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Resumo: A liderança tem um papel importante na criação de valor, inovação e na articulação de estratégias de
implantação da gestão do conhecimento. No âmbito da liderança existe uma discussão acerca da ética e autenticidade,
principalmente, após os escândalos protagonizados por altos dirigentes de algumas organizações, em especial, nos
Estados Unidos. Neste contexto, o objetivo deste artigo é contextualizar a teoria da liderança autêntica, amparada nos
pressupostos da autenticidade e por fortes valores éticos/morais. É uma conduta interessante para as organizações
intensivas em conhecimento visto que se preocupa em criar um ambiente organizacional positivo e com foco no
desempenho verdadeiro e sustentável. A ética e autenticidade nas relações podem favorecer a criação e
compartilhamento do conhecimento. Existem muitas possibilidades para estudos futuros (empíricos) que analisem a
liderança autêntica e o seu desenvolvimento no ambiente social e organizacional.
Summary: Leadership plays an important role in value creation, innovation and articulation of strategies for
implementing knowledge management. Under the leadership there is a discussion of ethics and authenticity, especially
after the scandals perpetrated by senior leaders of some organizations, especially the United States. In this context, the
aim of this article is to contextualize the theory of authentic leadership, based on the assumptions of authenticity and a
strong moral/ ethical values. It's an interesting conduit for knowledge intensive organizations since cares to create a
positive and focused on real and sustainable organizational performance environment. The ethics and authenticity in
relationships can encourage the creation and sharing of knowledge. There are many possibilities for future studies
(empirical) to examine the authentic leadership and its development in the social and organizational environment.
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autoestima (AVOLIO; GARDNER, 2005). desafiadoras, ajudar as pessoas em sua
Surgiu do cruzamento de vários aspectos procura por significado com base na
da liderança, de questões éticas e do autenticidade (AVOLIO; GARDNER,
comportamento organizacional positivo 2005).
(WALUMBWA et al, 2008). Os Inicialmente, a liderança autêntica
proponentes da liderança autêntica foi definida como um processo que
apontam para o desejo de treinar e promove as capacidades psicológicas
desenvolver líderes que pró-ativamente positivas e um contexto organizacional
fomentam ambientes positivos e realizam altamente desenvolvido, resultando em
negócios de forma ética e socialmente uma maior autoconsciência, auto-regulação
responsável (AVOLIO; GARDNER, 2005; e comportamentos positivos por parte dos
AVOLIO; GARDNER; WALUMBWA; dirigentes e associados (LUTHANS;
AVOLIO; LUTHANS; WALUMBWA, AVOLIO, 2003 apud AVOLIO;
2004; GARDNER; AVOLIO; LUTHANS; GARDNER, 2005). Mais recentemente,
MAY; WALUMBWA, 2005). Walumbwa et al. (2008) conceituaram
As teorias sobre liderança autêntica como um padrão de comportamento do
permeiam uma gama variável de estudos e líder que apoia e promove capacidades
abordagens, porém, em linhas gerais psicológicas positivas e um clima ético
sugerem que a autenticidade é estimulada positivo, para promover uma maior
pelos próprios líderes por meio da autoconsciência, uma perspectiva moral
autoconsciência, autoaceitação, internalizada, processamento equilibrado
autoconhecimento, ações e de informação e transparência relacional
relacionamentos. Por consequência, têm-se no ambiente de trabalho.
relações autênticas, suportadas pela Essa forma de liderança está
transparência, confiança, integridade e fundamentada na compreensão e
altos padrões morais (AVOLIO; interpretação dos processos de avaliação
GARDNER, 2005). observados ou experimentados, bem como,
Os elementos da autenticidade são na ética nos processos de decisão. Como
relevantes ante as oscilações e desafios no ponto de partida, isto implica a adequação
cenário mundial que sugerem uma busca do foco sobre as percepções do indivíduo
constante por um enfoque renovado. É em um papel de liderança e como o
necessária genuína liderança apta a indivíduo constrói o seu papel e meio
restabelecer a confiança, a esperança e o ambiente (BEGLEY, 2006). É importante
otimismo frente a situações críticas e salientar que a liderança autêntica se
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estende para além da autenticidade do inadequadas. A autoconsciência refere-se à
líder, abrangendo as relações autênticas compreensão de suas forças, fraquezas, e a
com seus seguidores e demais maneira como constrói o sentido de
stakeholders. Essas relações são mundo. (AVOLIO; WALUMBWA;
caracterizadas por: orientação, WEBER, 2009).
