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UM ESTUDO DA REABILITAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DA OBRA DO

PORTO MARAVILHA

Leonardo Contreras Gouvêa Galhardo

Projeto de Graduação apresentado


ao Curso de Engenharia Civil da
Escola Politécnica, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Profº. Eduardo Linhares Qualharini

RIO DE JANEIRO
Julho de 2017
II

UM ESTUDO DA REABILITAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DA OBRA DO


PORTO MARAVILHA

Leonardo Contreras Gouvêa Galhardo

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO


DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

______________________________________________
Prof. – DS.c. Eduardo Linhares Qualharini (orientador).

______________________________________________
Profª. – DS.c Elaine Garrido Vazquez

______________________________________________
Prof.– MS.c Isabeth Mello

RIO DE JANEIRO
Julho de 2017
III

GALHARDO,
Leonardo Contreras Gouvêa.

Abordagem e Aspectos de Reabilitação e


Revitalização da Obra do Porto Maravilha /
GALHARDO, L.C.G – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola
Politécnica, 2017.
XI, 59 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Eduardo Linhares Qualharini
Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica /
Curso de Engenharia Civil, 2017.
Referências bibliográficas: p. 56-57.
1. Introdução 2. Conceitos Sobre os Tipos de
Intervenções Urbanas 3. Obra do Porto Maravilha 4.
Análise e Impactos da Obra do Porto Maravilha 5.
Considerações Finais
I. QUALHARINI, E. L. II. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de
Engenharia Civil. III. Engenheiro Civil.
IV

AGRADECIMENTOS

Agradeço à toda família e amigos.


V

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Poli/UFRJ como parte


dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

UM ESTUDO DA REABILITAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DA OBRA DO


PORTO MARAVILHA

Leonardo Contreras Gouvêa Galhardo


Julho/2017

Orientador: Eduardo Linhares Qualharini


Curso: Engenharia Civil

Esta pesquisa apresenta uma revisão bibliográfica, tendo como referencial


teórico autores que tratam de intervenções urbanas, com destaque para a
renovação, reabilitação, requalificação e revitalização urbana, com objetivo de
identificar as características e atuação de cada uma em edificações e espaços
públicos que estão em condições precárias.

Foi apresentado um estudo da obra da Zona Portuária do Rio de Janeiro,


denominada Porto Maravilha, localizada na Praça Mauá, que transformou
espaços antes abandonados e precários em novo ponto turístico da cidade,
concebendo a recuperação da infraestrutura urbana, dos transportes, do meio
ambiente e dos patrimônios histórico e cultural da Região Portuária.

Destacaram-se algumas intervenções urbanas feitas neste estudo, assim


como algumas benfeitorias públicas e ações complementares que tiveram
origem após a obra e somente passaram a existir somente por conta desta, como
por exemplo o processo de gentrificação e a demolição do Elevado da
Perimetral.

Palavras-chave: Revitalização, Reabilitação, Porto Maravilha.


VI

Abstract of Monograph present to Poli/UFRJ as a partial fulfillment of the


requirements for degree of Civil Engineer.

REHABILITATION AND REVITALIZATION STUDY OF THE PORTO


MARAVILHA WORK

Leonardo Contreras Gouvêa Galhardo


July/2017

Advisor: Eduardo Linhares Qualharini


Course: Civil Engineering

This research presents a bibliography review, by having as theoretical


referential some authors who deal with urban interventions, focusing in urban
renovation, rehabilitation, requalification and revitalization, aiming to identify
features and operations of buildings and public places that are in precarious
conditions.

It was presented a study of the Rio de Janeiro’s Port Zone work, named Porto
Maravilha, located in Praça Mauá, that has turned places that were abandoned
and precarious before into a new touristic point of the city, conceiving the
recuperation of the urban infrastructure, transports, environment, historic and
cultural patrimony of the Port Zone.

Some urban interventions were contrasted in this study, as some public


improvement and complementary actions that had origin after the work and just
become realized because of it, as an example, the gentrification process and the
Elevado da Perimetral dismantlement

Keywords: Revitalization, Rehabilitation, Porto Maravilha


VII

SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 Introdução ...................................................................................... 1
1.2 Objetivo .......................................................................................... 3
1.3 Justificativa ..................................................................................... 3
1.4 Metodologia .................................................................................... 4
1.5 Estruturação do Trabalho ................................................................. 4
2. CONCEITOS SOBRE OS TIPOS DE INTERVENÇÕES URBANAS
2.1 Intervenções Urbanas... ................................................................... 5
2.1.1 Renovação Urbana... ....................................................................... 5
2.1.2 Reabilitaçao Urbana... ..................................................................... 7
2.1.3 Requalificação Urbana... .................................................................. 8
2.1.4 Revitalização Urbana... .................................................................. 10
2.1.5 Intervenções na Zona Portuária o Rio de Janeiro... .......................... 12
2.2 Gentrificação... .............................................................................. 17
3. OBRA DO PORTO MARAVILHA
3.1 Contexto Histórico... ...................................................................... 18
3.2 Operação Urbana Consorciada....................................................... 24
3.3 Programas Porto Maravilha Cultural e Cidadão................................ 29
3.4 Elementos Culturais e o Turismo do Porto Maravilha... .................... 32
4. ANÁLISE E IMPACTOS DA OBRA DO PORTO MARAVILHA
4.1 Gentrificação… .............................................................................. 42
4.2 Perimetral... .................................................................................. 44
4.3 Projeto Residencial... ..................................................................... 51
4.4 Aquário... ..................................................................................... 53
4.5 Museu do Amanhã... ..................................................................... 54
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 Comentários .................................................................................. 56
5.2 Sugestões ..................................................................................... 57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 58
INDICAÇÕES ELETRÔNICAS .................................................................. 58
VIII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Zona Portuária e Elevado da Perimetral (2011) .............................. 2

Figura 2 – Demolições para a construção da avenida Central, 1904-1905 ..... 3

Figura 3 – Canal Cheonggyecheon na Coréia do Sul: (a) antes e (b) depois das
obras de renovação. .......................................................................................... 6

Figura 4 – Hotel Bragança – Lapa, Rio de Janeiro: (a) antes e (b) depois da
reabilitação ........................................................................................................ 8

Figura 5 – Complexo Cantinho do Céu, em São Paulo: (a) área antes degradada
e precária. (b) vista de novo píer de madeira construído. (c) área após processo
de requalificação ................................................................................................ 9

Figura 6 – High Line, em New York: (a) Vista superior do elevado após
revitalização. (b) mapa do elevado e seus pontos de acesso .......................... 11

Figura 7 – Vista da Praça Mauá e antigo Elevado da Perimetral: (a) antes e (b)
depois das obras do Porto Maravilha ............................................................... 12

Figura 8 – Vista da Orla Conde, sentido Gamboa: (a) antes e (b) depois das
obras do Porto Maravilha. ................................................................................ 14

Figura 9 – Museu do Amanhã visto da Gamboa: (a) antes e (b) depois das obras
do Porto Maravilha. .......................................................................................... 15

Figura 10 – Museu de Arte do Rio: (a) antes e (b) depois das obras do Porto
Maravilha .......................................................................................................... 16

Figura 11 – A geografia original (em tom claro) e os contornos da região portuária


pós-aterro ......................................................................................................... 20

Figura 12 – Limites dos bairros da Zona Portuária do Rio de Janeiro .............. 21

Figura 13 – Região Portuária do Rio de Janeiro na década de 1960 ............... 23

Figura 14 – Delimitação da AEIU do Porto do RJ ............................................ 25

Figura 15: Esquema da aplicação dos CEPAC ................................................ 26

Figura 16 – Novos gabaritos permitidos com as CEPAC nas áreas da Zona


Portuária ........................................................................................................... 26

Figura 17 – Museu do Amanhã ........................................................................ 33

Figura 18 – Museu de Arte do Rio ................................................................... 34


IX

Figura 19 – Mural do artista Kobra em frente ao Armazém 4 do Cais do Porto


......................................................................................................................... 35

Figura 20 – Aquário ......................................................................................... 36

Figura 21 – Área externa dos Galpões da Gamboa. ........................................ 37

Figura 22 – Cais do Valongo na Praça Jornal do Comércio ............................. 38

Figura 23 – Área interna dos Cemitério dos Pretos Novos .............................. 39

Figura 24 – Igreja de São Francisco da Prainha, na Saúde ............................. 40

Figura 25 – Centro Cultural José Bonifácio reinaugurado em 20 de novembro de


2013 após restauro do Porto Maravilha Cultural ............................................. 41

Figura 26 – Uso e ocupação do solo na Zona Portuária por tipo de uso .......... 44

Figura 27 – Elevado da Perimetral durante a fase de obras ............................ 46

Figura 28 – Nova malha de diversos modais existente no Centro e Zona Portuária


do Rio de Janeiro .......................................................................................... 47

Figura 29 – Malha do Veículo Leve sobre Trilhos do Centro do Rio de Janeiro


......................................................................................................................... 48

Figura 30 – Via Binário do Porto do Rio de Janeiro ......................................... 50

Figura 31 – Via Expressa do Porto do Rio de Janeiro ..................................... 51

Figura 32 – Obras do empreendimento residencial da Zona Portuária: (a) em


abandono e (b) Ilustração da fachada pronta ................................................... 52

Figura 33 – Entrada Principal do Aquário ......................................................... 55

Figura 34 – Vista Aérea do Píer Mauá, antes das obras ................................. 55

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Intervenções Urbanas do Porto Maravilha ................................... 28

Tabela 2 – Ações do Programa Porto Maravilha Cultural .............................. 30

Tabela 2 – Ações do Programa Porto Maravilha Cidadão ............................. 31


X

GLOSSÁRIO

AEIU - Área de Especial Interesse Urbanístico

AIP - Atividades de Início Planejado

Aquario - Aquário Marinho do Rio

ARO - Atividades de Rotina

BRT - Bus Rapid Transit (Trânsito rápido de Ônibus)

CDURP - Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de


Janeiro

CEPACS - Certificados de Potencial Adicional de Construção

COI – Comitê Olimpíco Internacional

CPN – Concessionária Porto Novo

CRECI-RJ - Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Rio de Janeiro

FIFA - Federação Internacional de Futebol

HIS - Habitação de Interesse Social

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano

IRPH - Instituto Rio Patrimônio da Humanidade

ITDP - Institute for Transportation & Development Policy (Instituto de Transportes


e Política de Desenvolvimento)

JK - Juscelino Kubitschek

Km – Quilômetro

MAR - Museu de Arte do Rio

OUC - Operação Urbana Consorciada

Phis-porto - Plano de Habitação de Interesse Social do Porto do Rio de Janeiro

PPP – Parceria Público-Privada


XI

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a


Cultura

VLT – Veículo Leve sobre Trilhos


1

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1. INTRODUÇÃO

Em 2009, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou a cidade do Rio de


Janeiro como a sede dos jogos olímpicos e paraolímpicos, um dos maiores eventos
do mundo. Anteriormente, em 2008, a Federação Internacional de Futebol (FIFA)
formalizou o Brasil como o país em que seria sediada a Copa do Mundo 2014. Frente
a estes megaeventos, a cidade carioca recebeu diversos investimentos. Segundo o
Site 4 (2016), foi orçado apenas para as Olimpíadas o valor total de R$ 39 bilhões, e
cerca de 60% do dinheiro foi direcionado para obras de infraestrutura e melhorias na
cidade, como vias urbanas, revitalização do porto, ampliação do metrô, VLT e BRT.

Não foi diferente nas outras cidades que sediaram estes megaeventos no passado.
Sede das Olimpíadas 1992, Barcelona tornou-se referência na discussão sobre os
benefícios de sediar os jogos, pois trouxe um enorme legado à cidade como a
revitalização do centro histórico, melhoria dos transportes, criação de parques
urbanos, transformação de zona deteriorada da cidade em bairro nobre, centros
esportivos abertos à população e soluções de problemas em moradias. No caso de
Londres, a cidade já possuía previamente um Plano Estratégico de Londres 1998-
2004, com uma projeção para 2020, que abrangia estratégias de crescimento,
infraestrutura, habitação, desenvolvimento econômico, segurança, cultura e meio
ambiente. Haviam problemas e uma boa oportunidade para colocar a cidade no
âmbito internacional e atrair recursos, assim Londres entrou numa
acirrada competição para ser sede das Olimpíadas 2012. Graças ao megaevento, foi
possível levar adiante o Plano com mais facilidade e recursos, trazendo enormes
investimentos para a cidade.

