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Desistir da vida pode levar à morte, afirma estudo

Pela primeira vez foram descritos os marcadores clínicos que levam à morte psicogênica, como
é chamada. Aprenda a reconhecer os seus cinco estágios

4 min de leitura

 REDAÇÃO GALILEU

29 SET 2018 - 12H28 ATUALIZADO EM 16 SET 2019 - 14H39

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(Foto: Creative Commons / Claudia24)

Se nas prisões o cigarro é valioso, nos campos de concentração nazistas durante a Segunda
Guerra eram questão de vida ou morte. Eles podiam ser trocados por coisas importantes,
como a comida, e acender um indicava que o fim estava próximo.

"Quando um prisioneiro pega um cigarro e acende, seus companheiros de acampamento


sabem que a pessoa realmente desistiu, perdeu a fé em sua habilidade para continuar e logo
estaria morto.”

Quem conta é o pesquisador sênior da Universidade de Portsmouth, dr. John Leach, que acaba
de publicar um estudo que, pela primeira vez, descreve os marcadores clínicos de quem vai a
óbito simplesmente por desistir, conhecido como morte psicogênica.

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“Não é suicídio, não está ligada à depressão, mas o ato de desistir da vida e morrer
normalmente em poucos dias é uma condição muito real, muitas vezes ligada a traumas
graves", afirmou.

Ele sugere que a desistência pode se originar por uma mudança em um circuito frontal-
subcortical do cérebro, mais precisamente o cingulado anterior, responsável pela motivação e
por dar início a comportamentos direcionados por objetivos.

”O trauma grave pode desencadear o mau funcionamento do circuito cingulado de algumas


pessoas. A motivação é essencial para lidar com a vida e, se isso falhar, a apatia é quase
inevitável", disse Leach.

A condição, porém, não é definitiva. O processo de desistência é dividido em cinco estágios, e


com diferentes intervenções em cada um deles é possível revertê-lo. "Reverter o declínio em
direção à morte tende a acontecer quando um sobrevivente encontra ou recupera um senso
de escolha, de ter algum controle”, revelou. “Tende a ser acompanhado por essa pessoa
lambendo suas feridas e renovando o interesse pela vida."

O dr. John Leach listou os cinco estágios da renúncia. Aprenda a reconhecê-los:

1. Retirada social - geralmente após um trauma psicológico

As pessoas nesta fase podem mostrar uma retirada acentuada, falta de emoção, indiferença e
se tornam auto-absorvidas. Prisioneiros de guerra têm sido freqüentemente descritos neste
estado inicial, tendo se retirado da vida, vegetando ou tornando-se passivos.
Pode ser uma maneira de lidar, de se afastar de qualquer envolvimento emocional externo
para permitir um realinhamento interno da estabilidade emocional, por exemplo, mas se não
for controlada, pode progredir.

2. Apatia - uma "morte" emocional ou simbólica

É uma melancolia desmoralizante, diferente da raiva, da tristeza ou da frustração. Também foi


descrito como alguém que não está mais se esforçando para se preservar. As pessoas nesta
fase são muitas vezes desgrenhadas, o instinto de limpeza desapareceu.

3. Aboulia - uma grave falta de motivação associada a uma resposta emocional abafada, falta
de iniciativa e incapacidade de tomar decisões

É improvável que as pessoas nesta fase falem, frequentemente desistam de lavar ou comer e
se afastem mais e mais profundamente em si mesmas. Nesse estágio, a pessoa perdeu a
motivação intrínseca - a habilidade ou o desejo de começar a agir para se ajudar -, mas ela
ainda pode ser motivada pelos outros, através de educação persuasiva, raciocínio,
antagonismo e até mesmo agressão física.

Uma vez que os motivadores externos são removidos, a pessoa retorna à inércia. As pessoas
que se recuperaram descrevem-na como tendo uma mente como mingau ou sem ter qualquer
tipo de pensamento.

4. Acinesia psíquica - mais uma queda na motivação

A pessoa está consciente, mas em estado de profunda apatia e inconsciente ou até mesmo
insensível a dores extremas. A falta de resposta à dor é descrita em um estudo de caso em que
uma jovem, diagnosticada posteriormente com acinesia psíquica, sofreu queimaduras de
segundo grau ao visitar a praia, porque não se afastou do calor do sol.
5. Morte psicogênica - estágio final como a desintegração de uma pessoa

É quando alguém desiste. O progresso do estágio quatro até o cinco, a morte psicogênica,
geralmente leva de três a quatro dias e pouco antes da morte, muitas vezes há um falso
amanhecer - um lampejo de vida, por exemplo , quando alguém repentinamente goza de um
cigarro.

Parece brevemente que o estágio de 'mente vazia' passou e foi substituído pelo que poderia
ser descrito como comportamento direcionado por objetivos. Mas o paradoxo é que,
enquanto um lampejo de comportamento dirigido por metas geralmente acontece, o objetivo
em si parece ter se tornado um abandono da vida.

Se você precisa ou sabe de alguém que precisa de ajuda, procure:


Centro de Valorização da Vida
Telefones: 188 e 141
www.cvv.org.br

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