transparência, abertura e confiança; voltada
para objetivos dignos; e ênfase no 3. Gestão do conhecimento
desenvolvimento dos seguidores A importância do conhecimento
(GARDNER et al, 2004). para a economia mundial é inegável
Não obstante, a conceituação de (DRUCKER, 1993; OCDE, 1997). No
liderança autêntica, a exemplo do que entanto, o entendimento do que é
ocorre com o conceito de liderança, não é conhecimento apresenta variações na
consensual. Existem diversas definições, literatura. Uma definição clássica, proposta
mas, em geral, todos enfatizam a por Platão aponta que conhecimento é uma
importância da coerência entre as palavras, crença verdadeira e justificada. Nonaka e
ações e valores do líder (YUKL, 2008). Há Takeuchi (1997) seguem essa linha de
um consenso no que se refere a quatro pensamento e apontam o conhecimento
fatores componentes da liderança como um processo humano dinâmico de
autêntica: processamento equilibrado; justificar a crença pessoal com relação à
perspectiva moral internalizada; verdade.
transparência nas relações e Definições mais recentes afirmam
autoconhecimento. que o conhecimento pode ser entendido
O processamento equilibrado como uma combinação organizada de
refere-se à análise objetiva dos dados dados, assimilados como um conjunto de
relevantes antes de tomar uma decisão. A regras, procedimentos e operações
perspectiva moral internalizada diz aprendidos por meio da experiência e da
respeito aos padrões morais internos que prática (BHATT, 2001). É mais rico que a
guiam uma pessoa e que é usado para informação, com mais significado e é uma
autorregular seu comportamento. Já a forma das organizações produzirem
transparência relacional está ligada à riquezas (SVEIBY, 2005).
demonstração de autenticidade por meio do Percebe-se que o conhecimento
compartilhamento de informações e tornou-se o fator de produção mais
sentimentos apropriados a cada situação, importante para a nova sociedade que se
ou seja, evitando mostrar emoções consolida, a “sociedade do conhecimento”.
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Esse entendimento torna imprescindível processo contínuo dentro de
uma organização.
que o conhecimento seja gerenciado. O Quadro 1: Conceitos de gestão do conhecimento
conceito de gestão do conhecimento está Fonte: Elaborado pelos autores
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conhecimento se preocupa com a de conhecimentos, a delegação de
facilitação de processos pelos quais o responsabilidades e competências intra e
conhecimento é criado, compartilhado e interorganizacionais. Em suma, exerce
usado nas organizações. influência em toda a dinâmica rede da
Uma abordagem popular e muito aprendizagem, bem como no
utilizada é pensar na gestão do compartilhamento do conhecimento
conhecimento em termos de três organizacional (BARTLETT: GHOSHAL,
componentes, quais sejam: pessoas, 2002). É importante que a alta
processos e tecnologia. Em relação às administração estabeleça os pré-requisitos
pessoas, a cultura voltada para a gestão do para a gestão do conhecimento pautada nas
conhecimento é o mais importante e o macrovisões organizacionais (NONAKA;
maior desafio. Deve estar voltada para o TAKEUCHI, 1997). A partir deste prisma,
aprendizado contínuo, de forma a motivar tem-se que a liderança enquanto processo
e recompensar as pessoas por criar, deve servir como fonte de inspiração e
compartilhar e usar o conhecimento. Já os motivação, propondo e aprovando novas
processos, devem acompanhar a cultura da ideias, valorizando as diferenças
organização, pois caso a mesma promova o individuais (HERRERA, 2008). Com uma
compartilhamento do conhecimento, comunicação eficaz, explicando os
mudanças nos processos internos e até na objetivos da gestão do conhecimento e os
estrutura organizacional podem ser caminhos a serem seguidos, a liderança
necessárias. A tecnologia se apresenta pode atuar como um agente de mudança e
como crucial, mas não é a solução, pois é transformação corporativa (DEBOWSKI,
de fundamental importância que a 2006 apud SING, 2008).
tecnologia usada nas organizações encaixe Compete ao líder agir como um
pessoas e processos da organização, caso verdadeiro “arquiteto do saber”,
contrário, ficará inutilizada (SERVIN, capacitando membros da organização por
2005). meio do desenvolvimento de uma visão
compartilhada, fornecendo recursos,
4. Liderança autêntica e a gestão do delegando autoridade e celebrando o
conhecimento sucesso (HITT, 1995 apud CRAWFORD,
Nas organizações intensivas em 2005). Neste cenário, o líder desempenha
conhecimento, a liderança precisa absorver inúmeros papéis, como o de professor,
sua responsabilidade em relação à forma mentor, guia ou facilitador no complexo e
como ocorre à cooperação, o intercâmbio dinâmico processo de compartilhamento
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do conhecimento, estabelecendo o da participação de todos (AVOLIO;
necessário alinhamento entre a realidade GARDNER, 2005). A liderança do tipo
vivida e a visão de mundo estabelecida, a autêntica é capaz de refletir, criticar e
qual deve ser compartilhada por todos questionar continuamente a maneira como
(SENGE,1997). Tais desafios requerem a organização atua e pensa, e assim, pode
que os novos líderes atuem e exerçam se comprometer com a inovação dos
influência em áreas específicas tais como: produtos, processo e serviços a partir do
maximização da recepção de mensagens, intercâmbio e uso produtivo do
criação e compartilhamento de conhecimento gerado na organização.
