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A revolta da Guilhermina

Capítulo 1

Não era habitual que ele ficasse até as últimas horas do dia naquela residência, pois
sempre que desabassem os primeiros retalhos de sombra da tarde, já se encontrava
com os pés calcados nas ruelas do bairro Khongolote em direcção à sua casa em
Albazine, mas naquela noite de sexta-feira 13, em Julho de 2016, Mauro extrapolou a
hora de tanto limpar as lágrimas que choviam torrencialmente dos olhos da
Guilhermina.

— E dizem que foi vítima de bala perdida. Perdida!

— Perdida fiquei ao ver o corpo do meu esposo perfurado de balas e avermelhado de


sangue naquele chão da estrada nacional número um.

— Enquanto a minha voz perdia-se numa aflição berrante por um socorro, uma
multidão ajuntava-se ao corpo e, naturalmente arrancava fotos em diferentes e
inusitadas posições, sequer alguém se prontificou em prestar primeiros socorros. —
Sociedade insana! - Comoveu-se a Guilhermina ao contar sobre a morte do seu
marido.

— Patroa, imagino o quanto a senhora amava o patrão e, quero crer que foi uma das
mais doidas perdas na sua vida. – Comentou Mauro abraçando a sua Senhora.

Guilhermina levantou-se lentamente, limpou as lágrimas que escorriam dos seus olhos
e expôs:
— Tu não imaginas como salpiquei a minha blusa de tanto purificar as minhas
lágrimas.

Experimentei uma morte dobrada do meu marido; uma ocasionada distraidamente


por um cinzentinho, que usou balas de verdade para dominar aquela confusão de
pessoas que reivindicavam a subida de preço de chapa, e outra morte, foi um tiro de
ignorância dado por um bando de insensíveis que em vez de ajudar, transformaram
aquele triste cenário, num festival de fotos para partilharem nas redes sociais.

Mauro segurou levemente as mãos da Guilhermina, olhou naquela mulher azarada de


tristeza e tranquilizou-a mais uma vez, dizendo:

— Não chore por um homem que já se foi, Senhora!

Todo mundo sabe que é árduo coabitar com o fantasma da injustiça e o drama de viver
sem aquele que ontem, era um amor para eternidade, todavia, ainda pode ser feliz
com outro homem.

Ela levantou-se da cadeira e furiosamente refutou as palavras do Mauro:

— Que homem? Erro seu pensar que ainda existe uma chance para mim!

— Já tenho trinta e sete rugas de idade e custa-me aceitar que alguém se apaixone por
uma viúva de olhos desnutridos, cabelos feito uma palha-d’aço, traseiros cansados e
levados pelo tempo, lábios rachados que não sabem mais o conceito de beijo e com
uma pele amarrotada e desprovida de juventude.

— Patroa, vezes sem conta ignoramos o perfume sentimental que exala bem perto de
nós.

Provavelmente o novo amor da sua vida esteja bem perto de ti e, a senhora esteja
inibindo seu coração de provar esta fragrância de afecto?

Desenhando um sorriso incandescente em seu semblante, Mauro acrescentou!

— E para o amor? Não existe chefia, raça, distância, religião e/ou idade, apenas existe
o amor.

Guilhermina aproximou-se, segurou as mãos do Mauro e perguntou-lhe com uma voz


gritante:

— Que perto, Mauro? Tu sabes melhor do que ninguém, que quem não tem marido
aos trinta cinco anos, provavelmente se case com a solidão e morra sob o efeito do
desprazer.

Profundamente em silêncio, Mauro aproximou-se e respondeu com jaz e convicção à


sua patroa:

— E se eu afirmasse que sempre fui apaixonado por ti, Guilhermina?


– Mauro ajoelhou-se à sua dona, que já se reavia com a cara toda coberta de espanto.

Se revelasse que nos meus sonhos só tem você pagando-me um salário de beijos e
carinhos; que nas refeições que para ti confecciono, deito as minhas lágrimas de amor
para temperar os nossos sentimentos;

Que depois de arrumar a sua cama, durmo despido imaginando nós dois fazendo
besteira com as nossas frutas;

Que na página da minha vida, a senhora é o meu prefácio e quero-a que faça parte
deste livro, casando-se comigo.

Boquiaberta e com os olhos acesos, Guilhermina afastou-se de Mauro e disse-lhe.

Continua...

A Revolta da Guilhermina

Capítulo 2

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Boquiaberta e com os olhos acesos, Guilhermina afastou-se do Mauro e disse-lhe:

— Sinceramente, não esperava ouvir isso de ti, pois nunca demonstraste que gostavas
tanto de mim. – Guilhermina reaproximou-se do Mauro. — Pensado bem, sabes o que
mereces com isso tudo que disseste?

Mauro todo agitado e ladeado de sorriso, afiou seus lábios e apontou aos da sua
patroa respondendo-a:

— Não sei minha coisa linda! Segreda-me que também me ama, que sente o cheiro do
meu perfume natural em sua cama e fica toda insensata de desejo por mim, diga que o
meu sorriso encantador te deixa sem chão, confessa que pensa sempre em mim e que
está louquinha para saborear as minhas gotículas salivares.

— Tu mereces uma bofetada.

- Guilhermina acendeu um tapa na face esquerda do Mauro dizendo:

—Seu estúpido e atrevido, desde quando te dei intimidades para falar assim comigo?

Quer dizer, resolvo desabafar sobre meu passado com meu criado e, este parvamente
decidi entrar até à minha calcinha?

Filho da Puta que te pariu!


Estático e com as mãos tentando arrefecer o aquecimento global criado em seu rosto
pela bofetada atirada pela Guilhermina, Mauro respondeu com uma voz baixa:

— Senhora, sempre quis dizer isso, infelizmente você nunca deixou que eu exprimisse
tudo que está dentro de mim.

Você é a patroa mais linda do mundo e igualmente perfeita aos meus olhos. Aceita
namorar comigo, por favor?

— Porcaria!! Vá exprimir essas tuas coisas em casa dos seus pais e procures alguém
que esteja no mesmo nível que tu!

– Guilhermina pegou no cabo de vassoura que estava no canto da sala e apontou ao


Mauro.

Senhor, arruma todos teus trapos que estão aqui e nunca mais coloques seus pés
sujos na minha casa.

Arah, achas que uma patroa pode casar com seu empregado?

Antes de Mauro abrir a boca mais uma vez, Guilhermina grita novamente em seus
ouvidos. — Fora da minha mansão, além de sujo também és surdo e teimoso?

— Guilhermina, não faça isso com o homem da sua vida, deixa-me ficar somente para
trabalhar. – Pediu Mauro enquanto as suas lágrimas rolavam em seu semblante. — Por
favor, dá-me mais uma chance, Guilhermina.
— Não há emprego para imbecis! Rua daqui nojento, ou quer que eu chame meus
seguranças para te chutarem daqui.

- Frisou Guilhermina com um tom de voz ensurdecedor.

Com rosto carregado de lágrimas, coração apertado e ferido, Mauro foi arrumar
algumas coisas que costumava guardar num dos quartos da casa.

Enquanto isso, Guilhermina direcionava-se à cozinha. Carregou um copo cheio de


água, entornou algumas gotas na boca e murmurou para si mesma em voz alta:

— Onde já se viu, uma apresentadora de televisão, dona de duas lojas de vestuários e


proprietária do Ranger Rover azul mais comentado nas redes sociais casar com um
empregado coitado que saiu do campo e mal sabe vestir.

- Sentou-se e questionou-se mais uma vez.

— E o que as pessoas vão pensar e dizer sobre nós? Empregado atrevido!

Com seu plástico carregando dois pares de chinelos cheios de arrames e pregos
espreitando o plástico e uma camiseta que não se sabia a verdadeira cor que
habitualmente vestia para trabalhar, Mauro foi à cozinha e despediu-se da
Guilhermina perguntando:

— Guilhermina, tem certeza que quer que eu vá e nunca volte para esta casa?
Pense na nossa felicidade e, lembre-se que o ontem é uma história, o amanhã é
incerto e hoje está perdendo um amor da sua vida.

Guilhermina levantou-se e despejou na cara do Mauro toda água que restara do copo
dizendo:

— Vá seu desgraçado e se possível, morra sem emprego e desgraçado. Mal-educado!


Desapareça daqui!

Humilhado pela sua patroa por ter revelado que estava apaixonado, Mauro abriu a
porta da casa todo tristonho.

E, quando estava prestes a abrir o portão principal da casa, eis que a sua patroa grita
pelo seu nome.

Continua....

A Revolta da Guilhermina

Capítulo 3
E, quando estava prestes a abrir o portão principal da casa, eis que a sua patroa grita
pelo seu nome:

— Mauro! Tu estás a brincar mal, sabes? Essas tuas cuecas que parecem vítimas de
balas perdidas que deixaste penduradas no meu estendal?

É para o espírito do seu bisavô ficar a vestir?

É melhor levar esse lixo, antes que eu transforme isso em cinzas!

Com a mão esquerda segurando a cintura, olhos cansados de derreter lágrimas, Mauro
despejou um olhar envelhecido para sua ex-patroa e respondeu:

— Faça aquilo que desejar com as cuecas, não quero mais que meus os ouvidos sejam
poluídos pelas suas injurias, ver teus lábios pisoteando meus sinceros sentimentos.

Andando Mauro afirmou. — Queime tudo que restou de mim, incluindo o amor que
vive dentro de si.

— Porcaria! - Insultou Guilhermina e foi ao estendal da casa.

Levou todas as coisas que Mauro esquecera, meteu num plástico preto e disse para si
mesma:
— Pensando bem, não vou queimar esse lixo, senão amanhã vem aqui dizer que
queimei suas cuecas com dois cheques de vinte mil meticais.

Tenho certeza que virá buscar, pois são as únicas que ele tem na vida.

Guilhermina deitou-se na sua cama, mas não conseguia dormir pensando no que
poderia acontecer com Mauro em plena madrugada andando nas ruas perigosas de
Maputo.

Rebolou tantas e tantas vezes, mas não conseguia enamorar um sono tranquilo.

Vinte minutos depois, levantou-se da cama, deixou seu orgulho do lado e mandou uma
mensagem para Mauro dizendo:

“Senhor, chegue bem, assim que chegar em sua casa, por favor dá-me um sinal de
vida, estou preocupada.”

Por voltas das três horas de madrugada, Mauro finalmente chegou em sua casa.

Sentou-se na sua esteira desfalcada de sorriso, retirou seu celular e, encontrou a


mensagem da Guilhermina.

Quando terminou de ler, apenas respirou fundo e afirmou em voz alta:


— Um dia você vai me procurar, cedo ou tarde. Ainda ficarei muito famoso e rico com
a música moçambicana.

Basta conseguir entrar na Bang e gravar uma música com meu dinheiro.

No dia seguinte, por volta das sete horas e algumas substâncias de tempo, Guilhermina
levantou-se e caminhou para banheiro e dá de cara com sua amiga Verónica sentada
na sua sala.

— Oi amor, tudo bem contigo?

Antes da Guilhermina responder, sua amiga justifica. — Amiga, os seguranças


deixaram-me entrar, como já sou quase da família.

- Olhando a porta da cozinha Verónica questiona.

— Já tomou pequeno almoço, queria te fazer companhia, amiga?

