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GÊNERO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: POR UMA PRÁTICA

PEDAGÓGICA CRÍTICA E REFLEXIVA, EM BUSCA DA EQUIDADE

Juliana Brandão Machado1


Juliana da Rosa Brochado da Luz2
Vagner Moraes Farias3

Resumo: A proposta deste trabalho é reunir reflexões estabelecidas no âmbito do Mestrado


Profissional em Educação da Unipampa – Campus Jaguarão – acerca das questões de gênero que se
relacionam à formação de professores. Neste sentido, somamos dois olhares dos pesquisadores
envolvidos para refletir sobre a relação entre gênero e formação docente. De um lado, um
pesquisador aborda as relações de gênero e sexualidade na ação docente da Educação Infantil. De
outro, uma pesquisadora aborda as relações de gênero e raça na Educação de Jovens e Adultos. O
ponto convergente é a reflexão aqui desenvolvida: quais práticas pedagógicas são requeridas para
construirmos a reflexão, crítica e superação das desigualdades? A partir dessa pergunta iniciamos a
pesquisa que aborda a formação docente como elemento central para que a escola seja um espaço de
reflexão crítica e superação das desigualdades sexuais e de gênero. Assim, problematizar a docência
desde a perspectiva da formação continuada, localizada no contexto de ação profissional é o
primeiro ponto deste trabalho. Em seguida, discutiremos o conceito de gênero e as interfaces dessa
abordagem: as questões que envolvem a sexualidade, raça e etnia. Num terceiro momento,
problematizaremos a prática pedagógica voltada para a equidade de gênero, com base nas pesquisas
e experiências já desenvolvidas. Assim, nossa meta é problematizar criticamente a formação de
professores para que a equidade de gênero seja orientadora das ações docentes.
Palavras-chave: Gênero. Formação de professores. Equidade.

A proposição deste texto se desenvolve a partir da reflexão que estamos construindo no


Mestrado Profissional em Educação da UNIPAMPA – Campus Jaguarão acerca das relações de
gênero e seu desenvolvimento no contexto da formação docente. O foco do Mestrado Profissional
(MP) é o desenvolvimento de uma pesquisa-intervenção no campo profissional do mestrando, de
modo a intervir no contexto de trabalho a partir de uma questão que se percebe problemática no
cotidiano. Ainda, os acadêmicos do MP em Educação da Unipampa são docentes de redes públicas
de ensino, o que acresce um outro fator considerável para pensar a qualidade da educação e a
formação continuada de professores. Nesse cenário, a questão que orienta o trabalho e que é comum
às pesquisa-intervenção em desenvolvimento é “quais práticas pedagógicas são requeridas para

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Professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Pampa, Campus Jaguarão/RS,
Brasil.
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Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Pampa, Campus Jaguarão/RS,
Brasil.
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Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Pampa, Campus Jaguarão/RS,
Brasil.

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construirmos a reflexão, crítica e superação das desigualdades de gênero? O primeiro passo, a ser
abordado aqui, é ouvir os docentes acerca das concepções mais elementares sobre o gênero, em
busca de uma proposição reflexiva mais complexa.

Assim, iniciamos a pesquisa exploratória desenvolvida em duas escolas públicas, uma no


município de Jaguarão/RS e outra no município de Pelotas/RS. Em Jaguarão, o trabalho realizou-se
com professores da Educação Infantil (EI) e em Pelotas, com docentes da Educação de Jovens e
Adultos (EJA), ambos de escolas públicas municipais. Os olhares aqui convergem para discussão
das relações de gênero em busca da ideia de construção da equidade. Para tanto, o texto que segue
apresentará a metodologia de desenvolvimento da pesquisa, os fundamentos teóricos que sustentam
nossa reflexão, a análise dos dados obtidos nas duas realidades e, por fim, as considerações finais.

Metodologia

A metodologia teve como base a pesquisa qualitativa de cunho exploratório. “Esta pesquisa
tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito ou a construir hipóteses”. Ainda, a pesquisa exploratória acaba por envolver: “(a)
levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o
problema pesquisado (Gil, 2002, p.41).

