: Conjunto Emílio Bosco - Faixa etária dos titulares e cônjuges
60 ou mais 11%
40 - 59 anos 35%
25 - 39 anos 43%
18 - 24 anos 11%
12
Por titulares entende-se o membro da família no nome de quem é feito o castro no Cadastro Único, o
qual o MCMV está integrado.
36
ensino fundamental. Os primeiro titulares e cônjuges que chegaram a concluir o Ensino
Médio são poucos, aproximadamente 13%.
Desempregados 9.5%
Lar 18.0%
Autônomos 34.5%
37
A renda das famílias beneficiadas está concentrada principalmente entre 1 e 2
salários mínimos, mostrando que o programa no caso realmente abrange as famílias de
baixa renda. Vale ressaltar que 8% das famílias declaram-se sem renda durante a
pesquisa realizada pelo TS em 2013, o que aponta para uma grande dificuldade no
cumprimento com as obrigações que a mudança para o conjunto do MCMV traz. Essas,
principalmente relacionadas ao pagamento da taxa condominial, que no caso do Emílio
Bosco é de R$80, a prestação mínima de R$25 mensais, e as contas de água, energia e
gás, contas novas, que as famílias, antes vivendo em ocupações irregulares, não
enfrentavam. Podemos estender essa dificuldade às famílias que também declararam
receber até 1 SM (18,39% das famílias), já que em sua soma as contas associadas a casa
comprometem uma porcentagem significativa do orçamento familiar.
56.25%
18.39%
8% 9.64% 7.67%
Sobre a quantidade de moradores por UH, 81,4% das famílias declararam ter até
4 membros, o que condiz com as dimensões do apartamento. Mesmo com essa grande
concentração de famílias relativamente menores não se pode ignorar o fato de existirem
no conjunto famílias de até 10 membros (20,2% delas). Assim, considerada a rigidez do
programa quanto à tipologia e tamanho da unidade, que no caso do Conjunto Emílio
Bosco é padrão - 2 quartos, sala, cozinha, 1 banheiro e área de serviços -, as
necessidades das famílias com mais membros podem não estar sendo plenamente
atendidas.
38
Gráfico 08: Conjunto Emílio Bosco - Quantidade de pessoas por família
1 pessoas 15.54%
2 pessoas 20.18%
3 pessoas 24.82%
4 pessoas 20.89%
5 pessoas 11.07%
6 pessoas 3.75%
7 pessoas 1.07%
8 pessoas 1.07%
9 pessoas 0.36%
10 pessoas 1.80%
39
14 mostram o sentido oposto, ou seja, a Av. Emílio Bosco, em uma mesma altura, mas a
perspectiva é em direção ao centro de Matão, onde em 2011 ainda há ocupação,
diferente da imagem 11.
Fotos da região do Emílio Bosco em dois períodos 2011 à esquerda e 2015 à direita. Na Imagem 12,
vemos ao fundo à esquerda o conjunto Emílio Bosco. (Fotos retiradas do GoogleMaps)
Imagens 13 e 14: Visão da outra perspectiva da Av. Emílio Bosco, sentido centro de
Matão, 2011 e 2015
Fotos da região do Emílio Bosco, capturadas na mesma altura da Av. Emílio Bosco, das Imagens 13 e 14,
porém no sentido contrário ao conjunto. A imagem 13 refere-se à 2011 e a imagem 14 à 2015. (Fotos
retiradas do GoogleMaps)
40
cidade, supridas de vasta rede de comércio e serviços. Durante a aplicação dos
questionários, os entrevistados mostraram-se insatisfeitos com a localização do
conjunto. Relataram que ainda voltam ao local de origem para atividades como lazer,
compras e trabalho. Todas as famílias entrevistadas avaliaram a localização de regular a
péssimo, sendo que 28,57% avaliaram como regular, 42,86% como ruim e também
28,57% como péssimo.
13
O calculo do deslocamento é aproximado e foi feito a partir das coordenadas do bairros em questão.
41
Figura 16: Distância Parque Franceschini - Conjunto Emílio Bosco
42
Figura 13: Distância e Tempo de Carro
O relatório do trabalho técnico social descreveu que três meses antes da entrega
do conjunto (em julho de 2013) foram realizadas diversas reuniões com responsáveis
pelas Secretarias da cidade. O TS deu destaque à participação das Secretarias da
Educação, Saúde e Segurança, que se mostraram as mais preocupadas com as novas
demandas que o conjunto iria gerar. Observou-se, no relatório de julho de 2013 que os
equipamentos públicos estavam, no geral, com suas capacidades de atendimento já
extrapoladas.
