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Há uns 15 dias atrás eu estava andando lá depois da rodoviária, lá pras bandas de onde a gente foi, estava

andando, escutando Edson Gomes, estava me sentindo muito bem, na volta desci pela estrada de terra principal
mas depois entrei numa periférica para dar um arrodeio. Nessa estradinha vi uma moto vindo do outro lado,
achava que não estava me vendo porque havia plantas na minha frente invadindo a estrada, e eu tinha visto a
moto por causa do barulho, mas eu estava bem calmo. A moto veio na minha direção, quando passou por mim a
moto parou. O cara da moto começou a acelerar a moto parada. Eu estava bem tranquilo, fiquei olhando pra
ele. Aí ele falou
- Ronaldo Júnior!
Eu percebi um tom de deboche no jeito de falar.
- Opa… você quem é?
Ele bateu com as costas dos dedos no tanque da moto. Tinha um adesivo da cabeça de um tigre, de uma
empresa de segurança.
- Eu sou o vigia daqui, moro ali nos apartamentos – apontou para a parte alta – eu vi você lá de cima.
Conhece Nandim, Raimundo Neto?
Ele sabia a resposta
- Conheço.
- São o que seu?
- Meus primos.
- É! Eu sou amigo deles. Ronaldo Júnior, andando nos matagal!
Fiquei olhando pra ele. Agradeço a Deus por estar bem e alerta naquela hora, não tive medo.
Ele foi embora. Esses apartamentos ficam numa parte alta do terreno, perto de um ponto onde eu gosto
de ir, um ponto alto, onde inclusive mandei uma foto pra você de Francisco Pedro sentado na terra. Até onde
sabia esse prédio de 1o andar com esses apartamentos era abandonado, mas agora esse cara era o único morando
lá, por causa do trabalho de vigia ali.
Pois bem, acho que uma semana depois eu fui por lá, de carro, passei na frente dos apartamentos, estava
tocando uma música alta de putaria, parei meu carro mais a frente no alto, onde costumo parar, liguei meus
reggae no celular e comecei a ler minhas coisas da bíblia. Poucos minutos depois passa uma moto do meu lado,
na garupa da moto duas meninas, a que tava sentado atrás era uma menina linda, morena, magra, o cabelo preso
em cima, o pescoço fino, bem esbelta, os ombros tal… fiquei pensando comigo, essas meninas vieram de lá.
Então é isso, as coisas estão assim… Essa turma desses meus primos é uma galera carregada, da maldade
mesmo. Fiquei moendo aquilo ali e fui percebendo, eu estava virando um cara invejoso. Tinha percebido isso
algumas vezes, talvez mais ainda por causa da castidade, muita energia acumulada, que acabou indo pro lado
errado do ódio, da comparação enfim… o que interessa é que estava querendo o que era dos outros. Fiquei
pensando isso.
Alguns dias depois, estava inclusive falando com você no whatsapp, aquela primeira vez, tive que
desligar porque a vó de Lirian, que ela chama de mãe, apareceu lá em casa, e queria minha ajuda pra ir com ela
no banco. Fui com ela e depois fui deixar ela em casa, achando que ia encontrar Francisco Pedro, que estava lá.
Chegando lá Lirian não estava, nem o menino. Fui na casa de uma menina que ela conhece na rua de trás e não
estava lá. Tinha pedido a Lirian pra não levar o menino na casa de ninguém durante essa quarentena, aqui em
casa estamos tomando todo o cuidado por causa da minha vó, ela tinha me prometido que não ia levar na casa
de ninguém, só passear com ele. Entrei no carro e fui no lugar que achei que ela estava, a casa de um "amigo"
dela, um cara que ela já conhecia antes de me conhecer, e quando a gente terminou ela voltou a andar lá.
Chegando lá não vejo Lirian, vejo o cara e outra amiga de Lirian, e vejo meu filho saindo do portão da casa, o
cara segura ele pela mão. Paro o carro, ele vem me entregar o menino. Pergunto por Lirian, ela sai. Eu já com o
menino no carro pronto pra ir embora, pergunto se ela vai. Ela entra no carro, digo obrigado educadamente e
saio. Fico calado e Lirian fica inventando assunto pra falar, não respondo nada, fico pensando o que é e o que
não é da minha conta, tentando não confundir o certo com as coisas do ego. Fico calado até chegar na casa dela.
Quando a gente chega lá a mãe dela tá no portão e começa a reclamar dela sair com o menino e tal, ela diz que