Com o objetivo de verificar a necessidade de uma formação docente voltada para as questões
de gênero na Educação Infantil e na Educação de Jovens e Adultos, propusemos realizar uma
investigação preliminar oferecendo um questionário aos docentes das respectivas instituições,
denominadas aqui por EI e EJA. O questionário continha, além de questões de identificação dos
sujeitos (formação, área de atuação e carga horária semanal de trabalho), quatro perguntas abertas a
serem respondidas: 1) Como você conceitua a palavra “gênero”?; 2)Você vê necessidade de
trabalhar as relações de gênero em uma formação pedagógica? Justifique; 3) Se você tivesse a
oportunidade de participar de uma formação sobre as relações de gênero, quais temáticas gostaria
que fossem abordadas?; 4) Em sua opinião, o que é necessário para que o trabalho sobre as relações
de gênero ocorra em plenas condições na sua sala de aula? Para essa coleta de dados exploratórios,
o questionário constitui-se como o instrumento de pesquisa que atende aos objetivos propostos,

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garantindo o anonimato das respostas, bem como a sua realização de maneira rápida e eficiente
(Gil, 2002).

A partir das questões endereçadas aos docentes, e tendo em vista a questão central deste
estudo – “quais práticas pedagógicas são requeridas para construirmos a reflexão, crítica e
superação das desigualdades? – desenvolveremos a análise dos dados com base em alguns
fundamentos teóricos essenciais para a discussão. Inicialmente, pautamos as questões que envolvem
o conceito de gênero e o campo da educação. Em seguida discutiremos a questão da formação
docente relacionada à ideia da equidade de gênero. Esses dois pontos centrais da fundamentação
teórica serão fundamentais para o desenvolvimento da análise dos questionários, que foi
desenvolvida buscando elementos significativos nas respostas dos sujeitos que corroborem à
reflexão que estamos aqui desenvolvendo.

Fundamentação teórica

Inicialmente, alinhamos nossa definição de gênero ao pensamento de Joan Scott, amplamente


difundido em seu texto clássico:

Minha definição de gênero tem duas partes e várias sub-partes. Elas são ligadas entre si,
mas deveriam ser analiticamente distintas. O núcleo essencial da definição baseia-se na
conexão integral entre duas proposições: o gênero é um elemento constitutivo de relações
sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira
de significar as relações de poder. As mudanças na organização das relações sociais
correspondem sempre à mudança nas representações de poder, mas a direção da mudança
não segue necessariamente um sentido único. Como elemento constitutivo das relações
sociais fundadas sobre diferenças percebidas entre os sexos, o gênero implica quatro
elementos relacionados entre si[...] (SCOTT, 1995, p.21)

Consideramos a particularidade do gênero ancorada no patriarcado e nas relações de poder,


especificando comportamentos, modos de ser e agir que definem papéis arbitrários ao masculino e
ao feminino, e essas diferenças acabam por hierarquizar e diferenciar as posições ocupadas em
diferentes contextos, sempre colocando o feminino em desvantagem em relação ao masculino.

Vivemos em uma sociedade complexa. Essa complexidade tem ganhado tal proporção diante
da forma como as relações vêm se estabelecendo, ou seja, diversificada. No âmbito educacional, a

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sala de aula é um cenário receptivo às relações construídas por cada sujeito, que por sua vez modela
e remodela os demais.

Diante disso, quando o tocante faz-se acerca das desigualdades geradas pela multiplicidade de
pensamentos e posturas, a escola precisa assumir sua função social: promover a igualdade e
contemplar as necessidades recorrentes. Ao refletir sobre tais questões, refletimos também sobre a
posição da formação docente. Será que a formação docente (aqui nesta escrita, numa perspectiva de
formação continuada) proporciona uma tomada de consciência sobre todas as demandas exigidas
pela escola?

