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MODELO DE AVALIAÇÃO DA
MATURIDADE ERGONÔMICA DE
EMPRESAS BRASILEIRAS
Mario Cesar Rodriguez Vidal (UFRJ)
mvidal@ergonomia.ufrj.br
Carmen Lucia campos Guizze (UFF)
carmenguizze@hotmail.com
Renato Jose Bonfatti (FIOCRUZ)
renato.bonfatti@gmail.com
Jose Roberto Mafra (UFRJ)
mafra@ergonomia.ufrj.br
1. Introdução
A ausência da ergonomia não fica impune e, mesmo nas empresas de grande porte, as
iniciativas ergonômicas são em geral episódios isolados no tempo e cobrindo apenas uma
restrita parte da organização. Dois grandes fatores explicam esta ausência, ambos reportando
outras ausências: (i) a ausência de uma expressão gerencial de ergonomia em termos
econômicos ou minimamente de custo-benefício (MAFRA, 2004; HENDRICK, 2006; 2008,
PIKAAR, 2006) e (ii) a ausência de uma formatação da ergonomia como um grande projeto
compatível com o porte da organização. Neste trabalho encaminhamos este segundo viés.
2. A ação ergonômica
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Estas etapas se situam num plano formado por duas grandes orientações mestras: a
negociação e o realinhamento, com um pano-de-fundo necessariamente participativo
(VIDAL, 2009). A realização de uma boa ação não se limita aos seus aspectos técnicos. Não
basta ser um bom projetista, no sentido da criatividade e da competência técnica, pois isto
atenderia apenas parcialmente o item (c). Também é preciso que o consultor saiba reunir as
condições para a celebração e manutenção dos compromissos internos, o que impacta os
intens (a) e (d). Simetricamente, um bom articulador que não tenha nenhuma intimidade com
a prática e a linguagem de projeto certamente não terá muitas oportunidades de sucesso na
gestão dês te empreendimento específico.
A ação ergonômica compreende, pois, uma combinação entre uma atuação técnica e uma
construção social em cada assunto e tema da produção (qualidade, efetividade, falhas, perdas
e poluição). O sentido da negociação é o de possibilitar, de forma insubstituivelmente
participativa a tessitura de acordos e pactos sociais que possibilitem o desenvolvimento da
ação ergonômica de transformação da realidade do trabalho. Por insubstituivelmente
participativa estamos querendo significar que não apenas esta participação seja condição
necessária de sucesso, como também que sua ausência é condição suficiente para o fracasso
da ação (BONFATTI, 2004; GUIZZE, 2007). Importante ressaltar que aqui igualmente se
verifica o aspecto cumulativo que caracteriza os temas do gerenciamento de projetos.
A ergonomia no Brasil e em boa parte dos paises do mundo não forma uma profissão como a
engenharia ou medicina, mas se trata de um diploma universitário como Comunicação ou
Desenho Industrial. Neste sentido não cabe falar em Ergonomista, mas sim em praticante
profissional de ergonomia, um profissional de saúde, projeto ou gestão que se capacita
mediante uma especialização. Esta denominação é atualmente a que consta da definição
internacional de Ergonomia elaborada e difundida pela IEA e suas sociedades nacionais
federadas. Como área de conhecimento a Ergonomia esta inserida na Engenharia de
Produção, constituindo-se em uma de suas áreas temáticas.
A atuação do praticante profissional de ergonomia pode variar desde a anotação de
oportunidades de melhorias em processos de apreciação e mapeamento e até a especificação
de projeto, passando por diversos níveis e graus de diagnósticos e recomendações, inclusive
de construção, fabricação ou compras (neste caso mais atuando na engenharia do produto).
Para cada nível de ação corresponderá uma forma e um critério de atuação técnica e de
construção social, a partir dos quais os sub-processos de modelagem, concepção e
implementação tomam a forma e a substância mais efetiva.