não que escutar, aí eu não me segurei, comecei a falar, porque já tinha tido problema com minha vó e até com
minha mãe uma vez por causa de Lirian, defendendo dela ver o menino, mesmo nessa quarentena, de eu
escutar que "se o menino ficar doente a culpa é sua", escutei muitas vezes isso da minha vó e uma vez da minha
mãe, uma vez que Lirian estava doente e queria ver o menino. Pra eu ficar mais indignado uma semana antes
Lirian queria ver o menino lá em casa mas eu estava com ele no sítio, quando avisei pra ela no telefone ela
começou a gritar, falar um monte de coisa e dizer que se o menino ficasse doente a culpa ia ser minha. Aí você
imagine como me senti nessa situação que lhe contei acima. Falei isso pra ela, ela pediu desculpas chorando, eu
de dentro da minha cabeça falei que "a gente perdoa quem se arrepende", o que pra o cristão mesmo não é
verdade, a gente perdoa quem não se arrepende porque a situação de quem não se arrepende já é ruim. Depois
mais discussão, já tinha sido combinado dias antes do menino voltar no outro dia, liguei o carro e fui embora.
Na volta passei pela casa do cara lá. Lá é tipo um mercantil, é o que me deixa mais indignado porque toda hora
tem gente lá, ninguém usa máscara nem fica longe. Quando cheguei lá tinha umas seis pessoas. Pedi pra chamar
ele, ele veio e falei com ele normalmente, tratei ele direito, falei que não era da minha conta a vida de Lirian,
mas eu tenho uma pessoa idosa em casa, e meu filho não pode tá andando na casa dos outros. Pedi que quando
ele ou a outra menina visse Lirian, que orientasse a pelo menos ficar longe. Teve uma hora que ele fez que não
queria ouvir, eu insisti, ele ouviu, depois disse eu obrigado e saí normal. Na verdade não era nem pra eu ter ido
ali.
No outro dia eu ia fazer uma viagem pra Cajazeiras pra fazer um exame do meu ouvido. Minha mãe
chega com Francisco Pedro no carro, termino de me arrumar pra ir. Quando vejo o celular Lirian tinha acabado
de mandar uma mensagem no whatsapp – que ela tinha me bloqueado e disse que não tinha whatsapp, mas
desbloqueou só pra isso- , perguntando o que eu tinha ido fazer na casa do cara lá e que eu "não procurasse
confusão". Senti um desgosto tão grande, porque me soou como ela dizendo que eu ia apanhar, o cara lá era um
moreno grande, parecia um armário, acho inclusive que tava de ressaca, pois tava com a cara inchada, parecia
um cururu. De modo que vieram aqueles pensamentos ruins de inveja, comparação… só prum amigo a gente
fala essas merda. Saí do whatsapp, ela ligou eu desliguei e saí de viagem. Estragou minha viagem. Fui com tia a
viagem toda calado, pedi a ela pra ter paciência comigo, pois estava com problemas. A viagem todinha sem
sinal nem internet, quando voltei pra casa nem olhei o que Lirian tinha mandado, bloqueei ela no whatsapp,
coisa que eu nunca tinha feito, e tirei o chip do outro celular onde ela mandava sms. Essa coisa da pessoa poder
estragar uma coisa que eu to fazendo com uma mensagem não dava certo. Nessa história com Francisco Pedro,
sabia que tinha um lado que estava certo, mas sabia que tinha o outro lado que era só meu ego… fiquei
refletindo isso, nas minhas leituras, minhas orações a Deus. Estou contando essas histórias paias pra lhe situar
no momento paia que eu me encontrava.
Dias depois, no caso ontem 24 de maio fui lá depois da rodoviária novamente, era umas duas e meia da
tarde, nesse dia levei o celular da minha vó pois nele baixei uma bíblia em pdf em espanhol, como estou lendo
o livro dos Salmos em espanhol fiquei de pesquisar no pdf quais são os salmos que aparece a palavra inveja –
envidia -, pois eu lembrava de ter lido, mas não sabia onde. Passei na frente da casa onde morava o vigia, som
alto e uma galera conversando lá dentro. Parei meu carro mais a frente, liguei meu sonzinho no celular, fiquei
um tempo curtindo o reggae, estava me sentindo bem, o reggae faz tão bem a mim… depois fui fazer a pesquisa
no pdf, curiosamente os salmos onde aparece a palavra inveja são os de número 37 e 73. Quando li lembrei da
impressão que tive quando os li a primeira vez. Acho que é agora que a história melhora um pouco :)

