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Quem Chora Pelos Filhos de Hagar?

Elwood McQuaid

"...afastando-se, foi sentar-se defronte, à distância de um tiro de


arco; porque dizia: Assim, não verei morrer o menino; e, sentando-se
em frente dele, levantou a voz e chorou" (Gn 21.16).

A mulher a quem o texto se refere é Hagar. O menino é seu filho, Ismael.


Hagar era serva de Sara, esposa de Abraão. Os nomes de Abraão, Sara e
Isaque são bastante conhecidos. Para os judeus e os cristãos, a afinidade
com essa família é compreensível. A Bíblia deixa bastante claro e enfatiza
Os descendentes de
que a aliança estabelecida por Deus para trazer bênção ao mundo inteiro Ismael tornaram-se tribos
deveria passar de Abraão para Isaque e, posteriormente, para sua de beduínos, sendo
descendência, o povo judeu: "Deus lhe respondeu: De fato, Sara, tua atualmente conhecidos
mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a como as nações árabes.
minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência" (Gn 17.19).

Portanto, nós cristãos temos acompanhado a história dos descendentes de Abraão e Isaque com
fidelidade e grande amor. Afinal de contas, foi através deles que o Senhor, por Sua graça e
misericórdia, aproximou-se de nós.

Essa aliança trouxe promessas irrevogáveis para o povo judeu: uma terra, um povo, um Rei e, por
fim, um reino que abrangerá o mundo inteiro numa era milenar de felicidade plena – como jamais foi
vista neste planeta. Por isso, durante a longa peregrinação da descendência de Isaque através dos
séculos, os verdadeiros crentes têm se alegrado pelas vitórias dos judeus, maravilhando-se com a
precisão do cumprimento profético e a preservação divina do Seu povo. Sempre que Israel passou
por sofrimentos, os verdadeiros cristãos lamentaram, assim como Raquel chorou por seus filhos há
milênios.

Ao mesmo tempo, especialmente quando uma crise profunda como a atual se abate sobre o Oriente
Médio, devemos nos perguntar: "Quem chora pelos filhos de Hagar?" O capítulo 21 do Livro de
Gênesis é extremamente esclarecedor: em todos os acontecimentos que envolvem os
descendentes de Isaque e a preparação do rumo futuro da humanidade por parte de Deus, existe
um outro aspecto nessa história. Ele revela um magnífico retrato de um Deus amoroso, que estende
a graça e a misericórdia em meio à provação e revela a história de um outro povo.

Tudo começou, como ocorre muitas vezes, com pessoas bem-intencionadas tentando ajudar Deus
a levar Seu projeto adiante, quando o Senhor não parecia agir no ritmo que elas gostariam. Na
opinião de Sara, Hagar parecia ser a solução para sua esterilidade e a necessidade de Abraão ter
um descendente. O resultado da união de Abraão com Hagar foi Ismael (que significa "Deus
ouvirá"). No entanto, após a chegada de Isaque, passou a existir uma rivalidade entre os meninos.
Como conseqüência, Hagar e seu filho receberam uma "notificação de despejo": "[Sara] disse a
Abraão: Rejeita essa escrava e seu filho; porque o filho dessa escrava não será herdeiro com
Isaque, meu filho" (Gn 21.10).

Com apenas um odre de água e pão, Hagar foi mandada para o deserto. Vendo que seu suprimento
de água estava acabando e acreditando que Ismael pereceria, ela sentou-se e, como vimos no
texto, chorou pelo seu filho. "Deus, porém, ouviu a voz do menino; e o Anjo de Deus chamou do céu
a Hagar e lhe disse: Que tens, Hagar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino, daí onde
está. Ergue-te, levanta o rapaz, segura-o pela mão, porque eu farei dele um grande povo" (Gn
21.17-18).

