INTRODUÇÃO

Remember that management is a science of which organizations are but

the experiments!
– Adapted from John Constable,
by Clegg, Kornberger, and Pitsis (2008)
 OBJETIVOS
Após a conclusão do tópico você será capaz de:

– Esboçar trajetória do desenvolvimento histórico do

pensamento em gestão e organizações identificando
que há continuidade entre o pensamento dos
pioneiros e a gestão contemporânea
– Identificar as contribuições de Max Weber aos
estudos organizacionais
– Localizar na trajetória do desenvolvimento histórico
as principais contribuições de autores seminais
• W. F. Taylor, H. Fayol, M. P. Follett, E. Mayo, C. Barnard e
outros
– Distinguir as idéias de diferentes autores,
considerando uma perspectiva crítica
Trajetória do pensamento em gestão
Trajetória do pensamento em gestão
• Emergência e predomínio da retóricas
gerenciais
– Diferentes tipos de discursos gerenciais
amplamente reconhecidos, falados ou escritos,
que legitimam o uso de um conjunto particular
de técnicas de gestão
• Há cinco grandes retóricas gerenciais
– Trabalho como bem-estar (normativa)
– Administração científica (racionalista)
– Relações humanas (normativa)
– Racionalismo sistêmico (racionalista)
– Cultura organizacional e qualidade
(normativa)
Eric Abrahamson (1997)
 Trajetória do pensamento em gestão
Expansão macroeconômica (1944- Retração macroeconômica (1872-(1971-
Expansão macroeconômica (1894- Retração macroeconômica (1921-
1971) retórica gerencial racionalistaO contexto histórico1997)
1894) retórica
retórica normativa
gerencial normativa
da cultura
1921) retórica gerencial racional da 1944) retórica gerencial normativa
sistêmica é fundamental para dasorganizacional
do trabalho ee bem-estar
da qualidade
administração científica relações humanas no trabalho
Eric Trist e Fred Emery, George p. Edgar
ex. formação
Schein, da
Hofstede,
cultura Peter
da classe
&
Taylor, Fayol
Homans, Kahn e Katz, etc.
se entender o Follett, Mayo e Barnard
operária
Waterman,britânica
etc.
desenvolvimento do
pensamento em
gestão e
organização
 Max Weber

• Busca descrever a sociedade do seu tempo

baseado em suas observações da sociedade
alemã no final do sec. XVIII e início do sec. XIX
• Foco principal:
– O mundo não existe por si. Os seres humanos atribuem
sentidos subjetivos ao mundo e as suas ações em
interação (com o mundo e com o outro)
• Valores de um dado contexto social condicionam
as estruturas e instituições de uma dada
sociedade
• Contribuições aos estudos organizacionais
– Racionalidade e burocracia
 Racionalidade
• Efeitos da racionalização
– O desenvolvimento da modernidade consiste no
aumento de racionalização (racionalidade formal) do
mundo concomitantemente ao declínio de crenças em
encantamento, magia e fatalismos
– Isto ocorre porque a “calculabilidade” progressivamente
substitui o papel dos valores pela técnica
– Isto faz reduzir a necessidades de valores
– Sistema de crenças baseado em valor já não sustenta as
práticas tecnicamente baseadas da vida contemporânea
– A racionalidade técnica ganha expressão na organização
burocrática
– Portanto, um efeitos importante produzidos pelo
processo de racionalização do mundo é o declínio de
valores

7
 Racionalidade

• Resultado da racionalidade substantiva

– Coisas podem ser feitas por razões da
racionalidade substantiva (p. 49)
– Isto também pode envolver relação com “valores
absolutos” (para Weber, valores do calvinismo)
– A aplicação dos valores calvinistas freqüentemente
levava ao sucesso na criação de lucros
– O que fazer com o lucro?
– Os próprios “valores absolutos” oferece a resposta:
investir os lucros e ganhos no próprio trabalho (p.
50)