Ao proporcionar uma conscientização sobre as atitudes existentes na sociedade tais como: o


homem deve sustentar a família, cabe à mulher organizar a casa, meninos e meninas devem brincar
separados, acaba-se também proporcionando que as escolas ultrapassem modelos tradicionais. As
escolas, portanto, se voltam para a interpretação das diversas realidades existentes onde os alunos
são a engrenagem para a significativa mudança. Nesse sentido, é preciso:

um trabalho de formação sobre as questões das relações de gênero, da desigualdade social e


da necessidade de seguir uma pedagogia dentro de um compromisso pela transformação da
condição feminina. Conscientizar cursistas, graduandos/as e professores/as a terem com as
crianças atitudes que não passem modelos sexistas, destinando a alunos e alunas as mesmas
atividades ou cuidando para não reforçar por palavras e ações os modelos machistas.
(DIAS, 2014, p. 1874)

Por isso, problematizar as questões no gênero na escola e na formação docente, faz-se


primordial neste contexto. Trazendo a reflexão de Zeichner (2008), operamos com a ideia de justiça
social. Ainda que o autor não tenha explorado especificamente a justiça social nas relações de
gênero, defende a formação de professores para a justiça social que “[...] objetiva preparar
professores a fim de contribuir para uma diminuição das desigualdades existentes entre as crianças
das classes baixas, média e alta nos sistemas de escola pública de todo o mundo e das injustiças que
existem nas sociedades [...]”(Zeichner, 2008, p.2).

A formação docente para as relações de gênero e para a justiça social contempla, assim, a
ideia bastante difundida por Bernardete Gatti, de que precisamos atualizar a formação docente para
responder ao seu tempo:

Embora estejamos no século XXI, no que se refere à condição de formação de professores


(para os níveis educacionais e as várias áreas disciplinares e mesmo com as orientações
mais integradoras das normas vigentes quanto à relação “formação disciplinar – formação

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para a docência”) ainda se verifica a prevalência do modelo consagrado no início do século
XX: o esquema de superioridade dos conhecimentos disciplinares sobre os conhecimentos
didáticos e metodológicos de ensino, sendo o processo formativo vigente fragmentado em
disciplinas estanques, sem interlocuções transversais. (GATTI, 2013, p. 96)

Abordar as relações de gênero implica, justamente, incorporar as interlocuções transversais


no currículo da formação docente. Para tanto, práticas distintas de formação docente precisam ser
construídas, buscando avançar em relação à equidade de gênero, que defendemos aqui como o
imperativo dessa discussão. A equidade de gênero, é definida aqui como

um conceito ético associado aos princípios de justiça social e de direitos humanos. Não é o
mesmo que igualdade. A noção de iniquidade, por sua vez, refere-se às desigualdades
consideradas desnecessárias, evitáveis e injustas. Em termos operacionais, a equidade se
traduz na minimização de disparidades evitáveis na saúde e seus determinantes – incluindo,
porém não se limitando à atenção em saúde – entre grupos de pessoas que possuem
diferentes níveis de privilégio social. (FONSECA, 2005, p.457)

Embora seja um conceito advindo da área da saúde, defendemos que o princípio se perfaz
necessário e pode ser incorporado como princípio para a formação docente. Dessa maneira, nos
aliamos a ideia de Louro (2008, p.23): “O único modo de lidar com a contemporaneidade é,
precisamente, não se recusar a vivê-la”.

Análise dos dados

A discussão dos dados do questionário aplicado nas duas escolas (EJA e EI) será constituída
em duas etapas, analisando as respostas por instituição. Como trata-se de um estudo preliminar, o
tempo para conclusão deste texto permitiu explorar apenas uma leitura inicial, ficando para a
continuidade dos estudos a exploração dos dados em perspectiva, em comparação com os dois
contextos.

O questionário de investigação preliminar encaminhado aos professores foi respondido por


15 professores da EJA e 10 da EI, para que pudessem registrar seus entendimentos quanto a gênero
e também externar suas opiniões e sua demanda de formação continuada.