"En cuanto a mí, casi se deslizaron mis pies; Por poco resbalaron mis pasos.
Porque tuve envidia de los arrogantes, Viendo la prosperidad de los impíos." (Salmo 73,2-3)

No te impacientes a causa de los malignos, Ni tengas envidia de los que hacen iniquidad.
Porque como hierba serán pronto cortados, Y como la hierba verde se secarán.
Confía en Jehová, y haz el bien; Y habitarás en la tierra, y te apacentarás de la verdad.
Deléitate asimismo en Jehová, Y él te concederá las peticiones de tu corazón.
Encomienda a Jehová tu camino, Y confía en él; y él hará.
Exhibirá tu justicia como la luz, Y tu derecho como el mediodía.
Guarda silencio ante Jehová, y espera en él.
No te alteres con motivo del que prospera en su camino, Por el hombre que hace maldades.
Deja la ira, y desecha el enojo; No te excites en manera alguna a hacer lo malo.
Porque los malignos serán destruidos, Pero los que esperan en Jehová, ellos heredarán la tierra.
Pues de aquí a poco no existirá el malo; Observarás su lugar, y no estará allí.
Pero los mansos heredarán la tierra, Y se recrearán con abundancia de paz.(Salmo 37,1-11)

Esse versículo, "pero los mansos heredarán la tierra", me chamou atenção porque nunca tinha percebido ele,
mesmo já tendo lido esse salmo tantas vezes. É a mesma frase que Jesus fala no seu sermão mais conhecido. Na
verdade se trata de um dos principais pilares da fé cristã, a promessa que Jesus fez de que nem tudo que
acontece conosco deve ser carregado por nós, que as coisas na verdade não eram pra ser assim, e se agora são é
só por um momento que é necessário – como com ele mesmo aconteceu – para depois tudo ser acertado por
aquele que realmente pode fazer justiça. Enquanto estava lendo, novamente passou uma moto com duas
meninas. A que vinha atrás era uma menina branca, tinha o corpo tipo Bruna Sarkis. Senti aquilo de novo, mas
fiquei com o que tinha lido. É difícil de lhe explicar o que eu senti, porque algumas coisas na bíblia fazem
ligação com todas as histórias que já aconteceram nela, esse é um dos casos. De qualquer forma isso não vai
atrapalhar você entender nem sentir minha história, prometo. Mas na hora eu senti com o coração que não
devia, nunca deveria recorrer ao que eles faziam para eu ser feliz, devia esperar as coisas do jeito de Deus.

Fiquei na cabeça com um reggae do Bad Brains, "The Meek", o refrão é justamente esse versículo, que eu
atribuía a Jesus mas também estava no Salmo. Ela ficou tocando na minha cabeça. Nela o H.R. também recita o
Salmo 1, que é meu salmo preferido, o salmo que me tirou do buraco naquela época da depressão, sozinho de
madrugada na empresa de ambulância. Ali foi o começo da minha conversão, apesar de eu ter errado muito
ainda depois, muitas coisas que não faria hoje, mas marcou muito esse dia pra mim, aquela leitura me deu uma
avivada e me permitiu estudar pro concurso, que depois foi o que me permitiu me organizar.

Saí dali, fui no posto de gasolina e de lá tirei pra cidade de Aparecida, pra uma serra que fica depois dessa
cidade. Eram umas 4:30 da tarde. Deixei o carro no acostamento e andei subindo a estrada. Do lado da serra
avistei uma árvore grande do tronco cinza. A árvore me chamou a atenção e decidi descer da estrada pra olhar
mais de perto. Quando chego um pouco mais perto vi que tinha uma parte da cerca arrancada. Me senti grato
nessa hora. Entrei e comecei a andar. O céu estava nublado, havia uma grama alta e leve, o vento veio e fazia
ondulações na grama, elas dançavam, me senti pleno naquele momento. Depois tinha umas formações
parecidas com aquele lajedo de Serra das Almas, alguns momentos parecia um jardim japonês, as poças de água
e as árvores anãs nascendo das fendas, torcidas. Foi muito bom, fiquei de subir aquela serra outro dia. Na volta
sentei um momento e o ponto onde eu estava era um pouco alto em relação á estrada e o vale lá embaixo, vi o
sol se pondo pras bandas de Sousa, e nuvens pretas chegando logo atrás de mim, no nascente. Quando estava
terminando de se por saí, voltei pra estrada e andei pra frente subindo uma ladeira do asfalto. No alto da ladeira
pude avistar a chuva caindo nas serras pro norte. Mais uma vez, acho que vai ser a última, é difícil explicar
exatamente o que senti. Quando se está na cidade é difícil escutar "Os mansos herdarão a terra" e acreditar, mas
quando se está sozinho na natureza, e você sente harmonia na natureza… na verdade agora não acho que seja
difícil de explicar, você também já teve muitos momentos nas dunas, lembrando os momentos bons que você
teve lá, acho que pode ser uma coisa parecida, pensar que "a vida poderia ser assim". A promessa do
cristianismo, do próprio Cristo que morreu por essa promessa, é de que isso pode ser pra sempre, e também
acreditamos que ele ganhou essa vida.

No outro dia, hoje, fui pela manhã no sítio Recreio – o sítio da família da minha vó materna – com minha vó,
minha mãe, Francisco Pedro e tia; fomos deixar tia lá. Na ida pedi que me deixassem no pé de um serrote
conhecido que tem por lá, deixassem tia e na volta parassem o carro ali perto e me esperassem. Tinha chovido a
noite toda, uma chuva fina, e subi por um córrego que tinha por entre as pedras, onde poderia ter uma quedinha
d’água mais em cima. A cachoeirinha tinha parado, mas tomei banho numa piscininha que tinha mais acima,
foi muito bom. Descendo tinha uma parte que é uma clareira, e pela primeira vez eu vi o pé de angico novo. Já
havia visto ele germinado, mas nunca com 2 metros de altura. A planta adulta tem várias plaquinhas de súber,
não sabia que na juventude ela produzia umas pontiagudas. Muito linda, a haste apontada pra cima, apenas
alguns galhos alternos, abertos querendo pegar o sol, folhas compostas com dezenas de minúsculos folíolos. Fiz
até uma poesia que anotei assim que pude, com aquela intenção do hai-kai:

Hoje vi o angico novo


Alto, numa clareira
Num córrego por entre as pedras
Pétalas de mororó sobre as pedras

