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A prática clínica baseada em evidências: Parte III Avaliação crítica das


informações de pesquisas clínicas

Article  in  Revista da Associação Médica Brasileira · April 2004


DOI: 10.1590/S0104-42302004000200042

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3 authors, including:

Moacyr Roberto Cuce Nobre Wanderley Marques Bernardo


Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo University of São Paulo
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A PRÁTICA CLÍNICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS - PARTE III
Artigo Especial

BASEADAA EM EVIDÊNCIAS: PARTE III


A PRÁTICA CLÍNICA BASEAD
AVALIAÇÃO CRÍTICA DAS INFORMAÇÕES DE PESQUISAS CLÍNICAS
MOACYR R OBERTO CUCE N OBRE*, WANDERLEY M ARQUES BERNARDO, FÁBIO BISCEGLI JATENE
Trabalho realizado na Associação Médica Brasileira, São Paulo, SP.

RESUMO – No presente artigo discutiremos como avaliar critica- pesquisadores no sentido de modificar a evolução dos pacientes.
mente as informações obtidas. Para tanto, serão revistos concei- A hierarquia da força de evidência científica está fundamentada
tos que a epidemiologia clínica tem colocado à disposição da nestas características e na susceptibilidade aos vícios decorrentes
prática clínica baseada em evidências. A pesquisa clínica busca do tipo desenho de estudo. Revisões sistemáticas são considera-
desenvolver meios diagnósticos e terapêuticos medindo associa- das de maior força do que os estudos primários que lhe deram
ções, ou relações de causa/efeito, entre um fator em estudo e um origem, e quando envolvem ensaios clínicos randomizados são
desfecho clínico. Onde o fator em estudo é o sintoma, sinal colocadas no topo da hierarquia. Desde 1998 é crescente a
propedêutico, teste laboratorial, exame de imagem, ou trata- proporção de “diretrizes clínicas baseadas em evidências” quan-
mento. E o desfecho clínico é o reconhecimento da doença, cura, do comparada às revisões sistemáticas, ou às publicações sobre
morte ou limitação. É um erro básico de interpretação tomar os diretrizes em geral, embora as primeiras sejam ainda em número
marcadores intermediários como desfechos clínicos. Os desenhos reduzido. A avaliação crítica do artigo deve responder uma ques-
de estudo na área clínica apresentam quatro enfoques principais: tão clínica, e ser consistente quanto à adequação do desenho de
diagnóstico, prognóstico, terapêutico, dano/etiológico. Experi- estudo e ao controle dos vícios. Concluímos que se deve oferecer
mentos animais, estudos anatômicos, fisiológicos, genéticos, atualização metodológica aos profissionais interessados, e colo-
farmacológicos, análises econômicas são necessários à formação car a informação já avaliada à disposição de todos, elaborando e
básica do médico, no entanto, não colaboram diretamente para a divulgando diretrizes baseadas em evidências.
tomada de decisão clínica. Os desenhos de estudo são classificados
de acordo com a presença de grupo controle, seguimento dos UNITERMOS: Avaliação crítica. Desfecho clínico. Desenho de estudo.
pacientes ao longo do tempo e presença de intervenção dos Medicina baseada em evidências. Diretrizes. Pesquisa clínica.

INTRODUÇÃO forma de P.I.C.O, incorporando as caracte- assunto ligado à metodologia científica é de


A prática da medicina de boa qualidade rísticas do paciente (P), a intervenção ou interesse de quem pratica a medicina longe
começa pelo reconhecimento da dúvida indicador (I) da qual se quer a evidência, o dos centros universitários. Qual a necessida-
sobre qual o procedimento mais eficiente controle ou condição habitual a ser compara- de deste profissional? Será que ele precisa
para o atendimento do paciente. Qual a da (C), e o desfecho ou outcome (O) que se reciclar seus conhecimentos e dominar essa
estratégia diagnóstica de maior acurácia, espera1. No segundo artigo da série vimos metodologia? Ou será melhor ele receber a
considerando as limitações de acesso e cus- como podemos fazer a busca da resposta em informação previamente avaliada? Ou ainda,
to? Qual o procedimento terapêutico mais bases de dados, onde se encontram essas será que ele tem condições de praticar a
indicado para o controle da doença? Quais as bases, e como a internet pode ser útil na medicina de acordo com a informação mais
medidas preventivas para se evitar o apareci- busca da resposta2. No presente artigo discu- gabaritada? Quem precisa fazer a avaliação
mento da doença ou de suas complicações? tiremos como avaliar criticamente as infor- crítica da literatura médica? O que é
No primeiro artigo desta série sobre mações obtidas. Para tanto serão revistos prioritário: ensinar o profissional a avaliar
“Prática Clínica Baseada em Evidências”, conceitos que a epidemiologia clínica tem criticamente a informação ou colocar à sua
vimos como a partir de um cenário clínico do colocado à disposição da prática clínica base- disposição a informação já avaliada?
paciente alvo do atendimento podemos ada em evidências. Para os interessados em Ao se terminar uma aula em que diversos
construir uma pergunta bem estruturada na se aprofundar nessa área do conhecimento aspectos da medicina baseada em evidências
recomenda-se a literatura básica desenvolvi- e dos fundamentos da epidemiologia clínica
da nas décadas de 80 e 90 por Fletcher3, são apresentados, costuma vir a pergunta
*Correspondência Sackett 4, Feinstein 5, introduzida no nosso fatal e inevitável: Como é que essas reco-
Associação Médica Brasileira
Rua São Carlos do Pinhal, 324 meio por Schmidt e Duncan6. mendações podem ser praticadas no mundo
01333-903 – São Paulo – SP A primeira questão que se coloca é se o real? Como, na rotina assistencial, se pode

