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CAPÍTULO 4 – APLICAÇÕES DA ORTOPRAXIA NA DOUTRINA DA

HUMANIDADE DE CRISTO

Toda prática é prática de alguma teoria


(Ferreira, 2008)

O termo “cristão” se origina na ação de seguir a Cristo. A nomeclatura foi

atribuída inicialmente àqueles que adequaram seu estilo de vida aos princípios

de Cristo. As características que distinguiam aquelas pessoas das demais

eram resultados da transformação sofrida mediante o contato com Jesus e

seus ensinos. Os fundamentos das palavras desse Mestre baseavam-se na

própria encarnação daquilo que Ele ensinava. Com isso, mais que meras

palavras que visavam orientar a um comportamento ideal, Cristo deixou o auto-

exemplo, anexando assim, seus ensinos com sua própria vida.

Portanto, ser cristão é praticar as palavras de Cristo encarnadas nas

suas ações, nesse sentido trata-se da internalização desses valores levando o

indivíduo a viver mediante a vida do seu Mestre. “O Cristianismo diz respeito à

vida real porque os cristãos crêem que a voz que sussurra em seus ouvidos é

de Jesus de Nazaré, que se tornou humano, viveu e morreu como um de nós”

(WRIGHT, 2008, p.22).

Mediante essas definições iniciais, quando pensamos no cristianismo da

atualidade, vem uma pergunta intrigante de McLaren (2007, p.89): “Jesus seria

um Cristão?”. Para encontrarmos uma resposta satisfatória a essa pergunta

precisaríamos comparar o cristão dos nossos dias com o paradigma que é

Cristo. Quando entendemos que a vida de Cristo é um ponto de referência para

o cristão hoje partimos do pressuposto que os valores por Ele vividos e

ensinados são atemporais e supra-culturais. John Stott prefere chamar esses

princípios de “Contracultura Cristã” (1978). Na sua concepção trata-se dessa


inconformidade dos valores de Cristo com a cultura regente da sociedade

corrompida.

Estamos no século XXI e fazemos parte de uma geração que enxerga

na história um longo caminho percorrido pelos cristãos até os dias atuais.

Nossos fundamentos já foram lançados. Embora cada momento proponha

desafios específicos do tempo vigente, exigindo assim, uma contextualização

da mensagem cristã afim de ser relevante, o desafio do cristianismo constitui-

se em revisitar o ponto de referência original e refletir sua prática a luz desse

paradigma.

Sem dúvida, a igreja evangélica brasileira precisa estabelecer um

caminho de coerência entre aquilo que prega, e o que vive no dia-dia.

Entramos em um período de questionamentos sobre a missão e os valores que

essa igreja defende. Os sucessivos escândalos que estampam as páginas de

jornais e revistas contribuem para um descrédito cada vez mais crescente.

Nesse contexto a Ortopraxia Cristã se apresenta com o objetivo de contribuir

no resgate da identidade Cristã original. Minervino (1979) escreve sobre os

desafios da liderança cristã e faz a seguinte observação:

Através do seu comportamento, o cristão mostra ao mundo que existe algo mais
profundo que norteia sua vida. Através do seu comportamento, ele embebe o mundo
sedento de valores maiores, do Cristo parâmetro. Mas ainda: através de seu
comportamento é que o mundo será cristificado, concretizando teoria, teologia e fé.
Será através desse comportamento que o exercício de liderança deixará o campo da idéia
para ser coisa vivida. Testemunho vivo, comportamento coerente. (MINERVINO, op. cit.,
p.55)

No primeiro capítulo apresentamos alguns problemas que afetam a

Igreja evangélica brasileira, e no segundo capítulo enfatizamos a Ortodoxia

Cristã focalizando a doutrina da Humanidade de Cristo como fundamento da Fé

Cristã. Nesse capítulo verificaremos as contribuições dessa doutrina no resgate


da prática Cristã. Destacaremos o modelo de Cristo como o Homem Perfeito,

sua Mensagem e seu Ministério.

4.1. Cristo, o Homem Perfeito

Quando falamos de perfeição somos condicionados a pensar com uma

mentalidade ocidental-grega. Aqui reside um ponto que dificulta o entendimento

claro de Cristo como Homem Perfeito. Se perfeição na nossa concepção está

relacionado ao eugenismo operante na nossa cultura seremos incapazes de

captar o sentido real da perfeição de Cristo.

