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Recreação e exercício físico para a Terceira Idade

Luís Fernando Ferreira

Resumo: Este trabalho é o sumo de uma pesquisa realizada entre os anos de 2007 e 2010,
em Quintão, onde se tenta mostrar, através dos resultados obtidos, que o exercício físico
abordado não só de uma forma recreativa, mas utilizando essa técnica, pode ser benéfico para
uma ampla melhora dos indicadores biopsicossociais do grupo em questão. Para o melhor
entendimento do trabalho, ele foi dividido em três grandes partes: (1) Conhecendo a turma,
onde o autor divide quem pode ou não ser considerado terceira idade, através de pesquisa
bibliográfica e também por meio do trabalho realizado ao longo dos dois anos; (2) Pedagogia
da recreação para a terceira idade, onde a pesquisa é conduzida para um ângulo
metodológico, isso é, tentando mostrar o que deu e o que não deu certo com os mais de
duzentos idosos que passaram pelo programa, e sugerindo atividades que se mostraram muito
eficazes ao longo do processo; (3) Aspectos biofisiológicos da terceira idade, quando, através
de pesquisa na literatura disponível e dados estatísticos do trabalho de pesquisa, foram
colocados alguns parâmetros de saúde e prevenção, assim como características do
envelhecimento em uma visão geral. Ao final da pesquisa puderam-se notar importantes
mudanças no grupo de idosos que participou do programa, tanto no âmbito físico, como no
psicológico e no social, pois ao término do processo foi possível que se fizessem importantes
considerações, reforçando aquilo que o trabalho propôs inicialmente, já que muitos dos alunos
tiveram melhoras significativas dos indicadores biofisiológicos, por vezes até abandonando o
uso de alguns medicamentos; melhoraram as relações interpessoais, já que o grupo, antes de
qualquer coisa era um grande convívio social; e por fim a autoconfiança teve mudanças rápidas
e permanentes, uma vez que eles perceberam-se úteis, estando na ginástica ou não.

Palavras Chave: Terceira idade, Recreação, Ginástica, Jogos Cooperativos.

Resumén: Este documento es resultado de una encuesta celebrada entre los años de 2007 y
2010 en Quintao, donde se pretende demostrar con estos resultados, que se trataba no sólo de
ejercicio físico de manera recreativa, pero gracias a esta técnica puede ser beneficioso de
indicadores amplios biopsicosocial de mejoría en el grupo. Para una mejor comprensión de la
obra, se divide en tres partes principales: (1) Conocer la clase, donde el autor divide a quienes
pueden o no pueden ser considerados personas mayores, a través de la literatura y también a
través del trabajo llevado a cabo más de dos años, (2) Pedagogía de la recreación para las
personas mayores, donde la investigación se lleva a cabo a un ángulo metodológico, es decir,
tratando de mostrar lo que funcionó y lo que no trabajamos con más de trescientas personas
de edad avanzada que han pasado por el programa, y actividades sugeridas que resultó ser
muy efectiva en todo el proceso, (3) los aspectos bio-fisiológicos de las personas mayores,
cuando, mediante la búsqueda en la literatura y las estadísticas disponibles de la investigación
fueron colocados en algunos parámetros de la salud y prevención, así como las características
del envejecimiento una visión general. Al final del estudio se pudo observar grandes cambios
en el grupo de los adultos mayores que participaron en el programa, tanto en lo físico, como en
el psicológico y social, porque al final del proceso fue posible que si se tratara de
consideraciones importantes, lo que refuerza lo que el trabajo propuesto inicialmente, ya que
muchos de los estudiantes tuvieron una mejoría significativa de los indicadores bio-fisiológicos,
a veces incluso el abandono del uso de algunos medicamentos, mejorar las relaciones
interpersonales, como el grupo, antes que nada fue una gran vida social, y finalmente tuvo la
confianza rápida y permanente, una vez que se dieron cuenta de su utilidad, siendo en el
gimnasio o no.

Palabras clave: Personas mayores, Recreación, Gimnasia, Juegos Cooperativos.