Escrevendo agora percebi que inconscientemente imitei uma repetição que Borges usa em um poema que fala
do campo depois da batalha: "Hay viento y hay cenizas en el viento"

Voltando para casa ao meio-dia, comi uma fatia grande de queijo coalho com rapadura preta e as duas da tarde
fui para a cidade de Vieirópolis, onde tem uma serra; levei material para fazer um fogo e 3 espigas de milho pra
assar. Essa história de fazer fogo, eu não sou experiente, na verdade inventei isso depois dessa pandemia, fiquei
um pouco impressionado com o tipo de sentimento que aflorou nas pessoas e percebi como as coisas podem ser
bem piores na insegurança. Encontrei até uma anotação do meu caderninho desse dia, que diz assim: "Basta
uma catástrofe pequena para o dinheiro ficar inútil, e quando for inútil aquilo pelo qual nós lutamos a maior
parte do dia, o que nós saberemos fazer?" Desde esse dia fiquei cismado porque não sabia nada de vida fora da
civilização e procurei logo aprender a fazer um fogo, comprei um saco de carvão e fiz alguns lá depois da
rodoviária, depois levei uns milhos pra assar lá também, foi muito bom esse dia, e agora era a segunda vez que
assava milho.
A trilha pra onde eu queria ir demora de meia hora a quarenta minutos. Já no caminho, olhando pro chão
vi uma cobra atravessada, uma cobra corre-campo, tamanho médio, gorda, a pele dobrada. A cobra no caminho
tem um significado de agouro pra mim, de que alguma dificuldade vai aparecer, que eu nem sei se é verdade, é
mais por causa do que já aconteceu comigo três vezes no mesmo dia que encontrava uma cobra assim, que
depois posso lhe explicar. Mas curiosamente não pensei nisso na hora, nem me ocorreu, fiquei mais
concentrado em tentar pegar ela, peguei ainda na cauda mas ela fugiu.
Subindo a trilha, passo pelo córrego nas pedras. A trilha depois faz um arrodeio para encontrar o córrego
lá em cima novamente, que é o local onde ia tomar banho. Das outras duas vezes que fui, uma vez com Denes e
outra com Rafael e Francisco Pedro, fiquei curioso de saber se dava pra chegar lá em cima indo pelo córrego, e
também de ver o que havia embaixo, mas não dava tempo. Dessa vez estava só e decidi ir. Olhei primeiro
embaixo, havia um tanque natural com uma queda d’água, achei bonito, depois voltei, deixei a mochila atrás de
uma árvore e comecei a subir. Uma subida meio ruim, teve uma hora que escorreguei numa flor molhada sobre
uma pedra, quase caio no meio dos espinhos, mas segui. Vi umas coisas bonitas, até filmei uma parte lá pra
mostrar pra minha mãe, vou te mandar depois. Foi quando vi que a bateria do celular estava fraca, coloquei no
modo avião, que eu nem sei se serve pra economizar. Teve uma parte que tinha uma subida mais perigosa, foi
aí que vi que cometi um erro. Pra fazer a passagem abracei uma pedra que havia do outro lado, uma pedra
redonda não muito grande, imagina se essa pedra não estivesse segura e se soltasse… a queda pra trás ia ser
feia, nas pedras um pouco abaixo. Fiquei pensando naquilo e tomei mais cuidado. Mais em cima tinha outra
parte bonita, filmei. Foi quando lembrei que não tinha avisado ninguém, nem da minha família, nem a Denes,
que ira prali. Outro erro grave. Tirei do modo avião e tentei ligar mas não tinha sinal, e logo descarregou. Esse
celular tem a bateria ruim, achei que estava com a bateria razoável quando saí de casa, agora estava sem contato
e sem lanterna. Nesse lugar que estava havia também um banho, tirei a roupa e decidi ir nu dali. Primeiro tomei
um banho, bebi um pouco da água que corria – não havia casas nem gado nessa serra -, depois segui. Subindo
nu nas pedras olhei para o meu corpo, olhei para a natureza, comecei a me ver de uma forma negativa. Comecei
a pensar: eu tenho o corpo de um menino, se eu fosse um índio ou um negão escalando as pedras… mas depois
também lembrei que alguns índios eram meio nanicos. Percebi que pensamentos de comparação estavam me
ocorrendo de novo, decidi me ocupar da subida. Logo depois cheguei no ponto onde a trilha reencontra o
córrego. Fiquei feliz. Vesti minhas roupas e desci a trilha pra pegar minha mochila, subi rápido, coisa de 10
minutos.
Chegando lá de novo comecei a preparar o fogo. Escolhi um lugar que a água não passasse depois, pra
não levar muitas cinzas. Eram entre quatro e quatro e meia da tarde, estava sem relógio e o sol estava atrás da
serra, então não tinha uma noção exata da hora. Aceso o fogo pus a grelha e espetei os milhos com uns paus que
tinha por lá e coloquei pra assar. Tirei minha flauta doce que tinha levado, com a tabela com a digitação das
notas e comecei tocar ali, aprendendo flauta. Foi muito bom essa hora. A flauta doce tem um som contido,
como se fizesse parte da natureza. Fiquei tocando o que vinha na minha cabeça, coisas repetitivas, como cantos
de pássaros. Experimentei coisas com digitações alternativas, que mudavam a afinação, brinquei muito com a
afinação, o bend das notas.
O milho estava demorando pra assar. Percebi que era porque tinha colocado a grelha um pouco alta, tirei
algumas das pedras empilhadas, baixei a grelha e começou a assar mais rápido. Já eram umas 5 horas, mas tinha
que assar bem porque ele já tinha ficado um bom tempo na geladeira, a ponta das espigas estragou e tive que
arrancar. Minha vó também queria daquele milho assado, tinha me dito dias antes, e ia levar uma espiga pra ela.
Comecei a arrumar minhas coisas pra voltar, ainda ia tomar banho num tanque natural que havia um pouco
acima, que da primeira vez conheci mas não deu tempo aproveitar.
O milho terminou de assar, coloquei as espigas nas palhas, esfriei a grelha na água e deixei a mochila
com minhas roupas num canto, e subi nu para o tanque. Subindo o córrego e logo antes do tanque percebi que
tinha ido um pessoal lá fazia uns dois dias, tinham sido mais espertos em escolher o local, que era mais recuado