conhecimento, promovendo a A liderança autêntica na gestão do
autoconsciência e autodesenvolvimento, conhecimento pode atuar como um
elevando a autoconfiança e, permitindo a facilitador e promotor de processos e
navegação por meio de um ambiente em relações, num cenário coletivo e incerto, o
constante transformação (WALDERSEE, que pressupõe um empoderamento dos
1997 apud CRAWFORD 2005). membros do grupo. Isso caracteriza um
A liderança autêntica pode estilo de liderança participativa e a
contribuir na formulação, implementação e autogestão alinhada com as novas
sustentação da gestão do conhecimento nas demandas dos profissionais, organizações e
organizações, à medida que influência as de uma sociedade baseada em
pessoas, na promoção de relações conhecimento (FREITAS, 2000). Essas
transparentes e autênticas auferindo características da liderança autêntica
simultaneamente consistência e precisão às podem colaborar com o compartilhamento
iniciativas de gestão do conhecimento. Por de conhecimento, experiências e
meio do processo de liderança é possível informações.
não só dar o exemplo (compartilhar O nível de compartilhamento está
conhecimentos), mas acima de tudo diretamente relacionado com o grau de
auxiliar na construção de compromissos confiança, reconhecimento da organização
mútuos (SING, 2008; HERRERA, 2008), e satisfação de seus atores (SENGE, 1997).
para que a gestão do conhecimento seja A satisfação pessoal deriva da conquista
algo perene, permeando todos os níveis da organizacional, admiração e
organização (SING, 2008). reconhecimento (FREITAS, 2000). Neste
Neste contexto, acredita-se que o contexto, os líderes do conhecimento tem a
exercício da liderança nas organizações do importante função compreender as pessoas,
conhecimento prescinde da autenticidade e os processos e os sistemas que compõem a
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organização, bem como seus princípios de são teóricos e buscam construir modelos de
negócio (DEBOWSKI, 2006 apud SING, liderança autêntica. Focam nos fatores que
2008). O líder precisa reconhecer, orientar compõem tal teoria, nos componentes de
e motivar para que todos compartilhem o seu desenvolvimento, bem como a
conhecimento para que os objetivos e relacionam com outros fatores em busca de
expectativas sejam alcançadas, tanto no efetividade no alcance dos objetivos
âmbito individual quanto organizacional. organizacionais.
Assim, a satisfação e a confiança Dentre os estudos sobre a teoria da
realimenta o ciclo da gestão do liderança autêntica, alguns pontos
conhecimento com sucesso (BRYANT, merecem destaque: a liderança autêntica
2003 apud CRAWFORD 2005). tem um forte caráter ético/moral; a
autenticidade é um fator fundamental no
5. Considerações finais contexto da liderança autêntica; líderes
A teoria da liderança autêntica autênticos têm autoconhecimento; líderes
começou a ser desenvolvida recentemente. autênticos agem de acordo com o seu eu
Surgiu da necessidade percebida na verdadeiro, alinhando suas ações e
sociedade e, principalmente, nas comportamento aos seus valores; líderes
organizações, de líderes que sejam autênticos desenvolvem relações
conduzidos por fortes valores éticos e transparentes; líderes autênticos fomentam
morais. Está amparada nos pressupostos da o desenvolvimento de seus seguidores; o
autenticidade, ou seja, além do desenvolvimento de seguidores autênticos
componente ético/moral, o líder autêntico é inerente ao processo de liderança
tem consciência dos pontos fortes e fracos, autêntica.
emoções e valores, processa informações As características da liderança
de forma imparcial, age de acordo com seu autêntica podem contribuir com a
eu verdadeiro, e desenvolve relações construção de uma cultura organizacional
autênticas. baseada em valores éticos/morais, um
Observa-se que a liderança clima organizacional positivo e um
autêntica tem muito a caminhar para que a desempenho organizacional, pautado não
teoria se consolide. Muitos estudos somente em fatores financeiros, mas
envolvendo a temática são desenvolvidos também em humanos e sociais. Diante
em países como Estados Unidos da desse cenário, a liderança autêntica pode
América e Inglaterra, ao contrário do que contribuir com a gestão do conhecimento.
acontece no Brasil. Em geral, esses estudos Visto que a ética e autenticidade nas
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relações podem favorecer a criação e Knowledge Management, 5 (1), 68-75,
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