— Amiga, desculpa, hoje não há mata-bicho e nem conversas. Estou sem cabeça para
fofocas, seria melhor guardar essas novidades para outro dia, suma daqui! - Disse
Guilhermina abrindo a porta dando sinal de saída para Verónica.

— Hii! Mor, que maneira é essa de tratar uma amiga que amavelmente vem trazer as
últimas novidades no dia para si e fazer companhia agradável no café da manhã?
Você sabe quantas amigas aqui no bairro querem mata-bichar comigo?

Aproximando-se da sua amiga Guilhermina. Algum problema com os seus negócios,


amiga?

Guilhermina pegou na cabeça, fechou a porta, segurou as mãos na sua amiga e disse:

— Desculpa minha amiga, nunca fui de responder assim para as pessoas. Senta-te
aqui, vou contar o que está a acontecer.

Sentando. — Amiga, estou muito chateado e decepcionado com aquele marginal do


Mauro, aquele desgraçado do meu empregado.

— Que fez? Roubou? Fugiu com seu dinheiro? Não se preocupes amiga, conheço uma
curandeira que não falha, a Dra. Mbere, acaba de chegar Malawi, trabalha com pica no
espelho, só com uma picada no espelho, o ladrão vai trazer tudo que roubou de ti. –
Disse Verónica.

— Nada disso, amiga.

Apenas desrespeitou-me! Tu acreditas que aquele sem vergonha andou a encher a


boca para afirmar na minha cara que gostava de mim, pediu-me em casamento e ainda
tentou me beijar? - Contou Guilhermina.

— Heh! Mas tu estás toda chateada só por causa disso, mor? E o que tu fizeste com
isso tudo? – Questionou Verónica.
— Dei um tapa bem quente para ele aprender e insultei-lhe bem para nunca mais me
ofender.

Saiu daqui com lágrimas nos olhos e acredito que ainda vai chorar por uma semana.

— Amiga, tu não deverias ter feito isso com aquele rapaz bonito, meigo, doce e cheio
de respeito.

Foste muito cruel ao dar um tapa nele e jogar palavras pejorativas, simplesmente por
dizer o que sente por ti. – Assegurou Verónica.

— Mas amiga, um empregado mesmo? Questionou.

— E se for um empregado doméstico? Empregados não se apaixonam? Não são seres


humanos como tu? O Mauro também tem sentimentos como qualquer ser humano.

Verónica levantou-se da cadeira e disse. — Já pensou na possibilidade de isso tudo for


verdade?

E olha que amar alguém não é crime e nem é falta de respeito demonstrar esse
sentimento.

Guilhermina inclinou a cabeça para baixo, ficou reflexiva durante alguns minutos e
respondeu com uma fala exaltada:
— Amiga, estás a imaginar quando vizinhos e amigos perceberem que estou
namorando com um empregado e mais novo que eu? O que vão dizer sobre mim?

— Olha amiga! Neste mundo, há tanta gente desocupada e sem assunto, e, sempre
vão comentar de tudo, mas isso não deve constituir uma preocupação para si.

Aprenda a colocar a sua felicidade em primeiro que aquilo que as pessoas vão pensar
sobre si. Se depender dos outros, tu morrerás na eterna depressão. Tu gostas dele?

— O quê? Go-go-gos-tas-tarrr de-de-de quem?

Não sei se gosto!

Não me faças essas perguntas difíceis.

Não gosto daquele palhaço.

- Respondeu Guilhermina gaguejando e andando pela sala.

— Amiga, seu futuro depende ti.

Se tu gostas dele e ele gosta de ti, vá atrás da sua felicidade.


Sabe, procure o Mauro e peça desculpas, antes que ele encontre uma outra pessoa e
tu percas o homem da sua felicidade e lembre-se que um grande amor, não é uma
questão de sorte, um grande amor a gente cria e alimenta a cada dia das nossas
relações à dois.

Aproximando da Guilhermina.

— Amiga, não estás com muita fome, vamos tomar chá e irmos para os nossos
afazeres.

Continua

*A Revolta da Guilhermina

capítulo4

Verónica aproximou-se da Guilhermina e disse-lhe:

— Amiga, não estás com muita fome, vamos tomar o pequeno almoço e irmos aos
nossos afazeres?
— Vamos, querida! Porém, estou sem vontade de espraiar-me pelas ruas de Maputo,
apetece-me unicamente permanecer estendida na cama e pensar na vida.

Sinto um enorme aperto dentro de mim e que me deixa simplesmente cogitada! –


Retrucou Guilhermina.

— Amor, sinceramente, nunca entendi esta sua capacidade impressionante de me tirar


palavras da boca.

Acreditas que também queria dizer que também estou sem vontade de sair e andar
por essas bandas de Maputo?

Olha, se tu quiseres, posso te fazer companhia até a hora do jantar conversando sobre
homens, pois tu sabes que não é fácil entendê-los sozinha. – Comentou Verónica com
um sorriso nos lábios.

Antes de entornar o seu copo de chá à garganta, Guilhermina salientou:

— Amiga, tu sabes que podes ficar nesta casa até a hora que desejares, aqui também é
sua casa, não é?

Afinal tu estás todos dias aqui e não vejo o porquê de tanta preocupação com isso.
Fiques, amiga!

— Brincadeira amigona, na verdade, já sabia da resposta.


Amiguça do coração, como ficarei conversando até ao jantar, posso adiantar retirar
dois frangos do congelador?

Tu sabes que frangos demoram muito para descongelar e podemos atrasar o almoço. -
Questionou Verónica enquanto abria o congelador sem uma previa permissão.

— Podes sim.

Mas antes, fale-me só uma coisa, Amiguça.

Olhando para Verónica Guilhermina questiona.

— Essa ideia de procurar o Mauro e pedir-lhe desculpas será que vai prestar mesmo?

É que durante a madrugada mandei-lhe mensagem pedindo para que me informasse


assim que chegasse em sua casa e, simplesmente ficou num silêncio devastador.

Com um tom de voz simplista, Verónica respondeu:

— Claramente que ele ficou triste e chateado com tudo que disseste.

Amor, ninguém ficaria feliz com aquela tamanha humilhação que depositaste na conta
íntima dele. Olha, fiques tranquila, estou aqui para ajudar-te a sair desta saia-justa e,
tu sabes que sou especialista infalível e internacional na área pedidos de desculpas e
resgate sentimental.

— Sei, mas como faço para ter o Mauro de volta? Estou preocupada e arrependida por
tudo que fiz e falei para ele. - Interrogou Guilhermina num tom de desespero.

— Agora sim, está demostrando maturidade feminina, que está arrependida da


tamanha vergonha que cometeu e que realmente gosta do Mauro.

Esta é a Guilhermina que conheço. - Disse Verónica num tom de voz sarcástico.

Guilhermina levantou-se irritada e retorquiu:

— Amiga, não me irrita, ouviu? Vou jogar esse chá na sua cara. E se gostar? Qual é o
problema?

Também nã – nã - não gosto de – de - dele coisíssima nenhuma.

Apenas quero lhe pedir desculpas por tudo que fiz e, devolver-lhe o seu emprego,
talvez seja a sua única fonte de sobrevivência.

Apontando com o dedo indicador à Verónica, ressaltou. — E foste tu que disseste há


bem pouco tempo que aquilo que fiz é errado, então, deixa-me pedir desculpas.

Verónica pôs-se numa sucessão de gralhada e respondeu sarcasticamente:


— Ela está apaixonada! Olha, meu amor, fiques sossegada e senta-te aqui para dar-te
as dicas mais preciosas do universo.

- Convidou a Guilhermina para sentar-se perto de si, enquanto espalhava-se numa


escondida e lenta gargalhada.

Quase impaciente e ansiosa, Guilhermina afinou os seus ouvidos e pôs-se atentamente


a receber as dicas da sua melhor amiga, que só terminou, por volta das vinte e duas
horas e alguns minutos.

— Amiga, falei demais e já está tarde para mim, preciso ir para casa.

– Disse Verónica enquanto preparava-se e questionou a Verónica.

— Entendeu tudo, amor? Agora está tudo em suas mãos e, amanhã passarei por aqui
às treze horas quando sair da Igreja para conversar contigo e saber como estás.

— Muito obrigada amiga pela companhia e pelos seus maravilhosos conselhos.

Tu chegaste na hora certa.

- Guilhermina deu um abraço forte na sua amiga dizendo: — Sabes eu não conhecia
essa tua outra parte tão impressionante e sábia.
— Não precisa agradecer minha amiga, pois fiz aquilo que todas amigas devem fazer
com as suas amigas!

Aprendi com a minha mãe que nunca devemos deixar as nossas amigas caírem no
abismo enquanto tivermos a oportunidade de ajudá-las. - Salientou Verónica.

— Mais uma vez, obrigado pela ajuda, amiga. Adeus e até amanhã. - Despediu
Guilhermina.

— Amor, falando nessas coisas de ajudar.

Essa comida que vi na geleira, não vai estragar-se até amanhã?

Ouvi que a Eletricidade de Moçambique fará limpeza nos seus postos de


transformação de energia e ficaremos sem energia das oito às catorze horas de
amanhã.

Deixa-me levar para dar meus filhos comerem.

— Podes levar amiga, mas por favor, essas tigelas são caríssimas e estou a pedir
devolver-me amanhã quando voltares da Igreja, pois na sua casa já tem mais de trinta
tigelas minhas.

Verónica saiu da casa da Guilhermina toda feliz, saciada e com uma refeição garantida
para dar aos seus filhos, enquanto a Guilhermina voltava aos pensamentos de tristeza.
Durante três semanas, Guilhermina mal conseguia dormir de tanta ansiedade de ver o
dia amanhecer e chegar a hora certa que a Verónica sugeriu para que procurasse o
Mauro e pedisse-lhe desculpas.

E finalmente chegou aquela tão esperada tarde solística de sábado de quatro de


agosto.

O dia agendado para encontrar o Mauro e pedir-lhe desculpas.

Antes de sair de casa, Guilhermina modelou seus cabelos de forma apaixonante, vestiu
seu corpo com aquele vestido vermelho que carregam alguns detalhes extravagantes
que acabara de importar da Itália, calçou seus sapatinhos confiados que davam um
brilho negro invejável aos seus pés e deixou a sua cara entoalhada de maquiagem.

Por volta das quinze horas e alguns estilhaços de minutos, viam-se marcas dos pneus
do Ranger Rover da Guilhermina entrando no quintal da casa do Mauro.

Quando chegou a casa do Mauro, encontrou a porta fechada. Fez uma oração bem
rápida antes de bater a porta e respirou fundo.

— Com licença! Com licença.

- Pediu Guilhermina enquanto batia a porta.


E quando pretendia solicitar licença pela terceira vez, eis que uma mulher com a cara
toda transpirada, cabelos desfazidos, pés descalços, cheios de chupões no pescoço e
cobrindo seu corpo com um lençol branco, abriu-lhe a porta e perguntou:

— Sim? Posso ajudar?

Guilhermina ficou dez minutos congelada, coração derretendo por completo, lágrimas
espreitando pelos seus olhos e questionando para si. “Quem essa vadia?” Guilhermina
tomou coragem e respondeu:

— O Mauro está aí? Gostaria de falar com ele por alguns minutos.

A moça que atendera a Guilhermina respondeu-a com um tom de voz agressiva


enquanto apertava o lençol em seu corpo para não cair.

— Deixa ver se os meus ouvidos escutaram bem.

Repete em voz alta e de forma lenta. Perguntaste por quem mesmo?