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Introdução e considerações iniciais

Todas as informações deste trabalho foram coletadas entre abril de 2007 e


outubro de 2010, durante as aulas de ginástica para a terceira idade da
Academia Popular e as aulas de recreação do projeto Dia Da Atividade, em
Quintão. Mais de 300 idosos passaram pelas atividades.

Os resultados coletados, sejam metodológicos, físicos, psicológicos ou sociais


encontram-se espalhados ao longo deste artigo sob uma forma resumida, com
uma linguagem informal e de fácil entendimento.

Além disso, os assuntos disponíveis foram divididos em três grandes partes:

 Conhecendo a turma, onde eu dividi quem pode ou não ser


considerado terceira idade, através de pesquisa bibliográfica e
também por meio do trabalho realizado ao longo dos dois anos;
 Pedagogia da recreação para a terceira idade, onde a pesquisa
é conduzida para um ângulo metodológico, isso é, tentando
mostrar o que deu ou não certo com os mais de trezentos idosos
que passaram pelo programa, e sugerindo atividades que se
mostraram muito eficazes ao longo do processo;
 Aspectos biofisiológicos da terceira idade, quando, através de
pesquisa na literatura disponível e dados estatísticos do trabalho
de pesquisa, foram colocados alguns parâmetros de saúde e
prevenção, assim como características do envelhecimento em
uma visão geral.

O objetivo dessa pesquisa foi mostrar que o exercício físico, quando realizado
de uma forma lúdica pode ser assimilado de uma forma mais facilitada por esse
grupo tão especial, mas que ainda hoje oferece muita resistência à prática do
exercício físico, por infinitos motivos, sendo um deles, e muito incidente, por
culpa de nós, professores. Normalmente um idoso que procura uma academia
procura não só o exercício físico por uma questão de saúde. Ele também quer

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atenção, quer convívio social, quer carinho, o que não é oferecido muitas vezes
pelos professores.

Sendo melhor assimilado, o trabalho rende frutos muito mais rapidamente que
o esperado. Só compete a nós, enquanto educadores, modificar essa
realidade.

Por que Trabalhar com Terceira Idade?

A “terceira idade”, ou “melhor idade”, ou “idosos” (Lorda, 1995), como se


queira, é o grupo de pessoas que mais cresce atualmente no Brasil, mas que
segue sendo inexplorado, senão inexplorado, maltratado por nós, educadores
físicos. Este grupo exige um tratamento especial, que não se encontra em
qualquer outro grupo de pessoas. Hoje em dia nós temos acesso a muito
material impresso e virtual sobre o tema, mas não há interesse. Veja um bom
exemplo por mim: através de um boca-boca rápido constatei que, dos
cinquenta colegas que ingressaram no curso comigo, somente três trabalham
com terceira idade. Isso é 6% dos alunos trabalha com uma população que
cresce 8% ao ano. A balança pesa contra nós. Veja os dados do IBGE (2002)
para o crescimento estimado da terceira idade até 2020. Note que no primeiro
gráfico (em azul) é mostrado o crescimento em números de pessoas para as
idades de 15 a 29 anos e de 60 a 69 anos, este último o nosso foco. Enquanto
a população de 15 a 29 anos deve pular de 48 milhões a pouco menos de 50
milhões em dezessete anos, o público da terceira idade terá um salto de 7,5
milhões a mais de 15 milhões no mesmo período. Isso demonstrado em
percentual de crescimento, como no segundo gráfico (em vermelho) é ainda
mais gritante, pois quando o público jovem avança 3%, a terceira idade avança
100%. Isso é, para cada pessoa que entra na puberdade, 33 passam a ser
considerados terceira idade.