Ismael recebeu um nome que continha uma promessa ("Deus ouvirá"). Essa promessa foi cumprida
quando Deus ouviu o choro do menino. A resposta do Senhor foi prover um poço de água, um lugar
de abrigo e fazer uma promessa: Ismael viveria e Deus faria dele uma grande nação. Tão certo
quanto Deus cumpriu as promessas que fizera a Isaque, Ele também cumpriu Suas promessas na
vida de Ismael.

Entretanto, os herdeiros de Ismael foram levados por um rumo diferente daquele dos descendentes
de Isaque. Ismael não recebeu a promessa da terra, de um Rei e de um reino, mas de uma nação
que, "por numerosa, não será contada" (Gn 16.10). Além disso, dele seriam gerados "doze
príncipes" (Gn 17.20). E foi o que ocorreu. Os descendentes de Ismael tornaram-se tribos de
beduínos, sendo atualmente conhecidos como as nações árabes.

Infelizmente, à medida que se cumpriam as promessas, aumentava também a animosidade entre os


descendentes dos dois irmãos. Como podemos testemunhar todos os dias, a intensidade da
hostilidade parece multiplicar-se.

Trilhando Caminhos Diferentes

Em 610 d.C., um negociante de camelos chamado Maomé


passou a pregar secretamente uma nova religião em Meca, na
Arábia. Ele adorava o deus lunar das tribos árabes – Alá. O
Corão, que passou a ser conhecido como seu livro sagrado,
proclamava a superioridade da fé islâmica e declarava que o
judaísmo e o cristianismo eram religiões "infiéis". Mesmo
reconhecendo os judeus como o "povo do Livro", o islã sempre Em 610 d.C., um negociante de
procurou fazer com que eles se submetessem à religião camelos chamado Maomé passou a
pregar secretamente uma nova
muçulmana. O Corão defendia a conquista através da espada. religião em Meca, na Arábia.
Dentro de pouco tempo, essa religião tomou conta do mundo
árabe. Depois, ultrapassou suas fronteiras, indo muito além, em
guerras proclamadas com o objetivo de subjugar os "infiéis".

Desse modo, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo passaram a trilhar caminhos muito


diferentes. O resultado final foram séculos de sangue derramado e uma hostilidade que permanece
até hoje, registrada em algumas das páginas mais negras da história mundial.

Os árabes nunca haviam alegado que Jerusalém deveria ser um centro da autoridade muçulmana,
nem afirmavam que deveria haver um Estado árabe na região que passou a ser chamada de
Palestina. Entretanto, o estabelecimento do moderno Estado de Israel, em 1948, causou um grande
impacto no mundo árabe. Os judeus estavam voltando para seu antigo território, criando uma
situação considerada intolerável pelos muçulmanos, que haviam revindicado aquela terra em nome
de Alá e do islã. Para os muçulmanos de todo o mundo, a resposta era aniquilar Israel. Empurrar
os judeus para o mar passou a ser sua obsessão. A proposta parecia ser simples. Afinal de contas,
aqueles judeus eram os sobreviventes do Holocausto e dificilmente teriam forças para se opor a
eles. Certamente a tarefa poderia ser terminada dentro de pouco tempo. Entretanto, não foi o que
ocorreu.

O que os líderes árabes e muçulmanos não levaram em conta foi que os judeus eram, como o islã
havia reconhecido, o "povo do Livro". O destino do povo judeu e da nação de Israel havia sido
traçado milhares de anos antes por Deus em um plano divino bem distinto daquilo que está
registrado no Corão e que é pregado nas mesquitas do mundo árabe. Os judeus sobreviveram e
prosperaram na terra que Deus lhes havia prometido.
Chorando Pelos Filhos de Hagar

Com o surgimento de grupos muçulmanos radicais, principalmente a "Organização pela Libertação


da Palestina" (OLP), iniciou-se um reino de terror como poucas vezes foi visto nos países civilizados
do mundo moderno. Sua missão era matar os judeus (especialmente os civis inocentes), varrer
Israel da face da terra e criar um mini-Estado islâmico autoritário liderado pelo famigerado terrorista
profissional Yasser Arafat.

