Evolução e Conservação
das Espécies
Material Teórico
Neodarwinismo, Teoria Sintética e Especiação
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Neodarwinismo,
Teoria Sintética e Especiação
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir a evolução biológica, de Darwin até o momento presente da
história, estudando os diferentes mecanismos que levam à formação
de novas espécies, chave para a compreensão e explicação para a
origem da impressionante diversidade de seres vivos do planeta.
ORIENTAÇÕES
O que sabemos hoje sobre a evolução biológica é infinitamente maior do
que as informações básicas que processos percebidos por Charles Darwin,
no século XIX. Sempre tenha em mente que a genética clássica, genética
molecular e novas tecnologias surgiram gradualmente, e que novos conceitos
sempre serão agregados de forma contínua. A utilização da linha do tempo
é fundamental para embasar e defender o conceito de evolução biológica,
dado que os que a atacam conhecem apenas superficialmente os conceitos
descritos pela mídia e que pertencem ao século retrasado.
O Darwinismo retrata apenas o processo de seleção natural sem outras
inferências teóricas. O Neodarwinismo é produto das descobertas sobre a
genética clássica descrita por Mendel (Darwin -Mendel).
Quando na metade do século 20, surgem as novas ciências moleculares,
com a descrição da expressão gênica a partir das sequências de bases
presentes no DNA e a origem das mutações que por sua vez produzem a
variabilidade observada nos seres vivos, chega-se à conclusão que não somos
apenas parentes dos macacos, mas sim de todos os seres vivos do planeta
Terra, variando apenas o grau de parentesco filogenético. Chamamos esse
conjunto de conhecimentos de teoria sintética da evolução (Darwin-Mendel),
modernamente aceito e sempre aberto para novas descobertas.
UNIDADE Neodarwinismo, Teoria Sintética e Especiação
Contextualização
Caso você siga a carreira de professor, os conceitos básicos de convergência,
irradiação, homologia e a analogia são fundamentais para trabalhar em sala de aula
os casos de diversidade biológica encontrados do planeta.
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A seleção natural nos séculos XIX e XX
A percepção de que os seres vivos apresentam variações naturais e estas são
selecionadas pelo meio, não foi exclusiva de Darwin. Durante décadas, ele organizou
dados, mas titubeou em escrever publicamente suas ideias, pois sabia das implicações
sociais e religiosas que sua descoberta. Enquanto isso, outro naturalista, Alfred Russel
Wallace, coletando animais da América (incluindo o Brasil), e principalmente na Ásia,
percebeu as mesmas variações, passando por seleção natural.
Wallace escreveu para Darwin e expôs suas ideias, que por sua vez, temeu
perder o grande trabalho de sua vida, estimulando-o a terminar seu livro. Juntos
publicaram um artigo intitulado “Sobre a tendência das variedades se separarem
indefinidamente do tipo original”, de 1858. Portanto, a teoria original possui
dupla autoria: teoria da seleção natural por Darwin e Wallace.
Neo Darwinismo
No século XX, novos conhecimentos foram agregados ao conceito de evolução
biológica darwiniana. É comum encontrar nos argumentos dos críticos de Darwin,
que ele não foi capaz de explicar de forma completa o processo evolutivo.
Mas cabe lembrar, que a evolução por seleção natural foi percebida no início do
século XIX, com a publicação definitiva em 1859 e nesse momento histórico, não
era de conhecimento público qualquer princípio sólido do que chamamos hoje de
genética. Portanto era impossível para Darwin fazer qualquer defesa em relação
à hereditariedade, e ele realmente era incapaz em seu momento histórico, de
explicar o fenômeno de forma completa e definitiva, tendo ele mesmo caído em
dúvida sobre a possibilidade de herança dos caracteres adquiridos (lamarquismo),
por falta de uma base técnica robusta.
Neo Darwinismo e
Teoria Sintética da Evolução
A redescoberta dos trabalhos de Gregor Mendel, em 1901 por DeVries,
acrescentou uma nova peça do quebra-cabeça: como as características são passadas
através das gerações.
Da união entre o darwinismo (séc. 19), com a genética (séc. 20), surge o
neodarwinismo, explicando a seleção de variedades que são transmitidas através
das gerações por meio de seus genes.
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UNIDADE Neodarwinismo, Teoria Sintética e Especiação
Mas no seu início, a genética era uma ciência empírica e baseada prioritariamente
na análise estatística das hereditariedades das características observáveis.
Note então que quando se fala em darwinismo, estamos falando da teoria do século
XIX com todas as restrições históricas associadas. Quando falamos de e evolução
biológica no momento contemporâneo, estamos discutindo na realidade a teoria
sintética da evolução, com todos os conhecimentos agregados modernamente.
Seleção Sexual
O princípio da sobrevivência do indivíduo mais apto pode tomar rumos
muito peculiares. Nem sempre a aptidão selecionada está diretamente ligada à
sobrevivência imediata, mas da capacidade de certo indivíduo perpetuar seus genes
em seus descendentes.
Por sua vez, as fêmeas acabam por definir quais os padrões que terão maior
probabilidade de serem perpetuados geneticamente nas próximas gerações,
moldando os padrões predominantes. Este fenômeno é chamado de seleção sexual,
produzindo marcantes diferenças entre os gêneros masculino e feminino em muitas
espécies, e quando essas diferenças são visíveis, permitindo a diferenciação visual
entre os sexos, denominamos o fenômeno como dimorfismo sexual.