Conforme Somekh e Campos Neto (2005), grandes cidades que assistiram ao


esvaziamento de antigas instalações portuárias situadas em zonas relativamente
privilegiadas, estavam entre as primeiras cidades a vislumbrar o potencial urbanístico
e imobiliário dessas áreas. A visão estratégica salientou a possibilidade de aproveitar
essas oportunidades de renovação para a implementação de projetos que
combinassem atratividade para eventuais investidores, alta visibilidade e atividades
afinadas com tendências econômicas emergentes, concentradas no setor terciário e
nos serviços especializados – escritórios, lazer, turismo, gastronomia, esporte, alta
tecnologia e assim por diante.
2

Em meio a um recente cenário de crise financeira e de operações contra


corrupção, a sociedade começou a questionar o tamanho do orçamento feito para as
Olimpíadas, em contraste com o de setores públicos como da Saúde e da Educação,
que se encontram, até hoje, em condições limitadas e precárias. Estes fatos deram
origem a uma série de polêmicas sobre a necessidade dos projetos em si, como a
derrubada da antiga via urbana localizada na zona portuária do Rio, o Elevado da
Perimetral, para construção de uma via não mais elevada, porém passando
praticamente pelo mesmo trecho da via antiga.

Figura 1: Zona Portuária e Elevado da Perimetral (2011).


Fonte: Site 9, 2016

A demolição do Elevado da Perimetral permitiu a implantação da obra do Porto


Maravilha, uma das maiores dentre as executadas na cidade em preparação para os
megaeventos acima citados. Localizada no Centro do Rio, na zona portuária, a obra
deu uma nova urbanidade ao espaço, requalificando alguns prédios antigos que ali se
encontram, e criando uma grande área de lazer e turismo. (PORTO MARAVILHA, Site
9, 2016)

A última grande intervenção que o Centro do Rio de Janeiro passou foi na época
do ex-prefeito Pereira Passos, no início do século XX. Ele implementou duas grandes
obras: uma modernização da zona portuária degradada e em seguida uma
intervenção maior no Centro histórico. Ruas estreitas e insalubres sumiram do mapa,
3

cortiços e casas pobres foram postas abaixo, e surgiu no Centro a Avenida Central
(atual Avenida Rio Branco), assim como a Francisco Bicalho, a Rodrigues Alves, a
Avenida Maracanã e a Avenida Beira-Mar, que se propunham a facilitar a ligação entre
o Centro e os bairros residenciais mais abastados. Destacam-se também nessa época
que revolucionou a malha urbana do Rio os alargamentos de vias como a Marechal
Floriano, a Rua do Catete, a Uruguaiana, a Rua da Carioca, entre tantas outras; e a
construção de obras importantíssimas como o Theatro Municipal, uma das marcas da
administração de Pereira Passos. (PORTAL ARQUITETÔNICO, Site 1, 2016)

Figura 2: Demolições para a construção da avenida Central, 1904-1905


Fonte: Site 1, 2016

1.2. OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise crítica a respeito das


intervenções urbanas e dos resultados da Obra do Porto Maravilha, localizada no
Centro do Rio de Janeiro.

1.3. JUSTIFICATIVA

Este trabalho se justifica por ser sobre um tema recente e que ainda possui poucas
abordagens a respeito, de forma que há carência de material sobre o assunto.
4

1.4. METODOLOGIA

Foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre intervenções urbanas. Foram


coletadas informações através da leitura de trabalhos de monografias da UFRJ, além
de publicações no site oficial do consórcio da obra do Porto Maravilha e materiais
disponíveis na internet.

1.5. ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho é composto de cinco capítulos estruturados da seguinte forme:

O primeiro capítulo trata da introdução ao tema, com a contextualização deste


dentro do cenário atual da cidade do Rio de Janeiro, bem como da justificativa de
escolha do tema, metodologia de pesquisa e estruturação do trabalho.

O segundo capítulo apresenta os conceitos sobre os diferentes tipos de


intervenções urbanas que são feitas nos núcleos centrais, ou em áreas
desvalorizadas, além de exemplificar locais ao longo do mundo aonde cada uma
destas ações foi aplicada. São estas: renovação urbana, reabilitação, requalificação e
revitalização urbana. Há ainda algumas ilustrações dos tipos de intervenção urbana
usados na Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro.

O terceiro capítulo discorre sobre obra do Porto Maravilha do Rio de Janeiro,


abordando seu contexto histórico e detalhando as mudanças urbanas feitas pelo
consórcio responsável, além de apresentar os novos pontos turísticos e os programas
sociais e culturais implantados pela concessionária.

O quarto capítulo apresenta algumas ações complementares que surgiram apenas


devido às intervenções realizadas, levantando alguns assuntos polêmicos sobre os
reais benefícios da obra.

O quinto e último capítulo trata das considerações finais do trabalho. Faz-se,


portanto, uma análise final do atendimento aos objetivos do trabalho e apresentando
em seguida as suas referências bibliográficas.
5

2. CONCEITOS SOBRE OS TIPOS DE INTERVENÇÕES URBANAS


2.1. INTERVENÇÕES URBANAS

Com o passar do tempo, toda edificação sofre degradação com o uso e tende a
chegar ao fim de sua vida útil. Por mais que seja projetada para ter durabilidade de
longo período, para mais de 50 anos, por exemplo, se não houver manutenções
frequentes ao longo de sua vida útil, esta tende a diminuir. Isto é o que vem ocorrendo
com principais núcleos urbanos históricos ao longo do mundo. A recuperação destas
áreas passa a ser algo necessário para a sociedade, e quando um espaço destes
passa por um processo de intervenção, pode haver uma possível valorização
imobiliária, cultural e social.

Como estes espaços são públicos, é preciso a intervenção do governo para tomar
decisões sobre como será feita a intervenção urbana da região, o que dada a
diversidade de interesses pode gerar intervenções inconciliáveis. Assim, surgiram os
conceitos de renovação urbana, reabilitação, requalificação e revitalização que serão
analisados nas páginas a seguir.

2.1.1. RENOVAÇÃO URBANA

Renovação urbana é a substituição de estruturas existentes, e pode ser realizada


com a demolição de edifícios e a construção de novos imóveis, geralmente com
características morfológicas e tipológicas diferentes e com novas atividades
econômicas adaptadas ao processo de mudança urbana.

Segundo Cunha (1999), o conceito da renovação urbana foi inspirado na nova


Carta de Atenas, publicada em 1943 por Le Corbusier. Nela, Corbusier afirmava que
embora a preservação de edifícios ou de conjuntos urbanísticos com valor cultural
seja muito importante, não se pode sacrificar a qualidade de vida das populações,
defendendo-se a necessidade de construir novas cidades que correspondessem aos
direitos fundamentais do indivíduo (habitação, trabalho, circulação e recreação). A
partir dessas ideias, inicia-se a substituição das estruturas físicas existentes,
envolvendo a demolição de áreas mais ou menos vastas, para se transformarem em
vias rápidas, viadutos, parques de estacionamento, edifícios para escritórios,
adaptando-se as cidades herdadas às “necessidades da vida moderna”. Definindo-se
então essas práticas como características na implantação das renovações urbanas.
6

Na renovação, há uma mudança no uso do solo. De acordo com Moura et al


(2005), a renovação urbana implicou na reocupação das zonas centrais pelas
atividades econômicas de ponta. Espaços residenciais passaram a dar a vez para
escritórios de grandes empresas multinacionais e elevado status econômico, que
buscam uma localização estratégica em áreas devolutas. Ocorre então, uma
progressiva periferização das habitações, ou ainda das atividades econômicas de
fraca capacidade para competir no mercado imobiliário com essas empresas. Implica,
portanto, uma mudança estrutural que abrange três dimensões básicas: dimensão
morfológica (forma da cidade e da paisagem), dimensão funcional (base econômica e
das funções a ela associadas que podem desaparecer ou serem substituídas) e a
dimensão social.

Como exemplo, tem-se o canal Cheonggyecheon na Coréia do Sul que, com o


crescimento da cidade, foi sendo aterrado e dando lugar a uma grande via expressa.
Anos depois, houve a necessidade de se modificar o lugar, então o governo resolveu
agir e com a ajuda de urbanistas eles substituíram a via expressa pelo antigo canal,
modificando o uso do solo, e assim os carros foram substituídos por pedestres e
jardins, dando um novo aspecto mais moderno à região. A Figura 3 ilustra duas
fotografias do canal, onde pode-se perceber as diferenças de antes e depois da
renovação urbana.

a) b)

Figura 3: Canal Cheonggyecheon na Coréia do Sul: (a) antes e (b) depois das obras
de renovação.
Fonte: Site 11, 2016
7

2.1.2. REABILITAÇÃO URBANA

Quanto pretende-se fazer uma reabilitação, trata-se da execução de obras de


conservação, recuperação e readaptação de edifícios e espaços urbanos, com o
objetivo de melhorar suas condições de uso e habitabilidade, conservando, porém, o
seu caráter fundamental.

Segundo Moura et al (2005) a grande diferença entre renovação e reabilitação é


que enquanto a primeira faz grandes modificações nas edificações e, por
consequência, nos aspectos social e econômico, a reabilitação não representa a
destruição do tecido original, mas a sua readaptação a novas situações em termos de
funcionalidade urbana. Tem por fim readequar áreas urbanas que estavam
degradadas, dando ênfase ao seu caráter de ocupação, no qual geralmente se fazem
duas intervenções complementares:

a) No edificado, executando a demolição de benfeitorias, o restauro de outras e


ainda a construção de novas. Cabe ressaltar que a reabilitação urbana não implica
uma intervenção igual em todos os edifícios.

b) Na paisagem urbana, levando em consideração elementos de visibilidade,


fachadas, espaços de transição como o espaço público contíguo ao residencial. As
intervenções de reabilitação surgem muitas vezes associadas a atuações de
melhoramento do espaço público ou revitalização do mesmo.

Preocupações com o patrimônio histórico arquitetônico e com a manutenção da


população nos centros das cidades orientam esta política de intervenção urbanística.
Para ter-se um desenvolvimento urbano sustentável, deve-se preservar a diversidade
cultural, preservando e valorizando o patrimônio construído. De efeito contrário aos
ideais da globalização, este modelo permite uma melhor qualidade de vida. A imagem
da cidade, e dos centros históricos em particular, é um fator fundamental para o
reforço dos laços identitários da população e para a coesão social. A reabilitação
integrada dos tecidos históricos emerge como uma via privilegiada de atingir estes
objetivos

Assim sendo, segundo Moura et al (2005), deve-se promover a reabilitação urbana


em oposição à construção em locais novos para que a expansão urbana não se faça
às expensas do ambiente.
8

Como exemplo, na Figura 4 apresentam-se duas fotografias de antes e depois da


reabilitação do Hotel Bragança, localizada na cidade do Rio de Janeiro, no bairro da
Lapa. Percebe-se que a arquitetura é mantida, não danificando os aspectos originais
de sua concepção. São reformados elementos de revestimento na fachada e da
cobertura, e o formato das esquadrias foi mantido conforme original.

a) b)

Figura 4: Hotel Bragança – Lapa, Rio de Janeiro: (a) antes e (b) depois da
reabilitação.
Fonte: Site 7, 2016

2.1.3. REQUALIFICAÇÃO URBANA

Ao fazer a requalificação de um espaço, há a intenção de atribuir uma nova


função ou novas funções a este ato. A requalificação urbana visa a melhoria das
condições de vidas das populações, promovendo a construção e recuperação de
equipamentos e infraestruturas e a valorização do espaço público com medidas de
dinamização social e econômica. Procura-se propiciar qualidades urbanas, na
acessibilidade e atualidade a uma determinada área, sendo frequentemente
denominada de uma política de centralidade urbana.