de onde a trilha passava, mas tinham deixado um baião numa pedra do córrego que estava estragado, tinha
cascas de limão e num buraco entre duas pedras tinham colocado um saco plástico com o lixo dentro, copos e
latinhas, e uma fogueira apagada do lado. Fiquei um pouco triste com o lixo.,também não ia ter condições de
levar. Subi na piscininha natural, muito bom. Agradeci a Deus ter conseguido, fiquei mergulhado na água, a
água caía das pedras. Nisso já estava tarde e eu passei uns quinze a vinte minutos ali. Depois emergi e fiquei um
tempo em pé com os braços escorados na pedra, olhando a paisagem embaixo, o corpo dentro da água. É um
local bem bonito.
Quando voltei pra me vestir, já estava escurecendo. Percebi que tinha ficado mais do que devia.
Comecei a descer, em poucos minutos começou a ficar escuro demais, acho que porque o sol estava atrás da
serra. Comecei a andar abaixado para poder ver as pedras, essa parte da trilha era muito acidentada, comecei a
escorregar e levei alguns tombos, me apoiando na vegetação. Percebi que a situação ia piorar e que em poucos
minutos não ia ver mais nada, comecei a ficar nervoso, e pedi ajuda a Deus. Comecei a me sentir muito
envergonhado. Lembrei de um rapaz da galera do rock que tinha se perdido ou ficado ali que nem eu há uns
dois anos, pediu pro pessoal ir na frente que ele ia ficar mais um pouco e depois não voltou, um pessoal da
cidade e os bombeiros vieram atrás dele a noite, no outro dia anunciaram no rádio a notícia que tinham
encontrado ele de madrugada, que ele estava nervoso. Pensei na preocupação da minha vó e da minha mãe,
sabendo que eu tinha costume de ir pra esses cantos mas sem saber exatamente onde eu tinha ido, todo dia eu
tinha costume de chegar em casa 7, 7:30, nesse dia não ia chegar, elas iam ligar pra Denes, pra Tadeu, pra
Lirian, senti mais vergonha ainda. Elas iam passar a noite sem dormir, se juntassem as peças do que eu tinha
falado iam descobrir que estava em Vieirópolis, porque tinha falado dias antes da ideia, mas quando soubessem
que o carro estava lá isso não ia dar maior alívio a elas. Me senti um merda. Foi quando lembrei que tinha
sobrado um pouco do óleo de cozinha que tinha usado pra fazer o fogo, que quase tinha gastado todo na hora,
mas decidi deixar.
O óleo estava numa garrafinha de vidro, daquelas de leite de coco, pouco menos de três dedos de óleo.
Rasguei um pedaço do saco do carvão, que era de papel madeira, torci todinho pra formar uma trouxa pra usar
como pavio, molhei dentro do óleo, tirei, molhei a outra ponta e tentei acender. Começou a pegar fogo e eu
comecei a andar, me ajudou um pouco mas a chama não pegava direito, apagava logo, e a própria luz do fósforo
e do pavio atrapalhava quando pegava no olho, porque fazia contrair minha pupila e eu não conseguia distinguir
nada por alguns segundos. Fui andando desse jeito, a lamparina apagando e eu acendendo de novo. Como tudo
era tons de escuro no meu caminho, comecei a calcular errado a profundidade de certas coisas e dei umas
pisadas em falso, quase caí, pedia ajuda a Deus e perguntava se aquilo era uma prova da minha fé que eu
deveria passar. Teve uma parte que era coberta pela vegetação que não dava pra ver nada sem o fogo. Fui assim
até chegar na passagem do córrego lá embaixo. Dei umas pisadas erradas com o tênis dentro da água, o
caminho da trilha era exatamente do outro lado mas não conseguia achar, tinha uma árvore grossa que dava pra
usar como ponto de referencia mas não conseguia encontrar a trilha do outro lado. O vento noturno entrava pelo
caminho do córrego e tornava difícil eu acender o fogo. Com muito esforço consegui acender, apontei a chama
e vi a trilha, depois um relâmpago confirmou. Senti o chão limpo da trilha e me sentei. Pensei na chuva que
podia vir, mais uma vez pedi a Deus. Minha aflição não era tanto a possibilidade de passar a noite ali, tinha o
milho assado e tinha água, era mais a vergonha da preocupação que ia causar, das pessoas virem me procurar.
Também não podia caminhar devagar no escuro, tinha medo de pisar em alguma cobra que fosse venenosa e aí
estava fudido de verdade. Tive a ideia de fazer o pavio de papel ofício, talvez queimasse melhor. Tirei o pavio
de papel madeira e joguei, logo me arrependi porque podia ter aproveitado o óleo desse pavio, tirei uma folha
de apostila que tinha levado pra ajudar no fogo. Torci, mergulhei na garrafinha, tampei com o papel e meu
dedo, balancei pra molhar bem de óleo, acendi mas a chama era pior ainda, o papel queimava logo.
Foi quando tive a ideia de fazer um pavio com o pano da minha camisa. Estava um pouco molhado por
causa do banho que tinha tomado. Tirei o pavio de papel e deixei perto, pus a garrafinha contra céu e olhei,
tinha menos de dois dedos de óleo. Tirei a camisa, peguei na costura da manga e rasguei, apertei o pavio que
tinha usado com o pano da manga pra chupar o óleo, torci o pano, enfiei todinho na garrafinha com o meu dedo
segurando dentro e a parte gorda do dedo tampando a garrafinha. Balancei bem pra molhar o pano, fui puxando
meu dedo com o pano, só o suficiente pra fora. Eu sabia que ia ser minha última tentativa, mais uma vez pedi
ajuda a Deus, não sei quantas vezes pedi ajuda a Deus nessa situação toda. Estava sentado e flexionei as pernas,
na frente das pernas coloquei minha mochilha pra o vento não pegar na chama, pus a lamparina no meio,
embaixo das minhas pernas e tentei acender. Tentei uma, duas, três vezes, acho que na quarta vez o fogo
acendeu, quando vi aquele fogo diferente, fogo de lamparina mesmo, botei a mochila nas costas, me levantei
rapidamente e comecei a andar rápido, abaixado, pra ver as pedras. Eventualmente percebi que a melhor
