NOTA TÉCNICA

14 Jun 2020 03
Enfrentamento da COVID19 com
conhecimento científico e análise de
dados em mapas

Avaliação das condições de vulnerabilidade à COVID-19

e isolamento social na cidade de Salvador-BA
Cada área de Salvador e
sua população, dependendo
de suas condições socioeco-
nômicas e habitacionais, tem
vulnerabilidade diferenciada
frente ao processo de contato,
contágio e disseminação do
COVID19. Assim como é
diferenciada a capacidade
de resposta institucional aos
impactos individuais e coletivos
desta doença.
O cenário descrito originou
diversas indagações, entre
elas uma pergunta central
começou a ganhar importância:
em termos espaciais todas as
localidades teriam as mesmas
condições de infraestrutura,
habitacionais, sanitárias, ca-
pacidade de auto isolamento,
etc. para suportar os efeitos da
pandemia? Portanto, a presen-
te nota técnica pretende iden-
tificar e avaliar as localidades Figura 1. Índice de Vulnerabilidade Local à COVID-19, Salvador - BA
com maior vulnerabilidade local
frente à COVID19, na cidade de do ambiente urbano no entorno da própria A combinação das matrizes dos entrevista-
Salvador, Bahia, identificando também o papel habitação; dos resultou nos seguintes pesos para cada
do isolamento social, praticado na cidade, b) a dimensão socioeconômica, que repre- dimensão: a) Meio Ambiente construído: 20 %;
como um fator agravante do processo de vul- senta para o nosso caso as condições de b) dimensão socioeconômica: 67%; c) saúde:
nerabilidade, visando fornecer subsídio para trabalho e renda que fragilizam as famílias 13%. A dimensão relativa ao meio ambiente
o desenvolvimento de ações que envolvam frente à pandemia, determinando a vulne- construído foi composta pelos seguintes
resposta social. rabilidade social das pessoas, e indicadores: a. Lixo no logradouro, b. Lixo
Para a construção da base de dados c) a dimensão da saúde, na qual desta- coletado via caçamba, c. Esgoto a céu aberto,
georreferenciada, foram pesquisadas e organi- camos espacialmente as condições de d. Densidade x cômodos, dentro do domicílio
zadas informações associadas ao objeto de saúde preexistentes da população, sobre- (superlotação) e, e. Intermitência do serviço
estudo, contemplando sempre a definição de tudo para aquelas doenças consideradas de abastecimento de água potável, no bairro.
vulnerabilidade em saúde como uma combi- comorbidades, ou seja, doenças preexis- A dimensão socioeconômica foi composta
nação de aspectos individuais, coletivos e de tentes associadas à uma maior letalida- pelos seguintes indicadores: a. Proporção de
contexto. Por conseguinte, o processamento de, que podem agravar os sintomas da vulneráveis à pobreza, b. Taxa de desocu-
das informações foi organizado seguindo três COVID 19 e são associadas à uma maior pação da população de 18 anos ou mais de
grande dimensões: letalidade. idade, c. Percentual de pessoas de 18 anos
a) a cidade e a moradia, a qual é refletida Para definição da importância e, conse- ou mais sem ensino fundamental completo
pelas condições físico-espaciais do meio quentemente, o peso que cada dimensão e em ocupação informal, d. Percentual de
ambiente construído, considerando deveria assumir no cálculo final do Índice de pessoas em domicílios vulneráveis à pobre-
os seus principais desdobramentos que Vulnerabilidade Local ao COVID-19 foi adota- za e dependentes de idosos e, e. Taxa de
impactam na vulnerabilidade de determi- da a técnica de avaliação multicritério. atividade das pessoas de 10 a 14 anos de
nadas localidades, esta dimensão nos fala Para isso foram entrevistadas 2 lideranças idade. A dimensão da saúde foi representada
das condições habitacionais da população comunitárias e 2 especialistas, um da área de pelo número de internações para hipertensão
considerando também, as características urbanismo e outro da área de epidemiologia. e diabetes de 2013 a 2019.
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Localidades de Salvador identificadas