Consequentemente, a requalificação provoca a mudança de valor da área, ao nível


econômico (atividades econômicas com alto valor financeiro), cultural (localização de
usos econômicos relacionados com a cultura), paisagístico e social (produção de
espaços públicos com valor de centralidade). (MOURA et al, 2005)
9

Um exemplo que se pode citar é o projeto desenvolvido pelo arquiteto Marcos


Boldarini para a favela do Cantinho do Céu em São Paulo. O parque é configurado
por uma faixa de, aproximadamente, 7km de extensão, às margens da represa
Billings. A área a ele destinada foi delineada a partir da identificação das construções
em situação risco e daquelas com impossibilidade de conexão aos sistemas de
saneamento básico, ou seja, a superfície do projeto corresponde às áreas objeto de
remoção, sejam elas as já realizadas ou as previstas.

Este parque reinseriu na área urbana uma requalificação que aliou ações
urbanísticas, sociais e econômicas. A Figura 5 ilustra três fotografias do Cantinho do
Céu, onde pode-se perceber as diferenças de antes (Figura 5a) e depois (Figura 5b e
5c) da renovação urbana.

a) b)

c)

Figura 5: Complexo Cantinho do Céu, em São Paulo: (a) área antes degradada e
precária. (b) vista de novo píer de madeira construído. (c) área após processo de
requalificação
Fonte: Site 13, 2016
10

2.1.4. REVITALIZAÇÃO URBANA

A revitalização urbana desenvolve estratégias e promove um processo de inclusão


e integração de áreas antes degradadas, agregando valor ao lugar. É um instrumento
de gestão coletiva do território com capacidade de utilizar programas urbanos muito
diferenciados, de cunho mais social, econômico ou cultural, provocando iniciativas,
projetos e atuações. (MOURA et al, 2005)

Tem como objetivo principal integrar espaços. Integrar dimensões de intervenção,


integrar funções urbanas, integrar parceiros e recursos. Nesse contexto a revitalização
reconhece, mantem e introduz valores de forma cumulativa e sinergética. Isto é,
intervém a médio e longo prazo, de forma relacional, assumindo e promovendo os
vínculos entre territórios, atividades e pessoas. O processo de revitalização
desenvolve-se numa perspectiva de sustentabilidade da intervenção, articulando as
oportunidades, as vantagens competitivas e um urbano cada vez mais globalizado, de
expressão localizada, tomando os seguintes valores:

1. A performance económica e financeira;

2. A sustentabilidade física e ambiental;

3. A coesão social e cultural.

Assim, a revitalização urbana tem foco em a intervir na melhoria da qualidade do


ambiente urbano, das condições socioeconómicas ou no quadro de vida de um
determinado território.

A Figura 6 ilustra um dos maiores projetos de revitalização. O High Line, localizado


em New York, era um antigo caminho ferroviário que ligava as ruas 34th Street e
Spring Street. Com o passar dos anos, a operação ferroviária passou a ficar
inoperante, ficando um espaço inutilizável. Então foi criado o projeto que urbanizou a
via e criou uma área de lazer com jardins e passagens para pedestres. Na Figura 6a,
pode-se perceber áreas de paisagismo com diversa variedade de jardins, dividindo
espaço com a área para travessia de pedestres que transcorrem ao longo do elevado.
11

a)

b)

Figura 6: High Line, em New York: (a) Vista superior do elevado após revitalização.
(b) mapa do elevado e seus pontos de acesso.
Fonte: Site 4, 2016

De acordo com o site 5 (2016), o mapa indicativo da High Line ilustra os acessos
ao elevado, distinguindo os que são para portadores de necessidades especiais. Além
disso, é possível encontrar ao longo do percurso cerca de 4 tendas de alimentação,
mais de 10 designs de jardim, 14 pontos de projetos artísticos, e diversos bicicletários.
12

2.1.5. INTERVENÇÕES NA ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO

Como exemplo, pode-se verificar diversos tipos de intervenção urbana na Zona


Portuária da cidade do Rio de Janeiro. A seguir serão apresentados alguns cenários
que retratam as mudanças feitas na região. Antes das obras, o Elevado da Perimetral
transcorria pelo interior da Praça Mauá, e esta servia apenas de passagem e
estacionamento para carros, conforme ilustrado na Figura 7a. Posteriormente, o
Elevado já não está mais presente, e a nova praça possui um paisagismo moderno,
nova mobilidade urbana e diversos espaços que valorizam a região em termos
turísticos, com grande espaço livre e estímulo à prática da caminhada e ciclismo, como
pode-se ver na Figura 7b.

a)
13

b)

Figura 7: Vista da Praça Mauá e antigo Elevado da Perimetral: (a) antes e (b) depois
das obras do Porto Maravilha.
Fonte: Site 9, 2016

A se tratar do Elevado da Perimetral, tem-se a característica de Renovação


Urbana, uma vez em que o elevado foi demolido e criou-se um novo projeto de
mobilidade urbana e paisagismo para região, principalmente ao longo da Praça Mauá
e da Orla Conde. A Praça Mauá foi completamente revitalizada, com a eliminação dos
estacionamentos de veículos e criação de novo paisagismo e novos modais de
transporte, como o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e ciclovias, além da implantação
de monumentos e letreiros com intuito turístico.

Como ilustrado na Figura 8a, era possível ver-se as vigas do antigo Elevado, e
abaixo uma calçada já degradada e pouca movimentação de pessoas no local, por
servir apenas de passagem de veículos, forte característica do Porto na época. Já na
Figura 8b, pode-se ver um novo espaço urbanizado, com paisagismo moderno e
trilhos para o novo modal da região, o VLT. Os antigos galpões e prédios estão agora
reformados e foram criados pontos de acessibilidade para portadores de
necessidades especiais. Este trecho tem forte característica de revitalização e
requalificação urbana.

Atualmente, pode-se transitar a pé ou pelo VLT ao longo de toda a Orla Conde.


Diversas exposições artísticas foram inauguradas em 2016, como as pinturas de
14

diversos artistas nas fachadas dos prédios da Orla, como por exemplo as do famoso
artista Kobra. Os galpões abrigaram lojas e eventos durante toda duração dos Jogos
Olímpicos, sendo este local o chamado Boulevard Olímpico.

a)

b)

Figura 8: Vista da Orla Conde, sentido Gamboa: (a) antes e (b) depois das obras do
Porto Maravilha.
Fonte: Site 9, 2016

Na Figura 9 abaixo, o espaço vazio e subutilizado do Píer Mauá da antiga Zona


Portuária, com toda a estrutura antiga ainda, passa a ser local para o Museu do
Amanhã, um dos pontos mais atrativos e visitados durante a época dos Jogos
Olímpicos de 2016. Tem-se neste espaço uma revitalização urbana, pois não foi
necessário demolir a estrutura original que o Píer apresentava.
15

Mesmo após o megaevento, o museu ainda recebe diariamente inúmeros turistas


e cariocas. Percebe-se que houve uma forte mudança no entorno da região devido à
valorização imobiliária, pelo surgimento de enormes arranha céus, em sua maioria
edifícios comerciais ou hotéis. Na Figura 9b é possível ver um destes
empreendimentos ainda sendo erguido.

a)

b)

Figura 9: Museu do Amanhã visto da Gamboa: (a) antes e (b) depois das obras do
Porto Maravilha.
Fonte: Site 9, 2016

Os edifícios do Hospital da Polícia Civil e o Palacete Dom João VI, da Figura 10a,
passaram por um processo de reabilitação em que se uniram os dois para criação do
16

Museu de Arte do Rio. Além disso, foram construídas passarelas para fazer ligação
entre os prédios e uma cobertura em formato de onda, como pode-se ver na Figura
10b. A arquitetura da fachada do Palacete foi preservada, bem como suas esquadrias
e a cúpula no topo da cobertura.

a)

b)

Figura 10: Museu de Arte do Rio: (a) antes e (b) depois das obras do Porto
Maravilha.
Fonte: Site 9, 2016
17

2.2. GENTRIFICAÇÃO

Tem-se por definição de Gentrificação o fenômeno que afeta uma região ou bairro
pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos
comerciais ou construção de novos edifícios, valorizando a região e afetando a
população de baixa renda local. Tal valorização é seguida de um aumento de custos
de bens e serviços, tornando inviável a permanência de antigos moradores que não
consigam acompanhar com suas rendas o novo padrão de vida instituído no local cuja
realidade foi alterada.

A primeira referência ao termo gentrification é atribuída a R. Glass que, em seu


estudo sobre Londres em 1964 utilizou esta expressão, comparando o processo com
um velho hábito próprio da gentry, uma expressão inglesa que designa pessoas ricas,
ligadas à nobreza, que destacava a revalorização experimentada por certos bairros
de Londres nos anos 60. Quando vários gentriers migraram para um bairro que, até
então, abrigava a classe trabalhadora, o preço imobiliário do lugar disparou, acabando
por “expulsar” os antigos moradores para acomodar confortavelmente os novos donos
do local. O evento foi chamado de gentrification, que numa tradução literal, poderia
ser entendida como o processo de enobrecimento, aburguesamento ou elitização de
uma área (VAN WEESEP, 1994)

Um processo de gentrificação possui bastante semelhança com um projeto de


revitalização urbana, com a diferença que esta pode ocorrer em qualquer lugar da
cidade e normalmente está ligada a uma demanda social bastante específica, como
reformar uma praça de bairro abandonada, promovendo nova iluminação, jardinagem,
banco, etc. Enquanto a gentrificação é basicamente motivada pelo interesse privado,
visando uma especulação imobiliária. Logo, tende a ocorrer em bairros centrais,
históricos, ou com potencial turístico.

Desenvolveu-se no Brasil e no mundo um modelo de desenvolvimento


hegemônico, que não prioriza o modo de viver, de produzir das populações locais,
quando se trata de reestruturação urbana. Por isso, é necessário analisar as
perspectivas acerca das contradições e interações entre a urbanização e o turismo.
Deve-se almejar, de fato, uma sociedade justa, sustentável, com o turismo
contribuindo com a elevação da qualidade dos serviços para os turistas e a qualidade
de vida dos anfitriões (TRIGO, 2005).
18

3. OBRA DO PORTO MARAVILHA


3.1 CONTEXTO HISTÓRICO

A primeira grande reforma realizada na cidade do Rio de Janeiro ocorreu com a


vinda da família real portuguesa para residência a partir de 1808, quando o território
sofreu enormes modificações no espaço urbano e nos costumes. De acordo com
dados do arquivo nacional (2007):

(...) antes de 1808, o Rio de Janeiro - embora já capital da


colônia do Brasil desde 1763 - era uma cidade colonial de
proporções moderadas com casas térreas simples, de ruas
estreitas, boa parte delas carecendo de calçamento, ocupadas
por escravos, libertos, brancos pobres, comerciantes, artesãos e
uma pequena presença de senhoras brancas. Os atrativos
sociais eram poucos e limitavam-se a idas à igreja, procissões e
festas religiosas, e a passeios no passeio público e outras
poucas áreas propícias a caminhadas (ARQUIVO NACIONAL,
2007, p.01).

Os bairros portuários foram, desde o seu princípio, destinados a receber as


camadas mais pobres da população e, após a chegada da família real portuguesa, a
região também foi destinada a receber as atividades mais poluidoras e inóspitas, como
o comércio de escravos. Estas características da região fizeram com que a nobreza
instalasse sua residência em outros locais da cidade.

A Zona Portuária foi uma área destinada a comportar usos mais periféricos, de
características menos nobres, ou seja, vinculados à questão da escravidão e seus
desdobramentos, aos depósitos de mercadorias, às tabernas e oficinas, aos trapiches
e atividades ligadas ao porto, e a uma população também periférica e marginalizada,
porém fundamental ao processo de manutenção e crescimento da cidade. (MELLO,
2003)

Segundo Honorato (2008), o maior problema da cidade eram os pântanos e


charcos, que deixavam o ar sempre úmido, que, associados ao calor, formavam
ambiente propício ao desenvolvimento de epidemias que assolavam a população. A
solução para este problema foi aterrar os brejos e alagadiços, abrir largas ruas e
impedir a população de construir tantas casas baixas em qualquer lugar, dificultando,
deste modo, a ventilação do centro da cidade.
19

A segunda reforma urbana que mais se destacou foi a reforma urbanística de


Pereira Passos no começo do século XX. Com o objetivo de embelezar o Rio de
Janeiro, removeu os cortiços do centro da cidade, fazendo com que os moradores
viessem a procurar outro ambiente para se estabelecerem.