maneira de carregar a lamparina era segurando ela apoiada sobre a minha cabeça, pra não ofuscar minha visão,
de modo que fui levando a lamparina assim e andando rápido, abaixado, você imagine a situação. Nesse
momento comecei a sentir uma certa euforia de que ia dar certo. Com a luz sobre a minha cabeça lembrei de um
versículo de um salmo que diz "Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho." (Salmo
119,105). Não pensei só como uma ilustração daquilo, senti de uma maneira que vou lhe explicar depois, don’t
want to cut the action here. Também lembrei de uma música de Al Cisneros chamada ‘Lantern of the Soul’,
gosto da tradução do nome, Lanterna da Alma. Acho que o nome deve ter a ver com o poema mais famoso de
São João da Cruz - frade místico espanhol que era amigo de Teresa D’Ávila – chamado Noche Oscura del
Alma, traduzido no inglês literalmente, Dark Night of the Soul. Essa música ficou tocando na minha cabeça,
estou escutando agora, muito massa a bateria nessa música. Curiosamente também lembrei da música da
primeira fase desse jogo do Super Nintendo, Pitfall https://youtu.be/hlmOz_HX2_E?t=385 Me senti como
Tintin também.
O pano puxava o óleo mas também queimava um pouco, eu tive que manter meu dedo prendendo o
pano no gargalo e perto da chama, para sentir quando a chama estivesse perto, para puxar mais pano pra fora.
Quando o pano já não tocava mais o óleo, eu segurava e tampava com a parte gorda do dedo e virava o vidro
uma vez pra o pano pegar mais óleo. Se o pano caísse pegando fogo no óleo não tinha mais jeito. Andei, andei,
chegou um ponto que a labareda ficou grande demais e o pano ficou queimando depressa, tive que parar, apagar
o fogo com uma pedra, tirar o excesso e acender novamente. Segui, passei por um ponto da trilha que tinha um
pé de cajá e a placa da trilha, sinal de que estava perto, comecei a ficar realmente feliz, parecia um sonho, eu
não acreditava que estava vencendo aquilo ali, apertei o passo, o pano estava curto, a trilha já estava mais fácil.
Segui, a vegetação foi ficando mais rala, passei por uma cerca, já estava mais perto do nível da cidade, segui,
depois uma reta, vi a entrada da trilha no final da reta, saí, o descampado no pé da serra.
A alegria foi grande que na hora eu gritei "JAH!". Assim que saí, um vento do descampado fez a chama
consumir o resto do pano e o fogo apagou. Ainda tinha uns 500 metros nesse terreno acidentado, mas estava
mais claro. Apenas dei umas dez passadas, segurando a lamparina só com a brasa, quando caí numa vala um
pouco mais alta que eu. Nunca tinha sentido aquilo, a sensação de cair num buraco, o instante que o corpo fica
solto, caindo, depois de dar o passo em falso. Caí sentado na terra fofa, a lamparina voou longe, fez um barulho
– plim -, não me machuquei em nada. Aquela vala tinha sido cavada recentemente, não sei por que motivo.
Lembrei do jogo Prince of Persia. Escalei a vala, voltei pra trás. Antes de chegar na trilha você vê dois pés
grandes de juazeiro, um é o certo e o outro é o errado. Eu na minha euforia escolhi o errado. Fui em direção ao
pé de juazeiro certo. Enxerguei uma vereda, segui uns 100 metros até outra árvore, acho que juazeiro também
só que menor. Dali tive que tomar uma escolha: Ou seguir em frente, na direção que daria no carro, mas o
terreno era acidentado e com árvores, ou tentar contornar pela parte mais baixa do terreno, onde tinha um cata-
vento a minha esquerda como ponto de referência. Tentei contornar pela parte baixa, olhei pra trás marcando
onde estava e segui, depois de andar um pouco vi que não dava e voltei. Quando cheguei de novo na árvore vi
que teria que ir em frente mesmo que uma hora ia dar onde o carro estava. Com minhas mãos tampei as luzes
da cidade, pois atrapalhavam eu ver o mato, quando fiz isso avistei a trilha. Era por ali mesmo.
Só nesse momento foi que eu parei. Pus a mochilha no chão, mijei e depois olhei o céu, cheio de
estrelas. Lembrei das passagens da bíblia que falavam das estrelas, em Jó, nos Salmos. Me senti como um
menino, foi quando me veio esse pensamento, na forma que anotei no meu caderninho quando cheguei em casa:
"Depois de salvo, olhando para o céu estrelado: Não tenha vergonha de ser um menino." O aperreio e a
humilhação que eu tinha passado, a vergonha que eu senti foi derrubando qualquer vaidade, eu só tive uma
ideia de fazer uma lamparina, mesmo sem saber fazer, e mesmo assim tive a sorte de ter óleo comigo, que eu
quase tinha usado todo, e foi essa ideia, essa abstração, que pra mim é presente de Deus - ao contrário das ideias
negativas a respeito de si e da situação*– que me permitiu seguir e vencer. Eu senti vida, vida em abundância, e
não precisei recorrer a nenhuma vaidade, a nenhuma comparação. Eu era um menino que teve a ideia de fazer
uma lamparina. Foi isso que senti quando lembrei do Salmo que falava da lâmpada, e a palavra de Deus é assim
também. Pensando essas coisas olhando pro céu, indo mais profundamente já que você é meu amigo, tentando
entender por que me sentia tão diferente de horas atrás antes de subir, percebi também que se estivesse com
outras pessoas na hora a mesma situação teria um significado diferente, as vezes alguns sentimentos que
afloram nas pessoas tratam logo de sufocar certas alegrias, então pude separar e perceber que isso era belo,
dessa maneira, pra mim. Ter a ideia de fazer uma lamparina não me tornava um bichão, mas me permitiu seguir
a trilha, ver a natureza na luz do fogo, pensar em música, ver o céu. Também me veio um pensamento, que
deveria deixar de lado pensamentos sobre Lirian e as coisas que envolve ela, e prestar mais atenção nas coisas
que trazem vida dessa forma. Foi quando pensei na minha vida com minha vó e Francisco Pedro. A outra
anotação que tem no meu caderninho, que fiz quando cheguei em casa foi: Cuidar do meu filho e da minha vó.

