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Zoologia dos

Invertebrados
Material Teórico
Animais Radiados (Filos Cnidária e Ctenophora) e Filo
Platyhelminthes

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Adriana Maria Giorgi Barsotti

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Animais Radiados (Filos Cnidária e
Ctenophora) e FIlo Platyhelminthes

·· Introdução
·· Filo Cnidaria
·· Filo Ctenophora
·· Filo Platyhelminthes

Compreender de forma geral a fisiologia, ecologia e classificação dos animais


radiados, os quais estão inseridos nos filos Cnidaria e Ctenophora, assim
como dos vermes achatados, incluídos no Filo Platyhelminthes.
Conhecer as doenças causadas pelos platelmintos, as quais têm importância
médica e veterinária.

Podemos ser instruídos com o conhecimento de outro, mas não podemos ser
sábios com a sabedoria de outro (Michel de Montaigne).

Nesta Unidade aprenderemos sobre dois importantes filos do reino animal que incluem
animais invertebrados: um Filo inclui os animais com simetria radial, bem conhecidos como
“águas-vivas”; já o outro Filo inclui animais com simetria bilateral e são popularmente
conhecidos como “vermes achatados”.
Para uma melhor aprendizagem e memorização do assunto abordado, leia com atenção
o conteúdo do material teórico e complementar, assim como consulte as referências
bibliográficas e os vídeos indicados.
Recomenda-se também a pesquisa a outras fontes, a fim de contribuir e abranger seus
conhecimentos e aprendizado.

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Unidade: Animais Radiados (Filos Cnidária e Ctenophora) e FIlo Platyhelminthes

Contextualização

Os filos Cnidaria e Ctenophora incluem os animais radiados, os quais são caracterizados


por possuírem uma simetria radial primária ou uma simetria birradial. Acredita-se que esses
animais são os ancestrais dos eumetazoários. De forma geral, os ctenóforos são mais complexos
que os cnidários. O Filo Cnidaria abriga cerca de nove mil espécies que são caracterizadas pela
presença de células urticantes, denominadas de cnidócitos – por isso o nome do Filo Cnidaria –
e são conhecidas popularmente como água-viva, hidra, anêmona e coral.
O Filo Ctenophora possui apenas cerca de cem espécies, são conhecidos popularmente como
nozes-do-mar ou águas-vivas-de-pente.
O Filo Platyhelminthes inclui cerca de vinte mil espécies de vida livre ou parasitárias. Possuem
uma grande diversidade de formas e podem habitar ampla variedade de ambientes. Os vermes
achatados, como são popularmente conhecidos, são os animais que apresentam simetria
bilateral mais primitivas e é provável que seus ancestrais tiveram características semelhantes
aos cnidários. Possuem grande importância para o homem, devido às espécies que podem
ocasionar graves doenças.

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Introdução

Os Filos Cnidaria e Ctenophora são representados pelos animais que possuem simetria radial,
a qual acredita ser a simetria ancestral dos eumetazoários. Além disso, a simetria radial é uma
adaptação satisfatória para esses animais, que podem ser sésseis, sedentários ou livre-natantes,
pois permite sentir o ambiente por todos os lados igualmente.
Uma importante contribuição biológica que surgiu nos cnidários foi a presença de epitélio e
outros tipos de tecido. Evolutivamente, o surgimento dos epitélios permitiu um maior domínio
e independência do meio interno com relação ao meio externo, promovendo um aumento da
homeostase interna, o que possibilitou a evolução de outros sistemas teciduais com funções
cada vez mais específicas.

Filo Cnidaria

O Filo Cnidaria inclui animais familiares, como as hidras, águas-vivas, anêmonas e corais.
O nome Cnidaria é devido às células chamadas de cnidócitos, que podem conter organelas
urticantes, denominadas de nematocistos, as quais são características do Filo.
Os cnidários podem habitar todos os ambientes marinhos e algumas poucas espécies
habitam água doce. São encontrados principalmente em águas rasas, com temperaturas mais
quentes e em regiões tropicais. Algumas vezes podem viver em simbiose com outros animais,
frequentemente como comensais em conchas ou outras superfícies de seus hospedeiros.