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solicitar exames com a racionalidade preco- pesquisa, ou atribuem medidas de custo ao protocolo de pesquisa têm menor possi-
nizada pela probabilidade condicional de financeiro. A epidemiologia clínica coloca bilidade de serem aplicadas na prática médi-
Bayes? Como fazer isso, se no mundo real esses estudos dentro dos conceitos de efi- ca habitual. Não podemos esquecer que
quem determina os exames que podem ser cácia, efetividade e eficiência 3. A eficácia mesmo os ensaios de efetividade gerados
pedidos é a restrição econômica da fonte diz que uma intervenção qualquer, por em populações e países com características
pagadora? Não bastasse a pressão que limita exemplo, a prescrição de um medicamento, muito diversas das nossas nem sempre po-
a autonomia profissional, há a pressão no funciona no mundo artificial, onde não só as dem ser aplicados ao nosso paciente.
sentido oposto da sociedade, que estimula o questões relacionadas com a administração
consumo desenfreado de procedimentos do remédio e aderência ao protocolo de Desfechos clínicos
diagnósticos e terapêuticos. Embora muitas pesquisa estão sob controle, como também A pesquisa clínica busca desenvolver
vezes seja expressa pelo paciente, a pressão as funções orgânicas dos participantes da meios diagnósticos e terapêuticos medindo
tem origem numa poderosa dupla composta pesquisa. É o que acontece nos ensaios fase associações, ou relações de causa/efeito,
pela mídia fantástica e sua parceira, a lucrativa I ou II realizados com pacientes hospita- entre um fator em estudo e um desfecho
indústria da saúde. Sem falar na influência dos lizados, voluntários sadios, e experimentos clínico. Onde o fator em estudo é o sintoma,
interesses securitários, a mão de ferro com modelos animais. Diferentemente da sinal propedêutico, teste laboratorial, exame
corretora dos desvios que se contrapõem artificialidade que cerca os estudos de eficá- de imagem, ou tratamento. E o desfecho
aos interesses do mercado. Convenhamos, é cia, a efetividade diz que uma intervenção clínico, outcome na língua inglesa, é o reco-
muita pressão sobre quem tem como obje- funciona no mundo real, já que o paciente se nhecimento da doença, cura, morte, limi-
tivo auferir remuneração digna em decor- encontra no ambiente livre do seu dia-a-dia, tação funcional, complicação evolutiva, ou
rência da prática qualificada. Mas será que como os tratamos no consultório. Por últi- qualquer outro desfecho clínico que interfira
esses dois mundos são tão distantes como mo, o conceito de eficiência diz que deter- com o tempo ou a qualidade de vida. Não são
parecem? Qual o tipo de ponte que precisa minado procedimento além de efetivo é incluídos entre esses últimos os marcadores
ser construída para aproximá-los? Quais os economicamente vantajoso. biológicos ou de imagem porque a presença
buracos que precisam ser tapados? O custo do atendimento acaba interferin- do fator reumatóide não significa a presença
Tudo começa na boa relação médico- do com os limites da prática médica. Por da doença reumatóide, como a elevação do
paciente, na atenção que o profissional dis- maior que seja a disponibilidade de recursos colesterol sérico não representa a doença
pensa ao paciente quanto aos seus valores, econômicos, eles são finitos. Ao contrário, as coronária, como a contagem de CD4 não
crenças e preferências. Daí a necessidade de alternativas que a tecnologia diagnóstica e significa infecção oportunista no portador do
uma forte formação calcada em valores hu- terapêutica colocam à disposição do atendi- vírus HIV, como a hemoglobina glicosilada
manitários, que atenda as necessidades de mento à saúde crescem continuada e indefi- não representa a evolução da diabete, e o
comunicação interpessoal. Numa sociedade nidamente. No entanto, as análises econô- abaulamento do disco intervertebral não
que privilegia as responsabilidades individuais micas dos estudos de custo/eficiência dizem quer dizer que existe uma hérnia discal. A
em detrimento das causas estruturais do mais respeito aos planejadores de serviços, definição da doença pressupõe obrigato-
adoecimento, a comunicação, o diálogo e as como os de eficácia interessam mais de perto riamente a presença de outras manifestações
questões educativas desempenham papel aos pesquisadores envolvidos nas fases ini- além da presença destes marcadores inter-
central no atendimento. Isto reconhecido, ciais de desenvolvimento de novas drogas. A mediários, da mesma forma que essas condi-
como melhorar a efetividade dos proce- todos nós que clinicamos, os estudos de ções clínicas acontecem na ausência deles.
dimentos médicos? efetividade são os prioritários. Sempre haverá um conjunto de manifes-
Tanto o planejamento do estudo, o ce- tações que representa o padrão-ouro para
Procedimentos efetivos nário da pesquisa, como a forma de se definição da doença, ou ela se dará por meio
Os procedimentos clínicos são de duas medir os resultados interferem quando va- de sua evolução clínica.
naturezas principais: aqueles que visam reco- mos aplicar a informação da pesquisa no Outras evidências mostram que o marca-
nhecer, diagnosticar e predizer a evolução de paciente o qual estamos cuidando. A maior dor intermediário pode enganar o raciocínio
agravos na condição de saúde e as inter- possibilidade de aplicação dos resultados médico7. A redução endoscópica de ulcera-
venções que visam tratá-los ou preveni-los. depende das semelhanças entre o nosso ção gástrica observada com os antiinflama-
A medida da associação existente entre paciente e os pacientes que foram pesqui- tórios inibidores da COX-2 não é acompa-
o fator em estudo e o desfecho clínico pode sados, em sua dimensão biológica, clínica, nhada por redução de perfurações e sangra-
ser feita em diferentes contextos de pesqui- psíquica, social e cultural. Por razões óbvias, mentos. O aumento da densidade óssea ao
sa, como os que lidam com as pessoas em as informações geradas em animais de labo- exame radiológico devido à terapia com flúor
seu mundo real, outros que elegem situa- ratório, voluntários e pacientes hospitaliza- na osteoporose pós-menopausa não reduz
ções artificiais de controle sobre o objeto de dos com a finalidade de garantir a aderência a ocorrência de fraturas. O equívoco do