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50.000.000

40.000.000

30.000.000
15 a 29 Anos
20.000.000 60 a 69 anos
10.000.000

0
2003 2020

100

80

60
15 a 29 Anos
40 60 a 69 Anos

20

0
2020

Conhecendo a Turma

Para começar este trabalho de pesquisa, primeiro fiz um levantamento


bibliográfico para saber o que é terceira idade, ou quem pode fazer parte desse
grupo, cheguei a seguinte informação:

Terceira Idade são aqueles com idade igual ou superior a 65 anos, segundo a
legislação brasileira, pois já tem idade para sair do mercado de trabalho, isso é,
aposentar-se.

Além disso, após algum tempo de trabalho e alguns testes bem sucedidos
pude notar o seguinte:

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Também podem se encaixar indivíduos adultos com mais de 45 anos que
tiveram alguma patologia que deixou sequelas, como AVC ou outras
cardiopatias, Alzheimer ou outras doenças degenerativas do SNC, patologias
que refletem no desempenho, como diabetes e hipertensão e traumas físicos.

Aspectos da Turma

É bom que se perceba três aspectos principais para o trabalho com a terceira
idade, aspectos esses que devem ser abordados à exaustão, para que índices
possam ser melhorados. São eles:

 Aspectos Sociais: Vários autores (Ramos, 1999; Lorda, 1995 e; Farias


Ramos, 1999) ressaltam que muitos deles são aposentados, viúvos e/
ou sem família, por isso a solidão toma conta de suas vidas, fazendo
com que tenham bloqueios às relações interpessoais, por isso comecei,
aos poucos, a fazer amizade com eles, para que me considerassem
parte da família. Isso é muito importante para eles, pois pode ser um
forte pilar para que eles se apóiem, evitando ou amenizando os
sintomas de depressão, que acomete grande parte desse público.

 Aspectos Psicológicos: Com esses problemas sociais eles acabam se


achando um peso para a família (caso haja uma) ou para a sociedade,
reforçando o sentimento de incapacidade e inutilidade ante aos desafios
da vida cotidiana, podendo-se assim afirmar que os aspectos
psicológicos refletem a condição social do idoso e vice-versa, segundo
Carneiro e Falcone (2004) e Carlos, Jacques, Larratéa e herédia (1999).

 Aspectos físico-motores: Diversos autores da área da fisiologia e


treinamento físico-desportivo (Guyton, 2002 e Bompa, 2002) ressaltam
que idosos já têm, naturalmente, problemas físicos por culpa da queda
bruta de hormônios, conseqüentemente a diminuição da massa
muscular e óssea, o envelhecimento dos tecidos que levam a doenças e
os maus hábitos da vida toda que acabaram transformando-se eu uma

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patologia evitável, entre outras coisas. Essas patologias que apontei
como “evitáveis” são muito comuns entre esse grupo, por isso listei
algumas que podem refletir na capacidade físico-motora do aluno:

Patologia Incidência dentre os Sintomas refletidos na capacidade


pesquisados relevantes à pesquisa

Diabetes 25% Baixa força e velocidade de reação e dores


musculares e articulares, por inchaço.

Hipertensão 60% Tonturas e náuseas.

AVC, derrame 1% Incapacidade física, dificuldades de fala e


e isquemia por vezes cognitiva.

Obesidade 54% Imobilidade, fadiga e dores musculares e


articulares.

Cardiopatias 7% Baixa resistência aeróbia.


adquiridas¹

Respiratórias 35% Baixa resistência aeróbia.


adquiridas¹

¹Quando não se tem hereditariedade, ou quando os hábitos reforçaram a hereditariedade. Adaptado de ACSM
(2003) e Ramos (1999).

A partir destes fatores listados acima, consegui coletar algumas informações


importantes, fazendo uma dualidade entre terceira idade sedentária, cujos dados
foram coletadas através de alunos iniciantes no programa, e também do trabalho de
doutorado do Professor Júlio Alejandro Jélvez, do qual fui pesquisador, e terceira
idade ativa, com dados coletados na própria pesquisa aqui apresentada.

3ª Idade Sedentária 3ª Idade Ativa


Envelhecimento acelerado. Redução nos sintomas do
envelhecimento.

Respiração pesada. Respiração saudável.