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Particularmente nas aves, as fêmeas geralmente apresentam comportamentos
e cores mais discretas que os machos (coloração críptica; do grego cripta,
escondido), pois para permanecer nos ninhos chocando ovos ou cuidando de
filhotes, é interessante que não sejam vistas por predadores. Os machos por sua
vez, precisam se destacar para chamar a atenção e das fêmeas, que escolherão os
melhores machos, induzindo a seleção de cores berrantes, cantos específicos ou
comportamentos que interpretamos como “danças do acasalamento”.
O mesmo raciocínio vale para os sapos machos que cantam por fêmeas.
Os anfíbios cantores gastam quase todas as suas energias em uma única noite,
tentando atrair fêmeas, da mesma forma que machos de cigarra, grilos, gafanhotos
e outros insetos estriduladores também cantam para chamar a atenção das
fêmeas. Muitas aranhas macho, terrestres, “tamborilam”, batendo seus palpos e
patas, de forma semelhante a uma percussão (bateria), enquanto os vaga-lumes
expões seus padrões luminosos.
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Figura 2: Os vagalumes do Parque Nacional das Emas DF emitem suas luzes em cupinzeiros.
Cada espécie apresenta um padrão característico “piscadas”
Fonte: institutomamede.blogspot.com.br
Existem espécies que não apresentam dimorfismo sexual claro para nós
humanos, como os psitacídeos (papagaios, araras), embora eles se reconheçam sem
problemas. Em muitos casos, os machos são extremamente pequenos, discretos
ou até ausentes como nos escorpiões amarelos do Brasil (Tityus serrulatus)
com processos de seleção muito peculiares, dependendo da história evolutiva de
cada grupo. Ou seja, embora existam padrões majoritários, a natureza com sua
variabilidade praticamente infinita, produz seleções muito diversas e admiráveis.
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Esse fenômeno é denominado convergência adaptativa. Os porcos espinhos do
hemisfério norte, os ouriços caixeiros de nossas florestas e a equidna australiana,
não possuem parentesco próximo, mas as três espécies passaram por um
processo de aglutinação de seus pelos, formando espinhos, que os protegem de
seus predadores.
Figuras 3 e 4: Um exemplo de convergência evolutiva. Ouriço cacheiro do Brasil Coendou prehensiles, roedor arborícola,
comparado com porcos espinhos da Europa, Africa e Am. do Norte, animais insetívoros do gênero Erinaceus
Fonte: jornaldeuberaba.com.br / sociedadedosanimais.blogspot.com.br
Da mesma forma, plantas sem parentesco podem ter sementes muito parecidas,
dependendo da forma como são dispersas, apresentando o padrão membranas
e asas quando são dispersas pelo vento, ou flores brancas com perfume noturno
quando são polinizadas por mariposas, sem na realidade possuir parentesco
genético, mas apresentar um padrão ecológico semelhante.
No ensino escolar formal, podemos encontrar nos livros didáticos esses dois
padrões básicos associados com outros dois termos conhecidos como homologias
e analogias.
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vivos que o cercam e procure avaliar comparativamente as características que você vê.
Alguns exemplos comuns podem ser citados: os cascos dos cavalos são homólogos
às unhas do nosso dedo médio; nossos narizes são homólogos aos “respiradores” de
baleias e golfinhos, que passaram por um processo de alongamento de suas mandíbulas,
deixando a coana nasal posicionada longe da boca, no alto do crânio, enquanto os
dentes dos animais vertebrados são homólogos às escamas dos peixes cartilaginosos,
ambos com esmalte, dentina e polpa originados dos mesmos tecidos embrionários:
esmalte da ectoderme, dentina e polpa da mesoderme, entre outros exemplos.
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Especiação
O processo de formação de novas espécies é denominado especiação. Mas o
que é uma espécie? Para os especialistas da classificação biológica, dificilmente
encontraremos termo mais polêmico e discutível. Definir que um elefante é uma
espécie e tamanduá é outra, é fácil. Definir que duas bactérias, dois bolores, duas
algas planctônicas ou dois vermes de raízes de plantas pertencem a diferentes
espécies é outra história muito, mas muito diferente mesmo. Dois animais totalmente
semelhantes podem ser geneticamente distintos, como os veados campeiros do Brasil,
ou dois sapos absolutamente semelhantes podem cantar de formas distintas e atrair
diferentes e isoladas populações de fêmeas e, portanto, serem espécies diferentes.
Da mesma forma, plantas ou animais visivelmente diferentes podem se cruzar e
gerar híbridos férteis, sendo considerados como pertencentes à mesma espécie.
descendentes férteis.
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Além de isolar as espécies, tais mecanismos são úteis para impedir a formação
de híbridos estéreis ou parcialmente férteis, o que na natureza, significa desperdício
de matéria e energia.
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O termo híbrido traz o conceito da mistura de duas espécies ou variantes diferentes.
Explor
Sob certas condições, podem surgir características novas e muito positivas, geralmente
denominadas em conjunto como “vigor híbrido”, muito utilizado em variedades agrícolas
selecionadas artificialmente, como o milho híbrido.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Birds-of-Paradise Project Introduction
Vídeo do projeto As aves do paraíso, da National Geographic Society.
https://www.youtube.com/watch?v=YTR21os8gTA
Sites
Conheça Stephen Jay Gould
ARAGUAIA, Mariana. “Stephen Jay Gould”;Brasil Escola. Acesso em 20 de outubro
de 2015
http://www.brasilescola.com/biografia/stephen-jay-gould.htm
Leitura
Seven new microendemic species of Brachycephalus (Anura: Brachycephalidae) from southern Brazil
Artigo Acadêmico com a descrição de sete novas espécies de anfíbios no Paraná
https://peerj.com/articles/1011/
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Referências
CUNHA, Claudio da. Genética e Evolução Humana. Campinas, SP: Átomo, 2011.
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