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A PRÁTICA CLÍNICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS - PARTE III

marcador intermediário é capaz de induzir Figura 1 – Características a serem observadas na avaliação crítica da pesquisa clínica
mortes evitáveis, como o uso profilático de
lidocaína pós-infarto do miocárdio que reduz
E F E T I V I D AD E D E S FE CH O CL ÍN ICO
o risco de arritmia ventricular, mas aumenta
a mortalidade. O uso de quinidina após o
tratamento cardioversivo na fibrilação atrial, A V A LIA Ç Ã O C RÍT IC A D A P E S Q U IS A CL ÍN ICA
apesar de favorecer a manutenção do sinal
eletrocardiográfico de ritmo sinusal, triplica o
D E SE N H O D E E S T U D O E N F O Q U E D E PE S Q U I S A
número de mortes. E s tu d o de C o or t e D i ag n ó st ico
Portanto, é um erro básico de interpre- E n s ai o C l ín i co P r og n ó st ico
tação de pesquisa tomar os marcadores E s tu d o T r a n sv er s al T er a p ê u tic o
intermediários como desfechos clínicos, por E s tu d o E co ló g ic o D a n o /e tio lo g ia
mais que essa confusão atenda aos interesses E s tu d o C a s o- C o n tr o le
de mercado da indústria farmacêutica, de R e v isã o S is te m á tic a

equipamentos e marcadores biológicos. Eles


devem ser considerados exclusivamente P ES QU IS A B Á S IC A O U DE A P OIO À P ES QU IS A CL ÍN ICA

como fatores preditivos que auxiliam na E s tu d o s d e E f ic ác ia – F a s e I e I I d os E n s a io s C lí n ic os


E stu d os d e Eficiência
E f ic ê n ci a o u C u s t o
tomada de decisão clínica que exige muitas M a r ca d or e s B io ló g ic os I n te r m ed i ár io s
outras competências do profissional qualifi- E s tu d o s F a r m a co ló g ic os , F i sio l óg i c o s e G e n é tic os
cado. Fontes secundárias de informação têm M od e lo s E x p er im e n ta is A n i m a is
colocado restrições na divulgação de pesquisas
clínicas que utilizam desfecho intermediário,
como os InfoPoems7, que só divulgam pesquisas
que tenham desfechos clínicos. tipos básicos de desenho de estudo. Se o estudo e no agregado as informações provêm
registro dos dados de pesquisa se inicia com de registros coletivos, e não individuais.
Tipos de estudo o fator estudado para posterior aferição O terceiro e último desenho básico de
A pesquisa clínica estuda a influência de do desfecho clínico, o desenho observa no pesquisa clínica colhe as informações de
determinados fatores sobre a saúde das tempo a história natural de vida das pessoas, maneira invertida com relação à evolução
pessoas, na forma de um desfecho clínico. por exemplo, o estudo de coorte que segue natural das doenças. Parte do desfecho clíni-
Se esse fator favorece o aparecimento de doen- indivíduos com obesidade com a finalidade co já está instalada e se pergunta ao parti-
ça, o enfoque da pesquisa é chamado etiológico. de estudar sua influência sobre o surgimento cipante do estudo sobre o fator em estudo
No caso específico do agente ser um medi- da diabete. ocorrido no passado. Por exemplo, o dese-
camento ou outra intervenção médica, é As informações sobre o fator em estudo nho do tipo caso-controle com pessoas que
chamado de enfoque de dano. Se o fator em como os do desfecho clínico podem ser têm câncer de próstata como desfecho clíni-
estudo visa o reconhecimento da doença, o colhidas ao mesmo tempo ou no mesmo co, que são indagadas se foram submetidas
enfoque é diagnóstico. Se o fator em estudo intervalo de tempo. Por exemplo, quando o à vasectomia no passado, comparadas com
influencia uma determinada evolução da índice de massa corporal como fator em os controles que não têm o câncer. A indaga-
doença, o enfoque é prognóstico. Se o fator estudo é avaliado em conjunto com a aferição ção clínica, neste exemplo, é se a vasectomia,
em estudo é o benefício de uma cirurgia, dos níveis pressóricos para se estimar a asso- como fator em estudo, está associada ao
medicamento ou uma outra intervenção expe- ciação existente entre obesidade e hiper- câncer de próstata como desfecho clínico.
rimental sobre a doença, o enfoque é dito tensão arterial, esse desenho é chamado Esses são os únicos três desenhos básicos
terapêutico. Experimentos animais, estudos transversal, ou survey na língua inglesa. Se no de pesquisa clínica: coorte, transversal e
anatômicos, fisiológicos, genéticos, farmaco- mesmo intervalo de tempo se mede o fator caso/controle. Todos os demais são varia-
lógicos, análises econômicas e outros estudos em estudo de forma agregada como a taxa ções destes três, como a coorte histórica em
biológicos são necessários à formação básica de infecção hospitalar e o desfecho clínico que os dados sobre o fator em estudo foram
do médico ou para gerar indagações clínicas, registrado como óbitos hospitalares na uni- registrados no passado. A diferença para o
no entanto, não colaboram diretamente para a dade de terapia intensiva, para se avaliar a caso/controle é que a coorte se vale de regis-
tomada de decisão clínica, e por esse motivo associação entre os dois, o desenho é chama- tro confiável, realizado no momento que o
devem ser considerados como de apoio ou do estudo agregado ou ecológico. A diferen- fator em estudo realmente aconteceu. Por
complementares às pesquisas clínicas (Figura 1). ça básica entre eles é que no transversal o exemplo, as coortes de nascimento que ava-
A relação temporal entre o fator em estu- pesquisador afere os dados avaliando indivi- liam a correlação negativa entre baixo peso ao
do e o desfecho clínico determina os três dualmente as pessoas que participam do nascer, como fator em estudo, e a hipertensão