Continua....
*A revolta da Guilhermina

Capítulo 5

— O Mauro está aí? Gostaria de falar com ele por minutos.

A moça que atendera a Guilhermina respondeu-a com um tom de voz agressiva


enquanto apertava o lençol em seu corpo para não cair.

— Deixa ver se os meus ouvidos escutaram bem. Repete em voz alta e de forma lenta.
Perguntaste por quem mesmo?

Aquela questão repleta de chuviscos salivares, deixou a Guilhermina sem forças para
levantar a sua língua e expelir qualquer palavra.

Segundos depois, ondas gigantescas de medo e desespero espancavam fortemente


seus neurónios deixando-a num silêncio entranhado.

— Senhora, perdeu a língua ou tem ouvidos entupidos?

- Aproximou-se da Guilhermina e olhando atentamente de baixo para cima


questionou.

Vai responder agora ou quer sair daqui em cinco segundos sem vestido, brincos e
sapatinhos?
Enquanto passava a mão direita na face fingindo ter recebido uma picada, Guilhermina
respondeu:

— Desculpa, é que fui picada por uma mosca tsé-tsé e fiquei um pouco sonsa.

— Sua assassina de extintos sexuais!

Sabes quanto custa retirar alguém duma troca de fluidos orgânicos?

– Guilhermina tentou responder e foi golpeada com outra questão insalivada.

— Fecha matraca, tu tens a noção do perigo de fazer alguém renunciar um orgasmo


agendado?

Sabe qual é o crime de cortar a energia libidinal de uma embriagada e morta de


prazer?

Achas que é fácil reaquecer o um motor de calibre 50 de um homem após uma parada
brusca de ejaculação?

Guilhermina limpou os chuviscos na sua cara e afastou-se dizendo:

— Mais uma vez, peço imensas desculpas, minha senhora.


Apenas queria falar algo importantíssimo com o meu ex-empregado e, em nenhum
momento tive a intenção de retirá-los do paraíso sexual.

Sem piedade alguma, Guilhermina foi cortada outra vez com palavras duras.

— Sua desnaturada!

Então és tu, que despejaste o coitado do Mauro, e de bónus, entulhaste-o de palavras


insultuosas, simplesmente por ter revelado que te amava.

– Guilhermina encolhia o seu rosto enquanto ouvia aquelas verdades.

— Fizeste-lhe chorar dias e noites e hoje, tens a enorme coragem de procurá-lo para
pisá-lo ainda mais?

Com a cabeça inclinada ao chão que se traduzia num arrependimento profundo e de


vergonha das suas acções do passado, Guilhermina respondeu:

— Sim! Infelizmente sou a tal pessoa que fez isso com ele.

Mergulhei-me numa chuva de ignorância, fiz-lhe tomar um banho de desprezo e


despejei-o de forma desumana.
Todavia, arrependi-me de tudo que fiz e vim redimir-me de todo mal e quero que volte
para mim. Acho que sou apaixonada por ele.

— Acho que sou nhé, nhé, nhé por ele!

Como ainda tens a coragem de encher a sua matraca para falar disso com maior
naturalidade.

A Senhora merecia um banho de abelhas ferozes para picarem essa sua cara feia e
nunca mais voltar a fazer uma coisa dessa.

Com sorriso sarcástico Florência informou.

Para seu azar e desprazer, a senhora perdeu o Mauro faz tempo, está muito feliz e
duvido que volte para si.

Guilhermina ficou gelada e seu rosto começará a dizer poemas de tristezas ao ouvir
que perdera o Mauro e, perdeu o controlo de si pegando a Florência e abanou-lhe
como se estivesse sacudindo um saco de milho questionando:

— Como assim? Onde está o Mauro? É teu namorado? Diga-me, sua vadia!

Florência agarrou os cabelos da Guilhermina respondendo-a:

— Vadia é sua mãe que te pariu sem prazeres sexuais, tire suas mãos nojentas de mim.
Puxa para cá e puxa para lá!

— Está me deixar nua, sua puta de merda.

Se eu me zangar, vou te fazer estragos. Larga-me já, sua feia sem beleza.

Enquanto a Guilhermina tentava retirar o lençol do corpo da adversaria, suas


extensões foram puxadas com muita força e ficaram nas mãos da Florência, deixando-
a com a cabeçada toda desfigurada.

— Viste, destruíste os meus cabelos importados do Brasil, sua bruxa.

Sabe quanto custou isso? Vai conseguir pagar isso?!– Lamentou Guilhermina com
desespero e dor.

Puxando o lençol para cima do seu corpo, Florência respondeu:

— E a senhora sabe quanto custa a minha exposição dos órgãos genitais?

Naquele infinito bate-boca, eis que aparece o marido da Florência para entender o
porquê daquela troca de insultos e gritaria.

Sem camisa e com um ponto de fuga desenhando seus calções:


— O que estás acontecendo no meu casa.

Olhando para Guilhermina.

— Afinal você és quem que és que vens lutar-se na minha terreno.

– Retorquiu o marido da Florência com falas desregradas que denunciavam a falta de


intimidade com a língua portuguesa.

— Não é essa vadia que tentou me agredir na minha própria casa e deixou-me nua.

Será que ela não sabe que o Mauro vendeu-nos o terreno e casa e foi-se embora. -
Respondeu Florência enquanto amarrava o lençol em seu corpo.

Guilhermina ficou congelada ao perceber que lutara em vão e que o Mauro vendera a
casa e partira para outro lugar.

Não conseguindo dizer sequer uma palavra, simplesmente caiu de joelhos e chorou
gritando.

Continua....
A Revolta da Guilhermina

Capítulo 6

Guilhermina caiu de joelho e perguntou chorando:

— Meu Deus dos céus, onde foi que falhei para merecer todo esse castigo? Que
maldade cometi para sofrer tanto assim?

Levantou-se em direcção ao marido da Florência e implorou. — Por favor, diga-me


onde está o meu Mauro?

O marido da Florência todo apreensivo em voltar ao quarto para terminar a sessão de


vacinação, respondeu:

— Sai! Sai desse terreno que és nosso, tens muito abusado. – Olhou para sua esposa e
disse.

— Esposa, deixa esse mulher louco sozinho e vamos no quarto descansar. Nós nuvai
dialogar onde estás Mauro. Sai daquis!
Guilhermina entrou em pânico ao perceber que a esperança de reencontrar o Mauro
estava indo com o casal que acabara de expulsá-la da casa e, sem outra alternativa
suplicou:

— Peço perdão por tudo que fiz! Enchi-me de desespero e parti para violência. Por
favor, ajudem-me a encontrar o meu Mauro.

Enquanto isso, o casal fechava a porta da casa. — Por favor, não fechem a porta.
Implorava a Guilhermina. — Olha, se me ajudarem a encontrar o Mauro, agradecerei
dando quinhentos meticais e vou levá-los no meu Ranger Rover.

— Quinhentos o quê, amiga? Você disse o quê, minha amiga. - Questionou Florência
enquanto reabria desesperadamente a porta da casa apertando os dedos da mão
esquerda do marido, simplesmente para ouvir e perceber perfeitamente a proposta da
Guilhermina.

— Eu disse quinhentos meticais. Se me ajudarem a encontrar o Mauro, vou agradecer


com um valor de refresco e iremos do meu carro.

Florência olhou para o marido toda preocupada e questionou em voz diminuída.

— Marido, escutou bem isso que eu ouvi? Ela disse que vai agradecer com dinheiro de
refresco.

Não nos custa nada ir acompanhar ela até ao mercado de Xipamanine e ganhar esses
quinhentos meticais numa sentada, pois não?
Com os dedos doendo e aflito para terminar a sessão de troca de fluidos orgânicos,
olhou para seu ponto de fuga que se dilatava e respondeu:

— Esposa, você queres deixares-me assim por sobre de quinhentos meticais?

— Marido, bebe água e dorme que isso vai baixar. Sexo a gente faz todos dias, mas
dinheiro não. – Olhou para Guilhermina e disse, — amiga, vou lhe acompanhar onde
está o Mauro, não por causa dos quinhentos meticais, simplesmente porque percebo o
sofrimento de uma mulher. Espera, deixa-me só vestir!

— Está bem! - Respondeu Guilhermina com coração rejuvenescido e recapitulado de


esperança.

Cinco minutos depois, Florência já estava arranjada para acompanhar a Guilhermina.

— Amiga, desculpa pela demora. Estava tentado atrapalhar meu marido com umas
cocegas sexuais, mas estou aqui. Como te chamas mesmo, amiga?

— Guilhermina e o seu nome?

— Aqui Florência, mas pode me chamar por Flor, pois me considero uma flor em
pessoa.

Amiga, tens um nome elegante e és chara de uma tia que morreu durante a luta
armada de libertação nacional em mil e novecentos e oitenta - Comentou Florência.
.

— Ham! Obrigada! Mas a guerra da luta armada terminou em mil novecentos e


setenta e quatro. - Rectificou Guilhermina enquanto colocava o carro na estrada.

Florência permaneceu toda molhada de vergonha ao perceber que sua mentira fora
desmantelada em três segundos.

Virou para o assento de traz e reconheceu uma lata de refrigerante que estava num
plástico amarelo.

— Ham, sim tem razão, amiga. Então amiga, esse refresco que está no plástico ainda
precisas? É que estou com um pouco de sede.

— Preciso sim. Se estiver com sede, tem água aí ao lado desse plástico. Podes levar
uma garrafinha e matar a sua sede. - Respondeu Guilhermina.

Sem o que comentar, Florência insisti:

— Ham! Vi água sim, amiga. Só que a sede que tenho é de refresco mesmo e, não me
dou bem com água mineral. Posso levar esse refresco, amiga?

Sem opção e com medo que a Florência mudasse de ideia e decidisse não ajudar,
Guilhermina viu-se obrigada a ceder o refrigerante.

— Claro, podes levar o refresco para matares a tua sede, Florência.


.

— Tu és a melhor amiga do mundo. Olha, amiga quando te chamei de desnaturada,


não queria te ofender nem tampouco. Desnaturada na minha terra quer dizer uma
pessoa que fala sem muita naturalidade, sabes nem? - Comentou Florência enquanto
abria a lata de refresco.

Guilhermina permaneceu num silêncio, atenta ao volante e ansiosa para rever o


Mauro.

Enquanto isso, Florência engolia o refrigerante, que terminara num piscar de olhos.

— Amiga, abra um pouco a janela deste lado, quero deitar esta lata de refresco fora. –
Solicitou a Florência.

— Nem pensar, leves esta lata e guardes na sua bolsa ou num plástico qualquer até
chegarmos no mercado de Xipamanine e deitarás numa lata de lixo.- Retorquiu a
Guilhermina.

— Mas Guilhermina, O Conselho Municipal tem a responsabilidade de recolher todo


lixo que se encontra na cidade.

— Claro que tem essa responsabilidade, mas isso não nos dá o direito de ficar atirando
lixo por aí em qualquer lugar. Nós temos também a responsabilidade de contribuir
para uma cidade limpa deixando o lixo no lugar certo. Imagine só se atiras isso e acerta
em alguém? - Salientou a Guilhermina.

.
— Sabe que não tinha pensado nisso. - Florência sorriu e comentou. — Pessoas ricas
sabem muita coisa, sabe. Ainda bem que tu agora és minha amiga confiada.