Na EJA, quanto ao conceito de gênero, sete professoras o definem como masculino e


feminino, e quatro professoras mencionam que são as características que vão identificar o gênero,

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pois envolve a forma com que a sociedade vê e como o sujeito se vê frente a todas as diversidades
existentes. Deste grupo, três mencionam que se refere a uma construção social que determina não
só as identidades dos sujeitos, mas os papéis por eles desempenhados.

Em relação às formações pedagógicas que abordem esta categoria, todos foram unânimes
em dizer que consideram importante a realização. E quanto às justificativas para esta intervenção,
cinco professores ressaltam que trata-se de uma questão de relevância social, em função das
discriminações assim como das relações sociais desiguais sustentadas pelo imaginário de
superioridade e inferioridade entre os gêneros.

Outras cinco professoras mencionam a necessidade de estarem preparadas para


abordar/enfrentar estas questões da realidade em sala de aula, evitando pré-julgamentos. As
justificativas de quatro professoras são abordar as questões de gênero de forma natural, sem ênfase
nas diferenças, já que segundo os mesmos em teoria há facilidade, mas na prática choca, o que faz
com que necessitem aprender a organizar estas situações evitando constrangimentos e desconfortos,
já que precisam promover o pensamento e discussão quanto à igualdade e diversidade.

Em relação aos interesses quanto às temáticas a serem abordadas na formação de gênero,


sete professoras destacaram que querem saber mais sobre conceitos de gênero, identidade de gênero
e suas relações de trabalho, diversidades de gênero, preconceitos de gênero, igualdade de gênero e
feminismo e relações de gênero. Ainda em relação às temáticas, quatro professoras citaram
homossexualidade, relacionamento entre filhos de casais gays, raça, desigualdades sociais,
preconceito e diferenças, como não fortalecer e nem incentivar (LGBT). Nessa perspectiva, três
professores trazem o interesse pelas temáticas que abordem a igualdade de deveres e direitos e o
porquê do trabalho com estas questões que são naturais.

De acordo com os registros, para que o trabalho sobre gênero ocorra em boas condições sete
professores apontam que as pessoas precisam entender do assunto, por exemplo construir um núcleo
de gênero e acreditarem ser importante o respeito as diferenças. Outras cinco professoras
mencionam que há a necessidade de orientar sobre as doenças, mas somente aos jovens, mas
quando aparecer situações relacionadas a gênero discutir e ouvir a opinião deles sobre
discriminações e opções sexuais para que aceitem as diferenças. Ainda destacam que não haja o
incentivo de relacionamentos gays, já que estes tornaram -se moda. Duas professoras destacam a
necessidade do respeito em sala de aula, assim como em relação as escolhas dos indivíduos.

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Na EI, a respeito do grau de instrução, todas as professoras questionadas possuem graduação
em pedagogia, que licencia as docentes a exercer as atividades na educação infantil, nos anos
iniciais do ensino fundamental, na gestão escolar. Desta forma, percebe-se a consonância com o
descrito na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Nº 9394, de 20 de dezembro de 1996:

Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que nela estando em
efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são:

I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil


e nos ensino fundamental e médio. (BRASIL, 1996)

Existe uma grande luta, pela formação dos profissionais da educação infantil, no sentido de
que esta etapa não é pautada apenas pelo assistencialismo, mas também pelos processos
pedagógicos. Ao estabelecer, em legislação, reforça-se o compromisso por uma educação de
qualidade.

Imbuídas de conhecimentos, seis professoras que deram continuidade aos estudos, com o
intuito de qualificar suas práticas. Das professoras especialistas, três das profissionais
especializaram-se em psicopedagogia, uma em educação especial e inclusiva, uma em mídias na
educação e uma em educação, revelando o “compromisso de transformar esse conhecimento em
aprendizagens relevantes para os alunos” (Marcelo, 2009, p. 8).

A investigação preliminar apontou que, das professoras questionadas, nove desempenham as


funções de docente numa carga horária de 40 horas semanais enquanto que uma% tem uma jornada
de 20 horas semanais. Nesta instituição de ensino cinco das professoras perfazem sua jornada de
trabalho só na educação infantil. Já as quatro, dividem-se entre as duas etapas da educação básica:
educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Sobre a professora que compõe uma carga
horária de 20 horas semanais, esta desempenha suas atividades na educação infantil.