Para pensarmos acerca da perfeição de Cristo tomamos como partida a

afirmação bíblica da sua impecabilidade. Vale acrescentar que pecado numa

visão bíblica é tanto a ação do mal, a prática do erro, quanto à omissão do

bem. Uma discussão que surge com relação a esse assunto é, em até que

ponto Cristo esteve exposto à sedução das tentações. Para aqueles que

negam a realidade do corpo humano de Cristo, logicamente não acreditam na

concretude das tentações sofridas por Ele. O escritor aos Hebreus escreve:

“porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz

de socorrer aqueles que também estão sendo tentado”.(NVI). Vejamos que o

autor assevera a que as tentações de Cristo foram reais, inclusive, faz um

ponto de contato com a realidade humana na cotidianidade.

O teólogo Augustus Strong (2003, p. 323) escreveu acerca disso e

lembrou a concepção sobrenatural de Cristo, que com isso ele era “livre de

toda depravação hereditária como do verdadeiro pecado; como se demonstra

no fato de nunca ter oferecido sacrifício, ou nunca orar pelo perdão, ensinando
que todos a não ser ele, necessitavam do novo nascimento, desafiava a todos

argüi-lo de um só pecado”

Com base na verdade em torno da assertiva de Cristo como o homem

perfeito, observamos que esse é o padrão exigido por Ele para os que o

seguem. No Sermão da Montanha narrado por Mateus Ele conclama os

discípulos a buscarem essa perfeição tomando como paradigma o Pai do céu.

Mo Sung (2007, p.80) chama a atenção para esse texto e observa que quando

pensamos em Deus lembramos que “por ele ser perfeito é onisciente,

onipresente e onipotente”. A pergunta que ele faz é: “será que Cristo referia-se

a esse tipo de perfeição?”. Ao recorrer para o contexto das palavras de Jesus,

Mo Sung (op. cit., 81) observa que, o que está em questão é o amor que

constrange a prática do bem. Nesse sentido, a perfeição na perspectiva de

Cristo que deveria ser buscada pelos seguidores consistia na capacidade de

amar indistintamente amigos e inimigos.

Portanto, Cristo como o Homem Perfeito, aquele que sendo plenamente

humano, tornou clara sua perfeição por meio da impecabilidade. Nesse caso, a

ausência de pecado se deu tanto no sentido da perfeição moral, como também,

da pratica incessante do bem. Como Deus encarnado Ele revelou a glória do

Pai, ensinando-nos o amor como caminho da perfeição.

Sendo assim, quais as lições extraídas da vida humana de Cristo e as

suas implicações?

4.1.1. Cristo como o paradigma da fé cristã

Como enfatizamos anteriormente, a vida cristã se dá mediante a

assimilação da vida de Cristo, e a prática dos seus ensinos. Na concepção de


João, um dos seguidores de Cristo, isso se dá mediante a união entre o

indivíduo e Cristo. Para falar dessa união, ele usa o verbo “permanecer”. Com

base nas suas palavras, “se alguém permanece nele, deve andar como ele

andou” 1.

Sendo assim, Cristo como homem perfeito estabelece um paradigma de

perfeição que faz um contraponto as distorções de valores nessa geração pós-

moderna.

Paulo, um cristão do primeiro século, ao escrever para um grupo de

cristãos e falar de Cristo como paradigma da fé cristã, ele destacou o seu auto-

esvaziamento como exemplo a ser seguido. Para isso, Ele uso termo “esvaziar-

se” extraído do grego “kenosis”. A sua intenção era mostrar que, embora Cristo

sendo Deus, humilhou-se, vindo a ser servo. Nesse sentido, com base nas

palavras de Paulo, observamos implicações práticas da encarnação de Cristo:

Primeiro, a empatia. Isso é referente a alguém que se coloca no lugar do

outro. A encarnação em suma é Deus tomando forma humana. Observando

detalhes do Cristo encarnado, constatamos que ele não somente tornou-se

homem, mas, encarnou a vida diária das pessoas, acolheu os desfavorecidos,

chorou ao sentir o sofrimento do seu povo, compartilhou dos dramas dos

excluídos socialmente.