43
Matão, alegou que não havia policiais suficientes para atender a nova demanda gerada
pelo conjunto. Já a Saúde declarou ter o equipamento completo, mas que também não
tinha capacidade para atender o novo contingente de 560 famílias.
44
2.3.3 Gastos e organização condominial
Além dessas novas contas, as famílias se defrontam também com maiores gastos
com transporte, já que hoje se locomovem mais, voltando ao seu local de origem para
atividades relacionadas a algumas compras, lazer e trabalho, e várias localidades
necessitam de duas conduções para chegar. Das famílias entrevistadas, 90,5%
declararam que as contas aumentaram desde a mudança para o condomínio, sendo os
principais componentes desse gasto a conta de gás, o condomínio, e transporte.
14
Vale resaltar também, que pelas regras do programa MCMV não pode haver venda, troca ou aluguel
das unidades durante esses 10 anos. Se, após o período, a família resolver deixar o imóvel esta não poderá
mais ser beneficiada por nenhum programa habitacional no país
45
Dos questionários realizados, 100% avaliaram a gestão do condomínio como
ruim ou péssima, sendo muito recorrente frases como: "A gente paga e não tem
retorno". Dos 21 entrevistados 4 responderam à pergunta "o que mudaria" em primeiro
lugar com: o síndico. Os moradores no geral reclamaram que o condomínio "não
oferece nada". Uma das moradoras ressaltou considerar que "eles tinham sido jogados
ali", não tendo sido explicado às famílias o que realmente significava viver em um
condomínio, uma reunião não era suficiente para essa adaptação. Sendo assim, ela
afirmou que a maioria das famílias não paga, o que dificulta ainda mais a gestão e acaba
estimulando ainda mais famílias à inadimplência, dada a falta de retorno.
46
impõe um modelo que privatiza espaços que poderiam ser públicos. As ruas do
Conjunto e seus ambientes de convivência passam a ser de responsabilidade dos
condôminos, o que torna sua manutenção frágil dada a baixa renda de seus residentes. A
taxa de R$80, no caso do Emílio Bosco, representa uma fração significativa do
orçamento familiar dos moradores, o que se observou foi um alto índice de
inadimplência. Se, por exemplo ao invés de haver o "parquinho" do condomínio,
houvesse uma praça pública, sua manutenção seria de responsabilidade da prefeitura, e
o espaço hoje não estaria fechado por falta de conservação. Segundo Paz (2015), o
modelo tem-se mostrado inadequado por exigir um gasto a mais as famílias, esse
também não favorece o convívio, a participação e sociabilidade.
A pergunta final feita às famílias, durante as entrevistas, foi: o que gostaria que
fosse modificado na situação atual. As respostas foram várias, desde reivindicações
simples, como a colocação de um farol em frente ao conjunto para ficar mais segura a
47
travessia pela Av. Emílio Bosco, passando pela mudança de síndico, a importância de
espaços seguros de lazer tanto parar as crianças quanto para os adultos, e de uma melhor
estrutura de comércio local.
Não soube
Péssimo Ruim Regular Bom Ótimo responder ou
não se aplica
Relação com a
0% 19,05% 38,10% 23,81% 19,05% 0%
vizinhança
Organização do
71,43% 28,57% 0% 0% 0% 0%
condomínio
Satisfação
0% 23,81% 47,62% 23,81% 4,76% 0%
Geral
Satisfação com
serviços 9,52% 66,67% 14,29% 9,52% 0,00% 0%
urbanos
Satisfação com
28,57% 42,86% 28,57% 0% 0% 0%
localização
48
Os entrevistados declararam que as atividades de lazer realizadas pelas famílias
que não envolvem a própria casa, são ainda realizadas nos bairros de origem, mas um
grande desestimulo é a infraestrutura de transporte demorada, e pelos gastos implícitos.
49
pacote foi eufórica, já que esses se colocavam como coautores e parceiros do programa.
Enquanto a de setores de esquerda foi cautelosa.