8
 Racionalidade
• Efeito substantivo da racionalidade instrumental
– Para Weber, a gestão econômica pode ser formal ou
substantiva
– A gestão econômica formal (racionalidade formal) é
predominantemente técnica (racionalidade técnica) e
instrumental (racionalidade instrumental)
– A gestão econômica substantiva (racionalidade
substantiva) é motivada e avaliada de acordo com
“postulados valorativos” (conceito vago indicando que a
gestão não é puramente formal)
– Empresas familiares muitas vezes seguem a gestão
econômica substantiva quando resistem à
profissionalização da empresa
– Outro exemplo de gestão econômica substantiva é o
consumo sustentável de recursos naturais

9
 Racionalidade
• Um gestor não é necessariamente racional
instrumentalmente
– Ele pode não ter alternativa, pois trata-se de uma
situação estruturada que impõe a racionalidade formal
– Ou ele pode querer realizar outro objetivo, mesmo
sendo economicamente irracional para uma referência
instrumental
– Quando um empresário investe uma fortuna em um
time de futebol com o qual tem afinidade sentimental,
sendo o tal time de futebol um bando de perdedores
muito custosos. Esta situação mostra uma ação
economicamente irracional do ponto de vista
instrumental
– Não é uma ação afetivamente racional do ponto de vista
formal (do ponto de vista formal é uma ação irracional)

10
 Burocracia
• Sistema social fundado no conceito de autoridade
racional-legal
– As regras definem qual o nível de autoridade e
responsabilidade associados a cada posição -
obediência ao cargo
• As posições na organização são ocupadas por
competência técnica, não parentesco ou herança.
– Promoções acontecem por mérito
• A responsabilidade e a autoridade decisória estão
definidas claramente para cada posição, bem
como a relação entre posições.
– Conflito de papéis (interno e externo)
– Ambigüidade de papéis
 Burocracia
• Existe uma cadeia de comando, onde cada
pessoa responde para uma posição hierárquica
superior.
– Princípio de apelação.
• O comportamento e as relações dentro da
organização são controlados pelo
estabelecimento de regras de conduta além das
normas (cultura).
• Tudo é formalizado e registrado em uma
burocracia - atos administrativos, regras e
decisões.
– Garantia de continuidade - treinamento
posterior - e de responsabilização.
 Burocracia
Burocracia
– Uma forma organizacional baseada em
hierarquia de conhecimento e experiências
diferenciadas
– Regras e disciplinas são organizados não só
hierarquicamente em relação uns aos
outros, mas também em paralelo

Um projeto organizacional
– É a estrutura formal da organização
designada como um sistema de papéis,
responsabilidades e tomada de decisão
 Burocracia

• Max Weber mostrou como os

membros de uma organização
burocrática adere às regras de sua
organização

• Três formas de autoridade baseada

em regras de:
– Carisma
– Tradição
– Preceitos racionais e legais
 Burocracia

• As pessoas obedecem as ordens

como preceitos racionais e legais por
que acreditam que as pessoas que
dão as ordens estão agindo em
concordância com o código de
regras e regulamentos