— Nada disso, este é um saber de todos e não apenas de ricos. – Olha, já chegamos.
Deixa-me só estacionar o carro num lugar adequando e que me facilite mais tarde. Tu
sabes onde está essa barraca dele?

— Sei tudo. Não se preocupe amiga, tu vais sair daqui com o Maurinho. – Afirmou
Florência enquanto descia seus pés do carro.

Depois de desbravarem os labirintos do mercado da Xipamanine, finalmente chegaram


a barraca do Mauro e para a infelicidade da Guilhermina, eis que se depara com outra
surpresa.

Continua....

A Revolta da Guilhermina

capítulo 7
Depois de desbravarem os labirintos do mercado de Xipamanine, finalmente chegaram
à barraca do Mauro.

— Chegamos, amiga! Olha, esta é a barraca do Mauro, ele costuma estar aqui todos
dias vendendo bebidas! - Disse Florência apontando uma barraca fechada.

— Então...Onde ele está? Não vejo sequer a sua sombra, e esta barraca está fechada! –
Retorquiu a Guilhermina com um ar de desiludida!

Florência aproximou-se à barraca e respondeu com um sorriso:

— Calma amiga, ele deve estar bem perto, talvez procurado trocos ou fazendo
algumas comprinhas para sua barraquinha. - Pegou nas mãos da Guilhermina e
sugeriu. — Amiga, vamos saber daquele jovem de óculos onde ele possa estar…

Diante daquela situação preocupante, o desespero da Guilhermina voltara em espinha.

A tal esperança que germinara pelo caminho desfolhava de imediato e transformara


seus olhos num rio chamado lágrimas. Guilhermina tomou a dianteira para questionar
ao jovem sobre o paradeiro do Mauro, pois a vontade de encontrá-lo era maior que o
impossível:

— Jovem, esta é a barraca do Mauro?

— Minha senhora, “boa tarde” ainda não está à venda e muito menos deixa cicatrizes
na língua quando se é dito para alguém. Boa tarde!
Respondeu o jovem que se encontrava noutra barraca.

— Boa tarde, por favor, com todo e magnifico respeito, como está de saúde, jovem?
Esta barraca fechada pertence ao Mauro?

Questionou Guilhermina, após ser alvejada sarcasticamente; pela sua falta de


respeito.

— Boa tarde, meu nome é Roberto! É a barraca do Mauro sim, porém ele não trabalha
aos sábados, pois costuma ir ao estúdio gravar suas músicas. – Respondeu o jovem
enquanto retirava os seus óculos para limpá-los.

Florência olhou para Guilhermina com cara de espanto ao perceber que aquele jovem
era deficiente visual e, de repente, Florência encenou uma situação de perda de ar e
gritou ligeiramente:

— Amiga!! Socorro! Socorro! Estou a passar mal, preciso tomar os meus


medicamentos. E tem que ser agora.

— Florência, não vai desmaiar agora ne? Por favor, aguenta mais pouco e depois levo-
te para uma das melhores clinicas e terás todo tipo de medicamento. – Disse
Guilhermina enquanto segurava a Florência.

— Amiga, meus medicamentos são tradicionais e são específicos. Estou a morrer. Por
favor, dá-me o dinheiro combinado para que eu volte de emergência para casa.
.

Guilhermina retirou o dinheiro que prometera à Florência e entregou-lhe


acrescentando mais cem meticais para que fosse de chapa.

— E agora, quem me vai acompanhar até a esse maldito estúdio de gravação? -


Questionou Guilhermina.

Depois um vasto silêncio e quando a Guilhermina se preparava para voltar para sua
casa, eis que uma voz suave lhe responde:

— Eu posso lhe deixar onde está o Mauro.

— Que estupidez é essa? Não brinques com a minha paciência. Tu és cego e como vais
me acompanhar até ao estúdio?

— Minha senhora, perdi a visão quando tinha nove anos, mas desde lá, não perdi o
respeito por mim, pela vida e pelas pessoas.

Já não vejo as pessoas, mas sinto a presença delas e respeita-as. Ser deficiente visual
não significa ser inútil e merecedor de humilhação e desrespeito. Tenho outros de
sentidos que me ajudam a enxergar o mundo.— Repudiou o Roberto.

Guiado pelo desprezo, ignorância e emoção, Guilhermina deu as costas e respondeu:

— Moço. Sei que algumas pessoas com deficiência visual conseguem fazer algumas
coisinhas, mas não acredito que possa acompanhar alguém que enxerga ao seu
destino.
.

O jovem com deficiência retirou a sua bengala que estava na pasta e mostrou a
Guilhermina dizendo:

— Esta é a bengala branca, um instrumento capaz de levar uma pessoa com deficiência
para qualquer lugar. E, poderia muito bem acompanhar a senhora, mas a senhora não
quis. Olha, saiba que só o seu melhor amigo é quem sabe onde fica o estúdio.

— E onde está esse melhor amigo dele?

— Use seus olhos para vê-los, afinal um cego só faz umas coisinhas e não podem
acompanhar alguém que enxerga. – Virou-lhe as costas e pôs-se a cantar.

Guilhermina aproximou-se daquela figura humana com os olhos no rosto. Tocou


levemente seus ombros e disse:

— Imensas desculpas. Fui tão estúpida e desumana contigo. Ultimamente ando tão
desesperada e stressada que acabo ferindo as pessoas sem me aperceber. Por favor,
leva-me ao estúdio onde o Mauro foi gravar suas músicas.

— Não se preocupe, estou habituado a ouvir palavras como essas no meu dia-a-dia.

Roberto levantou-se, curvou a sua mão direita e disse com um sorriso brilhante:

— Vamos, minha senhora! Tempo é dinheiro!


.

Roberto levou a Guilhermina até ao estúdio de gravação de música que ficava próximo
daquele mercado, e quando estavam prestes a chegar, eis que a Guilhermina abre um
sorriso gigante ao ver o rosto do Mauro saindo do estúdio. Largou o Roberto e correu
desesperadamente gritando:

— Mauro!! Mauro!!

Abraçou fortemente chorando nos seus braços e pedindo desculpas.

Sem retribuir o abraço, Mauro encheu a sua boca e disse:

Continua...

LA Revolta da Guilhermina.

– Capítulo 8

.
Guilhermina abraçou fortemente seu empregado chorando nos seus braços e pedindo
desculpas.

Sem retribuir o abraço, Mauro encheu a sua boa e disse:

— Quem és tu? Desinfectes imediatamente as suas mãos nojentas de mim. –


Empurrando-lhe vagarosamente acrescentou. — Nunca ouse mais tocá-lo sem antes
esterilizar as suas malditas mãos sujas.

Como se seus tímpanos estivessem entupidos, Guilhermina desconsiderou aquelas


falas cromadas de desprezo que fora cuspidas pelo Mauro, reabraçou-lhe fugazmente
com lágrimas escorrendo nas pontas dos seus olhos dizendo:

— Mauro! Meu amor, arquitecto dos meus sonhos, enfermeiro da razão do meu viver,
psicólogo dos meus pensamentos, engenheiro das minhas expectativas, historiador da
nossa história de amor e biólogo dos meus sentimentos. Tu não imaginas, quantas
chamas de ansiedade tive que debelar em meu coração até encontrar-te vivo nesse
incêndio da vida.

— Arquitecto de Nhonhonhó! já avisei para retirares as tuas mãos porcas de mim. Não
lhe conheço nem de olhos empoeirados. – Insistiu Mauro com um tom de voz
carregado de cinzas de desamor afastando novamente a Guilhermina de si.

— Mauro, não me trates como desconhecida e com desprezo sem fronteiras. Tu sabes
muito bem que sou a sua ex-patroa; a que tu amas de forma desmedida, sou aquela
que seu coração fica amolecido quando a vê, a tua dona mais simpática do mundo que
seus olhos encantados já conheceram e sou a tal senhora do teu destino amoroso –
Guilhermina ajoelhou-se e aditou: — Olha, vim aqui para lhe pedir desculpas por tudo
que fiz e quero me casar contigo.

Mauro colocou-se numa gargalhada desprezível e respondeu com um semblante todo


envelhecido de raiva:

— Ham! A riquinha veio pedir desculpas e quer se casar com o ex-empregado que ela
escorraçou em sua casa com desapreço! – Rindo-se infinitamente Mauro relembrou.
— Onde já se viu, uma apresentadora de TV que faz Sucesso em Moçambique, dona de
lojas de vestuários e proprietária do Ranger Rover casar com um empregado
desgraçado, que saiu do campo e mal sabe vestir? Levante daí, ex-patroa assanhada!

— Mauro, sei que errei contigo ao demiti-lo da minha casa, mas cá estou, arrependida
e pedindo de desculpas sinceras. Deixa-me tê-lo somente para trabalhar em minha
casa. Quero estar mais perto de mim, meu tudo. – Implorou Guilhermina num
desespero mais aditado.

Mauro apontou seu dedo indicador da mão direita para Guilhermina e questionou:

— Demitir? Tu só podes estar com múltiplos problemas psicológicos. Depois de tudo


que fizeste comigo, ainda tens a ousadia de procurar-me e dizer tanta mentira? Quer
dizer, para além de mal-educada é também uma patroa falsificada. Sai daqui, sua
mistura de demónios na terra e no inferno. - Retorquiu Mauro mordendo seus lábios.

— Não faça isso com a mulher da sua vida, meu príncipe. Olhe para minhas unhas das
mãos todas elas roídas de tanta matança de ansiedade de encontrá-lo, veja os meus
olhos avermelhados e enchidos de lágrimas de tanta fúria de procurá-lo, mires para a
minha pele desnutrida de tantas noites frias esperando pelo seu toque. Eu te amo,
Mauro - Declarou Guilhermina.

— Guilhermina! Chega de mentiras. Já desperdicei tempo demais conversando


contigo. Nunca tinha sido tão humilhado na minha vida por alguém que amei e
trabalhei durante muito tempo para ela. Por favor, “famba ni ma Range ya wena.” (2x)
- Disse Mauro num tom musical deixando a Guilhermina sozinha naquele lugar.

Humilhada pelo se próprio ex-empregado por ter dito que estava apaixonada e queria-
o de volta, Guilhermina deu às costas para ir embora e, quando estava prestes a dar o
primeiro passo, eis que Mauro grita pelo seu nome:

— GUILHERMINA!

Guilhermina olhou louvavelmente ao ouvir a voz do Mauro na esperança de um ouvir


uma declaração de amor:

— Esses seus cabelos que caíram aqui no quintal de dono são para sua mãe ficar a
pentear? Vem buscar esses cabelos antes que eu mande isso para lixeira de Hulene. -
Disse Mauro enquanto apanhava alguns cabelos da Guilhermina no chão.

Guilhermina fez de contas que não estava ali e pôs-se a andar.

Depois de ter andado cerca de cinquenta metros, reencontra o Roberto sentado numa
pedra esperando por ela.

.
— Guilhermina, é você? Está chorando porquê? – Questionou Roberto.

— Roberto, tu ainda estás aqui? Como me reconheceu e sabe que estou chorando?

— Fiquei esperando por você para lhe despedir. Olha, eu sei que você está chorando,
sim. Ouvi som de choros com meus ouvidos bem apurados e senti o cheiro do seu
perfume.

— Nada, não estou chorando, amigo. Olha sei que ficou esperando para que eu
pagasse por me ter acompanhado. Tome esse dinheiro e compre alguma coisa para ti.
- Disse Guilhermina enquanto entregava mil meticais ao Roberto.