Glossário
Simbiose é o convívio de duas espécies em uma relação íntima. O simbionte sempre se beneficia,
o hospedeiro pode se beneficiar, não ser afetado ou ser prejudicado – mutualismo, comensalismo e
parasitismo (HICKMAN; LARSON; ROBERTS, 2004).

Diferente das esponjas, os cnidários possuem uma cavidade intestinal revestida de endoderme,
referida nesse táxon como cavidade gastrovascular, pois atua na circulação e digestão. Essa
cavidade abre externamente em uma extremidade para formar a boca, a qual é rodeada por
tentáculos, esses que auxiliam na captura e ingestão de alimentos.
A parede corporal dos cnidários é composta por três camadas: uma externa, denominada de
epiderme; uma interna, denominada de gastroderme; e uma que se localiza entre essas duas
camadas, chamada de mesogleia, a qual consiste de uma matriz gelatinosa (Figura 1).
Embora todos os cnidários possuam simetria radial e sejam tentaculados, há duas formas
dentro do filo: o pólipo, geralmente séssil e a outra denominada de medusa, comumente
livre-natante (Figura 1). Muitas espécies exibem um ciclo de vida dimórfico, ou seja, incluem
morfologias adultas diferentes, uma forma polipoide e uma forma medusoide.

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Unidade: Animais Radiados (Filos Cnidária e Ctenophora) e FIlo Platyhelminthes

Figura 1 – Comparações entre os tipos de indivíduos polipoide e medusoide.

Fonte: Hickman, Larson e Roberts (2001)

A forma polipoide geralmente é tubular, com uma boca rodeada por tentáculos em uma
extremidade, enquanto a outra extremidade se encontra fixa a um substrato, anêmonas-do-mar
são um exemplo de pólipos (Figura 2).

Figura 2 – Representante da forma polipoide, uma anêmona-do-mar.

Fonte: iStock/Getty Images

A forma medusoide lembra um sino ou um guarda-chuva, onde a boca se localiza no centro


da superfície inferior. Os tentáculos se pendem para baixo a partir da margem do guarda-chuva.
Exemplos dessa forma são as medusas (Figura 3).

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Figura 3 – Representante da forma medusoide.

Fonte: Brighterorange/Wikimedia Commons

Cnidócitos: são células especializadas e únicas dos cnidários. Têm como função auxiliar
na defesa e na captura de alimento. Estão localizadas por toda a epiderme, sendo mais
abundante nos tentáculos. São células ovoides que contêm em seu interior uma cápsula com
tubo enrolado denominada nematocisto. Frente a algum estímulo mecânico ou químico, os
cnidócitos descarregam os nematocistos, os quais podem prender, paralisar ou ainda inocular
substâncias tóxicas na presa. Há alguns tipos de nematocistos, entre os quais os penetrantes, os
volventes e os glutinantes (Figura 4).

Figura 4 – À esquerda, a estrutura de uma célula urticante. À direita, uma porção da parede
do corpo de uma hidra.

Fonte: Hickman, Larson e Roberts (2001)

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Os cnidários são os animais mais simples a possuírem células nervosas verdadeiras, entretanto,
apresentam uma rede nervosa difusa, sem um sistema nervoso central. As sinapses ocorrem de
forma simétrica, ou seja, transmitem impulsos em ambas direções, e assimetricamente, na qual
a sinapse é unidirecional.
O sistema muscular encontrado nesses animais é do tipo epitélio-muscular, com uma camada
externa de fibras longitudinais na base da epiderme e uma camada interna de fibras circulares
na base da gastroderme.
A maioria dos cnidários se alimenta de zooplâncton, embora alguns se alimentem de partículas
maiores, e outros se alimentem de matéria particulada em suspensão. A presa é capturada pelos
tentáculos e imobilizada pelos cnidócitos. A digestão inicialmente é extracelular e posteriormente
intracelular.
A respiração, excreção e circulação ocorrem por difusão simples.
Esses animais apresentam os dois tipos de reprodução, assexuada, que ocorre basicamente
por brotamento; e sexuada, na qual os espermatozoides são liberados na água e nadam à
procura de um óvulo, que pode também ser liberado na água. A fecundação do óvulo por um
espermatozoide dá origem ao zigoto, que se desenvolve originando as formas adultas.