O prefeito se inspirou em Paris, no modelo Haussman de Urbanização, por meio


de manobras militares para fazer as reformas urbanísticas no Rio, construindo praças,
ampliando ruas e criando estruturas de saneamento básico. Entre as principais
heranças da gestão Passos estão o Teatro Municipal, o Museu Nacional de Belas
Artes e a Biblioteca Nacional (ZALUAR E ALVITO, 2004).

Durante o período de reformas do prefeito Pereira Passos, iniciaram-se novas


intervenções urbanas na Região Portuária, com a intenção de eliminar os aspectos
desfavoráveis da herança histórica. Estas melhorias iriam alterar profundamente as
características e a ocupação da região, transformando por completo a geografia das
praias e das margens do território. Foi feito um grande aterro que compreendia a área
de entorno do Morro de São Diogo (atual Morro do Pinto), unindo o continente às
antigas ilhas dos Melões e das Moças, fazendo que desaparecessem definitivamente
as praias existentes. Para construção desse aterro, usou-se material proveniente do
desmonte do Morro do Senado no centro da cidade. Com isso, a região começava a
ganhar as feições e usos que a caracterizam até os dias de hoje.

Dentro do plano de reformas que atingiram as regiões central e portuária também


faziam parte as avenidas Central, Francisco Bicalho e Rodrigues Alves. Estas
modernas e funcionais avenidas foram construídas e projetadas como as principais
vias de ligação ao novo porto a ao escoamento de cargas.

A Figura 11 sobrepõe um mapa da geografia original à uma projeção do que viria


a ser o aterro, da forma como se encontra até os dias de hoje. Apresenta uma boa
noção das dimensões e do que significaram o aterro e o novo porto para a região.
20

Figura 11: A geografia original (em tom claro) e os contornos da região portuária
pós-aterro.
Fonte: CDURP – Prefeitura do Rio de Janeiro

Com as intervenções urbanas realizadas no novo porto, definiu-se uma nova


tipologia de ocupação e estruturação viária e fundiária da região. A extensa faixa de
aterro do complexo portuário deu origem à implantação de edificações de uso
mercantil, industrial e logístico, com atividades majoritariamente ligadas ao porto. O
financiamento das obras portuárias, através de empréstimos ingleses diretamente à
União, transformou as áreas aterradas em propriedades públicas cedidas por
concessão, para atividades privadas ou institucionais.

A área hoje reconhecida como a Região Portuária do Rio de Janeiro corresponde


aos bairros da Gamboa, Saúde e Santo Cristo, avançando até o Caju, estando
diretamente atrelados ao desenvolvimento do núcleo original, localizado nos arredores
da atual Praça XV de Novembro. Na figura 12, é ilustrado um mapa atual em que
pode--se identificar os bairros citados, além dos contornos dos aterros feitos nas
intervenções do início do século XX que ainda se mantém.
21

Figura 12: Limites dos bairros da Zona Portuária do Rio de Janeiro.


Fonte: CDURP – Prefeitura do Rio de Janeiro

No início dos anos 60, o sistema ferroviário da Zona Portuária foi sucateado e
abandonado na região para ser substituído pela malha rodoviária. A cidade vivenciava
seus maiores congestionamentos devido ao acréscimo elevado de veículos e à
ausência de rotas de ligação entre as zonas norte e sul que não fossem obrigadas a
atravessar a região central. Por sua localização estratégica, a região portuária recebeu
a construção de novas e impactantes vias sobre seu território: a Avenida Presidente
Vargas, na ligação com a Radial Oeste; o eixo da Av. Professor Pereira Reis e Viaduto
São Sebastião, para a ligação expressa com a Zona Sul e o Elevado da Perimetral,
para ligação com a Av. Brasil e a Ponte Rio-Niterói.

Devido a estas novas mudanças, a região ficou isolada do tecido urbano carioca
por vias expressas e os equipamentos e instalações que antes serviam ao porto foram
abandonados, tornando-se terminais rodoviários, garagens de ônibus,
estacionamentos de caminhões e barracões de Escolas de Samba que, devido à
proximidade com o Sambódromo, vieram ocupar parte dos galpões e armazéns
portuários abandonados. Contraditoriamente, a própria reforma urbana também
contribuiu para a estagnação e isolamento da região pois:
22

Os bairros portuários ficaram, de certa maneira, à margem


da cidade, no tempo e no espaço. À margem até do porto, uma
vez que o grande aterro afastou definitivamente os antigos
bairros marítimos do mar, e as áreas aterradas nunca chegaram
a se integrar realmente com as áreas antigas. Os elos que
promoviam a ligação com a cidade iam sendo rompidos
lentamente, isolando aos poucos os três antigos bairros
portuários. (Cardoso et. al., 1987, p. 128)

Apesar de toda sua importância histórica e cultural, a Região Portuária do Rio de


Janeiro tornou-se um local residual e a degradação urbana passou a ser a tônica desta
área, agravada pelo bloqueio imposto pelo Elevado da Perimetral, que isolou
definitivamente a região da orla da Baía, além de trazer poluição visual e sonora e
atrair para o seu entorno usos indesejáveis e marginais, beneficiados pela escuridão
proporcionada pela barreira viária que servia apenas aos veículos motorizados cujo
destino não era a região portuária.

A Figura 13 ilustra a Região Portuária do Rio de Janeiro na década de 1960. A


costa já possuía o formato do aterro após as obras, conforme ilustrado na Figura 11,
e diversos galpões industriais se encontravam ao longo do porto acompanhados da
poluição proveniente das atividades comerciais. Percebe-se que já havia uma boa
concentração imobiliária nas zonas centrais do Rio de Janeiro.
23

Figura 13 – Região Portuária do Rio de Janeiro na década de 1960


Fonte: Site 15, 2017

Outro fator que favoreceu para a degradação gradual da Zona Portuária, foi o
abandono de imóveis que serviam ao porto e ao governo, devido à modernização das
operações portuárias e a transferência da capital para Brasília durante o Governo de
JK (e a consequente transferência dos órgãos governamentais para a nova capital),
deixando a região com grandes extensões territoriais e imóveis vazios ou
subutilizados.

Durante as últimas décadas, a expansão imobiliária da cidade do Rio de Janeiro


se deu para as regiões da Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Recreio. Segundo dados
da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário (Ademi), mais de 60% das
unidades habitacionais lançadas em 2012 se concentra na região: Jacarepaguá
(3.254), Recreio (2.361), Barra da Tijuca (1.342) e Campo Grande (722). “As
construtoras estão ávidas por terrenos nessa área. A procura aumentou em 50%
desde 2009. E o valor dos imóveis registra uma valorização de 25% ao ano” comenta
o representante do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Rio de Janeiro
(Creci-RJ) na Barra da Tijuca, Carlos Alberto Macedo.

Houveram poucos lançamentos de novos empreendimentos no Centro, devido à


indisponibilidade de terrenos livres nesta área de ocupação praticamente consolidada.
A taxa de vacância nos imóveis comerciais da região central durante os anos 2000
24

chegava a 5% e havia alta procura pelos poucos imóveis residenciais disponíveis, por
proporcionar maior conforto de residir próximo do local de trabalho. Desta forma, estes
tinham seus preços inflacionados ou eram esgotados rapidamente durante o
lançamento de um novo empreendimento. Portanto, a Barra da Tijuca passou a ser
um novo polo de concentração populacional, o que trouxe problemas de mobilidade
urbana como tráfego intenso de veículos e vias congestionadas.

Posteriormente, o crescimento do mercado imobiliário na Zona Oeste começou a


saturar, logo houve a necessidade de se buscar novas áreas para investimento e
expansão da cidade. Entretanto, não havia disponibilidade de novas áreas na região
central que pudessem absorver a demanda de empreendimentos que se especulava
com o reaquecimento da economia brasileira. Com a junção dos fatores fundiário e
imobiliário favorecendo sua visibilidade, a requalificação da região portuária passou a
ficar atrativa como área disponível para novos usos urbanos baseados numa nova
ocupação imobiliária. Restava somente planejar as maneiras pelas quais seriam
financiadas e legalizadas as ações necessárias para o reordenamento do território.

A partir de 2008, a cidade do Rio de Janeiro viria a sediar as operações de


exploração de petróleo do Pré-Sal, além de estar se preparando para sediar
megaeventos internacionais de grande porte como a Rio+20 (em 2012), a Jornada
Mundial da Juventude (em 2013), a Copa do Mundo de Futebol (em 2014) e,
principalmente, as Olimpíadas de 2016. Dessa forma, foi possível trazer investimentos
para a implantação do projeto de requalificação da zona portuária.

3.2 OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA

Aprovada em 23 de novembro de 2009, na Câmara Municipal, a Lei Complementar


101 instituiu a Operação Urbana Consorciada da Região do Porto do Rio de Janeiro,
batizada também como Porto Maravilha. Formada por um consórcio entre as
empreiteiras OAS S.A., Organizações Odebrecht e Carioca Christiani-Nielsen
Engenharia, a Concessionária Porto Novo (CPN) foi a vencedora da licitação objeto
do Edital 001/2010 “para a contratação, em regime de parceria público-privada, na
modalidade concessão administrativa, do serviço de revitalização, operação e
manutenção da Área de Especial Interesse Urbanístico da Região Portuária do Rio de
Janeiro”.
25

Na lei, definiu-se a Área de Especial Interesse Urbanístico – AEIU do Porto do RJ


– cuja delimitação compreende uma área de aproximadamente 5 milhões de m², que
abrange os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo e partes dos bairros de São
Cristóvão, Caju, Cidade Nova e do Centro, conforme ilustrado na Figura 14.

Figura 14: Delimitação da AEIU do Porto do RJ


Fonte: CDURP – Prefeitura do Rio de Janeiro

Portanto, a OUC foi definida para funcionar como uma PPP – Parceria Público-
Privada, cujo parceiro público é representado pela CDURP – Companhia de
Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro, órgão municipal
gestor e fiscalizador da Operação, enquanto o componente privado é a
Concessionária Porto Novo, responsável pelas obras, serviços e manutenção da AEIU
do Porto durante o período de 15 anos, previstas no Conjunto de Intervenções do
Anexo II da LC-101/2009.

A Prefeitura arrecadou recursos financeiros por meio dos Certificados do Potencial


Adicional de Construção (CEPACS), títulos usados para financiar Operações Urbanas
Consorciadas que recuperam áreas degradadas nas cidades. Com a emissão dos
Cepacs, são gerados os chamados “direitos adicionais de construção” nas áreas
definidas pelas Operações Urbanas. A Lei Municipal Complementar 101/2009 amplia
o potencial construtivo na área. Para fazer uso desse benefício, o proprietário precisa
comprar Cepacs, que são emitidos pela prefeitura. O dinheiro arrecadado é vinculado
ao investimento em infraestrutura na região. É uma técnica de financiamento de
26

renovação urbana a partir do próprio valor criado na operação, que não onera o
orçamento público. A Figura 15 é uma ilustração da alteração do gabarito da
edificação que é proveniente do direito promovido pela CEPAC.

Figura 15: Esquema da aplicação dos CEPAC


Fonte: CDURP – Prefeitura do Rio de Janeiro

A figura 16 retrata o mapa de novos gabaritos permitidos na subsetorização criada


com a implementação dos novos parâmetros urbanísticos da LC-101/2009 sobre a
AEIU do Porto do RJ, que alterou os parâmetros anteriormente vigentes no Plano
Diretor Decenal instituído pela Lei Complementar Municipal nº16, de 04 de junho de
1992.