Mas esse auto-proclamado "salvador dos palestinos" acabou demonstrando ser um líder pouco
compassivo. A corrupção que tomou conta da liderança da Autoridade Palestina (AP) tem sido
vastamente documentada. Seus protestos inflamados e manifestações de zelo por seu povo
revelaram-se como pura hipocrisia. A campanha terrorista promovida por Arafat, que transformou-se
numa guerra aberta contra Israel, gerou apenas sofrimento, morte e privações para o povo
palestino.

Muitos palestinos, especialmente os que são cristãos, abandonaram ou estão abandonando as


áreas sob o domínio da AP. Uma reportagem publicada pelo The Jerusalem Post confirmou que
esses palestinos fugiram para salvar suas vidas. Os pedidos de vistos de saída aumentaram 51%
nos seis primeiros meses de 2001, comparados aos 35% já registrados no mesmo período em
2000. A pequena cidade de Belém, que era uma comunidade árabe-cristã até ser tomada por
Arafat, hoje é majoritariamente muçulmana. Outro exemplo dessa situação é a vila árabe-cristã de
Beit Jalla. Ela se transformou num posto avançado para os terroristas de Arafat, donde podem
disparar contra Gilo, região vizinha de população judaica. Um árabe cristão de Beit Jalla, que
abandonou a região juntamente com sua família, afirmou que mais de 30% dos cristãos de sua
cidade já saíram de suas casas desde que os atiradores palestinos invadiram a vila para atirar
contra Gilo.

E o que dizer daqueles que ficaram para trás? Desde que os israelenses começaram a eliminar
terroristas já identificados, os homens de Arafat iniciaram um movimento de terror contra os árabes
palestinos classificados como "colaboradores de Israel". Mas o que isso quer dizer exatamente?

Trata-se de uma velha desculpa usada por Arafat e seus asseclas. Durante os últimos 20 anos,
todos os palestinos suspeitos de pretenderem vender suas terras para israelenses têm sido
sumariamente executados, alguns de forma extremamente cruel, nas ruas das cidades palestinas.
Infelizmente, a mídia ocidental ignora esses acontecimentos, bem como o fato de que hoje em dia
os árabes palestinos estão sendo acuados e mortos por serem suspeitos de "colaborar" com Israel.

Depois que o exército israelense eliminou dois terroristas do Hamas – homens que assassinaram e
feriram centenas de civis inocentes e que estavam planejando outros ataques similares – as forças
de Arafat prenderam dezenas de pessoas. Depois de julgamentos que duravam 10 minutos e que
não davam oportunidade de se recorrer das sentenças, começaram as execuções. Além disso,
bandos de executores da organização Fatah (liderada por Arafat), começaram a matar qualquer um
que fosse suspeito de "colaborar" com Israel. É claro que nenhum desses fatos foi considerado
relevante pela imprensa de todo o mundo.

Como crentes, recebemos a ordem de orar pela paz de Jerusalém e de apoiar os judeus. E é o que
fazemos. Mas não devemos nos esquecer que os filhos de Hagar também estão sofrendo.
Enquanto choramos pelos filhos de Raquel, devemos recordar que também temos a obrigação de
orar pelos filhos de Hagar e de alcançá-los com o Evangelho.

É preciso que leiamos novamente as palavras de Gênesis. Ao falar sobre a natureza de Ismael e de
seus descendentes, a Bíblia diz: "Ele será, entre os homens, como um jumento selvagem; a sua
mão será contra todos, e a mão de todos, contra ele; e habitará fronteiro a todos os seus irmãos"
(Gn 16.12).

Essa profecia é o legado dos filhos de Ismael. Quem deve chorar mais por eles? A resposta é óbvia:
os cristãos – aqueles que se importam com as almas dos homens. (Israel My Glory -
http://www.beth-shalom.com.br)

Elwood McQuaid é editor-chefe de "The Friends of Israel"

Publicado anteriormente na revista Notícias de Israel, julho de 2002.

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