O Minha Casa Minha Vida foi elaborado sob liderança da Casa Civil e do
Ministério da Fazenda em diálogo direto com representantes da construção e sem
participação popular. As estruturas de política urbana do Ministério das Cidades não
foram mobilizadas nem o Conselho das Cidades consultado. O Fundo Nacional de
Habitação de Interesse Social (FNHIS) também ficou de fora, exceto na modalidade
MCMV Entidades, que abrange somente 1,5%16 dos subsídios públicos. No sentido
contrário das políticas anteriores, o pacote direciona os recursos para um fundo público
secundário e sem conselho, o FAR, que é mais maleável e desregulado. (FIX, 2011,
p.139)
15
CARDOSO 2013, p.44
16
FIX 2011, p.139
50
barateamento das construções, como, por exemplo, a alteração os perímetros urbanos
das cidades (AMORE, 2015, p. 419).
17
Segundo o Estatuto da Cidade (artigo 2, II da Lei 10.257 de 2001), é diretriz geral da política urbana a
gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários
segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos
de desenvolvimento urbano.
51
Programas habitacionais específicos anteriores ao MCMV foram, em geral,
desmobilizados para "fazer rodar" o novo programa (LABCIDADE, 2014, p.03).
"Essa ideologia - que tem um campo material amplo para prosperar no Brasil,
diante da escassez de alternativas, das ameaças de despejos nas favelas e
cortiços, da instabilidade econômica, da insegurança no emprego, da
debilidade das redes de proteção social- foi requisitada como parte de um
arranjo que ajudou as empresas no enfrentamento a problemas do setor,
anteriores à crise, como reconheceram os próprios agentes econômicos" (FIX
2011, p.141).
18
Arantes e Fix (2009) também entram no mérito da qualidade dos empregos gerados pelo MCMV e o
baixo grau dos efeitos multiplicadores da construção civil. O trabalho em obra no Brasil, apesar de
contratar em grande escala, possuí condições de trabalho precárias e baixíssimos salários. O programa
não coloca nenhum requisito sobre o trabalho, e o modelo de exploração é reproduzido. Arantes e Fix
(2009) afirmam que pelo tempo lento dos investimentos habitacionais e a preocupação com a
rentabilidade privada descaracterizam o pacote como política anticíclica em seu sentido keynesiano.
19
O Estatuto da Cidade (Lei 10.257 de 2001) foi promulgado em julho de 2001 para regulamentar os arts.
182 e 183 da Constituição Federal e estabelecer diretrizes gerais da política urbana. Nele, além de outras
questões urbanas, foram definidos instrumentos para combater a especulação imobiliária, como o
parcelamento, edificação ou utilização compulsórios do solo urbano; a aplicação de IPTU progressivo de
até 15% em caso de propriedade ociosa; e possibilidade de demarcação de Zonas Especiais de Interesse
Social (ZEIS), que, dentre suas funções, podem ser destinadas à construção de moradia social.
52
os terrenos buscados são cada vez mais afastados dos centros urbanos. (CARDOSO,
2013)
20
O alto grau de exploração do trabalho na construção civil, ou seja, os baixos salários do setor, fazem
com que, na busca por maximização de lucros, os empresários não tenham a opção de aumentar a pressão
o trabalho. Os ganhos de escala pressionam por inovações no canteiro de obras, mas essas demoram a
acontecer. "O elemento central passa a ser o comando sobre o preço da terra e o uso do solo urbano. (...)
A pressão se impõe, assim, sobre a organização espacial: nas decisões de localização, de forma
arquitetônica e urbana" (FIX 2011, p.222)
53
O modelo favorece, principalmente, a produção de condomínios nas periferias
urbanas ou em áreas rurais que serão transformadas em urbanas. Fix (2011) aponta que
as operações do programa MCMV dependem de alterações nos limites do perímetro
urbano. Esse espraiamento da mancha urbana impõe um alto custo ao poder público, na
medida em que torna necessário levar infraestruturas urbanas a lugares que antes não as
detinham, como serviços de saneamento básico e transporte.