Ainda sobre o questionário da EI, todas as docentes acreditam na necessidade de trabalhar


sobre as questões de gênero por meio de uma formação pedagógica.

Das várias justificativas existentes, no campo da Educação Infantil, as Diretrizes Curriculares


Nacionais para a Educação Infantil – DCNEIs são consideradas documento orientador bastante
relevante. Explorando a abordagem sobre a atuação docente, nesse documento, apontam que as
práticas pedagógicas devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e garantir
experiências que, entre outras: “Possibilitem vivências éticas e estéticas, com outras crianças e

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grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e
conhecimento da diversidade” (Brasil, 2010, p. 25).

Diante disso, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil não apenas
possibilitam, mas também recomendam o trabalho pedagógico sobre gênero, adaptando a faixa
etária em que trabalha.

E ao justificarem fica evidente a variedade de razões pelas quais tal formação denota
necessidade. Conforme aponta a professora denominada aqui por EI - B:

“- Acredito no espaço da escola como sendo o melhor veículo para mediar qualquer tipo de
conhecimento, desde que seja embasado e problematizado com clareza dentro da
comunidade escolar. Para isso temos que ter docentes preparados para tal prática, então se
faz necessários encontros que se discuta esse tema que continua sendo um tabu.”

Já para a professora denominada EI - E:

“- A princípio porque o profissional na área da educação depara-se diariamente com várias


situações no espaço escolar e tem que de alguma forma explicar ou colocar para os
educandos algumas dúvidas que surgem todo dia. Ex: sexualidade.”

Ao questionar sobre o que seria necessário para que o trabalho sobre as relações de gênero
acontecesse em plenas condições, a família e a escola são apontadas como exemplo, como nos
mostra a professora denominada EI - D:

“-O apoio da família, da equipe pedagógica”.

O questionário também auxiliou para a escolha das temáticas a serem trabalhadas. As


professoras denominadas EI - A, EI - B, respectivamente, sugeriram:

“-Temas como trabalhar na educação infantil, como levar esse tema até os pais também”. “-
a)conceito de família em nossos tempos; b)corpo, gênero entre os meios e artefatos
culturais; c)papel da escola frente a tantos problemas e tabus que inibem o docente ao
trabalhar esse tema na sala de aula”.

Para encerrar, analisamos o primeiro questionamento realizado, que será definitivo para
moldar as primeiras propostas da formação: “- Como você conceitua a palavra gênero?” Uma
grande diversidade de respostas surgiu, divergindo muitas das vezes dos estudos já realizados para
compor o referencial deste estudo. Assim, para a questionada EI - A:

“- É o que faz a pessoa, sua identidade ou aquilo que nos define na idade”.

Para EI - B:

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“- O resultado de minhas reflexões após alguns encontros com discussões sobre tema, e
observando o comportamento humano atual e comparando com os tempos passados, conclui
que, a questão de gênero não passa somente pelo natural, passa também pelas elaborações
culturais que variam historicamente.”

Para EI - D:

“-A opção sexual de cada sujeito.”

Para EI - F:

“O sexo não determina por si só a identidade de gênero ou a orientação sexual de uma


pessoa. A orientação sexual, por exemplo, diz respeito à atração que sentimos por outros
indivíduos e, geralmente, envolve questões sentimentais, e não somente sexuais. Embora a
definição do que é ser “homem” ou “mulher” tenha surgido a partir de uma divisão
biológica, a experiência humana nos mostra que um indivíduo pode ter outras identidades
que refletem diferentes representações de gênero.”

Enfim, a definição de gênero perpassa por várias vertentes que requer uma minuciosa análise.
Ainda que ela exista, uma compreensão coletiva se faz necessário.