*No começo quando ficou escuro pensei que se estivesse chapado estaria mais fudido, lidando com aqueles pensamentos e tentando
descer aquelas pedras no escuro, acendendo uma lamparina. Agora penso que se estivesse chapado teria arruinado tudo, talvez nem
tanto a parte da lamparina, mas a paranoia teria estragado a parte da alegria com certeza.
Esse ponto fica mais complexo e particular por causa do meu momento presente, porque teve um
momento que percebi esses dias que na vontade de terminar logo isso que estou escrevendo pra lhe mostrar,
também por causa de um projeto de livro de poesias que tenho já faz uns anos (Sistema Babilônico) e esses dias
consegui botar pra frente – tem relação com o que aconteceu - teve um momento que fiquei mais distante de
Francisco Pedro. Mas não é assim também preto no branco, botar meu projeto pra frente não é nocivo pra
Francisco Pedro, eu estar ausente deixando ele só assistindo televisão sim, de modo que apenas tenho que fazer
da forma correta. Pra você ter ideia, isso me deixou confuso esses dias, porque queria que minha mãe ficasse
com ele o dia todo pra eu continuar meus projetos, teve um dia que ele acordou da soneca dele da manhã eu
estava no meio de um negócio e fiquei irritado, foi quando o sinal de alerta ligou: isso não está certo. Também
lembrei de uma passagem de Eclesiastes que diz: "Não há pra que fazer muitos livros." Então deixei de lado
livro, deixei de lado esse texto – por isso demorou -, me dediquei a continuar um experimento preliminar que
estou fazendo jejuando pela manhã – o jejum deliberado tem um efeito interessante, depois falamos sobre isso,
é como uma meditação forçada, pra mim – e fiquei mais com ele, mas no meu conflito interno, porque minha
vó, que tinha quebrado o pé antes da quarentena e eu fiquei cuidando dela, recentemente ficou boa, e essa
oportunidade da quarentena que não vai ter de novo enfim, I got greeedy, no meu conflito interno senti que
perdi aquilo que tinha pensado olhando o céu e fiquei tentando lembrar exatamente a motivação do
pensamento, mas só conseguia parcialmente, escutava a música de Al Cisneros but I quite wouldn’t get it.
Curiosamente só fui lembrar e sentir quando escrevi há pouco – estou escrevendo numa sentada só, dessa vez
na hora correta ^^ - pois como falei acima, pensei na minha vida com minha vó e Francisco Pedro quando
percebi que fazer uma lamparina não ia fazer as pessoas me amar - na minha forma doentia de pensar, agora
reconheço – mesmo se estivessem comigo, da mesma maneira que a vida que se ofereceu pra mim estava me
fazendo feliz (seguir a trilha, a luz do fogo nas plantas, pensar em música, ver o céu estrelado), de modo que
devo dar mais atenção pras coisas que me fazem feliz dessa forma, foi quando lembrei da minha vida com
minha vó e meu filho. Mas, como estava agindo gananciosamente, a mente criou formas de apagar aquilo.
Estou lhe contando esse detalhe não tão legal porque você é meu amigo, talvez eu perca outras vezes, mas fico
com aquilo.
Depois que olhei o céu e pensei essas coisas segui a trilha, mais na frente não a vi mais, mas já estava
perto, segui na direção que estava o carro, comecei a escutar o som de um chiqueiro de porcos que tinha no
caminho, fiquei contente, cheguei na cancela, abri, o carro estava depois dela. Sei que não tem comparação,
mas eu me senti o Lewellyn quando chega na caminhonete depois de encontrar a maleta hahahahaha. Agradeci
a Deus com minha voz repetidas vezes, depois achei desnecessário falar em voz alta o que ele já sabia. Voltei,
acho que nunca dirigi numa velocidade tão baixa como nesse dia. Cheguei na casa da minha vó eram 8 da noite.
Tomei um banho. Era a última segunda-feira do mês, o dia que tem promoção de uma pizza de calabresa a 15
reais. Fui com minha vó pegar 2 pizzas. Antes disso dei as espigas pra minha vó comer, ficaram duras demais
hahaha, não sei se fui eu ou o milho já estava maduro demais. Levamos as pizzas lá pra pra minha mãe,
Francisco Pedro estava lá, Daniel, Rafael. Foi bom demais.