• Burocracia é uma máquina racional

 Princípios da burocracia
1. Poder pertence a um cargo e
não é uma função do titular do
cargo
2. As relações de poder dentro da
estrutura da organização tem
uma configuração de autoridade
distinta, especificadas pelas
normas da organização
3. Porque os poderes são
exercidos em termos das regras
do cargo e não da pessoa, a ação
organizacional é impessoal
4. Sistema disciplinar de
conhecimento, formulado
profissionalmente ou
organizacionalmente, ao invés de
crenças idiossincráticas, molda a
ação organizacional
5. As regras tendem a ser
formalmente codificadas
6. As regras estão contidas em
documentos escritos que, com
base em precedentes e regra
abstrata, servem como normas
para a ação organizacional
7. As regras especificam as
tarefas específicas, distintas, e
feitas por diferentes categorias
formais de pessoal que se
especializam nela
8. Há uma fronteira nítida entre a
ação burocrática e ação pessoal,
definindo os limites da
legitimidade
9. A separação funcional das
tarefas significa que o pessoal
deve ter autoridade e sanção
correspondentes aos deveres. As
organizações apresentam uma
estrutura de autoridade
10. Como as tarefas são
funcionalmente separadas, e
porque o pessoal encarregado
tem a delegação de poderes, há
uma tendência à hierarquia
11. A delegação de competências
é expressa em termos de
deveres, direitos, obrigações e
responsabilidades
12. Qualidades requeridas para as
posições da organização são cada
vez mais medido em termos de
credenciais formais
13. Como diferentes posições na
hierarquia exige credenciais
diferentes para a admissão, existe
uma estrutura de carreira em que
a promoção é possível, quer por
antiguidade ou por merecimento
de serviço por pessoas com
credenciais semelhantes
14. Diferentes posições na
hierarquia são diferencialmente
remuneradas e assim
estratificadas
15. Comunicação, coordenação e
controle são centralizadas na
organização
 Burocracia
• À favor
– Pode ser fonte de satisfação (meritocracia)
– Previsível e oportunidades de carreira e especialização
– Limitação do poder arbitrário e privilégios
– Direito de recurso
– “Baluarte dos direitos e da liberdade civis”
• Contra
– A impessoalidade das regras pode ser algo de fato ameaçador
ao invés de ser “garantia dos direitos civis e da liberdade”
(The Trial, Franz Kafka)
– A superioridade técnica torna a burocracia uma máquina
racional irreversível que sujeita tudo e todos ao cálculo,
expressão da modernidade (Zygmunt Bauman)
– “Gaiola de ferro”: hierarquia aprisionante
 REPENSANDO BUROCRACIA
Teorias e pequisa posteriores lidaram com
questões não consideradas por Weber
sobre burocracia

– Por que delegar?

– Quem se beneficia?
– Por que submissão?
– Por que tropismo burocrático (desajustamentos)?
– Qual é o significado da burocracia?
– Que interpretação?
QUESTIONANDO BUROCRACIA
Peters & Waterman questionam a
burocracia em quatro pontos:
1. Os membros estão limitados a serem uma
engrenagem na máquina organizacional com um
conjunto limitado de responsabilidades
2. Podem ser libertados com o aumento de suas
responsabilidades e autonomia
3. A cadeia hierarquica deve ser quebrada
encorajando-se a responsabilidade individual
4. Retórica revolucionária é capaz de derrubar a
burocracia (grandes organizações complexas
vistas como armadilhas inibidoras da criatividade)
 Desenvolvimento do pensamento
em gestão e organização

1. O nascimento da organização moderna

2. Aumento de escala e inovação em gestão e organização
3. Gestão, mão-de-obra e vigilância
4. A administração científica
5. O contraponto da autoridade
6. O lado humano das organizações
7. As funções dos executivos
8. Perspectivas críticas
Nascimento da organização moderna

• Origem nos mosteiros medievais, berço das

organizações burocráticas (“O Nome da Rosa”)
• Dos mosteiros, a organização burocrática chega
ao Estado e aos exércitos
• XIX: organização burocrática é o modelo para
todas as organizações civis
– hospitais, asilos, escolas, ferrovias, administração das
colônias
• Problemática central: maximização
• Dois tipos de trabalhadores:
– Livres: preferidos na indústria (cowboy vs. operário)
– Escravos: colônias (plantations), novo mundo
• Demanda por trabalho disciplinado
 Aumento de escala e inovação

• Expansão da escala dos negócios:

– A gestão torna-se complexa a medida que as
organizações crescem em escala (“o que é maior é
melhor”)
– Ferrovias, metalúrgicas entre outras atividades que
requerem investimentos iniciais altos (“the grow
large meant expending capital”)
– “Limited liability legislation”: resolve o problema de
como levantar capital sem comprometer fortuna
pessoal
– Como gerenciar empreendimentos de larga escala?
• Standardization of workplace routines
 Gestão, mão-de-obra e vigilância
• Mão-de-obra
– Trabalhador braçal não necessariamente especializado,
disciplinado, caracterizado por estar confinado, sob
vigilância e sob algum tipo de controle
• Importante: ser disciplinado e estar visível.
– “Order, discipline and authority were to become the
organizational watchwords of the new world under
construction”.
• Concentração espacial reforça o controle
• O panóptico (Jeremy Bentham)
– Objetivo: produzir sujeitos auto-disciplinados
 A administração científica