Figura 16: Novos gabaritos permitidos com as CEPAC nas áreas da Zona Portuária
Fonte: CDURP – Prefeitura do Rio de Janeiro
27

De acordo com o Site 9 (2017), o conjunto de intervenções urbanas sob


responsabilidade do Consórcio Porto Rio, nos limites da AEIU, são apresentados a
seguir, na Tabela 1:

Intervenções Urbanas do Porto Maravilha

Reurbanização de vias existentes, implantação de novas vias e trechos de


ciclovia, considerando pavimentação, drenagem, sinalização viária,
1
iluminação pública e paisagismo, arborização de calçadas e construção de
canteiros;

Recuperação, ampliação e implantação de novas redes: coleta e destinação


final de esgotamento sanitário, drenagem de águas pluviais, abastecimento
2
de água, energia elétrica e telefonia, gás encanado, além de sistema de
melhoria da qualidade das águas do Canal do Mangue

Implantação de nova via – Via Trilhos entre a Avenida Rodrigues Alves e a


3 Avenida Venezuela, paralela a ambas, ligando a Avenida Barão de Tefé à
Rua Silvino Montenegro

Implantação de uma via de mão dupla com canteiro central para absorver o
tráfego local, incluindo a criação de trecho entre a Rua Silvino Montenegro e
4
a Rua Rivadávia Correia, e alargamento das ruas da Gamboa, Equador e
General Luís M. de Morais

Construção de túnel sob o Morro da Saúde com duas galerias, para a


5
passagem de nova via de mão dupla referida no item 4

Construção do túnel de acesso à Zona Portuária, paralelo ao túnel que


substitui o Elevado da Perimetral até o trecho sob a Praça Mauá e de onde
6
segue por sob o antigo prédio da Polícia Federal até retornar à superfície na
futura Via Binário do Porto

Construção de duas rampas, mediante execução de estrutura e iluminação


7 pública ligando o Viaduto do Gasômetro ao Santo Cristo, na altura da atual
Rodoviária Novo Rio

Previsão de espaço para futura implantação de sistema de transporte público


8
de média capacidade – VLT
28

Ampliação do túnel existente sob o Morro da Providência para implantação de


9 sistema de transporte público de média capacidade-VLT, mediante execução
de pavimentação, abertura e iluminação

10 Demolição do Elevado da Perimetral

Construção de túnel em substituição ao Elevado da Perimetral partindo do


11 Mergulhão da Praça XV, passando sob a Praça Mauá e emergindo na Av.
Rodrigues Alves, na altura da Rua Rivadávia Corrêa

Implantação de mobiliário urbano, tais como abrigos para pontos de ônibus,


lixeiras, totens informativos, painéis informativos, cabines de acesso à
12 internet, bancos de praças, relógios de rua, bancas de jornal, quiosques de
praia, quiosques de venda de flores, cabines para banheiros públicos e
bicicletários

Implantação dentro do perímetro da operação urbana consorciada do sistema


13 cicloviário da Área Portuária, a partir da conexão MAM-Praça Mauá
viabilizando o acesso cicloviário do Cais do Porto ao final do Leblon

14 Construção do Museu de Arte do Rio (MAR) e do Museu do Amanhã.

Tabela 1: Intervenções Urbanas do Porto Maravilha


Fonte: Site 9, 2017

De acordo com o Site 9 (2017), além da execução deste conjunto de obras, a


Concessionária Porto Novo presta serviços divididos em duas categorias:

1. ARO, que são as Atividades de Rotina, devendo ser executadas


diariamente, como limpeza e coleta de lixo, fiscalização do trânsito e do
funcionamento dos semáforos, situação da drenagem nas ruas, etc.
2. AIP, que são as Atividades de Início Planejado, onde a CPN elabora um
cronograma de ações para realizar os serviços de manutenção e
recuperação/substituição do ativo público existente na AEIU, como, por
exemplo, pavimentação/recapeamento das vias automotivas,
recuperação/recomposição das calçadas e passeios públicos, poda de
29

árvores, conservação de parques e jardins, troca de lâmpadas nos postes


de iluminação pública, recomposição de placas e sinalização viária, etc.
Muitos destes, necessitam de autorização e regulamentação junto a outros
órgãos para poderem ser executados, por isso é necessário haver um
planejamento prévio e um cronograma para poderem ser adotadas as
medidas necessárias para se executarem os serviços.

À CDURP compete acompanhar e fiscalizar todas estas atividades, exigir


relatórios, medições e atribuir notas, de acordo com os critérios técnicos
estabelecidos, para regular os pagamentos das contraprestações semestrais devidas
à CPN por suas operações, o que garante o andamento das obras e a manutenção
da área com a qualidade e responsabilidade propostas para a requalificação da AEIU
do Porto. Porém, além das atividades envolvidas diretamente com a concessão e
reurbanização, a CDURP (em parceria da CPN e demais interessados) também
desempenha um importante papel na articulação e no desenvolvimento social da
população residente na região portuária, através da adoção de dois programas
estratégicos.

3.3 PROGRAMAS PORTO MARAVILHA CULTURAL E PORTO MARAVILHA CIDADÃO

A Lei Complementar nº 101/2009, que instituiu o Porto Maravilha, determina a


aplicação de pelo menos 3% dos recursos arrecadados com Certificados de Potencial
Adicional de Construção (CEPACS) na recuperação e valorização do patrimônio
histórico e no fomento à atividade cultural, além de implementar ações que promovam
o desenvolvimento social e econômico da população que hoje vive na região. Para
cumprir esta tarefa, a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do
Rio de Janeiro (CDURP), empresa da Prefeitura do Rio, criou o Programa Porto
Maravilha Cultural e o Programa Porto Maravilha Cidadão.

Devido aos vastos aspectos históricos e culturais que a Região Portuária possui,
a CDURP tornou-se encarregada de preservar essa forte característica, pois tem um
valor de extrema importância para o Brasil. A região em que nasceu o samba tem
notória vocação cultural, com manifestações artísticas de todo tipo, marco da
identidade desses bairros, e diversos patrimônios material e imaterial. Obras de
grandes arquitetos, trapiches redescobertos, representações da cultura afro-
30

brasileira, palacetes, sobrados do início do século XX e galpões ferroviários são parte


da diversidade cultural que se encontra por esta zona.

De acordo com o Site 9 (2017), o Programa Porto Maravilha Cultural tem como
principais linhas de ação:

Ações do Programa Porto Maravilha Cultural

1 Preservação e valorização da memória e das manifestações culturais

2 Valorização do patrimônio cultural imaterial

3 Produção e difusão de conhecimento sobre a memória da região;

4 Recuperação e restauro material do patrimônio artístico e arquitetônico;


Exploração econômica dos patrimônios material e imaterial, respeitados os
5
princípios de integridade, sustentabilidade, inclusão e desenvolvimento social.

Tabela 2: Ações do Programa Porto Maravilha Cultural


Fonte: Site 9, 2017

Como já mencionado anteriormente, a população que habita a Zona Portuária tem


histórico carente e segregado do restante da cidade. A valorização obtida com a
requalificação da região causa um efeito imobiliário especulativo que acaba por
prejudicar e muitas vezes expulsar da região aqueles habitantes de renda mais baixa,
que puderam viver nestas áreas justamente por serem afastadas e desvalorizadas e
não serem atrativas aos especuladores. Para evitar este problema, criou-se o
Programa Porto Cidadão, destinado a atender os moradores tradicionais da área e
proporcionar condições para que estes consigam interagir com as novas
oportunidades e assim permanecer na região requalificada.

Segundo o Site 9 (2017), o Porto Maravilha Cidadão é um programa voltado a


preparar os habitantes para este novo momento, fruto das transformações urbanas
em curso. Em parceria com outros órgãos do poder público, organizações sociais e
setor privado, o programa apoia e promove iniciativas para o crescimento
socioeconômico e para a promoção da equidade de gênero e etnia, através do
desenvolvimento de oportunidades que incentivam, valorizam e apoiam o potencial
humano da região. Conforme Tabela 2, as principais linhas de ação do Porto Cidadão
envolvem:
31

Ações do Programa Porto Maravilha Cidadão

Ações de apoio ao micro e pequeno empresário: em parceria com o Sebrae- RJ,


micro e pequenos e empreendedores ganham suporte para acompanhar o
1 desenvolvimento da nova economia da região. Consultorias para melhorar gestão,
qualificar produtos e serviços e ampliar a inserção no mercado são algumas das
ações em andamento;

Apoio a programas de Habitação: novos imóveis para Habitação de Interesse Social


2 (HIS) estão em construção na área e seu entorno. A Secretaria Municipal de
Habitação é a principal parceira nessa linha de ação

Promoção de incentivos fiscais: normas fiscais atrativas foram criadas especialmente


para a impulsionar o desenvolvimento e a preservação da região. Proprietários de
imóveis de importância histórica, cultural, ecológica ou paisagística que mantiverem
3 seus imóveis em bom estado de conservação poderão obter isenção de dívidas de
IPTU. Moradores e donos de imóveis podem parcelar dívidas de impostos
municipais em condições especiais. Novas construções têm isenção de IPTU por 10
anos

Geração de empregos: numa ação integrada à Secretaria Municipal de Trabalho e


Emprego, o Balcão de Empregos Porto Maravilha cadastra e forma trabalhadores
4 especializados para o novo ciclo econômico. Empresas são estimuladas a oferecer
vagas de forma sistemática para o balcão e a empregar preferencialmente
moradores da região portuária

Educação para a cidadania: campanhas educativas, como Caminhadas Contra a


Dengue e Mutirões de Limpeza, fazem parte da rotina de trabalho no Porto
Maravilha. Juntos, os programas Porto Maravilha Cidadão e Porto Maravilha Cultural
5 complementam a Operação Urbana Porto Maravilha, com o objetivo de apresentar a
viabilidade de se recuperar e requalificar espaços urbanos degradados em sintonia
com o desenvolvimento socioeconômico, para que a especulação imobiliária e a
valorização do capital não venham a ser o viés principal

Tabela 3: Ações do Programa Porto Maravilha Cidadão


Fonte: Site 9, 2017
32

3.4 ELEMENTOS CULTURAIS E O TURISMO DO PORTO MARAVILHA

Durante a Olimpíada, a Zona Portuária recebeu cerca de quatro milhões de


visitantes, o que provocou um aumento significativo no comércio da região. O trecho
revitalizado de mais de três quilômetros serve de exemplo de como o turismo gera
emprego e renda. A programação cultural entre os períodos de jogos e a grande
concentração de atrativos chegou a servir para triplicar o faturamento dos prestadores
de serviços e comerciantes instalados na área. (Ministério do Turismo, 2016)

De acordo com Araújo (2014, p. 01), o potencial turístico e cultural da zona


portuária do Rio de Janeiro é expressivo, principalmente após a revitalização, uma
vez que, no local, “a história dos bairros portuários se confunde com o
desenvolvimento social, econômico e cultural da cidade, como sede do antigo
mercado de escravos, ponto de encontro de sambistas como Pixinguinha, Donga e
João da Baiana”. Além disso, foi palco da Rádio Nacional, a mais importante emissora
da época de ouro do rádio.