Eu escrevi uma versão resumida em inglês nos comentários da música de Al Cisneros, Lantern of the
Soul, no youtube. Vou lhe mostrar kkkkk

Dear Al Cisneros, and people who read this, this song was on my mind this week, I'm brazilian and I went on a
walk in a mountain, but returned too late and it got too dark, I started to walk squatted to watch the terrain that
was really rough, but soon I had to stop because I couldn't see anything, I got upset and felt ashamed, not really
because I would spend the night there - there was water running and I had some corn I just roasted - but because
I didn't tell my family I was going there and battery went off when I was up there with no signal, so they would
be really worried for the whole night; I was also fearing to step on some snake if I continued to walk in the
dark, for I saw one across my way up. I was asking help from God all the time (I'm a recovered Christian, and
Cisneros' music has a big role in this, along with reggae music). Then I remembered I had some clear vegetable
oil left in a little glass bottle from the fire I made, then I tried to make a wick for a lamp with some kraft paper,
I twisted it, but it only helped me for a few meters, the paper was burning and the fire wouldn't catch, then I
tried with some white paper and it was worse. I pointed the jar to the sky and there was less than two fingers of
oil left, so I sat and tore a sleeve from my shirt that was a little wet from the bath I took, I twisted it and soaked
in the oil, I put the lamp between my legs and behing my backpack, tried a few times to light it up without
sucess - there was the wind from the night - then I tried again and started to catch fire, a really good lamp fire.
Immediately I stood and began to walk real fast, squatted, eventually the best way to carry the lamp was to hold
it over my head, so it wouldn't obfuscate my vision. Then I thought of a passage of the Book of Psalms (my
favorite book) that says "Thy word is a lamp unto my feet, and a light unto my path.", and I remembered this
song, Lantern of the Soul, in portuguese it would be Lanterna da Alma, it was playing in my head. As soon as I
got to the end of the trail, in the field by the foot of the mountain, the wind blew strong and the rest of the cloth
burned. I was really happy. I was still holding the lamp with just a cherry burning when all of a sudden I fell in
a misterious hole higher than me that someone dug in the land, actually I fell pretty well and suffered no harm,
but the lamp was thrown away. I climbed the hole and found my way through the field, I reached the car and
went back home.

- Depois eu coloquei um edit, acho que alguns não vão gostar -

edit: I don't smoke anymore but if I was stoned, I would most likely had ruined it.

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