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arterial na idade adulta, como desfecho clíni- Tabela 1 – Tipos de desenho de pesquisa em função da presença de grupo controle,
co. No desenho do tipo coorte histórica, acompanhamento dos pacientes no tempo e intervenção do pesquisador
como na coorte em que os eventos são Grupo Acompanhamento no tempo Intervenção
registrados de forma contemporânea e controle Sim Não
prospectiva, é garantida a precedência do sim ENSAIO CLÍNICO (1) experimental
fator em estudo com relação ao desfecho não ENSAIO NÃO CONTROLADO
clínico, evitando-se o vício que depende da sim COORTE (2) TRANSVERSAL(3)
memória das pessoas estudadas, comum nos não INCIDÊNCIA PREVALÊNCIA
estudos do tipo caso-controle. sim CASO-CONTROLE (4) observacional
Há também o ensaio clínico que apre- não RELATO DE CASOS (5)
senta o mesmo desenho da coorte, com uma Os números entre parênteses correspondem à hierarquia decrescente na força de evidência científica
única diferença: enquanto na coorte as infor-
mações são provenientes da observação
evolutiva, no ensaio clínico elas decorrem de ao fato dos casos e controles se originarem didática, tem um papel fundamental para a
uma intervenção terapêutica dos pesquisa- de populações diferentes, colocam o caso- educação médica, mas argumentar a favor da
dores. No planejamento de um ensaio clíni- controle no quarto patamar. E, por fim, a superioridade da força de evidência científica
co, a aleatorização dos grupos que são ausência do grupo controle coloca o relato da revisão sistemática sobre a revisão narra-
comparados é a melhor forma de torná-los de casos no quinto patamar da hierarquia. No tiva. Trabalho de boa qualidade científica
semelhantes em todas as suas características, entanto, a lógica desta classificação deve com controle de vícios sistemáticos e aleató-
menos quanto ao tratamento que se estuda. ser considerada como mais um instrumento rios mostrou que as revisões sistemáticas são
Estes estudos, conhecidos como ensaios auxiliar na avaliação crítica. Não pode ser duas vezes mais citadas que as revisões nar-
clínicos randomizados, são considerados os confundida com uma regra inflexível. Existem rativas. A análise ajustada para o veículo de
de maior força de evidência científica entre as inúmeros exemplos de trabalhos científicos publicação foi realizada em 170 revistas de
pesquisas de enfoque terapêutico. não controlados, como relatos de casos, com clínica geral, atendimento primário, enferma-
Os desenhos de estudo são classificados força suficiente para comprovar o benefício gem e saúde mental, no ano 2000. Dezenove
de acordo com a presença de grupo contro- clínico da penicilina, ou retirar do mercado revistas concentraram 80% das revisões sis-
le, seguimento dos pacientes ao longo do os anoréticos à base de fenfluramina e fenter- temáticas publicadas, excluídas a Cochrane
tempo e presença de intervenção dos pes- mina, em função do malefício para a válvula Library, que só publica revisões sistemáticas,
quisadores no sentido de modificar a evolu- cardíaca. e o New England Journal of Medicine que veta
ção dos pacientes (Tabela 1). A hierarquia da O artigo de revisão clássico, por vezes na este tipo de publicação8. Revisões sistemá-
força de evidência científica fundamentada na forma de capítulo de livro, é considerado ticas são consideradas de maior força de
susceptibilidade aos vícios decorrentes do uma revisão narrativa. Não apresenta descri- evidência científica do que os estudos primá-
tipo desenho de estudo é consensual entre ção de como as referências foram obtidas, rios que lhes deram origem, tanto o caso-
as agências preventivas canadense e norte- nem como foram avaliadas criticamente, controle como a coorte. A revisão sistemática
americana, e as sociedades de especialidades como também não inclui métodos de contro- de ensaios clínicos randomizados é colocada
médicas. A presença das três características le sobre os vícios que podem comprometer no topo da hierarquia da evidência científica9.
acima citadas no desenvolvimento da pes- suas conclusões. Não preenche, portanto, Tomando o banco de dados do Med-
quisa confere a maior força de evidência a premissa básica para ser considerado um line como indicador da incorporação de
científica ao ensaio clínico randomizado. Na trabalho científico, no qual a metodologia conceitos da epidemiologia clínica na lite-
perda da condição experimental, os estudos deve garantir as informações que permitam ratura médica, constatamos que em 1990
observacionais, por serem mais suscetíveis que outros autores possam chegar às mes- é introduzida a “revisão sistemática” como
aos vícios de confusão, ficam no segundo mas conclusões, caso queiram reproduzir tipo de estudo. Em 1992, é publicado no
patamar da hierarquia, como os estudos de o mesmo trabalho. Algumas revisões são JAMA o artigo que lança o movimento da
coorte. A ausência de seguimento no tempo compilações de resumos de artigos, com a “medicina baseada em evidências” pro-
confere potencial maior de susceptibilidade finalidade precípua de refletir a opinião do pondo um novo paradigma para o ensino
aos vícios de confusão, além de não garantir autor, por vezes contrária às melhores evi- da medicina. Em 1993, é acrescida a “dire-
a precedência da exposição com relação ao dências científicas, ou discordante da opinião triz clínica” como tipo de estudo no
desfecho, colocando o transversal no tercei- de publicações feitas por outros autores da Medline. Em 1995, são publicados no
ro patamar. Os potenciais vícios de memória mesma especialidade. JAMA os três primeiros artigos sobre dire-
nas informações dadas pelos pacientes de Estas observações não pretendem desqua- trizes clínicas baseadas em evidências da
ocorrências do passado, e os que se devem lificar a revisão narrativa que, por sua excelência série Users’ guides to the medical literature.