Stress. Reduz a ansiedade e tensão.

Depressão. Melhora significativa no quadro de


depressão.

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Pouca ou nenhuma mobilidade Ampliação da mobilidade.
motora.

Fadiga. Bem estar físico.

Má-vontade, indisposição. Disposição física ampla.

Fraqueza para eventos cotidianos. Força. Eventos cotidianos passam a se


tornar mais fáceis.

Falta de consciência corporal. Domínio corporal.

Auto piedade. Auto confiança.

Ações e reações negativas. Ações e reações positivas.

Alterações sociais. Vida social ativa.

Opacidade. Desânimo. Vitalidade.

Um peso para a família. Evitar ser um peso para a família.

Sem vontade de viver. Cada dia a mais Vontade de viver, é um


de vida é “lucro”, segundo eles
mesmos. vencedor!
Adaptado de Farias Junior, 1999.

A divisão do que é ou não terceira idade, que descrevi anteriormente, no


princípio deste capítulo, foi feita por que, através de estudos realizados em sala
de aula no curso de graduação, eu pude ter uma importante informação em
mãos: adultos jovens (em sua maioria) não se adaptam a jogos recreativos,
principalmente se estes forem cooperativos, já idosos, assim como crianças,
adaptam-se muito bem a esse tipo de atividade, pois tem uma mente mais
aberta e livre de pudores existentes na puberdade e adultês. Claro que não
podemos subestimar o idoso, colocando brincadeiras exclusivamente infantis
nas aulas, mas vale fazer uma adaptação à realidade deles e utilizar os
mesmos artifícios pedagógicos que com turmas infantis. Mais tarde, no terceiro
capítulo (pedagogia da recreação na terceira idade) abordaremos mais a fundo
esse assunto. Todas as informações que serão dadas foram recolhidas através
de acertos e erros ao longo do trabalho.

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Pedagogia da Recreação na Terceira Idade

Aqui abordo importantes questões para nós, enquanto educadores físicos e


educadores em um âmbito geral. São sugestões de trabalho, montagem de grupo e
plano de aula e comportamento, a partir de atividades e/ou atitudes que foram bem
aceitas pelo grupo. Aquelas que não foram satisfatórias para o caminho do projeto,
optei por deixar de fora do trabalho.

Como me portar enquanto Professor?

Ao longo do projeto coletei importantes informações de como deve ser o


comportamento do professor de ginástica e/ou recreação para a terceira idade. Claro
que essa não é a verdade absoluta, até por que ela não existe, mas é válido saber
algumas coisas básicas quando vou começar um trabalho com esse grupo. Demonstro
essas sugestões em formato de lista com suas respectivas explicações abaixo:

 Sempre sorrir. O tempo todo; O professor, mais do que um educador


ou um “facilitador” está ali como animador da turma. Não há aula se o
professor estiver com uma tristeza profunda estampada no rosto. Isso irá
se refletir nos alunos e a aula vai acabar ficando maçante e chata,
perdendo assim um de seus principais apelos: “A aula de recreação é
divertida”.

 Não ficar desanimado nunca, por pior que esteja sendo a sua aula;
Uma aula divertida é aquela onde, além do professor estar feliz, a turma
também está. Isso cansa, é muito desgastante, pois o professor, ao
menor sinal de desânimo do aluno deve incentivá-lo a continuar, dizendo
palavras de apoio e as vezes até algumas engraçadas.
 “Vamos lá, se mexa. Está com raízes nos pés?...”
 “quer que eu coloque uma musiquinha de ninar?...”

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 Mas infelizmente nem sempre a aula é boa. Mesmo assim não
desanime, continue sorrindo e animando como se essa fosse a melhor
aula da sua vida, mesmo que seja o contrário.

 Chamar a si mesmo de “Professor”, e não apenas pelo nome;


Lembre-se que, mesmo que os alunos sejam mais velhos, você é o
professor, isso irá impor uma relação de respeito mútuo, fazendo com
que eles confiem naquilo que você, professor, está dizendo. O trabalho
com a terceira idade passa em grande parte pela confiança. Sem uma
relação professor-aluno não há confiança.

