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OS INSTRUMENTOS DA MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO COMO

ALTERNATIVAS DE ACESSO À JUSTIÇA EM BUSCA DA


CELERIDADE DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO

Túlio Barreto do Couto Soares1

RESUMO

O presente artigo visa explorar os institutos da conciliação e da mediação no processo civil,


abordando questões pertinentes da audiência preliminar relacionada à solução de
controvérsias. Serão explanados aspectos como a evolução histórica e diferenças entre essas
práticas judiciais, as funções dos mediadores e conciliadores, princípios, eficácia, modos e
áreas de aplicação, as especificidades legais acerca do tema, bem como a necessidade em
popularizar esses institutos. O método de elaboração utilizado é o da pesquisa e consulta
bibliográfica, jurisprudencial e legislativa. Pretende-se mostrar nesse estudo a relevância da
audiência preliminar de conciliação ou mediação para solução de litígios.

Palavras-chave: Mediação. Conciliação. Conflito. Audiência.

ABSTRACT

The present article aims to explore the institutes of conciliation and mediation in civil
procedure, addressing relevant issues of preliminary hearing related to the settlement of
disputes. Will be explained aspects such as the historical evolution and differences between
these judicial practices, the functions of the mediators and conciliators, principles,
effectiveness, modes and application areas, legal specificities about the topic, as well as the
need to popularize these institutes. The method of preparation used is the search and
bibliographic consultation, jurisprudential and legislative. It is intended to show that study the
relevance of the preliminary hearing of conciliation or mediation for the solution of disputes.

Keywords: Mediation. Conciliation. Conflict. Audience.

SUMÁRIO
1
Graduando em Direito. E-mail: tulio-barreto@hotmail.com
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................02
1 REFLEXÃO SOBRE O CONFLITO NO CONVÍVIO SOCIAL HUMANO................03
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO.....................................04
3 A AUTOCOMPOSIÇÃO DA LIDE POR MEIO DE AUDIÊNCIA PRELIMINAR DE
CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO.......................................................................................07
4 CONCLUSÃO......................................................................................................................11
REFERÊNCIAS......................................................................................................................12

INTRODUÇÃO

Com a imensidão de demandas judiciais nas diversas áreas do direito, devido a vários
fatores sociais, há uma gama de situações conflituosas, e consequentemente um acúmulo de
processos aguardando decisão, caracterizado por lentidão e uma enorme fila de espera no
judiciário.
Diante dessa situação, o estado vem procurando o aprimoramento da justiça, visando
uma forma de trazer para o nosso ordenamento maior agilidade na resolução de controvérsias,
meios eficazes que tornem a justiça além de célere, satisfativa para as partes processuais, bem
como, para a sociedade em geral. E é nesse contexto que o código de processo civil (Lei
13.105/2015) traz uma série de inovações quanto aos meios alternativos de solução de litígios.
A Ministra Ellen Gracie (2011) destacou a importância dos métodos alternativos para a
justiça em sua participação na abertura do seminário "Poder Judiciário e Arbitragem: diálogo
necessário":

Os métodos alternativos de solução de litígios são melhores do que a solução


judicial, que é imposta com a força do Estado, e que padece de uma série de
percalços, como a longa duração do processo, como ocorre no Brasil e em outros
países. Disponível em: <http://stf.jus.br>.

Nos últimos anos, a conciliação e a mediação têm se destacado como instrumentos


importantes para solução rápida e pacífica dos conflitos, pois estimulam a autocomposição em
uma fase processual em que a disputa ainda não está tão acirrada, o ambiente é menos formal
e sem a presença do juiz, mas, perante mediador ou conciliador, pairando um clima menos
intimidador, mais propício a diálogos e acordos.
A conciliação tem por objetivo aproximar os interesses de ambas as partes através de
um acordo. O conciliador é um terceiro imparcial, um facilitador de acordos entre os
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envolvidos, podendo ele interferir na negociação, participando da formação da comunhão de
vontades.
A mediação também é uma forma de tentar resolver litígios através de um acordo, mas
tenta fazer com que os envolvidos encontrem, juntos, uma solução para o problema, sem que
o mediador interfira diretamente na negociação. O mediador é um terceiro que além de
imparcial é neutro, se limita a garantir as condições para o diálogo entre as partes.
Esse artigo tem por objetivo destacar as vantagens que podem ser obtidas na realização
da audiência preliminar de conciliação ou mediação, como mecanismo efetivo na busca de
solução consensual de conflitos.