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A PRÁTICA CLÍNICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS - PARTE III

Em 1997, é a vez do termo “medicina Figura 2 – Distribuição percentual dos artigos recuperados sobre diretrizes clínicas
baseada em evidências” ser acrescido baseadas em evidências (DCBE), revisões sistemáticas (Rev Sis), e diretrizes
como descritor no Medline. Desde 1998 é clínicas (Dir Cli), entre os anos de 1998 e 2003 no banco de dados Medline
crescente a proporção de “diretrizes clíni-
cas baseadas em evidências” (Figura 2)
quando comparada às revisões sistemá-
ticas, ou às publicações sobre diretrizes
em geral, embora em número absoluto, os
254 trabalhos estejam bem aquém da
quantidade observada dos outros tipos de
publicação (Tabela 2). No período de seis
anos, que vai de 1998 até 2003, foram
classificadas, no Medline, 19.759 revisões
narrativas, 12.216 artigos de medicina ba- 1998-1999 2000-2001 2002-2003
seada em evidências, 5.435 revisões siste- DCBE Rev Sis Dir Cli
máticas e 4.455 diretrizes clínicas.
Consistência do artigo10
A primeira questão a ser aplicada a todo
artigo obtido na busca para responder a uma Tabela 2 – Revisões sistemáticas, diretrizes clínicas e artigos classificados como
sendo de medicina baseada em evidências no Banco de Dados Medline, ano de introdução
questão clínica está relacionada à consistência
no banco de dados e número de artigos recuperados entre os anos de 1998 e 2003
da informação, se os componentes adequados
que devem compor o desenho de estudo Forma de busca no Medline Ano de introdução Artigos entre 1998 e 2003
estão presentes. Revisões sistemáticas
Se a busca na base de dados primária (“Meta-Analysis”[Publication Type]) 1990 5.435
resultar em grande quantidade de trabalhos, é Diretrizes clínicas
(“Practice Guideline”[Publication Type]) 1993 4.455
necessário reduzi-los através da combinação Medicina Baseada em Evidências
adequada das palavras-chave por meio dos (“Evidence-Based Medicine”[MeSH]) 1997 12.216
booleanos, iniciando com “OR” e concluindo Diretrizes clínicas baseadas em Evidências
com “AND” E “NOT”. A aplicação dos filtros (“Evidence-Based Medicine”[MeSH]
de faixa etária, sexo e exclusão dos trabalhos AND “Practice Guideline”[Publication Type] 1997 254
com animais também auxilia o encontro de
trabalhos mais apropriados. Ainda assim,
a busca costuma recuperar artigos que não A avaliação crítica de pesquisas clínicas provas de que o paciente tem ou não tem
respondem à dúvida surgida no atendimento depende do enfoque do estudo realizado, uma determinada doença. Além disso, os
ao paciente. A triagem é feita em duas etapas: se diagnóstico, prognóstico, terapêutico resultados de um procedimento não podem
ou dano. ser conhecidos por quem aplica ou interpreta
começa pela leitura dos títulos dos trabalhos,
o teste que está sendo comparado. Esses dois
e, após a exclusão dos que não interessam, Estudos diagnósticos
elementos são fundamentais para que sejam
continua com a leitura do resumo. Após a Os elementos necessários, para que um afastados os vícios de interpretação, consci-
segunda exclusão, a literatura deve ter razoá- artigo de estudo do tipo diagnóstico ou de entes ou inconscientes, dos investigadores.
vel tamanho, que se adeque ao tempo dispo- rastreamento seja considerado consistente, O padrão-ouro de referência deve ser aplica-
nível para a leitura do texto completo, e, na podem ser agrupados de forma a responder do em todos os pacientes testados.
seqüência, responder às questões referentes à a três diferentes questões: b) O teste diagnóstico foi avaliado em uma
informação obtida. A avaliação crítica permite a) Existe uma comparação cegada e inde- amostra apropriada de pacientes seme-
saber se os resultados são válidos e se estes pendente do teste diagnóstico com o lhante àquela encontrada na prática clíni-
podem trazer benefício nos cuidados com o “padrão ouro” usado no reconhecimento ca diária?
meu paciente. da doença? Os pacientes em estudo devem apresen-
A análise de estudos de bases secundárias Os pacientes em estudo devem ser sub- tar os achados clínicos comumente presentes
avalia se a questão foi adequadamente metidos aos dois procedimentos diagnós- na doença em questão, bem como as carac-
formulada, se a evidência foi coletada, avalia- ticos, aquele sendo testado e o “padrão terísticas clínicas presentes em doenças que
da e sumarizada apropriadamente. ouro” de referência, reconhecidos como entram no diagnóstico diferencial. Estudos