Cardoso (2013, p.54) ressalta que na busca por terrenos mais baratos cria-se
problemas de acessibilidade para a população adquirente, o que gera um "custo social",
para além dos gastos do governo com infraestrutura. As famílias atendidas pelo MCMV
acabam tendo incremento em suas despesas relacionadas ao transporte e a problemas de
infraestrutura, além de terem seus tempos de deslocamento aumentados. O programa
não estimula à ocupação de imóveis vagos construídos (FIX 2011). Tem-se observado a
construção de conjuntos nas fronteiras urbanas, "reafirmando o modelo de espoliação,
que caracteriza o processo de urbanização brasileiro" (CARDOSO, 2013, p.54).
54
com as mesmas tipologias arquitetônicas, soluções construtivas e implantação nos
terrenos (CARDOSO, 2013, p.56).
55
O MCMV não toca na lógica de mercado, e acaba estimulando a propagação do
modelo histórico brasileiro de segregação urbana. Análises nacionais tem mostrado que
instalação dos conjuntos habitacionais é dada, principalmente, em áreas distantes e
desarticuladas do conjunto estruturado da cidade, com insuficiência de transporte
público e infraestruturas urbanas ligadas à serviços e consumos.
Não se pode negar que a experiência do programa tem sido positiva, muitas
famílias hoje deixaram de viver em condições materiais extremamente precárias, mas o
programa apresenta restrições, principalmente quando pensamos no problema da
habitação em seu sentido amplo, como parte integrante do direito à cidade.
56
CONCLUSÃO
57
Historicamente, as políticas habitacionais brasileiras atenderam aos interesses de
determinadas frações do capital, principalmente pela montagem e sustentação de um
sistema de financiamento capaz de estruturá-las. No subdesenvolvimento, a falta de
dinamismo econômico próprio faz com que o Estado e o fundo público sejam motores
fundamentais do sistema. As políticas habitacionais de grande dimensão no Brasil,
marcadamente o BNH e o MCMV, também tiveram alto cunho ideológico, atrelando
questões econômicas ao fomento do sonho da casa própria.
58
regras do FMI. Ao Estado passa a caber o papel de abrir caminhos e facilitar a atuação
do capital, e é dessa forma que, geralmente, são implementadas as políticas sociais
desde então.
Assim, tendo em vista esse contexto histórico e econômico, o MCMV foi criado
em grande medida para atender demandas do setor de construção pelo fornecimento de
subsídios e garantias de créditos, fazendo frente aos efeitos restritivos da crise de 2008.
Ao mesmo tempo, a política se apresenta como solução ao problema da habitação. A
iniciativa privada, dessa forma, entra no programa como parceira e coautora, obtendo
grandes liberdades em sua atuação. Como consequência, tem-se observado nas análises
nacionais a prevalência da lógica produtivista no programa, desalinhada da política
fundiária. O resultado visível é a tendência a reprodução de problemas típicos da nossa
urbanização: a periferização e falta de acesso pleno às estruturas da cidade.
Pode-se observar que o caso do Conjunto Emílio Bosco possuí uma série de
problemas similares aos que vêm sendo apontados em análises nacionais e regionais do
programa. O conjunto é afastado e pouco integrado ao centro do município de Sumaré.
Sua construção foi realizada às margens do urbano e as infraestruturas locais de serviços
e consumos públicos e privados não são satisfatórias para a população que ali reside,
principalmente quanto à lazer, cultura e infraestrutura comercial, assim, reproduzindo
problemas típicos da urbanização no Brasil.
59
É inegável que a mudança para o Conjunto acarretou melhorias significativas na
qualidade de vida das famílias, uma vez que essas antes moravam em áreas de risco
sujeitas a alagamentos e desmoronamentos. O programa MCMV tem muitos méritos, e
representa um grande avanço na política habitacional brasileira, porém, também possuí
restrições, algumas dessas abordadas nesse trabalho, e que vêm sendo ressaltadas por
muitos pesquisadores na busca por mudanças no desenho do programa, principalmente
quanto as poucas exigências que o MCMV ainda impõe sobre indústria da construção
civil.
60
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VILLAÇA, Flávio, "Espaço intra-urbano no Brasil". São Paulo: Editora Studio Nobel:
FAPESP: Lincoln Institute, 1998.
63
Anexo I:
Questionário:
1. Origem:
2. Tempo de moradia:
3. Composição familiar:
a) Trabalho:
b) Escola:
c) Lazer:
11. Caso resposta acima afirmativa, quais os principais componentes desse aumento:
64
14. E dos equipamentos sociais próximos:
65