A empatia de Cristo torna-se um desafio para aqueles que se dizem

cristãos em virtude da influencia do espírito do tempo. A sutileza do evangelho

da Confissão Positiva incentiva a busca do “ter” em detrimento do “ser”. Com

isso, aqueles que vivem marginalizados, vítimas da desigualdade social,

1
I Jo 2:6
tornam-se seres indignos, invisíveis aos olhos de uma igreja secularizada que

não coaduna sua Ortopraxia com o a Ortodoxia Cristã.

A prática da crença na Humanidade de Cristo como paradigma da fé

cristã implica no envolvimento social com as causas humanitárias, significa

partilhar dos recursos com os pobres, prestar assistência psicológica aos

enlutados, sentir a dor dos que sofrem o desespero da dependência química,

dos que mendigam nos grandes centros a procura de um lar. A conseqüência

disso é o desprezo sofrido por uma sociedade cansada de discursos vazios.

Cardeal Arns em sua obra: “Discutindo o papel da Igreja”, coloca bem as

conseqüências da indiferença da igreja diante dessa realidade: “Sabemos que

uma igreja „helicóptero‟, pairando sobre a caravana humana, ditando do alto o

rumo a seguir, é repudiada, ao menos ignorada, por uma sociedade secular e

secularizada” ( ARNS, 1980, p. 31).

Outra implicação prática do auto-esvaziamento de Cristo como

paradigma da fé cristã é o serviço. Paulo ao falar da “kenosis” diz que ele “veio

a ser servo”. Nas próprias palavras de Cristo, ele enfatizou durante seu

ministério que “veio para servir” 2. O Mestre demonstrou isso em um gesto de

lavar os pés dos seus seguidores e deixou o exemplo para que eles

observassem, enfatizando que isso é um requisito para aqueles que

querem ser servido.

O resgate da prática do serviço cristão confronta o “estrelismos” vigente

no nosso tempo, uma geração impregnada pela competitividade. Muitos

anseiam pelos primeiros lugares. As sucessivas fragmentações nos grandes

blocos eclesiásticos denunciam esse momento. Em contrapartida, com

2
Mateus 20:28
alternativa, a Ortopraxia Cristã desenvolve-se através do serviço e do

considerar o outro superior.

Outra aplicação prática na crença de Cristo como o homem perfeito

significa:

4.1.2. Cristo como representante legal da humanidade

Quando abordamos a doutrina da humanidade de Cristo observamos

que ele como segundo Adão, tornou-se o pai da nova criação em Deus. Sendo

assim, ele assumiu uma função de representatividade junto ao Pai.

Ao fazermos uma aplicação do oficio representativo de Cristo, podemos

olhar criticamente para o cenário em volta e perceber um contraponto na

situação atual em que se encontra a igreja evangélica brasileira. Nesse cenário

de exclusivismo denominacional, em que pastores reivindicam a investidura de

“homens de Deus” se colocam como mediadores entre o Deus e os homens,

pois se julgam detentores de uma “graça” especial. Com isso, se propõem

estabelecer um elo entre ambas as partes.

Compreender as implicações de Cristo como nosso legítimo

representante resulta na assimilação dos benefícios da Graça que nos

possibilita o livre acesso sem intermediários. Em resposta a essa

“medievalização” que estabelece mediadores entre Deus e os homens,

precisamos reafirmar um dos legados da Reforma Protestante: Somente Cristo.

Outra aplicação prática da crença no Cristo como homem perfeito é que:

4.1.3. A humanidade é boa


Quando falo humanidade refiro-me ao ser humano originalmente

criado.O texto de Gênesis acerca da Criação afirma que Deus ao ter criado

todas as coisas, “viu que tudo era muito bom” 3. Isso indica que a matéria em

si não é má. O problema está quando comparamos a humanidade de Cristo

com a nossa. Como Erickson afirma: “não passamos de modelos imperfeitos

da humanidade”. Isso significa que, embora Cristo tenha existido no ambiente

físico que vivenciamos, seu corpo não estava afetado pelos ef eitos nocivos do

pecado.