 Nunca excluir ninguém por incapacidade física; A confiança passa


também pela sua capacidade de resolver problemas. Um grande
problema é propor uma atividade que um ou mais alunos não poderia
executar por incapacidade física. Não os exclua, pois isso demonstrará
uma incapacidade pedagógica sua. Refaça as regras ou atribua outras
funções a essas pessoas, por isso sempre é bom se ter uma atividade
“coringa”, para utilizar numa hora difícil.

 Sempre ter uma carta na manga; Tudo pode dar errado. Tenha isso
em mente. Tudo pode dar muito certo, mas também pode ir por água
abaixo em um piscar de olhos. Tenha uma saída preparada. Faça seu
plano de aula normalmente, mas coloque duas ou três atividades extras
para serem utilizadas no momento em que algo der errado.

 Mantenha contato visual sempre. Físico só se você não constatar


nenhuma hostilidade; Idosos gostam muito daquele que lhes olham
nos olhos. Isso demonstra autoconfiança e honestidade. Sempre olhe
nos olhos do aluno. Nunca dê instruções aos pés ou aos joelhos deles,
pois assim você pode estar perdendo a confiança deles, ou nunca
chegar a tê-la. O contato físico ainda é um tabu, principalmente para
idosos que foram criados no interior e que casaram cedo. Somente
toque ou abrace aquele aluno caso note um terreno amigável nas

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pequenas coisas, por exemplo, se ele dá a mão sem problemas nas
atividades ou abraça colegas para dar oi ou tchau. Não saia abraçando
seu aluno enlouquecidamente já no primeiro encontro. Vá devagar.
Respeite.

 Respeitar para ser respeitado. Só obterá o respeito deles se oferecer o


mesmo. Não seja hostil ou ríspido, seja atencioso sem ser chato, ou seja
chato sem ser abusado, não os subestime ou os “poupe”. Respeito e
confiança são as palavras chave para trabalhar com terceira idade.

O Que Fazer?

Os idosos que procuram este tipo de atividade, em geral, vão por vontade
própria e têm a mente aberta a brincadeiras e atividades que estimulem o
imaginário, por isso vale propô-los atividades assim como para crianças
pequenas, sem subestimá-los. Também é bom que estimulemos potenciais que
estão adormecidos ou debilitados nos idosos, como força, equilíbrio, velocidade
de reação e agilidade. Dou sugestões de trabalho que funcionaram comigo no
andamento das aulas, dentro dos conhecimentos da recreação. Como para
qualquer outro tipo de grupo, para a terceira idade também não existe uma
“Receita de bolo” para montar as aulas, mas é válido dar uma lida no que
segue.

 Jogos Cooperativos; Uma idéia muito válida é trabalhar jogos


cooperativos, pois nessa fase da vida as pessoas não costumam
prezar muito a vitória, caso seja necessário derrotar o outro para
se chegar a isso. Eles gostam muito do sentimento de “trabalho
em equipe”. Uma questão que pra nós hoje é fundamental daqui a
alguns anos não será mais: “VENCER”. Em uma certa idade a
vitória não é mais importante. Todos os idosos têm consciência
de que já adquiriram tudo aquilo que era possível. Por isso
cooperação é uma boa pedida. Eles trabalham muito melhor, uns
sendo incentivados pelos outros e sabendo que nenhuma falha
sua pode significar grande perda.

