Você está na página 1de 3

1 Soluções polinomiais

Às vezes pode ser interessante obter uma solução polinomial para uma equação
diferencial, como quando queremos resolver a equação de Schrödinger e devemos
ter a função de onda normalizável. Assim, quando encontramos os coeficientes
da série de Frobenius usando a relação de recorrência, pode ser que um número
finito de coeficientes sejam não nulos e os demais são todos nulos. A ideia básica
está no livro-texto e lá tem o exemplo que vou fazer aqui, mas já vou logo usar
o truque do final da seção do livro-texto, como vou explicar abaixo, que consiste
em já impor que, para algum N, a potência em z N tenha um coeficiente nulo.

1.1 Exemplo
Vamos resolver a equação diferencial

y 00 − 2zy 0 + λy = 0,

onde queremos encontrar os valores do parâmetro λ para os quais a solução seja


polinomial. Usamos uma série de Frobenius como antes,

X
y (z, σ) = an (σ) z n+σ .
n=0

Mas note que aqui temos

p (z) = −2z

q (z) = λ.

Assim, z = 0 é um ponto regular, sem singularidade lá. Portanto, vamos usar


σ = 0 e substituir

X
y (z) = an z n
n=0

na equação diferencial acima. Fazendo as derivadas, obtemos:



X ∞
X ∞
X
an n (n − 1) z n−2 − 2z an nz n−1 + λ an z n = 0,
n=0 n=0 n=0

isto é,

X ∞
X ∞
X
an n (n − 1) z n−2 − 2 an nz n + λ an z n = 0,
n=2 n=0 n=0

1
ou seja,

X
[an+2 (n + 2) (n + 1) − 2an n + λan ] z n = 0.
n=0

Portanto, a relação de recorrência fica:

an+2 (n + 2) (n + 1) − 2an n + λan = 0.

Finalmente, supondo que exista um número inteiro positivo, N, a partir do qual


não há mais termos na série, propomos o seguinte:

aN +2 (N + 2) (N + 1) − 2aN N + λaN = 0.

Assim, como por hipótese queremos que aN seja o último coeficiente não nulo,
colocamos aN +2 = 0 nesta equação e concluímos que

λaN = 2aN N

e, portanto, como aN 6= 0, por hipótese, teremos uma solução polinomial se


escolhermos o parâmetro λ como um número par, isto é,

λ = 2N.

Como o exemplo do livro-texto, escolhendo N = 2 obtemos λ = 4 e a relação


de recorrência acima fica:

an+2 (n + 2) (n + 1) − 2an n + 4an = 0,

ou seja,

(n − 2)
an+2 = 2 an .
(n + 2) (n + 1)

Veja que aqui temos duas possíveis soluções, pois o ponto z = 0 é regular. Os
coeficintes pares e ímpares são independentes e, portanto, podemos ter uma
solução só com potências pares de z e outra com potências ímpares. Mas, para
que a solução realmente seja polinomial não podemos escolher a solução com
potências ímpares. Então, escolhendo a0 = 1 e a1 = 0, obtemos:
4
a2 = − a0
2
= −2.

Logo, para esta escolha, temos a solução polinomial:

y = 1 − 2z 2 .

2
Já se escolhermos a0 = 0 e a1 = 1, a solução não vai ser polinomial, pois aí
teremos:
1
a3 = −2 a1
3.2
2
= − a1 ,
3!

1
a5 = 2
a3
5.4
22
= − a1 ,
5!

3
a7 = a5 2
7.6
23
= −3 a1 ,
7!

24
a9 = −5.3 a1 ,
9!

7
a11 = 2a9
11.10
25
= −7.5.3 a1 ,
11!
etc. Assim, apenas uma das soluções tem um número finito de termos para esta
equação diferencial. Soluções polinomiais são muito importantes no contexto de
mecânica quântica e é por isso que várias destas soluções serão abordadas neste
curso.

Você também pode gostar