Dentre os maiores destaques do Complexo Porto Maravilha, podemos citar o


Museu do Amanhã, construído sobre o Píer Mauá, que conjuga temas como a ciência
e a linguagem expressiva da arte, através do uso de tecnologia, em ambientes
imersivos, instalações audiovisuais e jogos, criados a partir de estudos científicos
desenvolvidos por especialistas e dados divulgados por instituições do mundo inteiro.
É o primeiro museu do Rio de Janeiro com o conceito de museu experiencial, no qual
o conteúdo é apresentado de forma sensorial, interativa e conduzido por uma
narrativa. O espaço examina o passado, apresenta tendências do presente e explora
cenários possíveis para os próximos 50 anos a partir das perspectivas da
sustentabilidade e da convivência. (PORTO MARAVILHA, Site 9, 2017)

Conforme o site 9 (2017), o museu ocupa 15 mil metros quadrados e é cercado


por espelhos d’água, jardim, ciclovia e espaço para lazer, numa área total de 34,6 mil
metros quadrados. O museu tem ainda auditório com 400 lugares, loja, cafeteria e
restaurante. A Figura 17 ilustra a entrada principal e sua fachada frontal.
33

Figura 17: Museu do Amanhã


Fonte: Site 9, 2017

Já o Museu de Arte do Rio (MAR), surgiu de uma reabilitação feita em dois edifícios
que compõem o complexo, respeitando sua estrutura histórica. O Palacete Dom João
VI, inaugurado em 1916 e tombado pelo município em 2010, foi submetido a um
processo de restauração para se transformar no pavilhão de exposições do MAR. Um
dos maiores desafios da equipe da obra foi unir dois edifícios tão diferentes. A
harmonia entre os imóveis foi possibilitada pela cobertura que tem formato de ondas
do mar, uma das características mais marcantes na arquitetura do complexo.
Profissionais de diferentes áreas de conhecimento participaram desse processo -
arquitetos, carpinteiros, pintores, artistas e administradores. (PORTO MARAVILHA,
Site 9, 2017)

Possui 15 mil metros quadrados de construção e oito grandes salas de exposição,


duas para cada mostra. Ao lado do museu está a Escola do Olhar, destinada à
educação e que desenvolve programas de formação continuada em artes e cultura
visual com professores e educadores. A Figura 18 é um retrato da união destes dois
edifícios que hoje compõem o MAR. (PORTO MARAVILHA, Site 9, 2017)
34

Figura 18: Museu de Arte do Rio


Fonte: Site 9, 2017

Outra grande atração em termos de cultura e arte são as extensas pinturas que se
encontram ao longo do Cais do Porto. Antigas fachadas de edifícios antes precários
ou até abandonados passaram a servir de tela para a pintura de grandes artistas. Há
diversas pinturas espalhadas pela região, com variados autores das pinturas. O Porto
Maravilha transformou-se em galeria a céu aberto e endereço do maior mural do
mundo, com quase 3 mil metros quadrados, a arte “Todos Somos Um” do artista Kobra
foi reconhecida pelo Guinness World Record, publicação que destaca recordes
mundiais.

É possível chegar ao local das pinturas a pé ou então de VLT. Existem alguns


pontos de parada e acesso do novo modal ao longo da Orla Conde, que também
contam com acessibilidade a pessoas portadoras e necessidades especiais. Durante
o período de Jogos Olímpicos, esta via teve milhares de visitas, sendo a exposição
artística um dos maiores fatores atrativos para a região. Na Figura 19, pode-se ver ao
fundo um ponto de parada do VLT, à direita as obras de artes e do outro lado os
reformados Galpões da Gamboa.
35

Figura 19: Mural do artista Kobra em frente ao Armazém 4 do Cais do Porto.


Fonte: Site 9, 2017

Localizado na Praça Muhammad Ali, na Gamboa, O Aquário Marinho do Rio


(Aquário) é um espaço de visitação pública e 100% privado. Possui 26 mil m² de área
construída e 4,5 milhões de litros de água, o maior da América do Sul, com 8 mil
animais de 350 espécies diferentes. O Recinto Oceânico e de Mergulho, atração
principal com 3,5 milhões de litros de água, sete metros de pé-direito e um túnel
passando por seu interior, oferece mergulho com peixes, raias e tubarões. Além do
tanque principal, há mais 24 secundários. (PORTO MARAVILHA, Site 9, 2017)

Além da visitação, a estrutura tem outras atividades. O Museu de Ciências oferece


exposições permanentes e temporárias sobre temas relacionados ao ambiente
marinho; o Centro de Educação Ambiental promove programas, eventos, festivais e
cursos; enquanto o Centro de Pesquisa Científica mantém parceria com universidades
e centros de pesquisa.

A Figura 20 ilustra um túnel que passa pelo interior do Aquário. Com paredes de
vidro, é possível enxergar diversos animais marinhos.
36

Figura 20: Aquário.


Fonte: Site 9, 2017

Localizado próximo à Cidade do Samba, os Galpões da Gamboa foram muito


utilizados como armazéns para o comércio da Zona Portuária há anos atrás. Após
quatro décadas desativado, o espaço de 18 mil metros quadrados composto por dois
galpões e um pátio central, voltou a entrar em atividade através do programa Porto
Maravilha Cultural já que oferece ótima estrutura para manifestações e eventos
culturais na Região Portuária (PORTO MARAVILHA, Site 9, 2017).

A Figura 21 ilustra a área externa dos Galpões, com o Morro da Providência ao


fundo. Sua entrada possui novos acessos para pessoas portadoras de necessidades
especiais, além de possuir um paisagismo renovado e com jardins ao longo da
circulação externa.
37

Figura 21: Área externa dos Galpões da Gamboa.


Fonte: Site 9, 2017

Outro ponto cultural que vem sendo visitado após descoberto nas escavações é o
Cais do Valongo e da Imperatriz. O Cais do Valongo foi criado em 1811 para tirar
desembarque e comércio de africanos escravizados da Rua Direita (1º de Março).
Remodelado em 1843 para receber a princesa Teresa Cristina Maria de Bourbon,
noiva de dom Pedro II, tornou-se Cais da Imperatriz. Aterrado em 1911, foi
redescoberto nas obras do Porto Maravilha e aberto à visitação. (PORTO
MARAVILHA, Site 9, 2017).

O sítio do Cais do Valongo corresponde à área da Praça Jornal do Comércio e


está delimitado pela Avenida Barão de Tefé, Rua Sacadura Cabral e pela lateral do
Hospital dos Servidores do Estado. No dia 20 de novembro de 2013 (Consciência
Negra), o Cais do Valongo foi alçado a patrimônio cultural da cidade por meio do
Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). Representantes da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) incluíram o sítio
arqueológico como parte da Rota dos Escravos. O reconhecimento da Unesco
reforçou ainda mais a intenção da cidade e do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) de lançar a candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio da
Humanidade em janeiro de 2014.
38

A Figura 22 ilustra a Praça Jornal do Comércio, onde se situa o Cais do Valongo.


Foi feito um isolamento da área antiga para evitar-se a circulação dentro do
monumento e preservar sua estrutura orginial.

Figura 22: Cais do Valongo na Praça Jornal do Comércio.


Fonte: Site 9, 2017

O sítio arqueológico denominado Cemitério dos Pretos Novos se situa na rua


Pedro Ernesto, no bairro da Gamboa, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Em 1996,
moradores que reformavam a antiga casa descobriram milhares de fragmentos de
restos mortais de jovens, homens, mulheres e crianças, africanos recém-chegados,
ou seja, os denominados “pretos novos”. Hoje, a casa é sede do Instituto Pretos
Novos, centro cultural para o resgate da história da cultura africana da cidade.
(PORTO MARAVILHA, Site 9, 2017)

Segundo o Site 9 (2017), O Cemitério dos Pretos Novos é considerado o maior


cemitério de escravos das Américas Estima-se que tenham sido enterrados de 20 a
30 mil pessoas, embora nos registros oficiais esses números sejam menores, 6.122
entre 1824 e 1830. Seus corpos foram jogados em valas e queimados. A área servia
também como depósito de lixo, o que revela o tratamento indigno aos africanos
escravizados. Além de ossos humanos, havia também pertences dos pretos novos,
39

como restos de alimentos e objetos de uso cotidiano descartados pela população. A


análise do sítio constatou que a maior parte dos ossos pertence a crianças e
adolescentes. Hoje a casa funciona como centro cultural para o resgate da história da
cultura africana e oferece cursos e oficinas, além de uma biblioteca sobre a temática
negra. A Figura 23 ilustra o interior desta casa cultural, que expõe diversas fotografias
de negros e um sítio arqueológico.

Figura 23: Área interna dos Cemitério dos Pretos Novos


Fonte: Site 9, 2017

Uma das mais antigas do Rio de Janeiro, a Igreja de São Francisco da Prainha, no
adro de São Francisco, na Saúde, foi entregue à população dia sete de julho de 2015,
após restauração do programa Porto Maravilha Cultural. Estava fechada desde 2004
pela Defesa Civil por problemas de conservação. Construída em 1696 pelo Padre
Francisco da Motta e doada em testamento para a Ordem Terceira de São Francisco
da Penitência em 1704, a igreja é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
40

Artístico Nacional (Iphan) como monumento artístico. A Figura 24 ilustra a fachada


frontal da Igreja e sua entrada principal, após as obras de restauração.

Figura 24: Igreja de São Francisco da Prainha, na Saúde.


Fonte: Site 9, 2017

Com 2.356 m², três pavimentos e 18 salas com usos diversificados, o Centro
Cultural José reabriu em 20 de novembro de 2013, após obra de restauro do programa
Porto Maravilha Cultural. O edifício foi inaugurado por D. Pedro II em 1877 como a
primeira escola pública da América Latina. Desativada em 1977, a Escola Pública
Primária da Freguesia de Santa Rita passou a sediar a Biblioteca Popular Municipal
da Gamboa. Em 1994, após grande reforma, tornou-se Centro de Referência da
Cultura Afro-Brasileira, ganhou esculturas de inspiração africana e as unidades
receberam nomes de ícones como Abdias do Nascimento, Ruth de Souza, Grande
Othelo, Heitor dos Prazeres e Tia Ciata.
41

Foram restaurados pisos, telhados, fachadas, forros, esquadrias, revestimentos e


ornamentos. A obra instalou sistema de ar condicionado e adaptações de
acessibilidade. Painéis de azulejos que retratam as transformações urbanísticas da
região do Porto retirados no início das reformas voltaram ao muro de entrada do
edifício. A Figura 25 ilustra a placa com o nome do Centro Cultural, em uma das
paredes externas de pedra do edifício. (PORTO MARAVILHA, Site 9, 2017)

Figura 25: Centro Cultural José Bonifácio reinaugurado em 20 de novembro de 2013


após restauro do Porto Maravilha Cultural.
Fonte: Site 9, 2017
42

4. AÇÕES COMPLEMENTARES DA OBRA DO PORTO MARAVILHA


4.1 GENTRIFICAÇÃO

Apesar de ter trago muitas melhorias e benefícios para a Região Portuária,


qualquer grande intervenção urbana resultará em impactos, previstos ou não, à
sociedade que reside no local. Como afirma Públio (2008, p. 122), sobre a questão do
marketing de empreendimentos turísticos, “busca-se criar determinada imagem da
cidade através da organização de espaços urbanos espetaculares como forma de
atrair capital e pessoas desejáveis, num período de competição interurbana”.

Para poder se dar início à intervenção urbana naquele espaço e momento


específicos, vários fatores propulsores precisaram convergir para que os poderes
público e privado pudessem tomar a iniciativa de realizar obras. Dentre eles, está a
atenção à manutenção urbanística da região, que vinha sofrendo um estado tal de
abandono que já punha em risco a segurança e integridade física daqueles que ali
vivem, trabalham ou simplesmente transitam diariamente. “Calçadas destruídas,
bueiros entupidos e em constante vazamento, davam indícios de que aquela parte da
cidade demandava atenção, investimentos, intervenção”, como revela Igrejas (2012,
p.35). Ainda em consonância com a autora:

(...) tais reformas urbanas, como a da zona portuária do Rio


de Janeiro na atualidade, têm utilizado o turismo, a cultura e
lazer como recursos para diversificação e desenvolvimento das
atividades econômicas, bem como aporte ideológico de
legitimação para as estratégias de planejamento que são
apresentadas visando à renovação e construção de novas
funcionalidades de partes de cidades que deixaram de atender
aos interesses do capital em grande escala ou mesmo tornam-
se impeditivos a este (IGREJAS, 2012, p. 36).

No caso do Porto Maravilha, a revitalização urbana que ocorreu se apresenta como


uma mescla de diferentes tipos de intervenção apresentados, inclusive com mudanças
no projeto original, para atender aos interesses de investidores privados. De acordo
com pesquisas sobre as reformas relativas ao Porto Maravilha de Igrejas (2012), o
turismo constitui um elemento de destaque, que se articula com os demais segundo
uma visão de modernização e desenvolvimento da área. Ainda complementa que,
43

(...) é um plano de intervenção bastante amplo, que abarca


melhorias e ampliação do sistema de esgotamento sanitário;
preservação do patrimônio histórico através da reforma de
diversos imóveis tombados da área que se encontram em
ruínas, entre os quais estão alguns casarios com fins de
habitabilidade e construção de casas na região, o que
contempla também a questão habitacional; a dotação de
tecnologia de ponta com o intuito de atrair empresas e
investimentos e, por fim e não menos importante, a
transformação do resultado de toda a intervenção em um novo
símbolo para o turismo nacional (IGREJAS, 2012, p. 37).