Essa lição extraída da encarnação de Cristo de que a humanidade é boa

confronta o conceito ascético de que a matéria é má. A influência dessa

mentalidade perpassa gerações e chega até nós. A sutileza disso se manifesta

nos dias atuais em algumas formas: primeiro, a negação do valor da mordomia

do corpo. Nesse caso, algumas pessoas em nome de uma “pseudo-

espiritualidade” se omitem ao cuidado do corpo, com isso, sofrem e causam

sofrimento aos que estão em sua volta.

As implicações práticas da crença no Cristo como Homem perfeito

implica valorizar a vida humana. Cristo revelou profundo interesse pelo homem

integral. Por isso, ele cuidou das questões emocionais, espirituais e físicas das

pessoas. Uma prática cristã a luz da vida de Cristo, terá sempre interesse pelo

bem-estar do ser humano. Ele demonstrou isso quando confrontou as tradições

desprovidas da misericórdia que não consideravam as necessidades do

individuo. Arns (1980, p.72) assevera: “a redenção de Jesus leva portanto o

homem a reencontrar a grandeza, a dignidade e o valor mesmo de sua

humanidade”.

3
Genesis 1:31
Uma segunda forma da influência desse conceito de que a matéria é má,

é a auto-penitência como meio da Graça. A história da Igreja registra muitos

desvios interpretativos nesse sentido. As reações monásticas em alguns casos,

traziam práticas ascéticas e de auto-flagelação que supostamente buscavam o

favor divino e uma vida de santificação. Essa prática teve seu ápice na Idade

Média. Trata-se de um comportamento que é resultado do entendimento

equivocado acerca da Graça.

A Ortopraxia da crença no Cristo como homem perfeito nos faz entender

que os esforços humanos não tornam o favor divino mais eficiente. Yancey

(1999, p.84). adverte acerca disso: “Os jogos espirituais que praticamos, muitos

dos quais começam com a melhor das motivações, podem levar-nos

perversamente para longe de Deus porque nos conduzem para longe da

Graça”.

Outra forma que expressa a influência da negação da humanidade é a

tentativa da deificação humana. No primeiro capítulo observamos que nossa

geração é marcada pelos “super-crentes”. Os pregadores da Confissão Positiva

afirmam abertamente viverem em uma realidade sobre-humana. A defesa de

tal posição se dá por meio da negação do sofrimento, de erros hermenêuticos

de textos que fazem alusão ao fato de sermos filhos de Deus, esses

pregadores interpretam que, mediante a isso, somos deuses também.

Precisamos de uma prática cristã baseada na vida de Cristo, que

enfatizou sua condição humana e manifestou publicamente reações inerentes a

sua humanidade. A liderança evangélica brasileira é desafiada a reagir contra a

sedução do culto ao homem, do status elevado que o põe acima da critica, do

distanciamento da realidade cotidiana das pessoas. Essas duas verdades


podem ser comprovadas na história: o homem tem a síndrome de Deus, e as

massas clamam por messias. Mo Sung (2007, p. 85) sugere um caminho para

isso:

O primeiro passo para ser perfeito na proposta de Jesus consiste em não querer ser
perfeito na nossa concepção ocidental. Assim, reconciliando-nos com a nossa condição
humana, podemos nos libertar – mesmo que não completamente – da pressão interna
que nos exige uma correria infindável em busca de uma perfeição equivocada e impossível.

Somente uma consciência de que na medida em que nos tornamos mais

humanos, somos mais espirituais, e assim, mais qualificados para o

cumprimento da nossa vocação.

Outro aspecto da vida humana de Cristo a ser observado como exemplo

é:

4.2. Sua Mensagem

A vida humana de Cristo é lembrada não somente pelas suas ações,

mas também pela sua mensagem. Suas pregações romperam a resistência do

tempo e ecoam no século XXI provocando o mesmo impacto que causou nos

ouvintes que o assistiam nos desertos da Palestina.

Os historiadores do Novo Testamento que registraram a trajetória de

Cristo tiveram o cuidado de relatar sermões memoráveis do Mestre que hoje

tornam-se a base do padrão ético exigido por ele. Sua bandeira era um Reino

que ele inaugurava, com isso, sua mensagem eram os valores desse Reino.