Classificação dos Cnidários


Atualmente o Filo Cnidaria conta com quatro classes representantes: Hydrozoa, Scyphozoa,
Cubozoa e Anthozoa, as quais serão brevemente descritas.
··Classe Hydrozoa: com cerca de 3.200 espécies, os hidrozoários dessa classe podem
se apresentar na forma polipoide, medusoide ou ambas as formas durante o ciclo de
vida. A alternância de gerações ocorre na maioria dos gêneros – pólipos bentônicos
assexuais alternam com medusas planctônicas sexuais –, embora uma ou outra geração
possa estar suprimida ou ausente. As formas medusoides frequentemente ficam retidas
aos pólipos. Os pólipos coloniais são interconectados com celênteron, são polimórficos
morfológica e funcionalmente – gastrozoides para a digestão, dactilozoides para defesa
e captura de presas e gonozoides para a reprodução. Possuem esqueleto geralmente de
quitina e ocasionalmente de carbonato de cálcio. O celênteron dos pólipos e medusas
não possuem faringe nem mesentério, a mesogleia é acelular e os tentáculos são sólidos
ou ocos. As cnidas ocorrem somente na epiderme e seus gametas surgem de células
epidérmicas, a fecundação normalmente é interna, não havendo cópula. As medusas
possuem velum, canal circular, mas não possuem ropálio.
Algumas espécies merecem destaque, como a Hydra, que habita água doce e o estágio
medusoide é ausente (Figura 5); a Obelia (Figuras 6 e 7), que apresenta alternância
de gerações (Figura 8), possuindo os dois estágios em seu ciclo de vida; e a Physalia,
conhecida popularmente como caravela portuguesa (Figura 9).

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Figura 5 – Hydra de água doce.

Fonte: iStock/Getty Images

Figura 6 – Obelia em forma polipoide colonial.

Fonte: Ernst Haeckel (1834–1919)/Wikimedia Commons

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Figura 7 – Obelia em forma medusoide.

Fonte: iStock/Getty Images


Figura 8 – Alternância de gerações em Obelia.

Fonte: slideplayer.com.br

Figura 9 – Caravela portuguesa, Physalia utriculus.


Fonte: iStock/Getty Images

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Você Sabia ?
Que a caravela portuguesa é responsável pelo maior número e gravidade dos acidentes no
Brasil ocasionados por cnidários?
Para saber mais sobre esses acidentes, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0365-
05962011000300038&script=sci_arttext.

··Classe Scyphozoa: com aproximadamente duzentas espécies exclusivamente


marinhas, essa classe inclui a maioria das águas-vivas maiores (Figura 10). Esses
cnidários são predominantemente medusoides. Alguns grupos não possuem pólipos.
Os pólipos produzem medusas por reprodução assexuada através de estrobilação. O
celênteron é dividido em quatro mesentérios longitudinais. As medusas não possuem
velum, mas têm uma espessa camada de mesogleia. As bordas do guarda-chuva são
lobadas, apresentando tentáculos e órgãos dos sentidos, denominados ropálio. Os
tentáculos, manúbrio e toda a superfície possuem muitos nematocistos, que podem
ocasionar envenenamento. Os gametas surgem da gastroderme (Figura 11).

Figura 10 – Água-viva Thysanostoma loriferum com peixes simbióticos.

Fonte: Nicolas Deronne/Wikimedia Commons

Figura 11 – Esquema do ciclo de vida de Aurélia.


Fonte: bloggiologia.blogspot.com.br

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··Classe Anthozoa: possuem aproximadamente 6.200 espécies, são as anêmonas


(Figura 12) e corais verdadeiros. São exclusivamente marinhos, podem ser solitários
ou coloniais, sem estágio medusoide. Os cnidócitos são epidérmicos e gastrodérmicos.
O celênteron é dividido por mesentérios longitudinais, os quais possuem filamentos
mesentéricos semelhantes a cordões. Frequentemente apresentam oito tentáculos, ou
múltiplos de seis. Os pólipos podem se reproduzir assexuada ou sexuadamente, os
gametas surgem da gastroderme.

Figura 12 – Família de peixe-palhaço em uma anêmona.