1. REFLEXÃO SOBRE O CONFLITO NO CONVÍVIO SOCIAL HUMANO

A vida em sociedade submete o ser humano a diversas situações, relações sociais que
podem apresentar-se harmonicamente ou não. Quando as ações do homem vão de encontro
com o bom senso e respeito ao próximo, há um clima estável de convivência. Porém, nem
sempre a harmonia prevalece. Quando há oposição de interesses entre indivíduos ou grupos
que divergem em opiniões, isso pode dar início a situações conflituosas.
Como se costuma dizer, onde está o homem está o conflito, sendo este conceituado
como “um processo que se inicia quando um indivíduo ou grupo se sente negativamente
afetado por outra pessoa ou grupo.” (ROBBINS, 2006, p.78).
Divergências em opiniões, desejos e objetivos entre pessoas ou grupos, por exemplo,
podem ser motivos suficientes para o início de um conflito que parece não ter fim.
Até mesmo sozinho, um indivíduo pode se encontrar em seus conflitos interiores. Sendo
assim, o conflito é algo inerente ao homem, tanto como indivíduo, quanto como ser social.
Os conflitos, enquanto não solucionados, acarretam desgaste para as pessoas, desânimo
e falta de confiança em tudo, inclusive no poder judiciário, que muitas vezes não colabora de
forma ágil para solucioná-los. Mas o conflito pode ser encarado como algo positivo, pois
possibilita a oportunidade de progresso, aprendizado e crescimento, e também a evolução de
instituições que compõem a sociedade atual, e com isso, das interações sociais entre os
indivíduos.

[...] o conflito constitui a fonte que alimenta a energia transformadora, que


enseja a mudança. O conflito é a antítese da estagnação e permite que a
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humanidade enfrente o desafio de continuar explorando a Terra para
alimentar uma população que não dá sinais de estabilização [...]. Não se
trata, pois, de neutralizá-lo, mas de compreendê-lo como parte integrante das
condições de existência; portanto, a palavras correta, quando se trata de
conflito, é gestão. (FIORELLI, 2004, p.15).

Havendo a necessidade que determinados conflitos sejam solucionados, surgem


inovações nos tratamentos das controvérsias, inclusive no direito. Nasce a obrigação do
Estado de interferir e auxiliar nos desentendimentos, atuando imperativamente como
instrumento de resolução desses conflitos, proibindo a autodefesa ou vingança, popularmente
conhecidas como “justiça com as próprias mãos”.
Os institutos que visam resolver os litígios, em especial os meios alternativos e
consensuais de solução de conflitos, entram em cena como fortes aliados. São meios de
grande importância, que podem trazer vantagens quanto ao andamento do processo, dentre as
quais cito: a celeridade processual, que traz consigo a economia de recursos do judiciário para
realiza-los, e a probabilidade de evitar que o caso chegue à esfera judicial propriamente dita,
sendo solucionada ainda em uma fase preliminar, desafogando o judiciário.

[...] devemos estar conscientes de nossa responsabilidade; é nosso dever


contribuir para fazer o direito e os remédios legais reflitam as necessidades,
problemas e aspirações atuais da sociedade civil, entre essas necessidades
estão seguramente as de desenvolver alternativas aos métodos e remédios,
sempre q sejam demasiado caros, lentos e inacessíveis ao povo; daí o dever
de encontrar alternativas capazes de melhor atender as urgentes demandas de
um tempo de transformações sociais em ritmo de velocidade sem precedente.
(CAPPELLETTI, 1994, p. 97).

Devemos, pois, encarar o conflito não apenas como uma barreira que impede o
convívio social, mas, um impasse que possibilita novas mudanças, que se bem administrado
torna-se necessário para a vida em sociedade.