Considerações finais

Esse texto surge da pesquisa exploratória desenvolvida no Mestrado Profissional em


Educação da Unipampa – Jaguarão com o intuito de problematizar a formação docente para as
relações de gênero em busca da equidade.
Diante dos dados recolhidos, percebemos que, por conta da falta de formação mencionada
pelos professores, estes replicam em suas práticas pedagógicas exatamente a forma com que
reconhecem o conceito de gênero e todas as questões do imaginário social, frente ao
estabelecimento de papéis dos sujeitos em função do seu gênero.
São bastante pontuais as falas que remetem à orientação sexual, como se fossem sinônimos
de gênero e também à preocupação em ouvir e discutir quando houverem situações que exijam esta
abordagem, mas destacam que seja de forma natural. Pensar de que formas estas questões vem
sendo trabalhadas, implica em refletir acerca dessa naturalização, institucionalizada em muitos
ambientes escolares como forma de manter a dualidade homem/mulher relacionado à ideia de
superior/inferior.
A problematização das questões ou intervenções frente às questões de gênero foram pouco
tratadas, quando falam de encaminhamentos com alunos, pois a intenção dos professores é de
estarem instrumentalizados para entrar nessas questões, mas o que não reconhecem, é que as

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questões de gênero estão em todas as relações, não só na escola, mas nas diferentes esferas sociais.
O que impossibilita que as mesmas sejam casualmente problematizadas, mesmo em turmas de
alunos com pouca idade. Pensamos que é urgente trabalharmos na perspectiva do respeito e garantia
do direito de todos em todos os lugares e não exclusivamente o trabalho pedagógico que não
repercuta fora da contexto escolar.
Nesse sentido, a formação docente almejada para as relações de gênero, do nosso ponto de
vista, estará alinhada à ideia de justiça social, e perpassará, essencialmente, pela reflexão crítica dos
contextos contemporâneos, para que se possa construir a ideia de equidade.

Referências

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: DF, 2010.

____. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação


nacional. Brasília: DF, 1996. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm> Acesso em: junho de 2017.

DIAS, Alfrancio Ferreira. Introduzindo a perspectiva de gênero na formação docente para uma
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2014. Disponível em :
http://www.ufpb.br/evento/lti/ocs/index.php/18redor/18redor/paper/viewFile/765/760 Acesso em:
jun 2017.

FONSECA, R.M.G.S. Equidade de gênero e saúde das mulheres. Rev.Esc. Enferm. USP.
2005;39(4): 450-9.

GATTI, Bernardete Angelina. Por uma política nacional de formação de professores. São Paulo:
EDUNESP, 2013.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Posições, v. 19,


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MARCELO, Carlos. A identidade docente: constantes e desafios. Revista Brasileira de pesquisa


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<http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br/artigo/exibir/1/3/1> Acesso em: jan 2017.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realizade, v. 20, n.2,
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ZEICHNER, K.M. Justiça social: desafio para a formação de professores. Belo Horizonte:
Autêntica, 2008.

Gender and teacher training: for a critical and reflexive pedagogical practice seeking equity

Abstract: The proposal of this work is to group reflections set out in the scope of a Professional
Master’s Course in Education from Unipampa – Campus Jaguarão concerning the issues of gender
which are related to teacher training. In this sense, we added the focus of the researchers involved to
reflect on the relation between gender and teacher training. On one hand, one researcher approaches
the relations of gender and sexuality in the teaching action of the Early Childhood Education. On
the other hand, one researcher approaches the relations of gender and race in the Adult Education.
The convergent point is the reflection developed here: which pedagogical practices are required to
build the reflection, the criticism and the overcoming of inequalities? Based on this question we
start the research which approaches the teacher training as a central element so that the school is a
space of critical reflection and overcoming of sexual and gender inequalities. Thus, discussing the
teaching from the perspective of continuous training, found in the context of professional action is
the first point of the present work. After that, we will discuss the concept of gender and the
interfaces of this approach: the issues involving sexuality, race and ethnicity. In a third moment, we
will discuss the pedagogical practice focused on gender equity, based on previous researches and
experiences. Thus, our goal is to critically discuss the teacher training so that the gender equity may
guide the teaching actions.
Key words: Gender. Teacher training. Equity.

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