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que aplicam testes diagnósticos comparando Perdas de seguimento dos pacientes ao Então, ao avaliarmos um determinado estudo
casos clínicos atípicos, muito específicos, ou longo do estudo podem afetar as conclusões prognóstico, o que devemos e podemos
utilizando pacientes assintomáticos não são deste, uma vez que a resposta desconhecida fazer frente ao ideal é observarmos, com
relevantes. desses pacientes ao tratamento poderia atenção, como a doença foi definida e como
c) O teste diagnóstico foi validado em mudar os resultados da comparação. Traba- os pacientes foram alocados.
um segundo grupo independente de pa- lhos com perda de pacientes acima de 20% A amostra precisa representar as caracte-
cientes? não devem ser aceitos. rísticas da doença, da maneira que a encon-
O primeiro estudo (com o teste diag- O efeito do tratamento, na dependência tramos em nossa prática diária, mas principal-
nóstico) serve para se fazer uma predição da da história natural da doença, só pode ser mente, a doença deve estar em seu curso
sua acurácia. A confirmação dos níveis seme- avaliado após um período adequado de tem- inicial, e no mesmo ponto em todos os paci-
lhantes de desempenho com a aplicação po de seguimento. Esse período, quando entes alocados, o que podemos definir como
em uma segunda amostra, independente, de encurtado, pode levar, por meio de desfe- uma coorte a partir da fase inicial da doença,
pacientes permite a estimativa real da chos intermediários, a conclusões inade- na língua inglesa inception cohort. É claro que,
acurácia do teste diagnóstico em estudo. quadas, que exageram ou reduzem os efeitos se nosso objetivo é avaliar o prognóstico
do tratamento. tardio de uma doença, e só nessa situação,
Estudos terapêuticos
c) Todos os pacientes foram analisados podemos alocar pacientes no mesmo ponto
A avaliação de estudos individuais de dentro do grupo no qual foram inicial- avançado de doença.
terapêutica, identificando a presença dos ele- mente aleatoriamente alocados? b) Os pacientes foram acompanhados du-
mentos que os caracterizam como consisten- A fim de preservar a aleatorização, a rante um tempo suficientemente longo e
tes, não define esses estudos como a melhor análise por intenção de tratamento deve ser completo?
evidência, uma vez que as revisões sistemá- utilizada. Todos os pacientes que completam O desfecho de interesse do estudo nem
ticas desses estudos individuais fornecem re- o estudo são analisados nos grupos em que sempre é obtido através de um longo tempo
sultados de melhor consistência. No entanto, foram inicialmente alocados, independen- de seguimento. No entanto, desfechos prog-
ao obtermos a resposta para uma dúvida temente do tipo de tratamento que esses nósticos devem ser avaliados de maneira que
clínica de tratamento em um estudo indi- pacientes tenham recebido. todos os pacientes tenham seguimento sufi-
vidual, devemos analisar os seguintes itens: ciente e completo para que possam manifes-
a) A seleção dos pacientes foi aleatorizada e Estudos prognósticos tar esse desfecho. O bom prognóstico é
cegada? As questões sobre prognóstico têm feito constatado quando, após um tempo suficien-
Aleatorizar os grupos de pacientes a serem parte da prática clínica diária, seja quando temente longo, o evento adverso não está
comparados faz com que esses grupos, o originadas em dúvidas do paciente, por presente nos pacientes alocados. O estudo
tratado e o controle, tenham a mesma chance exemplo, quando estes questionam quanto pode ser invalidado quando o seguimento
de ocorrência do evento que se espera pre- tempo de vida ainda possuem, seja quando dos doentes é interrompido antes que o
venir com o tratamento. Além disso, promove originadas em dúvidas de decisão médica. evento adverso possa se manifestar. Não
um equilíbrio nos preditores de bom e mau Essas questões possuem três componentes podemos estabelecer conclusões prognósticas
prognóstico, evitando exagerar, reduzir ou principais relacionados ao desfecho: um baseadas em estudos cujo desfecho é analisado
contrariar os efeitos da terapia. componente qualitativo relacionado ao tipo como um marcador intermediário, e nessa
O cegamento busca impedir o pesqui- de desfecho, um componente quantitativo situação devemos buscar outra evidência.
sador de saber qual o tratamento que o relacionado à probabilidade de ocorrência e Seguir pacientes ao longo do tempo tem
próximo paciente receberá, e, assim, evitar a um componente relacionado à duração de como problema central o número de perda
influência consciente ou inconsciente na res- tempo. de seguimento dos pacientes que iniciaram
posta dos grupos em comparação. Assim como nos estudos diagnósticos, o estudo. O motivo da perda pode não estar
O objetivo principal da aleatorização e a estrutura de avaliação crítica da evidência relacionado ao desfecho, como por exem-
do cegamento é se obter o maior número em prognóstico, visando validar esses estu- plo, mudança de cidade ou de país, mas as
possível de verdadeiros positivos e negativos dos, é baseada na resposta a quatro questões perdas podem estar relacionadas diretamen-
na resposta terapêutica. Outros recursos principais: te ao evento adverso, como no caso de
como a análise por intenção de tratamento, o a) Foi reunido um grupo representativo de morte ou agravamento da doença, o que
cegamento de outros elementos do estudo pacientes no mesmo estágio da doença, produz prejuízo às conclusões do estudo
como o paciente, profissionais de saúde, preferencialmente inicial? prognóstico.
analisador, e do próprio sorteio têm como A alocação ideal, mas impossível de Uma perda inferior a 5% da amostra não
objetivo garantir a aleatorização inicial. pacientes seria aquela que incluísse toda a deve produzir efeitos negativos nas conclu-
b) O tempo de seguimento dos pacientes população de pacientes com uma determi- sões do estudo, no entanto, uma perda de
foi suficientemente longo e completo? nada doença, estudada a partir do seu início. 20%, certamente alterará as conclusões,