• F. W. Taylor
• The one best way
• Lean production, business re-engeneering, total
quality management;
• Princípios
– Desenvolver uma abordagem científica do trabalho
– Selecionar e treinar trabalhadores cientificamente
– Combinar seleção, treinamento
– Gestores e trabalhadores deveriam especializar-se
e colaborar mutuamente
– Funcionalidade e eficiência na produção
• Representa o racionalismo
O contraponto da autoridade

• Henry Fayol
• Programa de treinamento gerencial
como fonte de legitimidade e
racionalidade
• Quatorze princípios da administração
– Ressaltam a especialização do trabalho,
autoridade, disciplina, unidade de
comando, unidade de direção etc.
• Na França recebeu apoio de
empresários e políticos
 O lado humano das organizações
• Elton Mayo, psicólogo industrial australiano,
estudou as características de formação dos
grupos em tribos aborígenes
• Influenciado, inicialmente, pelas concepções da
administração científica (repetição leva a
pensamentos depressivos e a monotonia leva à
deficiência circulatória e à fadiga)
– Influência da engenharia vista como parte do problema
• Construção do “efeito Hawthorne”: aumento da
produtividade se os empregados receberem mais
atenção e se sentirem parte do grupo (influência
dos grupos informais).
 As funções dos executivos
• Chester Barnard
• Questão essencial: liderança
• Experiente executivo, foi presidente da New
Jersey Bell Telephone e Rockefeller Foundation
• Livro: As funções do executivo (1936)
• Princípios:
– O comportamento individual é variável e pouco
previsível
– Todos os indivíduos possuem uma “zona de indiferença”
dentro da qual a submissão a ordens serão percebidos
como neutra, sem questionamento da autoridade do
chefe
– Comunicações, especialmente na organização informal,
são absolutamente centrais na tomada de decisão
 Perspectivas críticas
• Mary Parker Follet
– Defende a profissionalização da gestão
separadamente da engenharia
– Principal questão
• O gap entre o ideal democrático da sociedade
americana e o autoritarismo no ambiente de trabalho
– Principais postulados:
• Conflito construtivo para entender e integrar: forças,
barganha, integração
• Gestão não é exclusivo de organizações empresariais
- gerência existe em todas as organizações sociais
• Gestão é uma função e não caixa de ferramentas
• Importância da cidadania: indivíduo no grupo e na
sociedade
 McDONALDIZAÇÃO
• Uma idéia desenvolvida por George Ritzer
para significar a aplicação de um tipo de
racionalidade orientada para todas as áreas
da vida humana
• Quatro princípios básicos:
1. Eficiência: encontrar os melhores meios
para atingir um fim
2. Calculabilidade: ênfase na mensuração e
redução dos custos
3. Previsibilidade: padronização para que
tudo aconteça da mesma maneira
previsível
4. Controle: tudo deve ser controlado
 Resistência à gestão
• O processo do trabalho
– As relações sociais de trabalho, a natureza do trabalho
humano em si e suas condições concretas amplamente
institucionalizados (p. ex. McDonalds)
• Harry Braverman (Trabalho e Capital Monopolista)
• Exploração
– Remuneração ao trabalhador abaixo do valor criado pelo
seu trabalho
• Mais-valia
– Diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o
salário pago ao trabalhador, base do lucro no sistema
capitalista
• Capitalismo gerencial
– Gestores profissionais como agentes centrais, imediatos
e diretos do poder dentro das organizações para
garantir a eficiente extração da mais-valia
 O que aprendemos?
• Há interconexão entre as mudanças na sociedade e as
inovações no pensamento em gestão e organização
• Há diferentes sentidos de gestão e organização dependente
do contexto histórico
– Controle, vigilância, inovação, mudança, crítica, produtividade,
justiça social, etc.
• Teoria e prática de gestão podem ser vistas como
organizadas por retóricas gerenciais, racionais ou
normativas
• As principais contribuições de autores seminais cobrem um
longo período marcado por mudanças. As contribuições são
inter-relacionadas pelo processo de desenvolvimento da
época e influenciaram os desdobramentos contemporâneo
• Portanto, idéias sobre gestão e organização são sempre
fortemente dependentes do contexto nas quais foram
desenvolvidas