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

A mediação e a conciliação são as principais técnicas de solução alternativa de


controvérsias. Em ambas há a intervenção de um terceiro-intermediário que auxilia as partes
em uma negociação, tentando identificar os pontos convergentes e divergentes, e o que as
levaram ao conflito.
Diferente do que acontece na arbitragem, aqui não se busca a heterocomposição do
conflito, e sim, a autocomposição. Na heterocomposição, o terceiro julga a lide com as
mesmas prerrogativas do poder judiciário; na autocomposição, não cabe ao terceiro resolver o
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problema, mas ajudar para que haja um ajuste de vontade entre as partes. Apesar das
semelhanças, a mediação e a conciliação são diferentes, buscam a obtenção da
autocomposição de formas distintas.
A conciliação ocorre na presença de um terceiro (conciliador), que tem como função
orientar as partes, propiciar um diálogo produtivo, apontando o que considera vantajoso e
desvantajoso, afim de que haja a harmonização e a aproximação de interesses. O conciliador
atua principalmente nas demandas em que as partes não têm relacionamento anterior ao
conflito existente. Ele pode dar sugestões para a solução do litígio, participando de forma
mais ativa no processo de negociação.

Conciliação é, pois, um mecanismo de obtenção da autocomposição que, em


geral, é desenvolvido pelo próprio juiz ou por pessoa que faz parte ou é
fiscalizado ou orientado pela estrutura judicial; e que tem como método a
participação mais efetiva desse terceiro na proposta de solução, tendo por
escopo a só solução do conflito que lhe é concretamente apresentado nas
petições das partes. (CALMON, 2007, p. 144).

A mediação é mais indicada em demandas onde as partes já se conheciam antes da


ocorrência do conflito, ou seja, já havia um vínculo anterior, como nos casos societários e
familiares; a preocupação aqui é preservar esses vínculos existentes entre os envolvidos. O
mediador auxilia na busca de solução de conflitos de forma justa, porém, sem interferir no
acordo. Seu papel é facilitar o diálogo entre as partes; ele serve como um meio de
comunicação que auxilia a entender o conflito e estabilizá-lo. A negociação aqui fica por
conta dos interessados, que de forma cooperativa, escolhem a solução mais harmônica para
seu desentendimento.

A mediação configura um meio consensual de solução de conflitos no qual


duas ou mais pessoas, com o auxilio de um mediador- terceiro imparcial e
capacitado, facilitador do diálogo- discutem pacificamente, buscando
alcançar uma solução satisfatória para o problema. As pessoas que
vivenciam a controvérsia são responsáveis por sua administração e solução.
O poder de decisão é das partes e não do mediador. (SALES, 2009, p. 102).

A mediação e a conciliação podem ser realizadas judicialmente (no curso de um


processo judicial), onde o terceiro atua como auxiliar da justiça; ou extrajudicialmente (pré-
processual), antes do oferecimento de resposta pelo réu. Podem ocorrer em câmaras públicas
ou administrativas vinculadas a um tribunal, como também em câmaras privadas ou outro
local privado, menos formal, como um escritório de advocacia.

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Há a possibilidade de os mediadores e conciliadores serem escolhidos,
consensualmente, pelos interessados. Para que possam exercer suas funções, devem estar
devidamente inscritos em cadastro nacional e em cadastro de tribunal. Essa é uma atividade
remunerada, mas que nada impede que seja realizada voluntariamente.
Devem ser observadas algumas regras de procedimento para a realização da
autocomposição por parte de quem preside as audiências de conciliação e mediação, normas
de conduta para garantir seu bom desenvolvimento enquanto instrumentos efetivos de
pacificação social e de prevenção de litígios.

Art. 2º As regras que regem o procedimento da conciliação/mediação são


normas de conduta a serem observadas pelos conciliadores/mediadores para
o bom desenvolvimento daquele, permitindo que haja o engajamento dos
envolvidos, com vistas à sua pacificação e ao comprometimento com
eventual acordo obtido, sendo elas:
 
I - Informação - dever de esclarecer os envolvidos sobre o método de
trabalho a ser empregado, apresentando-o de forma completa, clara e precisa,
informando sobre os princípios deontológicos referidos no Capítulo I, as
regras de conduta e as etapas do processo;
 
II - Autonomia da vontade - dever de respeitar os diferentes pontos de vista
dos envolvidos, assegurando-lhes que cheguem a uma decisão voluntária e
não coercitiva, com liberdade para tomar as próprias decisões durante ou ao
final do processo e de interrompê-lo a qualquer momento;
 
III - Ausência de obrigação de resultado - dever de não forçar um acordo e
de não tomar decisões pelos envolvidos, podendo, quando muito, no caso da
conciliação, criar opções, que podem ou não ser acolhidas por eles;
 