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A PRÁTICA CLÍNICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS - PARTE III

uma vez que é mais provável que somente os A análise estatística de subgrupos deve intervention. It is a mistake to take surrogate
pacientes de melhor condição clínica termi- ser preditora e não explanatória. Não deve end-points instead of clinical outcomes. The
nem o estudo. Ao avaliarmos o número de levar em consideração se o fator prognóstico main types of clinical study design are
perdas do estudo, devemos sempre levar em é plausível no ponto de vista fisiológico, como diagnostic, prognostic, therapeutic and
consideração que o evento morte pode estar no exemplo do átrio esquerdo, ou biologi- harm/etiology. Experimental, physiologic
presente em todos os pacientes com segui- camente sem sentido, ou ainda, quando é and animal studies are useful for the medical
mento perdido. parte dos dados do paciente, mas sem nexo undergraduate education, but do not contri-
c) O critério de aferição do desfecho é ob- causal com o desfecho, como o signo e o time bute with clinical decisions. The study
jetivo e foi aplicado de maneira cegada? do coração. Fatores prognósticos supostos designs are classified according with the
Os desfechos extremos relacionados à podem ser sexo, idade, extensão da doença presence of a control group, patient’s follow-
morte e cura total não são difíceis de serem e comorbidades. up, and therapy interventions. The evidence
avaliados: nesta situação dificilmente ocorre- Por essas razões, não há garantia de que hierarchy was done by the previous charac-
rão vícios que dependam do pesquisador. O a identificação de um fator prognóstico possa teristics and the presence of systematic
mesmo não pode ser afirmado quando imagi- afirmar que ele identifica subgrupo de pacien- bias. Systematic reviews are stronger than
namos que o desfecho pode estar relacio- tes de prognóstico diferente. Por isso a ne- the primary observational studies and are on
nado às causas de mortalidade ou à capacida- cessidade de que o estudo tenha avaliado e the top when they revised randomized
de de retorno às atividades de trabalho. Por confirmado previamente o poder de predi- clinical trial. Since 1998 the proportion of
isso, os critérios de aferição do desfecho ção desses fatores prognósticos, em grupos evidence based practice guidelines was
devem ser objetivos e claramente definidos independentes de pacientes, denominados increasing compared with systematic
no início do estudo. É preferível que o inves- grupos de teste ou grupos de validação. reviews or other types of practice guidelines,
tigador que afere o desfecho seja vendado, Respondendo às questões colocadas although the former still are in a few
ou seja, não conheça previamente as caracte- no início do artigo sobre qual deve ser o numbers. The article critical appraisal must
rísticas clínicas e os fatores prognósticos dos papel das entidades médicas: ensinar o answer the clinical question, and need to
pacientes, uma vez que poderá interferir na profissional a avaliar criticamente a infor- have consistent study design and bias under
observação do desfecho, por mais que os mação ou colocar à sua disposição a infor- control. In conclusion we ought to offer
critérios de aferição sejam objetivos. mação já avaliada. Concluímos que as duas methodological actualization to interested
d) Se diferentes subgrupos prognósticos devem ser contempladas. Ensinar os pro- physicians and put the information already
foram identificados: Os mesmos foram fissionais interessados, por meio de curso critically assessed on evidence-based
ajustados com relação aos fatores prog- de atualização metodológica, e colocar a practice guidelines. [Rev Assoc Med Bras
nósticos principais? Houve teste piloto informação já avaliada à disposição de to- 2004; 50(2): 221-8]
em grupo independente de pacientes dos, elaborando e divulgando diretrizes
para validar os fatores prognósticos? baseadas em evidências. KEY WORDS : Critical appraisal. Outcome.
Sabe-se que em grupo de pacientes estu- Study design. Evidence based medicine.
dados pode haver subgrupos com diferentes Conflito de interesse: não há. Guidelines. Clinical research.
prognósticos. Muitas vezes esses subgrupos
SUMMARY
são claramente definidos, mas em outras situ- REFERÊNCIAS
ações clínicas não. Por exemplo, o risco de E VIDENCE BASED CLINICAL PRACTICE .
1. Nobre MR, Bernardo WM, Jatene FB.
acidente vascular cerebral em pacientes com PART III – CRITICAL APPRAISAL OF CLINICAL
Evidence based clinical practice. Part 1 —
fibrilação atrial pode variar em função do RESEARCH well structured clinical questions. Rev Assoc
tamanho do átrio esquerdo. Evidence based health care begins with a Med Bras. 2003 Oct-Dec;49(4):445-9.
clinical question and the search on data 2. Bernardo WM, Nobre MR, Jatene FB. A
É necessário que se leve em conside- prática clínica baseada em evidências: parte
ração possível interação com outros fatores bases to retrieve the relevant information, II - buscando as evidências em fontes de
prognósticos relevantes, que nesse exemplo that was the issue of two preceding articles informação. Rev Assoc Med Bras. 2004
poderiam ser a hipertensão arterial e a função of this series. At present it will be discussed Jan-Fev;50(1):104-8.
how to critically appraise the medical 3. Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH.
ventricular. A ocorrência de distribuição Epidemiologia Clínica: Elementos Essenciais,
heterogênea desses fatores nos subgrupos literature using the clinical epidemiological 3a. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
pode provocar interação e influências mútuas methodology. Clinical research aims to 4. Sackett DL, Haynes RB, Tugwell P, Guyatt
que levem a um desvio das conclusões. Deve develop diagnostic and therapeutic proce- GH. Clinical Epidemiology: A Basic Science
dures measuring association and causality for Clinical Medicine. 2a.ed. Boston: Little
se avaliar a sessão do método e resultados
Brown, 1992.
em busca dessas características antes de se between the exposure and outcome. In this 5. Feinstein AR. Clinical Epidemiology: The
aceitar um prognóstico diferente para o case the exposures are signs, symptoms, Architecture of Clinical Research. Phila-
subgrupo de interesse. laboratorial or image exam, and therapy delphia: Saunders, 1985, 812 p.