Fonte: iStock/Getty Images


··Classe Cubozoa: conhecidos como vespas do mar (Figura 13), essa classe possui
aproximadamente 36 espécies. Os pólipos produzem medusas por metamorfose completa,
a estrobilação não ocorre. Os sinos são quase quadrados em um corte transversal. Os
tentáculos são encontrados em cada quadrado na margem do sino. O bordo da subumbrela
se dobra, formando o velário, o qual aumenta a eficiência natatória. As cubomedusas são
extremamente tóxicas, podendo seu envenenamento ser fatal ao homem.

Figura 13 – Vespa do mar extremamente venenosa.


Fonte: Guido Gautsch/Wikimedia Commons

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Filo Ctenophora

Esse filo é composto por menos de cem espécies. São animais marinhos planctônicos,
conhecidos popularmente como nozes-do-mar ou águas-vivas-de-pente (Figura 14). A maioria
dos ctenóforos é transparente, mas alguns são brilhantemente coloridos ou possuem manchas
de pigmentos brilhantes.

Figura 14 – Água-viva-de-pente Dryodora glandiformis.

Fonte: Alexander Semenov/Behance.net

São animais triblásticos, a parede corporal é composta por uma epiderme externa, possuindo
células sensoriais e glandulares mucosas. Abaixo da epiderme há uma camada de células
musculares lisas verdadeiras. A mesogleia é espessa, composta por um material gelatinoso com
fibras de amebócitos derivados da mesoderme.
Esse táxon possui uma simetria birradial, ou seja, o corpo pode ser dividido em dois
hemisférios. A boca em um lado forma o polo oral, a ponta diametralmente oposta ao corpo
possui um órgão apical, sendo o polo aboral. O corpo é dividido em seções iguais por meio
de oito faixas ciliadas, denominadas de fileiras de pente, as quais são características dos
ctenóforos. O polo aboral é constituído por placas transversais curtas de cílios longos e fundidos,
denominados de pentes, os quais proporcionam o poder locomotor para esses animais.
Diferentemente dos cnidários, os ctenóforos não possuem nematocistos, mas sim células
adesivas, chamadas de coloblastos, uma célula que possui a extremidade ancorada na
mesogleia tentacular com uma junção sináptica com uma célula nervosa. Um cordão helicoide
intracelular enrola-se em volta do eixo longitudinal da célula, dando origem às fibras irradiantes
menores na extremidade distal, essas fibras terminam em um grânulo preenchido com material
adesivo, que é liberado quando entra em contato com a presa.
O sistema digestório (Figura 15) é composto por um complexo de canais birradiais, esses
que surgem de um estômago central e a boca leva ao interior de uma faringe ciliada longa e
achatada, que se estende ao longo do eixo polar até o estômago.

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Figura 15 – Sistema digestório de um ctenóforo cidipídeo.

Fonte: Ruppert, Fox e Barnes (2005)


O sistema nervoso dos ctenóforos é uma rede nervosa subepidérmica bem desenvolvida e se
localiza abaixo das fileiras de pentes.
A maioria dos membros desse grupo é hermafrodita, os quais possuem duas faixas, sendo
que uma é o ovário e a outra o testículo. Os ovos e o esperma são liberados na água, ocorrendo
a fertilização.
Esse filo possui uma única classe, denominada de Tentaculata.

Filo Platyhelminthes

Comumente chamados de vermes, de todos os filos bilaterais, os platelmintos são


considerados há muito tempo os mais primitivos.
Esse filo inclui espécies livre-natantes e vermes parasitas. Esses animais estão em um
grado de complexidade que podem ser chamados de triploblásticos acelomados bilaterais.
Os platelmintos mostram uma grande variedade de formas corporais e habitam uma ampla
variedade de hábitats.
A maioria dos vermes parasitas pertencem às classes Trematoda, Monogenea e Cestoda.
A classe Tubellaria inclui espécies livre-natantes marinhas e de água doce, poucas são terrestres
e outras simbiontes.
A combinação de características dos platelmintos representa um grupo de atributos marcados
por grandes avanços na evolução dos Metazoa. Dotados com uma terceira camada germinativa,
a mesoderme, simetria bilateral e cefalização, são alguns órgãos e sistemas sofisticados que
levam a uma tendência direcionada a centralização do sistema nervoso.

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Como citado, esses animais são denominados bilaterais acelomados (Figura 16), pois
possuem um único espaço interno, a cavidade digestiva, com a região entre o ectoderma e o
endoderma preenchida com mesoderma na forma de fibras musculares e mesênquima. Mostram
mais especialização e divisão de trabalho entre seus órgãos quando comparados com animais
radiais, pois o mesoderma torna possível ter órgãos mais elaborados. Dessa forma, atingem um
nível de organização organogênico-sistêmico.