— Não quero seu dinheiro, minha senhora. As amizades não se fazem pelo bem
material, elas fazem-se pelos pequenos detalhes da vida, gestos simbólicos e de
sinceridade. Desejo que tudo corra bem com você e que saia desta tristeza maldita.
Adeus e até um dia!

Mais uma vez Guilhermina foi atirada para o precipício da tristeza. Pegou seu caminho
e foi-se embora.

Do outro lado, Mauro foi ter com seu amigo Milagre que estava aguardando o seu
retorno.

— Maurito, aquela jovem que estava ajoelhada em frente de ti, não é aquela
empresária, a sua ex-patroa? – Perguntou Milagre num tom de incerteza.

.
— É ela sim. Tu acreditas que aquela sem vergonha veio pedir desculpas e quer se
casar comigo?

— E o que tu disseste, mo brada? Aceitaste nem? Puxah, tu tens sorte meu best friend.
Eu sabia que a nossa vida ia mudar um dia. - Comentou Milagre com um tom de
felicidade.

— Que aceitar, Milagre. Humilhei aquela sem noção tal como ela fez comigo em sua
casa, só para ela sentir na pele a dor da humilhação vindo de alguém que a gente ama.
– Frisou Mauro.

— Mauro, foste muito incorrecto ao tratar a sua patroa com desdém e mandá-la
embora. Não se paga pela mesma moeda pha. Mulher quando é rica e abusada, deve
ser chulada até ficar lisa. – Afirmou Milagre pegando no ombro do seu amigo.

— Nada, já não a amo, por isso, não me vou casar com ela e muito menos colocarei os
meus pés naquela casa novamente.

— Mobrada, deixe esse seu orgulho do lado. Com esta crise, encontrar uma mulher
rica e abusada querendo casar é que nem encontrar uma mina de diamante dentro de
casa e, se tu casares com ela, tu serás dono daquela mansão, serás rico e estaremos
ricos, meu amigo de coração.

Continua
*A Revolta da Guilhermina

- Capítulo 9

Milagre olhou para seu amigo e afirmou:

— Mobrada, enfie esse seu orgulho num envelope e mande para o inferno. Com esta
crise económica, encontrar uma mulher rica e abusada querendo se casar, é que nem
encontrar uma mina de diamante dentro de casa e, se tu casares com ela, tu serás
dono daquela mansão, serás rico e estaremos ricos, meu amigo de coração.

— Como assim, estamos ricos? Não entendo onde entra a questão de riqueza ao me
casar com a Guilhermina. – Interrogou Mauro com um semblante indiscreto.

— Mobrada, tu nunca ouviste falar de lógica económica diante da crise financeira? –


Questionou Milagre com um sorriso.

— Não sei nada disso. Só sei que não me vou casar com aquela mulher depois de tudo
que ela fez comigo, ademais, já não amo tanto quanto antes. – Declarou Mauro num
tom de desamor.

.
— Senta-te aqui e deixa-me explicar como funciona a lógica económica e onde entra a
nossa riqueza. – Milagre arrastou vagarosamente seu amigo para se sentarem num
pedregulho que fica bem ao lado da varanda e explicou:

— Olha para o seguinte princípio; se tu casas com a Guilhermina, tornar-se-ão marido


e mulher, logicamente que tudo que é dela passará a ser teu e, automaticamente
passas a ser um rico, e como sou teu único e melhor amigo, é lógico que tu não vais
me deixar nas malhas do sofrimento, logo seremos ricos.

— Não estou a compreender nada dessa porcaria de lógica que constróis. - E também
já disse que não volto para aquela vivenda, ainda que seja amarrado. Se for para
enriquecer, será com o meu sacrifício e de forma honesta, sem precisar de manipular
sentimentos e usar as pessoas. - Respondeu Mauro com um tom de voz agressivo.

— Brada, peço imensas desculpas se porventura pronunciei algo inconveniente. Só


pretendia abrir os seus olhos e ajudar a pensar mais no futuro. Tu não estás esgotado
de tanto vender bebidas alcoólicas e ganhar moedinhas? Não se cansas de estar aqui
no estúdio gravando músicas que nunca batem na praça? – Contestou Milagre olhando
para seu amigo.

— Vou-me embora daqui! – Mauro levantou-se às pressas e afirmou. — Não vou ficar
aqui ouvindo conselhos estranhos e que não fazem sentido algum. Achas que vou me
rebaixar perante uma mulher que me humilhou severamente e que já não a amo mais
como antes?

Milagre levantou-se, segurou seu amigo pelas mãos e expôs:

.
— Brada, lembre-se de tudo que disse. “Milagres não caem do seu” e eu sou a prova
disso em pessoa. Se eu fosse tu, já estaria neste exacto momento em casa da
Guilhermina pedindo-a de volta.

Mauro deixou aquele local sem dizer novamente alguma palavra para seu amigo. E,
pelo caminho, turbilhões de pensamentos reinavam sua cabeça e comentara para si:

— Talvez aquela maldita lógica feita pelo Milagre tenha algum sentido diante desta
crise que nos aperta feito uma cirola no corpo. – Mauro inclinou e escreveu com o
dedo no chão. — Se me caso com uma mulher rica, serei marido dela, logo, também
serei rico. E amor? Ah, vou reaprender a amar aquela maluca. – Afirmou Mauro com
um sorriso nos beiços e correndo para a casa da Guilhermina.

Enquanto isso, uma tempestade de tristeza fustigava por completo a casa da


Guilhermina. Chuvas torrenciais caíam dos seus olhos e rajadas de pensamentos
negativos torturavam sua mente.

— A vida não tem mais sentido algum para mim! Tanto dinheiro na conta bancária,
casa gigante e bem mobilada e um carro de marca, mas sem o amor da minha vida
para ser feliz. – Levantou-se da cadeira e disse. — Prefiro matar esta vida que me deixa
sem vida.

Guilhermina correu até a dispensa da cozinha, pegou numa quantia enorme de


comprimidos que utiliza para matar ratos na sua Quinta em Marracuene, colocou num
copo vidrado com água fazendo uma mistura e voltou para a sala dizendo:

.
— Já não aguento mais expelir tantas lágrimas de sofrimento. Tomar este veneno é
única e última solução para mim, talvez assim essa maldita angustia e outros
problemas não escangalhem mais os meus pensamentos e desfalecem meu pobre
coração.

Guilhermina levantou lentamente o copo em direcção à boca e, quando estava prestes


a entorná-lo na garganta, eis que o Mauro invade a sala e grita com um sorriso nos
lábios:

— Guilhermina, meu Amor! Te amo.

```Então, será que a Guilhermina vai tomar o veneno?```

Contínua...

*A Revolta da Guilhermina

— Capítulo 10

.
Guilhermina levantou lentamente o copo em direcção à boca e, quando estava prestes
a entorná-lo na garganta, eis que o Mauro invade a sala e grita com um sorriso nos
lábios:

— Guilhermina, meu Amor! Te amo.

Até aquele copo que se encontrava na mão da Guilhermina tomou um enorme susto e
perdeu os sentidos objectais soltando-se ao chão e transformando-se em estilhaços
numa fracção de segundos.

— Desgraçado, queres me matar de susto? Como é que entras aqui gritando de


qualquer maneira? – Pegando seu coração Guilhermina acrescentou. — E tu sabes
muito bem que tenho problemas de coração! - Afirmou Guilhermina com as mãos
tremulas e transpirando de forma anormal.

— Desculpa minha princesa, não era o meu intento tentar matar-te de susto, queria
apenas fazer uma surpresa. – Expôs Mauro enquanto se aproximava da Guilhermina.

— Fazer surpresa aos cambaus pha! Imagines só se a minha pessoa tivesse caído ao
chão com uma travagem cardíaca? Seu assassino!! Quase morria de susto por tua
culpa! – Recrutou a Guilhermina toda assustada enquanto apanhava os estilhaços do
copo.

Mauro inclinou-se rapidamente ao chão para ajudar a Guilhermina retirar os estilhados


do copo do chão e, num toque súbito, as suas mãos cruzaram-se ao tocarem os
mesmos estilhaços e, seus lábios avizinharam-se lentamente.

.
— Mauro, deixa-me amaldiçoar seus lábios com os meus pecaminosos gomos e levar-
te ao inferno dos beijos. – Levantando-se de forma romântica com as mãos ainda
conectadas ao Mauro disse: — Toque com as suas poderosas mãos a este corpo que
chora dia e noite pelo seu eterno amasso.

— Estava louco para prender seus lábios na prisão dos meus desejos, fazer-te
prisioneira dos meus encantos, transformar a sua tanguinha num pano molhado de
prazeres e descarregar toda a minha energia libidinal em seu corpo de mulher perfeita.
- Respondeu Mauro.

Aos beijos e leves arranhões pelo corpo, Mauro transformou suas mãos num
verdadeiro alpinista sexual, escalando vagarosamente as montanhas que vivem no
peito da Guilhermina e desregulando a sua respiração normal.

Enquanto isso, as mãos da Guilhermina encontravam-se numa perseguição sem trégua


pelos escombros das calças do Mauro, tentado deter o leopardo mais perigoso do
corpo masculino que se enfurecia a cada toque e beijo da Guilhermina.

— Ahhhhhhhhhhh!! Não faça isso, Katango – Ouvia-se do Mauro ao sentir um leve


toque de inercia em seu leopardo.

Calcinhas e cuecas penduradas no sofá, vestido e calças espalhadas pelo chão da sala,
Mauro carregou a Guilhermina devagar e deixou-a no sofá numa posição de corrida de
estafeta.

Segurou fortemente no seu leopardo com dentes bem afiados e mandou-o atacar sem
perdão a onça africana que não parava de chorar de tanto medo de ser trincada viva.
.

Foram horas e horas de muita luta entre as suas pernas que transformavam aquela
luta de felinos, num combate de prazer coberto de tiroteios de balas de fluidos
orgânicos em seis rounds que só parou quando os dois ficaram ressoados e cansados.

— Foi bom? - Questionou o Mauro.

— Foi maravilhoso! Não sabia que eras tão felino assim na cama. – Comentou a
Guilhermina com um olhar sorridente e de quem estava leve.

— O meu leopardo não brinca em caças furtivas sexuais. – Sua onça também é uma
verdadeira assassina. Deixou-me sem forças no último round e esgotou a minha
gasolina branca. – Respondeu Mauro com um sorriso nos lábios e beijando novamente
a Guilhermina.

— Mauro, hoje tu vais dormir comigo. Quero mais uma sessão extraordinária na
assembleia geral da minha cama, vamos discutir algumas questões políticas nostálgicas
que rodeiam as nossas pernas. – Pediu Guilhermina.

Mauro levantou e sentou-se na cadeira sofá dizendo:

— Mas eu não tenho roupa para mudar-me. Tu rasgaste as minhas calças quando as
retiravas. Preciso ir à casa levar as minhas roupas.

Guilhermina puxou o Mauro para se deitar no sofá novamente e disse:

.
— Não se preocupe amor. Aqui tem as calças do meu falecido marido, podes usar e
amanhã iremos à minha loja para levares tudo quanto é roupa para ti. Enquanto tu
fores meu namorado, não vais precisar de roupas antigas.

Mauro ficou feliz ao ouvir aquelas palavras, mas disfarçou com um sorriso sarcástico
dizendo:

— Nada meu amor, não quero nada seu, além do seu amor. Comprarei tudo com o
meu sacrifício.

Guilhermina pegou as bochechas do Mauro e respondeu:

— Deixa de ser orgulhoso homem, vai levar sim. Afinal de contas, tudo que é meu
também é seu..

Continua

*A revolta da Guilhermina

Capítulo 11
Guilhermina apertou com seus dedinhos as bochechas do Mauro e repudiou:

— Deixa de ser orgulhoso homem, vai levar sim. Afinal de contas, tudo que é meu
também é seu.

— Não tem nada haver com orgulho masculino! Apenas não quero que penses que
estou contigo por conta do seu dinheiro. Tu sabes que há muitos homens em
Moçambique que andam por aí com mulheres mais velhas, só para tirar-lhes o
dinheiro. Eu sou honesto, não sou desses aí. – Afirmou Mauro com a cabeça inclinada
ao chão.

— Amor! Tu já demonstraste com todas as letras do dicionário sentimental que me


amas de forma acentuada e, que não serias capaz de se interessar por mim apenas por
dinheiro. - Comentou a Guilhermina enquanto passava a mão na cabeça do Mauro.

Quando Mauro pretendia tocar os lábios da Guilhermina, seu celular toca e,


imediatamente levantou-se para atender.

— Qual é o problema? – Atendeu Mauro com uma voz irritante.

— Não precisa me tratar assim bro! Só queria saber se já pensaste bem sobre aquele
assunto da Guilhermina que falámos de tarde.

Com um tom de voz aguçado, Mauro retorquiu:

.
— Se pensei ou não pensei, isto não é da sua conta! Tu és um amigo lâmina. Quer me
cortar com essas suas ideias estranhas e fazer com que eu tenha má-fama no bairro.

— Brother… Nada disso! Só queria saber se mudaste de parecer e decidiste casar com
a kota. Já tenho aqui uma lista de coisas que podemos comprar assim que ficarmos
bem posicionado com esse casamento.

— Já tem lista aos cambaus! Não quero saber de intimidades com esse tipo de amigos,
aliás, nem sei se ainda somos amigos. É melhor desaparecer da minha casa e não
voltes a ligar mais para mim.

Mauro desligou a chamada e arremessou o celular no sofá onde estava a Guilhermina.

— Calma meu bem! Explica-me o que está acontecendo. – Acalmou a Guilhermina.

— É um diabinho estúpido que vive aborrecendo-me com umas ideias venenosas. Não
quero ser desonesto com às pessoas e ele insiste que eu seja.

— Amor, hoje é o nosso dia, o dia em que inicia uma nova história de amor que vai dar
muita inveja às pessoas! Esquece esse assunto e, vamos comemorar o nosso primeiro
dia de namoro. Mas, como é que tu brincas com marginais, amor? - Questionou a
Guilhermina.

— Meu bem, só brinco com ele porque ainda dependo do estúdio de música do irmão
para eu gravar as minhas músicas sem pagar. Se não fosse isso, nunca mais falaria com
ele. - Respondeu Mauro.
.

— Não quero que andes nas intimidades com esse tipo de amigos. Temos dinheiro
suficiente para abrir tantos e tantos estúdios de música. Olha, na próxima semana dar-
te-ei um valor para abrires um estúdio de música e, assim evitas depender marginais. –
Prometeu Guilhermina.

— Amor! Não precisava fazer isso, mas já que é uma insistência amorosa, não posso
cometer o desrespeito de recusar um estúdio em meu nome, logo da minha futura
esposa. Ademais, só estou aceitando porque não quero mais ser humilhado com
aquele diabinho de Milagre!

— Isso merece uma comemoração. Amor, vá à cozinha levar uma garrafa de Moët &
Chandon para celebrarmos o nosso namoro. - Disse Guilhermina.

Mauro gritou de tanta alegria e correu à cozinha para levar a garrafa de champagne.
E,quando estava lá, respirou fundo e disse para si:

— Huff! Já me livrei desse diabinho de Milagre. Esse tem boca parece torneira de
cerveja, basta abrir um pouco só, despeja tudo. Esse pode cantar para toda zona que
fiquei com a Guilhermina por causa de dinheiro, por isso, tirei-o da minha trajectória.
Amigos estão cheios por aí, posso fazer outros num piscar de olhos.

Quando Mauro se encontrava na cozinha, Guilhermina tomou o seu celular e


direccionou os seus dedos e olhos directamente ao WhatsApp.

— Mauro!!! Vem cá, agora! – Gritou Guilhermina numa voz revoltante, após ler as
mensagens do WhatsApp.
.

Mauro voltou correndo com as taças e a garrafa de Moët & Chandon para brindar.

— Que foi? Aconteceu alguma coisa, amor? – Questionou Mauro todo preocupado.

— Quem essa tal de Leloca que mandou uma mensagem dizendo! “Oi my love, onde
estás? – Questionou Guilhermina com um rosto repleto de rugas que transpareciam
representar um genocídio no interior das suas células sentimentais.

Mauro ficou congelado durante quinze segundos e só descongelou-se com mais um


grito da Guilhermina:

— Falaaaaaaaaaa! Quem essa coisa de nome Liloca que te manda fotos de tanguinhas
e mostrando esses chinelos no peito?

Retorquiu Guilhermina quebrando o celular no chão.

Continua

*A revolta da Guilhermina
Capítulo -12

Mauro ficou congelado durante quinze segundos e só se descongelou com mais um


grito da Guilhermina:

— Falaaaaaaaaaa! Quem essa coisa de nome Leloca que te manda fotos de tanguinhas
e mostrando esses chinelos no peito? – Retorquiu Guilhermina quebrando o celular no
chão.

O celular do Mauro ficou todo destruído e irreconhecível. Rapidamente este tentou


juntar as peças do celular que estavam espalhadas pelo chão para reanimá-lo, porém,
o celular não demonstrou sinais de sobrevivência.

— Guilhermina, precisavas reagir desta forma, simplesmente por conta dos teus
ciumezinhos sem amplitudes e fundamentos sentimentais? – Mauro colocou em suas
mãos as peças do celular e mostrou à Guilhermina dizendo: — Veja o que tu fizeste
com o meu celular que comprei com tanto sacrifício?

— Querias que eu reagisse de que forma ao ver uma mensagem dessa? Querias que
risse e dançasse para ti? Ou julgas que sou tão parvinha ao ponto de não entender o
quer dizer " My Love" em português? - Interrogou Guilhermina enquanto andava pelos
cantos da sala aguardado uma resposta convincente do Mauro.

— Já viu! Esses são os maiores defeitos das mulheres ciumentas deste país. Não
respeitam as vírgulas e nem se dão ao luxo de compreenderem, que existem palavras
e/ou frases subentendidas nas mensagens das outras mulheres. – Afirmou Mauro com
uma voz intrigante.

Guilhermina aproximou-se do Mauro, olhou visceralmente nos seus olhos e retorquiu:

— Que vírgula foi desrespeitada? Que palavras subentendidas são essas que não
foram entendidas? Alicerces, tu que entendes perfeitamente da gramática das
mulheres ciumentas e prova-me que não és um sem vergonha.

— Explicar? Como vou explicar-te, uma vez que tu deixaste o meu celular sem vida? –
Questionou Mauro.

— Expliques com sua boca, antes que eu quebre a tua cabeça também. - Guilhermina
voltou ao sofá e sentou-se contestando: — Como pude me enganar assim? E minha
mãe sempre dizia que homens são todos chulé do mesmo sapato e, odorosamente
pensei que fosses um chulé que se cheire, mas parece-me que és o mais tóxico que os
outros.

— Amor!!! Tu não leste bem e com calma. A mensagem estava escrita; "Oi, my love
(está vindo) onde estás (vamos perder o carro)? Isso era para dizer que My love estava
chegando na paragem e tu não respeitaste as vírgulas e as frases subentendidas.
Ademais, seu Inglês está atrofiado, pois em Moçambique, "my love" também significa
"carro com caixa aberta". – Fundamentou o Mauro.

— E as fotos seminuas que essa suja te mandou? Também têm saias e blusas
subentendidas? – Perguntou Guilhermina.

.
Mauro ficou outra vez num silêncio assustador ao ouvir aquela questão titubeante e,
segundos depois dramatizou:

— Não fala assim da minha melhor cliente de calcinhas e sutiãs. Ela mandou as fotos