Portanto, veremos algumas características dessa mensagem:

4.2.1. Mensagem de apelo à justiça


O momento histórico da vida terrena de Cristo foi marcado de grandes

sofrimentos por parte de uma classe de pessoas desfavorecidas que sofriam a

exploração dos aristocratas da época. Isso se dava tanto por meios políticos,

quanto religiosos. Naquela época em que os romanos dominavam os judeus,

Jesus dirigia sua mensagem aos seus compatriotas, que na busca de

privilégios, apoiavam os opressores e saqueavam os bens dos próprios irmãos.

Outra face desse mesmo cenário era a exploração religiosa. Os líderes

da religião judaica estavam comprometidos com os dominadores, e com isso,

enganavam a massa simplória tornando os ritos sagrados dos judeus um meio

ilícito de enriquecimento.

Portanto, a desigualdade social foi combatida no inesquecível sermão de

Cristo – o “Sermão da Montanha”, e também estabeleceu um padrão de retidão

para os que querem participar do seu Reino. Naquela ocasião, o Mestre

assistido por uma numerosa multidão enfatizou a justiça e confrontou o

legalismo presente na pratica religiosa daquele época. Stott (1971, p.21) afirma

que na Bíblia a justiça tem três aspectos: “o legal, o moral e o social”.

A justiça legal é justificação, um relacionamento correto com Deus [...], a justiça moral é
aquela justiça de caráter e conduta que agrada a Deus [...], a justiça social refere-se à
busca pela libertação do homem da opressão, junto com a promoção dos direitos civis, da
justiça nos tribunais, da integridade nos negócios e da honra no lar e nos relacionamentos
familiares. (Stott, loc. cit.)

A mensagem de confrontação que Cristo pregava é um modelo para

nossa geração imersa a uma crise kerigmática. Temos visto que a influencia do

mercado tem afetado sensivelmente nossa mensagem. No afã de agradar o fiel

como um cliente, nos esquivamos do compromisso ético que os seguidores de

Cristo têm de pregar a justiça. Uma igreja que assimila o modelo de Cristo e
sua mensagem, se incomoda com a maldade, a injustiça e a exploração. Nessa

geração pós-moderna que o interesse de diversas denominações evangélicas

é servir ao homem, cabe-nos resgatar a práxis do kerigma de Cristo.

4.2.2. Mensagem de apelo à misericórdia

Quando estudamos acerca do ministério de Cristo observaremos um

profundo zelo pela retidão, ao mesmo tempo, um amor intenso pelas pessoas.

Em várias ocasiões os escritores dos Evangelhos nos mostram Cristo

indignando-se com algo que dizia respeito à tirania da religião sem misericórdia

ou da hipocrisia ritualística, como era o caso dos mestres da lei e os fariseus,

que ele chamou de “sepulcros caiados” 4.

A mensagem de Cristo tinha também um forte apelo à misericórdia. Isso

se dava tanto com relação aos que estavam de fora e precisavam ser

alcançados, como os de dentro para o desenvolvimento da comunhão. A figura

do pastor ilustra bem citada por Cristo em uma parábola em “que certo pastor

tinha cem ovelhas, e ao perceber a ausência de uma, deixou as noventa e

nove no aprisco e foi em busca da outra. Encontrando, traz de volta em seus

ombros, cura suas feridas e festeja por ter encontrado sua ovelha perdida” 5.

Deste modo, as implicações práticas da mensagem de Cristo para igreja

evangélica brasileira resultam numa ação pastoral efetiva de atentar para

aqueles que fraquejam na fé. A intolerância com os necessitados de perdão

pode gerar cinismo. Uma igreja que compreende a misericórdia como um dever

nas ações diárias, perceberá além do estereótipo, será menos legalista e

4
Mateus 23:27

5
Lucas 15:1-6
cumprirá sua missão de levar cura aos feridos. Yancey (2002, p.155) propõe o

seguinte questionamento: “Como Jesus, que era a única pessoa perfeita na

história, conseguia atrair os sabidamente imperfeitos? E o que nos impede de

seguir seus passos hoje?”.

A igreja evangélica brasileira tem como desafio a prática da misericórdia.

Isto se aplica tanto aqueles que não comungam da nossa crença, dos nossos

valores, quanto aos que sentam à nossa mesa e professam a mesma fé.

Sendo assim, teremos mais disposção para o perdão e conservaremos

relacionamentos saudáveis. Uma igreja que busca no exemplo de Cristo o

modelo a ser seguido, pratica a misericordia.

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