Figura 16 – Plano corpóreo acelomado.

Fonte: Hickman, Larson e Roberts (2001)


A maioria dos tubelários possuem uma epiderme ciliada, em algumas espécies essa epiderme
se estende sobre uma membrana basal, contendo rabditos, que formam um envoltório protetor
ao redor do corpo quando há perda de água. Glândulas mucosas unicelulares abrem-se na
superfície da epiderme.
Na parede do corpo, abaixo da membrana basal, há camadas de fibras musculares. Uma
malha de células do parênquima preenche os espaços entre músculos e órgãos viscerais.
O sistema digestório (Figura 17) inclui uma boca, uma faringe e um intestino, o qual possui três
troncos ramificados, formando uma cavidade gastrovascular. As planárias podem detectar sua
comida a certa distância e através de quimiorreceptores. Envolvem suas presas em secreções de
muco de suas glândulas e rabditos. Algumas espécies parasitas se alimentam de restos celulares
e fluidos corpóreos.
De forma geral, o sistema osmorregulador e excretor (Figura 17) consiste em protonefrídeos
com células-flama. Os protonefrídeos terminam em células-flama, que consistem de duas
unidades celulares, sendo uma célula tubular e a outra de capuz, com dois ou mais flagelos,
os quais batem e os líquidos entram, dirigindo-se através de túbulos até um poro excretor e,
finalmente, para o exterior do corpo.
O sistema nervoso (Figura 17) é um plexo nervoso subepidérmico de um a cinco pares de
cordões nervosos longitudinais. O encéfalo dos platelmintos é uma massa bilobada de células
ganglionares que surgem anteriormente a partir dos cordões nervosos ventrais. Os neurônios
são organizados em três tipos: sensoriais, motores e de associação.

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Figura 17 – Estruturas de uma planária: A) sistemas reprodutor e osmorregulador; B) canal


digestivo e sistema nervoso em escada-de-cordas; C) faringe estendida através da boca ventral.

Fonte: Hickman, Larson e Roberts (2001)

Os platelmintos desenvolveram alguns órgãos dos sentidos, como os ocelos, esses que são
sensíveis à luz; além de células táteis e quimiorreceptoras, que estão distribuídas por todo o
corpo do animal.
Virtualmente, todos os platelmintos são monoicos (hermafroditas), entretanto, há espécies
que se reproduzem assexuadamente, por fissão, e outras sexuadamente.

Classificação dos Platelmintos


··O filo Platyhelminthes possui quatro classes, que serão descritas brevemente.

··Classe Tubellaria: os tubelários em forma de ovais a alongados são geralmente


dorsoventralmente achatados. São bem representados pelas planárias de água doce,
Dugesia sp e Geoplana sp. Predominantemente livre-natantes e aquáticos, esses animais
apresentam uma estrutura denominada aurícula (Figura 18), localizada na região
anterior do animal, essa é dotada de receptores ciliares para a recepção química. Além
dessa estrutura, dois ocelos são encontrados na região anterior. Uma epiderme ciliada
recobre a região ventral do animal e auxilia na locomoção. No interior da epiderme há
numerosas células glandulares, as quais fornecem adesão, revestimento do substrato
ou recobrimento da presa. Há presença de rabditos, que são secretados por células
epidérmicas e possivelmente são usados para defesa ou na formação do muco que
recobre o corpo.

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Figura 18 – Planária.

Fonte: slideplayer.com.br
Os tubelários possuem camadas musculares que distendem, contraem e percorrem todo o
corpo do animal.
O trato digestivo é incompleto, a boca é a única abertura. Possuem uma faringe que pode
produzir muco e enzimas proteolíticas que auxiliam na ingestão e digestão, respectivamente. A
forma do intestino é usada para distinguir as ordens de tubelários, podem estar presentes ou
ausentes, serem simples ou ramificados, e a faringe pode ser simples, plicada ou bulbosa.
Esses animais são hermafroditas, ou seja, possuem sistemas reprodutores feminino e masculino,
entretanto, não há autofecundação. Dado que a fecundação é cruzada, os dois indivíduos
transferem os espermatozoides um para o outro e ambos colocam ovos, que são armazenados no
útero ou desovados seguidamente. O desenvolvimento é direto, sem estágio larval.