IV - Desvinculação da profissão de origem - dever de esclarecer aos
envolvidos que atuam desvinculados de sua profissão de origem, informando
que, caso seja necessária orientação ou aconselhamento afetos a qualquer
área do conhecimento poderá ser convocado para a sessão o profissional
respectivo, desde que com o consentimento de todos;
 
V - Compreensão quanto à conciliação e à mediação - Dever de assegurar
que os envolvidos, ao chegarem a um acordo, compreendam perfeitamente
suas disposições, que devem ser exequíveis, gerando o comprometimento
com seu cumprimento. (BRASIL. Anexo III, artigo 2º, incisos I ao V, da
Resolução 125/2010)

É proibida a intimidação, ou o constrangimento para que as partes conciliem. A


solução amigável do conflito é uma faculdade que diz respeito às partes do processo, elas que
vão decidir se resolvem amigavelmente suas contendas, ou não; o que deve prevalecer é a
soberania da vontade das partes, visando um denominador comum para que se chegue ao fim
sem que haja nenhum vício de consentimento.
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O intermediário deve agir com imparcialidade no exercício de sua função, sem
pretensão por alguma das partes em detrimento da outra. Tem que ser alguém em que as
partes confiem e respeitem, pois as informações por elas prestadas são sigilosas; deve se
colocar no lugar do outro, ser gentil, paciente e capaz de escutar todos os argumentos para
aplicar as técnicas de conciliação na busca pela pacificação social.

3. A AUTOCOMPOSIÇÃO DA LIDE POR MEIO DE AUDIÊNCIA PRELIMINAR DE


CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO

Nos últimos anos, o Estado vem buscando apoio em meios alternativos para solução
rápida e pacífica de litígios. A mediação e a conciliação têm se destacado como
procedimentos eficazes em casos de conflito, tanto na esfera judicial, como na extrajudicial.
O código de processo civil regulamenta em um capítulo inteiro os instrumentos da
mediação e conciliação. Buscando estimular a autocomposição (ajuste de vontades entre as
partes), possibilita que, antes da defesa por parte do réu, busque-se uma tentativa de solução
consensual dos conflitos, permite a homologação de acordos extrajudiciais de qualquer
natureza, e também a inclusão de matéria estranha ao objeto litigioso do processo nos acordos
judiciais.
Foi a partir da Resolução n. 125, de 29/11/2010, que o Conselho Nacional de Justiça
instituiu a política nacional de tratamento aos conflitos de interesses. O CNJ deu um passo
importante para estimular a solução de controvérsias por meios consensuais, em especial a
mediação e a conciliação.

Instituto no Brasil, a política pública de tratamento adequado dos conflitos


jurídicos, com claro estímulo a (Resolução nº 125/2012 do Conselho
Nacional de Justiça – CNJ) compreende-se que a solução negocial não é
apenas um meio eficaz e econômico de resolução litígios: trata de importante
instrumento de desenvolvimento de cidadania, em que os interessados
passam a ser protagonistas da construção da decisão jurídica que regula as
relações. (DIDIER Jr., 2015, p. 273)

Com a Resolução n. 125, foi determinada aos Tribunais a necessidade de criar Núcleos
Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, para atender aos Juízos,
Juizados ou Varas que tenham competência, entre outras, na área previdenciária, de família,
cível e fazendária, e também Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania
(CEJUSCs), sendo estes, responsáveis por realizar as sessões de mediação e conciliação em
caráter pré-processual, através de mediadores e conciliadores, credenciados junto ao Tribunal,

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submetidos a treinamento em cursos de capacitação, supervisionado pelo CNJ e pelos
Tribunais.
No anexo III da resolução 125/2010 estão elencados, nos incisos I a VIII do artigo 1º,
os princípios que norteiam a mediação e a conciliação judiciais, quais sejam:

Art. 1º - São princípios fundamentais que regem a atuação de conciliadores e


mediadores judiciais: confidencialidade, decisão informada, competência,
imparcialidade, independência e autonomia, respeito à ordem pública e às
leis vigentes, empoderamento e validação.