para mostrar que as calcinhas lhe serviram bem, pois ela estava em dúvida dos
tamanhos quando comprou. Puxah! Tu partes o meu celular, chama-me nomes e
insulta as minhas clientes. – Pegou as suas roupas e disse: — Não dá mais para ficar
aqui ouvindo incriminações e injurias.

— Amor, espera! Não vá, por favor. Peço desculpas, pois não sabia que a Leloca
comprava calcinhas contigo. Desculpa meu Amor! - Disse Guilhermina enquanto
travava o Mauro de enfiar as calças no seu corpo.

Mauro segurou as mãos da Guilhermina e com uma voz clemente disse:

— A Bíblia sagrada diz: “O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal,
conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros”. (Hebreus 13:4). E tu
achas que vou perverter bem antes do nosso casamento?

— Amor, não precisa evocar o santo nome de Deus por conta dos meus ciúmes sem
fundamentos. Esquece isso e vamos ser felizes. – Declarou a Guilhermina dando um
abraço forte ao Mauro.

— Está bem, mas não voltes a cometer o erro de não leres bem as mensagens e a
desrespeitar as minhas clientes… Veja só, por causa dos teus ciúmes acabei ficando
sem celular. - Expôs o Mauro num abraço caloroso.

.
— Não te preocupes!! Amanhã vamos comprar outro celular para ti. E quem sabe
também não te ofereça um carro zero quilómetro comprado na África do Sul como um
pedido de desculpas, meu amor.

— Ia adorar muito, mas não gosto de carros de luxo, mas já que é uma oferta amorosa,
não dá para negar. – Comentou o Mauro com um sorriso enorme nos lábios.

— Vamos, meu amor. A cama nos espera para mais um duelo de troca de fluidos
corporais. – Convidou a Guilhermina.

Mauro carregou a Guilhermina nos seus braços até ao quarto para mais uma sessão de
terapia ocupacional. ☄

"E cinco anos se passaram.”

Continua

* A Revolta da Guilhermina

- Capítulo 13
.

"5 ANOS DEPOIS"

Juro que, mesmo os ditos Deuses dos sentimentos temeriam aquela confiança
amorosa que brotara de forma súbita naquele casal. Era tanta esperança entrelaçada
de beijos, abraços, juras de amor e a incansável troca de fluidos orgânicos em todos
turnos e ângulos da casa, sem se obedecer qualquer preceito da dignidade humana.

Aliás, foram estas coisas que levaram a Guilhermina a deixar sua luxuosa casa por
alguns dias para ir à Manjacaze lobolar o Mauro.

Ela só foi lobolar aquele rapaz por conta do respeito pelo espírito do tio Madeira que
falava frequentemente com o Mauro nos seus sonhos avisando que, se este não fosse
lobolado, aquele casamento seria amaldiçoado e, seu filho, Salvamor de quatro anitos,
teria problemas psicológicos quando crescesse.

Após o tão esperado casamento que foi realizado à porta fechada e sem muitos
convidados, Mauro sugeriu a sua amada que largassem tudo e fossem morar em
Pretoria, na África do Sul, alegando que em Moçambique havia tantos invejosos e, com
certeza iriam mandar feitiços para eles.

Mesmo morando doutro lado da fronteira, Guilhermina costumava com muita


frequência voltar à Moçambique para ver seus negócios e visitar a família e sua amiga
confiada, a Verónica.

.
Numa tarde de verão, sol intenso e com o céu divorciado de nuvens, quando a
Guilhermina visitava sua melhor amiga, Verónica pediu para que a acompanhasse até
ao mercado de Xipamanine e ajudasse nas suas compras com seu carro.

Quando se encontravam naquele mercado, Guilhermina pediu para que sua amiga
adiantasse com as compras no seu carro, pois queria ver se a antiga barraca do seu
marido sofrera algumas mudanças depois de tanto tempo.

— Desculpa, a senhora perdeu alguma coisa por aqui? - Questionou o actual dono da
antiga barraca do Mauro ao perceber-se que alguém estava olhando atentamente a
sua barraca.

— Nada, amigo, estava apenas prezando esta barraca. Ela pertencia ao meu esposo e,
vendia bebidas alcoólicas. - Explicou Guilhermina num sorriso cheio de vida.

Do outro lado daquela barraca, estava um jovem magro vestido de umas calças jeans
velhas, uma camisa repleta de furos e calçavanos seus pés uns chinelos que clamavam
um eterno descanso que, ao ouvir o nome do seu amigo Mauro interrompeu a
conversa questionando:

— Ola ! Desculpa, acho que conheço a senhora de algum lugar. Se a memória visual
não me induz ao erro, a senhora deve ser a famosa Guilhermina, a ex-patroa do meu
falecido amigo Mauro, estou a mentir?

Quando Guilhermina olhou para aquele jovem que carregava consigo um cigarrito na
ponta dos dedos com as chamas abraçando o filtro, imediatamente teve a impressão
de se tratar de alguém que conhecia bem seu marido.
.

— Mentiu, não sou a ex-patroa, mas sim, a esposa dele, casados há cinco anos, com
um filho de quatro anos e moramos juntos na South. E você? – Olhando de baixo para
cima, Guilhermina pergunta. — Deve ser o tal desgraçado de Milagre, acertei?

— Errou, pois não sou desgraçado, mas sim, alguém que por muito tempo acreditou
que o seu melhor amigo estava enterrado numa vala comum. – Milagre pegou o
queixo e questionou serenamente. — Como esse sacana pode estar vivo? Ele foi capaz
de inverter o nosso plano mentindo para mim durante todo esse tempo?

Imediatamente uma avalanche de curiosidade sugou a Guilhermina e esta retorquiu


soltando um arsenal de questões carregados de ansiedade:

— Não chame de ladrão meu esposo e pai do meu filho. E que historia é essa de mentir
para ti?

Com os olhos escorrendo lágrimas, Milagre inclinou-se e respondeu:

—Traçarmos um plano milionário e, o combinado era metade para cada um, pelos
vistos, ele se deu bem e não me disse nada. Acredito que até terminou o seu namoro
com a pobre Leloca que estava grávida dele, só para usufruir tudo sozinho.

Guilhermina ficou atordoada ao lembrar que seu marido implorou todos os dias para
que levasse sua ex-compradora de calcinhas e seu filho para trabalhar como
empregada doméstica na sua nova casa, alegando que estava grávida e o pai não
assumiria o filho. Esta levanta e questiona:

.
— Espera aí, a Leloca que você está falando, não é aquela moça magra, alta e um
pouco clarinha que comprava calcinhas com Mauro?

— Calcinhas? Mauro nunca vendeu calcinhas na vida. A única coisa que tinha na sua
barraca era bebida alcoólica e, esta tal de Leloca, é uma jovem cantora que
conhecemos no estúdio de música e ficou grávida dele. A senhora conheceu esta tal
barraca de calcinhas?

Imediatamente a Guilhermina começou a transpirar de forma estranha e lágrimas


escorriam nos seus olhos sem piedade:

— Milagre, meu amigo. Posso dar-te tudo que você quiser se me contar mais coisas
que sabe – Pediu Guilhermina de joelhos.

Ao perceber que o chão daquela senhora estava prestes a desabar ao ouvir aquelas
informações drásticas, Milagre viu-se na certeza, de que chegara a hora certa de se
vingar do seu amigo.

Continua

*A Revolta da Guilhermina

- Antepenúltimo capítulo*

.
Capítulo 14

Ao perceber que o chão daquela senhora estava prestes a desabar, ao ouvir aquelas
informações drásticas, Milagre viu-se na certeza, de que chegara a hora certa de se
vingar do seu amigo.

— Olha, minha querida. Não preciso de nenhum centavo seu! Vou contar-te toda
verdade com maior prazer, amor, lágrimas, excitação e raiva que sinto daquele traidor.
Senta-te aqui, se tiver um caderno e uma caneta para apontar tudo, será bem melhor.
– Disse Milagre enquanto sentava-se para abrir a sua caixinha de segredos.

Antes de sentar-se para ouvir as artimanhas do seu marido, Guilhermina enviou uma
mensagem para a sua amiga, informando-a que ia demorar alguns minutos.

Foram mais de trinta minutos de conversa, lágrimas escorrendo nos olhos da


Guilhermina, verdades apimentadas e bem temperadas, mentiras acrescentadas e
bem formuladas, suor brincando no corpo da Guilhermina e a respiração da
Guilhermina dançando de forma desregulada ao fazer cruzamentos das informações
na dor das lembranças que vinham de todos cantos da sua memória.

— Sem vergonha, afinal namorava a Leloca que estava grávida dele? Como fui tão
burra ao levar a Leloca para trabalhar na minha casa como empregada doméstica sem
desconfiar de nada? Esse homem vai ter o que merece. - Revoltou-se a Guilhermina.

Para piorar a situação e deixar a Guilhermina mais revoltada com o seu marido e, ver a
sua vingança concretizada, Milagre acrescenta:

.
— Sim, o safado pouco falava dessa Leloca nas nossas conversas, mas eu sabia que ela
estava grávida de dois meses e namoravam nas escondidos. Se ele levou a Lelola para
trabalhar na tua casa com esse filho, com certeza esse filho é dele e ainda namoram
debaixo do seu tecto e do seu nariz. Assim sendo, a senhora é esposa dele, madrasta
do filho, amante da na sua própria casa, patroa da sua rival, esposa de um marido falso
e dona de um par de chifres maiorque a Torre Eiffel.

Guilhermina levantou-se rapidamente daquele lugar, limpou as suas lágrimas e disse:

— A festa acabou para eles. Amanhã esse filho da pulga vai saber o que é bom para
gripe, pois amanhã cedo irei para casa e acabar com eles.

— Guilhermina, você é uma mulher rica, o porquê de esperar até amanhã para viajar?
Você pode muito bem ir até ao Aeroporto e compra uma passagem aérea urgente e
acaba com a festa ainda hoje. Acredito que a essa hora devem estar numa festa na sua
própria cama. - Sugeriu Milagre.

Guilhermina pegou na sua carteira, tirou um cartão de visita e entregou ao Milagre


dizendo:

— Milagre, este é meu contacto e junto dele, tem o endereço da minha casa. Mande
uma mensagem com seu número e contar-te-ei o desfecho dessa pouca vergonha.
Fique bem e que Deus abençoe você, meu anjo.

Guilhermina correu de imediato para o seu carro e pôs-se a conduzir em direcção ao


Aeroporto internacional de Maputo.

.
— Irmã, mudanças de plano. Já não poderei jantar em sua casa hoje, pois tenho de
viajar agorinha para a minha casa na África do sul. Preciso tirar à limpo uma história
patética. -

Disse a Guilhermina enquanto dirigia seu carro.

Curiosa e preocupada com estado de ânsia da sua amiga, Verónica questiona:

— Que aconteceu, amiga? Alguma coisa com seu maridão?

— Marido uma bosta. Afinal está me traindo há cinco anos com a Leloca, a minha
empregada. Aquela que dei de comer todo esse tempo, dei dinheiro para ela entrar na
universidade na África do Sul, dinheiro para seus filhos irem à escola e para vestir, uma
casa para ela viver em meu quintal, afinal de contas, está consumindo o meu marido.

— Sério? Mauro não tem cara de fazer isso. Aquele é um amor em pessoa e tem cara
de gente santa.

— " As aparências enganam", amiga, mas vou tirar à limpo isso e, alguém vai morrer
hoje.

Guilhermina deixou seu carro com a Verónica e, pediu para que seu motorista viesse
buscar para sua casa e partiu para África do sul.

Quando chegou em sua casa, por volta das 22h e algumas sobras.

.
Encontrou um novo segurança na porta da sua casa e esta assustada e curiosa
pergunta:

— Boa noite, quem és tu na porta da minha casa a esta hora? Pode afastar-se, pois
quero entrar na minha casa para falar com meu marido?

O segurança estranhando aquela senhora que era tão desconhecida para os seus
olhos, logo nas suas primeiras horas de trabalho, responde:

— Desculpa minha senhora, não a conheço e a dona desta casa está dormindo e
ninguém está autorizado à entrar nesta casa. Se quiser entrar vai ter que tocar a
campainha para os donos da casa autorizarem a sua entrada, caso contrário, espere
até ao amanhecer.

— O quê? O senhor está me dizer para eu tocar a campainha da minha própria casa?
Por favor, afaste-se da porta e deixa-me entrar. - Disse Guilhermina enquanto tentava
passar pelo segurança.

Contínua...

*A Revolta da Guilhermina
– Penúltimo Capítulo*

Capítulo 15

Foram inumerosas tentativas para convencer ao segurança de que aquela, tratava-se


da sua casa que comprara com multiplicados sacrifícios, mas sem sucesso.

Com isso, Guilhermina viu-se obrigada a passar ao ar livre aquela tenebrosa noite de