A reprodução assexuada ocorre por fissão binária, com posterior regeneração.


Existe uma grande capacidade de regeneração nesse grupo, em que cada parte
fragmentada dá origem a um novo indivíduo. Assista ao vídeo disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=LwBc5bK4BUQ> para ver a incrível
capacidade de regeneração da planária;

··Classe Trematoda: são em sua totalidade vermes parasitas e, como adultos, quase todos
são endoparasitos de vertebrados, fazendo com que surgissem estruturas adaptadas a essa
vida parasitária. A presença de ventosas adesivas orais, tegumento com cutícula protetora que
impede a ação de enzimas digestivas dos hospedeiros e ausência de órgãos dos sentidos são
adaptações para a vida parasita. Além disso, existe produção de muitos ovos na reprodução
com o objetivo de facilitar a sobrevivência e infestação de novos hospedeiros.
Os tremátodeos possuem um canal alimentar bem desenvolvido, mas com a boca localizada
na extremidade anterior.
Esses animais apresentam uma epiderme modificada, denominada de tegumento, o qual é
responsável pelas trocas gasosas e excreção.

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Na reprodução sexuada, os espermatozoides saem dos testículos e são armazenados na


vesícula seminal. Ocorre a cópula e a fertilização cruzada. O ciclo de vida pode envolver um ou
vários hospedeiros. Na ordem Digenea, os tremátodeos parasitam de dois a quatro hospedeiros
e são endoparasitas na maioria das vezes. A espécie Schistosoma mansoni, responsável por
causar a doença esquistossomose, pertence a essa ordem e a Figura 19 mostra seu ciclo de vida:

Figura 19 – Ciclo de vida de Schistosoma sp.

Além dessa espécie, a ordem Trematoda conta com outras espécies de parasitas, como
por exemplo: Clonorchis sinensis (parasita o fígado); Paragonimus spp. (parasita os pulmões);
Fasciolopsis buski (parasita o intestino); entre outras espécies.
··Classe Monogenea: todas as espécies de monogeneos são parasitas, principalmente
de brânquias e superfícies externas de peixes. Alguns são encontrados nas bexigas
urinárias de rãs e tartarugas e uma espécie parasita o olho de hipopótamos. O ciclo de
vida é direto, com apenas um hospedeiro. A larva ciliada eclodida se fixa ao hospedeiro
através de ganchos localizados na extremidade posterior, esses ganchos são chamados
de opistáptor nos adultos e podem possuir ganchos de diferentes tamanhos, ventosas
e sistemas de ancoragem. A alimentação, tegumento e excreção são semelhantes aos
tremátodeos. Um exemplo é a espécie encontrada na bexiga urinária de rãs, Polystoma
sp (Figura 20).

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Figura 20 – Monogeneo parasita de rãs, Polystoma sp.

Fonte: Ruppert, Fox e Barnes (2005)

··Classe Cestoda: essa classe apresenta os platelmintes mais especializados. São


altamente adaptados à vida parasitária, todos endoparasitas. Possuem corpos longos e
achatados nos quais existe uma série linear de conjuntos de órgãos reprodutivos. Cada
conjunto é denominado de proglótide. Não possuem sistema digestivo. O tegumento
é de um citoplasma distal localizado abaixo da camada muscular superficial. Toda a
cobertura superficial dos céstodes é coberta por projeções diminutas, denominadas de
microtricos, os quais aumentam a área de superfície do tegumento, além de protegerem
esses animais de serem digeridos no intestino de seus hospedeiros.

Os céstodes possuem músculos bem desenvolvidos e seus sistemas excretor e nervoso são
similares aos dos outros grupos de platelmintos.
Seu corpo é dividido em três partes (Figura 21): há uma estrutura denominada escólex, que
se localiza na região anterior e é adaptada para se fixar no hospedeiro, possuindo ganchos e
ventosas. Posterior à essa estrutura, há o colo, de onde se originam as proglótides.
Representantes dessa classe, como as tênias, podem atingir um comprimento de até doze
metros (Figura 22). As proglótides mais jovens se localizam mais próximas ao colo, aumentando
de tamanho e maturidade em direção à região posterior do animal.