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 Jogos Simbólicos; Sempre tente colocar um sentido nas
atividades. Em vez de “pular o step”, porquê não “pular a poça
d’água”? Faça com que eles entendam situações cotidianas nas
tarefas; Ou então invente histórias para que a turma entenda
aquilo como uma fantasia. Também dá muito certo.
 Jogos Populares; Ou Jogos Folclóricos. têm caráter tradicional,
não são regulamentados e o espaço de jogo depende da
disponibilidade. Na maioria são jogos que recuperam algo
esquecido ou perdido na infância. Como exemplos recreativos
temos rodas cantadas, amarelinha, peteca, queimado e
brincadeiras com bola e danças. Faça uma pesquisa com sua
turma e pergunte do que eles brincavam ou gostariam de ter
brincado na infância, depois pesquise e aprenda para utilizar nas
aulasl.
 Contestes; “Eu quero ver quem consegue...”. Mesmo não ligando
muito pra vitória os idosos ainda estão muito preocupados com
sua capacidade. Leva tempo para aceitar que seu corpo já não é
mais aquilo que foi há 30 anos atrás. Claro que não podemos
propor atividades de adolescentes, mas podemos dar a entender
que é. Propondo uma atividade e antes de pedir que executem,
diga que é muito difícil mesmo pra você. Com certeza eles iriam
conseguir executá-la de qualquer jeito, mas assim o sentimento
de capacidade é muito estimulado, e só tende a melhorar.
 Materiais alternativos; Com o discurso politicamente correto que
há hoje em dia sobre reciclagem, também é legal que
trabalhemos isso com nossa turma de terceira idade. Materiais
como jornal e papelão são ótimos para brincadeiras de
motricidade ampla. Já a sucata em geral é boa para trabalhar a
motricidade fina, como a montagem de equipamentos para as
aulas ou até mesmo o artesanato, que não deixa de ser uma
forma de recrear, e que os idosos gostam muito.
 Aulas temáticas. Posso utilizar e muito alguma data festiva para
ser o tema da minha aula, como por exemplo as festas juninas,

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semana farroupilha, carnaval, entre outras datas. Contextualize
sua aula com o que está acontecendo, fazendo assim com que
ela se torne mais interessante.

Biofisiologia da Terceira Idade

Muito importante, talvez, mais do que a própria metodologia de ensino, é


conhecer como funciona o organismo de um idoso, saber que a grande maioria
tem patologias sérias que refletem na capacidade e nos indicadores vitais, e
que todos têm sua capacidade de produção de força e sustentação diminuídas
por uma consequência natural do tempo. Saiba como funciona e como prevenir
acidentes. Aqui dou uma rápida passada pelos aspectos biofisiológicos deste
grupo e trago sugestões de cuidados e prevenção que colhi durante o
andamento do projeto.

Envelhecimento

Adiante veremos algumas conseqüências inevitáveis do envelhecimento


através de dados coletados nas obras de Bompa (2002), Guyton (2002), ACSM
(2003) e Ramos (1999):

A potência muscular aos 75 anos é 50-75% menor que aos 20 anos. Este fato
reduz seriamente a capacidade de reação à quedas. Aos 80 anos a massa
muscular foi reduzida pela metade em destreinados. Conseqüentemente
mitocôndrias e fosfagênios também desaparecem, reduzindo a capacidade de
produzir energia e gastar calorias em repouso. Com o exercício físico regular
há a possibilidade de redução nos sintomas da artrite, as articulações ficam
mais fortes e o inchaço e a dor diminuem. Há também uma acentuada
diminuição no risco de quedas e fraturas, por haver também melhora na
velocidade de resposta muscular (agilidade), melhor equilíbrio e caminhar mais

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seguro. Veja a tabela a seguir que mostra a perda de massa óssea e muscular
em destreinados. É bom lembrar que esta é uma visão geral, pois em mulheres
essa queda é ainda mais acentuada do que nos homens.

Idade Perda de massa óssea Perda de massa muscular

20 anos - Fase lenta de perda

35 anos 1% por década =

50 anos 1,5 a 2% por década Fase rápida de perda

65 anos 20% de perda =

80 anos 30% de perda 50% de perda em destreinados

Habilidades Motoras

Nesta faixa etária a motricidade fina já está muito debilitada, tal como a força
muscular e muitas vezes também o equilíbrio e a velocidade de reação, estes
últimos dois menos comuns que os primeiros, mas ainda assim bastante
incidentes. Proponha atividades que venham de encontro com a dificuldade
deles, mas em doses homeopáticas. Comece com atividades moderadas na
primeira aula e vá estimulando essas habilidades ao longo do tempo. Caso seja
uma aula esporádica, esqueça essa dica. Esse é um trabalho que leva tempo
para que apareçam os resultados.