frio que gelava até o interior dos ossos do seu esqueleto humano.

Tinham lágrimas espalhadas naquele rosto, havia dentro daquela sofrida mulher; um
coração estilhaçado de tristezas derivadas de dores sem limites, povoavam em seu
triângulo de pensamentos; somas avultadas de arrependimentos e guardavam-se num
terço da sua memória ideias mortíferas trazidas de um presente que se prendiam de
um passado estatisticamente coberto de arranjos simples e combinações perfeitas de
dois elementos humanos desprovidos de razões e proporções sentimentais.

Enquanto a Guilhermina lutava com os poucos centímetros do pano do seu vestido


para cobrir as arestas das suas pernas e com braços tentando desenhar diversas curvas
gaussianas para se escapar dos mosquitos que procuravam vitaminas sanguíneas em
todos ângulos do seu corpo, Mauro calculava de forma vertical e horizontal, inusitadas
posições sobre os vértices da Leloca naquela que era cama da sua dita mulher.

Quando a interminável madrugada decidiu dar uma oportunidade a um novo dia, por
volta das seis horas e algumas esperanças, o segurança da casa toca a campainha
falante da casa:

.
— Patrão, tem uma senhora chamada Guilhermina aqui fora querendo falar com o
senhor e diz ser a dona da casa. Dormiu aqui do meu lado toda noite. Ela disse que vai
entrar por bem ou mal, posso autorizá-la? – Questionou o segurança.

Mauro ficou matematicamente baralhado em seus pensamentos, recalculou


rapidamente a probabilidade daquela informação que ouvira do segurança ser uma
mentira, porém ouvira de longe um grito estúpido dizendo: “abra esse portão, seu
covarde” e, imediatamente Mauro autorizou a entrada da sua esposa.

— Leloca, acorda. Despacha-te e saia deste quarto imediatamente. A louca da


Guilhermina voltou de viagem sem dizer nada e está entrando. Rápido! Veste seu
avental e corra para cozinha e faça de contas que estava preparando o pequeno-
almoço para mim, pois se ela te encontrar aqui, adeus ao nosso futuro. – Disse Mauro,
enquanto organizava a bagunça triunfada durante a noite anterior.

— Mas essa desgraçada que já não avisa quando quer voltar à casa está confiando o
quê mesmo? Aliás, tu trocaste as trancas da casa e os seguranças para qual fim? –
Indagou Leloca enquanto descia da cama e arrumava as suas coisas.

— Tu sabes que só faltava forjar alguns documentos para arrancarmos tudo desta
maldita e vivermos felizes com os nossos filhos nesta casa, mas ela acabou chegando
bem antes de executarmos este plano. - Explicou Mauro.

Guilhermina dirigiu-se até à varanda da casa e deparou-se com a porta principal da


casa com novas trancas. Mais uma vez, viu-se impedida de entrar em sua própria e
pôs-se a bater à porta.
.

— Senhor, abre lá essa porta. Já estou quase estourada de nervos com essas suas
brincadeiras. E, sei muito bem que estás com essa vadia de Leloca na minha cama. -
Ordenou Guilhermina.

— Ela já está na porta. Corre para cozinha e atira as suas coisas da janela da cozinha e
vais apanhar depois. - Mauro correu desesperadamente ao corredor da sala e gritou.
— Estou procurando as chaves meu amor, um minuto, minha princesa.

Depois de tantos rodeios para criar uma cena que a Guilhermina não desconfiasse que
a noite fora uma criança. Finalmente Mauro abriu a porta.

Continua

* A Revolta da Guilhermina

- Último Capítulo*

Capítulo 16

.
Depois de infindáveis rodeios para criar uma cena que não se desconfiasse de nada,
finalmente Mauro abriu a porta para Guilhermina.

— Em que lugar está sepultada esta vadia de me*da? Quero desenterrar e fazê-la
cuspir a cada grão de arroz que comeu às custas do meu suor. – Perguntou
Guilhermina empurrando o Mauro da porta. —Traga-me essa "p*ta" avulsa armada
em empregada doméstica. - Procurava sua rival em todos ângulos da casa.

Ao colocar seus pés na cozinha, seus olhos finalmente encontraram a Leloca, cantando
e lavando louças e, fingia friamente que não ouvia os berros da sua patroa.
Guilhermina acelerou, agarrou os cabelos da coitada e atirou-lhe pelo chão dizendo:

— Sua estúpida, prostituta doméstica ! Fizeste-me de parva todo esse tempo, mas,
hoje saberás de verdade que nem toda parva é otaria.

— Patroa, espera um pouco, assim vai estragar meus cabelos e, não sei nada do que a
senhora está falando. Ademais, nunca lhe fiz de parva. – Apregoou Leloca com os olhos
enchidos de lágrimas de crocodilo.

— Ok! Ok! Vai me explicar isso fora da minha casa. Aposto que esse cabelo é meu e
aqui não fica nem sombra de uma vadia armada em empregada doméstica. Julgas que
não sei que andavas com meu homem?

— Seu marido foi apenas um bom vendedor de calcinhas há algum tempo e mais tarde
meu patrão, nunca andei com Patrão, Senhora. - Explicou Leloca.

.
Guilhermina segurou novamente com muita força a Leloca pelos cabelos e arrastou-a
sem piedade para fora da casa.

Mauro correu para segurar a Guilhermina e impedi-la de magoar a Leloca, mas foi
recebido com uma bofetada quente e ficou no estado de repouso no chão da sala e
passando as mãos na sua bochecha.

— Tire suas mãos sujas de mim, antes que eu faça picadinhos da sua pessoa em dois
segundos. Seu falso, deixa-me tirar essa suja debaixo do meu teto e vai se preparando.
SUJO! - Disse Guilhermina apontando o dedo ao Mauro.

Leloca gritava desesperadamente por um socorro ao ser arrastada pela fúria da


imparável Guilhermina. O segurança da casa tentou socorrer, mas percebeu que o
assunto não era do seu gabarito e, pôs-se em fuga.

Após escorraçar a sua rival à sangue frio, Guilhermina foi à casota onde a Leloca
morava com seus filhos. Retirou todas suas coisas, deixando apenas as das crianças,
destruiu e jogou-as na lixeira.

Enquanto isso, Mauro assistia tudo pela janela junto das crianças que acordaram com
os gritos que explodiam por toda casa.

Guilhermina voltou à sala e encontrou seu marido abraçando desesperadamente as


crianças que carregavam lágrimas e susto.

— O senhor ainda não se arrumou, porquê?


.

Mauro levantou-se de forma serena da cadeira e tentou abraçar a Guilhermina


dizendo:

— Para onde vamos, minha princesa? O que fez com a coitada da nossa emprega? Está
agindo assim por qual razão? Está muito nervosa, Amor.

— Vamos à porcaria da p*ta da sua mãe. Essas perguntas sínicas farás à tua mulher, a
Leloca que está lá fora esperando por ti. - Guilhermina ordenou. — Arruma
rapidamente as tuas três cuecas que compraste com teu dinheiro e suma da minha
casa.

— Amor? Que isso, agora? Que está acontecendo com você? - Questinou Mauro
fazendo-se de maior inocente das suas DÍVIDAS OCULTAS.

Guilhermina aproximou-se do Mauro e disse:

— CORRUPTO do amor! Como podes enganar alguém com seus BARCOS


ENSARDINHADOS de mentiras e traições? Que crueldade mais cruel para com sua
esposa que te deu um VOTO de confiança? Quanta maldade arquitetar um NEGÓCIO
dentro da minha própria PÁTRIA de forma OCULTA e deixar-me numa CRISE? -
Lamentou Guilhermina com lágrimas aterrando nos seus olhos.

— Jamais faria isso, amor! Olha, não grita comigo antes fazer uma AUDITORIA
sentimental e não fala besteiras em frente das crianças. Deixa-me explicar o que
aconteceu e, você deve acreditar somente no seu PARCEIRO.

.
Senta-se aqui e não destrua um casamento de muito amor. – Disse Mauro enquanto
aproximava-se da Guilhermina e, recebeu mais uma bofetada.

— Amor uma ova! Não quero mais ouvir sequer uma palavra da sua boca e, estas
crianças devem saber que cobra de pai elas têm e igualmente saber que tu destruíste a
minha vida, nosso lar, a vontade de viver e o futuro deles. Agora, rua da minha casa. -
Disse Guilhermina.

— Paixão, não faça isso comigo e com as crianças. Que educação você está dando à
elas falando essas mentiras sobre mim? Sabe que podem crescer com traumas,
odiando e com uma imagem distorcida do seu pai? Está sendo muito injusta com um
homem fiel. Eu te amo e você sabe muito bem disso.

— Já te ordenei para sair da minha casa ou queres sair daqui molhado com água
quente no seu corpo? - Questionou Guilhermina empurrando o Mauro para fora de
casa. Enquanto isso, as crianças assistiam a cena com os olhos acesos de lágrimas.

— Larga-me, mulher vencida. Não precisa humilhar-me em frente dos nossos filhos.
Você não é mulher para fazer isso comigo, pois além de ser uma mulher caducada,
você que me procurou para casar e, aceitei-te por pena e falta de opção. Conheço
muito bem a porta desta casa, só quero levar as chaves do meu Ranger.

— Finalmente a sua máscara caiu! - Guilhermina olhou para seus filhos e disse: —
Viram como o vosso pai foi cruel com a mamãe? Perceberam como foram enganados
por um homem que julgavam ser um pai de verdade, mas que não tem nada no
coração? - Guilhermina olhou novamente para o Mauro e disse: — Não vais levar nada
desta casa além das suas três cuecas e este carro, apenas dei-te como presente e não
vai ao lugar nenhum. O presente é meu, dou e retiro quando quiser.
.

— Não preciso nada que vem de uma antiquada que não serve nem para a minha
satisfação sexual. - Mauro olhou para seus filhos: — Eu já não suportava mais os
abraços desamassados e que só me criavam alergias e beijos sem sabores da vossa. -
Olhou para Guilhermina e acrescentou: — Quer saber? Sou muito apaixonado pela
Leloca, sim e você é uma sucata que apenas sustentava aos nossos caprichos. -
Ressaltou Mauro.

O semblante da Guilhermina ficou pequeno para colher a quantidade de lágrimas que


espraiavam no seu rosto em cada palavra cuspida da boca do Mauro. Esta atirou-lhe
mais uma bofetada e arrastou-o até fora da casa junto da Leloca. Enquanto isso, as
crianças tentavam evitar que o pai fosse arrastado da casa, mas sem sucesso.

— Nunca mais ponham os pés em minha casa. Estúpidos! - Disse Guilhermina


enquanto fechava a porta e entrou com as crianças.- Afirmou Guilhermina.

De mãos vazias e sem pelos menos uma agulha, Mauro e Leloca deixaram a casa da
Guilhermina e seus filhos e regressaram à Moçambique.

*SEIS MESES DEPOIS*

Guilhermina encontrava-se na sala da sua casa, num pleno sábado, cheio de sol
conversando com seus filhos e seu actual marido. Seu celular toca e esta corre para
atender:

— Aló! Quem fala?

.
— Fala com Mauro, seu ex-marido, seu tudo, aquele que você sempre amou. Já não te
lembra da minha voz, minha Gui?

— Ham! Mauro… Mas onde, como e com quem conseguiu meu contacto?

— Não desliga! Por favor, ouve-me, ainda que seja por um minuto. Não importa como
consegui seu contacto, pois quem ama sempre consegue as coisas. Tenho algo muito
importante para te dizer, amor da minha vida:

— Fala, tens trinta segundos.

— Meu amor, sinto tantas saudades de ti, dos nossos filhos e da nossa vidinha. Saiba
que não vivo sem teu toque, seus abraços e beijos e nunca parei de pensar em nossa
família. Enganei-me com a Leloca e quero voltar para ti, meu amor.

— Mauro, por favor, não volte mais a ligar para mim! Sou casada com outro homem a
quem amo muito. Seja feliz com a jovem que você escolheu para ti. Lembra que uma
velha não dá para ti? – Lembrou Guilhermina ao Mauro.

— Que marido? Passam só seis meses e não acredito que tenha conhecido tão rápido
um outro homem e casar com ele. Quem é essa pessoa? Será que conheço?

— Conhece sim. Chama-se Milagre, conheci no mercado de Xipamanine e é com ele


que vou passar o resto da minha vida. Não me procures, ainda que seja por engano.

— Quem? Milagre? Milagre aquele meu amigo? ALÔ? Gui?


.

A chamada caiu...

Mauro quase desmaiou com o celular nas mãos, ao perceber que a sua Guilhermina já
estava casada e feliz com alguém que foi seu melhor amigo e cuidando seus próprios
filhos, o Milagre.

Abandonado pela Leloca por não ter mais condições de sobrevivência. Hoje, Mauro
vive por aí, andando, orando, pregando as sagradas escrituras, ensinando as pessoas o
amor de Jesus Cristo e levando aos corações a importância da família e da fidelidade.

FIM!!!

" As Aparências Enganam"

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