Houve interesse, por parte do setor privado, em enobrecer a região frente à


especulação imobiliária. Ainda no ano de 2010, a venda de apartamentos com um
quarto, sala, cozinha e banheiro no Centro da cidade, que engloba a área do porto,
ficou 83% mais cara. Além do encarecimento da região, tornaram-se frequentes as
expulsões de moradores das Comunidades da Providência e Pedra Lisa para
construção do plano inclinado, onde hoje se encontra o teleférico, e de moradores de
alguns casarios na zona portuária, sob o pretexto da instituição daqueles imóveis
como Interesse social e especial interesse urbanístico, mas, no fim, acaba-se por
adaptar esses casarios ao mercado imobiliário. (R7 NOTÍCIAS, Site 10, 2017)

A figura 33 retrata os espaços destinados a empreendimentos, dentro da área da


Região Portuária, com variados tipos de uso, como residencial, comercial, cultural,
hotéis, institucional, dentre outros.
44

Figura 26: Uso e ocupação do solo na Zona Portuária por tipo de uso.
Fonte: Site 9, 2017

4.2 PERIMETRAL

Alvo de muita polêmica, a remoção do Elevado da Perimetral foi altamente


discutida por diversos agentes da sociedade, chegando inclusive a ponto de ser
embargada em processo movido pelo Ministério Público, obrigando a criação de um
Plano de Mitigação de Impactos para que pudesse ser realizada. Grande parte das
críticas foi voltada a real necessidade de se demolir o elevado, visto o tamanho da
obra, e seu enorme custo, e o transtorno que causaria não só para os que frequentam
a região, mas também no trânsito devido ao fechamento da via durante a fase de
obras.

Quando foi construída, no início dos anos 50, a Perimetral tinha como objetivo
servir de alternativa às vias de então - congestionadas e sem condições de ampliação.
Também foi a solução de ligação entre as zonas Sul e Norte sem que os veículos
passassem pelo centro da cidade. À época, viadutos surgiram como estratégia nas
grandes cidades no mundo.

A viabilidade da remoção da Perimetral passa pelo entendimento da construção


de um novo sistema de mobilidade urbana que na verdade irá substituí-la, criando
maior capacidade de fluxo. Hoje, estudos técnicos comprovam que sua remoção foi
45

fundamental para melhorar o trânsito na região. O Rio de Janeiro não foi a primeira
cidade a testar esta ideia. A Pesquisa Vida e Morte das Autovias Urbanas do Institute
for Transportation & Development Policy (ITDP) apurou que 17 cidades dos Estados
Unidos, da Europa e de países asiáticos já substituíram seus grandes viadutos. As
razões para isso em todo o mundo variam entre o alto custo para manter estruturas
gigantescas e projetos de revitalização para recuperar áreas degradadas pela
instalação desses viadutos. (PORTO MARAVILHA, Site 9, 2017)

Segundo o Site 9 (2017), o estudo do ITDP aponta que elevados são soluções
ultrapassadas e caras. Um dos exemplos da pesquisa é o caso de São Francisco, na
Califórnia, que substituiu viaduto de 2,6 Km da região portuária durante revitalização.
Hoje é um dos pontos turísticos da cidade mais visitados. Seul, na Coreia do Sul,
substituiu estrutura de 9,4 Km. Naquele ponto, a cidade havia perdido quase metade
dos moradores, tamanha a degradação gerada pelo viaduto. A conclusão é a de que
aquela não era uma boa solução para o trânsito ou para os bairros. O ITDP conclui
que preocupações socioambientais dominam a maior parte dessas iniciativas que
reveem o entendimento a respeito da mobilidade urbana sob a ótica da
sustentabilidade.

O viaduto contribuiu para a degradação do espaço público e privado em seu


entorno, além da sua própria obsolescência viária, e causou o esvaziamento da
região, que tem uma das menores densidade populacional do município. A retomada
do interesse pelo entorno, por meio da substituição do elevado e da revitalização
urbana, abre caminho para o resgate do patrimônio histórico e arqueológico da área
e da qualidade de vida dos moradores, além de atrair movimento turístico e aquecer
a economia da região.

Segundo atualização do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) do Porto


Maravilha (Referência nº1), concluído em junho de 2013, o tráfego médio diário nos
dois sentidos do viaduto é de 76.664 carros por dia. Para operar dentro dos padrões
ambientais desejáveis, o limite seria de 58.000 veículos por dia. O EIV ainda aponta
que o Túnel Rebouças sentido Centro deverá ter redução de fluxo veicular de 5% a
10% no pico da manhã e de 10% a 15% no pico da tarde. O Túnel Santa Bárbara
sentido Centro deverá ter queda de fluxo veicular de 15% a 20% no pico da manhã e
de 20% a 25% no pico da tarde. Após o início da operação da Via Expressa sentido
Parque do Flamengo, a prefeitura constatou retração de 35% no trajeto entre a
Avenida Brasil, no Caju, e o Parque do Flamengo.
46

Surge então um novo conceito para a Zona Portuária, que deixa de priorizar o
transporte individual e valoriza os espaços abertos e os ambientes coletivos. Graças
a demolição da Perimetral, foi possível criar uma nova mobilidade urbana à região.
Criaram-se mais espaços para pedestres e implantaram-se 17 km de ciclovias,
contemplando recursos de acessibilidade e integrando os meios de locomoção na
área. Foram implantadas novas vias e túneis que permitiram alterar todo o trânsito de
veículos da região.

A Figura 27 é retrato de uma fotografia das obras da Zona Portuária, em que já


tinham começado parte da demolição do Elevado da Perimetral. À época, já havia sido
inaugurada a Via Binário e o túnel Nina Rabha, que serviram para escoar o fluxo de
veículos para tornar possível a realização das obras de infraestrutura. Pode-se ver
mais às margens do território, as obras de revitalização dos Armazéns do cais e seu
entorno e o início da revitalização da Orla Conde. Todas estas intervenções só se
tornaram possíveis graças ao espaço cedido pelo antigo elevado.

Figura 27: Elevado da Perimetral durante a fase de obras.


Fonte: Site 9, 2017

A Figura 28 ilustra a nova malha existente no Centro e Zona Portuária do Rio de


Janeiro. Foram alteradas diversas vias importantes, como o antigo conjunto da
47

Avenida Rodrigues Alves e Elevado da Perimetral que passou a ser abastecido por
novas vias, além de ter-se criados novos modais, como ciclovias, o Veículo Leve sobre
Trilhos e o Teleférico. Modificou-se um trecho da Avenida Rio Branco que passou a
servir apenas a circulação de pedestres, ciclistas e o VLT. Este por sua vez, faz
ligações desde o Aeroporto Santos Dumont até a Rodoviária Novo Rio, passando pelo
porto e pela Central.

Figura 28: Nova malha de diversos modais existente no Centro e Zona Portuária do
Rio de Janeiro
Fonte: Site 9, 2017

O novo sistema de Leve sobre Trilhos (VLT) permite a interligação da Região


Portuária ao centro financeiro da cidade, passando pela Avenida Rio Branco, e ao
aeroporto Santos Dumont de uma forma mais rápida, segura e sustentável, em 28 Km
e 32 paradas. O projeto fortalece o conceito de transporte público integrado ao
conectar metrô, trens, barcas, teleférico, BRTs, redes de ônibus convencionais e
aeroporto. Com funcionamento 24h por dia, 7 dias por semana, o sistema terá
capacidade de transportar 300 mil passageiros por dia. (PORTO MARAVILHA, Site 9,
2017)

Segundo o Site 9 (2017), as estações e paradas do VLT ficam a cerca de 20 cm


de altura, niveladas com as composições, e são dotadas de rampas suaves e
antiderrapantes que facilitam o acesso de pessoas com deficiência. Cada plataforma
dispõe de acessos nas extremidades e é dotada em toda sua extensão de linha de
48

piso podotátil, faixas em alto relevo que facilitam a locomoção de pessoas com
deficiência visual. Internamente, todas as composições contam com local específico
para cadeirantes. Sinalização, validadores e acionamento de portas estão sempre em
alcance adequado.

O VLT do Rio é um dos primeiros do mundo projetado totalmente sem catenárias


(cabos para captar energia elétrica em fios suspensos). Os trens são alimentados por
duas fontes de energia. Haverá um terceiro trilho energizado em alguns trechos e nas
paradas. A cada frenagem também há geração de energia, que será armazenada por
um equipamento chamado de supercapacitor. Essas tecnologias já são utilizadas no
mundo, mas em separado. O que ainda não existe é a combinação desses dois
sistemas. O conjunto fica bem mais econômico e seguro.

A Figura 29 é um mapa do VLT, separado por suas linhas de atuação. A Linha 1


faz a interligação do aeroporto Santos Dumont à rodoviária Novo Rio, passando pela
Avenida Rio Branco, Praça Mauá e Zona Portuária. A Linha 2 tem objetivo de
interligar-se aos trechos da Linha 1 próximos à rodoviária, seguindo em direção à
Praça XV, passando pela Central do Brasil e à Praça da República. Há ainda um
trecho de futura expansão que ligará ambas as linhas na altura da Avenida Marechal
Floriano, e outro que segue em direção posterior à rodoviária.

Figura 29: Malha do Veículo Leve sobre Trilhos do Centro do Rio de Janeiro
Fonte: Site 14, 2017
49

O novo complexo de vias e túneis mudou o cenário da Região Portuária. As vias


Binário do Porto (inaugurada em novembro de 2013) e Expressa substituem o
conjunto Avenida Rodrigues Alves e Elevado da Perimetral com projeções positivas
de impacto sobre o trânsito. A parte subterrânea permitiu a transformação do trecho
da Praça Misericórdia ao Armazém 8 na Orla Conde: 3,5 km de extensão para
circulação de pedestres, ciclistas e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

A Via Binário do Porto foi inaugurada no dia 2 de novembro de 2013 e faz a ligação
da Rodoviária Novo Rio à Avenida Rio Branco em um dos sentidos. Possui cerca de
3,5 Km de extensão, três faixas por sentido e várias saídas para a distribuição interna
do trânsito na Região Portuária. A via passa pelo Túnel Rio450, batizado em
homenagem ao aniversário de 450 anos da cidade, na altura da Rua Primeiro de
Março. Com extensão de 1.480 metros e sendo o primeiro construído abaixo do nível
do mar, atingindo 40 metros em seu trecho mais profundo. Sob o Morro da Saúde,
próximo à Cidade do Samba, a Via Binário se depara com o Túnel Nina Rabha de 80
metros, com três faixas por sentido e uma galeria para passagem do Veículo Leve
Sobre Trilhos.

A Figura 30 ilustra a projeção da nova Via Binário no mapa da Zona Portuária,


sendo os trechos de linha tracejada a representação dos túneis Nina Rabha e o
Rio450, da esquerda para a direita, respectivamente. A via tem seu início na
Rodoviária Novo Rio e segue até a Praça XV. Todo o trecho do túnel Rio450 é
subterrâneo, propiciando a nova área de passeio público da Praça Mauá e da Zona
Portuária.
50

Figura 30: Via Binário do Porto do Rio de Janeiro


Fonte: Site 9, 2017

A Avenida Rodrigues Alves dá espaço à Via Expressa, parte pelo Túnel Prefeito
Marcello Alencar, parte na superfície. Aberta totalmente ao trânsito em julho de 2016,
ela serve a quem cruza a área como rota de passagem. Com a função de ligar o Aterro
do Flamengo a Avenida Brasil e Ponte Rio-Niterói, tem 6.847 metros de extensão,
com três faixas por sentido.