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Figura 21 – Anatomia de Taenia sp.

Figura 22 – Imagem mostrando o grande comprimento que uma tênia pode atingir.

Fonte: Wikimedia Commons

A teníase é uma doença causada pelas espécies de cestódeos Taenia solium e Taenia
saginata, ou popularmente conhecida como solitária. Abaixo, descreveremos de forma sucinta
sua transmissão e ciclo de vida:
··Transmissão: ocorre por meio da ingestão de carne suína ou bovina crua ou mal cozida,
contaminada com os cisticercos da tênia. A ingestão de ovos de tênia, eliminados por
portadores de teníase, leva ao desenvolvimento da cisticercose humana. A transmissão
pode ocorrer de algumas formas, a autoinfecção externa se dá quando um portador
de tênia elimina os ovos e proglotes e os leva acidentalmente à boca, através de mãos
contaminadas. Há a autoinfecção interna, que pode ocorrer durante vômitos, de modo
que quando as proglotes grávidas ou os ovos de tênia atingem o estômago, sofrem a
ação do suco gástrico, promovendo a ativação das oncosferas no intestino delgado. A

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heteroinfecção ocorre quando o homem ingere os ovos de tênia por meio de água ou
alimentos contaminados;
··Ciclo da doença: as proglótides maduras com ovos são eliminadas pelas fezes do
homem infectado. Quando chegam ao meio externo são ingeridos pelo hospedeiro
intermediário, no caso, o porco. Os ovos eclodem e as larvas oncosferas atravessam
a parede intestinal, caindo na corrente sanguínea e sendo transportadas para qualquer
tecido mole, onde se desenvolvem em um estágio chamado cisticerco. Essa fase é ovalada
e apresenta o escólex invaginado. Quando o homem come a carne suína crua ou mal
cozida acaba ingerindo o cisticerco. No intestino, essa estrutura libera o escólex, que
agora é evaginado, desenvolvendo-se no verme adulto, fixando-se à parede intestinal
(Figura 23).

Figura 23 – Estrutura e ciclo de vida da solitária bovina.

Fonte: Ruppert, Fox e Barnes (2005)

Além do Filo Platyhelmintes, há mais dois filos que englobam animais bilaterais acelomados, o
Filo Nemertea e o Filo Gnathostomulida. Consulte os livros indicados nas referências bibliográficas
para abranger um pouco mais seu conhecimento sobre esses animais, bem como acerca das outras
diversas doenças causadas por esses.

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Material Complementar

Explore

··CNIDÁRIOS: anêmonas, medusas, hidras.... 31 maio 2013. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=9fi6kGuNWtw. Acesso em: 28 fev. 2015.
··FILO Platyhelminthes. [20--]. Disponível em: http://www.lea.esalq.usp.br/mapoio/
LEA0170/Filo%20PLATYHELMINTHES%20I%20e%20II.pdf. Acesso em: 28 fev. 2015.
··PERÉZ, C. D. Filo Cnidaria. [20--]. Disponível em: https://www.ufpe.br/gpa/images/
documentos/BiologiadeCnidaria/Apoio/biologia%20e%20ecologia.pdf. Acesso em: 28
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··VERMINOSES por Platelmintos. v. 1. 3 maio 2014. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=R0hkkEfqAng. Acesso em: 28 fev. 2015.

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Referências

BRUSCA, R. C.; BRUSCA, G. J. Invertebrados. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2007.

______. Invertebrates. 2. ed. Sunderland: Sinauer Associates, 2002.

HICKMAN, C. P.; LARSON, A.; ROBERTS, L. S. Princípios integrados de Zoologia. 11. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

______. Integrated principles of Zoology. 11. ed. New York: McGraw-Hill, 2001.

RUPPERT, E. E.; FOX, R.; BARNES, R. D. Zoologia dos invertebrados. 7. ed. São Paulo:
Roca, 2005.

TENÍASE: transmissão. [20--]. Disponível em: <http://www.uft.edu.br/parasitologia/pt_BR/


parasitologia/teniase/transmissao/index.html>. Acesso em: 27 fev. 2015.

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Unidade: Animais Radiados (Filos Cnidária e Ctenophora) e FIlo Platyhelminthes

Anotações

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