Em nossa prática como conultores e professores de Ergonomia pudemos estabelecer que o
particante profissional de ergonomia dimensiona sua contribuição considerando uma
diversidade de fatores:
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O exame conjunto destes fatores mostra que o praticante profissional de ergonomia, não
apenas deve manejar uma expertise central – sua capacidade em estruturar problemas e
aportar soluções na interface pessoas-tecnologia e organização, mas devera manter e praticar
uma vivencia de temas de organização como entendimento de eventos disparadores,
metodologias de gestão (como SWOT e 5W +1H) e um manejo aceitavel de gerenciamento
de projetos. Neste sentido deverá manter sua atenção para os temas criticos da ação
ergonômica na empresa.
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Para Alves (2005), apesar de alguns trabalhos serem desenvolvidos com a contratação de
consultoria externa em Ergonomia, não se estabelece na empresa uma política de atuação em
um projeto que vise a prevenção de tais problemas, não se capitalizam as experiências, não se
desenvolve um processo de acompanhamento dos resultados obtidos em tais intervenções e,
por fim, não ocorre aprendizado para situações futuras.
Segundo Avancini (2006) a grande maioria dos programas de ergonomia observados tem
como base os programas de Medicina e de Segurança do Trabalho, ou seja, estão nas
empresas hierarquicamente abaixo da estrutura de Recursos Humanos. O que talvez afaste a
correta interpretação, por parte das demais áreas, da real importância de um programa
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Quanto a nós, estabelecemos que a ausencia de uma visão estratégica de Ergonomia pela alta
direção das empresas se constitui numa enorme custo de oportuinidade e provoca um elevado
custo sombra, o que reduz bastante a competitividade das empresas nacionais e mesmo da
competitividade de um site com relação aos seus equivalentes dentro de uma mesma
corporação. Em geral as empresas mais competitivas assim como os sites melhor aquinhoados
em projetos tem igualmente ume melhor concepção e estrutura de ergonomia. Isto nos
cofirmou a necessidade de inclusçao da ergonomia como tema da maturidade de
grenciamento de projetos.
4. A Maturidade em Ergonomia
A maturidade em Ergonomia se pode ser definida de forma intuitiva como o grau de
desenvolvimento de uma organização no que tange a suprir de ergonomia as principais
decisões no que tange ao funcionamento de seus processos (VIDAL, 2009). Em nossos
trabalhos de investigação, treinamento acadêmico e consultorias pudemos avaliar distintos
processos que apresentaram resultados de grande diversidade, quer entre empresas, quer entre
departamentos e unidades de negócio de uma mesma corporação. Para alguns, a Ergonomia
fora absolutamente comprovada como uma estratégia conseqüente na localização de
oportunidades de melhoria conquanto para outros a sensação experimentada fora a de um
gasto significativo de recursos para manter-se na perplexidade e na ausência de soluções
práticas e aplicadas para os problemas do trabalho.
Nossa conclusão foi a de que a emergence (HOLLAND, 1996) desta diversidade é um
fenômeno da complexidade e que se relacione ao nível de maturidade ergonômica da
empresa. Inversamente, a prévia apreciação do grau de maturidade ergonômica de uma
organização é absolutamente imprescindível para pode ali implementar com sucesso um
programa, processo ou sistema de ergonomia. E esses movimentos mais amplos incluem as
possibilidades de intervenção ergonômicas possíveis e necessárias. Assim é que para
construirmos nosso argumento em prol da maturidade em ergonomia devemos fazer um
exame prévio da maturidade como tema do gerenciamento de projetos.
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5. Metodologia
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A construção teórica deste tema assimila uma ação ergonômica a um projeto de grande porte
(PRADO, 2010), modulando-o com as especificidades sociotécnicas que caracterizam a
expertise prática profissional do praticante profissional de ergonomia (VIDAL op. cit.) Para
tanto, foi realizada uma avaliação retrospectiva de ações realizadas por nosso laboratório
seguindo a abordagem de estudos de casos múltiplos (YIN, 2010). A modelagem se fez sobre
atributos identificáveis que estabeleceram um primeiro enquadramento numa classe de
características empresariais, classificação que orienta a condução da intervenção ergonômica.