Saúde e Indicadores Vitais

Quando vou trabalhar com a terceira idade é bom que eu tome alguns cuidados
e adote medidas de precaução. O ideal é que se faça uma anamnese e uma

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avaliação física, além de analisar exames clínicos, coletar bulas e tudo o mais
que possa dizer respeito à saúde do meu aluno idoso. Mas, caso você não
tenha tempo disso, saiba de algumas coisas:

Terá pelo menos um aluno cardiopata e/ou diabético, por isso


pegue leve nas atividades aeróbicas;

A maioria terá artropatias e osteopatias, por isso não faça


muitos exercícios com impacto;

Pelo menos uma pessoa terá labirintite. Já pergunte antes do


alongamento quem sofre disto, pois o aluno poderá sofrer uma queda em uma
atividade simples. Sabendo quem sofre de labirintite, faça com que este(s) não
execute(m) muitas viradas de cabeça e mudanças bruscas de direção;

A grande maioria terá hipertensão arterial. Cuidado com jogos


recreativos que submetem os alunos a uma pressão muscular prolongada;

Uma medida que se pode adotar sem muita dificuldade é medir


a frequência cardíaca da turma antes, depois e, se possível, durante a aula,
pedindo que cada um conte seus batimentos no punho ou na artéria aorta (lado
esquerdo do pescoço) por 15 ou 30 segundos, depois multiplique. Para se ter
uma base do que é seguro faça a conta 220-idade. Se o batimento do aluno
estiver ultrapassando este nível é bom tomar cuidado, principalmente se for um
hipertenso e/ou cardiopata.

Considerações Finais

Todas as informações descritas no artigo foram coletadas na prática durante a


pesquisa, em livros e sites confiáveis, na pesquisa de doutorado do Professor
Júlio Alejandro Jélvez e em conversas minhas com meus professores da
graduação. É bom ressaltar alguns acontecimentos importantes da turma
durante o processo:

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Alguns alunos abandonaram o uso de medicamentos diuréticos,
antidepressivos e para insônia;

Muitos diminuíram a dose de medicamentos, assim como obtiveram


uma melhora significativa em seus indicadores vitais;

Todos que levaram a sério o programa tiveram significativa melhora


na força física, estabilização e equilíbrio e resistência aeróbica;

As relações interpessoais melhoraram, fazendo com que eles


tornassem-se pessoas mais felizes...

E dois novos casais formaram-se durante as aulas!

EM DEZEMBRO DE 2009 ALCIDES E THEREZINHA E JOSÉ CARLOS CONHECERAM-


IVONE RETOMARAM UM ANTIGO SE DURANTE AS AULAS, EM 2009.
NAMORO

Referências:

AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM) - Diretrizes do


ACSM para os testes de esforço e sua prescrição – 6ª Edição. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2003.

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de janeiro: Editora Sprint, 1998.

BOMPA, T. O . Periodização. Teoria e Metodologia do Treinamento. São


Paulo: Phorte editora, 2002.

197
BROTTO, Fabio Otuzzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um
exercício de convivência. São Paulo: Projeto Cooperação, 2001.

FARIAS JUNIOR, Alfredo Gomes. Ginástica, dança e desporto para a


terceira idade. Brasília: SESI / DN: INDESP, 1999.

GUYTON, Arthur C. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Guanabara


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HEYWARD, V. H. – Avaliação Física e Prescrição de Exercício – Técnicas


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LORDA, Raúl C. Recreação na terceira idade. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

RAMOS, A. T. – Atividade Física – Diabéticos, gestantes, 3ª Idade, Criança


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SOLER, Reinaldo. Brincando e aprendendo na Educação Física especial:


planos de aula. Rio de Janeiro: Sprint, 2002.

198

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