I - Confidencialidade - dever de manter sigilo sobre todas as informações


obtidas na sessão, salvo autorização expressa das partes, violação à ordem
pública ou às leis vigentes, não podendo ser testemunha do caso, nem atuar
como advogado dos envolvidos, em qualquer hipótese;
 
II - Decisão informada - dever de manter o jurisdicionado plenamente
informado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido;
 
III - Competência - dever de possuir qualificação que o habilite à atuação
judicial, com capacitação na forma desta Resolução, observada a reciclagem
periódica obrigatória para formação continuada;
 
IV - Imparcialidade - dever de agir com ausência de favoritismo, preferência
ou preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram
no resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no
conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente;
 
V - Independência e autonomia - dever de atuar com liberdade, sem sofrer
qualquer pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou
interromper a sessão se ausentes as condições necessárias para seu bom
desenvolvimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou
inexequível;
 
VI - Respeito à ordem pública e às leis vigentes - dever de velar para que
eventual acordo entre os envolvidos não viole a ordem pública, nem
contrarie as leis vigentes;
 
VII - Empoderamento - dever de estimular os interessados a aprenderem a
melhor resolverem seus conflitos futuros em função da experiência de justiça
vivenciada na autocomposição;
 
VIII - Validação - dever de estimular os interessados perceberem-se
reciprocamente como serem humanos merecedores de atenção e respeito.
(BRASIL. Anexo III, artigo 1º, incisos I ao VIII, da Resolução 125/2010)
 
Os referidos princípios, assim dispõe a resolução, “formam a consciência dos terceiros
facilitadores, como profissionais, e representam imperativos de sua conduta”.
Também em 2010, o Projeto de Lei n. 166/2012 (que tratava sobre o atual Código de
Processo Civil) deu entrada no Senado, sendo transformado, mais tarde, na Câmara dos
Deputados, no Projeto Substitutivo 8.046/2010. Esse projeto foi finalmente aprovado pelo
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Poder Legislativo, após retornar ao Senado, em 17 de Dezembro de 2014, tendo sido
sancionado pela Presidente Dilma Rousseff em março de 2015; entrou em vigor em março de
2016 a Lei Federal n. 13.105/15.
O nosso código de processo civil recepcionou as ideias do CNJ, principalmente no que
concerne à mediação e conciliação em uma fase pré-processual, no que chamou de “Cultura
de Paz”.
Agora estamos numa nova era na mediação e conciliação, que traz a possibilidade para
as partes de resolver suas desavenças, de forma pacífica, antes que se tornem processos
judiciais, desde que consensual e consintam em firmar um acordo ou negociação (princípio da
autonomia da vontade).
Conforme o guia de conciliação e mediação, já havia estímulos à autocomposição na
legislação processual desde 1990. Ademais, a Lei 9.099/95 também traz em sua Seção VIII, o
incentivo à audiência de conciliação nos juizados especiais cíveis e criminais.
Contudo, a grande inovação a respeito desse tema se deu mesmo após a entrada em
vigor do atual código de processo civil, que adotou a obrigatoriedade em qualquer processo,
da audiência preliminar de conciliação ou de mediação, devendo o juiz promover, a qualquer
tempo, a composição amigável entre as partes.
Como “toda regra tem exceção”, essa obrigatoriedade pode ser deixada de lado caso
todas as partes (inclusive litisconsortes ativos e passivos) se manifestem, expressamente,
indicando desinteresse em sua realização, ou ainda, se o processo, por lei, não admitir a
autocomposição.

O legislador preferiu não impor a audiência no caso em que ambas as partes


manifestam expressamente o seu desinteresse. A solução parece boa: elimina
a possibilidade de a audiência não se realizar porque apenas uma parte não a
deseja, mas ao mesmo tempo respeita a vontade das partes no sentido de não
querer a autocomposição, o que está em conformidade com o princípio do
respeito ao autorregramento da vontade e com o princípio da cooperação.
[...] a vontade das partes não pode ser nem é um dado irrelevante para o
processo. (DIDIER JR., 2015, p. 624).

O autor que não desejar a composição consensual por audiência preliminar deve
indicar seu desinteresse na petição inicial; o réu, em petição autônoma, no prazo de 10 dias
antes da data da audiência.
Não mais se admite que uma das partes não compareça a audiência justificando
desinteresse na conciliação. Portanto, o comparecimento não é mais uma faculdade, e sim um