como mais vulneráveis

Vulnerabilidade Muito Alta (indicador > 0,7) Vulnerabilidade Alta (indicador 0,6 e 0,7)
Praia Grande, Rio Sena, S. João do Cabrito, Alto do Cabrito, Lobato,
Boa Vista do Lobato, Boa Vista de S. Caetano, Alagados, Mussurunga,
Cassange, São Cristóvão, Coutos, Fazenda Coutos, Nova Brasília,
Canabrava, Nova Brasília, Águas Claras, Sussuarana, Nova Sussuara-
Valéria, Paripe, São Tomé de Paripe, Periperi, Nova Constituinte, São
na, Novo Horizonte, São Rafael, Sete de Abril, Saramandaia, Bairro da
Marcos.
Paz, Gamboa de Baixo, Bate Facho, Palestina, Ilha de Maré, Ilha dos
Frades e Ilha de Bom Jesus dos Passos.
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Isolamento
Social
O isolamento social
que, até então, é apontado
internacionalmente e pela OMS
como a mais eficaz forma de
defesa e prevenção contra o
espalhamento do vírus, é um
conceito de difícil aplicação nas
comunidades que apresentam
as características sociais,
econômicas e habitacionais
evidenciadas pelo índice de
vulnerabilidade.
A dificuldade de tornar o
isolamento uma medida efetiva
é confirmada pelos dados
fornecidos pela InLoco - ISC/
UFBA (Figura 02).
Os dados demonstram que
Figura 02. Isolamento Social em Salvador - BA - 23/03 a 27/04/2020.
toda a cidade de Salvador, no
período de 23 de março à 27 de abril, estava social, abaixo da média da cidade que foi de disseminação da doença, e o risco poderá ser
bastante longe de 70%, recomendado pela 54% no período. maior.
OMS como taxa de isolamento social mínima Portanto, podemos verificar um forte As áreas prioritárias 3, 4, 7 e 8
necessária para diminuir significativamente a relacionamento entre os dois fatores apresentaram no mês de abril os menores
taxa de contágio. analisados, o qual agrava a fragilidade dos índices médios de isolamento social quando
Verifica-se que a totalidade das grupos sociais expostos à doença: regiões comparados aos demais bairros, sendo que
localidades identificadas como de mais alta com elevada vulnerabilidade local à doença, as áreas do subúrbio ferroviário ( 2, 5 6 e
vulnerabilidade, citadas no Quadro 01, se onde simultaneamente ocorre um baixíssimo 7) também apresentaram índices abaixo da
situam nas faixas mais baixas de isolamento isolamento social, facilitarão ainda mais a média da cidade.

Considerações finais
Esta Nota Técnica indicou de forma precisa e com embasamento
científico, localidades na cidade de Salvador com maiores vulnera-
bilidades ao enfrentamento da Covid-19. Isso não significa dizer que
são os locais com maiores ocorrências e incidências, mas sim que
nesses lugares, a população possui condições menos favoráveis para
o enfrentamento à doença, demandando assim uma maior atenção.
Portanto, esse estudo está à disposição do poder público e de ou-
tros agentes de combate à pandemia, como subsídio para otimizar e
priorizar as ações nesse momento de emergência sanitária na cidade
de Salvador.
Recomenda-se aos poderes públicos e técnicos da gestão muni-
cipal que contemplem as áreas indicadas como de maior vulnerabi-
lidade em suas ações no combate à COVID-19. É muito importante
ressaltar que a indicação dessas áreas não exclui a relevância da
realização de ações em outras áreas da cidade também vulneráveis,
identificadas pelo índice aqui apresentado (IVL-COVID19), ou por ou-
tros critérios como por exemplo o índice de criticidade ao COVID-19
para aglomerados subnormais, desenvolvido por Carlos Alves de
Freitas Junior e Guillermo Javier Pedreira Etkin .
Cada área demanda um olhar atencioso, uma articulação com lide-
ranças, trabalhadores e moradores locais para definição de melhores
estratégias de enfrentamento. Nesse sentido o Grupo GeoCombate
COVID-19 está produzindo a Nota Técnica 04, com informações,
alertas e recomendações para uma área piloto da cidade de Salvador
(Península de Itapagipe) como objetivo servir de roteiro metodoló-
gico para estudos de outras regiões e bairros vulneráveis. Os temas
tratados são: Caracterização da vulnerabilidade, Condições de
Saúde, Equipamentos de saúde, Isolamento social. Vale ressaltar que
as quatro temáticas apresentadas não esgotam as possibilidades de
estudos de outras ações para áreas vulneráveis de Salvador.

Elaboração Heliana Faria Mettig Rocha (UFBA)

Informações adicionais
sites.google.com/view/geocombatecovid19ba
geocombatecovid19ba@gmail.com
@geocombate
Juan Pedro Moreno Delgado (UFBA) - Jorge Ubirajara Pedreira Júnior (UFBA)
jpyupi@gmail.com Kionna Oliveira Bernardes Santos (UFBA)
Marcella Sgura Viana (UFBA) Marcio Natividade (UFBA)
Julio César Pedrassoli (UFBA) Patricia Pires (AGERSA - BA)
Patrícia Lustosa Brito (UFBA) Priscila Abade (AGERSA - BA)
Fabíola Andrade Souza (UFBA) Ricardo Lustosa Brito (UFBA)
Artur Caldas Brandão (UFBA)
Design
Colaboração Paulo Souza
Elaine Gomes Vieira de Jesus (UFBA) Miguel Cotrim &
Ernesto Galindo (IPEA Brasília) Edivan Menezes (EBA/UFBA)