Rev Assoc Med Bras 2004; 50(2): 221-8 227


NOBRE MRC ET AL.

6. Schmidt MI, Duncan BB. O método epi- 8. Montori VM, Wilczynski NL, Morgan D and 10. Sackett DL, Straus S, Richardson S, Rosenberg
demiológico na conduta e na pesquisa Haynes RB. Systematic reviews: a cross- W, Haynes RB. Evidence-based medicine:
clínica. In: Rouquayrol MZ. Epidemiologia e sectional study of location and citation how to practice and teach EBM. 2ª ed.
Saúde. 4a. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1993. counts. BMC Medicine 2003, 1:2 Londres: Churchill Livingstone; 2000.
p. 183-207. 9. Guyatt GH, Sackett DL, Sinclair JC, Hayward
7. Shaughnessy AF, Slawson DC. What R, Cook DJ, Cook RJ. Users’ guides to the
happened to the valid POEMs? A survey medical literature. IX. A method for grading
of review articles on the treatment of type health care recommendations. Evidence- Artigo recebido: 08/02/04
2 diabetes. BMJ. 2003 Aug 2;327 Based Medicine Working Group. JAMA. 1995 Aceito para publicação: 28/02/04
(7409):266. Dec 13;274(22):1800-4.

HOMENAGEM
LIBERATT O J. DI DIO
PROFESSOR LIBERA
07/05/1920 – 06/06/2004
A Revista da Associação Médica Brasileira presta a sua homenagem ao querido e eterno “Professor Di Dio”.
Para nós foi uma honra contar, em nosso corpo editorial, com a sabedoria e a experiência de um profissional
que dignificou a arte da medicina no Brasil e no mundo. Devemos ao seu trabalho como presidente da
International Federation of Associations of Anatomists os avanços na nomenclatura da área. De seu extenso
currículo, podemos destacar ainda: foi professor da Northwestern University em Chicago (1963 a 1967),
Faculdade de Direito da University of Toledo (Ohio), fundador, catedrático, diretor e pró-reitor da Medical
University of Ohio (1967 a 1992); professor honoris causa de várias universidades nacionais (Mogi das Cruzes
e Rio de Janeiro) e estrangeiras (Lisboa, Chile, Peru, Romênia); eleito Anatomista Mundial do Ano, por ter sido
o que mais se distinguiu no mundo, cada triênio por quatro vezes consecutivas, a partir de 1979. Presidente da
Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade de Santo Amaro e da Universidade Metropolitana de Santos;
presidente e, desde 1989, eleito primeiro Presidente Honorário da International Federation of Associations of
Anatomists, sendo o Secretário-Geral da Comissão Federativa da Terminologia Anatômica; presidente da
Academia de Ciências de Ohio e da Associação Panamericana de Anatomia; membro da Comissão de Recursos
Humanos da Organização Mundial da Saúde, assessor da Pan American Health Organization; consultor do
Ministério da Educação e Cultura do Governo do Brasil para o Programa de Ensino Integrado nas Universidades;
presidente do Federative Committee for Scientific and Anatomical Press. Foi presidente da Comissão de
Educação Médica e Pós-Graduação da Associação Médica Brasileira, em 1998. Recebeu a Ordem do Mérito
Médico (no grau de Grande Oficial) da Presidência da República do Brasil, o Grande Colar da Inconfidência do
Governo de Minas Gerais e a Ordem do Ipiranga (no grau de Grande Oficial) do Governo de São Paulo.

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