Na Figura 31 é ilustrado em linhas tracejadas o trecho em que se tem o Túnel


Prefeito Marcello Alencar, que inicia próximo ao aeroporto Santos Dumont e termina
no bairro da Gamboa. A Via Expressa é a nova substituta para o antigo Elevado da
Perimetral.
51

Figura 31: Via Expressa do Porto do Rio de Janeiro


Fonte: Site 9, 2017

4.3 PROJETO RESIDENCIAL

Uma das principais intenções da Prefeitura para o novo Porto, além da


revitalização do espaço público, era fomentar a criação de projetos e
empreendimentos residenciais para a região, com o intuito de atrair mais pessoas para
morarem, incluindo as de menor poder aquisitivo. O desejo era de acabar com o
conceito antigo de que o Centro da cidade é apenas uma zona de trabalho.

Em cerimônia no Palácio da Cidade, diversos representantes, incluindo o ex-


prefeito, reuniram-se para estabelecer o Plano de Habitação de Interesse Social do
Porto do Rio de Janeiro (Phis-Porto), que servirá de base às ações da Prefeitura do
Rio. Confeccionado sob a coordenação da Companhia de Desenvolvimento Urbano
da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp e da Secretaria Municipal de Habitação),
o documento de 66 páginas e sete anexos elaborado ao longo de 6 meses com forte
participação popular definiu como meta a produção de pelo menos 10 mil unidades de
Habitação de Interesse Social na Região Portuária e no Centro nos próximos 10 anos,
incluindo empreendimentos do Minha Casa Minha Vida.

Porém, este plano de incentivo parece ter ficado apenas no papel. Somente um
único empreendimento residencial iniciou sua fase de construção, em 2014. Realizado
pela Odebrecht Infraestrutura em parceria com a OAS e a Carioca Engenharia, o
52

projeto é composto por sete setores, abrigará 1.333 apartamentos e 33 lojas


comerciais em uma área de 19 mil metros quadrados (m²). A primeira etapa de vendas
foi dedicada aos servidores públicos. O projeto serviria para hospedar a Vila de Mídia
e a Vila de Árbitros da Olimpíada de 2016, e posteriormente ao megaevento seria
entregue aos proprietários.

Porém, a construção foi interrompida, ainda em 2014, realizando apenas 25% das
obras, pois Vila de Mídia e a Vila de Árbitros deixou de ser ali, acabando com o
compromisso que o empreendimento tinha de ficar pronto a tempo das Olimpíadas.
Então, as empreiteiras responsáveis paralisaram as obras alegando o objetivo de se
fazer um remanejamento do produto que vinha de concebendo, readequando o
cronograma e projeto do empreendimento.

Passaram-se as Olimpíadas, e ainda se vê a obra da mesma forma em que foi


largada há anos atrás. A prefeitura e o setor privado não conseguiram contemplar a
Zona Portuária nem sequer com o único projeto imobiliário residencial existente. A
figura 32 ilustra a atual situação do edifício e o folder do que era o projeto.

a)
53

b)

Figura 32: Obras do empreendimento residencial da Zona Portuária: (a) em


abandono e (b) Ilustração da fachada pronta
Fonte: Site 5, 2017

4.4 AQUÁRIO

Após as obras do Porto Maravilha, a cidade do Rio de Janeiro ganhou mais uma
atração de animais, que é o novo Aquário. É inegável que se trata de um
estabelecimento completamente inovador para os cariocas, o que acaba chamando
cada vez mais visitantes.

Este tipo de construção visa principalmente fomentar o turismo na região. Pode-se


dizer que sua criação é uma ação complementar às obras do Porto Maravilha, pois
não seria possível sua implantação na região caso não houvessem sido feitas as
intervenções urbanas necessárias para embelezar o espaço público e tornar atrativo
a criação do Aquário. A Figura 33 ilustra a fachada principal de acesso ao Aquário.
54

Figura 33: Entrada principal do Aquário


Fonte: Site 9, 2017

Espera-se que o poder público, junto com a concessionária, tenha a devida


responsabilidade e conduta para preservar este mais novo patrimônio do Rio de
Janeiro. Comumente no Brasil, vêm-se casos de muita ação para construir, mas pouca
atitude com relação à preservação e manutenções preventivas durante a fase de uso,
quando se trata de estabelecimentos construídos e geridos pelo governo.

4.5 MUSEU DO AMANHÃ

Com a série de intervenções feitas na Zona Portuária, foi possível criar um projeto
que agregasse o novo porto ao Píer Mauá, com toda a sua estrutura original inabalada,
o denominado Museu do Amanhã. Um dos pontos mais atrativos e visitados durante
a época dos Jogos Olímpicos de 2016. Tem-se neste espaço uma revitalização
urbana, pois não foi necessário demolir a estrutura original que o Píer apresentava.

Caso não houvessem todas as intervenções feitas na Zona Portuária, não seria
atrativo construir um museu de tamanho porte no devido local, já que sua construção
ficaria completamente destoada do restante do espaço público, antes degradado.
Desta forma, esta é uma ação complementar que se tem unicamente como
consequência da obra do Porto Maravilha. A Figura 34 ilustra o estado em que se
encontrava o Píer Mauá, antes da realização das obras.
55

O edifício de formas orgânicas, inspiradas nas bromélias do Jardim Botânico,


ocupa 15 mil metros quadrados e é cercado por espelhos d’água, jardim, ciclovia e
espaço para lazer, numa área total de 34,6 mil metros quadrados. O museu tem ainda
auditório com 400 lugares, loja, cafeteria e restaurante. A instituição faz parte da rede
de museus da Secretaria Municipal de Cultura. O Instituto de Desenvolvimento e
Gestão (IDG), organização social de cultura sem fins lucrativos vencedora da licitação
promovida pela Prefeitura do Rio, é responsável pela gestão do museu.

Figura 34: Vista aérea do Píer Mauá, antes das obras.


Fonte: Site 9, 2017
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 COMENTÁRIOS

Dentre um cenário com diversas mudanças e fatos sobre a realização das obras
do Porto Maravilha, pode-se afirmar que há tanto vantagens e desvantagens. Do
ponto de vista urbanístico, social, cultural, turístico e econômico, houve grande
melhora e benefício à região, que antes se encontrava de forma precária e
abandonada. A cultura local foi preservada e fomentada ainda mais com a criação dos
novos museus e exposições artísticas, além de novos espaços para realização de
eventos como os Galpões da Gamboa. Mesmo depois das Olimpíadas, a Praça Mauá
continua atraindo diversos cariocas e turistas, seja para as atrações artísticas ou
culturais, ou até para apreciar a nova vista da Baía de Guanabara sem o antigo
Elevado da Perimetral. Com relação a este, espera-se que a nova solução de
mobilidade urbana tenha realmente sido mais eficaz, de modo que justifique sua
derrubada, além de evitar gastos de manutenção que seriam feitos com o viaduto.

Essas mudanças, aliadas a nova mobilidade urbana da região, transformaram a


imagem de um local de passagem. Viabilizou-se o resgate do patrimônio histórico e
arqueológico da área, da qualidade de vida dos moradores do local e da cidade como
um todo. O Porto Maravilha passou a ser um novo ponto turístico da cidade, com
imagem tão forte quanto a do Cristo Redentor, por exemplo.

Entretanto, não se pode deixar de lado o recorrente descaso do governo com


relação a gestão dos espaços públicos, o que é um risco após o término da concessão
da Zona Portuária. Em janeiro de 2016, enquanto o Aquário ainda estava sendo
construído, a situação em que o Jardim Zoológico se encontrava causou a suspensão
e embargo de visitas públicas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), órgão vinculado ao Ministério do Meio
Ambiente que tem por objetivo a preservação, a melhoria e a recuperação da
qualidade ambiental, além de assegurar o desenvolvimento econômico, com o uso
sustentável dos recursos naturais. De acordo com a norma que regulamenta o setor,
os zoológicos têm que cumprir funções sociais que justifiquem sua existência, entre
elas, educacionais, científicas e de conservação das espécies animais. O
estabelecimento carioca encontrava diversas irregularidades, como animais
machucados, instalações precárias, larvas de inseto nas águas e falta de manutenção.
Logo, pode-se imaginar o que pode vir a acontecer com o Aquário ou outros
57

estabelecimentos e espaços da Zona Portuária, caso a concessão não fosse renovada


daqui a 20 anos e o poder público assumisse totalmente a gestão.

5.2 SUGESTÕES

A forte valorização e preservação do patrimônio histórico e cultural da região do


Porto Maravilha deveria ser tomada como exemplo pelas autoridades brasileiras. Há
diversas áreas na própria cidade do Rio de Janeiro que poderiam ser mais bem
tratadas e cuidadas, a fim de ter-se uma melhor qualidade de vida. Diversos
monumentos espalhados pelo Centro da cidade, assim como praças públicas ficam
diariamente abandonados, tornando-se até ponto de instalação de moradores de rua.
Dessa forma, gera-se uma insegurança e repúdio nos cidadãos em um espaço em
que poderia se estimular o turismo e a qualidade de vida da população local. Como
exemplos deste abandono, tem-se a Praça da República, localizada próximo à
Central, os entornos da Quinta da Boa Vista, no bairro São Cristóvão, o viaduto Paulo
de Frontin, no bairro Rio Comprido, a região da Leopoldina, dentre outros.

Por tratar-se de um espaço público administrado pela parceria privada, a


concessionaria Porto Novo é responsável por atividades rotineiras, como limpeza e
segurança, o que foi de fato eficiente para a região portuária. Pode-se afirmar que
esta atividade seria muito bem-vinda em outras regiões da cidade, principalmente as
mais afetadas pela violência. Muitas vezes o governo deixa de investir por falta de
recursos financeiros, portanto a estratégia por meio das CEPACS deveria ser avaliada
mais vezes ao se planejar novas melhorias e intervenções urbanas.

O Rio de Janeiro é uma cidade com grande potencial turístico. Há cidades no


mundo, como Dubai, que giram sua economia praticamente graças ao turismo. Com
o Porto Maravilha, percebe-se que pode se gerar valor e aquecer a economia da
cidade através desta mesma forma. Investindo de maneira sustentável, geram-se
mais empregos, melhor qualidade de vida aos moradores, melhor infraestrutura,
preservação da cultura e arte e do meio ambiente.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Arquivo Nacional, 2007.

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1831). Dissertação de mestrado apresentada à Universidade Federal Fluminense, 2008.

IGREJAS, Patrícia M. Reinventando espaços e significados: Propostas e limites da


urbanização turística no Projeto Porto Maravilha. Dissertação de mestrado apresentada á
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012

MELLO, Fernando Fernandes de. A Zona Portuária do Rio de Janeiro: antecedentes e


perspectivas. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado – IPPUR/UFRJ, 2003

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VAN WEESEP, J. Gentrification as a research frontier. In: Progress in Human Geography,


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Site 2 - CDURP. Prefeitura do Rio de Janeiro. Acesso em 2017


http://www.rio.rj.gov.br/web/cdurp_portomaravilha

Site 3 - Creci-RJ – Site oficial. Acesso em 2017


http://creci-rj.gov.br/valorizacao-imobiliaria-rio/
59

Site 4 - Eduardo Paes detalha gastos com Olimpíada do Rio. G1 Globo. Acesso em 2016
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/06/eduardo-paes-detalha-gastos-com-
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Site 5 - Fora da Olimpíada, obra na zona portuária do Rio está parada há oito meses. Uol
Notícias. Acesso em 2017
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/02/11/unico-projeto-residencial-
do-porto-maravilha-rj-tem-obra-parada-ha-um-ano.htm?cmpid=copiaecola

Site 6 - High Lines. Acesso em 2016.


http://www.thehighline.org/

Site 7 - Hotel Bragança é reinaugurado no Rio de Janeiro como 55/RIO. Mercado e eventos.
Acesso em 2016.
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Site 8 - Ibama suspende visitação ao Zoológico do Rio. Acesso em 2017.


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Site 11 - Revitalizar, renovar, requalificar ou reabilitar? Sayonaradesing. Acesso em 2016.


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Arch daily. Acesso em 2016
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boldarini-arquitetura-e-urbanismo

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Acesso em 2017.
http://www.luispeaze.com/news/zona-portuaria-do-cais-proibido-ao-projeto-de-cidade-
maravilhosa

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