5.1 Definição dos casos
Devido à extensão do estudo, visto que aprofunda a investigação sobre a importância de
avaliar o nível de maturidade das empresas, de modo a facilitar as ações ergonômicas, 4
(quatro) trabalhos emblemáticos de Ergonomia foram escolhidos, dentre duas dezenas de
elegíveis, o que possibilitou obter uma diversidade de casos singulares. Basicamente, dois
critérios foram utilizados para selecionar os casos que fazem parte deste estudo:
a) Empresas onde foram encontradas dificuldades típicas da atividade consultiva em
Ergonomia. As soluções foram dadas, mas seria possível minimizar algumas
perdas e retrabalhos em todo o processo;
b) Empresas onde seria possível ter acesso ao detalhamento de informações junto a
pessoas envolvidas sobre os problemas e/ou dificuldades no trabalho desta
modalidade de consultoria em particular.
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Empresa A B C D Soma
1. Aceitação do assunto 46 42 18 14 120
2. Treinamento da equipe de Ergonomia 20 16 12 16 64
3. Treinamento Gerencial 8 16 24 12 60
4 . Certificação 14 18 18 14 64
5. Mapeamento e Padronização de Processos 6 22 18 14 60
6. Melhoria Contínua 4 12 12 12 40
7 . Clima Organizacional 14 22 30 14 80
8. Governança 20 32 16 24 92
9. Responsabilidade Social 18 22 18 10 68
10 . Planejamento Estratégico 16 24 24 20 84
11. Tecnologia da Informação 14 18 6 10 48
12 - Liderança 30 46 58 30 164
13 . Relacionamento 42 22 38 26 128
Graus de maturidade 2,5 3,1 2,92 2,2
7 - Discussão
Após a aplicação do mapa de avaliação para cada empresa, foram analisadas as dimensões
identificadoras de maturidade. Deste modo, pôde-se avaliar o atual estágio das empresas em
cada categoria e planejar seu crescimento. Um estudo detalhado dos resultados apresenta, para
cada quesito analisado, um aspecto a ser considerado para o aumento do nível de maturidade.
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A utilização dos valores obtidos a partir do questionário pode ser analisada de acordo com os
seguintes critérios:
Pontuação Maturidade Implicações programáticas Localização da
empresa
Abaixo de 1 Informal Realizar treinamentos de sensibilização
Empreender ações emblemáticas
Realizar treinamento de conscientização
Mapear a empresa
Entre 1 e 2 Organizado Formar comitês
Treinar facilitadores
Montar plano de ação
De 2 a 3 Estruturado Montar indicadores Empresa D
Avaliar indicadores e históricos Empresa A
Estabelecer padrões Empresa B
De 3 a 4 Gerenciado Repertório de boas praticas Empresa C
Banco de lições aprendidas
Montar sistema permanente de gestão
De 4 a 5 Otimizado Treinar fornecedores
Melhoria continua
A avaliação da maturidade dos quatro casos analisados apontou para níveis de maturidade de
entre estruturado e gerenciado. A aderência à maturidade destas empresas, escolhidas entre as
melhores particas ao nosso alcance, demonstra que, quanto mais elevada à pontuação obtida
no mapa de avaliação maior será a maturidade referente ao momento avaliado..
Deixaremos como ponto de espera deste trabalhos uma ampliação em dois sentidos;
Referências
ALVES, C.S.C. (2005) Dos programas de qualidade aos programas de ergonomia: reflexão acerca
da gestão de mudanças em organizações industriais de grande porte. Tese de D.Sc.,COPPE/UFRJ,
Rio de Janeiro, RJ,.
AVANCINI, F.S. (2006) Gestão da ergonomia na empresa estudo comparativo sobre a
aplicabilidade da gestão ergonômica em diferentes empresas industriais de matriz estrangeira que
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VIDAL, M.C., GUIZZE, C.L., MAFRA, J.R., BONFATTI, R.J., SANTOS, M.S., PACHECO,
R., MOREIRA, L.R. (2009) - The ergonomic maturity of a company enhancing the effectiveness of
ergonomic process. XIV Triennial Congress of the IEA, 2009.
YIN, R.K (2010). Estudo de Caso: planejamento e métodos. 4.ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
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