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dever processual, qualquer falta injustificada será considerado ato atentatório à dignidade da
justiça, sendo apenado com multa.
Como visto anteriormente, a audiência preliminar deve ocorrer mediante o conciliador
ou mediador. Mas vale ressaltar que é possível que seja presidida por um servidor com outras
funções, em caso de ausência dos mesmos. Neste caso, ela será designada pelo juiz com 30
dias de antecedência da audiência, devendo o réu ser citado pelo menos 20 dias antes de sua
realização.
Se a autoridade que preside, entender que a audiência preliminar deva ser cindida, ele
poderá tomar essa providencia e marcar uma nova sessão, com data não superior a 02 meses
da realização da ultima sessão.
A intimação será feita da seguinte maneira: o autor, na presença de seu advogado, e o
réu, pelo fato de ser sua primeira participação no processo, será intimado pessoalmente. Nesse
momento, o réu é citado somente para comparecer a audiência de conciliação ou mediação, e
não para responder; o prazo para apresentar contestação correrá partir da realização da
audiência ou da manifestação pelo desinteresse em sua realização.
Na audiência preliminar, as partes (ou seus representantes, com poderes de negociar e
transigir) deverão estar acompanhadas de seus advogados ou defensores públicos, que lhes
darão suporte, garantindo um melhor conhecimento a respeito dos acordos, e as implicações
jurídicas caso sejam ou não firmados.
Se alcançada a autocomposição, o juiz a reduz a termo e homologa por sentença,
pondo fim ao processo; se não alcançada, ou não realizada a audiência de conciliação ou de
mediação, o processo segue para a etapa seguinte da fase postulatória.
Seguindo as inovações tecnológicas, o avanço na infraestrutura dos Tribunais e as
facilidades que a modernidade pode trazer na área jurídica, o código de processo civil admite
a realização de conciliação ou mediação por meio eletrônico, devendo ser observado em lei as
formalidades necessárias.
A tendência é que a prática desse tipo de audiência eletronicamente se torne cada vez
mais utilizada, sendo aperfeiçoada com o passar do tempo, somando pontos positivos quanto à
agilidade e economia ao realizar a audiência, mesmo que distantes os envolvidos, com
praticidade e redução de custos processuais.
O papel dos conciliadores e mediadores na audiência preliminar em conjunto com as
partes e todos os que estejam engajados direta e indiretamente na solução justa do conflito,
retrata um sistema de justiça mais acessível e participativo ao cidadão.

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A implementação e o aperfeiçoamento destas técnicas ideias permitirá, certamente, um
grande avanço para o setor jurídico do país. Não obstante, cabe ao Estado, aos operadores do
direito e aos indivíduos de forma geral, o empenho na busca de uma sociedade igualitária,
potencializando o acesso à justiça.

4. CONCLUSÃO

Diante do que foi apresentado, não resta dúvida sobre as vantagens que podem ser
alcançadas pelos meios alternativos de resolução conflitos, seja no curso de um processo
judicial, ou ainda em fase pré-processual, em especial, na ocorrência de audiência preliminar
de mediação ou conciliação.
Nas formas autocompositivas de resoluções consensuais entre as partes, os
protagonistas são os próprios envolvidos, que podem negociar ao resolver suas desavenças,
com o auxilio de um terceiro, de modo que incorram maiores benefícios do que se estivessem
perante o juiz, que decidiria em prejuízo de uma das partes.
A audiência preliminar de mediação e conciliação prevista no código de processo civil
permite que as pessoas exponham seus sentimentos e os motivos que deram início ao conflito,
em um ambiente com menos formalidade, diante da importante figura do mediador ou
conciliador. Ficando mais à vontade para debater o assunto em questão, os indivíduos sentem-
se mais seguros e confiantes, e o resultado pode ser mais satisfativo do que esperavam.
Quando há êxito no acordo, é como se tivesse deixado de lado uma longa e cansativa estrada,
e caminhado por um atalho que, obviamente, fez chegar com maior rapidez, economia e
tranquilidade ao seu destino.
É importante que nosso ordenamento jurídico aprimore cada vez mais a utilização da
audiência preliminar, e que o cidadão seja incentivado a participar direta e ativamente do
processo de autocomposição, valorizando o acordo consensual, pois, isso eleva o grau de
legitimidade, fazendo da mediação e da conciliação os veículos mais efetivos no que diz
respeito ao objetivo do direito diante dos inúmeros conflitos que nascem todos os dias, que é a
busca pela pacificação social.

REFERÊNCIAS

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BARROS, Eduardo Vasconcelos. Mediação como forma alternativa de resolução de
conflitos. Disponível em: <http://www.arcos.org.br/artigos/mediacao-como-forma-
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ― Notícias STF: Ministra Ellen destaca métodos
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2017.

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2007.

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2009.

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